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VASCONCELOS, Eduardo Mourão. O movimento de higiene mental e a emergência do Serviço Social no Brasil e no Rio de Janeiro. Saúde mental e serviço social: o desafio da subjetividade e da interdisciplinaridade. São Paulo, Cortez. Parte II. 2000 (p.127- 180).

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Texto: VASCONCELOS, Eduardo Mourão. O movimento de higiene mental e a emergência do Serviço Social no Brasil e no Rio de Janeiro. Saúde mental e serviço social: o desafio da subjetividade e da interdisciplinaridade. São Paulo, Cortez. Parte II. 2000 (p.127- 180).
	INTRODUÇÃO
O texto é fruto de uma pesquisa acerca da inserção do Serviço Social no campo da saúde mental na área metropolitana do Rio de Janeiro, desde a década de 30, período de implementação e desenvolvimento da Escola de Serviço Social no Brasil. Foi verificado nas primeiras escolas brasileiras, a saber do Rio de Janeiro e de São Paulo, um conteúdo didático presente na formação do assistente social completamente concernente as temáticas do campo da higiene mental. Quando buscou-se identificar as origens e determinantes desse conteúdo, verificou-se que, concomitante ao período de grande expansão profissional do Serviço Social norte- americano, na segunda década do século XX, expandia-se o processo de desenvolvimento do movimento de higiene mental naquele pais, bem como, aconteceu, umas década mais tarde na Europa. 
Para sistematização da pesquisa, visto a novidade da abordagem do assunto para discussão sobre as origens do Serviço Social, se propôs o seguinte esquema: 
realizar uma “rápida introdução histórica e descritiva do movimento de higiene mental”.
a formulação e verificação das hipóteses de acordo com a constituição da profissão nos Estados Unidos, Europa e Brasil.
1- A tradição do Serviço Social de caso no Serviço Social americano por meio dos trabalhos de Richmond e Robinson se encarregou de incorporar a herança higienista nas bases de sistematização e profissionalização do Serviço Social nos EUA, e posteriormente, no Brasil.
2- O MHM foi constitutivo das bases católicas do Serviço Social belga e Frances, ganhando espaço na Europa no inicio da década de 20.
3- Para que o Estado assumisse a prestação de serviços sociais, naquele momento histórico e político brasileiro, o MHM foi determinante, pois ele estabeleceu uma relação de complementaridade e de demarcação das áreas de competência com o Serviço Social católico, o que contribuiu para que as escolas profissionais nessa área emergissem.
4- O Serviço Social doutrinário católico brasileiro, tendo como modelo o Serviço Social de base belga e Frances, inclui disciplinas conteúdo higienista na grade curricular das escolas seja de forma complementar e/ou subordinada a abordagem católica. Acontecendo de, inclusive, na escola do Rio de Janeiro, o conteúdo disciplinar simplesmente não possuir cunho religioso, e sim, medico. Essa grande integração de conteúdo medico só foi alterado na década de 70 por uma revisão curricular feita pelo Conselho Federal de Educação.
5- Esse fenômeno não vem sendo devidamente reconhecido pela historiografia do Serviço Social no Brasil embora esta tenha se tornado bem flexível e diversa a partir dos anos 90.
6- A influencia norte-america, a partir dos anos 40, não rompeu com os princípios essenciais das doutrinas higienista e católica, mas fortaleceu a presença dessa tradição por meio de um campo da psicanálise inspirado na psicologia do ego.
7- O modelo “Child Guidance Clinics” para o diagnostico e tratamento de crianças problema e para implementação de educação higienica nas escolas e na família através dos Centros de orientação Infantil e Juvenil (COI e COJ) foi o modelo que iniciou a relação entre o Serviço Social e a saúde mental, principalmente no Rio de Janeiro, devido propagarem o Serviço Social Clinico ou Serviço Social de Caso.
ORIGENS HISTÓRICAS E TEÓRICAS, E PRINCIPAIS CARACTERÍSTICAS GERAIS DO MOVIMENTO DE HIGIENE MENTAL
As obras que abordam os antecedentes do movimento de higiene mental o associam à medicina social do século XIX, porem, com raízes mais especificamente psiquiátricas, somente por meio de uma mudança ocorrida com a publicação do Tratado dos degenerescências de Morel,no mesmo século, na Franca. Esse fato significou deslocar uma analise psiquiátrica que se centrava na semiologia, ou seja, no estudo e descrição dos sintomas e sinais visíveis da doença, para a etiologia, as causas e a gênese da doença. Morel deu vida a essas ideias por meio da observação de um determinado grupo de proletariados e agrícolas, o que o levou a conceber a noção de degenerescência partindo da idéia de que os meios higiênicos e morais vivenciados pela população miserável os corrompiam física e moralmente, deteriorando as suas qualidades naturais resultando, assim, em um aumento de “indivíduos-problema”.
Essa mudança significava que o tratamento moral psiquiátrico deixaria de ser somente uma “profilaxia defensiva”, ou seja, representado por um local de amparo que isolava e tratava indivíduos perigosos, para ter uma aplicação preservadora, combativa e ampla. Se entende, agora, que é preciso “modificar as condições intelectuais, físicas e morais daqueles indivíduos”. A profilaxia deveria atentar para a toda a sociedade por meio de aplicações higiênicas e terapêuticas. Assim se buscou a “moralização das massas”, das classes consideradas incapazes de acompanhar o movimento avançado das classes superiores se abandonadas a própria sorte. Isso implicou que não somente o medico poderia operar a regeneração das massas, mas todos aqueles que realizassem uma ação junto a população. 
O movimento de higiene mental, segundo o autor, tem suas origens na Franca, mas só foi fomentado pela cultura estadunidense, no inicio do século XX, por caracterizar-se como meritocrática, baseada na ética protestante de salvação individual, nas raízes do darwinismo social, da filosofia empírica, pragmática e positiva, e pela continuidade da Charity Organization Societes no Serviço Social. O movimento atingiu seu auge nos EUA no inicio da década de 20, mas diversas ligas nacionais já se espalhavam pelo o mundo.
O Movimento de Higiene Mental nos EUA foi fruto de uma publicação denominada “Uma mente que encontrou a si mesma”, publicada por um vendedor de seguros e de serviços de um escritório de arquitetura de Nova York, Clifford Beers, refém de crises constantes causadoras de sua internação várias vezes. Essa publicação recebeu apoio de William James, Adolf Meyer e outros nomes do campo da saúde importantes da época, propondo e conseguindo nesta obra uma ampliação do enfoque para prevenção e higiene mental em toda a sociedade, dando vida a uma cruzada contra a doença mental no país. 
Assim, o MHM buscava alcançar todo o corpo social pois via-se na psiquiatria a solução para a ordem e a estabilidade, a cura para “os alienados e pobres de espírito” . É dessa forma que a psiquiatria passa a formular “então um programa de higiene social e econômica, que vai atingir principalmente os trabalhadores e o subproletariado”. 
HIPÓTESE 1
A tradição do Serviço Social de caso no Serviço Social americano por meio dos trabalhos de Richmond e Robinson se encarregou de incorporar a herança higienista nas bases de sistematização e profissionalização do Serviço Social nos EUA, e posteriormente, no Brasil.
Anterior ao período de predominância do movimento de higiene mental no Serviço Social norte-americano, existiam, no inicio do século XX, duas correntes principais de trabalho social naquele pais : “a do Settlement Movement, movimento de residências sociais, que reivindicava um papel mais ativo do Estado nas questões sociais; e das Charity Organization Societies- COS, “que se caracterizava por uma prática assistencial de concessão de auxílios predominantemente individuais por organização caritativa, de forma racionalizada,cientifica e integrada, obedecendo a critérios de merecimento, tendo como principal expoente, Mary Richmond. Segundo Bastos este último movimento foi o que prevaleceu no período de formalização da profissão do Serviço Social nos Estados Unidos,devido o seu caráter mais conservador. 
A literatura historiográfica do Serviço Social parece concluir que emergência do Serviços Sociais de casos teria sido desenvolvido pela COS. Porem, de acordo com Vasconcelosa base do SSC estaria localizada nas práticas de after-care (cuidado pós- hospitalar) do serviço social psiquiátrico emergente no período e do movimento de higiene mental, nos anos 10 e 20. Através desse método se atribuía importância ao “meio ambiente do paciente”, sendo necessário conhecer as relações que davam forma a sua personalidade “para a compreensão da doença mental e para o bom encaminhamento da alta”. Com esse fim,trabalhadores sociais da época foram mobilizados para a coleta de dados dos pacientes, dando origem ao Serviço Social psiquiátrico nos Estados Unidos.
As obras de Richmond foram escritas nesse contexto. O seu primeiro livro Diagnóstico Social, de 1917, não parece, a principio, ter uma influência mais direta da psiquiatria, embora esteja presente nele varias referencias a psiquiatrias e seja apontado a relação próxima de Richmond e o psiquiatria Adolf Meyer. Entretanto, essa influência pode ser percebida claramente nas obras posteriores desta pioneira.
Contudo, Vasconcelos afirma que “a influencia das teorias psiquiátricas no Serviço Social sofreu um aceleramento mais agudo a partir da entrada dos Estados Unidos na Primeira Guerra”. Devido a atenção e tratamento direcionada aos os soldados traumatizados, bem como o tratamento de suas famílias, exigiu-se dos assistentes sociais a abordagem de fatores psicológicos em seu trabalho. Dessa forma, nos anos posteriores a guerra ocorreu uma crescente fusão do Serviço Social com a psiquiatria e o movimento de higiene mental nos EUA.
Mary Jarret, outra profissional pioneira do serviço Social psiquiátrico no Boston, teve uma participação histórica na National Conference of Social Work, em 1919, apresentando um trabalho intitulado. “A penetração psiquiátrica através de todo o serviço social de caso”, propondo a inclusão do ensino de psiquiatria em toda a formação profissional do serviço social.
Da mesma forma, Virginia Robinson, cujo trabalho marca uma maior influência do pensamento psicanalítico e uma maior ênfase no papel terapêutico do assistente social, defende que a concepção encontrada em Mary Jarret não é diferente das formulações de Mary Richmond em sua obra Diagnostico Social. Friedlander afirma que o trabalho social deixou de dar mais “atenção aos problemas econômicos e sociológicos” para dar atenção aos “problemas psicológicos e emocionais”.
Como aponta Yelloly (1980), essa receptividade da mudança de enfoque para os assistentes sociais estava ligado também a mudança do status profissional. Através do treinamento psicológico e social para alem da clinica, o assistente social poderia se ver isento da posição subalternizada ao psiquiatra. Alem disso, Vasconcelos chama atenção para o “mundo acadêmico e profissional como portador de uma metodologia própria e rigorosa”, ou seja, o profissional de Serviço Social se encontrava perante um aporte teórico e metodológico imposto e tinha sua pratica pautada no modelo hegemônico da época.
HIPÓTESE 2
O MHM foi constitutivo das bases católicas do Serviço Social belga e Frances, ganhando espaço na Europa no inicio da década de 20.
Vasconcelos defende que ocorreu uma forte difusão do higienismo na França e na Belgica no mesmo período de estruturação dos Serviços Sociais belga e Frances no Brasil. Na França, a emergência do movimento de higiene mental se da pela atuação e criação de instituições com esse fim, pelo Dr. Toulouse e pelo Dr. Genil-Perrin, em toda a década de 1920. Na Bélgica, o movimento de higiene mental teve forte organização, criando sua liga em 1922. 
Verdès-Leroux confirma esse tese da influencia do higienismo nas duas linhas principais de ação do serviço Social da época: a das superintendentes de fábricas e a das visitadoras sociais.Sobre a primeira, a higiene do trabalho constituía um dos itens fundamentais da plataforma higienista. O seu discurso percorria os extremos do “pernicioso, nocivo, tara, vicio” a “limpeza, decência, disciplina”. A visão imposta à sociedade era de que “o corpo social estava constantemente ameaçado por infecções, contaminações, epidemias”.
Quanto à linha das visitadoras sociais, associam-se ao higienismo, pois, como o autor aborda, seu trabalho acontece dentro dos centros psiquiátricos de forma subordinada aos médicos higienistas. Essa tutela médica ditava a pratica social, as pesquisas, a intervenção e o tratamento. 
HIPOTESE 3
Para que o Estado assumisse a prestação de serviços sociais, naquele momento histórico e político brasileiro, o MHM foi determinante, pois ele estabeleceu uma relação de complementaridade e de demarcação das áreas de competência com o Serviço Social católico, o que contribuiu para que as escolas profissionais nessa área emergissem.
Desde a década de 20, a psiquiatria higienista esteve ativa no Brasil. Entretanto, não teve muito sucesso nas primeiras tentativas. Com a posse de Vargas, a LBHM alimentou as esperanças de adquirir espaço, financiamento, cargos de liderança e adesão dos governos e das massas. Em 1933 ocorreu a Campanha Pro- Higiene Mental, mas se considera a Assembléia Nacional Constituinte de 1934, um momento fundamental para a emergência política e social dos higienistas. Antonio Carlos Pacheco e Silva, fundador da Liga Brasileira e da Liga Paulista de Higiene Mental, esteve presente na composição da Constituinte e garantiu a responsabilização do Estado em face da questão da higiene e da saúde publica, sobretudo no artigo 138. Observa-se que se confere a educação eugênica a solução para melhores condições fisiológicas que, por sua vez seriam decisivas na preservação da “boa raça” combatendo os “venenos sociais”. 
Vale ressaltar também que “a influência desse grupo de parlamentares no Serviço Social não se deu apenas no plano doutrinário e legislativo, mas marcou claramente a iniciativa concreta de fundação da primeira escola carioca de Serviço Social, através da deputada constituinte Carlota Pereira de Queiroz”. Em seu discurso percebemos o valor que ela atribui à ação do Serviço Social no trabalho de profilaxia. Dessa forma ela estimulou as 3 instancias nacionais a criarem serviços especializados de Serviço Social para amparo aos desvalidos, com ênfase na criança abandonada. Isso posteriormente contribuirá para o investimento na profissionalização dessa atividade em busca de recrutar um maior numero de profissionais.
Mas afinal, como esse projeto higienista se relaciona com o projeto católico contribuindo para o seu prestigio e hegemonia tão conhecido pela historia do Serviço Social?
Jurandir Freire Costa aponta que os argumentos justificativos para os programas de higiene mental e das campanhas da Liga; assim como o próprio modelo organizacional buscava subsídios no moralismo católico. Entretanto, segundo Costa, alguns dos higienistas mantiveram posições conflituosas com a doutrina católica.
 Herschemann (1996) em sua dissertação de mestrado “desenvolve a tese da existência de uma articulação complexa entre esse projeto e a Igreja Católica”. Herschmann também reconhece que havia áreas e temas que representavam pontos de tensão entre os dois projetos. Certas ideias defendidas pelos higienistas eram completamente combatidas os setores mais conservadores da Igreja, pois julgavam que aquelas ofendiam seus princípios de moral e bons costumes. Isso refletia-se também no aporte teórico do Serviço Social católico, pois havia diferenças nos princípios doutrinários e filosóficos dos campos católico e higienista: (1) o Serviço Social católico atribuía ao ateísmo e a falta de temor a Deus as causas dos problemas sociais; (2) o atendimento medico era pontual, isolava o enfermos do resto do mundo os confinando dentro do consultório. Já a pratica do Serviço Social possuía uma abordagem mais amplas que a medicina, pois, segundo Luis Carlos Mancine, diretor da revista Serviço Social, a vida social do doente era mais ampla, tendo em vista a complexidade do fenômeno da miséria e do desajustamento. Assim, competia ao Serviço Social realizar essa leitura.
Alem disso, entre o Serviço Social católicoe as instituições medicas, existia a “competição corporativa pela competência profissional em áreas especificas de atuação”. Devido a posição subordinada, a pratica do Serviço Social era praticamente ditada pelo medico, não possui, portanto, uma autonomia.
Colocando isso a parte, no que tange ao Serviço Social, segundo Vasconcelos existia uma relação de “complementaridade e demarcação de áreas de competência” Ou seja, havia uma relação conflituosa entre esses dois polos, mas, também ambos os lados buscavam um equilíbrio entre suas ações. “Os médicos reivindicavam uma medicina de Estado enquanto a Igreja “cuidaria das almas. Os médicos cuidariam do ‘corpo’ e a igreja da ‘vida eterna’”. Vasconcelos também aponta que os próprios pioneiros do Serviço Social elogiavam e reproduziam o artigo 138 da Constituição de 1948 pela atenção instituída sobre o amparo a maternidade e a infância, áreas de relevância para a pratica do Serviço Social católico. Essa relação se expressa também na inclusão das disciplinas do projeto higienista nos currículos de graduação da profissão. 
HIPÓTESE 4.
O Serviço Social doutrinário católico brasileiro, tendo como modelo o Serviço Social de base belga e Frances, inclui disciplinas conteúdo higienista na grade curricular das escolas seja de forma complementar e/ou subordinada a abordagem católica. Acontecendo de, inclusive, na escola do Rio de Janeiro, o conteúdo disciplinar simplesmente não possuir cunho religioso, e sim, medico. Essa grande integração de conteúdo medico só foi alterado na década de 70 por uma revisão curricular feita pelo Conselho Federal de Educação.
Dentre os pontos comuns principais da plataforma higienista está: 1)eugenia que configura-se como a “idéia de transmissão hereditária das doenças mentais”. O ponto mais radical da plataforma da eugenia que dizia respeito ao “melhoramento da raça” de inspiração no nazismo alemão, não foi aceita pelos setores católicos, consequentemente não ganhou muita repercussão no Brasil; 2) a criação de órgãos de cunho estatal “coordenadores, definidores e fiscalizadores de políticas de saúde mental”, instituições de tratamento e internação aos “psichopatas”; 3)esse tratamento também foi ampliado a população em geral, ao “homem comum”, o operário e sua família afim de difundir a “hábitos sadios e revigorantes de ajustamento social” no combate ao abandono físico, moral e intelectual da infância e juventude, orientações de higiene física e moral no trabalho, combate ao alcoolismo, drogadição, crime, prostituição, doenças etc. 
Em consonância a essa plataforma se encontra o conteúdo dos currículos das primeiras escolas de Serviço Social, principalmente as do ponto 3 citado acima. É possível identificar nos programas de formação do Serviço Social da escola paulistana, blocos de disciplinas religiosas e higienistas, sendo que as principais disciplinas de cunho higienista esteve presente na documentação paulistana ate1956. 
No Rio de Janeiro, entretanto, percebeu-se que a formação das escolas estavam mais voltadas aos interesses estatais de lidar com as mazelas sociais em geral, com o apoio da Igreja católica, centrando suas ações, principalmente na área médico-social e do Juizado de menores.
De acordo com Bravo, a estrutura curricular e de formação profissional do curso de enfermagem, tinha, por vezes, pontos em comum com o Serviço Social. Isto afirmava a visão da profissão como uma “atividade paramédica”. Nota-se também a presença constante das disciplinas como Higiene, Higiene Mental, Higiene Escolas e Higiene do Trabalho que perdurou ate a década de 1970, com a introdução de um novo currículo. 
HIPÓTESE 5
Esse fenômeno não vem sendo devidamente reconhecido pela historiografia do Serviço Social no Brasil embora esta tenha se tornado bem flexível e diversa a partir dos anos 90.
Essa presença higienista nos primórdios da profissão não vem sendo devidamente reconhecida pela historiografia da profissão no Brasil. (p. 156)
Percorrendo a historiografia do Serviço Social brasileiro e latino americano, podemos identificar claramente algumas tendências principais. Nos anos 80, a historiografia hegemônica do Serviço Social segue uma linha de analise onde a profissão é entendida enquanto uma evolução natural das formas de “auxilio e auto-ajuda”, mais tarde racionalizadas e transferidas aos governos nacionais.
 
“A partir do processo de reconceituação vivido pela profissão durante os anos 70 e 80, influenciado particularmente pela perspectiva teórica do marxismo, a historia da profissão é reinterpretada”. A historia da profissão é pensada a partir das condições de exploração e, mais tarde, novos estudos enfatizam o papel predominante da igreja católica brasileira e latino americana através do movimento laico para o processo de criação das primeiras escolas de Serviço Social. A filosofia inspiradora dos primeiros cursos foi predominante o neotomismo e positivismo fomentando uma lógica assistencial moralizadora e reajustadora da família. Esse período e denominado pelo Serviço Social como período doutrinário. 
Contudo, algumas escolas foram criadas sob influencia de outros projetos institucionais e sociais, como interesses da profissão médica e forte proximidade com o problema da higiene pública.
Sobretudo, na virada dos anos 90, novos estudos, inspirados em tradições teóricas as mais diversas, começam a questionar a interpretação hegemônica dos anos 80, através de estudos de escolas individuais ou de processos regionais,ou seja, as particularidades no processo de constituição da primeira escola. Estudos sobre a profissão em países como o Uruguai, Argentina revelam a influencia base das doutrinas higienistas. Segundo Backx (1994) no Rio de Janeiro, o estado iniciou um processo de normalização da sociedade carioca no contexto de formação do Serviço Social, indicando também a influencia do higienismo nesse momento.
HIPÓTESE 6.
 
A influencia norte-america, a partir dos anos 40, não rompeu com os princípios essenciais das doutrinas higienista e católica, mas fortaleceu a presença dessa tradição por meio de um campo da psicanálise inspirado na psicologia do ego.
De acordo com a analise elaborada ate aqui, não podemos demarcar uma ruptura entre o período chamado doutrinário e o período de influencia norte-americana pois havia um elemento em comum entre eles, o movimento de higiene mental.
De fato, os historiadores da psiquiatria norte-americana reconhecem que há uma continuidade histórica entre este movimento e a difusão da psicanálise nos Estados Unidos, principalmente através do método casework.
A psicanálise foi incorporada à tradição empirista e neopositivista,descartando o papel destrutivo do Id e acentuando-se o papel do Ego como centro do processo de adaptação do individuo às exigências de seu meio, no movimento que foi denominado de psicologia do ego.
Os trabalhos de Serviço Social de casos de inspiração psicanalítica buscaram suas bases conceituais nas formulações da psicologia do ego norte-americana,tiveram parte sua gênese influenciada e constituíram um elemento de continuidade do higienismo.
Esse laço da psicanálise com o movimento de higiene mental não se resumiu aos Estados Unidos. Schechtman, mostra com vários dos primeiros psicanalistas brasileiros eram notórios higienistas e organizadores de serviços de psicanálise dentro de serviços mais amplos de higiene mental.
Se são verdadeiras essas indicações históricas sobre a apropriação e integração da psicanálise com o movimento de higiene mental, principalmente através da psicologia do ego, o autor sugere que, no Brasil, a passagem do chamado período doutrinário do Serviço Social para o da influencia norte-amaricana assinalaria, apenas, a meu ver, uma mudança de roupagem.
HIPÓTESE 7
O modelo “Child Guidance Clinics” para o diagnostico e tratamento de crianças problema e para implementação de educação higienica nas escolas e na família através dos Centros de orientação Infantil e Juvenil (COI e COJ) foi o modelo que iniciou a relaçãoentre o Serviço Social e a saúde mental, principalmente no Rio de Janeiro, devido propagarem o Serviço Social Clinico ou Serviço Social de Caso.
O Serviço Social brasileiro iniciou sua inserção no campo da saúde mental através dos COJ e dos COI, diretamente influenciados pelo modelo proposto pelos higienistas naquele contexto com base em experiências na Child Guidance Clinics norte-americanas.
Um primeiro serviço desse tipo foi criado no Rio de Janeiro em 1932, denominado de “Clinica de Eufrenia”. A pretensão era a criação de uma “clinica de hábitos” com divulgação das técnicas de higiene mental entre o professorado municipal.
A“eufrenia”, proposto pelos higienistas, segundo Schechtman, constitui o estudo que teria por fim assegurar a boa formação do psiquismo, tendo duas vertentes. A primeira, a eufrenia genealógica, confundia-se com o campo da eugenia, como descrito acima e que deveria ser complementada por uma compreensão medico-pedagógica.
A eufrenia medico pedagógica estaria dividida em dois ramos: eufrenopedia e ortofrenopedia. A função da aplicação desse modelo era tratar anormalidades diagnosticadas em crianças doentes e realizar atividades para o bom desenvolvimento de crianças consideradas normais. “Assim, a clinica teria uma atuação direta no período inicial do desenvolvimento mental infantil, dos primeiros meses aos doze anos”. 
Segundo Vasconcelos, a visão da Liga Brasileira de Higiene Mental, haveria dois tipos de serviços de higiene mental infantil: individuais e coletivos. O Individual era mais clinico, no espaço do consultório. Quanto aos trabalhos coletivos, tratava-se de propaganda dos princípios de higiene mental. 
Observa-se que esse plano tinha o objetivo de acompanhar o desenvolvimento infantil para a boa formação do psiquismo da criança, uma futura cidadã. Para isso, caberia aos especialistas e professores esclarecer aos pais quanto a origem dos distúrbios psíquicos das crianças nas relações familiares. 
Após essa explicação, Vasconcelos apresenta as experiências de Centros de orientação, onde o Serviço Social teve presença marcante.
O Centro de Orientação Juvenil foi criado no Rio de Janeiro em 1946. Tiveram direta inspiração na experiência do Institute for Juvenile e Search de Chicago e do movimento dos Child Guidance Clinics americanos.
 Os objetivos desta clinica dirgiam-se em torno da prevenção, “promover a saúde mental e prevenir distúrbios dessa natureza, tanto na infância como na vida adulta”. Pregava, junto as famílias, em vários espaços coletivos, os princípios da higiene mental
Vasconcelos afirma que “sem dúvida alguma, o trabalho do COJ se constituiu em referencia teórica para várias gerações de profissionais do chamado Serviço Social clinico.” e que as razoes para isso dizem respeito ao fato de (1) o trabalho multiprofissional do em que o Serviço Social participava dentro da clinica dava uma sensação de valorização, reconhecimento, novas possibilidades econômicas; (2) o COJ possibilitar a sistematização e publicação de trabalhos, permitindo que a atividade profissional fosse divulgada e se tornasse renomada. 
COMENTÁRIOS FINAIS
Vasconcelos explica que este trabalho não significa uma conclusão, mas as indicações aqui apresentadas não deixam duvida de que é necessário abrir um debate sobre a formação do Serviço Social brasileiro a latino-americano. É necessário ampliar as perspectivas de investigação da historia do Serviço Social e atentar as particularidades de cada escola e região, que podem contribuir mais tarde em uma analise mais completa do todo. Investigar a historia de uma profissão implica entender a atualidade da mesma. De modo geral, a importância aplicada sobre o movimento de higiene mental abre as portas para novas reflexões acerca dos interesses de classes, da articulação com o Estado, formas de poder e quanto à discussão sobre a subjetividade.

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