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IESDE BRASIL S/A
2017
Semântica e estilística
Claudio Cezar Henriques
Todos os direitos reservados.
IESDE BRASIL S/A. 
Al. Dr. Carlos de Carvalho, 1.482. CEP: 80730-200 
Batel – Curitiba – PR 
0800 708 88 88 – www.iesde.com.br
Capa: IESDE BRASIL S/A.
Imagem da capa: klikk/istockphoto
CIP-BRASIL. CATALOGAÇÃO NA PUBLICAÇÃO 
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ
H449s Henriques, Claudio Cezar
Semântica e estilística / Claudio Cezar Henriques. -- 1. ed. -- 
Curitiba, PR : IESDE Brasil, 2017. 
188 p. : il. 
Inclui bibliografia
 ISBN: 978-85-387-6327-7
1. Semântica. 2. Linguística. 3. Língua portuguesa. I. Título.
17-41306 CDD: 401.43CDU: 81’37
© 2009-2017 – IESDE BRASIL S/A. É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito 
dos autores e do detentor dos direitos autorais.
Apresentação
Nos estudos de Língua Portuguesa dedicamos uma boa parte do 
tempo aos conteúdos tradicionais da gramática, em especial a sintaxe, 
a morfologia e a fonologia. Além disso, temos sempre de nos atualizar 
quanto às questões da ortografia, fazer muitas leituras e redações. É, em 
suma, um grande aprendizado.
Quando juntamos todas essas informações e refletimos seriamente 
sobre nossa vida escolar, podemos fazer um balanço dos proveitos que 
tanto estudo nos trouxe. As aulas e as orientações devem ter deixado em 
cada um de nós a certeza de que estamos mais conscientes de nosso papel 
na sociedade e de nosso compromisso com a língua portuguesa.
De todas as ferramentas aprendidas após tantas aulas, as duas que 
fazem parte deste livro se sobressaem: a ferramenta estilística que se re-
fere à pragmática e a ferramenta semântica. Elas sintetizam, ou melhor, 
elas sublimam tudo que se estudou nas muitas disciplinas dos estudos 
linguísticos, desde as primeiras letras até estas Letras superiores.
A ciência da expressividade e a ciência das significações. Ambas 
percorrem este volume, chamando de volta aquelas aulas, pesquisas e 
conteúdos gravados nas nossas lembranças – e agora mais repisados, 
amadurecidos, disponíveis para uso e para uma mudança de posição no 
ato de aprender e ensinar.
A Estilística e a Semântica – o leitor confirmará – são disciplinas da 
vida acadêmica e da vida real, levando-nos em busca de um lugar expres-
sivo e significativo, compelindo-nos ao entendimento e à explicação, à 
indagação, cogitação, novas sendas filológicas, pragmáticas, discursivas.
Na estrutura deste livro, optamos por trabalhar em conjunto, sem-
pre que possível, o binômio estilística/semântica. Embora as separemos 
didaticamente na organização dos capítulos, uma e outra estarão muito 
perto nas explicações, comentários e propostas de atividades, imbrican-
do-se nos dois últimos capítulos, quando tratamos das características do 
texto ficcional e fazemos dele a matéria incisiva para a aplicação dos estu-
dos semântico-estilísticos.
Carpe librum!
Sobre o autor
Claudio Cezar Henriques
Pós-Doutor em Letras pela Universidade de São Paulo (USP); Doutor 
em Letras pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ); Mestre 
em Letras pela Universidade Federal Fluminense (UFF); Licenciado e 
Bacharel em Letras pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
6 Semântica e estilística
SumárioSumário
1 Estilística, a ciência da expressividade 9
1.1 A palavra “estilo” 9
1.2 As origens da Estilística 10
1.3 Principais correntes da Estilística 12
1.4 Aplicações da Estilística aos estudos do Português 15
2 Estilística fônica 23
2.1 Distinção entre letra e fonema 23
2.2 Expressividade das vogais e das consoantes 25
2.3 Relações expressivas entre a fala e a escrita 28
2.4 Figuras de linguagem 29
3 Estilística léxica 37
3.1 Conceituação de léxico 37
3.2 Palavras lexicais e palavras gramaticais 39
3.3 Neologismos lexicais e semânticos 41
3.4 Figuras de linguagem 43
4 Estilística sintática – I 53
4.1 Conceituação de sintaxe da frase 53
4.2 Organização das palavras na oração 56
4.3 Extensão das frases 58
4.4 Referenciação intrafrásica 59
4.5 Figuras de linguagem 61
5 Estilística sintática – II 67
5.1 Conceituação de sintaxe do período 67
5.2 Organização das orações (no período) 69
5.3 Referenciação interfrásica 71
5.4 Figuras de linguagem 74
Semântica e estilística 7
SumárioSumário
6 Estilística da enunciação 81
6.1 Adequação sintática e adequação semântica 82
6.2 As pessoas do discurso e as pessoas gramaticais 85
6.3 Tipos de discurso 87
7 Semântica, a ciência das significações 97
7.1 Significante e significado 97
7.2 Principais correntes da Semântica 99
7.3 Semântica do texto e do contexto 102
8 Relações Semânticas – I 111
8.1 Noções de Lexicologia, Lexicografia e Terminologia 111
8.2 Dicionários gerais e específicos 112
8.3 Sinonímia e antonímia 117
8.4 Homonímia e paronímia 118
9 Relações Semânticas – II 123
9.1 Campos associativos, conceituais e semânticos 123
9.2 Hiperonímia e hiponímia 125
9.3 Antonomásia e eponímia 128
10 Relações Semânticas – III 139
10.1 Paráfrase 139
10.2 Perífrase 142
10.3 Ambiguidade e polissemia 144
11 Características do texto ficcional 155
11.1 Ficção e verossimilhança 155
11.2 Narratividade, descritividade e argumentatividade 158
8 Semântica e estilística
Sumário
12 Estudo semântico-estilístico de texto ficcional 169
12.1 Digressão 169
12.2 Intertextualidade 173
12.3 Estilística aplicada ao texto ficcional 176
Semântica e estilística 9
1
Estilística, a ciência da 
expressividade
O objetivo deste capítulo é conceituar os termos estilo e estilística e destacar a 
importância dos estudos estilísticos para a compreensão do funcionamento da língua 
portuguesa.
1.1 A palavra “estilo”
O termo estilo (registrado pela primeira vez em nossa língua no século XIV) pro-
vém do latim stilus: “qualquer objeto em forma de haste pontiaguda, ponteiro de ferro 
para escrever sobre tabuinhas enceradas”, definição que reúne as informações de 
duas obras homônimas, o Dicionário Etimológico da Língua Portuguesa, de J. P. Machado 
(1977), e o de A. Nascentes (1955).
De instrumento empregado para escrever, passou a significar, por um processo 
metonímico, a própria escrita e, depois, a linguagem considerada em relação ao que 
ela tem de característico. Por fim, expandindo seu campo de significação, estilo pas-
sou também a representar qualquer conjunto de tendências e características formais, 
estéticas, que identificam ou distinguem uma obra, artista, escritor, ou determinado 
período ou movimento, ou até mesmo um objeto.
Daí, é possível encontrarmos essa palavra acompanhada de muitas e variadas refe-
rências (poema em estilo parnasiano; móvel em estilo colonial; atriz com um estilo 
afetado; filme no estilo europeu) e, genericamente, como sinônimo de “maneira” e 
“elegância” (esse é o meu estilo de vida; ela não tem estilo).
Estilística, a ciência da expressividade1
Semântica e estilística10
Figura 1 – Estilo.
Estilo: qualquer obje-
to em forma de haste 
pontiaguda, ponteiro de 
ferro para escrever sobre 
tabuinhas enceradas.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Dessa palavra deriva, por exemplo, o substantivo estilete: utensílio com lâmina móvel 
e bastante afiada, protegido por invólucro de plástico, usado para cortar papelão, couro, 
borracha etc. Deriva também o substantivo estilística, tema que se aplica a variados campos 
de estudo, inclusive aos estudos linguísticos e literários.
Nos estudos de língua, pode-se definir estilo como o modo pelo qual um indivíduo usa 
os recursos fonológicos, morfológicos, sintáticos, lexicais, semânticos, discursivos da língua 
para expressar, oralmente ou por escrito, pensamentos, sentimentos, opiniões, etc.
Ou seja: nos estudos de língua portuguesa... estilo é escolha linguística. Essa escolha 
depende da capacidade e sensibilidade de cada usuário de responder a estas perguntas:
– O que tem a dizer?
– Para quem vai dizer?
– Como vai dizer?
– Quando vai dizer?
Por isso, não é exagero afirmar que:
• Quem não tem o que escolhernão tem estilo... Tem cacoete.
• Quem tem o que escolher, mas escolhe mal, também não tem estilo... Tem mau gosto.
1.2 As origens da Estilística
As definições de Estilística variam conforme o recorte teórico a que pertence o analista, 
mas não se pode negar que sua existência tem uma conexão histórica e semântica com a Poética 
(enquanto “teoria geral das obras literárias”) e a Retórica (enquanto “teoria do discurso”).
As definições que seguem foram extraídas do Dicionário Houaiss:
• Poética – parte dos estudos literários que se propõe a investigar os processos que 
dizem respeito às normas versificatórias dos textos, os componentes teóricos de 
que se revestem, bem como os compêndios de poética que, desde Aristóteles até 
os nossos dias, abordaram o assunto (HOUAISS, 2004).
• Retórica – a arte da eloquência, a arte de bem argumentar; a arte da palavra; con-
junto de regras que constituem a arte do bem dizer, a arte da eloquência; oratória 
(HOUAISS, 2004).
Estilística, a ciência da expressividade
Semântica e estilística
1
11
A Estilística se baseia sobretudo em duas das três funções primordiais da linguagem 
depreendidas pelo alemão Karl Bühler (1879-1963): representação, expressão e apelo (BÜHLER, 
1934). A elas correspondem, respectivamente, as faculdades de inteligência, sensibilidade e 
desejo ou vontade, centrando-se a Estilística na expressão e no apelo.
Quadro 1 – As funções da linguagem segundo Karl Bühler.
• representação linguagem referencial denotativa
eixo sintagmático
(= posição no texto)
• expressão exteriorização psíquica de nossos anseios e sentimentos
denotativa /
conotativa
eixo paradigmático
(= posição no sistema)
• apelo exercício de influência sobre os interlocutores
denotativa /
conotativa
eixo paradigmático
(= posição no sistema)
Fonte: Elaborado pelo autor.
Exemplos:
1. “Jornalista é a pessoa que trabalha como redator, repórter, colunista ou diretor em ór-
gão da imprensa, ou programa jornalístico no rádio ou na televisão.” (HOUAISS, 2004)
2. “Jornalista é um homem que sabe explicar aos outros o que ele próprio não enten-
de.” (CARPEAUX, 1967)
3. “Jornalista, você tem uma missão importante na sociedade.” (Chamada publicitária)
Na prática, essas três funções se integram, tanto no texto informativo quanto no literá-
rio, embora possa ocorrer o predomínio de uma ou de outra, dependendo do gênero textual 
ou do tipo de discurso. Nas três frases dadas, cada uma exemplifica uma das funções do 
quadro, na ordem.
Seguindo o esquema das funções da linguagem de Karl Bühler, a Estilística é – como 
dissemos – a disciplina que estuda a língua nas suas funções expressiva e apelativa. Seu 
criador, Charles Bally (1865-1947), “pretendeu chamar a atenção para o lado afetivo do dis-
curso”, como explica Melo (1976, p. 16). Outros teóricos, sobretudo Karl Vossler (1872-1949) 
e Leo Spitzer (1887-1960), apontaram para uma linha diversa da Estilística.
Enquanto Bally, discípulo de Ferdinand de Saussure (1857-1913), buscava estudar a lín-
gua como expressão do pensamento que reflete determinada afetividade nos atos da fala, 
Vossler e Spitzer optaram por estudar as relações entre expressão e indivíduo. Podemos dizer 
que são duas concepções excludentes: uma centrada na langue (a de Bally), outra na parole.
Dessas duas origens depreendem-se obviamente dois perfis de comentários estilísticos: 
um que se aproxima, comparativa e contrastivamente, da gramática descritiva; outro que 
dela se afasta para se aproximar dos estudos específicos de literatura, e que chegou a ser 
chamado de Estilística genética. Com o passar do tempo, cada perfil foi recebendo adesões 
e adaptações, variantes de abordagem que percorreram vertentes estatísticas, estruturais, 
semióticas, psicanalíticas, sociológicas.
Estilística, a ciência da expressividade1
Semântica e estilística12
1.3 Principais correntes da Estilística
As duas grandes vertentes da Estilística são chamadas de “descritiva” e “idealista” e 
têm como principal diferença o enfoque dado ao objeto de seu estudo, ou seja, o texto.
1.3.1 A Estilística descritiva (Estilística linguística)
A Estilística descritiva volta-se para os aspectos afetivos da língua, os quais estão a 
serviço do homem de forma viva, espontânea, porém sujeitos a um sistema expressivo que 
pode ser descrito e interpretado.
Para exemplificar, vejamos uma frase citada por José de Alencar (1829-1877) no 
“Posfácio” de Iracema como expressão bem popular de sua terra:
4. “A mãe diz do filho que acalentou ao colo: Está dormindinho.”(ALENCAR, s.d., p. 273)
O vocábulo “dormindinho” não é o diminutivo de “dormindo”, mas uma forma nomi-
nal do verbo acrescida da ideia de afetividade e carinho expressada pelo sufixo -inho, assim 
interpretada estilisticamente pelo escritor cearense: “Que riqueza de expressão nesta frase 
tão simples e concisa! O mimo e ternura do afeto materno, a delicadeza da criança e sutileza 
do seu sono de passarinho, até o receio de acordá-la com uma palavra menos doce; tudo aí 
está nesse diminutivo verbal.” (ALENCAR, s/d, p. 273).
Nos estudos de língua portuguesa, podemos citar algumas obras que seguem essa cor-
rente, entre as quais merecem menção:
• Manuel Rodrigues Lapa – Estilística da Língua Portuguesa (1.a ed. 1945);
• J. Mattoso Câmara Jr. – Contribuição à Estilística Portuguesa (1.a ed. 1952);
• Gladstone Chaves de Melo – Ensaio de Estilística da Língua Portuguesa (1.a ed. 1976);
• José Brasileiro Vilanova – Aspectos Estilísticos da Língua Portuguesa (1.a ed. 1977).
O que a Estilística descritiva tem como alvo é a sistematização dos meios que a língua 
nos oferece para exteriorizarmos nossas necessidades afetivas, isto é, os elementos emocio-
nais que acompanham o enunciado.
Comparemos a expressividade dos versos de uma canção de Chico Buarque com a ob-
jetividade de uma variante referencial:
5. Dorme, minha pequena / Não vale a pena despertar / Eu vou sair / Por aí afora /
Atrás da aurora / Mais serena (“Acalanto para Helena”)
6. Dorme, minha filha, não precisa acordar. Eu vou sair para o trabalho.
Comentário estilístico: embora o conteúdo informativo seja idêntico, apenas o exemplo 
(5) mostra o sentimento e a densidade da cena, compartilhando com o leitor a escolha reve-
lada do sintagma “minha pequena” e a longa representação de sua “saída para o trabalho” 
(= eu vou sair por aí afora atrás da aurora mais serena).
Como se vê, ao se ocupar da descrição dos recursos expressivos da língua como um todo, 
independentemente de sua ocorrência em obras literárias, a Estilística descritiva não está voltada 
Estilística, a ciência da expressividade
Semântica e estilística
1
13
exclusivamente para a literatura e se desdobra em outras vertentes, sobretudo a chamada estilís-
tica funcional, que tem Roman Jakobson (1896-1982) como seu principal representante.
Jakobson examina, a partir do processo de comunicação, a participação do emissor, do 
contexto, da mensagem, do contato, do código e do destinatário. E cada um desses componen-
tes, conforme o caso, justifica a existência de funções predominantes ou concorrentes, a saber: 
emotiva ou expressiva (centrada no emissor), referencial ou informativa (no contexto), poética 
(na mensagem), fática (no contato), metalinguística (no código) ou conativa (no destinatário).
O processo básico da comunicação verbal envolve uma situação fundamental de cons-
trução, que pode ser exemplificada na seguinte simulação:
José pretende avisar a João que vai viajar.
Em tal situação, temos seis fatores envolvidos na comunicação verbal. Partindo da frase 
do exemplo, identificamos:
Quadro 2 – Comunicação verbal
A – José diz que vai viajar. Ele é o... ... emissor
B – A ideia que vai ser proferida por José é algo abstrato e só vai 
ser concretizada quando for dita por ele. Essa ideia abstrata é o... ... contexto
C – Ao concretizar o contexto, isto é, ao di-
zer: “Vou viajar”, José se vale da... ... mensagem
D - Esta mensagem, para ser entendida por João, precisa ser 
dita de umaforma que ele conheça, isto é, com elementos que 
sejam comuns a ambos, no caso, as palavras, que são o...
... código
E – José fala e João escuta. Isto representa o... ... contato
F – João é o objeto/alvo/indivíduo a ser alcançado por 
José na conversação; João é, portanto, o... ... destinatário
Fonte: Elaborado pelo autor.
A esquematização desses seis fatores pode ser estabelecida da seguinte maneira:
Figura 2 – Fatores da comunicação verbal.
EMISSOR DESTINATÁRIO
CONTEXTO 
MENSAGEM
CONTATO 
CÓDIGO
FUNÇÃO EMOTIVA FUNÇÃO CONATIVA
FUNÇÃO REFERENCIAL
FUNÇÃO POÉTICA
FUNÇÃO FÁTICA
FUNÇÃO METALINGUÍSTICA
Fonte: Elaborado pelo autor.
Estilística, a ciência da expressividade1
Semântica e estilística14
Em suma, a Estilística linguística pretende organizar e interpretar os dados expressivos 
“que se integram nos traços da língua e fazem da linguagem esse conjunto complexo e am-
plo” (CÂMARA JR., 1979, p. 15).
1.3.2 A Estilística idealista (Estilística literária)
A Estilística idealista parte da reflexão, de cunho psicológico, a respeito dos desvios 
da linguagem em relação ao uso comum e considera que qualquer afastamento do uso lin-
guístico normal decorre de alguma alteração do estado psíquico normal do escritor. Nesse 
sentido, a maneira pessoal de alguém se expressar é seu estilo, que reflete o mundo interior 
e a experiência de vida de quem escreve.
Voltada especificamente para a produção literária, a Estilística idealista considera que 
toda obra encerra um mistério cuja compreensão depende basicamente da intuição de quem 
se investe do desejo de desvendar “os mistérios de criação de uma obra e dos efeitos dessa 
obra sobre os leitores” (MARTINS, 1989, p. 9).
Essa dimensão serviu como argumento para que alguns estudiosos defendessem a 
complementaridade entre as duas correntes principais. Amado Alonso (1896-1952), por 
exemplo, chega a afirmar que a Estilística literária tem como base a Estilística linguística 
justamente porque é esta quem cuida do lado afetivo, imaginativo das formas da língua, 
encontráveis tanto na fala como na escrita, pois são esses indícios que se sobrepõem aos 
signos. A partir de tais elementos, a Estilística literária examinará como é constituída a obra 
literária e considerará o prazer estético que ela provoca no leitor. Como tudo se engloba no 
valor estético da obra, ela está impregnada do próprio prazer do autor ao criá-la e isso vai 
suscitar no leitor um prazer correspondente.
Entre as obras disponíveis em língua portuguesa que seguem a corrente idealista, me-
recem citação:
• Vítor Manuel de Aguiar e Silva – Teoria da Literatura (1.a ed. 1967);
• Eduardo Portella – Teoria da Comunicação Literária (1.a ed. 1970);
• Affonso Romano de Sant’Anna – Análise Estrutural de Romances Brasileiros (1.a ed. 1973);
• Luiz Costa Lima – Dispersa Demanda (1.a ed. 1981).
Eis alguns exemplos de comentários estilísticos sob o viés idealista:
Até o momento presente, os mais importantes estudos sobre o lirismo drum-
mondiano só trataram de aspectos parciais (temáticos ou formais) de sua obra, 
enquanto que a maior parte das visões de conjunto permanece excessivamente 
sintética. (MERQUIOR, 1975, p. 3)
No caso de Guimarães Rosa, embora sua obra seja das mais estudadas entre 
nós, o problema do magismo e de suas implicações com a apreensão estética da 
realidade parece completamente inexplorado. Isso propicia mal-entendidos, que 
mais se agravam se a ausência desta análise se combina a observações que, sendo 
válidas, sejam, no entanto, também tratadas parcialmente. (LIMA, 1991, p. 510)
Estilística, a ciência da expressividade
Semântica e estilística
1
15
A leitura do conjunto das obras de Rubem Fonseca nos leva a destacar a exis-
tência de dois grandes núcleos temáticos: a violência e a busca da verdade. 
Poderíamos mesmo dizer que a íntima relação estabelecida entre esses núcleos é 
fonte geradora de força da ficção do autor, na medida em que determina o tipo 
de tratamento que será dado aos temas e a consequente busca de soluções for-
mais adequadas. (FIGUEIREDO, 1994, p. 73)
Roger Fowler (1993, p. 237) nos dá uma boa definição do que se deve entender por 
Estilística literária, dizendo que ela é “uma subdivisão historicamente isolada da crítica com 
seus próprios princípios e métodos”, sendo “menos difusa, mais coerente, mais mecânica 
do que a crítica em geral”.
Em suma, a Estilística literária desvencilha-se às vezes da linguística e assume um as-
pecto quase genético, propondo-se a recuperar a gênese, a criação poética, convivendo desa-
fiadoramente com as relações entre forma e conteúdo, materiais e estrutura.
1.4 Aplicações da Estilística 
aos estudos do Português
“A Estilística vem complementar a gramática,” diz Mattoso Câmara Jr. (1979, p. 14). Por 
isso, para examinar que aplicações tem a Estilística nos estudos de uma língua, é preciso dei-
xar claros seus vínculos com a gramática, ou seja, com o léxico, com a sintaxe, a morfologia, 
a fonética e a fonologia. Daí falarmos em estilística fônica (fonoestilística), em estilística da 
palavra (morfoestilística), em estilística sintática e até em estilística da enunciação. Afinal,
[...] ler ou escrever um texto é muito mais do que apenas compreender ou organi-
zar palavras em frases e parágrafos. É algo que envolve um amplo mecanismo a 
partir do qual o pensamento e as pretensões comunicativas do autor se apresentam 
para reflexão e avaliação do leitor. Como se constroem esses textos? Com palavras, 
sintagmas, termos e orações – elementos que mantêm entre si um relacionamento 
interno de concordância, de regência, de atribuição. (HENRIQUES, 2008a, p. 15)
A Estilística é parceira de todos os componentes do texto, desde os fonemas que cons-
troem morfemas e palavras até os períodos e parágrafos que constroem a totalidade do 
texto. E a adequação gramatical de uma obra precisa estar “compatível com as pretensões 
e intuitos de seu autor, que – se assim julgar pertinente – procurará atingir o nível de exi-
gência da linguagem padrão praticada por escrito pela comunidade culta em que se insere” 
(HENRIQUES, 2008a, p. 16).
As relações dentro de um texto são micro ou macro, conforme o ponto de vista de quem 
examina o objeto de estudo. Nessa tarefa, caberá notar que tipo de expressividade se percebe, 
se descreve e se explica nas passagens escolhidas de um texto concreto, real – produto que 
se tem em mãos e aos olhos para com ele se estabelecer uma “negociação de entendimento”.
Estilística, a ciência da expressividade1
Semântica e estilística16
Para ilustrar essas considerações, vejamos dois trechos da canção intitulada “Cigarra”, 
escrita por Ronaldo Bastos e Milton Nascimento e interpretada por Simone. 
7. Porque você pediu uma canção para cantar / 
Como a cigarra arrebenta de tanta luz / E en-
che de som o ar / [...] Porque ainda é inverno 
em nosso coração / Essa canção é para cantar / 
Como a cigarra acende o verão / E ilumina o ar 
/ Si, si, si, si, si, si, si, si...
Os versos mostram uma expressiva identificação 
que começa na coincidência sonora que existe entre a 
primeira sílaba da palavra “cigarra” e do nome da can-
tora “Simone”. Seria coincidência, se não notássemos 
que a letra da música fala de alguém que “pediu uma 
canção para cantar”, sendo lícito supor que a onomato-
peia que encerra a canção tanto poderia estar grafada 
com “c” como com “s” (si,si,si e ci,ci,ci).
SIMONE → CIGARRA → SI, SI, SI... CI, CI, CI...
Importa também observar que o verso inicial dos dois blocos tem uma estrutura sintá-
tica idêntica, com uma oração adverbial que faz uma espécie de eco à composição, talvez 
como esboço de um estribilho, reforçado na repetição do sintagma “para cantar” e do subs-
tantivo “canção”, reiterado morfológica e semanticamente com o verbo “cantar”.
Quadro 4 – Repetições e escolhas morfológicas.
Porque você pediu uma canção para cantar
Porque ainda é inverno em nosso coração Essa canção é para cantar
Fonte: Elaborado pelo autor.
Esses pequenos comentários comprovamcomo são determinantes para a compreensão 
do conteúdo da canção os elementos fônicos (si/ci), os aspectos sintáticos (porque...), a esco-
lha morfológica e lexical (canção + cantar), apenas para ficarmos nos que aqui focalizamos.
Podemos, então, concluir, concordando com Mattoso Câmara Jr. (1981, p. 110), que a 
Estilística é uma “disciplina linguística que estuda a expressão em seu sentido estrito de 
expressividade da linguagem, isto é, a sua capacidade de emocionar e sugestionar.” 
Em resumo:
Quadro 4 – Estilística x gramática.
Estilística → considera e analisa a linguagem afetiva.
Gramática → considera e analisa a linguagem intelectiva.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Fonte: Vanessa Lima.
Figura 3 – Simone.
Estilística, a ciência da expressividade
Semântica e estilística
1
17
 Ampliando seus conhecimentos
As tarefas da Estilística 
(GUIRAUD, 1978, p. 149-151)
A tarefa mais urgente da Estilística é a de definir seu objeto, sua natureza, 
seus fins e seus métodos, começando pela própria noção de estilo.
Reduzidas ao seu denominador comum, as diversas concepções de estilo 
limitam-se à seguinte definição: O estilo é o aspecto do enunciado que 
resulta da escolha dos meios de expressão determinada pela natureza e 
intenções do indivíduo que fala ou escreve.
Definição muito ampla, que engloba a expressão, seu aspecto, o sujeito 
falante, sua natureza e suas intenções.
1. Os limites da expressão – As definições do estilo diferem, conforme se tome 
a expressão no sentido mais amplo da palavra ou numa acepção limitada:
a. A arte do escritor, que é o sentido tradicional, o emprego cons-
ciente de meios de expressão com fins estéticos ou literários.
b. A natureza do escritor, a escolha espontânea, mais ou menos 
inconsciente, através da qual se exprimem o temperamento e a 
experiência do homem.
c. A totalidade da obra, que transcende a simples forma verbal e com-
preende a atitude do homem na totalidade da sua situação.
2. Os limites dos meios de expressão – O estilo é o emprego dos “meios 
de expressão”, termo este que pode ser tomado num sentido mais ou 
menos restrito:
a. As estruturas gramaticais – sons, formas, palavras, construções.
b. Os processos de composição – forma dos versos, gêneros, descrição, 
narração.
c. O pensamento em sua totalidade – temas, visões do mundo, atitudes 
filosóficas.
Estilística, a ciência da expressividade1
Semântica e estilística18
3. A natureza da expressão – A comunicação linguística comporta dife-
rentes valores que se superpõem e traduzem, seja a atitude espontânea 
do sujeito, seja o efeito que este quer produzir sobre seu interlocutor:
a. Valores nocionais – o estilo pode ser claro, lógico, correto.
b. Valores expressivos – o estilo pode ser impulsivo, infantil, provincial.
c. Valores impressivos – o estilo pode ser imperioso, irônico, cômico.
4. As fontes da expressão – Numa perspectiva vizinha da precedente e 
que a confirma, poderemos distinguir:
a. Uma psicofisiologia da expressão – estilos segundo o temperamento, o 
sexo, a idade; estilo bilioso (mal-humorado) ou melancólico.
b. Uma sociologia da expressão – estilo das diversas classes e profis-
sões, estilos provincianos.
c. Uma função da expressão – estilo literário, administrativo, legal, 
oratório.
5. O aspecto da expressão – Da natureza e das fontes da expressão surge 
nova série de definições puramente descritivas e baseadas sobre:
a. A forma da expressão – estilo elíptico, metafórico, etc.
b. A substância da expressão, o pensamento – estilo terno, triste, enér-
gico, etc.t
c. O sujeito que fala e sua situação – estilo arcaico, poético, etc.
 Atividades
1. Os três comentários transcritos a seguir se referem à poesia de João Cabral de Melo 
Neto. Reconheça se eles se enquadram na vertente descritivista (linguística) ou na 
vertente idealista (literária) da Estilística. Justifique sua resposta.
a. Os instrumentos e meios de trabalho do projetista [João Cabral] revelam uma lúcida 
atividade mental que se vale da geometria como modelo de pensamento ativo, como 
metáfora de uma linguagem precisa que, projetando formas ideativamente puras, 
cria mundos paralelos às realidades concretamente dadas.
b. João Cabral de Melo Neto elegeu a pedra como símbolo maior do atrito, traço ao 
mesmo tempo formal e temático que perpassa obsessivamente sua poesia. O atrito 
Estilística, a ciência da expressividade
Semântica e estilística
1
19
é adivinhado metonimicamente em seres, espaços e objetos de acidentada anato-
mia (esqueletos, corpos ossudos, paisagens escalavradas), evocado potencialmente 
em certos instrumentos (bisturi, espada, faca, forja), ou encaixado no discurso como 
nós ou arestas do texto (cacofonias, transgressões morfológicas, anomalias sintáticas).
c. Em relação às questões propostas pelas obras anteriores, a novidade [em O Enge-
nheiro] está na articulação que passa a existir entre a construção da imagem poética 
e a problematização da poesia. Ou seja, o tratamento da imagem poética passa a 
ser a estratégia pela qual o poeta problematiza o poema enquanto elemento de 
mediação entre ele e a realidade.
2. Leia atentamente o poema de João Cabral “Catar Feijão” (MELO NETO, 1994, p. 346-347) 
e assinale as alternativas que contêm comentários estilísticos coerentes a respeito do texto. 
Justifique suas respostas.
Catar feijão se limita com escrever:
jogam-se os grãos na água do alguidar
e as palavras na da folha de papel;
e depois, joga-se fora o que boiar.
Certo, toda palavra boiará no papel,
água congelada, por chumbo seu verbo;
pois catar esse feijão, soprar nele,
e jogar fora o leve e oco, palha e eco.
Ora, nesse catar feijão entra um risco:
o de que entre os grãos pesados entre
um grão qualquer, pedra ou indigesto,
um grão imastigável, de quebrar dente.
Certo não, quando ao catar palavras:
a pedra dá à frase seu grão mais vivo:
obstrui a leitura fluviante, flutual,
açula a atenção, isca-a com o risco.
a. No verso 2, o pronome se tem função apassivadora e, por isso, obriga o verbo a estar 
na 3° pessoa do plural, para concordar com o sujeito “os grãos”.
b. O poema busca, na inter-relação de seus elementos fônicos, semânticos e sintáticos, 
a projeção significativa das ações de catar feijão e catar palavras.
c. A pedra do feijão e a pedra do papel são iguais porque são pedras e porque são, am-
bas, indigestas e imastigáveis.
d. A sequência de palavras com o fonema /g/ em “jogam-se os grãos na água do algui-
dar” marca o ritmo de leitura desse verso.
e. Os dois últimos versos empregam três verbos transitivos diretos dispostos em ordem 
lógica, direta.
05.
10.
15.
Estilística, a ciência da expressividade1
Semântica e estilística20
f. Os três últimos verbos do texto contêm uma gradação importante para a compreen-
são do poema, colocando o verbo “iscar” como culminante da ideia de “colher”, 
“captar” o sentido “mais vivo” da frase.
3. Considerando a vertente funcional dos estudos estilísticos e os componentes envol-
vidos no processo de comunicação citados por Roman Jakobson, complete as lacu-
nas analisando corretamente a função da linguagem do trecho destacado.
a. No mercado de cerveja, o Brasil só perde, em volume, para a China (35 bilhões de 
litros/ano), Estados Unidos (23,6 bilhões de litros/ano), Alemanha (10,7 bilhões de 
litros/ano). O consumo da bebida, em 2007, apresentou crescimento em relação ao 
ano anterior, totalizando 10,34 bilhões de litros.
 Função __________________: na totalidade do parágrafo.
b. Beba com moderação! Se for dirigir, não beba!
 Função __________________: no uso dos verbos no imperativo.
c. Eu bebo, sim, e vou vivendo. Tem gente que não bebe e está morrendo [...]
 Função __________________: no uso da primeira pessoa.
d. Inventaram um verbo popular que é o mais lindo exemplo de criatividade sob o 
efeito do álcool: bebemorar.
 Função __________________: na explicação do neologismo.
e. Alô, garçom! Você está aí?! Alguém aí pode me trazer uma cerveja gelada?
 Função ______________: na tentativade confirmação de que há um interlocutor.
f. Cerveja... rios e mares de cerveja... O rádio toca canções de amor, mas o telefone 
segue mudo e as paredes continuam no lugar. Cerveja... essa é a única coisa que há.
 Função _______________: na escolha e organização das palavras de modo original.
 Resolução 
1. Opções (a) e (c): Estilística literária.
 Justificativa: os dois comentários contêm reflexões de cunho psicológico a respeito da ma-
neira de João Cabral se expressar e de revelar seu mundo interior e experiência de vida.
 Opção (b): Estilística linguística.
 Justificativa: o comentário aborda uma questão do léxico, examina sua carga semântica 
na obra e destaca aspectos linguísticos objetivos para buscar a interpretação do texto.
2. As opções (a) e (e), embora corretas, não contêm comentários estilísticos, mas obser-
vações sintáticas objetivas, que não fazem nenhuma interpretação do texto.
 As opções (b), (d) e (f) apresentam comentários estilísticos baseados em questões 
Estilística, a ciência da expressividade
Semântica e estilística
1
21
linguísticas e procuram interpretar a expressividade das escolhas do poeta.
 A opção (c) contém uma interpretação equivocada, pois o texto distingue “a pedra 
do papel” como a “que dá à frase o seu grão mais vivo”, ou seja, ela é inovadora, pois 
“açula a atenção” e é força criativa.
3. 
a. Função referencial (ou informativa).
b. Função conativa.
c. Função emotiva (ou expressiva) – Obs.: trecho de canção composta por Luiz Antônio.
d. Função metalinguística.
e. Função fática.
f. função poética – Obs.: tradução livre de uma estrofe do poema Beer, de Charles 
Bukowski.
Semântica e estilística 23
2
Estilística fônica
O objetivo deste capítulo é observar a expressividade dos aspectos fônicos no 
estudo estilístico da língua portuguesa.
2.1 Distinção entre letra e fonema
O estudo da Estilística fônica (ou fonoestilística, como alguns preferem) envolve 
necessariamente o conhecimento e domínio de um dos assuntos abordados nos estudos 
gramaticais, isto é, o fonema.
Por esse motivo, é preciso lembrar o tema da arbitrariedade do signo linguístico e 
também as vinculações entre a articulação das palavras e frases no português e a con-
venção gráfica praticada.
Estilística fônica2
Semântica e estilística24
Em resumo:
• Fonema é 
[...] considerado como o conjunto de articulações dos órgãos fonadores, seu efei-
to acústico estrutura as formas linguísticas e constitui o mínimo segmento dis-
tinto numa enunciação, o que também significa que o fonema é uma subdivisão 
da sílaba.(HENRIQUES, 2008b)
A imagem do aparelho fonador identifica partes do corpo humano que atuam na produção 
dos chamados “sons da fala”, oriundos da corrente expiratória proveniente de nossos pulmões. 
Figura 1 – Aparelho fonador.
fossas nasais
lábios
lábios
cordas 
vocais
laringe
língua
faringe
epiglote
cavidade bucal
véu palatino dentes
dentes
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
• Letra – “É um sinal gráfico com o qual se cons-
troem na língua escrita os vocábulos. Ao conjunto 
de letras de uma língua chama-se alfabeto.”(grifo 
do autor) (HENRIQUES, 2008b) – a foto ilustrati-
va mostra a capa da edição de 2009 do Vocabulário 
Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), publicado 
pela Academia Brasileira de Letras, obra reeditada 
com as novas normas ortográficas aprovadas em 
29 de setembro de 2008 e com efeito desde 1.o de 
janeiro de 2009.
Portanto, fonemas são sons da fala usados para estrutu-
rar as formas linguísticas, mas que isolados não têm signifi-
cação. Um som da fala só é fonema quando tem pertinência, 
ou seja, valor linguístico, como prova a comutação praticada 
na série de palavras seguinte:
Fonte: Divulgação ABL.
Figura 2 – Volp.
Estilística fônica
Semântica e estilística
2
25
1. [ ‘b r ã k a ] x [ ‘t r ã k a ]
 Comentário: a troca de [b] e [t] nos dá duas palavras (branca e tranca) e confirma 
que /b/ e /t/ são fonemas do português.
2. [ ‘ã d a ] x [ ‘õ d a ]
 Comentário: a troca de [ã] e [õ] nos dá duas palavras (anda e onda) e confirma que 
/ã/ e /õ/ são fonemas do português.
3. [‘d i v a ] x [ ‘dƷ i v a ]
 Comentário: a troca de [d] e [dƷ] não nos dá duas palavras, mas duas possíveis pro-
núncias para uma única palavra (diva) e não confirma a pertinência de ambos como 
fonemas do português, mas de apenas um deles – neste caso, o /d/, que tem o [dƷ] 
como seu alofone (registra uma pronúncia típica de algumas regiões brasileiras).
Alofone = variante de fonema.
4. [ ‘k u s t a ] x [ ‘k u Ʒ t a ]
 Comentário: a troca de [s] e [Ʒ] não nos dá duas palavras, mas duas possíveis 
pronúncias para uma única palavra (custa) e não repete a pertinência de ambos 
como fonemas do português (encontrável por exemplo no par “taça / taxa”) – nes-
se ambiente fonético de final de sílaba, os dois fonemas sempre se neutralizam e 
caracterizam o que se chama arquifonema.
Arquifonema = neutralização permanente da oposição de fonemas.
5. [ ‘p l ã t a ] x [ ‘p r ã t a ]
 Comentário: a troca de [l] e [r] não nos dá duas palavras, mas duas possíveis 
pronúncias para uma única palavra (planta) e não repete a pertinência de ambos 
como fonemas do português (encontrável por exemplo no par “mola / mora”) – os 
dois fonemas se neutralizam, neste exemplo, sem risco de confusão, mas caracte-
rizam um caso de debordamento (e não de arquifonema), porque se o par fosse 
“planto / pranto” a neutralização se mostraria ambígua.
Debordamento = neutralização eventual da oposição de fonemas.
O sistema ortográfico da língua, em sua versão oficial, reproduz as palavras de acordo 
com a convenção em vigor. Observar como acontecem as relações entre a ortografia e a sono-
ridade é a tarefa do estudioso da expressividade, ou seja, da Estilística.
2.2 Expressividade das vogais e das consoantes
Não obstante sejam portadores de um ou mais significados, os vocábulos (e seus com-
ponentes) se constituem de sons e ruídos e assim atuam no mundo físico, estando “sujeitos 
Estilística fônica2
Semântica e estilística26
às mesmas análises acústicas das notas musicais e dos produtos erráticos de vibrações irre-
gulares” (MELO, 1976, p. 57).
Os valores estilísticos podem ter uma natureza sonora e se expressam tanto no âmbi-
to das palavras como dos enunciados. Assim, além de sua concretização fonética, também 
atuam o ritmo, a intensidade e a entonação.
• Ritmo: é a distribuição de sons num enunciado, considerando de que modo eles 
se organizam ou se repetem a intervalos regulares, ou a espaços sensíveis quanto 
à duração e à acentuação.
• Intensidade: é o maior grau de força expiratória com que o som da fala é proferido, 
força que se manifesta acusticamente na maior ou menor amplitude de vibrações.
 Atenção! O acento característico da língua portuguesa é a intensidade, sendo cha-
mada de tônica a vogal ou sílaba sobre a qual recai a intensidade e de átona a vogal 
ou sílaba inacentuada. Além da intensidade, também atuam na articulação dos 
sons da fala o timbre (efeito acústico resultante dos diversos graus de abertura da 
cavidade bucal), a altura (sensação auditiva relacionada à intensidade do som) e a 
quantidade (duração da emissão de um som).
• Entonação: é a variação de tom (fenômeno caracterizado por variações de altura 
no corpo do vocábulo, resultantes da velocidade e vibração das cordas vocais) que 
tem como domínio a sentença (oração, período ou frase).
Tomemos como exemplo dessas referências à camada sonora o trecho abaixo, inédito:
Lá vai a bola, solitária e devagar, na direção da última linha do campo. Incerteza... 
A alegria subterrânea se mistura com a raiva recôndita. O orgulho, com o medo. 
A dor pode ser uma felicidade passageira, eterna. Suspense. Angústia. Prazer.
Por um breve momento, um único monossílabo pode conter todas as emoções: a 
palavra GOL. Ela tem três letras, mas pode ter quatro, dez… Dependendo do seu 
fôlego e da sua alegria, ela pode ter o tamanho do papel, pode até nem acabar:
GOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOOLLLLLLL…
Figura 3 –Gol.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Estilística fônica
Semântica e estilística
2
27
Imaginando vários modos de se narrar um gol num jogo de futebol, percebe-se que a 
intensidade da vogal “o”, sua duração e até sua musicalidade têm força expressiva poten-
cial, ainda mais se comungarmos com a emoção do locutor. Porém, mesmo que o gol não 
seja a nosso favor, por ser o gol de uma derrota indesejada, a sonoridade dessa palavra nos 
marcará, impregnando-nos de tristeza tanto quanto impregnará de alegria os corações dos 
torcedores favorecidos pela simples passagem da bola por sobre a linha que fica debaixo 
da baliza.
O comentário acima explica uma das possibilidades de a sonoridade da língua se mani-
festar. Mas há outras situações em que a massa sonora tem papel importante.
• Na rima de um poema ou de uma letra de música:
6. De repente do riso fez-se o pranto 
Silencioso e branco como a bruma 
E das bocas unidas fez-se a espuma 
E das mãos espalmadas fez-se o espanto. (MORAES, 1998)
7. Que jamais seja um sofrimento 
viciosamente cultivado 
para transformar-se em momento 
de verso, espúrio intento da arte. 
Mas a arte que, a cumprir seu fado, 
por força de sonho ou tormento 
se volva num momento dado 
coisa divina, imensa e à parte... (MEIRELES, 1993)
 Comentário: em (6) “pranto” e “branco”; “bruma” e “espuma” rimam simetri-
camente no esquema ABBA e causam um efeito de ritmo e musicalidade; já em 
(7) a rima não é simétrica (o esquema é ABACBABC), mas também há ritmo e 
musicalidade.
• Numa mensagem publicitária:
8. “Plá, plé, pli, pló, plus vita! Plus Vita! Na nossa mesa tem Plus Vita todo dia!”
 Comentário: a progressão vocálica em série cria um ambiente descontraído e 
apropriado para veicular o produto e causar uma reação favorável no destinatário.
• Na repetição de palavras ou de sílabas:
9. Eu quero a estrela da manhã 
Onde está a estrela da manhã? 
Meus amigos meus inimigos 
Procurem a estrela da manhã. (BANDEIRA, 1958)
 Comentário: a ênfase ocorre pela reiteração do sintagma “estrela da manhã”, demons-
trando a posição do “eu lírico” diante de sua (in)certeza.
 Na escolha estratégica de palavras com consoantes ou vogais iguais ou semelhantes:
10. “Acalanto e acalento. Calo e canto por encanto. Enquanto encontro o esquecimen-
to, conto a calma escuridão.” (Canção de Cezar de Souza e N. Bulhões)
Estilística fônica2
Semântica e estilística28
 Comentário: a sucessão de palavras paroxítonas com as vogais nasais e a consoan-
te /k/ traz um efeito especial que se encerra na palavra oxítona final.
• Na invenção de palavras imitativas ou carinhosas:
11. “É na boca do trabuco, é no té-retê-retém... E sozinhozinho não estou.” (ROSA, 1986)
12. “E a fonte a cantar, chuá, chuá; e a água a correr, chuê, chuê.” (Canção de Pedro Sá 
Pereira e Ary Pavão)
 Comentário: a observação dos sons da realidade serve como suporte para sua re-
produção ou para a afetividade de um trecho.
2.3 Relações expressivas entre a fala e a escrita
Uma sequência sonora realizada na emissão de uma frase se decompõe em grupos onde 
prevalece uma única pauta acentual (com uma sílaba tônica, uma ou mais sílabas átonas 
pré-tônicas ou pós-tônicas e, eventualmente, alguma sílaba subtônica).
Cada um desses grupos se chama “palavra fonológica”, e esta se forma em função da 
relação sintagmática de seus membros.
Na frase “Aquele quadro fez sucesso”, observam-se com nitidez duas palavras fonológi-
cas e quatro palavras ortográficas. As duas palavras fonológicas são:
13. [ a k e l i ’k w a d r u ] – a sílaba tônica é [kwa], as demais são átonas.
 Essa palavra fonológica se formou a partir de duas palavras ortográficas.
14. [ f e Ʒ s u ’s Ʒ s u ] – a sílaba tônica é [sƷ], a subtônica é [feƷ], as demais são átonas.
 Essa palavra fonológica também se formou a partir de duas palavras ortográficas.
Como se vê, a palavra fonológica é delineada por um contorno prosódico que parte de 
seu acento primário (no caso, das palavras quadro e sucesso). Ela representa, na hierarquia 
da prosódia, o primeiro nível de interação entre a fonologia e a morfologia, e ultrapassa os 
limites da palavra lexical.
Prosódia = o estudo da variação na altura, intensidade, tom, duração e rit-
mo da fala, vinculando-se pois à ortoepia, que estuda a pronúncia correta das 
palavras.
“A expressividade dos fonemas poderia passar despercebida, se os poetas não os repe-
tissem a fim de chamar a atenção para a sua correspondência com o que exprimem” , diz 
Nilce Sant’Anna Martins (1989, p. 38), e podemos estender a afirmação aos publicitários, aos 
compositores, aos jornalistas e a qualquer um dos usuários da língua, quando agimos no 
processo de comunicação com o intuito de criar harmonia no que falamos.
Estilística fônica
Semântica e estilística
2
29
2.4 Figuras de linguagem
Os sons, como vimos, podem sugerir dentro da frase um valor expressivo para o que 
dizemos. Quando isso acontece, temos figuras de linguagem. Diferentemente, a utilização 
inexpressiva ou caótica da massa sonora caracterizará desvios a que chamamos vícios de lin-
guagem. No campo da fonoestilística, esses recursos podem ter as seguintes denominações:
• Aliteração – é a repetição continuada dos mesmos sons consonantais, indepen-
dente da posição que ocupam nas palavras, distribuídas em sequência ou com 
proximidade.
15. “Escuta-me, não te demoro. É coisa pouca como a chuvinha que vem vindo deva-
gar.” (ANDRADE, 2000).
 Comentário: o poeta utiliza intencionalmente em quatro palavras seguidas a con-
soante /v/, visando a criar um efeito expressivo, afetivo.
 Atenção! O vício de linguagem correspondente é a colisão: repetição desagradável 
de consoantes iguais – que pode até ter como finalidade o humor ou a estranheza 
do interlocutor.
16. Pela primeira pesquisa, percebeu-se por que as pessoas procuram o perigo.
17. Três trabalhadores tentaram trocar o turno do trabalho.
 Comentário: observa-se a gratuidade da repetição, sem nenhuma pretensão 
estilística.
• Assonância – é a repetição vocálica em sílabas tônicas.
18. “Sou um mulato nato no sentido lato mulato democrático do litoral.” (Canção de 
Caetano Veloso)
	 Comentário: o compositor utiliza intencionalmente uma série de palavras cuja vogal 
tônica é /a/, visando a criar um efeito sonoro e musical.
 Atenção! O vício de linguagem correspondente é o hiato: sucessão desagradável de 
vogais – que pode até ter como finalidade o humor ou a estranheza do interlocutor.
19. Ou há o aumento, ou há a autogestão.
 Comentário: observa-se a gratuidade e o desconforto da repetição, sem nenhuma 
pretensão estilística.
• Harmonia imitativa – ocorre quando a aliteração, combinada ou não com assonân-
cia, se associa à ideia que expressa.
20. Trovões trombeteavam pelas trevas, 
Trastes turvos tonitruantes 
De um turbilhão tortuoso 
Como a turba triste da morte. (SOUZA, 2005)
21. O vento varria as folhas, 
O vento varria os frutos, 
O vento varria as flores... 
Estilística fônica2
Semântica e estilística30
E a minha vida ficava 
Cada vez mais cheia 
De frutos, de flores, de folhas. (BANDEIRA, 1958)
 Comentário: a sonoridade das consoantes /t/ e /r/, em (20), e /v/, /f/ e /s/, em (21), tem 
relação coerente com a ideia da forte tempestade, acentuada pelas variadas possibi-
lidades articulatórias da consoante vibrante – em (20), e da ação do vento – em (21).
• Homeoteleuto – é a coincidência de terminação, sobretudo em pontos sensíveis da 
cadeia sonora.
22. “Ainda canto o ido o tido o dito o dado o consumido o consumado / Ato do amor 
morto motor da saudade... Diluído na grandicidade... / Idade de pedra [...]” 
(VELOSO; DUPRAT, 1969).
 Comentário: a escolha de palavras com sonoridade interligada (série 1: ido/ado 
+ t/d; série 2: ...mido/...mado; série 3: mor + t) cria um efeito de sentido, mas tem 
força sonora identitária.
 Atenção! Um dos vícios de linguagem correspondentes é o eco: repetição desagra-
dável de terminações iguais.
23. Na frente da gente, há somente um ambiente diferente.
24. O cadeado estragadofoi consertado ao lado do mercado.
 Comentário: observa-se a gratuidade e o desconforto das sequências -ente e -ado, 
sem nenhuma pretensão estilística.
• Onomatopeia – é a imitação acústica de um som ou ruído ou da voz de um animal, 
e pode ser criada segundo três possibilidades:
25. tique-taque; zás-trás; bum; ploft; miau; cocoricó – onomatopeias puras.
26. tilintar; pifar; o cacarejo; grunhido – palavras onomatopaicas.
27. bem-te-vi; quero-quero; estou-fraco – onomatopeias interpretativas.
 Comentário: no primeiro grupo (25), as palavras são criadas a partir da utilização 
de fonemas que reproduzam o som; no segundo (26), há marcas morfológicas na 
construção de verbos, substantivos e adjetivos; no terceiro (27), palavras preexis-
tentes são agrupadas sem razão semântica para tentar reproduzir o som.
Figura 4 – Onomatopeias.
BAN
G!
zzz
zz
POU!
PLOFT!
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Estilística fônica
Semântica e estilística
2
31
Percebe-se então que o objetivo de causar algum impacto expressivo pela escolha da 
camada sonora está carregado de subjetivismo e sensibilidade. Isso significa que o êxito na 
construção de uma determinada combinação de sons não é algo automático e garantido, pois 
sempre se corre o risco de produzir um efeito malsucedido, ou seja, um vício de linguagem, 
cabendo ainda citar os casos de:
• Cacoépia – é o erro de pronúncia (que vira cacografia na escrita).
28. *piscicologia, em vez de psicologia, ou *mortandela, em vez de mortadela.
• Cacófato – é o descuido no encadeamento de palavras, gerando um som obsceno 
ou vulgar.
29. *Entregue-me já o relatório porque essa resposta ele já havia dado.
• Cacofonia e parequema – é o descuido no encadeamento de palavras, gerando um 
som de significado concorrente ou desagradável.
30. *Já que tinha, na vez passada se interessado, apresentei-lhe uma prima minha.
31. *Deixa a chapa esquentar; *Comprei uma vaca cara; “Você fez a torta tarde”.
 Atenção! Como sempre, os vícios de linguagem podem ter como finalidade pro-
duzir um efeito de humor ou de estranheza/admiração no interlocutor.
 Na canção “Cálice”, de Chico Buarque e Milton Nascimento, observa-se a interes-
sante estratégia de escrever uma palavra, o substantivo “cálice”, e sugerir o en-
tendimento da exclamação “Cale-se!”, em versos que têm essa palavra fonológica 
como palavra-eco, como:
32. Quero perder de vez tua cabeça. [‘kalisi]
 Minha cabeça perder teu juízo. [‘kalisi]
 Quero cheirar fumaça de óleo diesel. [‘kalisi]
 Me embriagar até que alguém me esqueça. [‘kalisi]
 Comentário: no lugar onde transcrevemos a pronúncia, qual significação caberia 
melhor, a da taça de vinho ou a da ordem de silêncio? Ou ambas? Os autores, certa-
mente, trabalharam com a palavra fonológica única, contrastando-a com a duplici-
dade da palavra ortográfica (cale-se e cálice). O efeito é expressivo, sem dúvida.
Além das figuras de linguagem que aqui apresentamos, a exploração da massa sonora 
das palavras ainda pode produzir expressividade de muitas outras maneiras. Para nossos 
objetivos, basta mencionar por exemplo as questões inerentes à linguagem falada, em suas 
múltiplas variedades sociais e regionais, ou os temas específicos da arte poética ou musical, 
em que se pode trabalhar os conteúdos de versificação e de harmonia melódica. Enfim, as 
relações entre som e estilo são um caminho aberto à imaginação e arte, sempre a serviço da 
pretensão criativa, comunicativa, literária, jornalística de quem emprega a língua portugue-
sa na vida concreta.
Estilística fônica2
Semântica e estilística32
O vocábulo como massa sonora
(MELO, 1976, p. 79-80)
Começaremos por insistir numa distinção conhecida mas tantas vezes 
esquecida: a que se deve fazer entre vocábulo e palavra. No primeiro, con-
sideramos só a estrutura fônica. É uma sílaba, ou duas, ou mais, subordi-
nadas ao mesmo acento intensivo
Na cadeia da frase os vocábulos frequentemente se unem, fundindo-se a 
terminação de um no começo de outro, decorrendo daí fenômenos diver-
sos, que recebem nomes adequados, mas aqui dispensáveis. Assim, “ainda 
agora” ou “com uma semana de espera”, por exemplo, soam como ainda-
gora, cuma semana dispera. Há mesmo certos vocábulos que já perderam, 
ou ocasionalmente perdem a tonicidade, e, então, apoiam-se no acento do 
vocábulo anterior ou no do seguinte. Chamam-se clíticos, distinguindo-se 
em enclíticos, num caso, proclíticos noutro: chamou-me; o livro.
O mesmo vocábulo pode ser suporte de várias palavras, como se vê em 
rio, “curso d’água”, e forma do verbo rir; manga, “parte do casaco” e 
fruto. Para quem não conheça o significado de oscofórias ou de liço, estas 
duas formas são meros vocábulos.
Nos casos de polissemia, isto é, multiplicidade de significados por força de 
um natural desdobramento, não se pode falar, creio, em multiplicidade de 
palavras, porque um liame, mais ou menos estreito, une esses significados.
Normalmente, pois, a cada vocábulo corresponde um conceito ou um 
feixe de conceitos vizinhos. Tal correspondência é de si arbitrária e gra-
tuita, segundo o princípio maior, definidor da língua. Nenhuma rela-
ção natural existe entre o quadrúpede amigo do homem e a palavra cão, 
cachorro ou dog.
No entanto, estilisticamente se pode falar em adequação ou inadequação 
entre a massa sonora do vocábulo e o conteúdo significativo. Assim, grito 
é mais expressivo que brado. Entre “por muito pouco ele não morreu” e 
“por um tris ele não morreu”, é preferível a segunda solução, dado que 
estejamos preocupados com uma forma adequada. É que a massa sonora 
de tris sugere melhor a mínima dependência em que ficou a vida do 
Fulano. Se dissermos que alguém entrou solenemente no recinto, passo 
 Ampliando seus conhecimentos
Estilística fônica
Semântica e estilística
2
33
cadenciado e lento, sob os olhares reverentes e admirativos da multidão, 
teremos escolhido um vocábulo cuja massa sonora quadra bem ao efeito: 
pentassílabo paroxítono (ou grave), com tônica média e nasal e uma com-
binação de /l/ e /n/ muito apropriada.
Um vocábulo como abreviadamente é, com certeza, inadequado, maior, 
por assim dizer, do que o seu conteúdo. Arredondamento fica bem para 
o sentido que tem; é vocábulo adequado. Nesta sequência – grande, 
enorme, gigantesco – os três vocábulos traduzem a gradação do tamanho: 
cada sílaba a mais acrescenta, sensivelmente, uns quilates de intensidade.
Os poetas são muito sensíveis à adequação da massa sonora ao signifi-
cado, e é natural que assim seja, porque a poesia é essencialmente pala-
vra, é o esplendor da palavra. Muitas das correções que, sobretudo os 
parnasianos, inserem nas suas retomadas têm por base o ajuste da massa 
sonora. A propósito, é muito instrutiva a alteração feita por Raimundo 
Correia no último terceto de seu poema “Banzo”. Era assim a primeira 
versão, de 1885:
Dos monolitos cresce a sombra infame... 
Tal em minh’alma vai crescente o vulto 
Desta tristeza aos poucos, lentamente
A terceira (versão), que modifica levemente a segunda, de 1891, ficou assim:
Vai co’a sombra crescendo um vulto enorme 
Do baobá... E cresce n’alma o vulto 
De uma tristeza imensa, imensamente...
Além de ganhar em musicalidade e em cor local, com a substituição de 
“monolitos” por “baobá”, o fecho ainda se beneficiou muito com a dupla 
“imensa, imensamente”.
A massa sonora é adequada e há uma espécie de ilusão de ótica, digamos 
assim, que faz parecerem coordenadas as duas palavras, que na realidade 
não o são. Imensa é adjunto adnominal de “tristeza”, e imensamente é 
adjunto adverbial de “cresce”: a inteligência da frase deixa isso muito 
claro. No entanto, a sequência faz com que se tenha a impressão do cres-
cimento, do alongamento, de profundidade maior, de dor mais pungente.
Temos, portanto, um duplo efeito, um intelectual, outro sensível, produzido 
pela boa utilização da massa sonora. A síntese final seria esta: “cresce cada 
vez mais uma tristeza cada vez maior”, com sólido apoio no material fônico.
Estilística fônica2Semântica e estilística34
 Atividades
1. Os três comentários transcritos a seguir se referem a trechos de poemas brasileiros. 
Reconheça se o recurso estilístico indicado está adequadamente interpretado. Justifi-
que sua resposta.
a. Quando lemos os versos de Guilherme de Almeida “O sol é uma bola de enxofre 
fervendo, pondo empolhas redondas como gemas de ovos entre as folhas das laran-
jeiras”, observamos a expressividade da assonância, construída a partir da sucessão de 
palavras com a vogal tônica O.
b. O compositor Paulo Ricardo começa uma de suas canções dizendo: “Virada do sécu-
lo, alvorada voraz, nos aguardam exércitos que nos guardam da paz (que paz?).” O 
aposto “alvorada voraz” utiliza as consoantes /v/ e /r/ que também estão presentes 
na primeira palavra da música. A repetição intencional dessas consoantes caracteriza 
uma figura de linguagem chamada onomatopeia.
c. Em “Pedro pedreiro, pedreiro esperando o trem que já vem, que já vem, que já vem, 
que já vem...”, Chico Buarque utiliza a massa sonora da expressão “que já vem” repe-
tidas vezes para enfatizar o cansaço de quem está à espera do trem na estação, o que 
constitui um exemplo de harmonia imitativa.
2. Leia atentamente o poema de Solano Trindade “Tem Gente com Fome” (s.d., p. 7-8) 
e assinale as alternativas que contêm comentários fonoestilísticos coerentes a respeito 
do texto. Justifique suas respostas. 
 Trem sujo da Leopoldina, 
 correndo, correndo, 
 parece dizer: 
 tem gente com fome, 
 tem gente com fome, 
 tem gente com fome... 
 Piiiii!
 Estação de Caxias, 
 de novo a correr, 
 de novo a dizer: 
 tem gente com fome, 
 tem gente com fome, 
 tem gente com fome...
 Tantas caras tristes, 
 querendo chegar 
 em algum destino, 
 em algum lugar...
 Só nas estações 
 quando vai parando, 
 lentamente 
 começa a dizer: 
 se tem gente com fome, 
 dá de comer... 
 se tem gente com fome, 
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Figura 5 – Fome.
05.
10.
15.
20.
Estilística fônica
Semântica e estilística
2
35
 dá de comer... 
 se tem gente com fome, 
 dá de comer... 
 se tem gente com fome, 
 dá de comer... 
 Mas o freio de ar, 
 todo autoritário, 
 manda o trem calar: 
 Psiuuuuuuuuu......
a. A repetição do trecho “tem gente com fome” cria um ambiente de monotonia e té-
dio, incompatível com o movimento de um trem ao partir da estação.
b. A onomatopeia “Piiiii!” (v. 07) e a interjeição “Psiuuuuuuuuu......” (v. 33) estão con-
jugadas pela intensificação da vogal, o que permite entender a palavra que termina o 
poema como uma condensação entre a interjeição e a onomatopeia.
c. A maioria dos versos se constrói com duplas de palavras fonológicas (trensujo + 
daleopoldina // correndo + correndo // tengente + cunfome // estação + dicaxias // 
dinovo + acorrer // dinovo + adizer // sitengente + cunfome // dá + dicomer), man-
tendo um ritmo coeso que produz a harmonia imitativa predominante no poema.
d. Na estrofe final, a referência ao trem é substituída pela participação do freio de ar, o 
que justifica o uso da conjunção “mas”, adversativa.
e. Como a temática do poema é humana e social, é correto interpretar que as onoma-
topeias usadas como estribilho nas estrofes 1, 2 e 4 se valem de palavras preexistentes 
agrupadas sem razão semântica para tentar reproduzir o som do trem.
f. O advérbio “lentamente”, isolado no verso 20, tem uma massa sonora e um valor 
semântico que destoam expressivamente do restante do poema.
3. Assinale as alternativas que contêm recursos expressivos da Estilística fônica e iden-
tifique as respectivas figuras de linguagem.
a. “A gente almoça e se coça e se roça e só se vicia.” (Chico Buarque)
b. “Ouço o tique-taque do relógio: apresso-me então.” (Clarice Lispector)
c. “Minha vida é uma colcha de retalhos, todos da mesma cor.” (Mário Quintana)
d. “Não serei o poeta de um mundo caduco.” (Carlos Drummond de Andrade)
e. Dentro dos meus braços, os abraços hão de ser milhões de abraços.” (Vinícius de 
Moraes)
f. “Sou caipira, Pirapora, Nossa Senhora de Aparecida,” (Renato Teixeira).
 Resolução
1. As opções (a) e (c) estão corretas, havendo erro na opção (b), pois a figura é a aliteração.
2. A opção (a) contém interpretação equivocada, pois repetir “tem gente com fome” não 
causa monotonia, e sim ideia de movimento. Também há erro de interpretação na 
opção (e), pois as palavras usadas nas onomatopeias como estribilho conservam seu 
25.
30.
valor semântico para confirmar a temática social. Por fim, há erro na opção (d), pois o 
comentário feito é de Estilística sintática.
3. As opções (b), (c) e (f) estão corretas.
 As alternativas (c) e (d) não contêm recursos de Estilística fônica. Nas demais opções, 
temos: (a) aliteração; (b) onomatopeia; (e) assonância; (f) homeoteleuto.
Semântica e estilística 37
3
Estilística léxica
O objetivo deste capítulo é observar a expressividade dos aspectos lexicais no 
estudo estilístico da língua portuguesa.
3.1 Conceituação de léxico
O estudo da Estilística lexical (ou morfoestilística, como alguns preferem) envolve 
necessariamente o conhecimento e domínio de alguns dos assuntos abordados nos 
estudos de morfologia, isto é, as classes gramaticais e os morfemas.
A palavra léxico é sinônima de “vocabulário”, e indica portanto o repertório total 
de palavras existentes numa determinada língua, mas pode também ter uma signifi-
cação mais restrita, referindo-se, por exemplo, a uma relação de palavras usadas por 
um autor ou por um grupo social ou profissional. As obras que se dedicam ao estudo 
do léxico constituem dois campos de pesquisa bastante importantes para a sociedade: 
a lexicografia, ou seja, a técnica e o trabalho de elaboração de dicionários, vocabulários, 
glossários e afins; e a lexicologia, ou seja, o estudo do vocábulo quanto ao seu significado, 
estrutura morfológica e possibilidades flexionais, sua classificação em relação a outros 
vocábulos da mesma língua ou de outra, em perspectiva sincrônica ou diacrônica.
Estilística léxica3
Semântica e estilística38
Lexicografia e Lexicologia: estudo das palavras, a partir da 
observação de suas relações com a gramática e com a vida.
Como se pode depreender dessas explicações, a ferramenta fundamental com que tra-
balham os lexicógrafos e os lexicólogos é o dicionário, palavra que está assim definida no 
Dicionário Houaiss:
Dicionário – compilação completa ou parcial das unidades léxicas de uma língua 
(palavras, locuções, afixos, etc.) ou de certas categorias específicas suas, organi-
zadas numa ordem convencionada, geralmente alfabética, e que fornece, além 
das definições, informações sobre sinônimos, antônimos, ortografia, pronúncia, 
classe gramatical, etimologia, etc. ou, pelo menos, alguns destes elementos. A ti-
pologia dos dicionários é bastante variada; os mais correntes são aqueles em que 
os sentidos das palavras de uma língua ou dialeto são dados em outra língua (ou 
em mais de uma) e aqueles em que as palavras de uma língua são definidas por 
meio da mesma língua. (HOUAISS, 2004)
Figura 1 – Dicionário Houaiss.
Fonte: Divulgação Editora Objetiva.
Como diz Correia (1995), 
[...] a propriedade geral da linguagem humana que melhor se aplica ao léxico 
de uma língua é a arbitrariedade, ou seja, o fato de os signos que constituem as 
línguas não serem icônicos, isto é, a relação que se estabelece entre eles e as en-
tidades da realidade que denotam ser meramente arbitrária ou convencional.
Por isso não se deve entender o léxico apenas como uma lista de palavras que está 
contida num dicionário. Afinal, uma observação mais atenta dos verbetes dessas obras de 
referência mostrará que os lexicógrafos, quando redigem as definições de cada componente 
da nominata, fazem uso das regularidades do léxico, adotando uma estrutura redacional 
quase sempre simétrica e coerente.
Estilística léxica
Semântica e estilística
3
39
Nominata: relação de entradas de uma enciclopédia, dicionário, vo-
cabulário, glossário etc.; relação de nomes ou palavras; nomenclatura.
Outro pontoa considerar começará a delinear as relações mais estreitas que o léxico 
mantém com o estilo, pois sabemos que a língua oferece recursos para que qualquer pessoa, 
escolarizada ou não, fale sobre qualquer aspecto da realidade. A despeito disso, as palavras 
usadas para expressar a realidade vivida ou imaginada são arbitrárias e variam não apenas 
de língua para língua, mas de modalidade para modalidade e de uso para uso.
Portanto, o conhecimento lexical resulta não apenas da memorização de palavras, mas 
também de um princípio de economia na gestão desse acervo, pois cada falante se apropria 
de um vocabulário compatível com o seu grau de estudo e leitura, utilizando-o, em termos 
numéricos variados, conforme o empregue na oralidade ou na produção escrita.
No conjunto do léxico de uma língua existem certamente mecanismos que permitem 
alcançar a expressividade da comunicação, e devemos considerar que o princípio de econo-
mia linguística não é unicamente o princípio de contabilizar palavras, mas de reconhecer a 
forma mais adequada para se estabelecer o entendimento mais eficiente entre as pessoas.
3.2 Palavras lexicais e palavras gramaticais
O léxico, como vimos, é o conjunto de palavras de uma língua, mas é preciso distinguir 
nesse conjunto os elementos lexicais “plenos” e os elementos lexicais de natureza gramatical.
Tomemos duas pequenas listas de palavras do português:
1. certo, hoje, torre, ver.
2. com, os, quando, se.
Saberíamos explicar o que cada uma das palavras da série (1) significa? Ainda que pu-
desse haver algumas divergências na definição de palavras de significação mais ampla ou 
vaga, a resposta certamente seria “sim”. E quanto às palavras da série (2)? Provavelmente, 
as explicações ficariam restritas aos conhecimentos gramaticais de cada um, cabendo até 
retrucar: de que “os” ou de que “se” você está falando? 
A série (1) contém as chamadas “palavras lexicais”; a série (2) contém as chamadas 
“palavras gramaticais”. Na primeira, temos um adjetivo, um advérbio, um substantivo e 
um verbo; na segunda, temos uma preposição, um artigo, uma conjunção e um pronome. 
Na lista (1) poderíamos acrescentar quantos adjetivos, advérbios, substantivos e verbos? O 
número é aberto, pois a todo momento novas palavras lexicais podem ser formadas (taliba-
nizar? / argentinização? / palestra incomodacional? / chororosamente?).
O Globo: 29/10/2008
Palestra “incomodacional” é a novidade 
da vez de René Simões.
Técnico tricolor tem priorizado a conversa com os jogadores antes dos treinamentos.
Estilística léxica3
Semântica e estilística40
Já na lista (2) o conjunto é finito, sua dimensão é relativamente reduzida, enumerável 
em extensão e praticamente restrito – embora os processos de gramaticalização permitam 
que as palavras se “movimentem” entre os grupos. Assim, a conjunção “porque” pode se 
substantivar e virar “motivo” (Não entendi o porquê de sua dúvida); o substantivo “tipo” 
pode vir a se gramaticalizar como conjunção (Vocal feminino possante tipo Ivete Sangalo 
procura banda = como) ou como preposição (Passo na sua casa tipo meio-dia = perto de).
Figura 2 – Ivete Sangalo.
Fonte: Divulgação MK.
“As palavras gramaticais são pouco numerosas, mas de altíssima frequência nos enuncia-
dos, desempenhando funções de grande importância”, frisa Nilce Sant’Anna Martins (1989, p. 
72). Essas funções são elementos-chave na construção de um texto e, paradoxalmente, embora 
sejam desempenhadas por um contingente pouco numeroso, carregam a responsabilidade de 
dar à mensagem que se quer transmitir o exato valor pretendido pelo emissor – a quem com-
pete, em última análise, dominar plenamente o uso das palavras gramaticais.
Em síntese, elas servem para:
• relacionar o enunciado com a situação de enunciação, indicando os participantes 
da comunicação, o espaço e o tempo em que ela se dá (são os dêiticos: eu, tu, e 
suas variantes, aqui, aí, agora, possessivos e demonstrativos referentes à primeira 
e à segunda pessoas etc.);
• substituir ou referir algum elemento presente no enunciado (são os anafóricos ou re-
presentantes: ele, demonstrativos não relacionados à primeira e à segunda pessoas etc.);
• atualizar os nomes, transformando-os de elementos do paradigma ou palavras 
de dicionário em termos da frase (são os determinantes: artigos definidos e 
indefinidos);
Estilística léxica
Semântica e estilística
3
41
• relacionar palavras no sintagma (preposições) e orações na frase (conjunções e 
pronomes relativos);
• estabelecer coesão textual, seja dentro de uma frase, seja entre frases diversas (ana-
fóricos, conjunções, operadores argumentativos etc.).
Palavras lexicais: referem-se a processos ou objetos existentes no mundo real = 
verbos, nomes e advérbios. 
Palavras gramaticais: restringem-se ao âmbito interno da língua e de seus 
enunciados = artigos, preposições, conectivos e palavras dêiticas.
3.3 Neologismos lexicais e semânticos
A criação expressiva de palavras é uma prática bastante comum na língua portuguesa. 
Todos os dias observamos o emprego de palavras novas, derivadas ou formadas de outras 
já existentes, e a atribuição de novos sentidos a palavras já existentes: “melancia” e “laranja” 
deixam de ser apenas os nomes de duas frutas e passam a funcionar como qualificador fe-
minino ou testa de ferro, respectivamente; o torcedor que vai para a geral dos estádios vira 
“geraldino”, a passarela do samba é o “sambódromo”... E assim a lista vai se expandindo dia 
a dia, propiciando que as situações da vida sejam retratadas pelo léxico. Se os neologismos 
serão duradouros ou efêmeros, nunca se sabe, pois tudo depende do uso que deles se fará.
Trataremos aqui de dois tipos de neologismos: os lexicais e os semânticos.
3.3.1 Neologismos lexicais
No livro Morfologia: estudos lexicais em perspectiva sincrônica, assim definimos os neolo-
gismos lexicais (ou formais): 
Palavras novas, isto é, não dicionarizadas ou recém-dicionarizadas, que po-
dem ser objetivamente caracterizadas tomando-se como referência, no caso do 
Português do Brasil, o léxico oficial consignado no VOLP, embora os dicionários 
Aurélio, Houaiss e Michaëlis também possam ser fonte de consulta para esse fim. 
(HENRIQUES, 2008c, p. 138, grifos do autor)
Formados a partir de critérios muito variados, os neologismos lexicais podem consti-
tuir-se, num extremo, como a própria invenção de uma palavra, sem nenhuma lógica lin-
guística aparente, a não ser a simples junção de sons ou de letras. É o caso que Ieda Maria 
Alves (1990) denomina “neologismos fonológicos” (pela criação de um item lexical cujo 
significante é criado sem tomar como base nenhuma palavra preexistente).
No samba “Idioma Esquisito”, Nélson Sargento (1996) nos mostra com muita enge-
nhosidade uma série de palavras proparoxítonas cuja pretensão poderia ser resumida na 
discussão do seguinte slogan: “se beber, não componha”: 
Estilística léxica3
Semântica e estilística42
Fui fazer meu samba na mesa de um botequim, Depois de umas e outras, o 
samba ficou assim: Estrambonático, palipopético, cibalenítico, estapafúrdico, 
Protopológico, antropofágico, presolopépico, atroverático, Batunitétrico, prato-
finândolo, calotolético, carambolâmbolo, Posolométrico, pratofilônico, protopo-
lágico, canecalônico.
Os adjetivos que descrevem o samba feito “depois de umas e outras” se associam ao 
estado de embriaguez do eu poético. Alguns ainda conservam um vestígio de “lucidez 
vernacular”: antropofágico, cibalenítico (< cibalena, um comprimido para dor de cabe-
ça), atroverático (< atroverã, remédio para enjoo). Outros parecem pedaços cambaleantes 
de palavras: estrambonático (< estrambólico? + lunático?), prosolométrico (< ? + métrico), 
protopolágico (< proto? + ??), palipopético e presolopépico (< ???).
Neologismos que não deixam pistas morfológicas nem fonológicas nem semânticas são 
palavras perdidas, como os “gratifonísticos e os pseudoferilídicos que se tengam com frédios de 
antimalefania”, que agora inventamos. É compreensívelentão que o eu poético do samba de 
Nélson Sargento, ao final daquela estrofe, confesse: “É isso aí, é isso aí / Ninguém entendeu 
nada / Eu também não entendi / (Eu então vou repetir)[...]”(SARGENTO, 1996).
Podemos entretanto afirmar que os neologismos lexicais, na maior parte das vezes, são 
palavras que têm nítida inspiração em outra(s): bebemorar (para fazer par com comemorar) 
associa as ideias de beber e comer, embora a segunda não faça parte da estrutura do verbo 
(co+memorar); paitrocínio se baseia na aproximação fonética com a primeira sílaba da pala-
vra patrocínio. Caracteriza-se assim o que Ieda Alves (1990, 11-80) chama de “neologismos 
sintáticos” (criados a partir da combinação de elementos já existentes no idioma). Por essa 
denominação, só haverá neologismos sintáticos nos casos que envolverem o uso de afixos 
ou de combinação de radicais, ou seja, a derivação e a composição. Por esse motivo, a autora 
considera outro tipo de neologismo, de um lado, a conversão (ou derivação imprópria) e, de 
outro, os “processos menos produtivos” (a abreviação, a reduplicação e a regressão).
Um neologismo lexical pode, em alguns casos, gerar outros neologismos lexicais, pelos 
mesmos princípios. É o que ocorre em palavras geradas a partir da mencionada paitrocínio, 
como se vê nos exemplos (3) e (4):
3. E essa simplicidade é colocada pelo elenco como um dos méritos do sucesso. “Começou 
como de brincadeira, sem dinheiro. Conseguimos na época R$ 1 mil de ‘tiotrocínio’ (emprésti-
mo da família)”, conta a atriz Thaís Lopes da peça “Surto” (FM DIÁRIO, 2006).
4. Caro Diogo, não querendo acabar com a tua esperança, deixo-te a seguinte mensa-
gem que um piloto de automóveis me disse num desses fóruns de internet. Ele disse-me o 
seguinte: Em Portugal há três tipos de patrocínios: o paitrocínio ou tiotrocínio e o autotrocínio, 
a troca de favores (exemplo: eu patrocino-te porque a empresa do teu pai compra milhares 
de euros de material à minha!!!!). Por isso é melhor começares a contactar o teu familiotrocínio 
para poderes correr nesse troféu [...] (MOTONLINE, 2005) 
São situações criativas que podem testemunhar o início da gramaticalização de um radi-
cal “-trocínio” = “financiador”, embora caiba lembrar que o substantivo patrocínio contenha 
Estilística léxica
Semântica e estilística
3
43
na sua etimologia a referência a “pai”, pois é formado pelo radical culto “patrocin-”, cuja 
raiz é “pater-”. Isso mostra como muitas vezes o usuário contemporâneo já não tem cons-
ciência da informação diacrônica acerca de um vocábulo ou expressão. 
Mas um neologismo lexical pode igualmente produzir uma segunda nova formação 
com vínculos mais fonológicos do que semânticos. Um exemplo muito utilizado pela mídia 
nos anos 2005 e 2006 ocorreu com a palavra valerioduto, popularizada pela imprensa para se 
referir a um dos muitos e grandes escândalos da política brasileira. Seu segundo componen-
te (-duto) serviu de base fonológica para a formação de valerioindulto, onde o novo radical 
adicionado dá mostras de que, apesar de o “condutor” ser réu confesso, os “conduzidos” 
nem sempre são condenados.
3.3.2 Neologismos semânticos
No livro Morfologia: estudos lexicais em perspectiva sincrônica, assim definimos os neologis-
mos semânticos (ou conceituais): 
Incorporar significados novos a vocábulos já existentes é o que caracteriza 
a criação de neologismos semânticos, tomando-se como referência, no caso do 
Português do Brasil, obras como os dicionários Aurélio, Houaiss e Michaëlis, pois o 
VOLP é uma fonte que não tem o objetivo de registrar as acepções das palavras. 
(HENRIQUES, 2008c, p. 146, grifos do autor)
É bom frisar, porém, que os limites de identificação de valores semânticos novos como 
neológicos podem esbarrar com os do reconhecimento de valores metafóricos também no-
vos. Por exemplo, o neologismo semântico rato praticado em Portugal não foi adotado no 
Brasil, que preferiu incorporar o estrangeirismo mouse. É nítido aqui que a palavra “rato” 
(ainda que por uma relação metafórica) representa um novo significado, uma peça usada 
em computadores. A notícia de jornal que lamenta a existência de inúmeros ratos na política 
nacional serve também como exemplo de neologismo semântico? A datação desse signifi-
cado não é nova, mas não é isso apenas que exclui a resposta afirmativa. Certamente, a me-
táfora dos “dinossauros”, que é muito mais recente (está registrada no Dicionário Houaiss, e 
não no Dicionário Aurélio) nos servirá como dado representativo dessa fronteira nem sempre 
muito demarcada entre neologismo semântico e metáfora conceitual.
3.4 Figuras de linguagem
Tudo o que diz respeito à construção, ao uso e à escolha das palavras, como vimos, pode 
sugerir dentro da frase um valor expressivo para o que pretendemos comunicar. Quando 
isso acontece, temos figuras de linguagem. No campo da morfoestilística, esses recursos po-
dem ser sintetizados a partir do estudo de duas figuras, a metáfora e a metonímia:
Estilística léxica3
Semântica e estilística44
Metáfora – estilisticamente, é a figura de pensamento que corresponde a uma compa-
ração de igualdade subentendida, atuando com as relações de similaridade, onde a base 
comparativa é o elemento implícito que admite a variedade interpretativa.
5. Teus olhos castanhos são estrelas fulgentes.
→ A base de comparação entre teus olhos castanhos e estrelas fulgentes está em aberto: 
ambos cintilam (são fulgentes), brilham, ou são tocantes, raros, lindos, ou são inspiradores 
de algum sentimento.
Figura 3 – Olhos fulgentes.
Fonte: IESDE BRASIL S/A.
Didaticamente, é um procedimento bastante proveitoso explorar a riqueza metafórica 
da língua viva (presente em palavras lexicais) e exercitar as distinções entre metáforas já in-
corporadas à linguagem do dia a dia e aquelas que poderiam ser chamadas de “inventivas”.
Igualmente interessante é chamar a atenção para as metáforas conceituais, que se ba-
seiam numa visão cognitivista segundo a qual conceitos abstratos que subjazem ao pensa-
mento humano norteiam a linguagem e a maneira como nos referimos aos objetos que nos 
cercam (revelando, enfim, de que maneira vemos o mundo). As metáforas conceituais nada 
mais são do que uma espécie de denominador comum das muitas metáforas cotidianas so-
bre um mesmo tema.
Podemos, outrossim, tirar partido de outras figuras de linguagem como a prosopopeia, 
o eufemismo e a catacrese, que também têm base metafórica.
6. Para mim, és um anjo, uma flor, um doce ursinho. 
→ Metáforas “cotidianas” (?).
7. Nossos governantes são diafragmas. 
→ Metáfora “inventiva” (?).
8. Economize seu tempo! Invista seu tempo em coisas úteis! 
→ Metáforas conceituais (tempo = dinheiro).
9. O primo tem um alto astral, mas ele vive na fossa. 
Estilística léxica
Semântica e estilística
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45
→ Metáforas conceituais (alegria = “para cima” e tristeza = “para baixo”).
10. O vizinho entregou a alma ao Criador. 
→ Eufemismo (é um tipo de metáfora que tem o objetivo de suavizar uma ideia mais 
forte ou agressiva).
11. Nem seu travesseiro entenderia aquela proposta amarga.
→ Duas prosopopeias (é um tipo de metáfora que consiste em dar vida, ação, movimen-
to ou voz a seres inanimados).
12. Se embarcar nesse trem, finalmente verei o leito do Rio Amazonas? 
→ Duas catacreses (é um tipo de metáfora que supre, por semelhança, a ausência de 
uma palavra própria para representar um significado).
Metonímia (abrangendo a sinédoque) – atua com as relações de contiguidade, em que 
prevalece o entendimento de um vocábulo por outro porque ambos são postos no mesmo 
campo semântico denotativo. 
13. Presenciei o encontro entre um sem-terra e um sem-teto.
→ Tomou-se terra e teto (terra = propriedade rural; teto = moradia) mais amplamente do 
que em seu sentido literal.
14. O menino era a alegria da família.
→ Tomou-se alegria como substituto de “causa, responsável pela alegria”.
15. Bebemos várias garrafas de refrigerante.
→ Tomou-se garrafas como substituto de “líquido

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