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AS TRANSFORMAÇÕES ESTRUTURAIS DA AGRICULTURA E OS IMPACTOS SOBRE OS MERCADOS DE TRABALHO RURAIS: A EMERGÊNCIA DAS OCUPAÇÕES NÃO- AGRÍCOLAS O grande contexto de mudança em escala mundial é a década de 80, onde o capitalismo entra em crise em esfera mundial. É a crise da indústria que realinha as políticas do mundo como um todo. Para entender estas transformações é necessário entender o contexto da década de 80. Conhecida como década perdida, é o último momento de grande crise do capitalismo, maior que a crise de 2008. É tão grande que muda os rumos do capitalismo no mundo. O Estado fortemente interventor da década de 70, dá lugar ao Estado Mínimo dos anos 90. Países como o Brasil questionam o produtivismo, mas não rompem com ele, ele não entra em crise. Somente os países de primeiro mundo que rompem com o produtivismo. Na Europa, o produtivismo entra em crise e surgem novas formas de produção. Nos EUA, o produtivismo entra em crise, porém as novas formas de produção que surgem não são alinhadas ao desejo do mercado consumidor, como na Europa. Nos EUA o desenvolvimento é do capital, então o modelo neoprodutivista neste país quer a readequação do grande capital do agronegócio (não preveem que a exploração como o agronegócio no Brasil) (esperam uma realocação do agronegócio para que o neoprodutivismo seja instalado nos EUA sem o prejuízo ao capital. Muda a forma de produzir diferentemente da Europa. Então na década de 80 o produtivismo é questionado e há uma mudança grande na forma de produzir no campo. O êxodo rural acabou como fenômeno na década de 80 também. O mundo passou a produzir com menor disponibilidade de mão de obra no campo. Em contrapartida as pessoas pararam de sair do campo, continuam morando no espaço rural mas o trabalho delas já não é mais um trabalho agrícola. -> nova configuração do mundo rural. A partir dos anos 80 existem 4 características na estrutura de posse e uso da terra e produção e distribuição dos produtos agropecuários 1. SUPERPRODUÇÃO DE PRODUTOS AGRÍCOLAS DEVIDO À ACELERAÇÃO DO PROGRESSO TÉCNICO NA AGRICULTURA E DA RELATIVA ESTABILIDADE DE PREÇOS DECORRENTES DO APOIO E DA INTERVENÇÃO DO ESTADO NA PRODUÇÃO AGROPECUÁRIA DOS PAÍSES DESENVOLVIDOS Até os anos 70, todo o mercado demanda mais produto agrícola. É por isso que a modernização conservadora deu certo. O Estado incentiva produtor a aumentar a produção no momento em que o mundo sinaliza positivamente o produto agrícola. Há um aumento da produção do produto agrícola em escala mundial. Nos anos 80, a produção mundial ela já é maior que a demanda, então preço destes produtos agrícolas cai e depois se mantém estável. Só grandes crises como a dos anos 80 no Brasil que o preço cai mas no cenário mundial ele se mantém estável. *Aula de produtivismo, fica claro que o produtor ao implantar modelo produtivista cada vez precisa gastar mais. Se precisa gastar mais e o preço do produto é estável, ele passa a ganhar cada vez menos. Se ele aumentar a produção não resolve o problema, pois já tem superprodução. Cai preço do produto aumentando custo de produção, a rentabilidade do produtor cai ainda mais. Com essa estrutura, a ideia produtivista do simples aumento da produção além de não resolver o problema, ainda piora a situação. O aceleramento do progresso técnico por meio da intervenção do Estado nas políticas de modernização do campo, todas feitas no contexto da Revolução Verde, fizeram com que a produção da agropecuária aumentasse no mundo todo. Não é um caso singular do Brasil o Estado financiar a modernização, isso ocorreu no mundo todo. No Brasil o singular é a modernização conservadora. No mundo todo na década de 80, os produtores já tinham alcançado a excelência produtiva. O Brasil só alcança o mesmo na década de 90 quando o Estado sai de cena. No Brasil a intervenção do Estado é tão danosa que enquanto o Estado é presente, o produtor não tem motivo para aumentar a produtividade. 2. CONSEQUÊNCIAS DA DESTRUIÇÃO AMBIENTAL DECORRENTES DA SUPERPRODUTIVIDADE DA AGRICULTURA E IMPACTOS SOBRE A PAISAGEM RURAL O modelo produtivista não pode ser implementado sem grandes impactos ambientes. A paisagem rural é um bem a ser consumido, ideia que não está presente no Brasil. Segundo a tese do senso comum, o produtor é avesso à inovação. No Brasil, produtor que mantém o ambiente é considerado menos eficiente. A manutenção da paisagem rural tradicional até os anos 80 é vista no Brasil como um sinal de atraso. Uma das causas que leva à crise do produtivismo é a destruição da paisagem da montanha, paisagem que população valoriza. 3. CRESCIMENTO DESIGUAL DA RIQUEZA GERADA PELOS AVANÇOS TECNOLÓGICOS ENTRE OS AGRICULTORES E ENTRE AS DIFERENTES REGIÕES Convivência com a pobreza é um aspecto próprio de país subdesenvolvido. País desenvolvido não quer lidar com pobreza porque a pobreza é extremamente cara, manter uma população pobre altamente dependente do Estado é muito caro. Na explicação produtivista, para diminuir pobreza deve-se produzir mais. Porém foi a superprodução de produtos agrícolas que gerou a pobreza. Saída produtivista não serve para resolver as questões da produção agrícola no mundo. 4. MUDANÇAS NO TRABALHO FAMILIAR AGRÍCOLA – EMERGÊNCIA DA PLURIATIVIDADE E DAS ATIVIDADES NÃO-AGRÍCOLAS NO ESPAÇO RURAL 3 setores da atividade econômica – primário (produção agrícola), secundário (transformação pela indústria), terceiro (serviços, comércio). Fenômeno da Pluriatividade – É atual e frequente na agropecuária mundial. Exclusivo da produção familiar (produção majoritária em todo o mundo). Junção de pelo menos 3 dessas atividades econômicas dentro de um núcleo familiar. Ex: família que mora no campo e filho trabalha na cidade (renda não só agrícola). Filho não sai do espaço rural, máximo que ele faz é mobilidade. Mobilidade pode ser permanente ou sazonal (todos os dias ou determinadas épocas do ano) Ex: produtor que produz e transforma sua produção e vende. Produz leite (1º), transforma em queijo (2º) e vende (3º). Ex: Produtor produz mas também presta serviço para produtor vizinho – Só faz trabalho agrícola, então ele pode ser pluriativo? Sim pois ele está prestando serviço. Pluriatividade (Setores da economia) x Policultivo/ Pluricultivo (cultivo de variedade de plantas, animais – só setor primário) No neoprodutivismo, o produtor fatalmente atua em outros setores da economia. Pluriatividade e Neoprodutivismo são fenômenos que normalmente andam juntos. Valorização de produtos tradicionais, produtos típicos, produção do setor primário em zona urbana. Cada vez mais cresce a valorização do produto agrícola produzido pela zona urbana. Ex: BH – Horta hidropônica perto do zoológico, restaurantes com comidas típicas “da roça”, criação de cavalo (vende prazer de andar no cavalo), pesque e pague, hotel fazendo, ecoturismo *Pesque e pague – produção do peixe é atividade agrícola/ serviço oferecido é o prazer de pescar o peixe. Por mais que exista a possibilidade de comprar o peixe pescado, não é igual a ir em supermercado, açougue e comprar o peixe. Vende-se também a paisagem. O modelo produtivista gerou alguns impactos. O primeiro é a ruptura entre a produção agrícola e a produção de alimento. Produtor rural perdeu a função de produzir alimento. Como ele perdeu esta função? Quando o produto que ele produziu não foi mais o alimento, passou a produzir commodities. A indústria que passou a produzir o alimento consumido hoje. A partir do momento que a produção passou a ser um substrato para a indústria e esta indústria passou a definir o tipo de alimento que chega à mesa do consumidor, o produtor perde a noção de que ele é um produtor de alimentos,fazendo com que este produtor não se preocupasse mais com a qualidade do alimento. Só se preocupa se a indústria remunerá-lo melhor ou pior pelo padrão de qualidade, devido a alguma regulamentação. Isto na produção animal tem mais um inconveniente. O produtor no modelo produtivista teve que unificar cada vez mais a produção, perde a noção de que produz alimento. A segunda ruptura é entre a produção agrícola e o território. Atividade agrícola não é mais desenvolvida onde há tradição, passa a ser desenvolvida onde há maior vantagem comparativa. Berço da produção de aves industriais no Brasil: SUL – Perdigão, Sadia/ Maior produção de aves e suínos de corte no Brasil – centro-oeste: alimentação é mais barata nessa região. Não se respeita mais a tradição da região, o que importa é a vantagem comparativa. Ex: Há uns anos atrás foi feito um levantamento sobre custo de produção de uma safra de milho em Conselheiro Lafaiete. O preço era em torno de 30 reais. Na época da safra, essa mesma safra de milho podia ser comprada no Ceasa por 18 reais. Não há condições desse produtor de Lafaiete continuar produzindo milho, a não ser que o milho dê origem a um produto típico altamente valorizado no mercado, com o fubá. Logica neoprodutivista – Em vez do produtor produzir extensivamente um produto pouco valorizado no mercado, ele passa a produzir o produto tradicional que é mais valorizado no mercado. Há uma drástica redução da população ocupada em atividades agrícolas devido ao custo elevado da mão de obra, a mão de obra no campo aumenta pois aumentam as atividades não agrícolas no meio rural. Núcleo familiar passa a ter menos mão de obra para desenvolver a atividade. Fenômeno comum no Brasil: No momento em que a família precisa de mais renda, um membro migra, deixa a produção rural, passa a atuar em atividade não-agrícola para aumentar a renda do grupo familiar e retorna mais tarde. Ruptura entre a produção agrícola e o meio ambiente. A valorização da terra e do ambiente como um bem cultural é rompida pelo produtivismo. Ele vai transformar ao máximo este ambiente para que ele tenha a maior rentabilidade, maior produtividade possível. Se tenho árvore que atrapalha o rendimento agrícola eu corto, não importando o que a arvore representa para o produtor e pra comunidade. Vê o ambiente agora como um local de produção e transformação capitalista. Ruptura do modelo familiar/ Individualização das propriedades – Produção que antes era feita em comunidade. Sem tecnologia, uma atividade que demandasse muita mão de obra só podia ser feita com a ajuda de toda a comunidade. Não era só um grupo familiar que liderava a mão de obra daquela atividade, eram todas as famílias unidas. Todos produziam a mesma coisa. Com o uso dessa tecnologia poupadora de trabalho, isso não aconteceu mais, não foi preciso mais. O produtor pode agora escolher qual atividade irá desempenhar, não dependendo mais de muitas pessoas para viabilizar a atividade. Porém esta tecnologia com aprofundamento do progresso tecnológico, passa também a liderar a mão de obra dos próprios membros da família. Qual setor da economia remunera melhor? O terciário, seguido do secundário e por último, o primário. Pessoas saem de atividades que remuneram menos para atividades que remuneram mais. A produção do campo não diminui devido ao avanço tecnológico. Se diminuísse o cenário iria ficar melhor pois o fundamento da crise é a superprodução de produtos agrícolas. Estes membros da família que deixaram a atividade, permanecem morando no espaço rural, por isso que não existe mais o êxodo rural. Novo tipo de produção familiar – produção dentro da propriedade rural e a produção por trabalho não agrícola. Ex: Crise econômica na Espanha – população ficou mais rural com a crise. Núcleos familiares tinham propriedades rurais. Pessoas no auge da crise saíram da zona urbana e foram pra zona rural se dedicar a produção rural. Saíram da crise rapidamente pq aumentaram a produção agrícola e o país diminuiu a importação de alimentos. ADAPTAÇÃO Em crises o núcleo familiar reduz o trabalho dentro da propriedade e aumenta o trabalho fora. A renda extra é revertida para o grupo familiar. Preço relativamente estável + superprodução de produtos agrícolas + aumento de custo de produção + Ruptura produção agrícola e produção de alimentos + Ruptura entre produção agrícola e meio ambiente + Ruptura entre produção agrícola e território + Nova produção familiar TENDÊNCIAS RECENTES DAS OCUPAÇÕES AGRÍCOLAS E NÃO-AGRÍCOLAS NOS PAÍSES DESENVOLVIDOS Nos países ricos, o aumento da pluriatividade se deve unicamente pelo excesso de mão de obra no campo. Houve aprofundamento da modernização, as atividades ficaram cada vez mais modernas, cada vez demandando menos mão de obra e passou a sobrar mão de obra no campo. Essa mão de obra em vez de ficar toda no campo foi para atividade não-agrícola embora permanecesse morando no campo. Numa condição assim, pessoa não consegue contratar um desses membros da produção familiar pagando pouco pois ele não se deixará ser explorado pq não precisa daquilo. Renda familiar não precisa de complementação. Em pais pobre, o principal fator que faz as pessoas saírem da unidade de produção familiar pra as atividades não-agrícolas é a complementação da renda. Se busca renda ele aceita receber menos que deveria, pois precisa daquela renda – exploração. Nesses países ricos, uma empresa agrícola está em declínio tanto em termos relativos, percentuais quanto em termos absolutos. Percentual de emprego agrícola cai enquanto o de emprego total aumenta, aumentou então o emprego não-agrícola. São os setores não agrícolas que oferecem crescentemente as maiores possibilidades de emprego nas regiões essencialmente rurais (número de habitantes por km²). No caso do Brasil, essa divisão de essencialmente rural, relativamente rural/urbano ou essencialmente urbano é vista com mais facilidade que na Europa, onde a posse da terra é bem menos concentrada e com cidades menores – distribuição da população de forma mais homogênea que no Brasil. Essas novas atividades empregadoras do espaço rural possuem pouca ou nenhuma relação direta com a produção agrícola. Maior parte das pessoas do meio rural não trabalha na atividade agrícola embora morem no meio rural. EUA – É na região essencialmente rural que mais cai o emprego agrícola pois tem mais gente fazendo trabalho agrícola. Na região essencialmente urbana ou relativamente urbana, aumenta o trabalho agrícola, pois com o avanço do produtivismo, as pessoas passaram a valorizar mais aquela produção em que se poder ver todo o processo de produção, neoprodutivismo. Pessoas começaram a pagar mais por este serviço. FRANÇA – Cai o trabalho agrícola na média do país e cai em todas as regiões. É um país muito mais homogêneo com relação à distribuição de regiões rurais e urbanas. Mais difícil de diferenciar. Mesmo que boa parte da população permaneça morando na zona rural, a ocupação principal não é diretamente relacionada à produção agrícola. Há tendência de queda de emprego agrícola nos países ricos. EUA – 36% da população mora em regiões essencialmente rurais, 34% em relativamente rurais e só 30% em regiões essencialmente urbanas. 3,3% das pessoas realiza trabalha agrícola. FRANÇA – 29% essencialmente urbana e 71% relativamente rurais ou essencialmente rurais. Menos de 6% da população realiza trabalho agrícola. Em regiões essencialmente rurais, pouco mais de 10% da população realiza trabalho agrícola, mas pessoas continuam morando na zona rural e pertencendo à produção familiar. Podem ter produção agrícola baixa, mas quando precisarem têm pessoas capacitadas para isto.BRASIL – 85% da população mora em regiões essencialmente urbanas. Mesmo com maior parte das pessoas morando na zona rural, a participação da produção agrícola na geração de emprego é bem reduzida. Não há relação direta entre domicílio rural e a ocupação agrícola. Desde a dec. de 80 não há mais aquela divisão do que é da roça, e o que é da cidade. Brasil dos anos 90 – FENÔMENO DA VALORIZAÇÃO DAS COISAS DO CAMPO – Resultou na chegada em um restaurante, por exemplo, e ter comida servida num fogão a lenha. Não foi feita no fogão a lenha, foi somente aquecida para valorizar um aspecto cultural próprio do meio rural. Antes da dec. 90, o que era da roça era associado com atraso. Este fenômeno, nos países desenvolvidos, acontece na dec. de 80. 2ª parte aula MODERNIZAÇÃO TECNOLÓGICA Com o avanço dos suplementos tecnológicos o produtor passou a não precisar de toda a mão- de-obra do grupo familiar e começou a sobrar mão-de-obra dentro dessa unidade familiar. Para que essa mão-de-obra não ficasse ociosa, ela foi dispensada pra outras unidades não-agrícolas. Pessoas não tinha pq se sujeitar à exploração, então quem quisesse empregá-los tinha que pagar um valor justo pelo trabalho e essa renda extra iria complementar a renda do grupo familiar, que depende cada vez menos da receita agrícola para compor a renda total. O produtor então não precisa de aplicar o modelo produtivista à risca pois ele agora tem uma outra fonte de renda. Dados da Europa (75-85) / Brasil (85-95) Número de propriedades ↓ 16% Tamanho médio das propriedades ↑ 14% Propriedade que saiu teve as terras igualmente distribuídas pelas outras propriedades Avanço da zona urbana sobre a zona rural Mão-de-obra na propriedade ↓17% Equivalente tempo integral (necessidade de mão-de-obra pra produção agrícola) ↓24% Produção agrícola aumenta, porém não dobra DECLÍNIO DA RENTABILIDADE (por unidade produzida) Europa – Renda Agrícola cai a partir dos anos 70 até os anos 90, quando estabiliza Brasil – Renda Agrícola cai a partir dos anos 80 e não para de cair até hoje Renda Agrícola diminui no mundo como um todo causada pelo avanço tecnológico, Estado estimulou e financiou a modernização, produtores passaram a produzir cada vez mais e a ganhar cada vez menos por unidade produzida -> CONSEQUÊNCIA DO MODELO PRODUTIVISTA -> leva ao crescimento da produtividade e da produção agrícola. Por isso que a necessidade de mão- de-obra foi cada vez menor. Aumento da produtividade nos países que realmente modernizaram foi muito maior que a queda proporcional do preço. O produtor que conseguiu se enquadrar no modelo produtivista, o modelo foi rentável, ele passou a ganhar muito mais, porém nem todos os produtores conseguiram se enquadrar. Tiveram produtores que ganharam muito dinheiro e o Estado parou de subsidiar. Quem não conseguiu se adequar, situação ficou ainda pior pq vendeu subsídio. Produtor vai passar a produzir muito mais por unidade de terra, a rentabilidade final da propriedade pode aumentar mas a rentabilidade por unidade produzida cai. No Brasil vem caindo desde os anos 80 e ainda não parou de cair. Vivemos uma superprodução do produto agrícola e preço estável. Para manter estrutura de produção nós demandamos cada vez mais insumos e o preço dele aumenta ano após ano, porém o preço do produto não aumenta. Esse é o resultado do processo de modernização dos países da Europa. Antes da modernização a produtividade destes países já era bem maior que a produtividade do Brasil e eles conseguem aumentos expressivos em produtividade +/- no mesmo intervalo de tempo do Brasil. Modernização Conservadora não foi uma modernização de fato, não houve aumento da produtividade. País campeão de subsídios – Japão, seguido pela Europa, Canadá, EUA e Austrália Subsídio Agrícola pelo Estado serve para manter o produtor produzindo, ter alimento barato para consumidor e não ter pobreza. No Brasil, Estado ainda subsidia a elite por renegociação da dívida agrícola. Menos de 20% dos produtores pegam o crédito, boa parte deles pegam crédito agrícola que vem do PRONAF que não tem negociação, enquanto em torno de 5% dos produtores pegam crédito na Linha de Crédito Nacional, empréstimos maiores e renegociáveis. Brasil então ainda subsidia, porém subsidia a elite da elite. Estado que subsidia quer reduzir o subsídio – países mais avançados que o nosso. Pra um Estado manter o subsídio ele tem que arrecadar mais. Só arrecada mais cobrando mais impostos, e, fazendo isso, a indústria do país, os serviços do país ficam mais caros e perdem competitividade internacional. A redução de subsídio é um benefício pra sociedade como um todo. Nesses países desenvolvidos, existem políticas públicas que visam a diminuição da produção. O que causa a queda da renda agrícola hoje? Superprodução! Então governo quer que a produção diminua. Quanto mais aumentar a produção, menor será o valor do produto, maior o subsídio que o Estado tem que fornecer. Com isso fomentam novas formas de ocupação do meio rural. É aqui que a pluriatividade alcança um sincronismo perfeito com a ideia do neoprodutivismo. Ex: Produtor na montanha produz 2mil litros de leite por dia, degrada o meio ambiente e não consegue competir com o produtor de planície. O Estado atendendo a demanda do mercado consumidor, cria a identidade do produto típico. Em vez do produtor produzir 2mil litros de leite por dia ele passa a produzir 20 litros. Em vez fazer só a produção primária, ele passa a transformar esse leite em queijo (setor secundário) e depois vende (terciário). Simplesmente vender o produto no mercado não dá a este produtor a renda que ele precisa. Por mais que no Brasil se crie um queijo típico, esse queijo sendo vendido no Carrefour, Carrefour continua explorando este produtor. O Estado cria a valorização da tradição do meio rural, da “cultura da montanha” pela população urbana, fomenta as festas típicas daquela região. Turista vai pra festa e não se importa de pagar mais caro pelo produto típico. Produtor que participou dos 3 setores de produção, produziu menos e precisou de menos mão-de-obra e ganhou parte da mão-de-obra do núcleo que foi realocada para outras atividades, a produção agrícola tem a renda aumentada e o subsidio do Estado pode diminuir. Foi a partir do momento que a sociedade passou a valorizar a paisagem rural, o Estado facilitou essa valorização com a criação das festas típicas e com criação de identidade com certos produtos. Migração de indústrias de zonas urbanas para zonas não urbanas em países ricos – Nas zonas urbanas nestes países praticamente não existe desemprego pois lá se faz de tudo para manter o nível de emprego o mais alto possível. Para uma indústria ficar na zona urbana ela tem que pagar salário tão alto que ela tira o funcionário de outra indústria. Ela tem que ser tão eficiente que tem que falir outra indústria. Isso em países ricos em empresas bem estruturadas é muito difícil. No campo existe mão-de-obra disponível, só que ela está dentro da unidade de produção familiar, se essa unidade familiar acaba, ai a mão-de-obra vai pra indústria. Nos países ricos, a possibilidade que uma indústria tem de conseguir mão-de-obra é ainda no meio rural, onde há possibilidade de aumentar a eficiência da mão-de-obra e sobrar pra indústria. No Brasil, as indústrias vão pra zona rural pq boa parte da indústria depende mais da produção primária. Uso da mão-de-obra que não está relacionada com o salário, tem a ver com acordo sindical. Na zona urbana os sindicatos têm mais permissão, condição (?). As pessoas que trabalham nos sindicatos são mais precisadas. Os acordos sindicais da zona urbana são mais caros queos das zonas rurais. Uma indústria grande cria seu próprio sindicato/ domina o sindicato. Ex: Laboratórios de BH como Hermes Pardini têm sindicato dependente dos laboratórios. Presidentes dos sindicatos são sócios desses laboratórios. Sindicato logicamente não funciona. A Pluriatividade é uma característica própria da unidade de produção familiar. Ex: Evolução de família pobre que tem 5 filhos no Brasil – Pai e mãe casados antes dos filhos. O que eles produzem na pequena propriedade deles é suficiente para se manterem. Não há motivos para trabalhar fora da propriedade. Com os 5 filhos agora, a necessidade de consumo aumenta, a propriedade não consegue manter todos da casa mais. O pai trabalha dentro de sua propriedade e também realiza atividades não-agrícolas fora da sua propriedade. Ele passa a super explorar a mão-de-obra de seu núcleo familiar neste momento. Com o crescimento dos filhos, os mais velhos já podem trabalhar dentro da propriedade da família. Então se antes só o pai realizava o trabalho na propriedade, agora ele tem a ajuda de seus filhos também. Sobra então mão-de-obra, num primeiro momento (enquanto nem todos cresceram ainda) o pai sai para trabalhar fora. Filhos maiores, sobra mão-de-obra deles então eles saem e o pai fica na propriedade. Num primeiro momento então houve pluriatividade pq aumentou a necessidade de consumo do grupo familiar e num segundo, pq sobra mão de obra do grupo familiar e num terceiro pq sobra novamente mão de obra do grupo familiar. Até que cada filho constitua sua própria família, haverá sobra de mão de obra, fazendo com que eles trabalhem em atividades não agrícolas. Por isso que a pluriatividade é característica própria do funcionamento de unidades de produção familiar. Dificilmente haverá unidades de produção familiar sem pluriatividade. País rico -> Pluriatividade acontece devido ao excesso de mão-de-obra dentro da unidade de produção. A EVOLUÇÃO DAS OCUPAÇÕES RURAIS NÃO AGRÍCOLAS NA AMÉRICA LATINA O emprego rural não-agrícola é responsável atualmente por cerca de 40% das receitas dos habitantes rurais da América Latina -> dado da década de 80 (76-82) * No Brasil hoje este dado também é em torno de 40%. Nossa economia é do tipo agroexportadora. -> dados de 70-82 10% do nosso PIB vem do setor primário, representa 60% da renda 8% do PIB - 40% da renda dos habitantes rurais vem de trabalho não-agrícola - se relaciona diretamente com a pluriatividade. Há uma tendência que aponta para o crescimento desta pluriatividade. PEA aumenta no meio urbano e no meio rural diminui. No Brasil essa diminuição é ainda maior. População passa cada vez mais a se dedicar a atividades não-agrícolas mesmo morando no espaço rural. Tendência mundial. Não significa retomada do êxodo rural, pq a partir dos anos 80 não houve mais êxodo rural. Queda do emprego agrícola tem sido compensada pela ocupação não-agrícola na zona rural. No Brasil existe ainda êxodo rural, porém é de jovens. No geral ele não acontece. Ocupação agrícola diminui ano após ano. Isso não assinala uma queda da produção agrícola a médio-longo prazo pq a população é naturalmente liberada pelo suplemento tecnológico, principalmente o da pequena propriedade. Brasil Grande propriedade que se preocupa mais com a eficiência da mão-de-obra. Pequena propriedade se preocupa com a eficiência da terra/ mão-de-obra utilizada sem tanta eficiência, pode ser liberada se houver suplemento tecnológico. AS OCUPAÇÕES AGRÍCOLAS E NÃO-AGRÍCOLAS NO BRASIL: O PROJETO RURBANO Meio rural no Brasil não pode ser mais associado apenas à produção agrícola e pecuária. Há mistura entre a cultura urbana e a rural -> RURBANO Política educacional do Brasil desde os anos 90 tem facilitado isso uma vez que há tendência de que se acabe as escolas da zona rural. A criança aprende desde cedo a mobilidade urbana e convive com o ambiente urbano, sendo formada com novo conceito cultural. Isso faz com que as pessoas possam facilmente sair da zona urbana e ir pra rural ou sair da rural e ir pra urbana. Famílias pluriativas combinam vários tipos de atividades e ocupações econômicas em uma mesma unidade de produção familiar. Enquanto no país rico, a principal causa do trabalho não-agrícola é excesso de mão-de-obra, no Brasil é a complementação da renda. No Brasil, a pluriatividade e ocupações não-agrícolas se relacionam hoje a trabalhos socialmente maculados, considerados inferiores, não necessariamente mal remunerados. 1) URBANIZAÇÃO DO CAMPO A urbanização do campo – transbordamento da cidade e do mercado de trabalho urbano pra zona rural, situada no entorno das grandes cidades – cria postos de trabalhos não-agrícolas no espaço rural. Ex: População de renda mais alta acaba tendo moradia secundária ou vai morar em regiões fora de grandes centros. Com isso ela passa a demandar serviços essencialmente urbanos na zona rural. (Faxineira, jardineiro, segurança, motorista, cozinheiro...). Surge mercado de trabalho que vende serviço típico do preparo do almoço e/ou faz a transformação (galinha viva- galinha morta) (matar galinha pra galinhada do fds da família rica no sítio). População que vive na zona rural além de agora possuir mercado que valoriza o produto típico, ainda presta esses tipos de serviço -> aumenta renda do grupo familiar Moradia secundária, pesque e pague, ecoturismo -> gera emprego 2) CRISE DO SETOR AGRÍCOLA Dificuldades enfrentadas pelo setor agroexportador instaladas no início da dec. de 90 Não é exclusiva da pequena produção, ela é crise de todo o setor. Mas grande produtor quando enfrenta crise, ele não fica pobre, ele fica menos rico. Pequeno produtor fica mais pobre, ele que vai buscar atividades não-agrícolas com a crise do setor agrícola. Modernização tecnológica Mudança no financiamento da produção com Estado ausente a partir dos anos 90 Abertura comercial (prejudicial ao produtor - câmbio valorizado) Concorrência com produtos estrangeiros 3) LIMITES DE CRESCIMENTO DO PRÓPRIO EMPREGO AGRÍCOLA Alta taxa de ociosidade tecnológica - Brasil tem mais tecnologia do que precisa. Problema da nossa tecnologia é que ela é concentrada. Produtor normalmente não consegue usar toda a tecnologia que tem. Subemprego existente na agricultura brasileira – Formas de trabalho escravo – mão-de- obra sendo mal utilizada. Aprofundamento da modernização – compra ainda mais tecnologia, encarece produção. Ida de indústrias para interior - *MG – Polo de vestuário em vestuário em Divinópolis, de calçados em Nova Serrana – gera ocupações não-agrícolas em espaços tipicamente rurais. * PROJETO RURBANO - dados Principal ocupação não-agrícola no meio rural é de empregados domésticos. A segunda é da construção civil. Terceira é ensino fundamental -> atividades mal remuneradas no país. Pluriatividade para complementar renda familiar. Maioria dos jovens na pluriatividade fazem trabalho não-agrícola. Mesmo fazendo agrícola dentro da propriedade, quando ele saía era para fazer trabalho não-agrícola. Chefes de família – metade faz pluriatividade, outra metade não. Todos que eram pluriativos, o trabalho era associado ao aluguel de máquinas, tratores -> trabalho altamente remunerado Mulheres não faziam pluriatividade e não saíam pq trabalho do homem é melhor remunerado. Ela cuida então da produção da unidade familiar. Filhos saem com 15-20 anos para trabalhar na zona urbana mas voltam com uns 25-30 anos. Quando eles saíam, a renda era do grupo familiar, o dinheiro que entrava com o trabalho deles fora da propriedade era primeiro revertido em eletrodomésticos como máquina de lavar roupa (poupa mão-de-obra das mulheresda casa para elas irem pra atividade agrícola). Depois era revertido em máquinas agrícolas para poupar trabalho agrícola para, por último, comprar outros eletrodomésticos como Tv, micro-ondas, computador... Quando a família atingia o nível de conforto ideal, o filho volta pro campo pq necessidade de consumo aumenta e a renda extra é do grupo familiar. Necessidade de consumo não é só comida, é todo conjunto de bens que o grupo familiar deseja consumir.
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