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11 1. Linguagem e comunicação A linguagem é um instrumento de comunicação. Através da linguagem, interagimos com os demais indivíduos, falamos com nós mesmos, falamos sozinhos ou em sonhos. Comunicar-se é seguramente a função mais evidente desempenhada pela lingua- gem, pois através dela, transmitimos nossos pensamentos. Sabemos, porém, que a vida em comunidade envolve os in- divíduos em um contínuo processo de trocas de mensagens, cuja eficiência depende de uma série de fatores. Todo processo de interação comunicativa se inscreve num conjunto de comporta- mentos e atitudes sociais aos quais nos submetemos. Na comuni- cação, devemos considerar quem fala, com quem se fala, sobre o que se fala e em que situação nos comunicamos. Assim, saber comunicar-se em determinado idioma requer muito mais do que o conhecimento desse idioma e o domínio das palavras e das leis gramaticais que as organizam no complexo de nossas frases. Não se pode pensar em escolha com absoluta liberdade de formas de expressão linguística, tampouco de conteúdos procla- mados no processo comunicativo. Essas escolhas são realizadas em função de uma necessidade de conformação com os com- ponentes do contexto de comunicação. A concretização e o su- cesso da interação verbal exigem que os falantes nela envolvidos regulem seus atos de comunicação por uma espécie de contrato implícito – o contrato de comunicação –, cujos princípios fun- damentais se baseiam na pertinência e na cooperação entre os comunicantes. Além disso, na atividade comunicativa, hão se considerar os processo de semiotização do mundo – o processo de transfor- mação e o processo de transação. O primeiro, partindo de um “mundo a significar”, transforma-o em um “mundo significado”, identificando o mundo pela língua. O segundo faz do mundo sig- nificado um objeto de troca, troca essa que envolve o reconheci- mento dos parceiros no ato comunicativo, o reconhecimento do universo ao qual os parceiros se referem, a finalidade intencional e, finalmente, a regulação do jogo de influência, já que toda in- fluência está sujeita a uma contra influência. Esta é a função social da comunicação da linguagem, que nos transforma em seres sociais, inseridos em uma comunida- de discursiva culturalmente constituída, com regras e padrões comportamentais, aos quais cotidianamente nos submetemos. Entretanto esta mesma função está relacionada a outra, da qual depende: a função simbólica da linguagem. 2. a Linguagem e o conhecimento humano A linguagem não é tão-somente um elemento de mediação entre o homem e o mundo circundante. Na verdade, ela é o ele- mento que, ao mesmo tempo, constitui e possibilita a relação en- tre o homem e seu universo. Assim, a linguagem se coloca entre o homem e o mundo como um elemento de orientação para a percepção das coisas e das relações que estas mantêm entre si. Temos várias formas de dizer uma mesma coisa, e a forma que escolhemos para nossa elocução é a que revela a nossa visão sobre o assunto do qual tratamos. Então as variações da lingua- gem estão intimamente relacionadas às diversas formas de per- cepção da realidade. Isso significa que uma construção linguística é a formatação do nosso ponto de vista em relação à realidade. Quando falamos do mundo ou de nós mesmos, estamos ofere- cendo ao nosso interlocutor, por intermédio da linguagem, um recorte da realidade tal como a percebemos, segundo as práticas culturais da comunidade social em que vivemos. Contrariamente ao que muitos pensam, a linguagem não é um espelho da realidade; ela constitui uma forma culturalmente adquirida de interpretá-la e fazê-la circular discursivamente por intermédio de nossos atos de comunicação. Isso significa que além de ser um elemento de comunicação, a linguagem é um instrumento com o qual organizamos o mundo mentalmente, agrupando seus elementos em categorias que obedecem às nos- sas práticas sociais. Por intermédio da linguagem, transformamos as coisas em objetos culturais, assim constituídos segundo nossos padrões de conhecimento e nossas práticas sociais. LINGUAGEM HUMANA 12 Quando lidamos com uma ferramenta ou compramos um cinto, não a chamamos de “pedaço de ferro” nem solicitamos ao vendedor uma tira de couro, embora a ferramenta seja de metal e o cinto seja de couro. Quando cavalgamos, não dizemos que o cavalo nos carrega, pois, embora as duas coisas estejam acontecendo, sabemos que são situações diferentes, segundo as nossas práticas culturais. Seria estranho alguém dizer “Pegue o livro embaixo do qual está a mesa” em vez de “Pegue o livro que está sobre a mesa”. Esses fatos comprovam que é através da lin- guagem que construímos nossa realidade, e o fazemos conforme a simbolização que nos convém. Embora tenha uma estrutura dotada de significado, a lingua- gem não é um conjunto de etiquetas para os seres que constituem e povoam o mundo. Isso porque os conteúdos que concebemos e expressamos por meio da linguagem não estão no mundo de forma autônoma. Eles estão no mundo organizados pela nossa consciência, formada na vida em sociedade, e sua expressão é o resultado do poder simbólico da palavra. Não podemos viver sem o poder das palavras. Elas são, de um modo geral, representações simbólicas da realidade. Assim, a linguagem verbal representa ou simboliza, em sua totalidade, o universo real em que vivemos e o universo imaginário que cria- mos. É dessa maneira que se explica a capacidade humana de construir, pelas vias da linguagem, blocos de sentido textualiza- dos, como narrativas, descrições, argumentos, impressões, con- selhos, instruções etc. Como se vê, a língua não é tão somente um instrumento de comunicação; ela é, também e sobretudo, um sistema de ca- tegorias que nos permite organizar o mundo em uma estrutura dotada de sentido. Isso significa que o mundo experienciado pelo homem não entra em sua consciência como uma matéria bruta e caótica. Ao contrário, ele é estruturado por meio das categorias da linguagem, ou seja, sob uma forma de conhecimento. Estrutu- radas, as experiências do mundo social se tornam conteúdos da nossa consciência, conteúdos comunicáveis pelas vias das nossas atividades discursivas. Essa é a função simbólica da linguagem, responsável pela relação entre os seres sociais e o conjunto de suas experiências com a realidade. É graças a essa função que podemos transfor- mar os elementos e fatos do mundo em dados da nossa consci- ência e em assunto dos nossos discursos. 3. Língua e Linguagem 3.1 Língua Língua é um código de que se serve o homem para elaborar mensagens e se comunicar. É um sistema de linguagem e com- preende: a) um sistemas de fonemas; b) um sistema de formas; c) padrões frasais. 3.2 Linguagem Linguagem, em sentido amplo, é a capacidade humana de se comunicar através de sinais, transmitindo um certo conteúdo significativo. 3.3 código código é um sistema de signos que possibilita a elaboração e a compreensão de mensagens, objeto da comunicação. Toda língua é um código. 4. as articuLações da Linguagem Entende-se por articulação de uma língua as propriedades que têm as formas linguísticas de serem suscetíveis de análise em elementos mínimos. Toda língua apresenta dois campos de articulação da lingua- gem. Essa dupla articulação organiza o sistema linguístico e evita uma sobrecarga da memória, permitindo uma economia de esfor- ços na emissão e na percepção da mensagem. Sem ela seria preciso recorrer a um som diferente para designar cada elemento da reali- dade, cada nova experiência transmitida pela atividade linguística. Assim, a partir da combinação de um número limitado de fonemas (unidades fônicas da língua), é possível formar uma infinidade de monemas (unidades significativas da língua) que, diversamente ar- ranjados, veiculamuma infinidade de mensagens linguísticas Podemos classificar essa dupla articulação em dois níveis, distintos, mas intimamente interligados, do sistema linguístico: 1) segunda articulação: é o plano fônico da linguagem, o plano da expressão, segundo o qual cada unidade elementar da língua (monema) se articula em unidades sonoras desprovidas de sentido. As menores dessas unidades sonoras são os fonemas. 2) Primeira articulação: e o plano das formas, que constitui o nível do conteúdo, segundo o qual o enunciado se articula line- armente em unidades dotadas de sentido: morfemas, palavras, sintagmas, orações e frases. Assim, o monema “dorme” é formado de cinco fonemas: [d], [o], [r], [m], [e], e a frase “A criança dormirá.” articula-se em seis monemas: |a|, |crianç-|, |-a|, |dorm-|, |-i|, |-rá|. 5. Linguagem verbaL e não verbaL A comunicação pode ocorrer através de uma linguagem ver- bal ou de uma linguagem não verbal: 5.1 Linguagem verbal Linguagem verbal “É a faculdade que tem o homem de exprimir seus estados mentais por meio de um sistema de sons vocais chamado língua.” Matoso Câmara 13 5.2 Linguagem não verbal Linguagem não verbal é a que se utiliza de sinais que não são da Língua, como, por exemplo a linguagem, dos sinais de trânsito, que tanto usa os signos visuais como os signos acústicos. 6. signo Linguístico signo linguístico é a menor unidade semântica de um có- digo linguístico. Todo signo compreende: a) significante – é a imagem acústica, a forma, o elemento material, visível e sensível. Segundo Ferdinand Saussure, o sig- nificante “não é o som material, coisa puramente física, mas a impressão psíquica desse som, a representação que dele nos dá o testemunho de nossos sentidos: tal imagem é sensorial e, se chegamos a chamá-la “material” é somente nesse sentido, e por oposição ao outro termo da associação, o conceito, geralmente mais abstrato”. b) significado – é a imagem mental, a ideia, o conteúdo semântico, o elemento conceptual não perceptível por nenhum sentido. É a representação mental de um dado objeto ou conceito do mundo biossocial. Desse modo, “o signo une sempre um significante ao um conceito, a uma ideia, a uma evocação psíquica, e não a uma coi- sa”, pois “o significado não é uma coisa, mas uma representação psíquica da coisa” Castelar de Carvalho – Para compreender Saussure Assim, “livro” é um signo linguístico, pois o som [livro] e a forma gráfica “livro” são significantes, formas externas que levam a uma ideia ou significado: o conceito de “livro”, o livro em si. 6.1 o triângulo de ogden e richards Os linguistas Ogden e Richards acrescentaram um terceiro elemento na conceituação do signo linguístico: o referente (obje- to que se encontra no mundo, seja como matéria, seja como con- ceito), Assim, o signo linguístico estabelece uma relação imediata da linguagem com o universo extralinguístico. Assim haveria uma tríplice relação no signo. Além da noção de significante (expressão) e de significado (imagem conceitual), encontra-se no signo a noção de um referente – um ser ou objeto material, ou até mesmo um ser conceitual do nosso mundo físico e social. Observe o esquema a seguir: triângulo de ogden e richards significante: a cadeia fônica /kaza/ significado: o conceito de casa referente: a casa em sua dimensão física Observe que entre o significante e o referente há uma relação indireta. No processo comunicativo, não se reconhece o objeto sem que se conheça a relação entre o significante e o significado. Além do signo linguístico, temos outros tipos de signo que empregamos na comunicação. São eles: 6.2 signo ícone signo ícone é aquele que tem representação através de imagens visuais. O signo ícone apresenta uma relação de seme- lhança ou analogia com o objeto que representa, tal como uma fotografia, uma estátua ou um desenho figurativo. 6.3 signo acústico signo acústico é aquele que tem representação através de imagens auditivas. Assim, o som de uma campainha, o apito de um guarda de trânsito, com suas significações específicas, são signos acústicos. 6.4 signo índice signo índice é aquele que se relaciona com um ser ou obje- to não imediatamente perceptível. O signo índice estabelece com a realidade que representa uma relação metonímica (de conti- guidade), pois traz consigo certas marcas ou características de tal realidade. Por exemplo, as cores verde a amarela, indicando o Brasil ou o azul indicando o céu. 6.5 símbolo símbolo é um signo que apresenta uma relação convencio- nada com o objeto ou a ideia que representa. Por exemplo, certas bandeiras de alguns países, a cruz para o cristianismo, os sinais de trânsito não figurativos, os sinais de escrita não pictográficos, como as letras, algarismos, etc. Por obedecer a uma convenção, o símbolo é um signo arbitrário. Note-se que não há qualquer re- lação real entre a imagem da pomba e a paz, como se costumou convencionar em certas culturas. 14 EXERCÍCIOS DE AULA texto i Língua Esta língua é como um elástico que espicharam pelo mundo. No início era tensa, de tão clássica. Com o tempo, se foi amaciando, foi-se tornando romântica, incorporando os termos nativos e amolecendo nas folhas de bananeira as expressões mais sisudas. Um elástico que já não se pode mais trocar, de tão gasto; nem se arrebenta mais, de tão forte. Um elástico assim como é a vida que nunca volta ao ponto de partida. (Gilberto Mendonça Teles – Falavra) O poema acima pertence ao livro de poesia de Gilberto Mendonça Teles, cujo título é Falavra. As questões 01 a 06 se referem a ele: 01. Pelo que se depreende do poema: a) a cultura do povo se ajusta à língua. b) a língua se ajusta à cultura do povo. c) ambos se ajustam reciprocamente. d) a língua evolui e faz o povo evoluir. 02. “Um elástico assim como é a vida que nunca volta ao ponto de partida.” Considerando os conceitos de linguagem, que sugerem os versos acima? a) evolução irreversível da linguagem. b) rejeição às formas de expressão arcaicas. c) as inovações estéticas da arte literária. d) a criação de novas palavras e expressões giriáticas. 03. No poema, a imagem poética expressões mais sisudas sugere: a) expressões agressivas. b) expressões sérias. c) expressões clássicas. d) expressões indecifráveis. 04. No poema acima, que conceito linguístico não é sugerido? a) registro de linguagem. b) linguagem dialetal. c) signo linguístico. d) disciplina gramatical. 05. O título do livro – Falavra – do qual é extraído o poema acima, é fruto de uma forma aglutinada de fala + palavra. Qual das senten- ça abaixo não se enquadra totalmente na essência do poema? a) “As palavras, afinal, vivem na boca do povo. E são faladíssimas.” (Luís Fernando Veríssimo) b) “É a fala que faz evoluir a língua” (Ferdinand Saussure) c) “A Gramática precisa apanhar todos os dias para saber quem é que manda.” (Luís Fernando Veríssimo) d) “Numa língua existe, pois, ao lado da força centrífuga da inovação, a força centrípeta da conservação.” (Celso Cunha) 06. O eixo temático do poema tem como principais elementos de referência: a) língua e linguagem. b) gramaticalidade e agramaticalidade. c) significante e significado. d) registros linguísticos e dialetos. 07. Assinale a afirmativa inadequada a respeito da linguagem humana. a) A língua é somente um meio de comunicação entre os homens. b) A língua é um elemento que nos permite organizar o mundo culturalmente. c) As variações da linguagem estão intimamente relacionadas às diversas formas de percepção da realidade. d) A função social da comunicação da linguagem nos transforma em seres sociais, inseridosem uma comunidade discursiva. 15 08. Observe a frase: “Você tem o hábito de se apossar das coisas alheias.” O enunciado acima poderia ter a seguinte forma: “Você é ladrão.” Considerando as duas formas de expressão, assinale a afirmativa verdadeira: a) A escolha da forma de expressão é uma atitude aleatória. b) A escolha da forma de expressão depende do estado de es- pírito do falante. c) Qualquer uma das duas formas teria o mesmo efeito discur- sivo no processo comunicativo. d) A escolha da forma linguística obedece a uma intencionalida- de discursiva do falante. 09. Assinale a afirmativa falsa a respeito do conceito de signo linguístico: a) O signo linguístico é a menor unidade semântica de um códi- go de linguagem. b) A relação entre o significante e o objeto depende apenas do conhecimento de mundo que o falante tem. c) O signo linguístico é a representação psíquica de uma realidade. d) O significante é a camada “material”, aspecto perceptível do signo linguístico. 10. Assinale a correlação inadequada, considerando os conceitos de língua e linguagem: a) Signo ícone – imagem visual b) Função social da linguagem – interação comunicativa c) Linguagem – espelho da realidade. d) Função simbólica da linguagem – organização cultural do mundo. NOTAS 16 gabarito ExErcícios dE AULA 01. B A língua se ajusta à cultura do povo porque vai assumindo ex- pressões que caracterizam sua natureza cultural, o que pode ser comprovado na expressão “com o tempo, se foi amaciando”. 02. A O texto proclama a ideia de que a evolução da linguagem é irre- versível, uma vez que a língua se ajusta à cultura da comunidade em que atua. Isso pode ser comprovado na expressão “que nunca volta ao ponto de partida”. 03. C O poema sugere que a língua vai se tornando macia, mais român- tica, isto é, vai rompendo com sua rigidez e se ajustando à forma de expressão do povo. Romantismo é uma oposição a Classicis- mo, o que nos permite concluir que, no poema “expressões mais sisudas” correspondem a expressões clássicas. 04. C Signo linguístico não é um conceito ligado ao uso da língua, mas sim à natureza rígida do sistema linguístico, um conceito que está atrelado ao idioma como código de comunicação, que não admi- te a interferência do falante. 05. C O texto estabelece uma relação entre língua e cultura do povo que a usa. Não aborda aspectos de ruptura com a estrutura gra- matical do idioma. 06. A A abordagem do texto está centrada na dicotomia língua e lin- guagem; aquela representando o sistema linguístico, esta repre- sentando o uso do sistema. 07. A Além da função de comunicação, a língua tem uma função sim- bólica, responsável pela relação entre os seres sociais e o conjun- to de suas experiências com a realidade. 08. D As escolhas linguísticas são realizadas em função de uma necessidade de conformação com os componentes do contexto de comunicação. 09. B A relação entre o significante e o objeto depende do conheci- mento da língua, que estabelece entre o falante e o mundo uma relação simbólica. 10. C A linguagem não é um espelho da realidade; ela constitui uma forma culturalmente adquirida de interpretá-la e fazê-la circular discursivamente por intermédio de nossos atos de comunicação. 17 1. ComuniCação Segundo o linguista M. A. K. Halliday, a linguagem tem, como já vimos duas grandes funções básicas. Uma é responsável pela relação entre o indivíduo e o conjunto de suas experiências com a realidade; outra, mais evidente, está intimamente relacio- nada com o aspecto social da comunicação. Comunicação é o ato ou efeito de comunicar(-se). Ato ou efeito de emitir, trans- mitir e receber mensagens por meio de métodos e/ou processos convencionados, quer através da linguagem falada ou escrita, quer de outros sinais, signos ou símbolos, quer de aparelhamen- to técnico especializado, sonoro e / ou visual. A comunicação, portanto, é um processo que envolve a transmissão e a recep- ção de mensagens entre uma fonte emissora e um destinatário receptor, no qual as informações, transmitidas por intermédio de recursos físicos (fala, audição, visão etc.) ou de aparelhos e dispositivos técnicos, são codificadas na fonte e decodificadas no destino com o uso de sistemas convencionados de signos ou símbolos sonoros, escritos, iconográficos, gestuais etc. A comunicação verbal é uma propriedade exclusiva do ho- mem, e, nesse caso o código utilizado é o idioma que se mani- festa na linguagem falada ou na linguagem escrita. 2. ElEmEntos da ComuniCação Elementos da comunicação são as instâncias necessários e fundamentais para que a comunicação ocorra. Em conjunto, eles formam a cadeia da comunicação, pois são os fatores constitu- tivos de todo processo linguístico, de todo ato de comunicação humana. Basicamente, o processo de comunicação humana en- volve seis elementos: • Emissor (remetente ou transmissor) - é o elemento que fala, que emite a mensagem. • Receptor (destinatário) - é o elemento que recebe e deco- difica a mensagem. • Referente - é o elemento extralinguístico a que se faz refe- rência na mensagem. É o assunto sobre o qual se fala. • Canal - é o suporte físico da mensagem, o veículo trans- portador. Na escrita o canal é o papel e a intensidades dos raios luminosos que chegam à retina. Na comunicação direta, o canal é a corrente de ar através da qual o som percorre. • Código - é o sistema de signos comuns ao transmissor e ao receptor. Na linguagem verbal, é o idioma. • Mensagem - é a manifestação da informação através de um código, é o conjunto de sinais emitidos no processo de comunica- ção. É o conjunto de palavras e frases emitidas na comunicação para formalizar em linguagem o que se diz, aquilo que se transmite. Gráfico dos elementos da comunicação: Referente Remetente ........... Mensagem ........... Receptor Canal Código 3. as FunçõEs da linguagEm sEgundo Jakobson A expressão “funções da linguagem” difundiu-se no ensino da linguagem em virtude da adoção do modelo analítico propos- to pelo linguista russo Roman Jakobson, que se baseou nos con- ceitos da Teoria da Comunicação. São, segundo ele, as funções que a linguagem exerce, em obediência à proposta do falante no processo da comunicação, tendo em vista a finalidade do seu emprego. Essas funções referem-se ao realce particular que cada um dos componentes do processo comunicativo (elementos da comunicação) recebe no enunciado.Assim, cada um dos seis ele- mentos que compõem a cadeia de comunicação determina uma diferente função da linguagem. São elas: Teoria da ComuniCação 18 3.1 Função emotiva É a função que predomina em frases com as quais um “eu enunciador” expressa os seus estados emocionais. A linguagem coloca em evidência o emissor da mensagem e visa a uma expre- são direta da atitude do falante em relação àquilo de que está fa- lando. Mostra as impressões verdadeiras ou simuladas, indicando a atitude de alguém diante de um fato. Representa, em síntese, uma exteriorização psíquica. A função emotiva da linguagem encontra nas frases excla- mativas seu meio mais típico de expressão. Predominam nesta função os elementos de 1ª pessoa gramatical ou qualquer ele- mento denunciador de um estado de espírito. “Que horror, meu Deus! Quanta devastação e tristeza!” “Da vez primeira que me assassinaram, Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.” Mário Quintana 3.2 Função conativa (ou apelativa) É a função própria dos enunciados com os quais o emissor da mensagem busca produzir comportamentos em nossos in- terlocutores. Coloca em evidência o destinatário da mensagem pois a linguagem é empregada com o intuito de persuadir o destinatário. Tem sua expressão mais pura no vocativo e no imperativo,caracterizando ordem, pedido ou sugestão etc. Predominam os elementos de 2ª pessoa gramatical. “Por favor, não me deixe sozinho nessa empreitada.” “Volta, vem viver outra vez ao meu lado.” Lupiscínio Rodrigues 3.3 Função referencial É a função da linguagem que se manifesta para a comuni- cação de conteúdos de consciência. São exemplos típicos dessa função o ato de dar ou receber informações. A linguagem coloca em evidência o referente, o assunto do qual se fala. Assim, a fun- ção referencial está em quase todo enunciado, pois dificilmente existe ato comunicativo desprovido de informação. Como se apoia na significação básica da linguagem, caracte- riza-se por expressões claras e objetivas. Predominam os elemen- tos gramaticais de 3ª pessoa. “O Congresso votará amanhã a reforma tributária.” “Não há fenômeno teatral sem a conjunção da tríade ator, texto, público.” 3.4 Função fática É a função da linguagem presente no atos comunicativos cuja finalidade pode ser testar a existência ou não de contato durante o processo comunicativo ou manter um ambiente de relacionamento afetiva ou socialmente favorável, tais como cumprimentos e sauda- ções em geral. Assim, ela se manifesta para estabelecer, manter ou encerrar o processo de comunicação. Além disso testa o canal de comunicação. Por conta disso, coloca em evidência o meio de con- tato do processo comunicativo entre o emissor e o receptor. Uma das marcas linguísticas da função fática são os marcado- res conversacionais, tais como “entende?”, “sei...”, “estou enten- dendo...” , “está ouvindo?” etc. “Bom dia senhores. Estão me ouvindo bem?” “Alô! quem está falando? Fale mais alto.” 3.5 Função metalinguística Nessa função a linguagem é utilizada para explicar o no pró- prio código linguístico ou discutir o próprio processo discursivo. Por isso considera-se função metalinguística a metanarrativa e os me- tapoemas. É comum apresentar definições, que explicitam o valor semân- tico do próprio signo linguístico. “Ratificar é confirmar; retificar é corrigir.” “Meu verso é sangue. Volúpia ardente... Tristeza esparsa... remorso vão... Dói-me nas veias. Amargo e quente, Cai, gota a gota, do coração.” Manuel Bandeira 3.6 Função poética A função poética da linguagem se manifesta pela utilização da linguagem para produzir mensagens que se impõem à atenção do leitor/ouvinte pela forma como elas estão construídas. Normalmente na função poética, a linguagem tem finalidade estética, e a mensa- gem torna-se importante não pelo que ela proclama, mas pelo modo como ela proclama seus significados. Assim, ela põe em evidência a própria mensagem enunciada, valorizando a forma de expressão. É o que acontece, em particular, na linguagem poética e, em segundo plano, na linguagem publicitária. Como há preocupação com os aspectos estéticos, a linguagem apresenta recursos estilísticos, conotações, linguagem figurada etc., que buscam traduzir criação estética. “Da vez primeira que me assassinaram, Perdi um jeito de sorrir que eu tinha.” Mário Quintana 19 “Vida, vento, vela leva-me daqui.” Belchior “A chuva nas poças d’água são as estrelas da terra.” “É sua lâmpada de Aladino a bicicleta e, ao sentar-se no se- lim, liberta o gênio acorrentado ao pedal. Indefeso homem, frágil maquina, arremete impávido colosso, desvia de fininho o poste e o caminhão; o ciclista por muito favor derrubou o boné.” Dalton Trevisan ObsERvaçãO: As funções da linguagem não são estanques; portanto em um único texto pode-se encontrar mais de uma função da lingua- gem. Haverá, contudo, a predominância de uma delas, que está relacionada à intencionalidade discursiva do enunciador. A estrutura verbal da mensagem depende basicamente dessa função predominante. 4. as FunçõEs da linguagEm sEgundo m. a. k. Halliday Segundo o linguista britânico M. A. K. Halliday, a linguagem é dotada de duas grandes funções – a função comunicativa e a função ideacional. O que denominamos inicialmente de função comunicativa, para Halliday, desdobra-se, na verdade, em duas funções: função interpessoal e função textual. Assim, de acordo com Halliday, uma língua desempenha três funções gerais: fun- ção interpessoal, função textual e função ideacional. 4.1 Função ideacional É a função pela qual a linguagem seleciona e organiza os fe- nômenos da realidade ou do nosso mundo interior, segundo nos- sa consciência e nossa percepção. Isso ocorre graças ao elenco de categorias e significados que constituem o léxico, a morfologia e a sintaxe da língua. É ela que nos permite a projeção do nosso ponto de vista da realidade. Corresponde à função representativa ou simbólica, da qual falamos anteriormente. 4.2 Função interpessoal Nesta função, a utilidade da língua é a comunicação entre seus usuários. Para tanto, a linguagem apresenta meios para se- rem utilizados com o objetivo de influenciar ou mesmo regular as reações comunicativas do interlocutor nas diversas situações dis- cursivas. Nesta função, definem-se os papéis sociocomunicativos que o enunciador atribui a si e espera do seu interlocutor – atos de pedir e atender, perguntar e responder, ordenar e obedecer, persuadir e aceitar, convencer e discordar. 4.3 Função textual É a função através da qual a língua se organiza para construir textos. Assim, ela mostra a relação entre o que se está dizendo, o que já foi dito e a situação da enunciação. Nesta função, a língua se revela capaz de se apresentar sob a forma de um discurso pertinen- te e não simplesmente como um conjunto de palavras do dicionário e de orações da gramática. 5. dEnotação E Conotação 5.1 Denotação É o emprego da palavra em seu sentido básico, lógico, diciona- rizado, no conjunto lexical de uma comunidade linguística. Nesse caso, diz-se que o sentido da palavra é denotativo ou referencial. “Os jogadores deram a volta olímpica ao estádio.” 5.2 Conotação É o emprego da palavra fora do seu sentido básico, lógico, di- cionarizado, recebendo nova significação em virtude da interpre- tação que cada um dá, por afetividade ou fator emocional. Nesse caso, diz-se que o sentido da palavra é conotativo ou figurado. “Nas voltas da vida, o destino é incerto.” Em um mesmo contexto, uma palavra pode aparecer no sen- tido denotativo e no sentido conotativo, contribuindo para o as- pecto poético do texto em seus vários momentos. ObsERvE: ExpliCaçãO Da pOEsia sEM ninGuéM pEDiR Um trem-de-ferro é uma coisa mecânica, Mas atravessa a noite, a madrugada, o dia Atravessou minha vida, Virou só sentimento Manuel Bandeira – Poesias Reunidas A expressão trem-de-ferro é conceituada no 1º verso como uma “coisa mecânica”. Logo, está empregada no seu sentido usual, portanto, denotativo, O mesmo acontece com o verbo atravessar, no segundo verso, empregado no sentido de “trans- por, passar para o outro lado”. Nos versos seguintes, a expressão trem-de-ferro (elíptica) ganha sentido figurado, tendo, portanto, um valor conotativo. O mesmo se dá com o verbo atravessar. Agora, trem-de-ferro, assume a dimensão de uma lembrança, de uma emoção per- manente no espírito do eu-lírico, fato que se acentua pelo novo emprego do verbo atravessar, que assume o sentido de “acom- panhar”, intensificando o valor poético do texto. 20 6. aRTE, liTERaTuRa E linGuaGEM Para estabelecer melhor a oposição entre a função refe- rencial e a função poética da linguagem, desenvolvemos aqui o conceito de arte literária, em que a função poética da linguagem tem sua manifestação mais legítima, construindo-se sem finalidade pragmática, sem evidenciar propriamente o conteúdo proclamado. Arte é a criatividade em busca de valores estéticos. litera- tura é a arte da palavra. Alinguagem literária, portanto, deve ser elaborada como material estético, com criatividade, buscan- do, sobretudo, surpreender pela forma da expressão. Assim, fre- quentemente, a linguagem literária se constrói sobre as ruínas da linguagem intelectiva. Em consequência disso a linguagem pode se apresentar como expressividade artística ou de forma intelectiva habitual. Como vimos nas suas funções, a linguagem apresenta variações significativas, em consequência do uso que dela fazemos e do propósito com que a empregamos. É a partir dessas variações, do uso e do propósito linguístico que se estabelece a linguagem literária e não literária: 6.1 linguagem literária É a linguagem que apresenta recursos expressivos que cha- mam a atenção para o modo como ela própria está construída. Características: - Uso da conotação. - Tem por objetivo emocionar esteticamente o leitor. - Predomínio da função poética da linguagem. - Importância à elaboração da mensagem. - Várias interpretações a partir da plurissignificação. Exemplos: “E, se atravessara o amor e o seu inferno, penteava-se agora diante do espelho, por um instante sem nenhum mundo no co- ração. Antes de se deitar, como se apagasse uma vela, soprou a pequena flama do dia.” Clarice Lispector “Não era uma angústia dolorosa; era leve, quase suave. Como se eu tivesse de repente o sentimento vivo de que aquele momento luminoso era precário e fugaz, a grossa tristeza da vida, com seu gosto de solidão subiu, um instante dentro de mim, para me lembrar que eu devia ser feliz aquele momento, pois aquele momento ia passar.” Rubem Braga 6.2 linguagem não literária É a linguagem construída em obediência aos padrões da lin- guagem meramente intelectiva na comunicação. Características: - Uso da denotação. - Tem por objetivo a informação. - Predomínio da função referencial da linguagem. - Importância ao referente, ao assunto. - Interpretação única, sem ambiguidades. Exemplo: “Sexo é o melhor remédio contra celulite. É o que diz pesqui- sa publicada ontem na revista alemã “glamour”. Jornal do Brasil 20 de janeiro de 2002 – Informe JB “O PT age a favor da fidelidade partidária ao dar prioridade ao programa da legenda, deixando em plano secundário projetos e visões ideológicas individuais.” O Globo. 13 de dezembro de 2003 – Editorial EXERCÍCIOS DE AULA Texto para as questões 01 e 02. Texto i MulHER assassinaDa Policiais que faziam a ronda no centro da cidade encontra- ram, na madrugada de ontem, perto da Praça da Sé, o corpo de uma mulher aparentando 30 anos de idade. Segundo depoi- mentos de pessoas que trabalham nos bares próximos, trata-se de uma prostituta conhecida como Poe Nenê. Ela foi assassinada a golpes de faca. A polícia descarta a hipótese de assalto, pois sua bolsa, com a carteira de dinheiro, foi encontrada junto ao corpo. O caso está sendo investigado pelo delegado do 2º distrito policial. Jornal da Cidade, 10 set. 1994 Texto ii pEQuEna CRÔniCa pOliCial Jazia no chão, sem vida, E estava toda pintada! Nem a morte lhe emprestara A sua grave beleza... Com fria curiosidade, Vinha gente a espiar-lhe a cara, As fundas marcas da idade, Das canseiras, da bebida... 21 Triste da mulher perdida Que um marinheiro esfaqueara! Vieram uns homens de branco, Foi levada ao necrotério. E quando abriam, na mesa, O seu corpo sem mistério, Que linda e alegre menina Entrou correndo no Céu?! Lá continuou como era Antes que o mundo lhe desse A sua maldita sina: Sem nada saber da vida, De vícios ou de perigos, Sem nada saber de nada... Com a sua trança comprida, Os seus sonhos de menina, Os seus sapatos antigos! Mário Quintana – Prosa & verso 01. Os textos I e II trazem certas semelhanças entre si. Que há em comum nos textos acima? a) A temática. b) A organização da linguagem. c) A forma de abordagem do tema. d) A intenção discursiva. e) O posicionamento no narrador diante da matéria narrada. 02. Que aspectos distinguem os textos I e II, a partir da análise dos mesmos, considerando sua linguagem? a) denotação – função referencial (Texto II) b) função poética – ênfase no assunto (Texto II) c) criatividade linguística – função poética (Texto II) d) ênfase na mensagem – função referencial (texto I) e) texto jornalístico – ênfase no leitor (Texto I) Texto para as questões 03 e 04. Texto iii nOva pOéTiCa Vou lançar a teoria do poeta sórdido. Poeta sórdido: Aquele em cuja poesia há a marca suja da vida. Vai um sujeito, Sai um sujeito de casa com a roupa de brim branco muito [bem engomada, e na primeira esquina passa um caminhão, [salpica-lhe o paletó de uma nódoa de lama. É a vida. O poema deve ser como a nódoa no brim: Fazer o leitor satisfeito de si dar o desespero. (...) Manuel Bandeira 03. (CESgRANRIO) As funções da linguagem predominantes na “Nova Poética” são: a) metalinguística - referencial. b) conativa - metalinguística. c) poética - conativa. d) emotiva - conativa. e) referencial - fática. 04. As funções da linguagem predominantes no texto acima se justi- ficam pelos seguintes fatores: a) criatividade linguística e informatividade. b) metadiscursividade e informatividade. c) ênfase no assunto e apelo ao leitor. d) impressões pessoais e interpelação. 05. Leia a estrofe abaixo: Oh! Ter vinte anos sem gozar de leve A ventura de uma alma de donzela! E sem na vida ter sentido nunca Na suave atração de um róseo corpo Meus olhos turvos se fechar de gozo! Álvares de Azevedo A abundância de adjetivos, as exclamações, a 1ª pessoa identifi- cam no texto a função da linguagem: a) conativa. b) emotiva. c) poética. d) metalinguística. e) fática. 22 06. Leia o texto abaixo: Nunca mais andarei de bicicleta Nem conversarei no portão Com meninas de cabelos cacheados Adeus valsa Danúbio Azul! Adeus tardes preguiçosas Adeus cheiros do mundo sambas Adeus puro amor Murilo Mendes As funções da linguagem predominantes nos versos 4 e 7 são: a) metalinguística / conativa b) fática / emotiva c) conativa / emotiva d) poética / fática e) poética / metalinguística 07. (FEI) Assinalar a alternativa em que a função apelativa da linguagem é a que prevalece: a) Trago no meu peito um sentimento de solidão sem fim... b) “Não discuto com o destino / o que pintar eu assino” c) Machado de Assis é um dos maiores escritores brasileiros. d) Conheça você também a obra desse grande mestre. e) Semântica é o estudo da significação das palavras. 08. (AFA) Assinale a afirmativa correta sobre texto literário e texto não li- terário: a) O texto literário tem função estética, enquanto o não literá- rio tem função utilitária. b) Conhece-se um texto literário pelo seu conteúdo, pelos te- mas abordados. c) Só pode ser considerado um texto literário um texto ficcional. d) Predomina, no texto não literário, a linguagem conotativa, que mais expressiva. noTaS 23 24 GabaRiTO ExERCíCiOs DE aula 01. A Sendo texto de natureza e linguagem diferentes, o que há em comum entre eles é a temática: o assassinato de uma prostituta. 02. C O texto II é um poema, com uma linguagem em função poética, que evidencia a criatividade da linguagem, ao passo que o texto I é jornalístico, apresenta linguagem em função referencial, evidenciando o assunto de que trata. 03. A As funções da linguagem predominantes no poema são a meta- linguística e a referencial; aquela caracteriza a metadiscursivida- de, esta, as informações contidas no texto.04. B A metadiscursividade é a referência que se faz ao universo discursivo do texto, caracterizada pela função metalinguística; a informatividade está relacionada às referências a que o texto faz, caracterizadas pela função referencial da linguagem. 05. B A abundância de adjetivos, as exclamações, a 1ª pessoa são marcas de subjetividade, caracterizadoras da função emotiva da linguagem. 06. D As funções poética e fática são caracterizadas, respectivamente, pela metáfora “valsa Danúbio Azul” e pela expressão de despe- dida em “Adeus, puro amor”. 07. D Em “Conheça você também a obra desse grande mestre.” mani- festa-se, pelo verbo no imperativo, a função apelativa (conativa) da linguagem, pela intenção de influenciar o comportamento do interlocutor da mensagem. 08. A O texto literário tem função estética, pois nele o que importa é o valor artístico proclamado pela linguagem. O texto não literário tem função utilitária, pois sua linguagem está a serviço de uma determinada prática social. 25 1. Semântica e Semiótica Semântica é uma disciplina linguística que tem por objetivo a descrição das significações próprias às línguas naturais e sua organização teórica; pode ser abordada sincronicamente – no estágio atual da língua – ou diacronicamente – no processo evo- lutivo da língua. Em um sistema linguístico, a semântica é o com- ponente do sentido das palavras e da interpretação das sentenças e dos enunciados. A semântica se preocupa com o significado das palavras, por oposição à sua forma. A semântica está na base de todo fenômeno da linguagem. O significado está explícito na língua quando ele é manifestado pela morfologia ou pela sintaxe. Isso quer dizer que, na mor- fologia, há uma relação semântica entre a forma da palavra e sua significação, e, na sintaxe, há uma relação semântica entre a forma da oração e sua significação. A semântica constitui uma teoria abstrata da significação ou da relação entre os signos e seus referentes, e embora a semântica esteja na base de todo fenômeno linguístico, pode- mos estabelecer uma distinção entre a Sintaxe, a Pragmática e a Semântica propriamente dita. Enquanto a sintaxe considera a relação de um signo com outro signo, e a pragmática considera a relação do signo com os seus usuários, a semântica considera as relações do signo com o mundo e constitui com a sintaxe e a pragmática uma semiótica. Semiótica é a teoria geral das representações, que leva em conta os signos sob todas as formas e manifestações que assu- mem (linguísticas ou não), enfatizando especialmente a proprie- dade de convertibilidade recíproca entre os sistemas significantes que integram. Nas suas ramificações, a semiótica se preocupa com o estudo dos fenômenos culturais considerados como sistemas de signifi- cação, tenham ou não a natureza de sistemas de comunicação. Isso inclui práticas sociais, comportamentos simbologias etc. As- sim, a semiótica estuda, além da linguagem verbal, as significa- ções que podem ser atribuídas aos fatos da vida social concebidos como sistemas de significação: imagens, gestos, sons melódicos, elementos rituais, protocolos, sistemas de parentesco, mitos etc. Nas artes, a semiótica considera o estudo de fatos literários, cine- matográficos etc., vistos sob o prisma de sistemas de signos com suas peculiaridades formais. Vejamos a imagem abaixo: Fonte: Google imagens A imagem acima opera com o signo linguístico e o signo ícone, o coração, que, na nossa cultura, simboliza o amor: “I love New York” (= Eu amo New York). Nela observamos a propriedade de convertibilidade recíproca entre os sistemas significantes que a integram, o sistema visual e o sistema linguístico, que conspiram em conjunto para a construção da mensagem. Podemos, então, aceitar que a semântica é parte da semióti- ca. Enquanto aquela tem preocupação apenas com a linguagem verbal, esta se preocupa com todo e qualquer sistema de signifi- cação, levando em consideração, principalmente, a manifestação do seu aspecto formal. Sob esse prisma, pode-se falar de uma semiótica na linguagem verbal, principalmente quando levamos em consideração a iconicidade da linguagem, isto é, a relação entre a forma e o significado, que veremos adiante. 2. DeSignação, Significação e SentiDo O conteúdo semântico de uma palavra está intimamente re- lacionado a três aspectos: a designação, o significado e o sen- tido. Cada um esses aspectos extrai das palavras ou expressões um valor significativo, a partir de uma determinada perspectiva da linguagem. Semântica 26 a) Designação – são as relações entre os signos linguísticos e a realidade extralinguística. É a referência que traduz simboli- camente as coisas do mundo a partir de sua nomeação, para que possamos falar delas. Está relacionada ao saber elocucional, isto é, à linguagem como atividade humana universal, que revela o conhecimento do mundo, organizando-o em categorias reco- nhecíveis por nossas experiências. Os exemplos abaixo revelam nossa relação com o mundo através da linguagem, que projeta nosso ponto de vista sobre o mundo. “Sente-se na cadeira e leia o seu livro” “A porta está fechada.” (= A porta não está aberta.) b) Significação – são as relações entre os significados dos signos linguísticos. Aqui o conteúdo da palavra é estudado e encontrado no aspecto histórico e no plano da língua concreta, nas tradições comunitárias, isto é, está na gramática, no di- cionário. Dessa forma, está intimamente relacionada ao saber idiomático, ou seja, ao conhecimento da língua. Exemplo de um dicionário: “Ignomínia.[Do lat. ignominia] S. f. Grande desonra; opró- brio, infâmia.” (Dicionário Aurélio) c) Sentido – são os valores semânticos que uma palavra as- sume em um determinado contexto linguístico. Os dicionários dão diversos significados para uma mesma pala- vra, e o sentido é cada um dos significados que a palavra ou locução pode representar em situações diversas da atividade discursiva. Assim, o sentido de uma palavra encontra-se no plano do discurso, no nível textual; seu conteúdo semântico emana, portanto, no plano do texto. Está intimamente relacionado ao saber expressivo, ou seja, à capacidade individual de execu- ção do sistema linguístico, na busca da adequação do registro lingüístico ao propósito e ao contexto do processo de comuni- cação. Embora a palavra aqui apresente valores semânticos va- riáveis, seu conteúdo é sempre ancorado no significado básico da palavra: “O cientista fala em relatividade, no sentido da Física.” ”Qual o sentido de ‘bicho’ em “os jogadores reclamam do bicho?” 3. Significação DaS palavraS No léxico de uma idioma, observa-se a relação de significa- ção que as palavras podem manter entre si. Elas podem apresen- tar uma relação de sinonímia e antonímia, paronímia e homoní- mia, hiponímia e hiperonímia. 3.1 Sinonímia e antonímia As palavras podem ter sentido igual, aproximado ou podem apresentar sentidos opostos. a) Sinônimo – palavra ou expressão que tem a mesma signi- ficação ou significação aproximada de outra: clamar = bradar — extinguir = apagar, abolir b) antônimo – palavra ou expressão de significação oposta a outra. Formalmente, a oposição semântica pode ser feita de três maneiras: - através de heterônimos: feio x bonito — bom x ruim - com o acréscimo de um prefixo de negação: feliz x infeliz — leal x desleal - com a troca dos prefixos de sentidos opostos: emigrar x imigrar — amigo x inimigo As oposições podem ser formal ou discursiva: - oposição formal — colar x descolar (oposi- ção mórfica por derivação) - oposição discursiva - polarizada – nascer x morrer (noçõesextremas) - processual – viver x morrer (noções processuais) - temática – matar x morrer (noção agente/paciente) 3.2 Homonímia e paronímia A homonímia e a paronímia são conceitos semânticos ligados à forma e/ou à pronúncia da palavra. a) Homônimos – vocábulos que apresentam pronúncia e/ou grafia iguais, mas com sentido diferente. Podem ser: - homógrafos – apresentam grafia igual e pronúncia diferente: Colher – (/ê/) – verbo Colher – (/é/) – substantivo - homófonos – apresentam pronúncia igual e grafia diferente. Incipiente – principiante, iniciante Insipiente – ignorante, imprudente - homônimos perfeitos – apresentam grafia e pronúncia iguais. Lima – ferramenta Lima – verbo b) parônimos – São vocábulos parecidos na grafia e na pro- núncia, mas com sentidos diferentes. Deferir – dar deferimento, concordar Diferir – adiar, ser diferente 27 3.3 Hiperonímia e hiponímia Há palavras com significação mais abrangente e palavras com significação mais específica. Esse conceito de abrangência e espe- cificidade é o que define as noções de hiperonímia e hiponímia. a) Hiperônimo (ou superordenado) – é uma palavra cuja signi- ficação inclui o(s) sentido(s) de uma ou de diversas outras palavras. Animal é hiperônimo de gato, lebre, burro, cavalo etc. Fruta é hiperônimo de laranja, pera, maçã, morango etc. b) Hipônimo – é uma palavra de significação específica den- tro de um campo semântico abrangente: Sardinha, badejo, tubarão são hipônimos de peixe. Dermatologista e cardiologista são hipônimos de médico. O conceito de hiperonímia é muito importante para a estra- tégia de coesão referencial. É muito comum a utilização de um hiperônimo para a retomada de um hipônimo mencionado an- teriormente, como recurso para evitar repetições desagradáveis. O normal, portanto, é o hipônimo preceder o hiperônimo. Quan- do se inverte a ordem, o texto fica com sua clareza prejudicada, como se pode constatar nos exemplos: “Durante o jogo, o árbitro expulsou o zagueiro. O jogador agredira o adversário com socos e pontapés.” “Durante o jogo, o árbitro expulsou o jogador. O zagueiro agredira o adversário com socos e pontapés.” Nota-se que a primeira versão é mais aceitável que a segun- da. Nesta, não fica claro se o jogador em questão é o mesmo da segunda frase do enunciado. A regra geral, portanto é esta: o hipônimo precede o hiperô- nimo. Quando, porém, um hiperônimo, ou uma locução hipero- nímia precede uma enumeração, o hiperônimo deve preceder o hipônimo, como recurso de uma anunciação: “Danton já exerceu muitas profissões: feirante, carroceiro, garçom, faxineiro e, finalmente, professor.” O hiperônimo não pode retomar termos subentendidos e in- feríveis. O termo anaforizado tem que estar explícito antes, para evitar estranhamentos semânticos. “Fui à praia carioca considerada a melhor desse estado.” A palavra “estado” pode retomar “Rio de Janeiro”, mas não ”carioca”. Daí o estranhamento semântico. 3.4 campo semântico campo semântico é a área de associações entre signos, esta- belecida por similitude ou por contiguidade, tanto dos significantes quanto dos significados, associações motivadas por ideias, crenças e atitudes relativas às coisas. Assim, campo semântico é o campo de abrangência significativa em que se insere uma palavra. Observe que as palavras abaixo apresentam certa familiaridade de sentido por pertencerem à mesma área. Pertencem à mesma família ideológica. casa, lar, domicílio, habitação, vivenda, morada, etc. 4. poliSSemia polissemia é a pluralidade significativa que um mesmo sig- nificante apresenta. A polissemia está na multiplicidade básica de sentidos que uma palavra ou locução guarda em si mesma. pregar (um sermão) — pregar (fazer pregas na roupa) — pregar (um prego) Não confundir homônimos perfeitos com polissemia. Na polissemia as palavras têm os mesmos elementos mórficos; na homonímia os elementos mórficos são diferentes: lima (ferramenta) — lima (fruta) Nos casos acima, tem-se lim (radical) e a (vogal temática no- minal). Temos um caso de polissemia. Compare agora: lima (substantivo) — lima (verbo limar) No primeiro caso, tem-se lim (radical) e a vogal temática no- minal); no segundo caso, tem-se lim (radical) e a (vogal temática verbal da primeira conjugação). Temos um caso de homonímia. A polissemia é um fato da língua, ou seja, está na base da palavra em si, e é apresentada nos dicionários. Portanto não deve ser confundida com as variações semânticas que ocorrem em con- sequências contextuais, ainda que seja pelo contexto que conse- guimos definir com que sentido a palavra foi empregada. 5. ambiguiDaDe ambiguidade é a duplicidade de sentidos que pode haver em uma palavra, numa frase ou em um texto inteiro, em razão do contexto linguístico. A ambiguidade pode ser causada pela polissemia, pela homonímia, pela pontuação ou pela organização sintática da frase. “O guarda ouviu o barulho da janela.” 28 A ambiguidade é um elemento de perturbação de sentido, mas, quando bem empregada, pode ter significativo valor expres- sivo, como veremos adiante: “Se o seu problema é a vista, nós vendemos a prazo.” (Propaganda de uma ótica) 6. a iconiciDaDe Da linguagem iconicidade da linguagem é a relação entre a forma física do signo linguístico e o seu significado. Por exemplo a palavra “tique-taque” apresenta uma relação direta entre sua pronúncia e seu significado, o mesmo ocorrendo com “zumbido”, “cacare- jar”. Em “vaivém”, a iconicidade revela o movimento de ida e volta. O signo linguístico é naturalmente arbitrário. Isso quer dizer que não há uma razão lógica para que mesa se chame “mesa”. Tanto é verdade que mesa no idioma inglês é denominada “ta- ble” e em outros idiomas tem outras designações. Temos então na linguagem, em princípio, um grau de abstração e esquema- tização, orientadas por simples convenções semânticas. O signo icônico tem a capacidade de representar, por seme- lhança de formas, o mundo real. Assim, a iconicidade é o procedi- mento com o qual rompemos a arbitrariedade do significado do signo linguístico. Então, quanto maior o grau de iconicidade de um signo, tanto menor o seu grau de abstração ou esquematização. A iconicidade estreita a relação entre a Semântica e a Se- miótica. Nesse sentido, a forma da expressão linguística ganha relevância significativa e muito contribui para a construção do sentido textual, porque o conceito de iconicidade se estende, evidentemente, à forma de uma expressão, de uma frase ou de todo um texto. A extensão de um verso, uma inversão sintática, uma sequ- ência coordenativa ou subordinativa, o posicionamento de uma palavra, a diagramação de uma palavra ou expressão, o isola- mento de um sintagma podem ser determinantes para a cons- trução do sentido de um texto, estreitando a relação entre forma e sentido: “E zumbia, e voava, e voava, e zumbia” No verso acima, a forma da inversão sintática sugere o movi- mento desordenado do voo do inseto. O texto acima, pela forma, sugere o próprio epitáfio de que fala o título, determinando o sentido do texto. 7. o SentiDo DoS atoS De fala ato de fala ou ato de linguagem é qualquer enunciado efetivamente realizado por um determinado falante numa dada situação. É uma ocorrência linguística que estreita a relação entre a semântica e a pragmática. Todo ato de fala é dotado de uma significação, mas tratare- mos aqui de duas situações em particular que envolvem os atos de fala: o ato de fala ilocucionário e o ato de fala perlocucionário. O ato de fala ilocucionário é aquele que realiza uma ação pela linguagem. A explicitação dessa ação é realizada pelos ver- bos performativos – verbos que denunciam o que se faz com a linguagem:prometer, dizer, afirmar, perguntar, declarar, conde- nar, negar etc.: “Eu vos declaro marido e mulher.” “Eu prometo que não vou trair você.” Essas frases não são proposições sobre uma declaração e uma promessa. Elas são a própria declaração, a própria promessa, realizam a ação que nomeiam. O ato de fala perlocucionáro é aquele destinado a exer- cer certos efeitos de sentido sobre o interlocutor: assustá-lo, acalmá-lo convencê-lo, persuadi-lo, agradá-lo etc. Como não se pode dizer “Eu te assusto!” e realizar a ação de assustar, o enunciador enuncia algo que busca produzir no interlocutor uma determinada reação: “Fumar causa impotência sexual.” “Você seria muito feliz ao meu lado!” As frases acima buscam persuadir o interlocutor a tomar uma atitude favorável ao enunciador. 29 EXERCÍCIOS DE AULA texto para as questões de 01 a 05. texto i SinaiS De viDa e morte no planeta verDe A ocupação da Amazônia tira o sono do mundo, mas é um desafio do qual os brasileiros não podem escapar. “O homem está aqui para o bem do homem.” (Albert Einstein) Nas vésperas de inaugurar com orgulho da raça seu ter- ceiro milênio cristão e o centésimo da espécie, a humanidade descobriu um novo mundo aparentemente hostil, o planeta ver- de da Amazônia brasileira. A opinião pública mundial eletrizou com as afirmações de que as entranhas da Amazônia ardiam em chamas, um fogo capaz de gerar com suas labaredas fuma- ça suficiente para fazer cair sobre a Terra um castigo bíblico, o aquecimento irreversível de sua superfície num verão tórrido e perpétuo. A aldeia global convenceu-se de que o inferno verde existe aqui e agora no Brasil e de que só uma campanha inter- nacional pode salvar o pulmão do mundo de seus agressores, as queimadas e os desmatamentos. Essa imagem, a de um gigante ameaçador que engole florestas e cospe fogo, correu o mundo. Feita de brumas, ela é apenas uma ilusão perversa e exagerada que esconde uma realidade complexa. Esconde as batalhas pela vida empreendidas por uma civilização de brasileiros que, “de- pois de vagar por ali três séculos numa agitação tumultuária e estéril” – como escreveu Euclides da Cunha -, começa a apren- der a conciliar a preservação com o progresso. (Veja - 5 de julho de 1989) 01. (AFA) Associando o texto à tirinha abaixo, só se pode inferir que: a) as queimadas e os desmatamentos são a principal causa de destruição das florestas. b) ambos os textos são pessimistas: aquele por suas figuras de linguagem se referindo à Amazônia sempre de forma negati- va; este pela fala amedrontada do fantasminha. c) o objetivo principal desses textos é conscientizar a população da necessidade de preservar a natureza. d) o homem da tira representa os brasileiros que “depois de vagar por ali por três séculos começa a aprender a conciliar a preservação e o progresso.” 02. A tirinha apresentada na questão anterior reúne aspectos se- mânticos e semióticos. Assinale a análise improcedente a res- peito dela: a) O vocativo “DONA MORTE” só é perfeitamente compreen- dido a partir da convertibilidade recíproca entre os sistemas significantes que integram o sentido do texto. b) O elemento dêitico “ali” encontra sua plenitude semântica na imagem visual. c) As árvores cortadas denunciam o fato em si e não transgri- dem os limites da obviedade da imagem. d) O olhar explícito do fantasminha e da morte pode ser in- terpretado como uma oposição à ocultação do olhar do lenhador. 03. Considerando o aspecto semiótico da tirinha da 1ª questão, assi- nale o que não contribui efetivamente para a construção de sen- tido do texto: a) O fato de a morte e o fantasma não serem humanos. b) O aspecto musculoso e a força física do lenhador. c) O movimento determinado do lenhador. d) O formato da foice da morte e do machado do lenhador. 04. Identifique a análise discursiva que não se pode admitir da tirinha da 1ª questão: a) O texto aciona pelo aspecto mítico a memória discursiva do leitor. b) Como um todo, o texto é um ato discursivo perlocucioná- rio, pois busca provocar no leitor um determinado efeito de sentido. c) A desolação da imagem ícone da paisagem reflete um ponto de vista crítico do enunciador do texto. d) O texto explicita uma intenção mítico-religiosa, extraída das crenças da comunidade cultural em que ele se manifesta. 05. (AFA) Assinale a alternativa em que ocorre alteração no significado da expressão, de acordo com o texto, devido à reescritura proposta. a) “... a humanidade descobriu um mundo novo apare temente hostil...” b) “Feita de brumas, ela apenas é uma exagerada perversa ilu- são... “ c) “... o verde planeta da Amazônia brasileira.” d) ... um castigo bíblico, o irreversível aquecimento de sua su- perfície num verão tórrido e perpétuo.” 30 06. (AFA) Considerando a relação semântica, relacione a 1ª coluna com a 2ª e, a seguir, assinale a alternativa com a sequência correta. coluna 1 ( 1 ) Volúpia da especulação ( 2 ) Patrimônio natural amazônico ( 3 ) Reservas florestais ( 4 ) Especuladores globais coluna 2 ( ) Conservação da fauna e flora. ( ) Desejo avultado de exploração. ( ) Exploração das reservas do planeta. ( ) Reconhecimento da floresta como bem tombada para usu- fruto dos cidadãos. a) 3-1-4-2 b) 4-2-3-1 c) 1-4-2-2 d) 2-1-4-1 07. Leia o fragmento abaixo do poema “Pedido”, de Gonçalves Dias: Ontem no baile Não me atendias! Não me atendias, Quando eu falava. De mim bem longe Teu pensamento!! Teu pensamento, Bem longe errava. Eu vi teus olhos Sobre outros olhos! Sobre outros olhos, Que eu odiava. Sobre a construção formal e linguística do poema, só não pode- mos afirmar: a) A palavra “baile” encontra apoio semântico na iconicidade do poema. b) A repetição dos dois versos centrais de cada estrofe tem va- lor icônico considerável na construção de sentido do texto. c) A repetição dos dois versos centrais em cada estrofe funciona como uma amplificação do estado emocional do eu-lírico. d) Há uma dissonância entre o ritmo do poema e o sentido do verso “Bem longe errava.” 08. (AFA) Leia: I - “A parança que foi – conforme estou vivo lembrado – numa vereda sem nome nem fama, corguinho deitado demais de água muito simplificada.” II - “... penetrar no universo do grande sertão é trilhar as veredas da poesia e, com Riobaldo propor-se grandes questionamentos.” III - “Após a batalha os jagunços pararam para descansar num curso d’água orlado de buritis.” Observando as relações entre as expressões grifadas é correto afirmar que ocorre: a) homonímia entre I e II e antonímia entre I e III. b) polissemia entre I e II e sinonímia entre I e III. c) paronímia entre I e II e homonímia entre I e III. d) homonímia entre I e II e sinonímia entre II e III. 09. (AFA) I - “O velho coronel entregou papel e pena ao rábula e ordenou que este desancasse sem pena a vida pregressa do antigo desafeto.” II- “E há finas mãos pensativas entre galões, sedas, rendas, e há grossas mãos vigorosas...” III - “Atrás das portas fechadas, donzelas indefesas e senhoras indefessas bordavam a bandeira da Inconfidência.” Os pares grifados são, respectivamente, exemplos de: a) sinonímia, sinonímia e antonímia. b) sinonímia, antonímia e homonímia. c) polissemia, antonímia e antonímia. d) polissemia, antonímia e paronímia 10. (ITA adaptado) Leia este diálogo entre pai e filha, extraído da tira de Miguel Pai- va, GATÃO DE MEIA-IDADE, publicada no jornal O Estado de São Paulo, de 11/8/1999, e responda à questão seguinte: gatão De meia-iDaDe — Pai, tenho uma notícia. Você vai brigar comigo? — Depende... — Isso aí... Fiquei em dependência na prova final de Mate- mática.Escreva a(s) palavra(s) que desencadeia(m) o efeito cômico, e ex- plique como se dá esse efeito. 31 nOtaS 32 gabarito exercícioS De aula 01. A Pelas informações identificadas nos textos, as queimadas e o desmatamento são a principal causa da destruição das florestas, fato que se pode comprovar em “só uma campanha internacional pode salvar o pulmão do mundo de seus agressores, as queima- das e os desmatamentos.” (texto I) e “parece que aquele macha- do é mais perigoso que a sua foice” (tirinha). 02. C A imagem das árvores cortadas não só denunciam o fato em si como também atesta a falta de solidariedade causada pela insen- sibilidade e pela ganância do homem. 03. D O formato da foice e do machado são apenas a designação gráfi- ca de instrumentos de cortes. 04. D Não há no texto qualquer forma de pregação religiosa. As ima- gens da morte e do fantasma são elementos alegóricos empre- gados como contraponto entre a condição não-humana e a con- dição humana. 05. B A expressão “apenas”, ao ser deslocada, passa a referir-se ao pro- nome “ela” e não ao predicativo, como antes. 06. A O valor semântico das assertivas condiciona a ordem a ser esta- belecida. 07. D O sentido do verso “Bem longe errava” se integra no ritmo do po- ema, pois caracteriza os devaneios do pensamento da dançarina no ritmo da valsa. 08. D Entre as afirmativas I e II há uma polissemia que ocorre por deri- vação figurada; entre I e III há uma sinonímia, pois em ambas “ve- reda” e curso d’água são tomados com o mesmo sentido: trajeto que a água faz em uma corredeira. 09. D Na afirmativa I, a palavra pena tem dois sentidos; na afirmativa II “finas” e “grossas” têm sentidos opostos; na afirmativa III “inde- fesas” (sem defesa) e “indefessas” (incansáveis) são parônimos. 10. O trocadilho entre “depende” e “dependência” na prova fi- nal de Matemática desencadeia o humor da tira, uma vez que, sutilmente, a menina quis dizer ao pai que havia sido reprovada. 33 1. A PAdronizAção dA LinguAgem A língua é patrimônio cultural de uma comunidade social. Portanto, não podemos falar de qualquer jeito, sem considerar que existe um padrão previsível para nossas expressões linguísti- cas, sob pena de não nos fazermos entender. Essa previsibilidade acaba por automatizar nossa forma de expressão, de modo que usamos a linguagem sem nos darmos conta de que seguimos um modelo organizado que incorporamos ao longo da nossa forma- ção cultural. O que regula as leis naturais da fala e sustenta a organização da nossa linguagem é a gramática, isto é, o sistema linguís- tico, o conjunto coerente de oposições e associações entre as unidades, a estrutura que propriamente constitui a língua naqui- lo que ela tem de mais reconhecidamente espontâneo, segundo uma forma legitimada pela habitualidade do seu uso e pelo reco- nhecimento dos seus usuários. Usando a linguagem em função meramente referencial, informativa, dentro dos padrões previstos pela gramaticalidade do idioma, não despertamos atenção sobre ela, porque ela se apresenta dentro de um modelo em que as referências estão es- tabilizadas e as formas de expressão automatizadas. Isso põe em plano secundário a forma de construção, a parte significante da linguagem, em proveito dos sentidos. Para restabelecer sua vi- sibilidade e chamar atenção sobre as operações que realizamos com a linguagem na construção dos sentidos, a palavra precisa superar o papel de mera coadjuvante da comunicação e se impor à atenção do leitor/ouvinte em outra dimensão: o estilo. 2. o estiLo A palavra Estilo deriva do latim stilus, “haste de planta”, “fer- ro pontudo com que os antigos escreviam nas tábuas enceradas”. Por extensão, “maneira ou arte de escrever, de falar”. Mas a evo- lução dos conceitos tomou variações que nos conduzem a noções distintas, dependendo do modo como cada escritor ou teórico interpreta a arte de escrever ou falar. Dentre as tantas definições e considerações, reduzidas ao seu denominador comum, consideramos a de Pierre Giraud, uma definição bastante ampla, que engloba os vários aspectos que devem ser considerados no confronto com o texto – “estilo é o aspecto do enunciado que resulta da escolha dos meios de ex- pressão determinada pela natureza e as intenções do indivíduo que fala ou escreve”. Em outras palavras, estilo é a maneira típica pela qual nos exprimimos linguisticamente, individualizando-nos em função da nossa linguagem. Isso nos leva a crer que todo texto tem um estilo, porque todo texto apresenta uma linguagem que é produto de um indi- víduo que a constrói. Mas dentro do conceito de previsibilidade da linguagem, esse estilo é comum e não desperta atenção, por- que acaba por se neutralizar em razão da significação do texto. Por conta disso, o estudo do estilo se volta para os textos cuja linguagem promove um desvio da normalidade, ou seja, textos considerados estilisticamente marcados. A esse estudo, ao estudo do estilo propriamente dito, denominamos Estilística. 3. A estiLísticA estilística é o ramo da linguística que estuda o estilo, os recursos da linguagem e seus efeitos expressivos, visando ao au- mento do rendimento da mensagem. A Estilística se preocupa, portanto, com os procedimentos da linguagem que chamam a atenção pela sua forma de estruturação. Há uma relação entre a Estilística e a construção do sentido, baseada na premissa de que aquilo que um texto significa é modelado pelas manifestações linguísticas – de ordem léxica, gramatical, fonética, gráfica e rít- mica – feitas por seu enunciador. Em um contexto comunicativo, dois enunciados podem se re- portar à mesma experiência a ser comunicada; um deles pode fazê- lo de forma previsível, neutra ou banal, o outro pode distinguir-se justamente por chamar a atenção do leitor/ouvinte, em virtude de suas particularidades formais. Dizemos então que um texto de lin- guagem previsível, neutra ou banal é um texto estilisticamente não marcado, e que um texto particularizado pelo traço formal é estilisticamente marcado pela expressividade da linguagem. Estilística i 34 A expressividade é uma noção correlata a outras três – norma, desvio e escolha. A norma é o padrão linguístico reco- nhecido pelo seu uso habitual, o desvio constitui a originalidade em relação a uso padronizado do idioma, e a escolha se relaciona à preferência do enunciador ao selecionar as palavras e ao modo de estruturar a frase segundo a intenção comunicativa, de um enunciador, seja ela afetiva ou estética. A consideração da norma se estabelece a partir do uso de marcas formais que se representam no idioma mais conformes ao valor de base, pelas quais a forma é “naturalmente” reconhecida. Como há vários modos de expressão para uma mesma ideia, a es- tilística considera o conceito de desvio a partir do afastamento da “normalidade”, ou seja, do que é mais frequentemente utilizado. Convencionalmente, os signos linguísticos possuem um sen- tido de base ou denotação que propicia o intercâmbio das ideias numa comunidade cultural. Mas os signos linguísticos fazem mais do que “propiciar o intercâmbio das ideias”; eles são, também, meios de expressão de certos aspectos do psiquismo humano. A esta face do signo chamamos conotação. Ela agrega à signifi- cação uma camada informacional suplementar, sustentada pelos efeitos da expressividade do estilo. O conceito de expressividade pelas vias da conotação se cor- relaciona com a noção de escolha. O código linguístico é um siste- ma de signos multifacetados. Isso implica que um mesmo conceito pode ser referido de modos diversos, através de estruturas idiomá- ticas que veiculam as mesmas denotações, mas que atualizam no discurso conotações variáveis. Isso possibilita ao locutor, no nível da sua competência linguística, umaseleção ou escolha de palavras e formas que expressem não somente seu pensamento mas também sua sensibilidade e a adequação ao tema, à finalidade do ato de comunicação e ao contexto no qual ele se realiza. A operação que envolve a seleção e a combinação funcional dos signos, a partir dos recursos disponíveis no idioma, dá especificidade à forma do discur- so e, confere a ele o que se denomina linguisticamente estilo. As criações estilísticas podem se manifestar com dois propó- sitos, de acordo com as intenções do enunciador: expressando os aspectos afetivos na linguagem – estilística da afetividade – ou revelando intenções estéticas pela forma de construção do texto – estilística literária. Mas não há uma fronteira rígida entre elas. 4. recursos estiLísticos Todo texto deve apresentar a forma que convém às intenções de quem o enuncia. Segundo este postulado, a linguagem de um texto não é uma mera roupagem de um conteúdo, mas a única pos- sibilidade de que esse conteúdo “se apresente” ao leitor. Isso pro- voca uma variação da modalidade da linguagem, em consonância com as funções que a ela atribuímos no processo da comunicação. Sob esse prisma, podemos reconhecer três modalidades lin- guísticas que se relacionam com os objetivos dos seus usuários: a linguagem intelectiva, a linguagem afetiva e a linguagem estética. Não existem fronteiras bem definidas entre essas mo- dalidades, mas é possível estabelecer alguns princípios básicos capazes de caracterizar a predominância de uma delas. A linguagem intelectiva liga-se a uma referencialidade racio- nalmente concebida, isto é, realizada sob os domínios da lógica e da razão, tendendo a uma objetividade marcada pela neutralidade do falante diante do fato ou objeto que lhe serve de referência. A linguagem intelectiva a base da função referencial da linguagem. A linguagem afetiva apresenta-se sob uma forma capaz de re- forçar a expressão das emoções humanas: simpatia, paixão, euforia, entusiasmo etc., despertados pelas ideias enunciadas. Nela, o uso da língua deixa transparecer, por meio de certas formas, os meios pelos quais o sistema impessoal da língua é convertido em expressões de sentimentos. A linguagem estética passa por uma elaboração que visa a um efeito impressivo provocado pelas formas criativas da linguagem com finalidade artística. Nesta modalidade, a forma de linguagem obedece à estrutura interna do texto, e sua finalidade é garantir a autonomia que confere ao texto um valor poético, sobre o qual recai um olhar de apreciação estética. No texto poético, a linguagem não vale tanto pelo que ela proclama; vale pela sua forma, pelo que pro- vocar esteticamente no espírito do leitor/ouvinte. Isso significa que a sua função referencial se submete aos arranjos que caracterizam a função poética da linguagem. Os valores afetivos e estéticos da linguagem são realçados pelos procedimentos de sua organização – os recursos estilísticos. Esses recursos são procedimentos semânticos, mórficos, sintáticos, fônicos, rítmicos, icônicos, pragmáticos etc., que amplificam o sentido da fra- se e fazem do “modo de dizer” a pedra de toque da expressividade afetiva ou estética de um texto. Assim, temos as seguintes áreas de atuação da Estilística, consi- derando os efeitos da expressividade linguagem em cada uma delas: a) estilística da palavra - leva em consideração dois tipos de fatos: os de natureza morfológica e os de natureza semântica da palavra. b) estilística sintática – procura seus efeitos na organiza- ção sintática da frase, considerando as concordâncias, as regên- cias e as colocações sintáticas. c) estilística cognitiva – parte da relação da palavra com o mundo, observando as distorções entre o que se diz e a realidade. d) estilística fônica - tem seu ponto de partida da noção de fonética expressiva. Sua tarefa é inventariar os procedimentos fônicos que a língua oferece para realçar a expressividade da linguagem. 4.1 Polissemia estilística A Polissemia constitui a pluralidade significativa de um mesmo significante. Em uma linguagem ideal, cada signo desig- naria uma coisa apenas. Mas, como uma língua expressa ideias, sentimentos e desejos que perpassam a subjetividade de quem a usa, não é de se estranhar que, em determinada situação, uma palavra possa exprimir mais de um sentido. Como empregamos a linguagem sempre ancorada em uma certa situação discursiva, a polissemia deveria desaparecer no contexto, que especifica a significação do signo no processo co- municativo. Entretanto isso nem sempre acontece, provocando a ambiguidade – duplicidade de sentido –, que interfere na com- preensão do texto em consequência da falta de clareza de sentido 35 do enunciado, tornando-o defeituoso no que diz respeito à sua cognição, isto é, a percepção da realidade. A frase: “O transeunte assistiu ao incêndio do prédio.” tem seu sentido perturbado pela ambiguidade: o transeunte viu o prédio incendiando ou o prédio era o lugar de onde ele assistiu ao incêndio? A ambiguidade estilística tem valor especial, porque ela consti- tui um fator de enriquecimento semântico e não se conforma como um elemento perturbador do sentido da mensagem. Isso ocorre em particular nos textos publicitários e nos textos poéticos, onde, a rigor, não se apreende o sentido com uma noção de exclusão que eliminaria a ambiguidade perturbadora da mensagem (isto ou aquilo?). Ao contrário, a ambiguidade deve ser preservada para a captação da funcionalidade do duplo sentido (isto e aquilo). Vejamos esta publicidade da indústria fonográfica: “No dia dos namorados, dê disco – um presente que toca.” Nela, a forma verbal “toca” significa, em primeiro plano, a execução da música gravada no disco; em segundo plano, tocar a sensibilidade do namorado com o presente. Chamando a atenção do leitor para a própria forma da mensagem, o enunciador busca concentrar o interesse do receptor sobre o produto anunciado, visto que, pela polissemia, um dos sentidos possíveis focaliza tal produto, e o outro sentido é uma informação suplementar que amplifica o sentido do discurso. Tomemos esta passagem de Fernando Pessoa: “Navegar é preciso, viver não é preciso.” Observa-se que a forma verbal “preciso” pode ser interpretada com o sentido de ter necessidade ou de ter precisão. Por um lado, sugere-se que, para os navegadores históricos portugueses, nave- gar é mais importante do que a própria vida; por outro, valoriza-se a precisão de navegar em oposição à incerteza da vida. Por essas razões, em vez de a ambiguidade ser um defeito, ela constitui, nos textos estilisticamente marcados, um desafio à capa- cidade do leitor para a apreensão da multiplicidade de sentidos e dos efeitos que ela executa. Por isso mesmo, o discurso literário, em particular, se conforma como uma linguagem plural, o que faz dele uma obra aberta. Não é por outra razão que Umberto Eco descreve a ambiguidade como um “artifício muito importante, porque fun- ciona como vestíbulo da experiência estética”. 4.2 Paralelismo e estilística Linguisticamente, paralelismo é a correspondência ou sime- tria entre duas ideias, estruturas linguísticas ou textuais coorde- nadas numa sequência enunciativa. Além de manter as noções de coerência e coesão o princípio do paralelismo pode contribuir para o rendimento expressivo do texto. O paralelismo pode ser sintático, semântico ou rítmico. a) Paralelismo semântico é a perfeita correlação entre as ideias coordenadas, considerando o aspecto lógico-semântico na frase. Os elementos coordenados devem pertencer ao mesmo campo cognitivo para a garantia da correlação de sentido do texto: “Ana tem dois carros: um nacional e outro importado.” b) Paralelismo sintático é a perfeita correlação na estru- turação sintática da frase. Os elementos
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