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Estado e mercado Viu-se que existem informações básicas sobre o ambiente econômico, de acesso quase imediato, que permitem se traçar um quadro de análise útil à tomada de decisões. Essas informações podem ser agrupadas de diversas formas, tendo em vista os objetivos da análise que se pretende fazer e o alto grau de inter -relações que mantém. Normalmente, por questões conceituais e relativas à prática dos agentes econômicos, identifica-se o setor público, constituído pelas instituições que compõem o Estado, e o setor privado, que abrange as empresas que interagem no Mercado. O papel de cada um constitui-se na discussão central sobre a condução dos negócios econômicos. Existem diversas formas de a sociedade se organizar para atender a esses fins. Gilpin (2002, pp. 25-27), estudando a natureza das relações internacionais, define duas esferas de alocação de recursos e produtos: o Estado e o Mercado. O Estado corresponde à esfera política da alocação dos recursos, onde estes seriam distribuídos de acordo com os interesses políticos e sociais, expressos na forma de um orçamento estatal. Já o mercado corresponde à esfera econômica dessa alocação, onde as decisões seriam baseadas no sistema de preços e na busca do interesse individual. Nenhuma dessas esferas existe de forma isolada, no entanto, mas sim de forma interativa, com o peso de um e de outro, no âmbito da formação dos sistemas econômicos, variando com o tempo e com as circunstâncias. Um sistema econômico se define como “a forma política, social e econômica de organização de uma sociedade”, sendo seus elementos constitutivos: • Os estoques de recursos produtivos ou fatores de produção, que incluem os recursos humanos (trabalho e capacidade empresarial), o capital, a terra, as reservas naturais e a tecnologia; • O complexo de unidades de produção, constituído pelas empresas; • O conjunto de instituições políticas, jurídicas, econômicas e sociais, que são a base da organização da sociedade. (BRAGA & VASCONCELLOS, 2011, p. 5) Pode-se classificar os sistemas econômicos em dois grandes grupos: o sistema socialista, onde as atividades econômicas subordinam-se às decisões do Estado e o sistema capitalista, onde o funcionamento da economia é regido pelo mercado (BRAGA & VASCONCELLOS, 2011, p. 6). No sistema socialista, ou de economia planificada, as questões econômicas são resolvidas pelo Estado, através de órgãos de planejamento que organizam a produção e a distribuição do produto, de acordo com os interesses da sociedade identificados pelo governo. Nessas economias, as unidades produtivas são, 16 • capítulo 1 em sua quase totalidade, pertencentes ao Estado, ficando de fora as pequenas atividades comerciais e artesanais. Naturalmente, os bens de uso pessoal – roupas, automóveis etc. – constituem propriedade privada do indivíduo, o que caracteriza o socialismo. É importante ter clara essa noção, é a propriedade estatal dos meios de produção. Atualmente poucos países adotam esse sistema, como Cuba e Coreia do Norte. No sistema capitalista, ou economia de mercado, predominam a livre iniciativa e a propriedade privada dos fatores de produção. A alocação de recursos e sua distribuição se resolvem pelo mecanismo de preços resultante do jogo da oferta e demanda. São exemplos as economias dos Estados Unidos, do Brasil e dos países da União Europeia. Nenhum desses dois sistemas existe em estado puro e nenhum deles resolve plenamente os problemas econômicos de uma sociedade. As economias planificadas tendem a uma baixa dinâmica de crescimento, embora mantendo um perfil de distribuição de renda mais igualitário. Já nas economias de mercado, embora mais dinâmicas, tendem a manter fortes distorções em termos de distribuição da riqueza. De qualquer forma, o Estado tem um papel importante no capitalismo contemporâneo, desempenhando funções necessárias à manutenção do mercado, como, por exemplo, na regulação da relação entre as empresas e os consumidores. Cuba e Coréia do Norte acabam por serem os últimos representantes ortodoxos das doutrinas socialistas, conforme foram implantadas no século XX. No entanto, não são as únicas sociedades que não adotam o capitalismo. Na verdade, muitos países ainda se organizam em sistemas tradicionais, ainda tribais, enquanto outros experimentam movimentos de caráter mais voltados ao atendimento das necessidades da população fora das soluções de mercado. Neste segundo caso, encontram-se tantos países ainda em desenvolvimento, como a Venezuela, quanto os principais países europeus, cujo sistema de previdência e assistência social é importante na manutenção do elevado padrão de vida da população, convivendo, contudo, com um mercado capitalista maduro e desenvolvido. Fica clara, com esse breve panorama do ambiente mundial, a afirmação feita anteriormente de que os sistemas, independentemente da forma que sejam descritos, podem ser apenas tomados como representações ideais da realidade. Os países organizam-se em torno de objetivos e meios próprios, condicionados por sua história, por sua dinâmica interna e pelas relações com os outros países. capítulo 1 • 17 Países e Sistemas Econômicos: organização social, política e econômica Arábia Saudita: Monarquia. Forte influência da religião e do Estado na condução da vida econômica e na distribuição do produto. Atravessando processo de modernização econômica e tecnológica. Angola: Presidencialismo. Economia de mercado incipiente. Estado em vias de construção. Suécia: Monarquia constitucionalista. Mercado maduro, com forte presença do Estado, principalmente na manutenção de um sistema previdenciário e de assistência social bastante abrangente. Estados Unidos: Presidencialismo. Embora disponha de um sistema de previdência e assistência social relativamente inclusivo e um Estado bastante forte, a maior parte das soluções econômicas se dá via mercado. China: Estado forte, de origem socialista, que controla e administra a economia, mas vem implantando uma economia de mercado bastante dinâmica. Desse ponto de vista, é interessante refletir sobre como se organiza o Brasil. Como se organiza o Estado brasileiro? Como se dá sua relação com o Mercado? Como ocorrem as decisões de alocação dos recursos econômicos? Fazer essa discussão sobre uma realidade na qual estamos imersos pode se mostrar mais complicada do que avaliar outros países, de quem dispomos de menos informação. Mas é um exercício interessante. (Brasil - MRE - Ministério das Relações Exteriores Monopólio: uma empresa vende um produto que não possui substitutos. Isso pode ocorrer por conta de uma patente que garanta a exclusividade, pelo domínio de uma tecnologia ou pela escala de produção, normalmente encontrados no fornecimento dos serviços públicos, como no fornecimento de água e de energia. O monopólio sempre maximiza seus lucros, pois como único fornecedor de um bem, escolhe o preço em que a quantidade demandada maximiza sua receita. 26 • capítulo 1 4. Oligopólio: pequeno número de ofertantes de um mesmo produto, mas que mantém certo grau de diferenciação do produto, fazendo que a ações de uma em relação ao preço e ao produto afete as demais, quer dizer afete o mercado como um todo. Existe uma competição de preços mantida em estritos limites, pois qualquer movimento mais acentuado na tentativa de aumentar a participação de mercado pode ter como resultante uma guerra de preços, em caso de redução unilateral, ou exclusão do mercado, em caso de elevação. É a forma predominante de organização de mercados dos setores mais dinâmicos da economia, como o automobilístico, o de eletrodomésticos, o de produtos de higiene, entre outros. O grau de diferenciação dos produtos é identificado diretamente pela marca. A determinação dos preços, portanto, subordina-se a estrutura de mercado: em um regime concorrencial os preços resultam de um equilíbrio quase autônomo entre a oferta e a demanda, enquanto nos regimes monopolistas os preçossão inteiramente controlados pela oferta (exceto quando há controle governamental). Nos outros dois tipos de mercado, existe uma concorrência limitada entre os agentes e, pelas suas características, mecanismos específicos de determinação do preço. 1.3.2 Oferta e demanda O modelo de formação de preço que passaremos a estudar baseia-se em um mercado em competição perfeita, útil, pela simplicidade e elegância, para compreender- se o mecanismo de preços em sua essência. O modelo de oferta e demanda é composto por cinco elementos (KRUGMAN, et al., 2010, p. 49): • A curva de demanda; • A curva de oferta; • O conjunto de fatores que desloca, respectivamente, as curvas de oferta e de demanda; • O preço de equilíbrio; • A mudança do preço de equilíbrio quando há deslocamento das curvas de oferta e demanda.
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