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LOCAST E O POTENCIAL DA INFORMAÇÃO GEOLOCALIZADA

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LOCAST E O POTENCIAL DA INFORMAÇÃO GEOLOCALIZADA 
Dr André Fagundes Pase1
Uma das marcas da contemporaneidade digital não é apenas a propagação da informação pelos caminhos digitais, mas a fusão do jornalismo com as linguagens de programação. A natureza open-source do Android permite a criação de aplicações atualizadas praticamente em tempo real com o código livre para colaboração em torno de um objetivo único. No caso do Locast, isto pode ser observado em duas etapas. 
Antes de o sistema ser disponibilizado para o público, alguns arquivos precisaram de tradução. Mesmo que o sistema apresentasse palavras do universo digital comum dos usuários, como “login”, foi preciso traduzir parte do material para o português. A atividade foi realizada em paralelo com a equipe de Boston, pois foi necessário validar os arquivos. 
O segundo momento aconteceu durante o workshop inicial do Locast, envolvendo os alunos da Faculdade de Comunicação da PUCRS, a equipe da RBS e o time remoto do Mobile Experience Lab do MIT. Os problemas do software eram detectados pelo grupo durante a apresentação e, quase que instantaneamente, o código era atualizado e publicado. Esta possibilidade reduziu em grande parte erros de processo que poderiam ter ocorrido durante a prática do projeto. Compreende-se que o mesmo poderia ter sido realizado com o kit de desenvolvimento do iPhone, por exemplo, porém as liberdades de instalação do software sem caminhar para uma loja como a iTunes Store ou sem a necessidade da sincronia como desenvolvedor autorizado garantiram agilidade no projeto. 
1 PRÁTICAS E PUBLICAÇÕES 
Mesmo com todo o esmero para configurar o sistema, na prática o Locast revelou seu verdadeiro potencial. Além da mobilidade de comunicação, os participantes do projeto utilizaram o material para documentar fatos do cotidiano, problemas com o trânsito e eventos culturais, sobretudo. Além disso, a infeliz tempestade que atingiu Porto Alegre no dia 17 de novembro de 2009 tornou-se uma data especial para avaliar como o Locast poderia ser uma base com informações para orientação em um cenário adverso. 
A possibilidade de indexação geográfica dos vídeos permite um olhar duplo sobre o material publicado em tempo real. Não apenas é um mapa com os locais ou uma lista com o que foi publicado recentemente, mas o cruzamento dos dois dados. No caso do dia 17, foi possível visualizar os estragos provocados na cidade de uma maneira diferente. Apenas as notícias ou simples imagens colocadas no Twitter, por exemplo, perdem o contexto espacial, sobretudo quando a população precisa pensar como será o seu deslocamento pela cidade. 
Outro aspecto interessante relatado pelos participantes foi a reação dos entrevistados quando filmados. Muitas vezes, as câmeras provocam reações adversas nas pessoas em foco, que apresentam sinais de nervosismo ou intimidação pelo aparelho. O celular age de maneira menos feroz e, dado o seu uso cotidiano, não se torna tão intrusivo em alguns momentos. Além disso, seu manejo fácil permite que seja carregado mais facilmente pelo citzen journalist ou profissional, que já utiliza o aparelho e não necessita de mais gadgets para sua rotina. 
A observação das publicações revela que os jornalistas utilizaram a ferramenta inicialmente para informações de contexto da notícia, também conhecidas como “pautas ambientais” no jargão jornalístico, e, sobretudo pela equipe de Zero Hora, como ferramenta para gravação e transmissão de entrevistas, com o vídeo servindo para posterior gravação e utilização em matérias textuais. 
Este uso parece simples, porém é muito útil para o profissional do texto. Ele conta com um complemento para as suas anotações e ainda enriquece o site da sua publicação, com material captado em outras linguagens que pode ser utilizado pelo impresso como ponte para o online e, o mais importante, auxilia na compreensão dos fatos. Desta forma, a ferramenta digital não obriga o jornalista a realizar mais uma ação, mas sim facilita a sua vida. Muitas vezes, a equipe da redação reage contra mais uma tarefa no ato da reportagem, sobretudo quando envolve o online. Ressaltar que a ação substitui outras e ainda é prática, como observado com o Locast, pode servir no processo de inclusão do celular como companheiro de captação de dados. 
Além disso, o uso do Locast para captar os bastidores da captação também foi observado. Porém, este recurso deve ser direcionado para pautas em específico, pois nem tudo o que acontece com a equipe é de interesse do grande público. Controlar esta espécie de publicação, sobretudo valoriza quando ela é colocada em foco. 
Apesar de não contar com a pressão pela busca da informação, a equipe de pesquisadores também captou em tempo real, porém preocupados com o fato, não o instante. Muitas vezes a publicação era realizada horas depois, porém houve a busca por um conjunto de planos-sequência, entrevistas e imagens dos fatos sem edição. Esta forma culminou por revelar um vídeo orgânico. Não se trata aqui de rejeitar o fino cuidado da edição, necessário quando há tempo disponível, mas sim observar que a informação direta, desde que acompanhada de uma orientação sonora ou visual do repórter/citzen journalist também é válida. Aliás, esta publicação permite que outra, mais refinada, seja realizada posteriormente. 
Desta forma, o Locast completa o trabalho do profissional e permite que o público faça um mapa natural do que acontece ao seu redor. Este conteúdo pode ser utilizado por uma empresa jornalística, desde que não haja interferência no conteúdo ou mesmo o público evite publicar por achar que uma publicação pode ir contra o princípio do site. A moderação e gestão do sistema prescindem de transparência e guias claros.
2 PROPOSTAS PARA NOVAS AÇÕES 
As ações do Locast em Porto Alegre mostram que a ferramenta é única e interessante. O uso pelos profissionais e pesquisadores revela que este foi apenas o primeiro impacto, e a tecnologia tem plenas condições de ser utilizada em outros momentos e com novas possibilidades. 
A plataforma já conta com integrações, mas uma eventual conexão com a API do Twitter permitiria não postar do Twitter para o Locast, mas sim o Locast avisar que há um novo cast. Isto permitiria utilizar uma informação pública em uma timeline específica, sem a necessidade de acompanhar uma pessoa em especial. Além disso, informar o nome de usuário no Twitter do publicador permitiria um diálogo provocado pelo Locast, mas sem poluir o ambiente inicial com informações específicas. 
Outro uso poderia ser como plataforma para um exercício de newsgaming. Não apenas provocar o público para publicar e valorizar o material no ar com um escore, premiando quem mais contribuísse pelo seu bairro com algum prêmio, mas também posicionando informações em locais específicos. Cada participante do processo poderia publicar o material que encontrasse e, ao participar de uma gincana virtual, promoveria a informação no seu bairro. 
Assim, observa-se que o Locast foi um catalisador de processos e despertou profissionais e pesquisadores locais para o uso do celular como vetor de publicação geolocalizada. Novas pesquisas permitirão não apenas avanços, mas também tornarão a ferramenta mais conhecida e respeitada pelo público.

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