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O Povo Brasileiro

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O Povo Brasileiro 4. - Encontros e Desencontros.
Este quarto capítulo do vídeo é divido em dois atos. O primeiro é os dos primeiros trinta anos, com a economia, denominada por Darcy, de cunhadismo. É um momento tomado pelo espontaneísmo de iniciativas individuais e de acasos, que deu lugar à colonização oficial, o segundo ato, com a presença de um projeto de Estado. O primeiro ato é marcado pelo encontro e desencontro entre portugueses e indígenas e o segundo com a vinda para o Brasil dos escravos africanos para a economia açucareira e, esta própria economia.
O quarto capítulo do vídeo, O Povo Brasileiro, é dedicado ao encontro e desencontro de portugueses, índios e negros, na gênese do povo brasileiro.
O vídeo tem a participação de Darcy Ribeiro, de Chico Buarque, leitura interpretativa de textos de Pero Vaz de Caminha, de Pero Lopes e de Cervantes e comentários de Hermano Viana e de Antônio Risério. Mais uma vez são mostrados, ao longo do vídeo, magníficas obras de arte relativas ao tema abordado. Um luxo só.
Darcy abre o capítulo, falando da cultura brasileira como uma cultura de retalhos, guardados pelo povo, um povo novo que vai se miscigenando no corpo e no espírito. A primeira contribuição é a do índio nativo, que ensina o viver na floresta ao português e desta primeira sementeira humana, acrescida depois pela presença negra, se forja uma fusão de corpos e mentes, que irá produzir o novo. Uma fusão genética sem freios e sem pecados, numa mistura de todas as taras e de todos os talentos como Chico nos mostra, na leitura da obra de Darcy. Neste processo, identidades milenárias foram se encontrando, se misturando, perdendo originalidade na criação do novo e, de novo, algo muito original. Eis a origem da formação do povo brasileiro. Esta fusão continua em ato, no fazimento da brasileiridade.
Se você considera Chico Buarque lendo só para você um privilégio, a oportunidade está aí.
Imaginem a cena. Darcy a faz. Imaginem os índios, imaginem os portugueses e imaginem o encontro e o desencontro. Oi índios festejando a chegada de Maíra, do povo de Maíra, os enviados de Deus.Os portugueses em júbilo, vendo meninas desnudas, com as vergonhas em mostra e, mais bonitas que as meninas de Lisboa. Estão encantados e maravilhados. Pero Vaz de Caminha nos conta isso, e no vídeo por leitura interpretativa magnífica feita por Tom Zé. Mais ou menos assim: da existência de ouro e prata não sabemos, mas a terra é de bons ares; as praias são chãs e formosas e as águas infindas; em plantando, aqui dar-se-á de tudo, pelas águas que tem; mas a tarefa maior, lembra Caminha, é salvar esta gente. O início dos desencontros.
Tom Zé ainda nos dá informações preciosas sobre quem mais aqui tem chegado. A informação tem como fonte Miguel de Cervantes. O novo mundo foi refúgio e amparo para os desesperados, abrigo dos falidos, salvo condutos dos homicidas, apoio e proteção para os jogadores, chamariz de mulheres perdidas, engano comum de muitos e remédio particular de poucos.
Darcy nos explica melhor o que foi a economia fundada no cunhadismo. O português, ao prenhar uma índia, torna todos os índios, seus cunhados e eles passam a trabalhar para ele. Deliciosamente nos conta que o casamento de João Ramalho com Bartira foi uma crassa e piedosa invenção dos jesuítas. João Ramalho e cada um de seus filhos teve mais de trinta mulheres, trinta, apenas um modo dizer. Os filhos assim nascidos perdiam parte da raiz, tanto índia, quanto portuguesa. Um novo povo estava se plasmando.O encontro dos diversos, formando o diferente.
Assim termina o primeiro ato da aventura Brasil e se inicia a sua colonização, por dois núcleos. O de João Ramalho, em Piratininga e São Vicente  e o de Diogo Alvares, o Caramuru, em Salvador, nas proximidades do Farol da Barra. Isso ocorre essencialmente em função da cobiça que a terra provocou nos franceses e nos holandeses. Assim o Brasil sai de sua economia cunhadista e entra em seu ciclo da economia escravista.
Havia dois projetos fundamentais; o da Coroa, com a exploração mercantilista e o dos religiosos, diga-se dos jesuítas, que queriam fundar uma república pia. Passamos a ter a escravidão e a catequese e uma hecatombe,  como consequência. Genocídios e etnocídios. Os índios foram gastos, no dizer de Darcy, pela escravidão e pelas doenças brancas, as diferentes pestes, uma verdadeira guerra biológica.
Os índios vítimas da escravidão e da guerra biológica. Um etnocídio, sem precedentes.
O tráfico escravista era uma prática do comércio internacional da época, fonte de bons negócios. os navios tumbeiros traziam os escravos negros, mais adaptáveis em função de viverem em um outro estágio, eram considerados como mais adaptáveis. E vinham também, Darcy nos conta, molecas, meninas de doze a treze anos, para a satisfação dos portugueses. Assim foram gerados os mulatos. Estes já não eram, originalmente, nem negros e nem portugueses. De novo, um novo povo se formando e, em meio a muitos sofrimentos, os desencontros.
No Brasil foi se perdendo a ideia do puro, ideia maléfica das doutrinas da eugenia, pela qual estaríamos eternamente condenados. Aqui estávamos diante do desafio da mistura, tínhamos que inventar uma nova maneira de estar no mundo. É um Brasil se fazendo a si próprio. E justiça seja feita. Gilberto Freyre, podem chamá-lo de romântico,mas este mérito ele tem,  se não foi o primeiro, ao menos foi o grande propagador da ideia de que a miscigenação jamais seria uma causa de condenação, jamais isto seria impedimento para a construção de uma Nação. Pelo contrário, ali estavam os seus poderosos alicerces.

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