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a mulher desencarnada

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A mulher desencarnada
 “A mulher desencarnada”, trata-se de uma paciente que estando aos cuidados de um hospital devido a um diagnóstico preciso e cálculos biliares, aguardava a cirurgia, já medicada de acordo com os procedimentos pré-operatórios. O que o Dr. Sacks revela em seu relato, seria sua surpresa e perplexidade perante o que se deu depois da internação da mesma.
Christina, uma mulher ativa, já mãe e de bom preparo físico, procurou cuidados médicos devido às dores que sentia no abdômen. Examinada, descobriu-se que se tratava de cálculos na vesícula biliar, o que lhe causava muito mal estar. O cirurgião em uma conversa entre médico e paciente, disse que ela precisava passar por uma intervenção cirúrgica para remoção da vesícula. Até então, coisa que para ela parecia normal, causou-lhe uma inquietação. Dias antes da cirurgia, já internada, passou pelos procedimentos pré-operatórios, como interrupção alimentar e de água, ingestão de medicação de antibióticos. Quando adormeceu, sentiu-se como se não tivesse em seu corpo, tentava tocar, sentir, mas era como se flutuasse sobre o mesmo. Quando acordou, informou o médico sobre seu pesadelo, e este, a tranqüilizou, embora preocupado, que seria normal este comportamento diante de uma situação como esta, diferente para ela. Seu quadro de ansiedade fora do normal, talvez estivesse reproduzindo um comportamento confuso em relação a seus próprios sentidos, como a histeria. Mas, para a surpresa de Christina e também dos médicos, inclusive de um psiquiatra, seu pesadelo se tornou real, seus comandos de voz, movimentos de pernas, braços e visão já não correspondiam ao normal. Em um desabafo ela disse com uma voz meio que fantasmagórica: “alguma coisa aconteceu... não consigo sentir meu corpo... eu me sinto esquisita... desencarnada!”
 Realmente, neste desabafo, ela indica o que está acontecendo com ela. Em uma explicação mais técnica, interrogado por médicos residentes, Dr. Sacks revela que poderia sim ser uma histeria, conforme o Psiquiatra havia subentendido, mas também o preocupou o fato de Christina continuar a sentir as coisas, mas de um jeito diferente, não havia dor, mas uma interrupção dos sentidos, ou melhor, a propriocepção estava falhando, como se seus sentidos não tivessem mais uma direção. Seus movimentos e voz não acompanhavam sua “vontade”, enternecera.
Para entender o que se passava com esta paciente, Dr. Sacks e uma equipe do hospital, reavaliaram a mesma deste seu primeiro diagnostico e perceberam que ela sofrera uma neurite, um processo inflamatório grave, é uma lesão inflamatória ou degenerativa dos nervos, da qual decorre paralisia e compromete a atividade no sistema nervoso, que num quadro de ansiedade fora do comum, poderia sim causar sérios danos nas células sensórias de Christina, como a perda da propriocepção, que seria a ausência da sensibilidade própria aos ossos, músculos, tendões e articulações e que fornece informações sobre a estática, o equilíbrio, o deslocamento do corpo no espaço, fazendo com que a paciente não sinta mais dentro de si mesma, como ela mesma fala: “sinto, que meu corpo está cego e surdo, para ele mesmo...”, esse silêncio sensorial à qual está condenada, causar-lhe-ia um grande transtorno em sua vida. A falta de percepção dava a impressão de estar realmente fora do seu próprio corpo. Havia os sentidos, mas estes não mais correspondiam ao que lhe foi adquirido e aguçado com o passar dos anos. Talvez danos irreparáveis, ou com significativa evolução.

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