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9 1 INTRODUÇÃO O presente artigo é fruto da necessidade de inserção da arte Drag nos eventos culturais e de lazer, sejam eles públicos ou privados, na cidade de Pelotas. Inserção essa que tem sido feita a passos lentos, com atual demanda de artistas deste meio na cidade e com a atual falta de conhecimento e/ou preconceito por meio das casas de shows, baladas, contratantes e demais organizadores de eventos. Há cerca de 8 anos, em 2009, quando surgiu o Reality show ''Rupaul's Drag Race'', surgiram centenas de milhares de novas ''Queens'' e isso trouxe à voga toda a questão política e social por trás desta expressão, bem como às performances, discursos e militância das mesmas. Hoje, com o as mídias sociais e midiáticas, é pouco provável que alguém nunca tenha sequer ouvido falar, pois existem inúmeras Drag Queens que estão no imaginário popular, como por exemplo a personagem ''Vera Verão'', vivida pelo artista Jorge Lafond, que por muitos anos performou na conhecidíssima ''A praça é nossa'', programa que ainda hoje vai ao ar na Rede SBT de Televisão. Pabllo Vittar, hoje, é a representação deste movimento, tenho ganhado seu espaço nas mídias, sejam elas televisivas, impressas ou de rádio. Chegando a ter uma entrevista divulgada na Revista Billboard, conhecida no mundo inteiro e tendo ultrapassado o numero de visualizações da mais famosa Drag do mundo, Rupaul, no Youtube. Com este trabalho, apresentam-se dados que mostram o interesse da população como um todo, de terem contato com essa forma de expressão, seja pelo humor, pelos passos de dança, pela beleza ou mesmo pelo entretenimento, simplesmente. E tendo esta demanda, mostra-se que investir neste tipo de espetáculo é sim viável, tanto para pequenos, como para grandes empresas. Assim, o objetivo deste trabalho é verificar a inclusão e aceitação das Drag Queens na cidade de Pelotas-RS. 10 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 O lazer e a promoção cultural Lazer, palavra originária do latim "licere", ser permitido, é definido como uma série de atividades que se podem ser praticadas em tempo livre, ou seja, naquele momento em que não está cumprindo suas obrigações como, em tarefas familiares, religiosas ou sociais, e que lhe proporcionem algum tipo de prazer. Assim ele tem como intuito: relaxar, descansar, se distrair, e de alguma forma ser um momento de recreação (CAMARGO, 1999). Desta forma é possível fazer desabrochar o pensamento criativo das pessoas e incluí-las cultural e artisticamente. Sem falar que o Lazer tem estreita relação com a pedagogia. Neste sentido, se este lazer for feito de maneira saudável, em amplo sentido, pode-se utilizar da prática dos “Quatro Pilares da Educação” de Delors: aprender a pensar e conhecer; a fazer; a viver em conjunto, ou com os outros; a ser, portanto, o papel do Lazer não é tão somente entreter alguém por um determinado período, é também ensinar, dar outros campos de visão e de pensamento a alguém e principalmente mostrar outro viés, do assunto que for abordado (SANTANA, s/d). O lazer não é um conjunto de atividades sem propósito algum, mas sim um momento de preencher o tempo ocioso de alguém. Lazer este que pode e deve, como a animação cultural de uma Drag Queen, ter uma conotação crítica e até mesmo transformadora na vida de alguém, mesmo que isso implique em anular e desintegrar antigas regras e padrões impostos pela sociedade. Assim, o Lazer não pode ser dito como algo rigorosamente desvinculado do âmbito profissional ou de qualquer outra atividade. Um dos estudiosos que é referência nesse assunto, Nelson Carvalho Marcelino, divide o Lazer em seis classes diferentes no seu livro Estudos do Lazer, uma introdução, de 2000: interesses artísticos (onde entra a Artista Drag), intelectuais, físicos, manuais, turísticos e sociais. Entretanto é complexo definir o Lazer com exatidão, pois ele pode estar 11 diretamente ligado à profissão de alguém. Por exemplo, Maquiagem pode ser uma atividade de lazer para qualquer um que nela encontre prazer - Então o indivíduo irá realizar a esta tarefa de forma voluntária -, mas se o indivíduo é um Maquiador, então como esta questão será resolvida com a atitude desta pessoa diante desta, porque se há amor no que se faz, então se pode considerar que o trabalho está, de certa forma, aliado ao Lazer. O Lazer também é classificado como Ativo ou Passivo. O Passivo é aquele que isola o ser, e o envolve no ritmo frenético e consumista das grandes indústrias, na qual quem consome não passa de mais um número. Ele é, de forma involuntária, colocado no mercado, atraído pelas incessantes publicidades, e neste momento o Lazer se transforma em um produto, agora direcionado para quem tem capital e não para quem tem grande tempo ocioso (SANTANA; LUCIA, s/d) Desta maneira, ainda segundo Santana, sem o intuito de educar, sem o desenvolvimento de um olhar crítico e desconstruído, no lazer passivo o ser humano passa a ser controlado pela cultura de massa, um verdadeiro fiel da mídia, e assim fica impotente, incapaz de optar às inúmeras atividades a ele oferecidas. Como consequência desta alienação, o indivíduo passa a agir como um ser sem capacidade de pensar por si, segue consumindo atividades de lazer sem ter o poder de absorver as informações e de transformá-las em aprendizado ocioso. Por outro lado, o lazer ativo é aquele que de alguma maneira estimula o ser humano a raciocinar, vivenciar, interagir e aprender, ofertando ensinamentos no tempo ocioso, sem deixar de entreter e divertir o consumidor. Segundo Moraes e Paiva (2013), atividades de lazer na hotelaria são vistas pelos gestores como uma atividade sem importância no meio hoteleiro, visando única e exclusivamente ocupar o tempo de crianças para que estas não venham a perturbar seus pais. Contudo, as possibilidades de lazer também são um dos motivos que o que leva o turista para um determinado destino, já que este turista estará em seu tempo livre. 12 2.2 A Arte Drag Queen Existem várias definições para a origem da palavra Drag Queen. Uns dizem que num significado amplo seria “homem que se veste de mulher” ou então, ao pé da letra, “rainha Dragão” e ainda existe a teoria de que esse termo foi criado nos tempos de Shakespeare, onde os atores se caracterizavam de mulher, para fazer algum personagem feminino, pois mulheres não eram aceitas em companhia de teatro. Então, para diferenciar era usada a sigla DRAG que significa dressed as a girl (vestir-se como uma menina) (FERNANDES; SHIRLEY, s/d). Segundo as mesmas autoras, a origem do termo “Drag Queen” é nebulosa, mas muitos acreditam que surgiu em meados de 1800 como uma forma depreciativa de designar os homossexuais. Nesse mesmo século surge Madam Pattrini, Drag performática de Brigham Morris Young. Dizem os boatos que ele cantava tão bem, que muitas audiências nem sabiam que era um homem. Por volta de 1880, homens vestidos de mulheres eram perfeitamente aceitos no ambiente teatral. Aliás, era muito mais respeitável um homem viver uma mulher em palco do que uma mulher de fato seguir a carreira de atriz. Mais tarde, ainda no século 19, o termo “Drag Queen” ganhou um significado mais específico, designando qualquer homem que se vestisse de mulher com propósitos teatrais. Ainda nessa época, um choque para a sociedade londrina: Frederick Park e Ernest Bolton começam a sair de casa como Fanny e Stella. Eles foram os primeiros homens a sair na rua vestidos de mulher – uma ousadia tão grande que a polícia abriu uma investigação minuciosa, do tipo que era feita apenas para criminosos extremos (GOULART;NÁDIA, 2009). Com mais homens andando pelas ruas vestidos de mulheres, como não existia nenhuma lei que proibisse o cross-dressing, homens travestidos eram normalmente presos pelo “abominável crime de sodomia” ou mesmo por prostituição (GOULART; NÁDIA, 2009). Já na virada para o século 20 a performance Drag virou um fenômeno próprio no teatro de variedades. Um nome que se destaca é Julian Eltinge, que brilhou na Broadway como comediante, mas foi nos teatros pequenos que ganhou 13 seu público cativo com suas apresentações como Drag. Na Europa, quem ganhava a cena era Florin, performer de Paris, onde a cena Drag também conquistava seu espaço (BASTOS, CINDY, 2009). Nessa época, um homem vestido de mulher era uma brincadeira bastante popular e não era associada à preferência sexual. Em 1920, entretanto, a arte começa a ficar mais alinhada com a comunidade LGBT, principalmente por conta dos “Drag balls”, que eram festas gigantes nas quais a maioria dos homens ia vestida de mulher. Ao longo da década esses eventos ganharam mais e mais atenção, iniciando um período chamado “Pansy Craze”. No final da década de 20, por volta de 1927, o movimento Pansy Craze já havia se instalado em Nova York, Paris, Londres e Berlim. Nesse período era possível ver shows como o de Vander Clyde, ou “Barbette”, seu nome artístico. Ele viajou pelos EUA e pela Europa com sua incrível performance aérea, na qual ele desafiava a morte no trapézio vestido de Drag. Ao final de seu show, Barbette tirava a peruca e fazia poses masculinas. Enquanto os bailes davam mais ênfase no glamour e no estilo de vida Drag, as audiências ainda valorizavam bastante as performances de comédia nos teatros (BASTOS; FERNANDA; GOULART, 2009) No final da década de 30, ser Drag requeria um certo investimento, já que os homens precisavam manter o estilo e a aparência tanto quanto uma mulher, gastando com maquiagens, perucas e roupas. Ser Drag Queen era considerada uma carreira cara. Na passagem da década de 30 para os anos 40 as dragas ainda tentavam achar seu lugar na sociedade, já que o cross-dressing eram uma ofensa que levava muitas dragas para a prisão. Os bailes do Pansy Craze ficavam cada vez mais escondidos para evitar o aparecimento da polícia. Ainda que a homossexualidade crescia como um tabu e uma ameaça para a sociedade, dragas mantinham seu lugar garantido no setor de entretenimento (EMERSON, 2011). Atualmente, temos Drag Queens brasileiras ou não, tão famosas como as supracitadas. Rupaul é um exemplo, com seu reality show ''Rupaul’s Drag Race'', que há cerca de 8 anos, trouxe os olhares das grandes mídias e da população de volta para esse tema. 14 No Brasil, existem artistas Drag que ficaram no imaginário popular, como Vera Verão, vivida pelo brilhante Jorge Lafond, que por anos expressou sua arte na televisão aberta. Mesmo com todo esse histórico, ainda existe relutância por parte de casas noturnas, bares, restaurantes e até mesmo de órgãos públicos em contratarem este entretenimento para seus eventos e muito disso parte do preconceito e do medo de não aceitação do público. 3 PROCEDIMENTOS METODOLOGICOS Como metodologia, a pesquisa apresenta abordagem qualitativa e exploratória, com coleta de dados a partir dos instrumentos bibliográfico, de aplicação de questionários e entrevistas. Segundo Quintanilla (2010), a pesquisa qualitativa tem caráter exploratório, isto é, estimula os entrevistados a pensarem livremente sobre algum tema, objeto ou conceito. Mostra aspectos subjetivos e atingem motivações não explícitas, ou mesmo conscientes, de maneira espontânea. É utilizada quando se busca percepções e entendimento sobre a natureza geral de uma questão, abrindo espaço para a interpretação. O método bibliográfico foi necessário para fazer esclarecimentos sobre esse tema tão pouco discutido pela literatura. Ademais, a fim de identificar o conhecimento da Art Drag e a aceitação da população pelotense foram aplicados 100 questionários enviados via facebook durante o mês de junho de 2017, onde todos os seguimentos da sociedade foram questionados, de idades que variam de 15 a 50 anos. As questões foram elaboradas com o objetivo de reconhecer se existe o interesse da população de assistir performances de artistas do seguimento Drag Queen na cidade de Pelotas. Ainda questionou-se, através de entrevista, a secretaria de desenvolvimento econômico e turismo da cidade, para identificar projetos e/ou eventos com inserção da Art Drag realizados ou apoiados por esta. 15 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES Por meio de Questionário Online enviado via facebook, cem pessoas entre a faixa etária de 15 a 50 anos foram consultadas sobre seu interesse em assistir à performance realizada por uma Drag Queen. A Figura 1 mostra o sexo/identidade de gênero do publico abordado nesta pesquisa. Figura 1- Sexo/Identidade de Gênero dos participantes da pesquisa Observando-se a Figura 2, nota-se que 78,4% das pessoas afirmaram que frequentariam locais com tal tipo de entretenimento e 11,8% das pessoas responderam que talvez fossem a uma performance. A maior parcela dos entrevistados que disseram “NÃO” afirmaram que tal negativa se daria pelo fato de que isso iria depender do local onde tal apresentação fosse realizada. 16 Figura 2 – Público que frequentaria um local com performance Drag. Três estabelecimentos, sendo dois deles bares e um restaurante, da cidade foram consultados quanto à viabilidade e interesse em contratar Drag Queens para entretenimento durante seu expediente. Em dois deles, os seus respectivos proprietários alegaram que não contratariam pelo receio da não aceitação do público. O terceiro alegou que nunca tinha assistido a uma performance deste tipo e que não sabia se seria interessante oferecer tal atividade a seus clientes. Essa questão justifica muito essa pesquisa, uma vez que sabedores da boa aceitação do público, demonstrado na Figura 2, poderiam inserir mais essa atividade de entretenimento em seus negócios. Segundo a Secretaria de Cultura e Lazer da cidade, não existe nenhum projeto ou evento com inserção da arte Drag realizado pela mesma. No entanto, apoiam evento privados e públicos como a Parada da Diversidade (promovido pelo Sindicato LGBT+) e a Semana LGBT (promovido pela Secretaria de saúde da mulher). 17 5 CONCLUSÃO A pesquisa realizada conseguiu mostrar efetivamente o real interesse da população pelotense às performances artísticas, especialmente de Drag Queen. Para mais, também foi evidenciado que o receio de proprietários e gerentes de estabelecimentos comerciais foi totalmente refutado, segundo os resultados da pesquisa realizada. Fazendo com que assim, tanto o comércio quando órgãos públicos e Prefeitura possam investir neste ramo artístico que tanto tem crescido e acrescido à sociedade como um todo. REFERENCIAS CAMARGO, Luiz O Lima. O que é lazer: uma introdução. Campinas. Editores Associados: 1999. NEGRINE, Airton et.al. Recreação na Hotelaria: o pensar e o lazer lúdico. Caxias do Sul, EDUCS: 2001. RAINBOWDRAG. 2010. Drag Queens. Disponível em: http://rainbowdrag.blogspot.com.br/2012/03/drag-queen-e-sua-historia.html Acesso em: 15/06/2017. BASTOS,Cindy. Drag Queens e sua História. Disponível em: http://tribosurbanas-tribosurbanas.blogspot.com.br/2010/09/drag-queens.html Acesso em: 17/06/2017. SANTANA, Ana Lucia. s/d. Lazer. Disponível em: http://www.infoescola.com/sociologia/lazer/ Acesso em 15/06/2017.
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