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Aula 03 História Mundial p/ ABIN (Oficial de Inteligência - Área 1) Pós-Edital Professores: Diogo D´angelo, Pedro Soares História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 2 Apresentação Olá caro aluno! Nesta aula vamos acompanhar o movimento diplomático mundial de 1815 até por volta de 1871, ponto 1.4 do edital. Abordaremos sucintamente o Concerto de Viena montado após a derrota de Napoleão e depois, sendo o mais importante para a prova, o período de crise desse sistema. Para FRPSUHHQGHU� EHP� D� GHVWUXLomR� GD� LGHLD� GH� ³KHJHPRQLD� FROHWLYD´� devemos abordar também a unificação da Itália e da Alemanha. Ao término das explicações, colocamos alguns exercícios para você! Avante nos estudos! concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 3 1. A Restauração europeia Tendo passado o furacão napoleônico, que transformara o cenário europeu de maneira indelével, os líderes dos grandes países da Europa se reuniram em Viena para discutir o que fazer e traçar estratégias para montar um novo sistema internacional que tentasse, ao máximo, restaurar a ordem que existia antes da Revolução e evitar que novos conflitos desse gênero tornassem a ocorrer. Neste sentido, DV�³JUDQGHV�SRWrQFLDV´��FRQFHLWR�LQWURGX]LGR�QR�&RQJUHVVR�1, quais sejam, Áustria, Prússia, Rússia, Inglaterra e França2, reuniram-se em Viena para restabelecer a ordem anterior à Revolução Francesa, num movimento que Hobsbawm considera como uma tentativa de deter o curso da história.3 Os princípios gerais que guiaram as negociações em Viena foram a Restauração dos territórios antes de Napoleão, da Legitimidade ± de entronizar as dinastias derrotadas ± e do Equilíbrio de poder entre os Estados europeus. Vamos problematizar cada um desses aspectos. A Restauração do mapa europeu, apesar de ser algo simples, pode enganar- nos. De fato, houve um esforço considerável para retornar as fronteiras HXURSHLDV� DQWHULRUHV� j� 5HYROXomR�� $� )UDQoD� IRL� UHDOLQKDGD� jV� ³IURQWHLUDV� QDWXUDLV´�� D� &RQIHGHUDomR� GR� 5HQR� IRL� GHVIHLWD� H� D� ÈXVWULD� FRQVHJXLX� VHXV� territórios italianos. Contudo, houve mudanças significativas, as mais importantes no território alemão. As centenas de pequenos principados do Sacro-Império foram reduzidas para cerca de trinta e foram reagrupadas numa 1 VISENTINI, Paulo Fagundes. Manual do candidato: história mundial contemporânea (1776- 1991): da independência dos Estados Unidos ao colapso da União Soviética. Brasília: FUNAG, 2012, p. 45. 2 A França participou do Congresso sendo representada por Talleyrand. Este argumentou que a França Restaurada fora vítima da Revolução e conseguiu fazer com que seu país mantivesse prestígio e influências nos negócios Europeus mesmo tendo sido o agressor responsável pelas guerras. Cf. Visentini, p. 45. 3 HOBSBAWM, Eric J. A Era das Revoluções: Europa 1789-1848. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1981, p. 127. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 4 nova organização, a Confederação Germânica, e a Prússia ganhou territórios a oeste (tornando-se um Estado descontínuo) próximos da França. 'H�PDQHLUD�FODUD��D�FKDPDGD�³5HVWDXUDomR´�QmR�UHVWDXURX�R�PDSD�HXURSHX� exatamente como ele existia antes. E o motivo disso repousa sobre o fato de que os grandes cinco pensaram, sob os auspícios ingleses particularmente, cujas capacidades militares se provaram ao longo das guerras napoleônicas, em uma QRYD� FRQILJXUDomR� TXH� SXGHVVH� WUD]HU� SD]� ³GXUDGRXUD´�� 3DUD� WDQWR�� ID]LD-se necessário remodelar o território alemão. A unificação não era uma saída possível. O poderio de um território alemão unificado causava temor na Europa. Contudo, ao invés de manter os principados alemães fragmentados ± o que daria grande margem de atuação para a França ± decidiram consolidar a Alemanha, conforme expressão utilizada por Kissinger,4 criando a tal Confederação citada acima. Os objetivos de estratégias internacionais relativos à criação dessa entidade política serão comentados mais à frente. 4 KISSINGER, Henry. Diplomacia. Lisboa: Gradiva, 2007, p. 67. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 5 A Europa central antes da Revolução Francesa A Europa Restaurada concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 6 A Legitimidade foi um princípio significativo para este período e selou a base sobre a qual se edificaria o sistema de Viena. Para além do retorno das dinastias aos seus respectivos tronos, a legitimidade inspiraria, em última análise, intervenções nos países europeus para esmagar revoluções contrárias aos reis legítimos. Foi o caso, por exemplo, da intervenção francesa na Espanha em 1823 e, mais à frente, da intervenção russa na Áustria em 1848. As primeiras rachaduras sobre esse sistema, no entanto, apareceriam quando os países americanos começassem seus processos de independência, o que veremos adiante. Por fim, o Equilíbrio de poder era o grande objetivo dos pactuantes dos acordos de Viena. Uma nova ordem internacional se formava e se propunha a resolver os conflitos em conjunto, de modo a impedir novos conflitos e a emergência de uma nova hegemonia. O sistema internacional resultante, conhecido como Concerto Europeu, obteve relativo sucesso em manter a paz, já que somente em 1854 as potências entrariam em conflito na guerra da Criméia (Rússia versus França e Inglaterra), H�HVWDEHOHFHX�R�TXH�DOJXQV�DXWRUHV�FKDPDP�GH�³FRQGRPtQLR�GH�SRGHU´5 ou de ³KHJHPRQLD� FROHWLYD´6 nas relações interestatais. Os mecanismos pelos quais conseguiram manter esse equilíbrio foi por meio: x Da Quádrupla Aliança (formada em 1814), composta pela Inglaterra, Áustria, Prússia e Rússia, cujo objetivo era atuar para manter o equilíbrio, colocando em xeque, particularmente, a França; x Da Santa Aliança, uma organização composta por Áustria (católica), Prússia (luterana) e Rússia (ortodoxa), em que se misturavam elementos consevadores da ordem política com aspectos religiosos. x De Congressos em que se discutiam os atritos e as questões internacionais, dos quais se destacam o Congresso de Aix-la-Chapelle 5 Cf. Visentini, p. 45. 6 Cf. Cervo, p. 49. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 7 em 1818, o de Troppau de 1820, o de Laybach de 1821 e o de Verona em 1822; Não entraremos em detalhes sobre o funcionamento do sistema e todas as tramas e movimentações diplomáticas do período. Aqui, cabe-nos saber: 1. A Inglaterra não apoiou a Santa Aliança e se recusou a aprovar qualquer medida que resultasse em compromissos internacionais baseados em princípios ± no caso, o princípio da legitimidade das casas reais europeias; 2. A Áustria possuía um governo muito conservador e necessitava do apoio terrestre russo, tanto quanto do auxílio diplomático britânico. Essa dualidade seria um problema adiante. 3. Não houve guerra de grande importância entre as potências até o estouro da guerra da Criméia. Ou seja, o sistema de Viena, também conhecido como sistema de Metternich (o diplomata austríaco que o montou) foi um sucesso durante tRGD� D� SULPHLUD� PHWDGH� GR� VpFXOR� ;,;� H� VHX� ³HVStULWR´� ± de discussão de problemas internacionais entre as potências ± permaneceu até as vésperas da I Guerra Mundial. Mais importante para o período estipuladono edital da ABIN é a crise desse sistema, ocorrida por uma série fatores, dentre os quais destacaremos a revolução de 1848, a guerra da Criméia e as unificações alemã e italiana. 2. ³/H�3ULQWHPSV�GHV�SHXSOHV´��o ano de 1848 e a Primavera dos Povos As décadas de 1820 e 1830 foram marcadas por diversas insurreições revolucionárias em todo o continente europeu. Em 1820, países como a Grécia e Portugal observaram surgir, em seu seio, movimentos de caráter liberal e constitucionalista, os quais antagonizavam os interesses gestados pelas monarquias restauradas após o Congresso de Viena em 1815. Ao fervor liberal de 1820, somou-se, durante 1830, um crescente espírito nacionalista, o qual repercutiu com maior intensidade na França, com a queda dos Bourbon, nas regiões italianas, onde o ímpeto pela unificação crescia em ritmo acelerado, e também na Bélgica, Prússia, Espanha, Portugal e Polônia. Até mesmo do outro lado do oceano, nas antigas colônias ibéricas na América, viu-se o despontar revolucionário. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 8 O ano de 1848, na esteira do processo desencadeado nas décadas de 20 e 30, voltou a solapar o edifício sobre o qual se reerguera o concerto europeu no pós-1815, amplamente questionado pelos setores ligados às lideranças industriais e aos setores médios e pobres urbanos, sobretudo aqueles de inclinação socialista. Na realidade, o ano de 1848 foi de tal modo decisivo para o desenrolar de uma nova ordem política e institucional no cenário europeu, com reflexos também em outros continentes, que passou a ser conhecido pela DOFXQKD�GH�³3ULPDYHUD�GRV�3RYRV´� Eric Hobsbawm remonta, em sua obra, ao período inicial de detonação do ímpeto revolucionário Europa afora: Na França, o centro natural e detonador das revoluções européias, a república foi proclamada em 24 de fevereiro. Por volta de 2 de março, a revolução havia ganho o sudoeste alemão; em 6 de março, a Bavária, 11 de março, Berlim, 13 de março, Viena, e, quase imediatamente, a Hungria; em 18 de março Milão e, em seguida, a Itália (onde uma revolta independente havia tomado a Sicília). Além disso, 1848 foi a primeira revolução potencialmente global, cuja influência direta pode ser detectada na insurreição de 1848 em Pernambuco (Brasil) e poucos anos depois na remota Colômbia. Num certo sentido, foi o SDUDGLJPD�GH�XP�WLSR�GH�³UHYROXomR�PXQGLDO´�FRP�R�TXDO��GDOL�HP� diante, rebeldes poderiam sonhar e que, em raros momentos como no pós-guerra das duas conflagrações mundiais, eles pensaram poder reconhecer. (Grifo Meu)7 Percebemos que, conforme aponta Hobsbawm, o ano de 1848 se caracteriza pela internacionalização dos anseios revolucionários. Como uma pólvora acesa, a revolução, iniciada por operários franceses em protestos contrários às medidas tomadas por seu monarca, rapidamente se espalha por quase toda a Europa, chegando até mesmo ao outro lado do Atlântico. Encontravam-se em marcha, como pontua Saraiva, três ideias-força na Europa, e que marcaram o curso dessas revoluções de 1848, afetando: (...) as relações internacionais: nacionalismo, democracia e interesse popular. As três são inter-relacionadas. A democracia era vista como emergência dos direitos do povo, de tal sorte que a cada demos corresponderia um Estado independente. Liberais e nacionalistas julgavam isso inevitável e justo, admitindo intervenções pela causa. Os conservadores preocupavam-se, tanto mais quando 7 HOBSBAWM, Eric. A Era do Capital (1848-1875), pág. 20. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 9 socialistas e teóricos raciais contribuíam para a efervescência das ideias.8 A principal ideia motora das jornadas de 1848, ainda mais do que o liberalismo norteador das jornadas de 1820 e 30, era a ideia de nacionalismo. De operários socialistas a burgueses liberais, uma grande massa de populares tomou as ruas da Europa para reivindicar a soberania de suas nações (italianos, alemães, húngaros, sérvios, tchecos, eslavos, dentre outras) frente aos grandes impérios multiculturais assentados pelo concerto europeu de 1815. O Império Austríaco dos Habsburgos foi o mais afetado pela luta de diferentes nações envolvidas pelo seu imenso e heterogêneo império, levando à demissão de Metternich, o principal articulador do concerto de Viena, e ao enfraquecimento gradual dos austríacos no cenário europeu. Embora explosiva e quase simultânea no continente europeu, a revolução de 1848 foi rapidamente sufocada pela articulação de elementos e grupos antirrevolucionários, particularmente os junker na Prússia, a nobreza e alta burguesia na França e o czar russo. Tão rápido quanto seu aparecimento foi seu fim. No entanto, apesar do cenário europeu ter retornado quase que fielmente ao ponto inicial, as jornadas de 1848 deixaram marcas indeléveis na cultura política regional: graças a ela Luís Napoleão chegou à presidência da França, passando, em 1852, mediante a um golpe de Estado, ao título de imperador como Napoleão III. Como imperador, Napoleão marcou os rumos da Europa por meio de ataques abertos ao concerto europeu de 1815, desmontando-o dentro de pouco tempo. Além disto, outras marcas de 1848 foram: o enfraquecimento austríaco no cenário europeu, o fortalecimento dos nacionalismos italiano e alemão, sob a gerência da Prússia, e o surgimento de uma nova força política que viria a dominar a cena internacional nas décadas posteriores, qual seja, os socialistas, comunistas e anarquistas. Apesar de ter sido apenas uma primavera passageira, 8 SARAIVA, José Flávio Sombra. História das Relações Internacionais Contemporâneas, pág. 76. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 10 os ventos de 1848 continuaram a ser sentidos nas estações que ainda estariam por vir. Mapa dos movimentos de 1848 3. A guerra da Crimeia e a crise do sistema de Viena Após a revolução de 1848, a Europa passaria por várias transformações, alcançando suas relações interestatais. Muito significativa seria a saída, finda a revolução, de um dos grandes idealizadores e criadores da ordem Viena do governo austríaco, Metternich. Não levaria muito tempo depois desses eventos para o que o sistema criado após Napoleão viesse a naufragar. A crise logo veio em 1854, envolvendo três das cinco grandes potências, Rússia, França e Grã-Bretanha, num conflito sobre a questão oriental, ou seria melhor dizer, da desintegração do Império Otomano e os Bálcãs. Vejamos os meandros deste conflito que poria fim ao sistema de Metternich. Como vimos, em 1848, o sobrinho de Napoleão se tornou o primeiro presidente da II República Francesa e em 1852, proclamou-se, depois de um plebiscito, imperador dos franceses. Este personagem histórico foi central para os principais desenvolvimentos que ocorreram na política internacional do período, junto com Bismarck, e falaremos bastante dele aqui. Essa relevância se deve ao fato de que Napoleão III odiava o sistema de Viena, que havia sido concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 11 criado, segundo sua visão, para controlar a França e impedi-la de crescer. Portanto, suas diretrizes para as relações internacionais francesas desde que assumiu o poder foram voltadas para, sistematicamente, tentar mudar o mapa europeu criado em 1815 e fazer da França novamente uma potência hegemônica. Como veremos, ele não terá êxito. Para além dessa visão ± acertada± do Congresso de Viena, algumas características pessoais de Napoleão III são significativas para compreendermos o papel francês na construção da ordem internacional que se seguiria à guerra da Crimeia. Ele tinha sonhos bastante grandiosos para a França, mas, segundo H. Kissinger, era incapaz de seguir firmemente em seus propósitos quando surgiam dificuldades; sua habilidade para lidar com questões diplomáticas era bastante limitada porque se submetia, por vezes, à busca por popularidade interna; deixou-se guiar por seus ideais de autodeterminação nacional, mesmo quando interesses franceses pediam o contrário; por fim, demonstrou grande incapacidade na análise e na tomada de decisão quando surgiram conflitos e oportunidades durante o período de seu governo. Analisando o quadro das relações interestatais no início de seu governo, Napoleão III percebeu que seria necessário, de imediato, acabar com a Santa Aliança e os acordos de defesa mútua instaurados em Viena. Para tanto, seria necessário destruir a confiança mútua entre as potências, criando problemas em áreas periféricas da Europa, longe do centro dos interesses de seus rivais, ou seja, o centro europeu. O local e o pretexto encontrado por Napoleão para concentrar suas energias foram os Bálcãs, num período em que o Império Otomano se desintegrava. As potências envolvidas na região eram a Rússia, diretamente interessada na geopolítica local e antiga rival dos otomanos, a Grã-Bretanha, por seu interesse na manutenção do controle dos estreitos sob domínio Otomano (e tutela inglesa, claro) e a Áustria, que, embora aliada da Rússia, não queria o domínio russo na região. Napoleão III decidiu ali atuar para desafiar a Rússia. Esta escolha foi feita por dois motivos: 1) porque o governo do czar Nicolau I era hostil a Napoleão, já que este havia subido ao poder por meio de uma revolução, o que causava medo concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 12 aos russos. E 2) porque esta hostilidade russa em relação aos franceses era, na análise de Napoleão, uma tentativa de dotar as potências conservadoras de uma unidade de propósito que havia tornado frágil desde 1848. Desmantelar a Santa Aliança, jogando seus membros uns contra os outros seria um grande golpe contra o sistema de Viena e deixaria aberto o futuro para mudanças. De fato, sem a Rússia, a Áustria ficaria muito vulnerável aos ataques franceses e italianos em suas possessões na península, aberta ao sul nos Bálcãs e isolada internacionalmente. A Prússia, por sua vez, liberta do controle russo poderia ambicionar crescer na Alemanha às expensas austríacas. Sem a Santa Aliança, também a Rússia deixaria de contar, inicialmente, com colaboradores no centro europeu para barrar a França. Essa estratégia adotada por Napoleão mostrar-se-ia a mais inteligente e a única exitosa de todo seu governo. Para entendermos bem este conflito da Crimeia, precisamos ter ciência de um componente das relações internacionais da época que não faz parte, ou não faz tanto, do sistema internacional atual: o prestígio. Uma variável difícil de ser mensurada, o prestígio era de suma importância para os países da época e era indicador da riqueza, poder, cultura, capacidade de influência e interferência nos outros países, dentre tantas outras coisas. E esse não era somente um fator de importância para as monarquias ou para a Europa, mas para todo o Ocidente. Pois foi neste ponto específico que Napoleão decidiu atacar a Rússia. Não que seu intento inicial já fosse de provocar uma guerra, mas diminuir o prestígio russo. Para tanto escolheu um motivo que não só provocaria o czar, como também tinha chances de minar as relações entre a Áustria (católica) e a Rússia (ortodoxa), qual seja, a proteção dos lugares sagrados e dos cristãos em terreno otomano.9 Em 1852, a França exigiu dos otomanos que entregassem o controle dos lugares sagrados para monges católicos, negando aos ortodoxos o papel protetor que tinham até então. A irritação russa foi imediata e justamente o que o imperador francês esperava. Nicolau I imediatamente tentou reverter a situação, buscando mostrar aos países da Europa ocidental que os otomanos 9 BRIDGE, F.R.; BULLEN, Roger. The great powers and the European states system (1814- 1914). Londres: Pearson & Longman, 2005, p. 114. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 13 temiam mais os russos que os franceses. A primeira tentativa foi de enviar uma missão diplomática pedindo que o ministro turco que havia cedido aos franceses fosse demitido e reconhecendo que o czar russo fosse reconhecido como protetor dos cristãos do império otomano, tal como havia sido estabelecido em acordo de 1774. Os turcos, no entanto, negaram e as tensões se ampliaram. Preocupado com a repercussão da missão diplomática e do aumento das hostilidades turco-russas, o czar enviou outras missões à Inglaterra e à Áustria, para assegurá-las de que respeitaria os interesses das potências na região. Como resposta à negativa do governo do sultão, tropas russas invadiram as províncias da Moldavia e da Valáquia, então sob domínio turco. O governo do czar afirmou que não desocuparia o local até que suas demandas fossem atendidas. Esse movimento foi visto pela Grã-Bretanha e pela Áustria com bastante preocupação. Para a primeira, isso era sinal do avanço russo sobre os estreitos entre o Mar Negro e o Mar Mediterrâneo, o que era um ponto bastante sensível para a política externa inglesa. Para a última, o controle dos russos naquelas províncias colocava bastante pressão sobre as fronteiras ao sul da monarquia austro-húngara. As potências tentaram então uma solução por meio de um congresso em 1853, que falhou por não atender as expectativas russas. Para frear o que era visto como expansionismo russo, os ingleses enviaram uma frota para águas turcas. Essa atitude de confrontação britânica havia colocado, irrevogavelmente, o Reino Unido numa aliança com a França contra a Rússia. Essas indicações de apoio das potências ocidentais deram confiança ao Império Otomano, que declarou guerra ao Império Russo em 4 de outubro de 1853. Pouco depois, os russos conseguiram uma vitória naval importante em Sinope. Em sequência, em março de 1854, o Reino Unido e a França deram um ultimato à Rússia, para que desocupasse as províncias turcas, o que foi rejeitado em São Petersburgo. Iniciava-se a Guerra da Crimeia. O czar buscou apoio europeu, mandando missões diplomáticas aos seus aliados em Berlim e em Viena, querendo deles declarações de neutralidade. Contudo, essas missões falharam e, com elas, a Santa Aliança. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 14 Em termos gerais, a guerra da Crimeia marcou uma alteração definitiva das relações internacionais na Europa. A Inglaterra e a Rússia, que até então possuíam o protagonismo no sistema de Viena, foram substituídas por uma França revigorada depois de derrotar os russos, seus principais adversários desde 1815. Napoleão conseguira transformar um conflito localizado, causado por motivos aparentemente pequenos, em uma oportunidade de completa mudança do sistema europeu. Para a Áustria, a guerra foi um grande dilema.10 Ela precisava da Rússia para manter-se segura interna e externamente, como mostrou a revolução de 1848, mas sua presença nos Bálcãs era fragilíssima. No entanto, caso a Rússia vencesse, estabelecer-se-ia ao sul da Áustria, agravando a situação. Portanto, naquele momento, sua segurança exigia o enfraquecimento russo e a necessidadede uma região de buffer entre os dois Estados. Assim, contra meio século de relações diplomáticas amigáveis, a Áustria lançou um ultimato, em julho de 1854, para que os russos desocupassem as províncias da Moldávia e da Valáquia. Diante da possibilidade de outra potência se juntar às outras já em guerra, o czar cedeu. O fim da aliança austro-russa foi de grande importância para os desenvolvimentos posteriores na Europa. Os czares que se seguiram não perdoaram a Áustria pelo que fez. 'LVVH�R�F]DU�j�pSRFD��³the time has come not to fight the Turks and theirs allies, but to concentrate all our efforts against perfidious Austria and to punish her severely for her shameful ingratitude´�11 Incapaz de perceber sua dependência em relação à Rússia, a Áustria enfraqueceu-se no cenário internacional, mas particularmente na Confederação Alemã. Bismarck notaria esse isolamento internacional e aproveitar-se-ia dele depois para expulsar os austríacos da Alemanha. As potências ocidentais auxiliadas diplomaticamente pela Áustria, depois de vitória expressiva em Sebastopol em 1855, decidiram negociar a paz. O tratado 10 Idem, p. 118. 11 (P� WUDGXomR� OLYUH�� ³&KHJRX� D� KRUD� QmR� GH� OXWDU� FRQWUD� RV� WXUFRV� H� VHXV� DOLDGRV�� PDV� GH� concentrar todos os nossos esforços com a pérfida Áustria e para puni-la severamente por sua YHUJRQKRVD�LQJUDWLGmR�´�Apud Bridge; Bullen, 2005, p. 119. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 15 de Paris estabelecia duras perdas para os russos, como o fim da presença naval russa no Mar Negro, a entrega da Bessarábia para a Moldávia e a embocadura do rio Danúbio aos turcos. A perda da Bessarábia, por demanda austríaca, foi um grande golpe ao orgulho russo e que fez aumentar o ódio em relação ao governo de Viena. Mapa das operações militares da Guerra da Crimeia Embora uma vitória diplomática para Napoleão, por ter colocado fim às instituições de 1815, a guerra não resultou numa mudança expressiva do mapa europeu no Ocidente, tal como ele esperava e pelo qual ele continuaria lutando até o fim de seu governo. Para a Inglaterra, significou a perda da preponderância que ela possuía até então nos assuntos diplomáticos europeus, passando a liderança para a França. Para a Rússia, o acordo de 1856 levou a uma mudança importante no foco de sua política exterior, como nos dizem Bridge e Bullen: The Russians were deeply humiliated by the exclusion of their naval forces from the Black Sea. They regarded it as an affront to their status as a great power. After the Peace of Paris the principal objective of their foreign policy was to rid themselves of this humiliation. Under Nicholas I Russia had been the guardian of the status quo LQ�(XURSH��«���$IWHU������WKH�PDLQWHQDQFH�RI� order in Europe was relegated to second place. This was a SURIRXQG� FKDQJH�� ZKLFK� VLJQLILFDQWO\� DOWHUHG� 5XVVLD¶V� UHODWLRQV� ZLWK�WKH�RWKHU�SRZHUV���«��,Q�WKH�GHFDGH�DIWHU������WKH\�>8QLWHG� Kingdom and Russia] had worked together in Europe to contain the French threat to the 1815 settlement. On most issues the other powers had been forced to follow either a British or a Russian lead. In the fifteen years after the Crimean War the concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 16 British and the Russians ceased to co-operate; consequently they ceased to dominate Europe.12 Finalizada a Guerra da Crimeia, um novo momento iniciar-se-ia nas relações entre os Estados europeus. Ao desmoronamento do sistema de Viena, seguiram-se quase duas décadas de guerras intermitentes entre as grandes potências, que remodelaram a Europa, particularmente as guerras de unificação da Itália e da Alemanha. (�R�TXH�YLULD�D�VXEVWLWXLU�R�PRGHOR�GH�0HWWHUQLFK"�4XDO�VHULD�D�³OLQJXDJHP´� utilizada nas relações entre os países a partir daquele momento? Em uma palavra, cheia de significado, a Realpolitik. Enquanto que o sistema de Viena havia mantido em cheque ambições dos SDtVHV�SRU�PHLR�GRV�FRQJUHVVRV�H�GH�XP�DSHOR�³PRUDO´�DRV�PHPEURV��R�ILP�GD� legitimidade como princípio para o relacionamento entre as unidades políticas faria com que a nova configuração fosse guiada pelas simples considerações de poder ± militar em especial. A partir de então, estabelecendo-se definitivamente após 1871, seria o cálculo de força, e não princípios morais ou de caráter religioso, o guia para a formação de alianças, para a definição dos momentos de ataque ou, em última análise, para a manutenção do equilíbrio entre os Estados. Com a Realpolitik a linguagem do poder levaria adiante uma busca incessante por manter o equilíbrio por meio da força militar ± a chamada paz armada que vingaria de 1871 a 1914. Passemos então para algumas características do período após o fim do sistema de Viena e então para as unificações italiana e alemã. 12 Idem, p. 124-�����(P�WUDGXomR�OLYUH��³2V�UXVVRV�VH�VHQWLUDP�SURIXQGDPHQWH�KXPLOKDGRV�SHOD� exclusão de suas forças navais do Mar Negro. Eles perceberam isso como uma afronta a seu status de grande potência. Depois do acordo de Paris, o principal objetivo de sua política externa foi livrarem-se dessa humilhação. Sob Nicolau I, a Rússia foi a guardiã do status quo na Europa. (...) Depois de 1856, a manutenção da ordem na Europa foi relegada a segundo plano. Isso foi uma profunda mudança, que significativamente alterou as relações da Rússia com as outras potências. (...) Na década depois de 1841, eles [Reino Unido e Rússia] trabalharam juntos para conter a ameaça francesa ao sistema de 1815. Na maioria dos assuntos, as outras potências foram forçadas a seguir ou a liderança britânica ou russa. Nos quinze anos após a guerra da Crimeia, britânicos e russos cessaram de cooperar; consequentemente, eles deixaram de GRPLQDU�D�(XURSD�´ concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 17 4. As relações entre os Estados entre 1856 a 1871 4.1 As características gerais As alianças e os princípios estabelecidos no Congresso de Viena mantiveram a Europa em relativa paz durante 40 anos. O temor de novas guerras provinha não só do receio de mudanças que alterassem o equilíbrio de poder, mas também da possibilidade de conflitos domésticos nas monarquias mais tradicionais e conservadoras, particularmente pelo surgimento de movimentos liberais e nacionalistas ± que o digam a Áustria e os principados italianos. Depois da guerra da Crimeia, no entanto, isso se alteraria substancialmente, com alguns OtGHUHV�FDSLWDQHDQGR�HVVHV�IHUYRUHV�H�VHQWLPHQWRV� µUHYROXFLRQiULRV¶�HP�Do}HV� belicosas para alcançar seus objetivos políticos. Assim, a guerra seria um meio de fortalecer os regimes conservadores contra os inimigos internos, a lógica inversa do período pré-1848.13 Neste sentido, seriam as monarquias mais tradicionais a revolucionar o sistema de Estados neste momento! A guerra deixou de ser vista como um grande perigo à estrutura social, mas sim o meio pelo qual se alcançaria as alterações que a elite política considerava importante. Neste momento histórico, não se vislumbrava na Europa a possibilidade de uma conflagração generalizada que envolvesse todas as potências. Os conflitos eram localizados e com finalidades muito claras e pontuais. Depois da assinatura da paz de 1856, a ideia de manutenção do status quo D�WRGR�FXVWR�IRL�DEDQGRQDGD�H�HP�VHX�OXJDU�IRL�FULDGR�XP�VLVWHPD�³IURX[R´��VHP� amarras, que permitiu as mudanças territoriais que se seguiram. Era o fim das alianças de longo prazo baseadas em princípios gerais. Agora chegava o momento das alianças de curto prazo, agressivase de objetivos claros. A paz existiria enquanto ela fosse do interesse dos Estados, como afirmou o ministro da Baviera em Viena já em 1857: The cabinets want peace, because they and Europe require it, and they work together in this direction at every opportunity, bur more or less as their own interests demand and without having ay common line in principle. That such a state of affairs is precarious is quite obvious. Many things are left to chance, many things to the boldness of one cabinet or another. The peace has 13 Idem, p. 126. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 18 no firm basis; it will last only so long as it remains a necessity for one power or another and so long as interests do not come all to openly into conflict.14 (Grifo nosso) Sendo essas as características mais gerais do sistema, vamos ver como se comportaram a Rússia, a França e a Grã-Bretanha nesse período (deixaremos a Itália e a Prússia para comentários detalhados a parte). $�5~VVLD�FHVVDUD�GH�VHU�D�³SROtFLD´�GD�(XURSD��1mR�Vy�VHX�FRPSURPHWLPHQWR� com a ordem de Viena havia deixado de existir, como dito acima, como também seus governantes perceberam as fraquezas russas em face de seus adversários ocidentais. O poder militar russo já não era páreo para lidar com as ameaças francesas ou britânicas. Também economicamente, a Rússia não era capaz de investir tanto no exército quanto na marinha, ficando à mercê da atuação marítima inglesa, à época bastante hostil aos russos. Necessitando atuar em várias áreas internamente para dinamizar seu país (como viria a fazê-lo com a abolição da servidão em 1861), o czar limitou sua atuação internacional para a revisão do tratado de Paris, particularmente a exclusão do Mar Negro. Não que a Rússia não tivesse importância nos jogos de poder entre os Estados, mas sua vontade de vingança contra a Áustria e sua atitude pró-Prússia a levariam a ficar à margem dos principais eventos que ocorreriam próximos a sua fronteira. Suas atuações mais significativas externamente seriam em direção ao Oriente e não ao Ocidente. A França, por sua vez, embora tenha alcançado seu objetivo ao destruir o concerto de 1815, não conseguiu a revisão dos territórios a oeste que desejava. Tentou então, sem obter sucesso, uma entente entre a França, o Reino Unido e a Rússia para controlar os assuntos e revisar o mapa europeu. A desconfiança russa e a falta de interesse inglês fariam naufragar esse plano. 14 Apud Bridge; Bullen, 2005, p. 129. (P�WUDGXomR�OLYUH��³2V�JDELQHWHV querem paz porque eles e a Europa a necessitam e porque eles trabalham juntos nessa direção a cada oportunidade, mas mais ou menos segundo seus interesses a demandam e sem haver qualquer princípio. Que tal estado é precário é bastante óbvio. Muitas coisas são deixadas à sorte, muitas coisas para a ousadia de um gabinete ou outro. A paz não tem base firme; ela durará enquanto ela continuar uma necessidade para uma potência ou outra e enquanto interesses não se tornarem abertamente conflituosos´� concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 19 Devido a isso, forçaria sua mão novamente nas terras italianas, aliando-se com o reino do Piemonte contra a Áustria, desencadeando um processo que resultaria na unificação italiana. O que ele não esperava era que, tão logo a Áustria fosse derrotada, o reino da Itália começaria a criar suas rusgas com o Império francês ± como se verá adiante. Na sua contínua busca por prestígio e por comando dos assuntos europeus, Napoleão III iniciaria uma política voltada para o centro do continente em flagrante desacordo com a tradição da política externa francesa: ao invés de buscar as múltiplas independências da Alemanha, acabaria por precipitar um movimento que resultaria na unificação alemã. Tentou ainda expandir o Império para além-mar, forçando sua mão na América ao instalar Maximiliano no México ± um império que duraria pouco tempo e cujo resultado foi desastroso ± e expandir os territórios franceses na África e na Ásia. Disso resultou que as forças francesas ficaram perigosamente divididas em várias partes do mundo e na hora do conflito com a Prússia em 1870, fariam bastante falta. O Reino Unido, depois da conferência de Paris, deixaria em segundo plano seu papel de líder diretor do equilíbrio europeu, resignando-se a um isolacionismo cada vez mais intenso, cuidando somente para que a Rússia não se envolvesse em seus planos para o Oriente e que a França não avançasse sobre a Bélgica ± o grande sonho de Napoleão III. Esta recusa tácita em imiscuir- se nos assuntos do continente permitiria a criação dos dois novos Estados que se constituiriam em grandes rivais, particularmente o Império alemão. Quando se deu conta do que sua ausência havia causado, já seria tarde demais. De modo geral, esse seria o panorama até 1871. Você deve ter percebido que deixamos a Áustria de fora. Isso porque ela está envolvida nas duas guerras de unificação de que se falará agora. 4.2 A Unificação italiana ± obra de Cavour A unificação italiana esteve inserida em um complexo jogo de interesses por parte das principais nações europeias e de reinos e possessões estrangeiras d concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 20 internas à península italiana. O interesse nacionalista em torno da unificação italiana, também conhecida como Risorgimento, remonta-se às consequências diretas para a estabilidade da região advindas do pós-Congresso de Viena, avançando até os anos de 1870-71, momento em que o Reino da Itália se consolidaria em ocasião da Guerra Franco-Prussiana e da tomada de Roma. O Congresso de Viena, conforme visto, teve por objetivo a reorganização da Europa pós-napoleônica, por meio da consolidação de um concerto europeu que privilegiasse a política de alianças e a repartição de poderes entre as principais nações europeias, firmadas, sob a égide da Quádrupla Aliança, em torno da Inglaterra, Áustria, Prússia, Rússia e, mais tarde, também a França. A divisão da península itálica remonta a séculos de ocupação por parte de diferentes povos ao longo de quase dois milênios de história. Ocupada ao longo dos anos por romanos, germânicos e descendentes dos primeiros habitantes da região, a península desenvolveu-se segundo uma preponderante heterogeneidade cultural, alavancadas segundo a distância territorial, o que pode ser percebido ainda na atualidade quando se compara o norte e o sul da Itália. Todavia, os habitantes da península compartilhavam traços linguísticos em comum (o que não significa dizer a mesma língua) remontados ao italiano ali falado há séculos, bem como à tradições e costumes similares. Porém, coube à religião católica, assentada em torno de Roma, sede do papado, o fio condutor que ajudou a cimentar os vínculos culturais entre os diferentes territórios italianos. No início do século XIX, em ocasião das guerras napoleônicas, a região foi amplamente envolvida nos interesses franceses, os quais levaram à formação de reinos favoráveis a Napoleão, que colocou no trono do Reino de Nápoles o seu próprio irmão, José Bonaparte. Derrotado Napoleão, e formada a Santa Aliança em 1815, o território italiano foi reestruturado segundo as mesmas prerrogativas do Congresso de Viena, as quais se assentavam no reestabelecimento da tradição monárquica anterior a Napoleão. Além de reempossar as dinastias derrubadas com as guerras napoleônicas, o Congresso de Viena dividiu o território italiano de modo a balancear os interesses estrangeiros sobre a península.O norte da Itália, a se dizer, a c concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 22 popularidade entre os habitantes locais. No início de 1820 houve o surgimento de diferentes sociedades secretas envolvidas em torno da defesa da autonomia política da Itália, sociedades estas que orbitavam entre os ideais maçônicos e republicanos, como a Carbonária, criada pelo general francês e cunhado de Napoleão Bonaparte, Joaquim Murat, em Nápoles, e o ideal de constituição de uma Itália monárquica sob o governo temporal do papado, o que foi defendido pelos neoguelfos, liderados por Vincenzo Gioberti. Um ponto em comum entre estas sociedades secretas foi, apesar das diferentes inclinações políticas e ideológicas, a defesa de uma Itália unificada. No entanto, suas pretensões não conseguiram atingir o apelo popular, restringindo-se a poucos grupos ligad s às elites locais, sobretudo em Nápoles e na Sicília. Os levantes de 1848, que atingiram grande parte da Europa, deram início de facto à luta pela unificação italiana. Neste mesmo ano, Mazzini deu início ao movimento Giovine Italia15, o qual contou com o apoio de expoentes políticos como Giuseppe Garibaldi, que compôs por pouco tempo a organização. As pretensões da Jovem Itália foram amplamente apoiadas pelo rei Carlos Alberto, do Reino da Sardenha, o qual, por inclinação liberal e nacionalista, apoiou militarmente os revolucionários, declarando guerra contra a Áustria neste mesmo ano, sendo, no entanto, derrotado e levado a abdicar do trono em favor de seu filho, Vitor Emanuel II. Um dos principais aportes ideológicos do nacionalismo italiano verificado nas jornadas de 1848 foi o jornal Il Risorgimento, fundado pelo piemontês Camilo Benso, o conde de Cavour. Sua influência sobre o movimento revolucionário foi tamanha que se atribui aos seus escritos a principal fonte de inspiração do rei Carlos Alberto na declaração de guerra à Áustria, bem como da luta em outras áreas da Itália, que em 1848 chegou a ter inúmeras insurreições declarando diferentes repúblicas, como a República romana, que seria afogada, assim como as demais, por uma coalização de forças oriundas das monarquias católicas da França, Espanha e Áustria. O conde de Cavour se destacou como o principal artífice da unificação italiana, graças a sua exímia formação intelectual, seu ímpeto político e sua 15 Traduzido ĐŽŵŽ� ?:ŽǀĞŵ�/ƚĄůŝĂ ? ? 5 concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 23 tenaz capacidade de articulação diplomática. Cavour viajara em sua juventude por toda a Europa, tendo frequentado os melhores institutos educacionais, o que fora possível graças a sua herança aristocrática. Em suas viagens, o conde se enamorara pelo sistema político britânico, e buscara desde então articular a consolidação de um sistema liberal que pudesse tornar possível a modernização política e econômica da Itália. O principal empecilho, em sua opinião, para a consolidação de sua estratégia de modernização era a falta de coesão política entre os diferentes territórios italianos, deflagrado pelo constante intervencionismo estrangeiro nos assuntos internos da região, sobretudo por parte da Áustria. As derrotas sofridas, ao término de 1848, pelos nacionalistas i ianos não foram interpretadas como algo definitivo pelo conde, o qual percebera, pelos rumos tomados, que a causa unificadora necessitava de um Estado forte a conduzi-la, e, principalmente, do apoio de aliados externos. Ele buscaria implementar uma arrojada e intricada política externa favorável à causa a partir de 1852, quando foi convidado pelo rei Vítor Emanuel II da Sardenha a assumir o cargo de Primeiro-Ministro. Seu principal objetivo seria a mobilização internacional à questão italiana. Como presidente do Conselho do Reino da Sardenha (Primeiro-Ministro), Cavour deu início a uma série de largas reformas políticas e econômicas na região, melhorando a agricultura local, investindo na expansão da indústria, sobretudo na área de têxteis, ampliando o comércio com outras áreas da Itália e com outros países. Suas reformas tinham por objetivo colocar em prática as ideias que havia muito gestara em sua mente, sobretudo como um espaço de treinamento para algo maior: levar as mudanças para toda a Itália, sob a égide da coroa da casa de Savoia. Como dito, Cavour bem sabia que os reinos italianos não eram suficientes para expulsar os austríacos dos territórios do norte, e este deveria ser o primeiro alvo da Sardenha, antes que pudesse mirar o sul, sob influência francesa. Ocorre que a Guerra da Criméia, da qual já falamos, abriu um novo horizonte de expectativas para as pretensões de Cavour. Ele ponderara que o auxílio à coligação franco-britânica poderia suscitar na comunidade internacional o auxílio de que necessitava. Terminada a guerra em 1856, com a vitória da coligação, o Reino da Sardenha cresceu em estima junto ao Imperador Napoleão III, em a concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 24 detrimento de um enfraquecimento gradual da Áustria. O imperador francês analisava que um apoio à Itália poderia significar um enfraquecimento ainda maior da influência austríaca e, consequentemente, do próprio concerto europeu, já razoavelmente desestruturado por conta da guerra. Em 1858, Napoleão III e o conde de Cavour se encontraram para debater a questão da presença austríaca no norte da Itália, e deste encontro surgiu o Pacto de Plombières, pelo qual firmava-se o apoio francês à Sardenha em caso de ataque externo oriundo da Áustria. Pelo pacto, a França reconhecia a causa italiana e aceitava a criação de um Reino unificado da Itália, no entanto, este reino deveria abranger as regiões da Lombardia, Veneza, dos ducados de Parma e Modena e o norte dos Estados Pontifícios. No centro da península formar-se- ia um novo reino sob a proteção de Napoleão, em torno do ducado da Toscana, enquanto que o restante dos territórios papais e o Reino das Duas Sicílias permaneceriam em seus lugares. Ademais, todo o território das províncias de Savoia e Nice seria entregue à França em pagamento por seu auxílio militar.16 O acordo correspondia exatamente aos interesses de Napoleão: primeiramente, ajudaria a desmantelar ainda mais a influência austríaca no concerto europeu, em segundo lugar conseguiria construir mais um reino vizinho leal à coroa francesa, sem que, para tanto, este reino pudesse significar um perigo para os interesses franceses. Este era o principal objetivo de Napoleão em não aceitar uma completa unificação da península itálica sob uma mesma coroa. De certo, este acordo não correspondia aos interesses originais de Cavour, o qual advogava pela plena unificação, porém, ao menos por ora, representaria uma grande ajuda para os nacionalistas. Entusiasmado pela vitória no campo diplomático, Cavour logo tratou de EXVFDU� ³DQLPDU´� R� H[pUFLWR� DXVWUtDFR� D� DWDFDU� RV� VHXV� H[pUFLWRV�� R� TXH� conseguiria em 1859, por meio de uma série de manobras militares nas fronteiras com a Áustria, a qual respondera com um ultimato ao rei Vítor Emanuel II, que acabou por ser ignorado. O prestígio do governo austríaco, tópico do qual também já tratamos, os impelia ao ataque, o que afastava dos austríacos qualquer chance de apoio por meio de uma coalização internacional baseada 16 Idem, p. 138. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 25 nos tratados do Congresso de Viena, uma vez que o ataque fora desferidopor ela e não pela Sardenha. Napoleão III, honrando o pacto firmado, enviou uma tropa de 100 mil soldados para a Sardenha, a fim de combater as forças austríacas. Transcorridas as batalhas, com sucessivas derrotas, os austríacos decidiram firmar um armistício com os franceses. Napoleão, por sua vez, estava impaciente com os rumos inesperados que a participação francesa na guerra gerou dentre os católicos franceses, que protestavam contra o imperador devido aos ataques desferidos nos territórios sob controle do Papa (vale lembrar que os franceses ainda eram, em sua ampla maioria, católicos romanos), e temia que a continuação da guerra pudesse levar os protestos a se tornarem uma irrefreável revolução. Havia ainda um amargo tempero na caldeira francesa: a possibilidade de apoio prussiano à Áustria, o qual fora oferecido em troca de um maior protagonismo prussiano dentro da Confederação germânica. Em resposta a estes problemas, Napoleão assinou em 11 de julho de 1859 o armistício de Villafranca com a Áustria, por meio do qual a França receberia desta o controle da Lombardia, que seria passada para a Sardenha, enquanto que os reinos e ducados centrais da Itália voltariam a ter os seus governos pró- Áustria reestabelecidos. A atitude de Napoleão, que feria gravemente o Pacto de Plombières, foi ferozmente contestada por Cavour e pelo rei Vítor Emanuel, mas sem gerar nenhuma comoção por parte da França. A desilusão levou Cavour a demitir-se do cargo de Primeiro-Ministro, o qual voltaria a ocupar em breve. Nesse interregno, o rei Vítor Emanuel se viu obrigado a ratificar o armistício por meio do Tratado de Zurique. A França, apesar das aparências, nada ganhara com o armistício. Napoleão logo se viu entre a cruz e a espada: por um lado, ela sabia que não poderia exigir os territórios de Nice e Saboia, conforme previsto no pacto original com a Sardenha, uma vez que a guerra foi interrompida, e por outro, não havia justificativa para a participação francesa nos eventos militares na Itália sem que os franceses tivessem ganho nenhuma vantagem com a guerra. Esta foi uma das primeiras grandes derrotas diplomáticas de Napoleão III, que, no entanto, acabou por ser amenizada graças a um acordo vantajoso para concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 26 franceses e sardo-piemonteses: Cavour, novamente empossado como Primeiro- Ministro, prometeu entregar Nice e Saboia à França, caso Napoleão apoiasse a anexação dos territórios centrais da Itália pela Sardenha, o que fora referendado mediante uma série de plebiscitos votados nessas regiões miradas, todos favoráveis, no fim, à anexação. Para resgatar um pouco de seu prestígio, Napoleão III decidiu aceitar o acordo. Como se não bastasse, os recentes eventos haviam chamado a atenção dos ingleses para a causa italiana, a qual passaram a defender de forma integral, de modo a contrabalancear o protagonismo francês na península. Os prestígios do rei Vítor Emanuel II e do conde de Cavour cresceram enormemente entre os nacionalistas italianos após os eventos de 1860, servindo de combustível para a consolidação do objetivo inicial do conde: a plena unificação da península italiana sob a liderança da Sardenha. Em abril de 1860, Giuseppe Garibaldi liderou, com o apoio de Cavour, uma insurreição dentro do Reino das Duas Sicílias, logrando êxito após poucos meses de batalha, na qual fora apoiado militarmente pelas tropas da Sardenha. O rei Vítor Emanuel aproveitara o levante de Garibaldi para marchar sobre os Estados Pontifícios, dominando-os quase por completo. Assim, em 1861, além dos Estados Pontifícios (à exceção de Roma), anexava-se também à Sardenha o Reino das Duas Sicílias. Em 17 de março de 1861, Vítor Emanuel II era coroado rei da Itália. O conde de Cavour se tornou o Primeiro-Ministro do novo Reino da Itália ainda em fevereiro de 1861, no entanto, ocupou o cargo por apenas quatro meses, falecendo em junho de 1861, em meio às negociações pela anexação do Vêneto, sob controle da Áustria, e de Roma, ainda sob o cetro papal, à Itália. O Vêneto acabou por ser anexado em 1868, graças à derrota austríaca na guerra austro-prussiana de 1866, que foi vencida pelas tropas prussianas, apoiadas pelos italianos, e pela qual receberam, por apoio prussiano, a região do Vêneto. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 27 Cavour Ainda faltava a cereja do bolo, pois a cidade eterna permanecia alheia às constantes tentativas de anexação por parte da Itália. Em 1862, Garibaldi conduziu as tropas italianas até Roma, porém foi rechaçado da cidade, sobretudo graças ao apoio dos romanos ao governo papal. A tentativa de uma nova anexação em 1867, que a priori fora bem-sucedida, gerou grande comoção entre os católicos franceses, levando Napoleão III a enviar tropas para expulsar os italianos e recolocar o Papa no poder. Ocorre que em 1870, com a deflagração da guerra Franco-Prussiana, Napoleão necessitou enviar as tropas francesas presentes em Roma para o campo de batalha, desguarnecendo as muralhas de Roma e abrindo o flanco romano para a invasão italiana, que sairia vitoriosa em 20 de setembro de 1870. O rei Vítor Emanuel buscou oferecer, em 1871, uma indenização ao Papa Pio IX pela perda dos territórios, o que foi rechaçado veementemente pelo Sumo Pontífice, devido a agressiva invasão italiana nos territórios pontifícios. O Papa permaneceu enclausurado no Vaticano desde então, declarando-se um SULVLRQHLUR� GR� 5HLQR� GD� ,WiOLD�� $VVLP� VH� LQDXJXURX� D� FKDPDGD� ³4XHVWmR� 5RPDQD´��TXH�VRPHQWH�YHLR�D�VHU�UHVROYLGD�HP�������SRU�PHLR�GD�&RQFRUGDWD� concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 28 de São João Latrão, assinada por Benito Mussolini e o Papa Pio XI, pela qual o Estado italiano reconhecia a soberania do Estado do Vaticano. Mapa com as datas das anexações italianas pelo Piemonte-Sardenha Roma se tornou a nova capital do Reino da Itália entre 1870-71, e este evento marcou o fim do Risorgimento. Graças à inteligência política e tenaz ação diplomática do conde de Cavour, o antigo sonho dos nacionalistas carbonários, evoluída desde a década de 1820, pôde concretizar-se em um Estado italiano unificado, sob a égide da coroa de Saboia e do antigo Reino da Sardenha, conforme fora pensado por aquele. Cavour conseguiu entender, e assim soube respeitar, o pragmatismo diplomático de um mundo em enérgica mudança. Cabe a ele, certamente, o mérito pela capacidade de ação compartilhada com os interesses concretos de outras nações, sedentas pelo protagonismo regional. Ademais, foi ele o principal responsável por dar uma causa em comum, bem como os instrumentos necessários, aos diferentes movimentos nacionalistas espalhados pela Península. Tal como Cavour, do outro lado do Reno, no mesmo ano da capitulação de Roma, findava-se a guerra franco-prussiana, por meio da concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 29 qual se erigia mais um Estado forjado sob a excelência do pensamento de um visionário político��R�³FKDQFHOHU�GH�)HUUR´�Otto von Bismarck. 4.3 A Unificação alemã ± obra de Bismarck Para compreendermos o processo de unificação alemã, devemos voltar um pouco na história do território da Europa central para colocar as problemáticas enfrentadas por Bismarck para unificar o que chamamos hoje de Alemanha. O centro da Europa fora um território fragmentado, com múltiplos Estados que variavam muito de tamanhoentre os séculos XIV-XIX. Organizados por um sistema político pouco centralizado ± o Sacro-Império Romano Germânico ± as várias unidades políticas germânicas eram bastante ciosas de suas independências apesar de se sentirem parte de um mesmo povo e compartilhadores de uma mesma cultura. Essa realidade permaneceu pouco alterada até o advento da Revolução Francesa. Com a subida de Napoleão ao poder e sua tentativa de conquistar a Europa, houve uma mudança definitiva no mapa europeu: o fim do Sacro- Império. Em 1806, o então imperador Francisco II (Franz I da Áustria), depois de derrota desastrosa para o exército francês em Austerlitz e da criação da Confederação do Reno, abdicou da coroa imperial e assumiu somente a coroa da Áustria e dos reinos sob controle austríaco. Como vimos, com o Congresso de Viena, o mapa do centro europeu não voltou a ser exatamente o que fora antes de Napoleão. De centenas de unidades políticas, reduziu-se a pouco mais de 30 principados. No lugar do Sacro-Império, criou-se a Confederação Germânica, que abarcava todas os Estados alemães, incluso a parte germânica da Áustria. A Confederação tinha propósito defensivo, e não ofensivo, e deveria ser um buffer contra outras possíveis invasões francesas. Os dois maiores Estados da confederação eram a Áustria e a Prússia. A liderança era da Áustria, tal como fora a coroa de Kaiser durante, pelo menos, dois séculos. Esta liderança, no entanto, já não era inconteste e a Prússia buscou, ao longo do século XIX, tomar a dianteira nos assuntos alemães. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 30 3DUD�UHDOL]DU�HVWH�LQWHQWR��D�3U~VVLD�GHFLGLX�³DWDFDU´�R�IURQW�HFRQ{PLFR��&ULRX� assim na década de 1830, o Zollverein, uma união aduaneira com os principados alemães, excluindo o império austríaco. A proposta era realizar uma integração econômica entre estes Estados, forçando-os a uma interdependência econômica, mas particularmente atrelada à Prússia. Mapa do Zollverein A rivalidade alcançaria maiores proporções após a subida de Bismarck ao poder na Prússia em 1862. Havia naquele momento histórico dois principais projetos de unidade alemã: a grande Alemanha e a pequena Alemanha. O primeiro, envolvia a Áustria e era defendida por ela e pelo papado. O plano era ampliar a Confederação Germânica, expandindo para todo o domínio do Império Austro-Húngaro, tendo Viena um poder dominante. Para o imperador Fransciso José (Franz Joseph), o ideal político era a de uma Confederação que assumisse a unidade (mas não a unificação) da Alemanha, com liderança austríaca concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 31 secundada pela Prússia. O projeto da pequena Alemanha excluía a Áustria e dava preponderância para a Prússia com o propósito de unficação sob a direção de um só governo.17 Como falamos repetidas vezes, as coisas começaram a serem alteradas no concerto de Viena após 1856. Tendo a Áustria abandonado a aliança com a Rússia e a Prússia tendo reafirmado seus laços com o czar, o status quo estava à beira do colapso. Relembrando as palavras do embaixador bávaro, a paz era mantida na Europa somente enquanto os gabinetes considerassem isso necessário. Com Bismarck à frente do Estado prussiano, a paz já não seria desejada. O chanceler alemão sabia que aquele momento histórico era favorável à unificação alemã pela Prússia, embora isso não pudesse ser feito de uma vez. Em suma, o chanceler sabia o que deveria fazer para alcançar seus objetivos e isso implicava enfraquecer a já cambaleante Áustria. A situação começaria a mudar na relação Áustria-Prússia na Confederação na década de 1860, com o problema da Dinamarca e dos dois ducados Schleswig-Holstein. Estes dois ducados eram soberanos, mas governados pelos reis dinamarqueses desde o fim da Idade Média por meio de união pessoal (ou seja, ele era rei da Dinamarca e duque de Schleswig ± um feudo dinamarquês ± e de Holstein ± um feudo alemão ±, cada um desses ducados com leis sucessórias diferentes). O Schleswig era de maioria dinamarquesa e o Holstein de maioria alemã e parte do Sacro-Império. Por um tratado de 1460, os dois ducados não poderiam ser separados. Depois da Revolução de 1848, o rei dinamarquês promulgou uma constituição comum à Dinamarca e aos ducados, o que levou a um movimento separatista nestes. O movimento foi apoiado pela Prússia numa guerra, mas que resultou numa paz de status quo em 1851 após intervenção das demais potências. 17 Bridge; Bullen, 2005, p. 146-147. VISENTINI, Paulo Fagundes. Manual do candidato : história mundial contemporânea (1776- 1991) : da independência dos Estados Unidos ao colapso da União Soviética. Brasília: FUNAG, 2012, p. 90. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 32 Holstein (amarelo) e Schleswig (marrom e vermelho claro) na península da Jutlândia Situação similar ocorreria em 1863-1864. Os liberais dinamarqueses pressionariam o rei para a promulgação de uma nova constituição para o reino e para os ducados. Só que dessa vez, os arranjos de Viena já não mais impediram a atuação da Prússia e da Áustria, que decidiram envolver-se para resolver a situação deixada sem solução em 1851. Numa guerra rápida e bem localizada, as duas potências germânicas liquidaram rapidamente a vizinha escandinava e tomaram controle dos dois ducados. Na paz acertada em 1864, a administração dos dois ducados seria compartilhada, a Prússia com Schleswig e a Áustria com Holstein. Esse arranjo concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 33 se mostraria péssimo para a Áustria, já que poucos anos depois levaria a uma guerra entre Prússia e Áustria. A guerra dos ducados seria uma amostra das guerras localizadas que ocorreriam sem intervenção das potências ± uma situação possível após o desmanche do sistema de Metternich. A entrada da Áustria na guerra com a Prússia, que não havia acontecido anteriormente, significava uma luta para se manter a frente dos assuntos alemães. Incapaz de evitar um conflito e a vitória da Prússia sozinha, preferiu adentrar as hostilidades de modo a participar também das negociações de paz. Além do mais, para os austríacos, a guerra foi percebida como a concretização de seus ideais de política externa: uma aliança conservadora e legitimista contra a Revolução (liberal neste caso). Para as potências não-germânicas, a guerra não foi vista como um perigo ao equilíbrio de poder. Para o czar russo, a vitória do legitimismo perpetrada por seu tio prussiano foi um alívio por ser a derrota dos princípios revolucionários. Já o imperador francês não tinha muito o que fazer: seus exércitos estavam atuando na Argélia e no México, incapacitando-o para influenciar os acontecimentos alemães. Os britânicos, por outro lado, não possuíam uma força terrestre significativa para se opor aos exércitos germânicos ± Bismarck afirmou que caso o exército inglês descesse em solo alemão mandaria a polícia prussiana prendê-lo.18 E mesmo que tivessem, para a política externa inglesa, uma vitória prussiana, embora ruim para a Dinamarca, seria boa para a Europa como um todo. Por incrível que nos pareça hoje, o gabinete inglês achava que VHULD�PHOKRU�XPD�$OHPDQKD�IRUWH�FRQWUD�DV�SRWrQFLDV�µDJUHVVLYDV¶�GD�5~VVLD�H� da França. Neste contexto, não havia saída para os dinamarquese que não ceder às pressões de seus vizinhos germânicos. Mas a vitória deles significou a abertura de nova rodada deproblemas no centro europeu. Bismarck passaria, rapidamente, a planejar os meios de rever a situação da Alemanha, buscando um meio de retirar a Áustria de lá. A diplomacia, no entanto, não parecia ser o caminho preferido para Bismarck, que escolheu novamente a guerra para impor seus interesses. 18 Idem, p. 152. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 34 A administração dos ducados foi o pretexto. Bismarck utilizar-se-ia de alguns problemas da administração deles para iniciar problemas com a Áustria. Para resolver os problemas, foram convocadas reuniões da Confederação em Frankfurt. Nessas reuniões, não houve apoio à posição prussiana, que pedia o controle completo dos ducados. Em face da derrota diplomática, já esperada, os prussianos se retiraram do congresso e iniciaram as hostilidades contra a Áustria e seus aliados. A derrocada austríaca foi completa. Pressionada em várias frentes, seu exército foi rapidamente derrotado e as intenções prussianas forçadas. Os principados foram anexados, a confederação abolida, território alemão da Áustria conquistado e vários aliados da Áustria passaram a ficar sob controle da Prússia. Os quatro estados do sul alemão foram organizado numa Confederação do Sul. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 35 Guerra Austro-prussiana: Lado austríaco: vermelho e rosa; Lado prussiano: azul escuro e azul claro; Neutros: verde; Schleswig-Holstein: amarelo Certamente pareceu estranho aos que acompanhavam as relações exteriores dos países europeus naquele momento a inação francesa relativamente ao que acontecia em seus territórios vizinhos. Como falamos algumas vezes, desde o século XVII, a política francesa face ao centro europeu era o de manter diferentes independências de modo a garantir a segurança das fronteiras do reino. No entanto, Napoleão III não agiu para evitar a hegemonia prussiana em território alemão. Por quê? Alguns motivos podem ser elencados. Em primeiro lugar, devemos recordar a rivalidade austro-francesa. Napoleão queria uma Áustria enfraquecida porque ela fora uma das artífices do sistema de 1815. Em segundo lugar, o imperador francês imaginava que, numa guerra entre Prússia e Áustria, esta última teria vantagem e que caso fosse necessário intervir, seria concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 36 ao lado dos prussianos. Em terceiro lugar, Bismarck deu a entender a Napoleão que o apoiaria numa possível tomada da Bélgica e uma revisão do mapa europeu ± o grande sonho do imperador francês, mas que não ocorreu. Em quarto lugar, Napoleão considerava a Confederação Germânica como uma instituição criada para opor-se aos interesses franceses. Logo, sua derrocada era, para ele, uma vantagem política. Em quinto lugar, sua percepção era a de que uma guerra que enfraquecesse as duas principais potências da Alemanha permitiria que ele expandisse a influência francesa no território da Europa central. Napoleão III não poderia estar mais errado. Sua neutralidade tornou possível a derrocada completa da Áustria e hegemonia da Prússia. A unificação alemã estava a um passo de concretizar-se e em grande medida graças à inatividade dos franceses. A vitória de Bismarck, embora significativa, não resultou, nem parecia aos contemporâneos que resultaria, na unificação. Após a organização da nova configuração alemã ± com a Confederação do norte e a aliança defensiva entre esta e os estados do sul alemão ± Bismarck se viu em problemas para juntar o norte e o sul alemão. Isso por alguns motivos: os estados alemães eram bastante ciosos de sua independência e não adeririam livremente ao comando de uma casa real. Consideravam, também, que a Prússia ± que liderava a confederação do norte ± era muito autoritária, o que significaria, numa unificação, menor autonomia para os demais membros. Por fim, os estados ao sul eram de maioria católica, enquanto o norte, de protestantes luteranos e calvinistas. O problema para Bismarck era o de que ele não poderia, em face da opinião pública alemã, simplesmente atacar e anexar seus vizinhos. Isso poderia desencadear intervenções de outros países para defender a integridade dos vizinhos prussianos ± fosse dos franceses ou dos austríacos. Assim sendo, a via que o chanceler de ferro deveria tomar deveria ser, por força maior, a da diplomacia. O caminho mais simples ± embora não fácil ± seria o de unificar os estados do sul ao desencadear uma guerra de agressão de outro país. Assim, os estados do sul se aliariam à Confederação do Norte, facilitando a união. Este plano foi facilitado pelo medo que os estados do sul tinham de uma possível agressão francesa. Bismarck atuaria, então, desde a vitória sobre os austríacos, concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 37 no sentido de fomentar esse medo e de provocar a França a uma guerra de agressão. Enquanto isso, na França, o imperador se via com dificuldades. Não só havia isolado seu país das demais potências, como também começava a enfrentar problemas internos, com o desgaste de sua imagem e da economia. Além disso, começou um clamor público francês contra a Prússia, que percebia a vitória prussiana e o controle alemão por ela como uma humilhação à França e uma perda de status de grande potência. Essa pressão daria a Napoleão maior confiança num possível engajamento militar contra seus vizinhos. O pretexto para o conflito foi a candidatura prussiana à coroa espanhola, que estava com problemas sucessórios e sobre a qual o príncipe Leopoldo da Prússia tinha direito. Para Bismarck, caso houvesse sucesso na candidatura, seria colocar um rival da França no trono da Espanha tornando a fronteira sul francesa vulnerável. Mas caso fracassasse, poderia resultar num conflito militar ± desejado por ele ± entre Prússia e França. Napoleão exigiu que a candidatura fosse retirada e que o monarca prussiano desse garantias de que não haveria mais qualquer tipo de intenção de colocar um Hohenzollern no trono espanhol. O rei, no entanto, respondeu negando este último pedido ± que era, na realidade, uma humilhação à França. Bismarck, então, mudou o tom da resposta do rei, tornando-a mais agressiva e publicou nos jornais. A resposta alterada de Bismarck (mas que todos acreditavam ser a resposta real do primeiro-ministro) causou grande clamor na França por uma guerra que reparasse o orgulho nacional ferido. Napoleão, assim, declarou guerra à Prússia em 1870. Neste momento, os estados do sul, pelas convenções feitas com a Confederação do Norte, entraram na guerra ao lado da Prússia. O conflito durou pouco tempo, com o exército francês sofrendo grave derrota em Sedan em setembro de 1870 que resultou na captura do imperador Napoleão. Os prussianos derrotaram as forças que restaram da III República ± proclamada após a notícia da captura de Napoleão ± e coroaram o então rei da Prússia imperador da Alemanha dentro do Palácio de Versalhes na França (uma verdadeira humilhação ao adversário vencido), unificando os territórios alemães concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 38 e tomando a região da Alsácia-Lorena dos franceses. Os reinos alemães ± como a Prússia e a Baviera ± continuariam a existir dentro do Império, mas sem independência de ação. A unificação alemã abriria um novo momento na história das relaçõesLQWHUQDFLRQDLV�GD�(XURSD��TXH�ILFRX�FRQKHFLGR�FRPR�³SD]�DUPDGD´��$V�UHODo}HV� de força foram completamente alteradas com o nascimento do Império alemão que, como potência industrial e militar, iria reivindicar seu espaço na expansão capitalista e colonial com os demais europeus. As rivalidades que surgiriam deste período levariam aos sistemas de alianças e ao grande conflito que conhecemos como I Guerra Mundial. Mas esses e outros detalhes traremos na aula seguinte! Bismarck (à esquerda) e Napoleão III (à direita) concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 39 Coroação de Guilherme I como Kaiser alemão no palácio de Versalhes Império Alemão em 1871 concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 40 Vamos agora praticar e responder algumas questões sobre esses temas que trabalhamos nesta aula? 1. UDESC 2009 Assinale a alternativa correta, em relação à chamada Primavera dos Povos. A) A Primavera dos Povos não influenciou a formação dos movimentos sociais do Século XIX. B) Foi uma revolução brasileira, mas que atingiu também outros países do Cone Sul. C) Houve influência da Primavera dos Povos no Brasil através do movimento dos ³6HULQJXHLURV´� D) Atribuição colocada ao movimento revolucionário francês em 1848, que derrubou a monarquia de Luis Felipe e trouxe à discussão a exploração burguesa e a dominação política. E) A influência da Primavera dos Povos se restringiu às preocupações francesas do período. 2. UFMG 2009 O ano de 1848 ficou célebre em razão da onda de revoluções que varreu, então, a Europa - evento denominado Primavera dos Povos. O objetivo maior dos revolucionários de toda parte era alcançar a liberdade e combater a opressão; em algumas regiões, porém, as palavras de ordem reivindicavam, também, o fim do jugo estrangeiro, ou seja, demandavam autonomia para as nações. Considerando-se os eventos ocorridos em 1848 e suas conseqüências, é CORRETO afirmar que: A) na Alemanha, se instalou, com sucesso, uma República parlamentar, que aboliu as instituições imperiais e consolidou a unidade do país. B) na França, se proclamou, outra vez, a República, mas Luís Napoleão Bonaparte, o presidente eleito, instituiu, por meio de um golpe, o II Império. C) na Inglaterra, uma série de greves gerais colocou em xeque a Monarquia, que precisou recorrer à Lei Marcial para recobrar a ordem. D) na Rússia, os revolucionários ocuparam o poder durante alguns meses, o que provocou reação sangrenta e guerra civil. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 41 3. MACKENZIE A unificação política da Alemanha (1870 ± 1871) teve como conseqüências: a) a ruptura do equilíbrio europeu, o revanchismo francês, a revolução industrial alemã e D�³3ROtWLFD�GH�$OLDQoDV´� b) o enfraquecimento da Alemanha e a miséria de grande parte dos habitantes do Sul, responsável pela onda emigratória do final do século XIX; c) a anexação da Alsácia e Lorena, o empobrecimento do Zollverein e a retração do capitalismo; d) a corrida colonial, o revanchismo francês, o enfraquecimento do Reich e a anexação da Áustria; e) o equilíbrio europeu, a aliança com a França, a formação da união aduaneira e a Liga dos Três Imperadores 4. UNIP As Revoluções de 1848 foram provocadas por diversos fatores, destacando-se, entre outros: a) o fascismo, o comunismo e o positivismo; b) a social-democracia, o anarquismo e o comunismo; c) o sindicalismo, o republicanismo e o conservadorismo; d) o liberalismo, o nacionalismo e o socialismo. e) o populismo, a social-democracia e o parlamentarismo 5. UERJ ³O permanente revolucionar da produção, o abalar ininterrupto de todas as condições sociais, a incerteza e o movimento eternos distinguem a época de todas as outras. Todas as relações fixas e enferrujadas, com seu cortejo de representações e concepções são dissolvidas, todas as relações recém-formadas envelhecem antes de poderem ossificar-se. Tudo que era sólido se volatiza, e os homens são por fim REULJDGRV�D�HQFDUDU�FRP�RV�ROKRV�EHP�DEHUWRV�D�VXD�SRVLomR�QD�YLGD�´ Karl Marx e Fredrich Engels. Adaptado do Manifesto do Partido Comunista. Em 1848, na defesa de uma nova sociedade, o Manifesto Comunista criticou as transformações advindas da modernização capitalista nos países da Europa Ocidental. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 42 Dois aspectos dessa modernização, então criticados, foram: a) crescimento industrial ± garantia de direitos sociais b) aceleração tecnológica ± aumento da divisão do trabalho c) mecanização da produção ± elevação da renda salarial média d) diversificação de mercados ± valorização das corporações sindicais 6. Fuvest ³)L]HPRV�D�,WiOLD��DJRUD�WHPRV�TXH�ID]HU�RV�LWDOLDQRV´��³$R�LQYpV�GD�3U~VVLD�VH�IXQGLU� QD�$OHPDQKD��D�$OHPDQKD�VH�IXQGLX�QD�3U~VVLD´� Estas frases, sobre as unificações italiana e alemã: a) aludem às diferenças que as marcaram, pois, enquanto a alemã foi feita em benefício da Prússia, a italiana, como demonstra a escolha de Roma para capital, contemplou todas as regiões. b) apontam para as suas semelhanças, isto é, para o caráter autoritário e incompleto de ambas, decorrentes do passado fascista, no caso italiano, e nazista, no alemão. c) chamam a atenção para o caráter unilateral e autoritário das duas unificações, imposta pelo Piemonte, na Itália, e pela Prússia, na Alemanha. d) escondem suas naturezas contrastantes, pois a alemã foi autoritária e aristocrática e a italiana foi democrática e popular. e) tratam da unificação da Itália e da Alemanha, mas nada sugerem quanto ao caráter impositivo de processo liderado por Cavour, na Itália, e por Bismarck, na Alemanha. 7. UFRS Leia os itens abaixo que se referem a possíveis resultados imediatos da guerra Franco-Prussiana de 1870. I- A ocupação imperialista da Argélia pela França. II- A fundação da Internacional pelos nacional-socialistas da Áustria. III- O fim do II Império Francês de Luís Bonaparte e a instauração do II Reich. Quais estão corretas? concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 43 a) Apenas I. b) Apenas II. c) Apenas III. d) Apenas I e III. e) I, II e III. concurseirosunidos.org concurseirosconcurseiros História Mundial Agência Brasileira de Inteligência WƌŽĨ��ŝŽŐŽ�� 嬁?ŶŐĞůŽ�Ğ�WƌŽĨ�WĞĚƌŽ�^ŽĂƌĞƐ 44 Exercícios Comentados 1. UDESC 2009 Assinale a alternativa correta, em relação à chamada Primavera dos Povos. A) A Primavera dos Povos não influenciou a formação dos movimentos sociais do Século XIX. B) Foi uma revolução brasileira, mas que atingiu também outros países do Cone Sul. C) Houve influência da Primavera dos Povos no Brasil através do movimento dos ³6HULQJXHLURV´� D) Atribuição colocada ao movimento revolucionário francês em 1848, que derrubou a monarquia de Luis Felipe e trouxe à discussão a exploração burguesa e a dominação política. E) A influência da Primavera dos Povos se restringiu às preocupações francesas do período. Comentários: a. A Primavera dos Povos foi, por definição, um grande berço de consciências nacionais e de movimentos sociais que povoariam o século XIX na Europa e na América. b. A Primavera dos Povos foi um fenômeno europeu, que abalou o centro do continente.
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