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Apostila Sistema Eleitorais

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1 
 
Sistemas políticos e eleitorais 
 
Marcelo Debonis 
 
 
PALAVRAS-CHAVE: 
Ciências sociais, sociologia, Estado, Governo, partido, partido 
político, eleição, voto, sistema eleitoral, sistema político, sistema 
de governo, monarquia, república, democracia, parlamentarismo 
 
APRESENTAÇÃO 
PROFESSOR AUTOR/CONTEUDISTA 
MARCELO DEBONIS 
 
Mestre em Ciências Sociais pela Pontifícia Universidade Católica de São 
Paulo (PUC-SP), área de concentração Sociologia, sob o tema: “Urbanismo e 
Sustentabilidade”. É bacharel em Ciências Sociais, licenciado em Sociologia, 
Elementos de Economia e Geografia. 
Professor em cursos de Pós-Graduação na Universidade Municipal de 
São Caetano do Sul (USCS), na Universidade Estácio de Sá (Unesa) e no 
antigo Centro Federal de Educação Tecnológica de São Paulo (Cefet/SP), atual 
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP). 
Docente do curso Estudos Abertos para a Terceira Idade pelas 
Faculdades Integradas Campos Salles (FICS) e professor universitário em 
cursos de graduação no Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia 
(IFSP) e na Universidade Bandeirante de São Paulo (Uniban). 
Coordenador pedagógico concursado da Rede Estadual de Ensino de 
São Paulo, na Escola Estadual Brigadeiro Gavião Peixoto, e coordenador de 
área do Ensino Médio no Colégio Módulo Paulista, instituição privada de 
ensino. 
É escritor de artigos relacionados à área de Educação e Sociologia. Autor 
da obra Introdução à Economia Solidária e Desenvolvimento Local (IPEPS) 
e coautor das obras Sociologia e Economia do Trabalho (Degrau 
Cultural/Central de Concursos) e Ibama-Tema I: Regularização, Controle, 
Fiscalização, Licenciamento e Auditoria Ambiental (Degrau Cultural/Central de 
Concursos). 
2 
 
Palestrante e desenvolvedor de treinamento no IFSP, no Núcleo de Ação 
e Pesquisa em Economia Solidária (Napes) e no Centro Pastoral Santa Fé, 
ambos em São Paulo. 
Elaborador e executor de cursos para professores da Rede Pública e 
Privada de Ensino sobre o Plano Decenal de Educação para Todos/Lei de 
Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) e Parâmetros Curriculares 
Nacionais (PCN’s) pelo Núcleo de Trabalhos Comunitários (NTC) da PUC-SP 
(2000). 
 
 
CURRÍCULO 
http://lattes.cnpq.br/6935650589255712 
Mestrado em Ciências Sociais (2008 – 2011) 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP 
 
Graduação em Ciências Sociais (1993 – 2002) 
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, PUC/SP 
 
 
OBJETIVOS 
Apresentar os conceitos básicos sobre os Sistemas Políticos e Eleitorais, 
elaborando uma visão panorâmica dos diversos sistemas existentes, 
identificando sua relação com a organização de governo e representação do 
público, para a partir desta comparação, realizar uma a análise dos sistemas 
políticos eleitorais no Brasil. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
3 
 
Sumário 
Introdução 
1 As Ciências Sociais 
1.1 Origens da Ciência Política 
2 A gênese do Estado 
3 O Estado Moderno 
3.1.1 Forma de Estado - federativo ou unitário 
3.1.2 Forma de governo- monarquia ou república 
3.1.3 Sistema de governo - parlamentarista ou presidencialista 
3.1.4 Sistemas partidários - bipartidarismo ou pluripartidarismo 
3.1.5 Regimes políticos - democrático ou totalitário 
4 Sufrágio Universal 
4.1 O Sufrágio Universal no Brasil 
5 Os partidos políticos 
6 O sistema político eleitoral 
6.1 O Sistema Majoritário de Representação 
6.2 O Sistema Majoritário e Eleições Presidenciais 
6.3 O Sistema Proporcional de Representação 
6.3.1 Representação proporcional por voto único transferível 
6.3.2 Representação proporcional pelo sistema de lista 
6.4 O sistema misto de representação 
6.4.1 O sistema de superposição 
6.4.2 O sistema de correção 
7 Financiamento de campanha 
7.1 O financiamento de campanha na atualidade 
7.2 Brasil - financiamento misto de campanha 
8 O sistema político brasileiro 
8.1 A (des)proporcionalidade na representação política no Poder Legislativo 
8.2 Pluripartidarismo e governabilidade 
8.3 8.3 Mandato político, processo de cassação e impedimento de mandato. 
8.3.1 O mandato político 
8.3.2 O processo de cassação 
8.3.3 O impedimento de mandato 
9 O sistema político europeu e estadunidense 
4 
 
9.1 O sistema político europeu 
9.2 O sistema político estadunidense 
Referências 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
5 
 
Apresentação 
 
Caros alunos, 
Este material foi produzindo visando estabelecer a introdução aos estudos 
sobre os Sistemas Políticos e Eleitorais. Dada a complexidade dos diversos 
temas abordados e a exiguidade temporal, a estratégia para a confecção do 
presente trabalho pautou-se pela apresentação dos conceitos principais, 
fundamentais para o entendimento da temática central do curso, isto é, os 
sistemas políticos eleitorais, sem, contudo, estabelecer grandes 
aprofundamentos ou debates. 
Não se trata de uma proposta de trabalho que tenha um caráter de defesa 
deste ou daquele ponto de vista, mas sim, uma visão panorâmica sobre os 
temas, buscando identificar o ponto de vista dos defensores e dos críticos dos 
diversos temas elencados. Muito mais um manual básico de introdução às 
discussões sobre o tema supracitado, o material está estruturado em quatro 
grandes campos de discussão da Ciência Política, distribuídos ao longo dos 
capítulos. 
Assim, na primeira parte, o foco temático são os elementos constitutivos 
das Ciências Sociais e dentro delas a Ciência Política, além de uma pequena 
discussão acerca da origem e evolução do Estado Moderno. Em um segundo 
momento, é a organização política do Estado Moderno e os valores 
democráticos, como o sufrágio universal, que são apresentados e analisados. 
Os partidos políticos, os tipos de sistemas eleitorais e temas como o 
financiamento de campanhas políticas, são os assuntos abordados na terceira 
parte do trabalho. Por fim, com a análise dos sistemas políticos eleitorais no 
Brasil e, em alguns países selecionados, concluímos nossa abordagem sobre 
este momento inicial de contato, com essa importante área de estudo da 
Ciência Política. 
 
O autor 
6 
 
Introdução 
Ao iniciar este livro/apostila, considera-se ser importante esclarecer o que 
vem a ser a Ciência Política. De maneira simplificada, podemos defini-la como 
a busca de compreensão sobre como se distribui e organiza o poder nas 
sociedades.1 
Portanto, analisar e conceituar a formação e o desenvolvimento das 
diversas formas e sistemas de governos, dos regimes políticos e das formas de 
Estado; dos diversos mecanismos político-eleitorais, suas singularidades e 
generalidades, são alguns elementos que se constituem em objetos de estudo, 
fundamentais, para a Ciência Política. 
FIGURA 1 – Sistemas de Governos 
 
Fonte: Rawpixel.com/shutterstock ID: 218757928 
Para que consigamos atingir a maior compreensão acerca dos objetivos 
acima elencados, faz-se necessário um amplo conhecimento em torno dos 
principais conceitos e aspectos metodológicos presentes na análise a que a 
Ciência Política se propõe. 
É importante ressaltar que a Ciência Política representa campo muito 
vasto do conhecimento, sendo assim, buscaremos trabalhar de forma 
esclarecedora, sem, no entanto, rebuscar a linguagem para que, através da 
assimilação dos elementos analíticos e conceituais, possamos contribuir no 
processo de formação o qual o curso, como um todo, objetiva. 
Muitos cientistas políticos compreendem queo sentido maior da Ciência 
Política é que ela é, por excelência, a ciência que se ocupa do estudo do 
Estado. Assim, será também tema fundamental, a busca de compreensão 
sobre a origem, evolução e estruturação do Estado moderno. 
Os elementos constitutivos da atual organização do Estado moderno e os 
tipos e regras dos sistemas de representatividade são elementos 
extremamente relevantes, assim, temas como: tipos de sistemas eleitorais, 
voto obrigatório ou facultativo, critérios para a elegibilidade, exigências para a 
fundação de um partido político, tipos de financiamento de campanhas etc. são 
de fundamental importância e serão também abordados. Dado o caráter 
7 
 
bastante amplo das discussões elencadas e, por outro lado, o caráter conciso 
deste material de estudo, os diversos temas serão apresentados dando-se 
ênfase nos aspectos concernentes, no plano teórico, à Ciência Política, deste 
modo, a legislação que regula os sistemas eleitorais, não será trabalhada de 
forma aprofundada. 
Cabe ainda esclarecer o caráter transdisciplinar que a Ciência Política 
apresenta, pois não é possível em muitos casos, compreendê-la sem 
considerar-se, por exemplo, as interferências culturais ou religiosas em 
determinadas sociedades. Nesta direção, faz-se necessário que recorra-se às 
contribuições de outras Ciências Sociais; portanto, em sequência e de forma 
sucinta, abordaremos alguns elementos constitutivos, assim como, o objeto de 
análise principal dessas ciências. 
 
1. As Ciências Sociais 
Segundo Debonis e Galvão (2004), denominam-se Ciências Sociais ao 
conjunto de conhecimentos que nos permitem pesquisar e estudar os 
comportamentos sociais, ou seja, o objeto de estudo das Ciências Sociais é o 
comportamento social humano. Assim, podemos dizer que “trata-se do estudo 
sistemático do comportamento social do ser humano em suas várias 
dimensões e possibilidades”. 
Conforme esses autores, a complexidade inerente ao estudo do 
comportamento social humano, as Ciências Sociais apresentam-se, além é 
claro da própria Ciência Política, estruturadas em áreas de concentração ou 
disciplinas a saber: 
 Economia2: basicamente a economia tem por objeto de estudo principal, as 
atividades humanas, no que diz respeito a maneira pela qual está organizada a 
produção, distribuição e consumo das mercadorias. Assim, produção e 
distribuição de renda e políticas salariais, entre outros, são fenômenos 
estudados por esta ciência. 
 Sociologia: como se sabe, trata-se da ciência que estuda as relações 
sociais e as formas de associação, considerando as interações que ocorrem na 
vida cotidiana; abrange, portanto, estudos relativos aos grupos e camadas 
sociais, aos processos de cooperação, competição e conflitos na sociedade. 
8 
 
 Antropologia: ocupa-se do estudo e pesquisa das semelhanças e 
diferenças culturais entre os agrupamentos humanos, preocupa-se também 
com a origem e evolução das culturas. Atualmente, a maioria dos trabalhos 
nesta área aponta para a necessidade de compreensão da diversidade cultural 
existente nas sociedades industriais ou pós-industriais. São ainda objetos de 
estudos da Antropologia, os tipos de organização familiar, as religiões, a magia, 
as gangues de rua, entre outros. 
FIGURA 2 – Ciências Sociais 
 
Fonte: pogonici/shutterstock ID: 273985694 
1.1 Origens da Ciência Política 
Inserida como está no campo das Ciências Sociais, a Ciência Política se 
desenvolveu imbricada a este campo do conhecimento. 
As primeiras tentativas de compreensão da vida social remontam à 
Antiguidade, e baseavam-se muito mais na imaginação onde diversas 
mitologias - sumérios gregos, hebreus, entre outros - foram criadas buscando 
explicar certos fenômenos sociais. Durante a Idade Média, sobretudo na 
Europa, a explicação e compreensão da vida social estava muito vinculada 
principalmente à religião, esta era que propunha as regras para a organização 
social de acordo com seus dogmas e princípios. 
Podemos afirmar, no entanto, que já na Antiguidade Oriental3 e na 
Antiguidade Ocidental ou Clássica, sobretudo na Grécia Antiga, encontramos 
as primeiras tentativas de estudo sistemático da sociedade humana e das 
relações de poder, aqui merecem destaque os filósofos Platão (427-347 a.C.) 
em sua obra República, e Aristóteles (384-322 a.C.) em seu livro Política. 
Ambos analisaram a sociedade em que viviam e propuseram mudanças na 
organização sociopolítica de seu tempo. 
Durante a Idade Média, como já dissemos, é a explicação religiosa da 
vida social que prevalecerá, todas as normas e regras estavam baseadas no 
princípio de uma vida sem pecado. Aqui merecem destaque os filósofos Santo 
Agostinho (354-430) que pregava uma iluminação onde a verdade é infundida 
9 
 
no espírito de Deus; e Santo Tomás de Aquino (1225-1274), que, recuperando 
o pensamento aristotélico - até então condenado pela Igreja- e adaptando-o à 
visão cristã, trabalha a ideia de um “ser movente original”, ou seja, Deus. 
Ao final da Idade Média (séculos XIV ao XVI), os alicerces da vida social 
serão abalados pelo movimento denominado Renascimento, que buscava 
explicações para a vida social baseadas na racionalidade humana, em vez de 
atribuí-las somente aos dogmas religiosos. Aqui merece destaque Nicolau 
Maquiavel (1469-1527) que em sua principal obra, O Príncipe, ao não 
reconhecer o caráter sagrado e, portanto, conceber a política como 
determinação das ações dos homens e não obra divina inaugura a Ciência 
Política moderna alicerce e ao mesmo tempo, alicerçada no surgimento do 
Estado Moderno.4 
SAIBA MAIS 
Nicolau Maquiavel, além de filósofo, historiador, poeta e dramaturgo, foi 
também integrante do governo da cidade de Florença, no final do século XV, 
durante o governo de Lorenzo de Médici, ao qual dedicou sua principal obra: O 
Príncipe. 
FIGURA 3 – Maquiavel 
 
Fonte: https://en.wikipedia.org/wiki/File:Portrait_of_Niccol%C3%B2_Machiavelli_by_Santi_di_Tito.jpg 
Cabe ressaltar que, para o inglês Thomas Hobbes, filósofo moderno 
pioneiro, com sua obra Leviatã, de 1651, na articulação de uma teoria mais 
detalhada sobre o contrato social, em estado de natureza, “o homem é o lobo 
do homem” e para que se evite o conflito infindável entre os humanos5, a 
constituição do Estado é condição essencial. 
Esses dois autores, considerados os fundadores da Ciência Política 
moderna, assim como outros do período, Jean Bodin (1530-1596) e Jacques 
Bossuet6 (1627-1704), defendiam o Estado Absolutista como forma de governo 
ideal, porém, diferentemente destes, apontavam o laicismo e a concepção da 
política como resultado das relações humanas e baseada na racionalidade. 
Assim, foram fundamentais para o início do processo de dessacralização da 
política, fato de extrema importância, pois, seus desdobramentos conduziram, 
10 
 
sobretudo nos séculos XVIII e XIX, às chamadas Revoluções Burguesas, como 
veremos adiante. 
 
2 A gênese do Estado 
Outra definição válida para o sentido maior da Ciência Política é que ela 
é, por excelência, a ciência que se ocupa do estudo do Estado. Neste sentido, 
é imperativo que compreendamos a origem, evolução e estruturação do 
Estado, pois, somente dessa forma será possível melhor analisar os seus 
vários mecanismos de funcionamento, a que este trabalho se propõe. 
Comecemos pela definição de um conceito. 
Ressalte-se, entretanto, não se tratar de tarefa fácil dada a complexidade 
do tema, pois, em primeiro lugar, envolve diversas áreas do conhecimento, 
como a Filosofia, o Direito, a História, a Sociologia, a Economia, a Geografia, 
dentre outras; e, em segundo lugar, por ser objeto dessa ampla gamade 
enfoques teórico-metodológicos, observa-se especificidades conceituais 
importantes. 
Assim, à guisa de definição conceitual, em um primeiro momento, 
observamos que a discussão deve se dar em torno da instituição do poder 
político como “regulador” das relações sociais. Segundo o jurista Dalmo de 
Abreu Dallari, em sua contribuição acerca deste tema, 
 
A maioria dos autores que têm estudado o poder o 
reconhece como necessário à vida social, embora 
variando enormemente as justificativas para sua 
existência e as considerações sobre aspectos relevantes 
[...] A observação do comportamento humano, em todas 
as épocas e lugares, demonstra que mesmo nas 
sociedades mais prósperas e bem ordenadas ocorrem 
conflitos entre indivíduos ou grupos sociais, tornando 
necessária a intervenção de uma vontade preponderante, 
para preservar a unidade ordenada em função dos fins 
sociais [...] (DALLARI,1998, p. 19). 
11 
 
Observe-se, não tratar-se ainda do surgimento do Estado propriamente 
dito, mas tão somente, reconhece-se a necessidade nas sociedades humanas, 
desde tempos imemoriais, de organização da vida social. 
FIGURA 4 – Organização social 
 
Fonte: Photobank gallery/shutterstock ID: 97561373 
Considerando-se as contribuições da antropologia do século XIX, Engels, 
em sua obra, A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado, 
desenvolve uma interessante discussão em torno da imbricação dos três 
elementos que dão título ao livro, assim, em consonância com o filósofo 
iluminista francês J. J. Rousseau, entre outros, observa que o surgimento da 
propriedade privada está na base do aparecimento do poder político 
centralizado, isto é, o Estado. Segundo ele, no capítulo A Gênese do Estado 
Ateniense, 
 
[...] a riqueza passa a ser valorizada e respeitada como 
bem supremo e as antigas instituições da gens são 
pervertidas para justificar-se a aquisição de riquezas pelo 
roubo e pela violência. Faltava apenas uma coisa: a 
instituição que não só assegurasse as novas riquezas 
individuais contra as tradições comunistas da constituição 
gentílica, que não só consagrasse a propriedade privada, 
antes tão pouco estimada, e fizesse dessa consagração 
santificadora o objetivo mais elevado da comunidade 
humana, mas também imprimisse o selo geral do 
reconhecimento da sociedade às sovas formas de 
aquisição da propriedade, que se desenvolviam umas 
sobre as outras, [...] [assim], inventou-se o Estado. 
(ENGELS, 1984, p. 132) 
 
 
12 
 
SAIBA MAIS 
As comunidades gentílicas, ou GENOS, formavam a base da organização 
social grega durante o chamado Período Homérico. Com o início do Período 
Arcaico (700-500 a.C.) as comunidades gentílicas, que apresentavam 
organização social horizontal baseada nas terras comunais, foram sendo 
extintas e, paulatinamente, deram lugar a uma concentração de terras, 
marcando assim, o surgimento da propriedade e desigualdade econômica, 
presentes, posteriormente, na pólis grega. 
Assim, para esta linha de pensamento em relação ao nascimento do 
Estado, observa-se que dois elementos são centrais: o viés classista e o 
aspecto econômico. Nesta direção, o autor corrobora a visão marxiana 
(também porque ajudou a construí-la), de que o Estado representa o 
instrumento político das parcelas sociais dominantes, visando a manutenção e, 
portanto, o domínio desta classe sobre a sociedade. Em outras palavras, o 
Estado é a organização política que objetiva a defesa dos interesses da classe 
dominante, aquela que, em cada época, em função de concentrar a maior parte 
da riqueza produzida, detém o controle do Estado. O caráter economicista 
desta definição, que coloca todo o peso da análise nas relações de produção e 
nas contradições entre as classes sociais7, foi, e é, bastante contestada, 
exatamente por seu determinismo econômico. Um dos maiores expoentes na 
crítica a esta visão foi, sem dúvida, o sociólogo alemão, Max Weber, que 
segundo Bianchi, 
 
[...] interrogou-se a respeito do significado de uma 
“associação” política (ein politischer Verband) e do próprio 
Estado (Staat). Uma definição não idealizada dessas 
realidades sociais implicava, para o sociólogo alemão, a 
recusa de conceitos propriamente normativos. 
Descartando assim toda definição que remetesse aos fins 
do Estado, procurou uma definição sociológica nos meios 
que seriam próprios a este [...] (BIANCHI, 2014, p. 84) 
 
Como se pode concluir, Weber não procura focar sua análise em nenhum 
tipo de determinismo. Não se preocupa em responder sobre a finalidade do 
13 
 
Estado; desta forma, diferentemente da visão marxiana, o Estado não é tratado 
como um elemento objetivo completamente separado da vida. Enfim, Weber, 
que defende a ação racional individual, considera que o Estado “consiste em 
relações de vontade de uma variedade de homens. Formam o substrato desse 
Estado homens que mandam e homens que obedecem” (JELLINEK, 2000, p. 
190). Para que se estabeleça e seja real, faz-se necessário que o Estado 
esteja fundado em uma espécie de pacto de legitimidade8, isto é, a legitimidade 
da existência do Estado é que faz com que os indivíduos a ele se submetam. 
No limite, “o Estado é aquela comunidade humana que, dentro de determinado 
território – este, o ‘território’, faz parte de suas características – reclama para si 
(com êxito) o monopólio da coação física legítima” (WEBER, 1982, p. 98). 
FIGURA 5 – Concepção de Estado 
 
Fonte: PowerUp/shutterstock ID: 363500030 
Compreendida como associação política, a concepção de Estado em 
Weber difere diametralmente da de Marx. O enfoque principal não se relaciona 
com as relações de produção, e os antagonismos de classe. Weber era um 
teórico da ação, portanto, em oposição a Marx, não via a dominação como 
inconsciente e resultante das contradições de classe. Em sua visão, a 
dominação é sempre presente, o que importa é a compreensão de sua 
aceitação e legitimidade.9 
A partir da contribuição de Norberto Bobbio (2004), que, de certa forma 
estabelece uma espécie de “meio-termo”, podemos compreender o Estado 
como a representação sistematizada dos interesses individuais, portanto, o 
poder presente nas instituições políticas visa promover a própria dinâmica, em 
que o poder político apresenta forma coativa e se impõe sob a vontade de seu 
detentor (classe dominante), e sob o argumento da legitimidade. 
Ao utilizarmo-nos das contribuições de dois dos principais representantes 
das Ciências Sociais, Marx e Weber, para a definição de um conceito a partir 
do qual possamos melhor localizar a discussão acerca do Estado, percebe-se 
claramente que embora em perspectivas diferentes, as duas linhas de análise 
convergem em pelo menos um ponto, a saber: o Estado, a partir do momento 
14 
 
em que definitivamente se consolida é, na prática, o mecanismo fundamental a 
permitir a dominação, organização e estruturação de determinada sociedade. 
 
3 O Estado Moderno 
Em termos práticos, o objetivo maior deste trabalho, conforme já se 
salientou, é a compreensão dos sistemas políticos em vigência no mundo 
contemporâneo, suas especificidades e mecanismos de funcionamento, assim, 
não será objetivo nesta unidade, a realização de uma longa e aprofundada 
discussão acerca do surgimento do chamado Estado-moderno, portanto, nos 
limitaremos tão somente, a estabelecer os principais elementos constitutivos do 
processo de formação desta instituição e suas características gerais. 
O Estado romano, que em seu auge possuía um território de mais de 
cinco milhões de quilômetros quadrados e governava cerca de oitenta milhões 
de pessoas, apresentava uma característicapolítica fundamental: a 
centralização do poder político. Ao lado das contradições sociais referentes ao 
estatuto da escravidão, à marginalização dos povos considerados bárbaros e 
da crise econômica generalizada, nos dois últimos séculos de sua existência, 
foram exatamente as dificuldades em manter a centralização política que 
levaram ao progressivo esfacelamento do “mundo romano”. 
Como se sabe a partir deste evento a Europa viveu um processo de 
fragmentação política que vai caracterizar a chamada Idade Média (476-1453). 
Apesar de algumas ações que visavam o restabelecimento da centralização 
política, como o caso do Império Carolíngio (732-987), predominaram as 
relações políticas de fidelidade, representadas, principalmente pela suserania e 
vassalagem. Do ponto de vista econômico, o feudo era a unidade básica de 
produção da subsistência e aos servos, que formavam a imensa maioria, eram 
reservadas as atividades laborativas. 
A partir do século XI, com o início das Cruzadas e nos séculos 
posteriores, com o restabelecimento do comércio inter-regional entre o ocidente 
e o oriente, diversas transformações, lentamente, foram conduzindo a 
importantes alterações, não só no modo de vida, mas também na constituição 
da própria sociedade medieval. Portanto, esse contexto sugere um processo de 
transição em que, 
 
15 
 
As deficiências da sociedade política medieval 
determinaram as características fundamentais do Estado 
Moderno. [...] Os senhores feudais, já não toleravam as 
exigências de monarcas aventureiros e de circunstância, 
que impunham uma tributação indiscriminada e 
mantinham um estado de guerra constante, que só 
causavam prejuízo à vida econômica e social. Isso tudo 
foi despertando a consciência para a busca da unidade, 
que afinal se concretizaria com a afirmação de um poder 
soberano, no sentido de supremo, reconhecido como o 
mais alto de todos dentro de uma precisa delimitação 
territorial. Os tratados de paz de Westfália10 tiveram o 
caráter de documentação da existência de um novo tipo 
de Estado, com a característica básica de unidade 
territorial dotada de um poder soberano. Era já o Estado 
Moderno [...] (DALLARI, 1998, p. 29). 
FIGURA 6 – Tratados de Paz de Westfália 
 
Mapa 1: Tratados de Paz de Westfália de 1648. Fonte: 
Segundo a literatura a respeito desse momento crucial para o 
desenvolvimento da civilização ocidental, desde os liberais até os marxistas, 
para que tais mudanças fossem possíveis, a lenta emergência de uma nova 
força social, no contexto da crise da chamada Baixa Idade Média11, foi 
fundamental. Trata-se da lenta constituição da chamada “burguesia”. 
CURIOSIDADE 
A partir do desenvolvimento do processo histórico conhecimento como 
Cruzadas (séculos XI ao XIII), observa-se na Europa, a lenta reativação do 
comércio entre o Oriente e o Ocidente. Nas rotas comerciais que foram se 
desenvolvendo, verifica-se o surgimento de cidades fortificadas chamadas 
“burgos”. Nestas cidades homens livres que se dedicavam às atividades 
16 
 
comerciais e bancárias e, portanto, livres da lógica estamental medieval, 
tornam-se, paulatinamente, “indivíduos embriões” da futura classe burguesa. 
FIGURA 7 – Cidade de Estrasburgo, entre França e Alemanha 
 
Fonte: Netfalls Remy Musser/shutterstock ID: 10450654 
FIGURA 8 – Estrasburgo em 1580 
 
Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Wolf-Dietrich-
Klebeband_St%C3%A4dtebilder_G_096_III.jpg 
Inicialmente a burguesia encontra no seio do Estado Absolutista, as 
condições mínimas para o desenvolvimento de seus interesses. A 
centralização do poder representada pelo monarca absoluto garantia o 
estabelecimento de uma relativa paz político-territorial e, além disso, 
diferentemente da fragmentação medieval, a nova ordem nascente, 
necessitava de estabelecimento de limites territoriais, sistema de pesos e 
medidas, algum tipo de monetarização da economia... Todas essas 
necessidades iam de encontro aos anseios da nova classe burguesa. 
O monopólio do poder na figura do soberano permitiu o desenvolvimento 
de uma política econômica baseada no rígido controle, por parte do Estado, 
dos mais amplos aspectos da vida social, econômica e política. Assim, embora 
detivesse uma expressiva importância econômica a classe burguesa, via-se 
limitada em seus propósitos pelo mercantilismo e, ao mesmo tempo era 
achacada pelos altos tributos cobrados pelo Estado Absolutista. Além disso, 
em termos sociais, a lógica estamental medieval, predominante ainda na 
sociedade europeia deste contexto, criava empecilhos para uma vigorosa 
mobilidade social. Esse contexto conduziu a uma inevitável contradição 
socioeconômica que, em torno do século XVIII já seria insustentável. Em 
análise bastante pontual, Norbert Elias nos ensina que, 
17 
 
 
O governo monopolista, fundamentado nos monopólios da 
tributação e da violência física, atingira assim, nesse 
estágio particular, como monopólio pessoal de um único 
indivíduo, sua forma consumada. Era protegido por uma 
organização de vigilância muito eficiente. O rei latifundiário, 
que distribuía terras ou dízimos, tomara-se O rei 
endinheirado, que distribuía salários, e este fato dava à 
centralização um poder e uma solidez nunca alcançados 
antes. O poder das forças centrífugas havia sido finalmente 
quebrado. Todos os possíveis rivais [inclusive a burguesia] 
do governante monopolista viram-se reduzidos a uma 
dependência institucionalmente forte de sua pessoa. Não 
mais em livre competição, mas apenas numa competição 
controlada pelo monopólio, apenas um segmento da 
nobreza, o segmento cortesão, concorria pelas 
oportunidades dispensadas pelo governante monopolista, e 
ela vivia ao mesmo tempo sob a constante pressão de um 
exército de reserva formado pela aristocracia do interior do 
país e por elementos em ascensão da burguesia. A corte 
era a forma organizacional dessa competição restrita [...] 
(1993, p. 170). 
QUADRO SINÓPTICO 1 – Monopólio político e econômico no contexto do Absolutismo 
 
Fonte: 
Cabe ressaltar que essas limitações ao pleno desenvolvimento da 
burguesia em suas perspectivas, conferiram a esta classe, na transição do 
Estado Feudal para o Estado Moderno, o seu teor revolucionário. Nas palavras 
de Marx, “vemos, pois, que a própria burguesia moderna é o produto de um 
longo processo de desenvolvimento, de uma série de revoluções no modo de 
 
 
 
18 
 
produção e de troca” (2007, p. 40-50). Como sabemos, ele é considerado o 
crítico maior do sistema socioeconômico capitalista, mas, mesmo assim, não 
deixou de reconhecer a importância da burguesia neste processo de transição 
quando afirma que “a burguesia só pode existir com a condição de revolucionar 
incessantemente os instrumentos de produção, por conseguinte, as relações 
de produção e, com isso, todas as relações sociais” (2007, p. 40-50). 
Esta força revolucionária da classe burguesa torna-se mais factível 
quando observamos o conjunto das chamadas Revoluções Burguesas, 
processos políticos que tem início ainda no final do século XVII, com a 
Revolução Inglesa, composta de diversas fases e que culmina com a 
consolidação da Monarquia Constitucional, a partir da Revolução Gloriosa de 
1688; a Independência dos Estados Unidos que surge da reação contra a 
tentativa de maior rigor de controle colonial por parte da Inglaterra, a partir de 
1776 e a Revolução Francesa que, sem dúvida, representa o processo de 
maior repercussão em todo o mundo. Iniciada em 1789, consolida seu caráter 
burguês durante a chamada Era Napoleônica (1799-1815). 
QUADRO SINÓPTICO Principais Revoluções Burguesas 
(EsteQuadro será convertido em um infográfico) 
Ao longo do século XIX, os ideais iluministas/liberais, representarão o 
verdadeiro combustível de diversos processos revolucionários por toda a 
Europa. Assim ocorrerão as jornadas revolucionárias de 1820, 1830 e 1848, 
durante a chamada Primavera dos povos. Na segunda metade do século XIX, 
as chamadas Unificações Tardias de Alemanha e Itália, sob o comando de 
setores da própria nobreza (Bismarck e Reino Sardo Piemontês, 
respectivamente), visto que as respectivas burguesias nacionais não estavam 
suficientemente fortalecidas para conduzir os processos, consolidam, através 
de suas revoluções liberais, o projeto de Estado Burguês. 
Cabe destacar, por fim, que a força política dos movimentos 
revolucionários pôde ser observada também na disseminação dos ideais 
liberais/burgueses para fora do continente europeu. Além da Independência 
dos Estados Unidos, em 1776, a América Latina, como um todo, principalmente 
nas primeiras décadas do século XIX, vivenciou diversos processos de 
independência alicerçados no “novo” ideário burguês. Como se pode 
compreender, embora o Estado moderno tenha suas origens ainda no período 
19 
 
absolutista europeu12, sua configuração burguesa somente ganhará as feições 
finais a partir do triunfo das Revoluções Liberais ao longo do século XIX. Ideais 
como nacionalismo, como nos ensina Hobsbawm e Ranger (1984), o 
nascimento da “religião cívica”, ou seja, a legitimação do Estado como uma 
espécie de novo dogma que comporá o novo quadro da realidade político 
organizacional do nascente Estado Burguês. 
FIGURA 9 – Burguesia Francesa medieval 
 
Fonte: Marzolino/shutterstock ID: 88286158 
Para Benedict Anderson (1993), em sua obra Comunidades Imaginadas, 
ao longo do século XIX, em função das novas demandas por matérias-primas, 
fontes energéticas e mercados consumidores - derivadas dos desdobramentos 
da Revolução Industrial em andamento-, a necessidade de delimitação 
territorial ganhou enorme dimensão. Assim, o “novo” Estado deveria, em 
primeiro lugar, firmar-se sobre uma base territorial, diferentemente do que 
ocorria nos chamados Reinos Dinásticos, quando nos coloca que, 
 
Pode ser difícil imaginar agora enfaticamente em um 
mundo onde o reino dinástico apareceu para a maioria dos 
homens como o único sistema "político" imaginável [...] Em 
alguns aspectos fundamentais, a monarquia "formal" se 
opõe a todas as concepções de [Estado] moderno. O reino 
organiza em torno de um centro elevado. Deriva da 
legitimidade da divindade, e não de populações [...] Na 
concepção moderna, a soberania do Estado funciona como 
completo, pleno e uniformemente em cada centímetro 
quadrado legalmente demarcado de território (op. cit., p. 
39) 
 
Percebe-se, portanto, que todo o processo acerca da constituição do 
Estado Moderno, até agora desenvolvido, se assentou em um conjunto de 
20 
 
transformações, políticas, econômicas e sócioculturais que, aos poucos, 
permitiram a configuração e legitimidade de três elementos (cf. GUIMARÃES, 
2012) fundamentais que o definem: 
 Território: é a base espacial do poder do Estado onde este exerce o poder 
coercitivo estatal sobre os indivíduos humanos, sendo materialmente composto 
pela terra firme, incluindo o subsolo e as águas internas (rios, lagos e mares 
internos), pelo mar territorial, pela plataforma continental e pelo espaço aéreo; 
 Nação: (entidade moral) é um grupo de indivíduos que se sentem unidos 
pela origem comum, pelos interesses comuns, e principalmente, por ideias e 
princípios comuns [e assim, legitimam, a partir do princípio da 
autodeterminação dos povos, a existência do Estado]. É uma comunidade de 
consciência, unidas por um sentimento complexo, indefinível e poderosíssimo: 
o nacionalismo/patriotismo. 
 Governo: é o conjunto das funções necessárias à manutenção da ordem 
jurídica e da administração pública. A palavra governo tem dois sentidos; 
coletivo e singular. O primeiro, como conjunto de órgãos que orientam a vida 
política do Estado. O segundo, como poder executivo, “órgão que exerce a 
função mais ativa na direção dos negócios públicos” (BOBBIO, 2012). 
Assim, o Estado moderno pode ser definido como o conjunto das 
instituições que, em nome do povo/nação e da soberania nacional que o 
legitima, detém o poder para organizar e regulamentar o funcionamento de 
determinada sociedade em um território delimitado. Como vimos em Weber, o 
Estado como organização que possui o monopólio da violência legítima dispõe 
de instituições que lhe conferem autoridade e poder assim como funções de 
governança. Já na propositura de Marx, é justamente por essas características 
que o Estado moderno detém o poder necessário para a manutenção dos 
interesses da classe dominante. 
 
3.1 Organização Política do Estado Moderno 
Para que se estruture e exerça suas funções e prerrogativas, o Estado 
Moderno se apresenta na forma laica - livre da influência religiosa - e 
constitucional, isto é, o Estado torna-se o “ente soberano”, não mais na 
perspectiva do poder divino dos reis, mas sim em função da soberania popular 
e do estabelecimento do conjunto de regras maiores da nação, isto é, a Carta 
21 
 
Magna ou Constituição do país. Em geral, é através da constituição que se 
estabelecem os elementos e instâncias para o exercício do poder. 
Sobre este tema, vale lembrar a importância de compreendê-lo como 
resultado do longo processo de desenvolvimento das ideias de pensadores 
como o iluminista francês Montesquieu (1689 – 1755) que em sua principal 
obra, O Espírito das Leis já demonstrava, como crítica a organização política 
absolutista, grande preocupação em se definirem limites e equilíbrio ao poder. 
Sua proposta de divisão tripartite (Executivo, Legislativo e Judiciário) está 
presente no próprio cerne do Estado moderno. A partir deste princípio e de 
valores como o republicanismo e a democracia, ao longo do tempo foram se 
definindo diversos conceitos e elementos que constituem as formas e os 
sistemas de governo. 
FIGURA 10 – Executivo, Legislativo e Judiciário 
 
Fonte: Ilya Zlatyev/shutterstock ID: 10084354 
A seguir, de forma sucinta, apresentaremos os principais pares de 
oposição acerca da estruturação e organização do poder político do Estado 
presentes na sociedade contemporânea: 
 
4.1.1 Forma de Estado - federativo ou unitário 
No Estado Federativo, adotado em países como o Brasil e os Estados 
Unidos, cada unidade da federação (Estados, províncias, departamentos) tem 
peso de ente federativo e dispõe de certa autonomia, assim, nessa forma, além 
da Constituição Federal observa-se uma sua Constituição local (no caso do 
Brasil, estadual ou municipal), o que confere certo grau de autonomia a essas 
unidades da federação. 
Já no caso do Estado Unitário ou Centralizado, observa-se a validade da 
lei (única) para todo o Estado. Este modelo, evidentemente, somente pode ser 
viável em países de territorialidade exígua, como é o caso da Dinamarca, e 
Colômbia, por exemplo. 
 
 
22 
 
SAIBA MAIS 
Todos já ouvimos dizer que nos Estados Unidos existem leis acerca de temas 
polêmicos, como a pena de morte, que são vigentes em algumas unidades 
federativas e em outras não. A razão para tal situação relaciona-se, 
exatamente com a forma de Estado Federativa, que ao garantir maior 
autonomia política às unidades federativas, permite que leis específicas 
vigorem em determinados estados em detrimento de outros. 
 
4.1.2 Forma de governo- monarquia ou república 
Em uma monarquia, observa-se o princípio da tradição como elemento 
central a legitimar a organização do Estado, namaioria dos casos, o chefe de 
Estado é o monarca e a efetiva condução do governo fica a cargo do líder do 
parlamento, em geral, denominado Primeiro Ministro. 
Na forma republicana, a função de guardião do país pertence ao Estado, 
organização pública, que tem seu poder legitimado na soberania popular. Para 
que o Estado exerça esta função é necessário que alguém assuma sua 
direção. Em geral, neste caso, temos a figura política do presidente da 
república, como é o caso de países como Argentina e Uruguai. 
 
4.1.3 Sistema de governo - parlamentarista ou presidencialista 
O sistema de governo parlamentarista organiza-se tendo por base o 
princípio da separação entre a chefia de Estado (Presidente ou Monarca) e 
chefia de governo (primeiro-ministro ou premier). Considerando-se a ideia de 
soberania popular, a população elege seus representantes (deputados) e os 
partidos que obtiverem a maioria irão constituir o governo e indicar o primeiro 
ministro. 
Já no presidencialismo, não existe a separação das duas esferas. Assim, 
a chefia de Estado e de Governo são exercidas pela mesma pessoa, o 
presidente13, que é escolhido diretamente pelo eleitorado, através do sufrágio 
universal. 
 
4.1.4 Sistemas partidários - bipartidarismo ou pluripartidarismo 
Embora exista uma complexidade de formas organizacionais de 
processos eleitorais, cabe lembrar que a maneira pela qual efetivamente 
23 
 
ocorrerá a representação, isto é, como os representantes eleitos para o 
exercício do Poder Legislativo se organizarão para estabelecer a 
governabilidade do Estado, tem fundamental importância. Nesta direção, os 
dois modelos ou formas, principais são o bipartidarismo e o pluripartidarismo. 
No caso brasileiro, como estabelece o Código Eleitoral, em seu artigo segundo, 
temos a adoção do pluripartidarismo considerado, do ponto de vista ideal, 
aquele que propicia o mais amplo exercício do direito democrático. 
Retomaremos a discussão acerca destes sistemas ao longo do 
desenvolvimento do capítulo 9, quando aprofundaremos o caso brasileiro. 
Curiosidade 
No Brasil, temos a adoção do presidencialismo pluripartidário, e o sistema 
proporcional de eleição, o que possibilita, em termos ideais, o exercício pleno 
da democracia. Porém, segundo alguns analistas (entre eles, Mainwaring), é 
justamente essa formatação política que mais contribui para as negociatas, em 
torno de ministérios, cargos de alto escalão, em geral e “mensalões” em busca 
de apoio político e governabilidade. Assim, como discutiremos capítulo 9, para 
muitos especialistas a Reforma Política é mais que urgente em nosso país. 
FIGURA 11 – Pluripartidarismo 
 
Fonte: julie deshaies/shutterstock ID: 372211900 
4.1.5 Regimes políticos - democrático ou totalitário 
Embora existam diversas variantes, vejamos os aspectos principais das 
duas mais diametralmente opostas: no mundo atual, a democracia tem sido um 
dos regimes mais exigidos pelo povo. 
Regime Democrático onde vigora o princípio de que o governo deve ser 
exercido em nome da vontade popular. Este sistema presente na maior parte 
das modernas democracias ocorre em sistemas de governos presidencialistas 
ou parlamentaristas e sob a forma de governo republicano ou monárquico 
constitucional. 
O Regime Totalitário se estabelece quando observa-se que o 
Estado passa a ser comandado em nome de interesses de uma classe social, 
24 
 
partido único ou mesmo uma única pessoa. Em geral, a perseguição de 
opositores e cerceamentos a liberdades democráticas são recorrentes. (trecho 
modificado). Em geral, observa-se também, o culto ao dirigente máximo 
(personalismo), e a propaganda abrangente divulgada através dos meios de 
comunicação controlados pelo Estado, fortemente marcada pelo discurso 
nacionalista/militarista. 
 
4 O Sufrágio Universal 
De origem latina (suffragari), o vocábulo sufrágio pode ser traduzido como 
‘apoio ou suporte’. Nesse caso específico, ‘apoio pelo voto’. O sufrágio 
universal representa a forma de participação dos indivíduos na vida pública, 
pois segundo o conceito maior expresso na ideia democrática, o poder emana 
do povo, e o sufrágio é a maneira pela qual o povo exerce o poder. Cabe 
ressaltar que a definição e aceitação atual desse conceito representou um 
longo processo histórico marcado por importantes debates políticos e intensos 
conflitos sociais/classistas. Nas páginas a seguir busca-se, muito mais do que 
simplesmente definir o conceito, compreender minimamente, esses eventos 
rumo à conquista do sufrágio universal. 
No século XIX, como vimos, as várias conquistas na área do direito 
político marcaram profundamente o período. Em um contexto de grandes 
mudanças, devido aos desdobramentos da Revolução Industrial e das 
Revoluções liberal/burguesas, sobretudo a partir de 1848 (Primavera dos 
Povos), uma grande questão se coloca de forma mais evidente: qual era a 
profundidade das mudanças? Isto é, qual o grau de compromisso dos novos 
governos (burgueses) que se formavam, com o estabelecimento de uma nova 
ordem social? 
Dentre os vários elementos que permeavam esta discussão, talvez o mais 
relevante deles seja o real estabelecimento de uma das mais importantes 
bandeiras da burguesia em sua luta contra os governos absolutistas e pela 
abolição de privilégios feudais, como a desigualdade por origem. Nas 
revoluções do século XVIII, alicerçadas em ideias liberal/iluministas de 
liberdade e igualdade, predominaram as lutas pelos direitos civis14, assim, o 
conceito revolucionário de igualdade jurídica, deveria, para muitos, nortear o 
desenvolvimento de uma nova forma de participação nos processos políticos. 
25 
 
Curiosidade 
Uma das primeiras vozes a contestar a sociedade capitalista e propor 
princípios socialistas, foi o inglês Gerrard Winstanley (1609-1652), comerciante 
falido, responsabilizava a “arte fraudulenta de comprar e vender” pelas mazelas 
sociais. Escreveu um livro no qual associava a existência da propriedade 
privada com o não cumprimento de um dos dez mandamentos “Não Roubarás”. 
FIGURA 12 – Direitos Políticos 
 
Fonte: Nowik Sylwia/shutterstock ID: 302974709 
Nesse contexto, já sob a influência dos movimentos de crítica ao “novo 
regime” burguês, representado pelos ideólogos da construção de uma 
sociedade assentada também na igualdade econômica e social que, no 
conjunto, vão desenvolver a proposta socialista de sociedade, que a luta pelos 
direitos políticos vão se intensificar e terão com desdobramento o surgimento 
dos chamados direitos de segunda geração, 
 
É facilmente perceptível que os chamados direitos 
políticos, que foram sendo lentamente conquistados nos 
séculos XIX e XX, a despeito de terem uma configuração 
muito distinta das liberdades públicas [direitos civis], 
podem também ser inseridos na ideia de direitos de 
liberdade. [...] Liberdade, nesse sentido, é sinônimo de 
participação na tomada de decisões, o que os direitos 
políticos, ainda que indiretamente, propiciam... Esses 
novos direitos, chamados de direitos sociais e 
econômicos, e que são considerados como a segunda 
geração dos direitos fundamentais, surgem, contudo, 
não só em decorrência de uma maior participação dos 
cidadãos nas decisões políticas, mas, sobretudo, por 
causa da pressão dos movimentos sociais (e socialistas) 
[...] Não é o caso aqui de narrar as lutas socialistas do 
26 
 
século XIX, de resto conhecidas por todos, e que 
foram em grande parte responsáveis pela 
consagração dos direitos sociais e econômicos... 
Importante aqui é ressaltar que, ao contrário do que 
afirmava Schmitt, os direitos sociais não podem ser 
consideradoscomo direitos "socialistas", pois são, 
na verdade, uma forma de garantir a estabilidade e a 
manutenção do capitalismo, se não liberal, pelo 
menos daquele de cunho social... (SILVA, 2005 p. 547-
549 grifos nossos). 
 
A articulação entre o movimento socialista e a conquista dos direitos 
fundamentais explicitadas pelo artigo de Virgílio Afonso da Silva pode ser mais 
bem compreendida quando observamos o desenvolvimento do movimento 
operário na Inglaterra do século XIX. 
O desenvolvimento de novas técnicas produtivas, possíveis graças à 
Revolução Industrial, permitiu a expansão e generalização da mecanização da 
produção. Enfim a humanidade, através da produção cada vez mais eficaz de 
gêneros industriais alcançaria a emancipação, essa era a expectativa dos mais 
otimistas. Porém, sob o “novo regime burguês”, o que se viu foi o 
aprofundamento da exploração aos trabalhadores. Uma verdadeira 
superexploração tem início. 
As condições de vida e trabalho da minoria sofrem melhora sensível, 
porém, as horas excessivas de trabalho (chegava-se a trabalhar 18 horas 
diárias), as condições subumanas de moradia, as condições insalubres das 
fábricas, a exploração do trabalho infantil e feminino, entre tantos outros 
problemas, colocam a necessidade urgente de melhora das condições de vida 
da maioria, ou seja, dos trabalhadores.15 
Por volta de 1813, operários mais instruídos começaram a propor um 
novo método de luta, pois destruir as máquinas não eliminava a exploração, 
visto que, em semanas estavam novamente aptas ao trabalho, além do que, 
este tipo de ação acabava por agravar a situação dos trabalhadores na medida 
em que gerava desemprego, pois provocava interrupções no processo 
produtivo e eliminava, através da lei, suas lideranças mais importantes. 
27 
 
Este novo método de luta partia do princípio de que a mais eficaz arma 
dos trabalhadores era ferir a “espinha dorsal” do processo de produção, como 
se sabe, o lucro. Assim, em 1815 surge a mais importante forma de pressão 
dos trabalhadores: a greve. Podemos considerar este momento como o início 
do moderno sindicalismo. 
FIGURA 13 – Greve de servidores públicos no Rio de Janeiro 
 
Fonte: CP DC Press/shutterstock ID: 452793016 
As lutas, a partir daí se intensificam e extrapolam a esfera de 
reivindicações meramente econômicas. Em 1832, sob pressão popular, o 
Parlamento concedeu o direito de voto às camadas médias urbanas e aos 
pequenos proprietários, no entanto aos trabalhadores, não foi estendido este 
direito. Assim, em 1838, foi criada a Associação dos Operários, organização 
que reivindicava direitos políticos aos trabalhadores. 
O documento inaugural da Associação dos Operários, a Carta ao povo, 
assinado por mais de 1 milhão de pessoas, deu origem ao chamado cartismo, 
que apresentava como principais reivindicações: 
 sufrágio universal masculino; 
 representação igualitária para todos os distritos eleitorais; 
 direito de trabalhadores candidatarem-se ao poder legislativo; 
 eleições anuais para o parlamento. 
Entre 1838 e 1848, o cartismo teve grande força na vida política inglesa, 
porém foi sufocado pela repressão governamental. Somente em 1865 é que 
algumas de suas propostas foram incorporadas à legislação, como o direito de 
voto aos trabalhadores urbanos e rurais. (cf. CUNHA; HOLANDA; CAIRO [s.d]). 
Curiosidade: a Carta 
FIGURA 14 – 
 
Fonte: vishug.org. 
28 
 
Segundo González (1989), em outros países centrais do Capitalismo 
Industrial em formação, como França e Alemanha, a situação não era muito 
diferente, sobretudo na França, o século XIX foi marcado por grande 
instabilidade política, o que resultou no ano de 1871, na primeira grande vitória, 
embora efêmera, dos ideais socialistas. 
A capacidade crescente de organização dos trabalhadores foi 
demonstrada quando trabalhadores parisienses tomaram o poder e instituíram 
um governo popular que durou dois meses: a Comuna de Paris. 
Em 1870, iniciou-se a guerra entre a França e a Prússia. Com a derrota e 
consequente rendição do imperador francês, Napoleão III ao exército da 
Prússia, Paris ficou cercada pelas tropas inimigas. Debaixo de um clima tenso 
foi constituído um governo provisório e na eleição para a Assembleia 
Constituinte, em abril de 1871, os monarquistas saíram vitoriosos. 
Toda essa situação acabou por aprofundar as tensões políticas. Já em 18 
de março de 1871 o proletariado, incluindo mulheres e crianças, reagiu à 
tentativa do governo de desarmar a Guarda Nacional, que na prática era o 
povo armado (300 a 350 mil homens, desde que o alistamento geral fora 
convocado em 1870, após as derrotas francesas na guerra contra a Prússia). 
Tinha início a Comuna de Paris, que duraria até maio. 
Segundo Chassin (1992), a proclamação do Comitê Central da Guarda 
Nacional de 18 de março era clara quanto ao caráter de classe e os objetivos 
do poder que nascia: 
 
Os proletários da capital, em meio aos desfalecimentos e 
as traições das classes governantes, compreenderam que 
para eles tinha chegado a hora de salvar a situação 
tomando em mãos a direção dos negócios públicos ... 
compreenderam que era seu dever imperioso e seu direito 
absoluto tomar em mãos os seus destinos e assegurar-
lhes o triunfo conquistando o poder. 
 
De acordo com o mesmo autor, as principais ações da Comuna foram: 
 Em 26 de março foi eleita a Comuna; 
29 
 
 A Comuna aboliu o recrutamento e o exército permanente e proclamou a 
Guarda Nacional, à qual deviam pertencer todos os cidadãos capazes de pegar 
em armas; 
 Isentou todos os pagamentos de rendas de casa de Outubro de 1870 até 
Abril, pôs em conta para o prazo de pagamento seguinte as quantias de 
arrendamento já pagas e suspendeu todas as vendas de penhores no 
montepio municipal; 
 Os estrangeiros eleitos para a Comuna foram confirmados nas suas 
funções, confirmando o caráter internacionalista do movimento; 
 Foi decidido que o vencimento mais elevado de um empregado da Comuna, 
portanto, dos seus próprios membros também, não poderia exceder 6000 
francos; 
 Foi decretada a separação da Igreja e do Estado e a abolição de todos os 
pagamentos do Estado para fins religiosos; 
 Os bens da Igreja foram confiscados e proibiu-se nas escolas, todos os 
símbolos religiosos, imagens, dogmas, orações; 
 A guilhotina, símbolo maior do poder burguês foi queimada publicamente; 
 Foram derrubados os símbolos referentes ao poder burguês, sobretudo, os 
referentes a Napoleão; 
 Determinou-se um levantamento estatístico das fábricas paralisadas pelos 
fabricantes e elaborou-se planos para o funcionamento destas fábricas com 
operários nelas ocupados até então, através da organização de cooperativas; 
 Ordenou-se a supressão das casas de penhores, que eram uma exploração 
privada dos operários; 
 Nas eleições de 26 de março, a abstenção nos bairros burgueses foi 
superior a 60%, o que demonstrava o caráter realmente popular da Comuna; 
 Os membros eleitos formavam um único coletivo sem presidente (colegiado) 
e eram revogáveis a qualquer momento. 
 Organizava-se a Comuna em nove comissões (militar, trabalho, ensino, etc), 
de cada uma saía um delegado que formavam uma comissão executiva. 
 Ao contrário do Estado centralizado, como é o Estado burguês, repressivo e 
voltado para o controle social, a Comuna era, como Marx observou, uma forma 
totalmente expansiva, que permitia a liberação das energias e criatividade da 
sociedade. 
30 
 
 
Conforme González (1989), apesar do caráter socialista e revolucionário 
das medidas da Comuna, ela não se consolidou. A burguesia francesa, desde 
o primeiro momento,ocupou-se em preparar-se para reagir e esmagar a 
experiência revolucionária. A alta burguesia, com o alto clero, insatisfeitos com 
a Comuna, através de suas forças policiais e militares mais bem organizadas e 
armadas e com apoio, veja só, de forças prussianas (alemãs), iniciaram a 
“contrarrevolução”. 
Em 20 de maio, após mais de um mês de confrontos e bombardeios à 
cidade, cerca de 130 mil soldados de Versalhes começam a entrar em Paris. 
Em 28 de maio caía a última barricada dos revolucionários. 
ACONTECEU 
A repressão à Comuna 
FIGURA 15 – 
 
Fonte: 
FIGURA 16 – 
 
Fonte: 
Mesmo para os padrões de violência atuais, os números impressionam: 
- 4 mil comuneiros morreram na batalha; mais de 30 mil foram fuzilados em 
Paris e cerca de 1.900 em La Roquette; 
-36.309 foram presos, destes, 93 condenados à morte; 
-251 condenações a trabalhos forçados; 
-1.169 deportações em fortificações; 
-3.417 deportações simples; 
-1.247 reclusões e; 
-3.113 penas de prisão. 
Fonte: DEBONIS, 2004 
31 
 
A busca do controle do movimento cartista, assim como a sangrenta 
repressão aos comuneiros em Paris, demonstram claramente que a burguesia, 
apesar do discurso libertário e da defesa da igualdade, não estava disposta em 
abrir mão do poder político, assim observa-se uma incoerência em sua 
conduta. Na verdade, essa posição em relação a evitar maior participação 
popular, através do direito de representação, no “novo regime burguês”, não 
era novidade; 
A chegada da alta burguesia ao poder estabeleceu a 
plena igualdade fiscal para todas as classes, mas a 
igualdade civil e social ficou restrita ao novo grupo 
dominante. Além das desigualdades na distribuição de 
renda, havia o fato de as camadas mais baixas da 
sociedade não terem acesso aos órgãos de decisão 
política, já que o voto censitário impedia sua participação 
(PAZZINATO, 2002, p.129). 
 
A confirmação desta “limitação democrática”, na sequência de eventos da 
revolução, pode ser identificada na fase mais conturbada da Revolução 
Francesa, a Convenção Nacional (1792-1794/95), pois, durante a chamada 
República Jacobina (1793), os princípios estabelecidos atendiam aos 
interesses da população, mas, conforme afirma o historiador Eric Hobsbawm 
(2015), “depois de 1794, ficaria claro para os moderados [sobretudo os 
girondinos] que o regime jacobino tinha levado a revolução longe demais para 
os objetivos e comodidades burgueses [...]”, pois a Constituição de 1792 
garantia ao povo seus direitos e o poder de decisão, pregava uma ampla 
liberdade política e o sufrágio universal aos homens maiores de 21 anos. Essa 
Carta, inspirada nas ideias de Rousseau, era uma das mais democráticas da 
história até então. Entretanto, em nome da defesa de seus interesses, negando 
a própria ideia de Direitos do Homem e do Cidadão e contrários a extensão de 
direitos civis e políticos ao conjunto da população, os girondinos retomaram o 
poder através de Reação Termidoriana de 1795. Tais eventos se repetiram ao 
longo de todo o século XIX e parte do século XX. Qual seria a razão? 
A esta indagação, para início de resolução, deve-se levar em conta que 
no modelo eleitoral da nascente sociedade burguesa o direito a “votar e ser 
32 
 
votado”, era parametrado por diversas restrições. Segundo Paes (2013), as 
mais comuns relacionavam-se à exigência de certo rendimento ou propriedade, 
portanto, um sufrágio censitário. Havia ainda outras modalidades que, na 
prática, impediam a participação política da maior parte da população, como, 
por exemplo, a exigência da capacidade de ler ou escrever, era o chamado 
sufrágio capacitário, ou ainda formas de exclusão baseadas em gênero, 
profissão e etnia. 
FIGURA 17 – Exclusão pelo voto 
 
Fonte: nullplus/shutterstock ID: 551328904 
Pode-se perceber então que o ideal democrático, na plenitude do termo 
“governo do povo”, nunca esteve entre as prioridades burguesas, mesmo 
assim, as lutas operárias, os movimentos libertários e a pressão popular, foram 
ao longo do século XIX16, impondo a ampliação da participação eleitoral e o 
sufrágio universal foi sendo instaurado, paulatinamente, nas democracias 
europeias e, posteriormente, no mundo ocidental. Por outro lado, a própria 
burguesia se via diante de uma grande contradição, pois os próprios princípios 
defendidos por ela, isto é, “a liberdade individual e a igualdade legal de todos 
os indivíduos”, exigiam um sistema representativo mais abrangente, como nos 
aponta Matos, 
Esse avanço dos governos representativos na maior parte 
da Europa e na América do Norte (Estados Unidos) 
deveu-se, portanto, à forma de hegemonia da burguesia 
na sociedade ocidental; pois, ao contrário da 
aristocracia feudal ou do monarca absoluto, a 
burguesia necessitava angariar o apoio das massas à 
medida em que seu poder não se fundava em instituições 
que poderiam, como coloca o autor, "salvaguardá-la" do 
voto; ao contrário da anteriormente citada aristocracia 
feudal, cujo poder era baseado em uma rígida hierarquia 
estamental. O próprio ideário burguês (embasado na 
33 
 
doutrina liberal) tornava essa salvaguarda impraticável, 
pois defendia a liberdade individual e a igualdade 
legal de todos os indivíduos
 
e, portanto, era 
incompatível com o total afastamento das massas do 
processo político (1999, p. 44) (grifos nossos) 
 
Nesta direção, a partir da segunda metade do século XIX, essa 
contradição tornou-se cada vez mais evidente e a burguesia liberal, focada nas 
relações de mercado, viu-se obrigada, ante o temor de insurreições das 
massas que a alijasse do poder, a ceder em suas pretensões “monocráticas” 
rumo à construção de mecanismos que possibilitassem certa estabilidade e 
consequente continuidade de sua supremacia no comando do Estado. O 
elemento que a legitimou nessas condições: o Sufrágio Universal. 
Por paradoxal que pareça, a adoção do Sufrágio Universal masculino, 
longe de ameaçar a burguesia em seu propósito de manter-se como classe 
dominante, possibilitou, ao atender a anseios tão arduamente defendidos pelos 
movimentos sociais, um arranjo político que permitiu a sua legitimação 
enquanto classe dirigente. Segundo Schumpeter, um dos mais importantes 
economistas do século XX, este arranjo democrático permitiu criar um método, 
“acordo institucional, para se chegar a decisões políticas em que os indivíduos 
adquirem o poder de decisão através de uma luta competitiva pelos votos da 
população” (1984, p. 336). Portanto, na prática, segundo Vitullo & Scavo 
(2013), “a democracia [e o mecanismo do sufrágio universal] fica reduzida a 
uma simples técnica de autorreprodução das relações de poder e de separação 
entre representantes e representados via mecanismos de representação e 
assim, segundo os mesmos autores, isto dá lugar a uma teoria democrática 
profundamente pautada pelas noções de governabilidade e estabilidade, em 
oposição a qualquer proposta que venha a desafiar o status quo”. 
Portanto, pode-se observar que a própria concepção de democracia, 
desta forma modificada, demonstra, na visão dos autores, “um claro caráter 
elitista, que transforma o conceito originário de democracia em uma técnica 
constituída por normas que visam garantir a eleição rotativa das lideranças 
políticas”. 
34 
 
Nesta mesma direção, Giovanni Sartori (1965) compreende de forma 
crítica, que os ideais democráticos, expressos no sufrágio universal e na 
democracia indireta ou representativa, baseada no princípio da soberania 
popular, representam a fórmula que possibilitou, com segurança à burguesia, 
construir um sistema político onde a participação popular, em uma perspectivapositivista que vê no Estado a busca do “bem comum”, fica restrita ao processo 
de escolha de representantes, em geral, do próprio seio da burguesia. Ao 
restringir-se somente ao processo eleitoral, o processo de individualização 
representado pelo voto, promove o enfraquecimento de mecanismos de 
solidariedade de classe (lutas político/sindicais), o que, na prática, põe abaixo a 
própria mobilização política, pois, alimenta a esperança de transformação 
sistêmica via parlamento. Em outras palavras, o sufrágio universal, posto em 
prática de forma pioneira pela República Jacobina em 1792 e tão duramente 
combatido pela alta burguesia de então, tornou-se, ao longo dos séculos XIX e 
XX, o elemento central, como ideologia da participação política ativa, para a 
estabilização, ao menos em parte, das tensões relativas ao controle de classe 
no Estado burguês. 
ACONTECEU 
FIGURA 18 – Protesto das Sufragistas, 1915, São Francisco 
 
Fonte: Everett Historical/shutterstock ID: 252135172 
 De início, o conceito sufrágio universal era restrito aos homens. Somente 
no século XX é que, mesmo nas democracias mais avançadas, após grandes 
pressões e lutas memoráveis é que o conceito de sufrágio estendeu-se 
também às mulheres. No caso brasileiro, após grandes abalos políticos no 
início da Era Vargas, com o código eleitoral de 1932 e depois com a 
Constituição de 1934, embora ainda com várias restrições, ficou estabelecido o 
direito das mulheres ao voto. 
 
4.1 O Sufrágio Universal no Brasil 
Demorou muito para que o conceito, em seu princípio maior, ou seja, a 
universalidade, realmente se consolidasse em nosso país. Segundo Ferreira 
35 
 
(2001), a História do Brasil é periodizada em três momentos: Colônia (1500-
1822), Império (1822-1889) e República (a partir de 15 de novembro de 1889). 
Não se objetiva nesse momento realizar a retomada sobre todo o processo de 
desenvolvimento da organização política do país. Nosso foco, mesmo que 
breve, será sobre o período republicano, onde o interesse é estabelecer a 
discussão mínima sobre o desenvolvimento e consolidação sufrágio universal. 
A primeira Constituição da República Federativa dos Estados Unidos do 
Brasil, promulgada em 24 de fevereiro de 1891, estabeleceu, balizando-se pelo 
conceito de que a sociedade política deve ser dirigida e eleita pelos mais 
capazes, os critérios para o estabelecimento do sufrágio universal. Assim, 
pelo art. 70, §§ 1º e 2º, institui-se, 
 
Art. 70 - São eleitores os cidadãos maiores de 21 anos 
que se alistarem na forma da lei. 
§ 1º - Não podem alistar-se eleitores para as eleições 
federais ou para as dos Estados: 
1º) os mendigos; [maioria absoluta dos ex-escravos] 
2º) os analfabetos; [cerca de 90% da população] 
3º) as praças de pré, excetuados os alunos das escolas 
militares de ensino superior; 
4º) os religiosos de ordens monásticas, companhias, 
congregações ou comunidades de qualquer 
denominação, sujeitas a voto de obediência, regra ou 
estatuto que importe a renúncia da liberdade Individual. 
§ 2º - São inelegíveis os cidadãos não alistáveis. [entre 
eles, todas as mulheres] 
(Extraído de: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ 
constituicao/constituicao91.htm>) (comentários e grifos 
nossos) 
 
Como se pode perceber, a ideia de sufrágio do início da república 
brasileira era de que dele poderiam participar todos os cidadãos do sexo 
masculino, alfabetizados, maiores de 21 anos e que possuíssem certa renda 
(censitário).17 
36 
 
Deve-se lembrar que, na ocasião, a Abolição da Escravatura tinha 
ocorrido havia pouco mais de um ano e meio; que no país não existia um 
sistema universalizante e que a renda exigida para poder participar do 
processo eleitoral (como votante ou votado) não era factível para, pelo 
menos, 96% da população. O resultado, é óbvio, só poderia ser a instituição 
de um sufrágio excludente. Entre 1894, eleição de Prudente de Morais até 
1930, eleição de Júlio Prestes, durante a chamada República do Café com 
Leite, a porcentagem de votantes sobre a população, nunca foi maior que 
5,6%, e a média ao longo do período, em foram eleitos 11 presidentes, ficou 
em torno de 3% da população (cf. RAMOS, 1961). 
FIGURA 19 – Votantes na população 
 
Fonte: Photobank gallery/shutterstock ID: 422003836 
Na direção do sufrágio efetivamente universal, o passo inicial será dado 
com a criação do primeiro código eleitoral brasileiro em 1932, quando houve o 
surgimento da Justiça Eleitoral e esta deveria organizar os mecanismos 
eleitorais. O Código também estabeleceu o voto secreto e o voto feminino.18 
Entretanto, os analfabetos permaneceram excluídos de processos eleitorais no 
Brasil até o ano de 1985. 
 SAIBA MAIS 
A inclusão dos analfabetos nos processos eleitorais no Brasil somente ocorreu 
com o fim da ditadura (1964-1985) e a redemocratização do país. Os 
analfabetos estavam proibidos de ir às urnas até 1985, quando foi promulgada 
emenda constitucional, no dia 15 de maio, assegurando o direito. Pela 
Constituição Federal de 1988, o alistamento eleitoral e o voto passaram a ser 
facultativos para os cidadãos analfabetos, que, no entanto, permanecem 
inelegíveis. 
Extraído de: Agência O GLOBO, Gustavo Villela, 03/10/2014 
 Todas as prerrogativas do Código Eleitoral de 1932 foram corroboradas 
na Constituição de 1934. Infelizmente, como sabemos, em 1937, valendo-se da 
força e da “política anticomunista” Getúlio Vargas, através da outorga da 
37 
 
Constituição de 1937, “rasgou” a Constituição de 1934 e mergulhou o país em 
oito anos de Ditadura. Todos os avanços estabelecidos anteriormente 
retrocederam, principalmente porque a Justiça Eleitoral deixou de existir e ao 
país foi imposto o um governo totalitário. Somente com a renúncia de Vargas, 
em 1946, a Justiça Eleitoral foi restituída e uma tímida democracia foi 
reinstalada no país. 
Em 1955, com a promulgação da Lei no 2.250, novos avanços, como 
folha individual de votação que garantia a liberdade e o sigilo do voto, foram 
introduzidos, mas, como é de conhecimento de todos, no dia 31 de março de 
1964, o então presidente João Goulart foi deposto e a Ditadura Militar, que 
vigoraria até 1985, foi instaurada. Com o Golpe e sua consolidação, foi 
imposto o fim do voto direto para presidente e representantes de outros 
cargos majoritários. O conceito de pluripartidarismo foi extinto e, para atenuar 
o caráter totalitário do governo, instituiu-se a oposição consentida através do 
bipartidarismo. A eleição do comandante da nação era realizada pela Junta 
Militar. 
A partir de 1984, o grande desgaste dos governos militares, somado aos 
efeitos da recessão econômica do início dos anos 1980, levaram milhões de 
brasileiros às ruas em busca do retorno da democracia. O movimento Diretas 
Já, composto por diversas forças políticas, tornou-se o carro-chefe do 
movimento e, em 1985, o Brasil se redemocratizava. Instalada no início de 
1987, a Assembleia Nacional Constituinte apresentou no ano de 1988, a nova 
Constituição do Brasil. Finalmente, na essência de sua proposição, o sufrágio 
universal foi instituído no Brasil. No art. 14, § 1º, da CF/88, fica estabelecido: 
 
Art. 14. A soberania popular será exercida pelo sufrágio 
universal e pelo voto direto e secreto, com valor igual para 
todos, e, nos termos da lei, mediante: 
I - plebiscito; 
II - referendo; 
III - iniciativa popular. 
§ 1º - O alistamento eleitoral e o voto são: 
I - obrigatórios para os maiores de dezoito anos; 
II - facultativos para: 
38 
 
a) os analfabetos; 
b) os maiores de setenta anos; 
c) os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos. 
 
Oreferido artigo trata ainda de diversos outros aspectos como grupos 
inelegíveis, idade mínima para cargos políticos, entre outros Mas o trecho da 
Constituição apresentado anteriormente é mais do que suficiente para que se 
caracterize, de fato, a instituição do Sufrágio Universal no país. 
 
5 Os partidos políticos 
FIGURA 20 – Partidos Políticos 
 
Fonte: Photographee.eu/shutterstock ID: 481813018 
Segundo diversos autores, em especial Bonavides (2000), partidos 
políticos representam as organizações burocráticas que se organizam visando 
organizar, coordenar e instrumentalizar a vontade popular objetivando o 
exercício da influência sobre a orientação política do país e, através da 
ascensão ao poder do Estado, colocar em prática o seu programa de governo. 
Portanto, não podem ser somente considerados “partes da sociedade”19 que se 
organizam tendo em vista suas demandas específicas. Trata-se de uma 
definição mais complexa que, segundo o sociólogo Nildo Viana (2003), pode 
ser mais bem compreendida, considerando-se quatro elementos essenciais 
 
Os partidos políticos são organizações burocráticas que 
visam à conquista do Estado e buscam legitimar esta luta 
pelo poder através da ideologia da representação e 
expressam os interesses de uma ou outra classe ou 
fração de classe existentes. Assim, os quatro elementos 
principais que caracterizam os partidos políticos são: 
a) organização burocrática; 
b) objetivo de conquistar o poder do Estado; 
39 
 
c) ideologia da representação como base de sua busca de 
legitimação; e 
d) expressão dos interesses de classe ou fração de 
classe. 
 
Pelo senso comum, a palavra burocracia tem sentido pejorativo, isto 
porque ela é comumente utilizada para se referir à ineficácia de órgãos 
públicos, em geral que, pelo excesso de exigências de documentos e 
“papeladas”, trava todo o processo de prestação de serviços ao contribuinte. 
Não é este o significado que se quer empregar ao este elemento do qual 
prescinde um partido político. 
Em sentido weberiano, o conceito é completamente diverso e mesmo 
oposto. A burocracia deve notabilizar-se pela busca da máxima eficiência das 
organizações, no caso, os partidos políticos. Visando alcançá-la, os partidos 
devem, portanto, primar pelos critérios de eficiência, planejamento e eficácia 
em suas instâncias administrativas e diretivas. 
Imbuídos do objetivo estratégico de conquista do poder do Estado, os 
partidos, necessariamente, como dito anteriormente, têm que apresentar uma 
rígida estrutura burocrática, pois esta se constitui na relação entre dirigentes e 
dirigidos. Nesse sentido, só é possível ousar a conquista do poder estatal se 
elementos políticos como programa partidário, coerência para com o mesmo e 
fidelidade aos ideais ali estabelecidos forem compromissos de todos os 
integrantes. 
Cabe lembrar, que para que a “máquina” partidária funcione, os partidos 
políticos precisam de enormes quantias de dinheiro para o financiamento das 
campanhas eleitorais. Por último, mas não menos importante, o elemento 
disciplina interna também deve ser considerado e dessa forma, a burocracia, 
enquanto controle das ações, torna-se novamente fundamental. 
Em sistemas democráticos, onde os eleitores são “convidados” a escolher 
seus representantes (democracia representativa), é fundamental que os 
partidos políticos possuam uma boa “base popular”, afinal será ela que 
garantirá os votos necessários ao projeto partidário e é neste contexto, que a 
ideologia partidária tem papel essencial. Se tomarmos o conceito ideologia em 
seu sentido “menor”, trata-se do discurso que articula as propostas dos 
40 
 
partidos, contudo, se tomarmos ideologia em seu sentido “forte”, na definição 
marxista de que a ideologia integra a superestrutura e visa “maquiar” as 
contradições sociais, veremos que a desconstrução do discurso levará, 
inevitavelmente à conclusão de que a maioria dos partidos, visando somente a 
chegada ao poder, produz discursos ideologizados, isto é, os constroem dando 
a entender que atendem às demandas de suas respectivas bases, mas, 
entretanto, na prática política posterior à eleição, ocupam-se, por exemplo, em 
atender aos interesses de seus financiadores de campanha (cf. SAMUELS, 
2003, apud BENEVIDES; VANUCCHI; KERCHE, 2003). 
Depreende-se então acerca do teor ideológico (em “sentido forte”), que os 
partidos mostram-se muito mais preocupados em, a partir da capacidade maior 
ou menor de influenciar suas bases, e a sociedade, em geral, garantir a 
legitimidade de sua existência, de seu governo e de suas opções políticas; 
afinal, como sabemos, o “poder emana do povo”... Nesta direção, o último item 
apontado por Viana, parece corroborar a discussão anterior: os partidos, 
embora de forma difusa, sobretudo em um cenário político marcado pelo 
fisiologismo como o brasileiro, representam interesses de classe. 
FIGURA 21 – Interesses de classe 
 
Fonte: Arthimedes/shutterstock ID: 352409408 
Cabe ressaltar que o conceito classe social, assim como o de ideologia, 
deve ser considerado também em sua concepção “forte”. Em nosso dia a dia é 
comum ouvirmos expressões como “classe média”, “classes menos 
favorecidas”, “classe A”, “classe dos médicos”, entre outras. É preciso 
esclarecer que esta denominação (classe), do ponto de vista sociológico, é 
inadequada para definirmos padrão socioeconômico ou de consumo. A 
denominação correta para esta situação “é camada ou estrato social”. Quando 
nos referimos ao conceito classe social estamos trabalhando com uma 
categoria sociológica muito mais ampla. Vale citar que o que define a classe 
social de um indivíduo é a situação que este ocupa em relação aos meios de 
produção; assim, só há duas classes sociais: os detentores e os não 
detentores dos meios de produção. Em uma linguagem marxista: a classe 
41 
 
dominante e a classe dominada. Na sociedade em que vivemos: capitalistas e 
trabalhadores. 
Ao considerarmos sob este prisma, pode-se concluir que a existência dos 
partidos políticos reflete a disputa entre os interesses de classe na condução 
do Estado. 
 
6 O sistema político eleitoral 
De acordo com Tavares (1994), um sistema eleitoral pode ser entendido 
como: 
 
Construtos técnico-institucional-legais instrumentalmente 
subordinados, de um lado, à realização de uma 
concepção particular da representação política e, de 
outro, à consecução de propósitos estratégicos 
específicos, concernentes ao sistema partidário, à 
competição partidária pela representação parlamentar e 
pelo governo, à constituição, ao funcionamento, à 
coerência, à coesão, à estabilidade, à continuidade e à 
alternância dos governos, ao consenso público e à 
integração do sistema político. 
 
Em outros termos, segundo o mesmo autor, visando o estabelecimento de 
uma regulação à “competição partidária [...], à coerência, à coesão, à 
estabilidade, à continuidade e à alternância dos governos...”, um sistema 
político eleitoral é o conjunto de regras que define a maneira pela qual o eleitor 
poderá realizar a escolha de seus governantes. 
Conforme Nicolau (2004), estabelece também “[...] o conjunto de regras 
que define como em uma determinada eleição o eleitor pode fazer suas 
escolhas e como os votos são contabilizados para serem transformados em 
mandatos (cadeiras no Legislativo ou chefia do Executivo)”. 
Vale destacar que há ainda diversos outros aspectos que são importantes 
em um sistema eleitoral. Assim, temas como: tipos de sistemas eleitorais, voto 
obrigatório ou facultativo, critérios para a elegibilidade, tipos de financiamento 
de campanhas, entre outros, são de fundamental

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