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Noções de Hermenêutica Jurídica

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25/03/2018 Disciplina Portal
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Fundamentos de Direito
Aula 5 - Noções gerais de hermenêutica jurídica
INTRODUÇÃO
Nesta aula, vamos entrar no campo da hermenêutica jurídica e conhecer as diversas formas de interpretação
normativa existentes. Perceberemos que a simples existência de uma norma escrita não é o su�ciente para que ela
produza os efeitos para os quais foi elaborada, tendo o intérprete do direito a necessidade de promover uma
interpretação apta a dar a essa norma uma aplicação coerente e justa.
Vamos também ter a oportunidade de perceber que, muitas vezes, ocorrem casos da existência de normas que estão
em vigor, mas que tratam de um mesmo assunto sob visões distintas. Qual delas efetivamente estará vigorando? O que
fazer ou como proceder para fazer a escolha da norma adequada? Isso poderemos responder ao estudar o instituto da
antinomia jurídica.
Vamos lá!
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OBJETIVOS
Analisar a noção de hermenêutica jurídica e interpretação do Direito;
Classi�car as diversas formas de interpretação do Direito;
Reconhecer as possibilidades de ocorrência de antinomia jurídica e como solucioná-las.
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HERMENÊUTICA JURÍDICA E INTERPRETAÇÃO DO DIREITO
Fonte da Imagem: ajt / Shutterstock
A palavra hermenêutica é de origem grega, signi�cando interpretação. Segundo alguns, a sua origem é o nome do deus
da mitologia grega Hermes, a quem era atribuído o dom de interpretar a vontade divina.
Hermenêutica, pois, no seu sentido mais geral, é a interpretação do sentido das palavras.
O termo hermenêutica jurídica é usado com diferente extensão pelos autores.
Com frequência, é sinônimo de interpretação da norma jurídica.
CONCEITO DE INTERPRETAÇÃO JURÍDICA
Fonte da Imagem: Kues / Shutterstock
Interpretar é �xar o verdadeiro sentido e o alcance de uma norma jurídica. “É indagar a vontade atual da norma e
determinar seu campo de incidência” (HERKENHOFF); e “interpretar a lei é revelar o pensamento que anima as suas
palavras” (BEVILAQUA).
Como todo objeto cultural, o Direito encerra signi�cados. Interpretá-lo representa revelar o seu conteúdo e alcance.
Temos, assim, três elementos que integram o conceito de interpretação:
REVELAR O SEU SENTIDO
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Isso não signi�ca somente conhecer o signi�cado das palavras, mas, sobretudo descobrir a �nalidade da norma jurídica. Isto é,
interpretar é “compreender”.
As normas jurídicas são parte do universo cultural e a cultura, como vimos, não se explica, mas se compreende em função do
sentido que os objetos culturais encerram. E compreender é justamente conhecer o sentido, entender os fenômenos em razão
dos �ns para os quais foram produzidos.
FIXAR O SEU ALCANCE
Signi�ca delimitar o seu campo de incidência. É conhecer sobre quais fatos sociais e em que circunstâncias a norma jurídica tem
aplicação.
Por exemplo, as normas trabalhistas contidas na Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) se aplicam apenas aos trabalhadores
assalariados, isto é, que participam em uma relação de emprego. As normas contidas no Estatuto dos Funcionários Públicos da
União têm o seu campo de incidência limitado a esses funcionários.
NORMA JURÍDICA
Falamos em “norma jurídica” como gênero, uma vez que não são apenas as leis, ou em “normas jurídicas legais” que precisam ser
interpretadas, embora sejam elas o objeto principal da interpretação.
Assim, todas as normas jurídicas podem ser objeto de interpretação:
As legais;
As jurisdicionais (sentenças judiciais);
As costumeiras;
Os negócios jurídicos.
A NECESSIDADE DA INTERPRETAÇÃO
No passado, nem sempre a possibilidade de interpretação foi conferida ao intérprete. 0 Imperador Justiniano
determinara:
Hoje, a possibilidade e, ainda mais, a necessidade de interpretação das normas jurídicas precisam ser reconhecidas,
mesmo em relação às normas tidas por claras.
Para alguns, não há necessidade de interpretação quando a norma é “clara”. É o que diz o brocardo latino in claris
cessat interpretatio (dispensa-se a interpretação quanto o texto é claro), que, apesar de sua veste latina, não é de
origem romana.
Fonte da Imagem: Sentavio / Shutterstock
Os romanos, com a sua visão profunda em matéria jurídica, não desconheciam a permanente necessidade dos
trabalhos exegéticos, ainda que simples fossem os textos legislativos. Haja vista a a�rmação de Ulpiano:
quamvis sit manifestissimum edictum praetoris, attamen
non est negligenda interpretatio eius 
(embora claríssimo o edito do pretor, contudo não se deve descurar da sua interpretação)
(Digesto, liv. 25, tit. 4, frag. 1. § 11).
Na verdade, não é exato dizer que o trabalho do intérprete apenas é necessário quando as leis são obscuras. A
interpretação sempre é necessária, sejam obscuras ou claras as palavras da lei ou de qualquer outra norma jurídica.
Isso ocorre por três razões:
1º) O conceito de clareza é muito relativo e subjetivo, ou seja, o que parece claro a alguém pode ser obscuro para
outrem;
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2º) Uma palavra pode ser clara segundo a linguagem comum e ter, entretanto, um signi�cado próprio e técnico,
diferente do seu sentido vulgar (por exemplo, a “competência” do Juiz);
3º) A consagração legislativa dos princípios contidos no art. 5º da LICC signi�ca uma repulsa ao referido brocardo, já
que toda e qualquer aplicação das leis deverá conformar-se aos seus “�ns sociais e às exigências do bem comum”.
Ora, se em todas as leis o intérprete não poderá deixar de considerar seus �ns sociais e as exigências do bem comum,
todas as leis necessitam de interpretação visando à descoberta dos mesmos.
ESPÉCIES DE INTERPRETAÇÃO
A interpretação pode ser classi�cada segundo diversos critérios:
I - QUANTO À ORIGEM OU FONTE DE QUE EMANA, A INTERPRETAÇÃO
PODE SER:
AUTÊNTICA
Quando emana do próprio poder que fez o ato cujo sentido e alcance ela declara. 
Para saber mais sobre a Interpretação autêntica, clique aqui (glossário).
JUDICIAL
É a resultante das decisões prolatadas pela Justiça. Vem a ser aquela que realizam os juízes ao sentenciar,
encontrando-se nas Sentenças, nos Acórdãos e Súmulas dos Tribunais (formando a sua jurisprudência).
ADMINISTRATIVA
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É aquela cuja fonte elaboradora é a própria Administração Pública, através de seus órgãos e mediante pareceres,
despachos, decisões, circulares, portarias etc. 
Essa interpretação vincula as autoridades administrativas que estiverem no âmbito das regras interpretadas, mas não
impede que os particulares adotem interpretações diversas.
DOUTRINÁRIA
Vem a ser a realizada cienti�camente pelos doutrinadores e juristas em suas obras e pareceres. 
Há livros especializados de Direito que comentam artigo por artigo de uma lei, código ou consolidação, dando o
sentido do texto comentado, com base em critérios cientí�cos.
II – QUANTO À SUA NATUREZA, A INTERPRETAÇÃO PODE SER:
III - QUANTO A SEUS EFEITOS OU RESULTADOS, A INTERPRETAÇÃO
PODE SER:
EXTENSIVA
Quando o intérprete conclui que o alcanceda norma é mais amplo do que indicam os seus termos. Nesse caso, diz-se que o
legislador escreveu menos do que queria dizer e o intérprete, alargando o campo de incidência da norma, fará sua aplicação em
determinadas situações não previstas expressamente em sua letra, mas que nela se encontram, virtualmente, incluídas.
Às vezes, o legislador, ao exprimir seu pensamento, pode formular para um caso singular um conceito que deve valer para toda
uma categoria ou usar um elemento que designa espécie, quando queria aludir ao gênero.
Por exemplo, a lei diz “�lho” quando na realidade queria dizer “descendente”.
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Ou, ainda, a Lei do Inquilinato dispõe que: “o proprietário tem direito de pedir o prédio para seu uso”. Já a interpretação concluiu
que deveria incluir o “usufrutuário” entre os que podem pedir o prédio para uso próprio, por entender que a intenção da lei é a de
abranger também aquele que tem sobre o prédio um direito real de usufruto. E isso é uma interpretação extensiva.
RESTRITIVA
Quando o intérprete restringe o sentido da norma ou limita sua incidência, concluindo que o legislador escreveu mais do que
realmente pretendia e assim o intérprete elimina a amplitude das palavras.
Por exemplo, a lei diz “descendente” quando na realidade queria dizer “�lho”.
A mesma norma da Lei do Inquilinato mencionada no exemplo anterior serve para modelo de uma interpretação restritiva, no caso
do “nu-proprietário”, isto é, daquele que tem apenas a “nua-propriedade”, mas não o direito de uso e gozo do prédio. Assim, este
não poderia pedir o mesmo para seu uso.
DECLARATIVA OU ESPECIFICADORA
Quando se limita a declarar ou especi�car o pensamento expresso na norma jurídica, sem ter necessidade de estendê-la a casos
não previstos ou restringi-la mediante a exclusão de casos inadmissíveis.
O intérprete chega à constatação de que as palavras expressam, com medida exata, o espírito da lei, cabendo-lhe apenas
constatar essa coincidência.
A interpretação declarativa corresponde à interpretação também denominada de “estrita”. Nela, as normas “aplicam-se no sentido
exato, não se dilatam, nem restringem os seus termos”, segundo Carlos Maximiliano.
A exegese aqui é “estrita, porém não restritiva; deve dar precisamente o que o texto exprime, porém tudo o que no mesmo se
compreende; nada de mais, nem de menos” (MAXIMILIANO).
Segundo Alípio Silveira, a interpretação: “É declarativa quando a letra se harmoniza com o signi�cado obtido pelos outros
métodos. É extensiva, se o signi�cado obtido pelos outros métodos é mais amplo do que o literal; a�nal, é restritiva, quando o
signi�cado literal é mais amplo do que aquele obtido pelos outros métodos”.
ANTINOMIAS
O estudo das antinomias jurídicas relaciona-se à questão da consistência do ordenamento jurídico, à condição de um
ordenamento jurídico não apresentar simultaneamente normas jurídicas que se excluam mutuamente, isto é, que
sejam antinômicas entre si, a exemplo de duas normas, em que uma manda e a outra proíbe a mesma conduta.
Há vários tipos de antinomias. Porém, dividem-se basicamente em antinomias aparentes (passíveis de solução) e
antinomias reais (onde o intérprete é abandonado a si mesmo, ou pela falta de um critério ou por con�ito entre os
critérios dados).
CRITÉRIO CRONOLÓGICO
Na existência de duas normas incompatíveis, prevalece a norma posterior. Esse critério é anunciado pelo brocardo jurídico lex
posterior derogat legi priori.
Essa regra se explica pelo fato de a e�cácia da lei no tempo ser limitada ao prazo de sua vigência, que começa com a sua
publicação e perdura até a sua revogação.
Assim, a lei só começa a produzir seus efeitos após entrar em vigência e deixa de produzi-los depois de revogada.
Como ensina Norberto Bobbio: “Do princípio de que a lei só tem e�cácia durante a vigência, resulta que nenhuma lei pode aplicar-
se a fatos anteriores (nenhuma lei tem efeito retroativo). O único caso de retroatividade permissível é da lei penal favorável ao
réu”.
CRITÉRIO HIERÁRQUICO
Também chamado de Lex Superior porque é inspirado na expressão latina lex superior derogat legi inferiori.
Dessa forma, na existência de normas incompatíveis, prevalece a hierarquicamente superior. O contrário, uma norma inferior
revogar uma superior, é inadmissível.
CRITÉRIO DA ESPECIALIDADE
Também denominado Lex Specialis, em função da expressão latina lex specialis derogat legi generali.
Por esse critério, se as normas incompatíveis forem geral e especial, prevalece a segunda.
O entendimento que norteia esse critério diz respeito à circunstância de a norma especial contemplar um processo natural de
diferenciação das categorias, possibilitando, assim, a aplicação da lei especial àquele grupo que contempla as peculiaridades
nela presentes, sem ferir a norma geral, ampla por demais.
Além disso, a aplicação da regra geral importaria no tratamento igual de pessoas que pertencem a categorias diferentes, e,
portanto, em uma injustiça.
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A COMPLETUDE DO ORDENAMENTO JURÍDICO (SEM LACUNAS)
Completude é a propriedade pela qual um ordenamento jurídico tem uma norma para regular qualquer caso.
E a incompletude consiste no fato de que o sistema não compreende nem a norma que proíbe um certo
comportamento nem a norma que o permite.
Uma vez que a falta de uma norma se chama lacuna, completude signi�ca a “falta de lacunas”.
Podemos dizer que um ordenamento é completo quando jamais se veri�ca o caso de que a ele não se pode
demonstrar pertencente nem uma certa norma nem a norma contraditória.
Um ordenamento é completo quando o Juiz pode encontrar nele uma norma para regular qualquer caso que se lhe
apresente, ou, melhor, não há caso que não possa ser regulado com uma norma tirada do sistema.
CONDIÇÃO NECESSÁRIA PARA OS ORDENAMENTOS
1
O Juiz é obrigado a julgar todas as controvérsias que se apresentarem a seu exame;
2
O Juiz deve julgá-las com base em uma norma pertencente ao sistema.
1 - Com frequência, o termo hermenêutica jurídica é usado como sinônimo de interpretação da norma jurídica. Miguel
Reale, por exemplo, fala em “hermenêutica ou interpretação do Direito”, em suas Lições Preliminares de Direito. Já
Carlos Maximiliano, por sua vez, distingue hermenêutica e interpretação. Aquela seria a teoria cientí�ca da arte de
interpretar; esta seria a aplicação da hermenêutica. Em suma, a hermenêutica seria teórica e a interpretação seria de
cunho prático, aplicando os ensinamentos da hermenêutica. Outros autores dão ao vocábulo um sentido mais amplo,
que abrange a interpretação, a aplicação e a integração do Direito.
Com base nessas informações, conclui-se que:
Não há necessidade de interpretação quando a norma é “clara”, ou seja, in claris cessat interpretatio (dispensa-se a interpretação
quanto o texto é claro).
Um dos elementos que encerra o conceito de interpretação da norma é �xar o seu alcance: signi�ca delimitar o seu campo de
incidência; conhecer sobre que fatos sociais e em que circunstâncias a norma jurídica tem aplicação.
Fala em interpretação da norma refere-se tão somente às leis, na medida em que somente as leis são utilizadas como
fundamentos das decisões judiciais que precisam dessa interpretação jurídica.
O trabalho do intérprete apenas é necessário quando as leis são obscuras. A interpretação nem sempre é necessária, a não ser
que sejam obscuras ou pouco claras as palavras da lei ou de qualquer outra norma jurídica.
A hermenêutica jurídica leva em conta o estado de espírito do intérprete da norma que pode in�uir nessa interpretação, razão pela
qual a hermenêutica não pode ser considerada uma ciência.25/03/2018 Disciplina Portal
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Justi�cativa
2 - O método de interpretação das normas constitucionais, segundo o qual se procura identi�car a �nalidade da norma,
levando-se em consideração o seu fundamento racional, é o método:
Literal
Gramatical
Histórico
Sistemático
Teleológico
Justi�cativa
3 - A respeito da hermenêutica do Direito, analise as proposições:
I- Hermenêutica e interpretação não se confundem, enquanto a hermenêutica é teórica e visa a estabelecer princípios, a
interpretação é de cunho prático, aplicando os ensinamentos da hermenêutica. 
II- Com a interpretação extensiva, o intérprete constata que o legislador não usou propriamente os termos e disse
menos do que queria a�rmar. 
III- Na analogia juris, amplia-se a signi�cação das palavras até fazê-las coincidir com o espírito da lei. 
IV- Quanto ao resultado, se diz ser a interpretação autêntica, quando emana do próprio órgão competente para a edição
do ato interpretado.
A alternativa que corretamente julga as assertivas é:
As proposições I, II, III e IV estão corretas.
As proposições I, II e III estão corretas.
As proposições I e II estão corretas.
As proposições III e IV estão corretas.
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Justi�cativa
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