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DELEGADO DA POLICIA CIVIL Prof. Rogério Sanches Criminologia – Aula 3 CONTROLE SOCIAL Chamamos de controle social o conjunto de mecanismos e sanções sociais que pretendem submeter o indivíduo aos modelos e normas comunitários, ou as normas de convivência social. Há dois sistemas de controle que coexistem na sociedade: O controle social formal e o informal. Controle social formal: mecanismos de controle oficiais, atuação do aparelho político do Estado (como a Polícia, a Justiça, a Administração Penitenciária, o Ministério Público, o Exército entre outros). Cabe à criminologia, dentro do sistema de controle social formal, estudar a eficácia da atuação dessas instituições as quais o Estado instituiu para tal exercício. Ao analisar os sitema de pena, por exemplo, verifica aspectos como: o processo de ressocialização, prevenção e retribuição. A análise sempre será empírica, no exemplo citado pode ser promovida análise quanto às vantagens e desvantagens dos efeitos das sanções penais, tanto para o deliquente quanto para a sociedade. Controle social informal: mecanismos de controle casuais. Tem como agentes a família, escola, profissão, a religião, opinião pública, entre outros. Ressalte-se, portanto, que a Criminologia não restringe seu interesse aos sistemas de controle social formal. A partir do controle social, com o questionamento dos significados dos valores sociais e os papéis que eles desempenhas na sociedade, nasceram as vertentes sociológicas, as explicações criminológicas, que tentam explicar as relações e interações do indivíduo com a sociedade. Sociologia criminal Em seu início, mesmo que a sociologia criminal tenha se confundido com certos preceitos da antropologia criminal, uma vez que buscava a gênese delituosa nos fatores biológicos, em certas anomalias cranianas, na “disjunção” evolutiva, o próprio Lombroso, no fim de seus dias, formulou pensamento no sentido de que não só o crime surge das degenerações, mas também de certas transformações sociais que afetam os indivíduos, desajustando-os. Ocorre que a moderna sociologia parte de uma perspectiva macrossociológica, onde as teorias criminológicas não se limitam a analisar o delito segundo uma visão do indivíduo ou de pequenos grupos, mas sim da sociedade como um todo. As teorias macrossociológicas, portanto, são analisadas a partir de uma divisão bipartida, sob um enfoque consensual de um lado e de conflito de outro. Para as teorias do consenso, a finalidade da sociedade é atingida quando suas instituições obtêm perfeito funcionamento, os cidadãos aceitam as regras vigentes e compartilham as regras sociais dominantes. Aqui os sistemas sociais dependem da voluntariedade de pessoas e instituições, que dividem os mesmos valores. É teoria de cunho funcionalista, também denominada de teoria de integração. São exemplos a teoria da Escola de Chicago, a teoria de associação diferencial, a teoria da anomia e a teoria da subcultura delinquente. Contrario sensu, para esta teoria, quando a sociedade diverge sobre valores e regras, a criminalidade indica o mal funcionamento das instituições, das regras ou dos valores socias dominantes. Já para a teoria do conflito, de cunho argumentativo, a ordem na sociedade é fundada, implementadas por meio de uma dominação por alguns e obediência de outros, por meio da força e da coerção, ou seja, não existe voluntariedade entre os personagens para a pacificação social. Para esta teoria as sociedades são sujeitas a mudanças contínuas, sendo ubíquas, de modo que todo elemento coopera para sua dissolução. Haveria sempre uma luta de classes ou de ideologias a informar a sociedade moderna (Marx). São exemplos a teoria do labelling approach e a teoria da crítica ou radical. Entretanto, alguns sociólogos contemporâneos afastam a luta de classes, argumentando que a violação da ordem deriva mais da ação de indivíduos, grupos ou bandos do que de um substrato ideológico e político. Como bem ressaltou Shecaira (2008, p. 141): “Qualquer que seja a visão adotada para a análise criminológica, a sociedade é como a cabeça de Janus, e suas duas faces são aspectos equivalentes da mesma realidade”. Para esta teoria é o sistema de opressão que faz surgir a criminalidade, como reflexo da dinâmica de dominação, onde poucos dominam muitos. TEORIAS DO CONSENSO 1) A Teoria da Escola de Chicago Teoria pertencente ao grupo das teorias do consenso, também denominada de "teoria da ecologia criminal ou teoria da desorganização social" surgiu no início do século XX por meio de membros do Departamento de Sociologia da Universidade de Chicago. Traz uma explicação ecológica do Crime. A sociedade é a causa do fenômeno criminal, não o indivíduo. Para se conhecer as causas do fenômenos criminal deve se estudar a sociedade em que o indivíduo está inserido. Naquela época os Estados Unidos da América experimentavam um enorme desenvolvimento econômico e industrial que chegou às grandes cidades, como Chicago. Milhares de pessoas vindas de todas as partes do país, como descendentes de escravos, irlandeses, eslavos, italianos, e minorias étnicas habitavam as periferias em condições precárias de higiene, segurança, iluminação pública, etc. Neste meio cercado por miséria e desigualdades sociais, uma parcela da população passa a ter dificuldades de se adaptar aos valores do corpo social dominante gerando violência, e sensível aumento da criminalidade. Dentro da perspectiva da Escola de Chicago, a compreensão do crime sistematiza- se a partir da observação de que a gênese delitiva relacionava-se diretamente com o conglomerado urbano (que muitas vezes era estruturado de modo desordenado e radial, o que favorecia a decomposição da solidariedade das estruturas sociais). Dentre os precursores da Escola de Chicago, convém destacar Robert. E. Park que apontou a influência do entorno urbano sobre a conduta humana. Concebeu o meio urbano como um organismo dividido em zonas de trabalho, de moradia, lazer, público e privado, dentre os vários existentes com distinção ainda dos níveis de criminalidade. Percebe-se que a Escola de Chicago constitui uma sociologia da cidade ou ecologia social da cidade. Concentra seu estudo na distribuição das zonas de trabalho e residências, distribuição de serviços, estruturas dos lugares públicos e privados, e na profusão de doenças. Estabeleceu relação entre fatos criminosos e na distribuição dessas zonas, bem como o perfil dos delinquentes. Por exemplo, a depender da carência do oferecimento de determinado serviço pode se perceber o cometimento de determinado fato criminoso, e de especial espécie de delinquente. Outro exemplo, o sobrepeso, a escola relacionou com a desorganização social, e considerou como sendo fator criminógeno. A Escola de Chicago traz como prioridade a maximização da atuação preventiva e diminuição da atuação repressiva. O interveções do Estado deveriam passar a ser planejadas, limitando-se aos bairros e setores, de modo a proporcionar os serviços a todas as regiões, sendo de fundamental importância a abertura de espaço para a participação da sociedade no processo, por meio dos seus diversos segmentos (conjugação de esforços para o enfrentamento da criminalidade). Uma reflexão crítica que se tem em relação aos estudos apresentados por esta Escola é a limitação da própria investigação. Fica evidente que seu estudo se preocupou em analisar as áreas da residência dos delinquentes e não as áreas onde os crimes ocorriam. E isto, inequivocamente, compromete a “pureza” dos seus dados estatísticos. Além disso, a Escola não aborda ações afirmativas que incluam o indivíduo na sociedade, e como se sabe, por si só a prevenção criminal ou repressão não conseguem resolver a questão criminal. 2) Teoria da AssociaçãoDiferencial Teoria pertencente ao grupo das teorias do consenso, baseia-se no pensamento de Edwin Sutherland (1883-1950), inspirado em Gabriel Tarde (1843-1904). Para Edwin o delito não consiste apenas em uma inadaptação de pessoas pertencentes as classes menos favorecidas, pois não é praticado com exclusividade por seus integrantes. No final dos anos 1930, nasce com esta teoria a expressão "white collar crimes" (crimes de colarinho branco) para designar os autores de crimes específicos, que se diferenciavam dos criminosos comuns. Para esta teoria o indivíduo é convertido em delinquente no momento em que os valores predominantes no grupo do qual faz parte ensinam o crime (e isso acontece quando as considerações favoráveis ao proceder desviante superam as desfavoráveis). O Termo "associação diferencial" refere-se ao processo de apreensão de comportamentos desviantes, sejam por gangues urbanas ou por grupos empresariais, na prática de furtos e arruaças, ou sonegações e fraudes comerciais. Sutherland não propõe a associação entre criminosos e não criminosos, mas sim entre definições favoráveis ou desfavoráveis ao delito. Uma pessoa torna-se criminosa porque recebe mais definições favoráveis à violação da lei do que desfavoráveis a essa violação. Este é o princípio da associação diferencial. Sérgio Salomão Shecaira enumera os fatores do processo pelo qual o indivíduo seria conduzido a cometer um delito conforme preconizado pela teoria da associação diferencial: 1) o comportamento criminoso é um comportamento aprendido, aprende-se a praticar um crime como se aprende a praticar uma boa ação. 2) o comportamento criminoso é aprendido mediante a comunicação com outras pessoas. Que se inicia no seio familiar. Ao contrário do que suponha Lombroso, ninguém nasce criminoso, mas a criminalidade é uma consequência de uma socialização incorreta. 3) o grau de aprendizado do comportamento criminoso varia conforme a proximidade existente entre as pessoas. 4) o aprendizado do comportamento criminoso contém o aprendizado das técnicas de cometimento do crime, sendo em alguns casos simples, e em outros complexas; 5) a motivação e impulsos para o cometimento de crimes se aprende com as definições favoráveis ou desfavoráveis da lei; 6) a conversão do indivíduo em criminoso ocorre quando as definições favoráveis a violação da norma superam as definições desfavoráveis. 7) as associações diferenciais podem variar em frequência, duração, prioridade e intensidade. 8) a prevalência das definições favoráveis ou desfavoráveis em relação à norma denotam um conflito cultural responsável pela associação diferencial; 9) a desorganização social causada pela perda da origem e raízes pessoais, e a inexistência de controle social informal fomentam a prática de crimes. 3) Teoria da Anomia A teoria da anomia também é vista como teoria de consenso, porém com nuances marxistas. Afasta-se dos estudos clínicos do delito porque não o compreende como anomalia. Esta teoria insere-se no plano das correntes funcionalistas, desenvolvidas por Robert King Merton (1910-2003), com apoio na doutrina de E. Durkheim (1858-1917) (O Suicídio, de 1897). Para os funcionalistas, a sociedade é um todo orgânico articulado que, para funcionar perfeitamente, necessita que os indivíduos interajam num ambiente de valores e regras comuns. No entanto, toda vez que o Estado falha é preciso resgatá-los, preservando-os; se isso não for possível, haverá uma disfunção. Merton explica que o comportamento desviado pode ser considerado, no plano sociológico, um sintoma de dissociação entre as aspirações socioculturais e os v meios desenvolvidos para alcançar tais aspirações. Assim, o fracasso no atingimento das aspirações ou metas culturais em razão da impropriedade dos meios institucionalizados pode levar à anomia, isto é, a manifestações comportamentais em que as normas sociais são ignoradas ou contornadas. A Anomia representa, portanto, a incapacidade de atingir os fins culturais. O que ocorre quando o insucesso em atingir metas culturais, devido à insuficiência dos meios institucionalizados (sistema de normas), gera condutas desviantes. As desigualdades sociais, a escassez de oportunidades, e os contrastes de uma sociedade heterogênea e de consumo, incentivam o surgimento de uma mentalidade de anomia. A anomia é, ainda, uma situação de fato em que faltam coesão e ordem, sobretudo no que diz respeito a normas e valores. Pode ser vista como um tipo de conflito cultural ou de normas, que sugere a existência de um segmento de dada cultura, cujo sistema de valores esteja em antítese e em conflito com outro segmento. Assim, o conceito de anomia de Merton atinge dois pontos conflitantes: as metas culturais (status, poder, riqueza etc.) e os meios institucionalizados (escola, trabalho etc.). Merton elabora um esquema no qual explica o modo de adaptação dos indivíduos em face das metas culturais e meios disponíveis. Merton classifica os modos de adaptação dos indivíduos frente a anomia, para o autor, os indivíduos reagem de 5 (cinco) maneiras distintas: Com conformidade, inovação, ritualismo, evasão ou retraimento ou com a rebelião. 4) Teoria da Subcultura Delinquente Cultura pode ser definida como sendo um conjunto de valores, crenças, tradições, gostos, e hábitos de um determinado grupo social que são compartilhados, transmitidos e aprendidos por seus integrantes de geração em geração. A sociedade tradicional dita os valores predominantes, mas que não raras vezes colidem com os valores de determinados grupos. E é a existência se subculturas dentro de uma cultura dominante é o que sustenta essa teoria (caracter pluralista e atomizado da ordem social). Além da questão envolvendo a pluralidade de culturas dentro de uma mesma sociedade, convém apontar duas espécies sui generis de cultura, a subcultura e a contracultura. A Subcultura nada mais é do que uma cultura dentro de outra cultura; é caracterizada por carregar consigo alguns valores da cultura dominante, mas existe exatamente para exprimir as caracteristicas e valores específicos do grupo ao qual pertence, pela carência de representação pela cultura dominante da sociedade dita como "tradicional". A Contracultura por sua vez, é caracterizada por um conjunto de valores e comportamentos que se opõe aos valores da cultura dominante da sociedade dita como "tradicional". O movimento hippie dos anos 60 é o exemplo mais emblemático de contracultura. A teoria da subcultura delinquente é tida como teoria de consenso, criada pelo sociólogo Albert Cohen (1918-2014) (Delinquent boys, 1955). Albert Cohen, faz nascer sua teoria da análise dos EUA, logo após a segunda guerra mundial. A sociedade norte-americana, em franca ascensão, experimentava todo o otimismo do crescimento econômico, dos avanços da ciência e tecnologia, de uma democracia representativa com limites delineados pela Constituição, em que a sociedade era predominantemente constituída por famílias de base patriarcal com valores culturais fundados no protestantismo, de ética puritana e empenho no trabalho. Foi nessas circunstâncias que emergiu o padrão de valores do sonho americano, do conhecido termo "American Dream". Ocorre que o "American Dream", já anos 50, começaria a enfrentar problemas, pois grande parcela da sociedade se frustraria ao observar que nem todos conseguiriam realizar de forma ideal o sonho americano. Muitos jovem dessa sociedade americana sequer poderiam cogitar o acesso aos valores e vantagens estabelecidas pela sociedade dominante. É nessa época em que o germe da campanha por direitos civis e igualdade, dacomunidade afroamericana nos Estados Unidos é plantada, circunstâncias nas quais surgem os lideres como Malcolm X e Martin Luther King Jr. Ocorria que a subcultura ganha contornos coletivos na medida em que os indivíduos com as mesmas dificuldades se associam, desenvolvendo, a semelhança do que se verifica nas culturas, um padrão de valores. Dentre os exemplos de subcultura delinquente nos Estados Unidos, pode-se mencionar as gangues de bairros localizados nas periferias nas grandes cidades. Três ideias básicas sustentam a teoria da subcultura: 1) o caráter pluralista e atomizado da ordem social; 2) a cobertura normativa da conduta desviada; 3) as semelhanças estruturais, na gênese, dos comportamentos regulares e irregulares. Essa teoria é contrária à noção de uma ordem social, ofertada pela criminologia tradicional. Identificam-se como exemplos as gangues de jovens delinquentes, em que o garoto passa a aceitar os valores daquele grupo, admitindo-os para si mesmo, mais que os valores sociais dominantes. Segundo Cohen, a subcultura delinquente se caracteriza por três fatores: não utilitarismo da ação; malícia da conduta e negativismo. O não utilitarismo da ação se revela no fato de que muitos delitos não possuem motivação racional (ex.: alguns jovens furtam roupas que não vão usar). A malícia da conduta é o prazer em desconcertar, em prejudicar o outro (ex.: atemorização que gangues fazem em jovens que não as integram). O negativismo da conduta mostra-se como um polo oposto aos padrões da sociedade. A existência de subculturas criminais se mostra como forma de reação necessária de algumas minorias muito desfavorecidas diante das exigências sociais de sobrevivência. A grande crítica que recai sobre a teoria de Cohen, da subcultura delinquente, reside na incapacidade da teoria explicar a criminaldiade como um todo, de forma genérica, pelo fato de seus estudos restringirem-se a manifestações da delinquencia juvenil. TEORIAS DO CONFLITO 5) Teoria Crítica A origem histórica dessa teoria de conflito se encontra no início do século XX, com o trabalho do holandês Bonger (1876-1940). A teoria crítica ou radical tem suas bases alicerçadas no marxismo, enxergando o delito como um fenômeno proveniente do sistema de produção capitalista, na medida em que promove o egoísmo; este, por seu turno, leva os homens a delinquir. A realidade, para Bonger, não é neutra, de modo que se vê todo o processo de estigmatizacão da população marginalizada, que se estende à classe trabalhadora, alvo preferencial do sistema punitivo, e que visa criar um temor da criminalização e da prisão para manter a estabilidade da produção e da ordem social. Ou seja, um sistema de controle social onde atuam juízes, promotores, delegados, advogados, métodos e procedimentos. Essas instituições, segundo a teoria crítica, servem para estimular as forças produtivas, que estariam representadas por pessoas de determinado setor da sociedade. A Teoria Crítica, portanto, ressalta o funcionalismo do pensamento criminal onde a lei penal seria uma estrutura dependente do sistema de produção (infraestrutura). O delinquente, visto nesta perspectiva, seria o homem que, destituído de livre arbítrio dentro desse sistema de produção alienador, é forçado a delinquir. A criminalidade seria, portanto, problema insolucionável nas sociedades capitalistas. Para os adeptos da teoria crítica um fato é considerado criminoso não porque ofende a moral de um povo, mas porque é do interesse da classe social dominante dar- lhe essa definição. O crime estaria portanto ligado a estrutura política e econômica da sociedade, e não relacionado ao desrespeito aos valores éticos e morais. A teoria crítica ou radical, como pode ser percebido, parte da ideia de que a divisão de classes no sistema capitalista gera a desigualdade e a violência, e a legislação penal nesta perspectiva, teria a função de exercer uma contenção provisória, inibindo as confrontações violentas entre as classes (dominante e dominada). Partindo-se desta ideia, propõe o deslocamento do paradigma da criminalização, e busca reduzir as desigualdades sociais penalizando a criminalidade das classes dominantes, como dos crimes do colarinho-branco, abuso de poder, crime organizado, crimes contra a ordem tributária e sistema financeiro, etc. As principais características da corrente crítica são: a) a concepção conflitual da sociedade e do direito (o direito penal se ocupa de proteger os interesses do grupo social dominante); b) reclama compreensão e até apreço pelo criminoso; c) critica severamente a criminologia tradicional; d) o capitalismo é a base da criminalidade; e) propõe reformas estruturais na sociedade para redução das desigualdades e desigualdades e consequentemente da criminalidade. A Teoria Crítica é criticada por apontar problemas nos Estados capitalistas e não analisar o crime nos países socialistas. Destacam-se as correntes do neorrealismo de esquerda; do direito penal mínimo e do abolicionismo penal, que, no fundo, apregoam a reestruturação da sociedade, extinguindo o sistema de exploração econômica. 6) Teoria do Etiquetamento, do Labelling Approach, Interacionismo Simbólico, da Rotulação ou Reação social Nasceu nos EUA, na década de 1960, é uma das mais importantes teorias de conflito, seus principais expoentes são Erving Goffman (1922-1982), Anselm Strauss (1916-1996) e Howard Becker (1928-). A teoria do Labelling Aproach parte da ideia de que a intervenção da justiça na esfera criminal pode acentuar a criminalidade. Trata da a criminalidade não é uma qualidade da conduta humana, mas a consequência de um processo em que se atribui tal “qualidade”, de um processo de estigmatização. A sociedade define o que entende por “conduta desviante”, isto é, todo comportamento considerado perigoso, constrangedor, impondo sanções àqueles que se comportarem dessa forma. Ou seja, simples processo de rotulação das pessoas que praticam as "condutas desviantes". Segundo Alessandro Barata (2002), o etiquetamento consiste na sustentação de um processo de interpretação, definição e tratamento, em que alguns indivíduos pertencentes à determinada classe interpretam uma conduta como desviante, definem as pessoas praticantes dessa mesma conduta como desviantes e empregam um tratamento que entendem apropriados em face dessas pessoas, onde acaba dessocializando, embrutecendo e estigmatizando determinadas pessoas. Para esta teoria, há muito mais condutas praticadas contra a lei penal do que o sistema penal tem condições de investigar e processar. Assim, o criminoso apenas se diferencia do homem comum em razão do estigma que sofre e do rótulo que recebe. O processo de estigma funciona como pena, como geradora de desigualdades, aos condenados. O sujeito acaba sofrendo reação da família, amigos, conhecidos, colegas, o que acarreta a marginalização no trabalho, na escola. Ademais, a criminalização primária produz a etiqueta ou rótulo, que por sua vez produz a criminalização secundária (reincidência). A etiqueta ou rótulo (materializados em atestado de antecedentes, folha corrida criminal, divulgação de jornais sensacionalistas etc.) acaba por impregnar o indivíduo, causando a expectativa social de que a conduta venha a ser praticada, perpetuando o comportamento delinquente e aproximando os indivíduos rotulados uns dos outros. As consequências políticas da teoria do labelling approach são reduzidas àquilo que se convencionou chamar “política dos quatro Ds” (Descriminalização, Diversão, Devido processo legal e Desinstitucionalização). No plano jurídicopenal, os efeitos criminológicos dessa teoria se deram no sentido da prudente não intervenção ou do direito penal mínimo,uma tendência garantista, de não prisionização, de progressão dos regimes de pena, de abolitio criminis etc. A crítica à Teoria da Rotulação reside no fato de se pensar a criminalidade apenas como subproduto de uma rotulação policial ou judicial. Ao se aboservar o crime organizado, por exemplo, uma verdadeira empresa multinacional, com produção, gerências regionais, inteligência, infiltração nas universidades e no Poder Público, lavagem de dinheiro, hierarquia, disciplina, controle informal dos presídios, se constata não ser produto apenas de etiquetamento. Entrentanto, alguns autores insistem na minimização do direito penal, na exarcebação de direitos dos presos, sendo “etiquetada” de reacionária, démodé ou “conservadora” qualquer medida de contenção e ordem imposta pelo Estado. Criminalidade legal, criminalidade oculta, cifra negra e cifra dourada A criminalidade legal: é a que aparece registrada nas estatísticas oficiais. A criminalidade oculta: relaciona-se com duas modalidades de criminalidade: a criminalidade tradicional e a criminalidade econômica. Na primeira hipótese, temos as cifras negras; na segunda as cifras douradas. A cifra negra: representa a diferença entre a criminalidade real (quantidade de delitos cometidos em determinada circunscrição) e a criminalidade aparente (presente nas estatísticas). As cifras douradas: representam a criminalidade do colarinho branco. 7) Teoria do Delito como Eleição Racional O Neoclassicismo É uma das duas teorias neoclássicas, apontadas pela doutrina por retomarem alguns postulados da Escola Clássica do século XVIII, que surgem no último quarto do século XX, sobretudo nos países anglo-saxões. A principal razão para este renascimento foi a decepção com as idéias de ressocialização, que estavam sendo colocadas em questão no final dos anos 1960. Quando apesar das diversas tentativas de reabilitar os infratores, muitos não obtinham sucesso e voltavam a praticar delitos, causando um ceticismo acerca da possibilidade efetiva de que isto possa de fato acontecer. Por isso o enfoque voltou a ser a prevenção, como era na escola clássica. O princípio básico do neoclassicismo é de que o homem é um ser livre e racional (livre arbítrio clássico), o que foi incentivado pelas teorias econômicas do final do século XX, que consideravam o homem como um ser que sempre faz avaliações entre os custos e os benefícios de cada ato. Na realidade houve uma retomada, de um modo geral, da filosofia utilitarista de Jeremy Bentham e John Stuart Mill, em que o homem aparece como um ser racional em busca do prazer, calculando, para tanto, o total de razer que pode auferir com um ato e o total de custo que isto impõe. O que influenciou, inclusive, as teorias econômicas da época. As principais teorias neoclássicas, portanto, são a "rational choice theory" (teoria da escolha racional) e a "routine activity theoriy" (teoria das atividades rotineiras). Teoria da escolha racional As origens intelectuais desta teoria remontam, como já dito, o utilitarismo do século XIX, e com Gary Becker (1930-2014), um economista norte-americano, premiado exatamente por ter estendido os domínios da análise microeconômica para comportamento e interação humana. Para Becker a ocorrência delitiva dependerá da utilidade esperada, ou seja, ocorrerá se for positiva ou quando os benefícios superarem os custos. De acordo com esta idéia, se a utilidade esperada for negativa, ou seja, se os custos superarem os ganhos, então o indivíduo não se engajará no ato criminoso. Os principais representantes desta teoria, porém, são Ronald Clarke e Derek Cornish, para eles não se trata de uma única escolha, mas uma seqüência de decisões influenciadas por um número de fatores sociais e psicológicos. Embora a teoria da escolha racional tenha em comum com a escola clássica a sua concepção de um ser humano racional, ambas divergem quanto ao grau de liberdade desta racionalidade. A imagem projetada pelo iluminismo de um ser humano racional, capaz de uma racionalidade pura ao estilo de Kant, foi introduzida no âmbito das questões criminais pela escola clássica, não sendo a mesma imagem trazida por esta teoria contemporânea. Para a teoria da escolha racional, o homem tem a sua racionalidade limitada por diversos fatores, como grau de conhecimento do fato e de suas conseqüências ou até mesmo constrições psicológicas ou sociais. Cornish e Clarke resumem, inclusive, quais seriam as principais limitações. Ocorre que em análise acerca desta teoria, alguns autores questionam até mesmo a racionalidade limitada apresentada pela teoria da escolha racional, afirmando que na prática, trouxe apenas uma confirmação de outras teorias, uma vez que os fatores psicológicos e sociais são elementos já postulados por outras teorias para explicar a conduta delituosa. Entretanto, vale ressaltar o novo discurso da teoria vista numa perspectiva de criminologia atuarial: A proposta de uma mudança de paradigma, com o abandono do discurso correcionalista, característico do "welfare state" (estado do bem estar social), e do debate a respeito das causas do delito. Ou seja, a teoria não procura estudar as causas do comportamento criminoso ignorando os possíveis fatores que influenciaram seu autor nesta escolha. A pena, para esta teoria, revela-se em instrumento de dissuasão afim de incutir na mente de cada membro do corpo social que o benefício alcançado com o delito é substancialmente inferior ao mal advindo de sua prática. Teorias bioantropológicas Pode-se afirmar que os primeiros estudos bioantropológicos, ou melhor, biológicos, foram desenvolvidos por Lombroso, com predomínio das análises morfológicas e fisiognômicas. Nesse prisma, ganhou relevo a antropometria (estudos das medidas e proporções do organismo humano para fins de estatística e comparação), que serviria de base para os estudos subsequentes. Destaca-se a Teoria das Predisposições Agressivas Da Escola Positivista, tendo Cesare Lombroso como principal expoente. Esta teoria é o ponto de partida da Escola Biológica da Criminologia, que acreditava ser o atavismo, isto é, caracteres físicos e morais que existiam em um antepassado e podiam reaparecer em seus descendentes, a causa da existência de um criminoso nato (Ferri) caracterizado por sinais físicos e psíquicos como a forma da calota craniana e da face, maxilar, das fartas sobrancelhas, dessimetria corporal, etc. Na era pós-lombrosiana desenvolveram-se estudos biotipológicos, endocrinológicos e psicopatológicos, estes três relacionados sobretudo à criminologia clínica, conforme veremos adiante. Na medida em que as teses anatômicas acerca da conduta humana foram se revelando insuficientes para a causalidade criminal, surgiram novas teses, se bem que críticas, de conteúdo psiquiátrico. Merecem destaque as teorias dos tipos de autor (Kretschmer, 1921) e das personalidades psicóticas (Schneider, 1923). Kretschmer (tipos de autor) diferenciou quatro tipos de constituição corporal: 1) Leptossômicos: alta estatura, tórax largo, peito fundo, cabeça pequena, pés e mãos curtos, cabelos crespos (propensão ao furto e estelionato). 2) Atléticos: estatura média, tórax largo, musculoso, forte estrutura óssea, rosto uniforme, pés e mãos grandes, cabelos fortes (crimes violentos). 3) Pícnicos: tórax pequeno, fundo, curvado, formas arredondadas e femininas, pescoço curto, cabeça grande e redonda, rosto largo e pés, mãos e cabelos curtos (menor propensão ao crime). 4) Displásicos: pessoas com corpo desproporcional, com crescimento anormal (crimes sexuais). As maiores críticas a essa corrente foram no sentidode que tinham forte tendência discriminatória, adotadas pelo nazi-facismo para justificar a eliminação de “raças inferiores”. Por seu turno, Kurt Schneider (1923) desenvolveu o conceito de personalidades psicóticas, sustentando tratar-se de personalidades alteradas na afetividade e nos sentimentos individuais. Importante notar que, para essa teoria, as anomalias são mais de caráter que de inteligência, conforme a lição de Winfried Hassemer e Muñoz Conde. Teorias bioantropológicas modernas Estas teorias acreditam que há pessoas predispostas para o crime, cuja explicação depende de variáveis congênitas (relativas à estrutura orgânica do indivíduo). O criminoso é um ser organicamente diferente do cidadão normal. Desde a segunda metade do séculoXX, a genética médica vem procurando destacar a possibilidade de transmissão de fatores hereditários na gênese do delito. É certo que os fatores genéticos são transmitidos por meio dos cromossomos, valendo citar que o homem tem 46 deles. Por outro lado, sabe-se, igualmente, que o substrato da hereditariedade é o denominado DNA (ácido desoxirribonucleico), molécula em duplo espiral que contém até 200 mil genes, encontrada com mais quantidade nos glóbulos brancos, fios de cabelo, esperma etc. O DNA é formado pela associação de bases nitrogenadas na seguinte conformidade: adenina/timina; citosina/guanina. A partir do ano 2000 vários cientistas começam a decifrar o genoma humano, traçando o esboço do mapa genético de três cromossomos (11% do todo). Sustenta-se que a herança genética se manifesta ao mesmo tempo por semelhanças e diferenças. As semelhanças derivam diretamente dos caracteres passados de pai para filho, ao passo que as diferenças aparecem em consequência da herança de outros ancestrais (atavismo). Assim, na bagagem genética estariam inseridos os caracteres morfológicos (sexo, raça, estatura etc.), fisiológicos (sexualidade, força muscular etc.) e psicológicos (sensibilidade, inteligência etc.). Existem ainda estudos sobre gêmeos e sobre alterações cromossômicas, que fogem do proposto a este trabalho. Por fim, comungamos do pensamento de Hassemer (2008), no sentido de que só pode ser estudada a desviação criminal por meio de investigações sobre a pessoa "in concreto" e sobre sua interação com o ambiente e a sociedade. 9) Teoria Behaviorista ou Comportamentalista O behaviorismo é um movimento da psicologia que surgiu no início do século XX nos Estados Unidos, e tem como objeto o estudo do comportamento em termos de estímulo e resposta. Do inglês Behavior = Comportamento é o conjunto de abordagens que propõe o comportamento como objeto de estudo da psicologia. Alguns consideram John B. Watson (1878-1958) o fundador do behaviorismo por conta de seu manifesto, de 1913, "A Psicologia como um comportamentista a vê". Para Watson, a psicologia não devia ter em conta nenhum tipo de preocupações introspectivas, filosóficas ou motivacionais, mas apenas e simplesmente os comportamentos objetivos, concretos e observáveis. A Finalidade desta teoria é prever e controlar o comportamento. A doutrina do behaviorismo tornou-se proeminente na década de 1920, embora tenha perdido sua popularidade devido à ascensão da psicologia cognitiva. O mais famoso behaviorista, Ivan Pavlov (1849-1936), realizou experimentos com animais em que associava sons à comida, levando os animais a executar certas ações. Burrhus Frederic Skinner (1904-1990) explorou as implicações sociais dessa teoria, defendendo uma sociedade baseada nos princípios behavioristas em seu livro, "Walden Two." Em sua utopia determinista, sistemas de risco/recompensa sociais criam cidadãos-modelo e uma sociedade padronizada A teori transpõe os métodos da psicologia animal aplicáveis tanto aos homens como aos animais para esta ciência, revelando sua natureza objetiva e empírica, em franca contraposição ao estudo introspectivo da consciência. Parte-se da ideia de que os organismos humanos e animais se adaptam ao meio ambiente por meio de fatores hereditários e hábito, e alguns estímulos conduzem os organismos a apresentar respostas. A simplicidade da psicologia behaviorista tornou a teoria muito atraente para os sistemas penais. O sistema judiciário pune e recompensa criminosos até que sejam reabilitados. À parte das prisões, programas sociais para jovens em situação de risco também podem ser concebidos de acordo com os princípios behavioristas. Teoricamente, qualquer sistema que utilize cenouras e varas, indiretamente reduz o crime através do behaviorismo. Pode ser útil na escola, na família e nas organizações sociais. Diversos instrumentos são utilizados para influenciar e alterar o comportamento criminoso, e vão desde o castigo passando pelo diálogo até chegar a sistemas mais complexos, como a educação, distribuição de renda, etc. Um exemplo clássico de behaviorismo criminal na prática é a terapia da aversão. Muitos estados americanos exigem que pedófilos se submetam a tratamentos que os ajudem a superar o desvio comportamental. Eles podem, por exemplo, ser forçados a ver a imagem de uma criança enquanto inalam um odor tóxico. Como esse procedimento é repetido várias vezes, o pedófilo associa a imagem da criança a náuseas, ao invés de associá-la à excitação. Menos diretamente, as prisões, que recompensam o bom comportamento com privilégios e punem o mau comportamento com "a solitária", baseiam-se na mesma ideia Para esta teoria a pena continua sendo o principal meio de controle do comportamento, mas entende que só deve ser aplicada como última medida, quando os demais meios de controle já falharam. Crítica O filme Laranja Mecânica de Stanley Kubrick ilustra um dos principais inconvenientes do behaviorismo. Em sua cena mais famosa, o bandido protagonista Alex é forçado a assistir filmes com cenas de crimes e atrocidades, enquanto recebe uma droga que faz com que ele fique mal fisicamente. Embora o tratamento o impeça de cometer atos violentos, não se leva em conta o livre-arbítrio e a internalização da moralidade. Como resultado, o behaviorismo pode não funcionar adequadamente quando aplicado à sociedade. À parte das implicações filosóficas, psicólogos cognitivistas e neurocientistas acreditam que os seres humanos interagem com o seu ambiente de maneiras muito mais complexas, sendo estas interações mediadas pelo cérebro. 7. (Polícia Civil/SP/2009) Segundo a teoria behaviorista, o homem comete um delito porque o seu comportamento a) é uma resposta às causas ou fatores que o levam à prática do crime. b) decorre de sua própria natureza humana, independentemente de fatores internos ou externos. c) é dominado por uma vontade insana de praticar um crime. d) não permite a distinção entre o bem e o mal. e) impede-o de entender o caráter delituoso da ação praticada.
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