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ECA - Estatuto da criança e do adolescente[1: ]
Sumário:
1. Conceito de criança e adolescente
1.1. Aplicação excepcional do ECA às pessoas entre 18 e 21 anos
2. Ato infracional
2.1. Conceito
2.2. Insignificância
2.3. Extradição
3. Apuração de ato infracional
3.1. Fase policial
3.2. Fase pré-processual
4. Medidas específicas de proteção
5. Medidas sócio-educativas
5.1. Critérios genéricos para aplicar as medidas sócio-educativas
5.2. Advertência 
5.3. Obrigação de reparar o dano
5.4. Prestação de serviços à comunidade 
5.5. Liberdade assistida (arts. 118 e 119)
5.6. Semi-liberdade (art. 120)
5.7. Internação em estabelecimento educacional (arts. 121 a 123)
5.8. Aplicação das medidas sócio-educativas 
5.9. Prescrição de medida sócio-educativa 
5.10. Boas questões de concurso
6. Medida cautelar de internação provisória
7. Sistema recursal do ECA
8. Crimes contra a criança e o adolescente
8.1. Art. 228 
8.2. Art. 229
8.3. Art. 230 
8.4. Art. 231
8.5. Art. 232 
8.6. Art. 233 
8.7. Art. 234 
8.8. Art. 235
8.9. Art. 236
8.10. Art. 237 (subtração de criança ou adolescente)
8.11. Art. 238 (Comércio nacional de criança ou adolescente)
8.12. Art. 239 (Tráfico internacional de criança ou adolescente)
8.13. Art. 240 (Comentários à lei de pedofilia)
8.14. Art. 241 
8.15. Art. 241-B (Adquirente)
8.16. Art. 241-A 
8.17. Art. 241-C 
8.18. Art. 242
8.19. Art. 243 
8.20. Art. 244-A 
8.21. Corrupção de menores (art. 244-B) (muita atenção)
1. Conceito de criança e adolescente
Questões importantes da área cível: 
- guarda compartilhada; 
- adoção (cadastro nacional de adoção do CNJ. Ler site do CNJ) e; 
- permissão para viajar.
O art. 2º, caput do ECA define os conceitos de criança e adolescente:
Criança pessoa com até 12 anos incompletos. No primeiro segundo do dia do aniversário de 12 anos, torna-se adolescente.
Adolescente pessoa entre 12 e 18 anos incompletos. No primeiro segundo do dia do aniversário de 18 anos, deixa de ser adolescente inimputável e passa a ser imputável (responsabilidade penal).
Tanto a criança como o adolescente praticam ato infracional. A diferença é que a criança não pode ser responsabilizada pelo ato infracional. Ela recebe medidas de proteção (art. 105 c/c art. 101 do ECA). 
O adolescente que comete ato infracional é responsabilizado por ele, sofrendo medidas sócio-educativas, inclusive restritivas e privativas da liberdade, sem prejuízo das medidas de proteção (art. 112 do ECA).
Segundo o material de João, a criança não pratica ato infracional, mas sim desvio de conduta.
	Criança
	Adolescente
	Possui até 12 anos incompletos
	12 anos completos até 18 anos incompletos
	Não pratica ato infracional, mas desvio de conduta, quando pratica:
i. Crime ou contravenção penal ou;
ii. Atos atentatórios à moral e bons costumes.
	Pode praticar:
i. Ato infracional ato análogo a crime ou contravenção penal;
ii. Desvio de conduta ato atentatório à moral e bons costumes (e não for crime ou contravenção penal).
	Criança que pratica conduta definida como crime fica sujeita a medida específica de proteção: MEP.
	Se pratica ato infracional fica sujeito as medidas sócio-educativas (arts. 112 a 122 do ECA), que possuem caráter penal, aplicando-se a prescrição penal (neste caso, observa-se a pena máxima do crime junto com a tabela do art. 109, do CP, reduzindo o prazo pela metade, em razão do art. 115 do CP).
Se o adolescente pratica desvio de conduta, fica sujeito às medidas de proteção (art. 101 do ECA).
Pergunta-se: é possível fazer adoção de pessoa inexistente? Sim. Neste caso, a adoção ficará pendente em razão de uma condição suspensiva. A controvérsia maior diz respeito à adoção do nascituro, vez que o ECA é omisso quanto a isso.
1.1. Aplicação excepcional do ECA às pessoas entre 18 e 21 anos (art. 2º, parágrafo único do ECA)
O art. 2º do ECA dispõe que as suas medidas sócio-educativas podem, excepcionalmente, ser aplicadas a pessoas entre 18 e 21 anos que tenha cometido ato infracional durante a adolescência. Repise-se: é possível aplicar medida sócio-educativa a maior de 18 anos, desde que tenha praticado o ato na adolescência. ATENÇÃO: Considera-se a idade do adolescente na data da conduta (ou seja, na data da ação/omissão), ainda que já tenha completado 18 anos quando da consumação/resultado da infração penal (teoria da atividade):[2: Igual ao art. 4º do Código Penal.]
Art. 2º Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.
Parágrafo único. Nos casos expressos em lei, aplica-se excepcionalmente este Estatuto às pessoas entre dezoito e vinte e um anos de idade.
Art. 104. São penalmente inimputáveis os menores de dezoito anos, sujeitos às medidas previstas nesta Lei.
Parágrafo único. Para os efeitos desta Lei, deve ser considerada a idade do adolescente à data do fato.
A finalidade do art. 2º, parágrafo único, é evitar a impunidade daquele que cometeu ato infracional na iminência de completar 18 anos. Se não houvesse essa regra, não poderia ser aplicado a ele nem o ECA, nem o CP. Registre-se que, segundo o STJ, este artigo não foi tacitamente revogado pelo novo Código Civil. 
Qualquer das medidas sócio-educativas podem ser aplicadas na situação do art. 2º, p. ún., não apenas a internação. Julgado: STJ, HC 99.481/RJ.
Atenção: para parte da doutrina, a única medida sócio-educativa que pode ser aplicada ao maior de 18 anos seria a internação (em razão da palavra “excepcionalmente”, prevista no art. 2º). Isso não está correto. Segundo a jurisprudência pacífica do STJ, qualquer medida sócio-educativa pode ser aplicada ao maior de 18 anos, até os 21.
2. Ato infracional 
2.1. Conceito 
Segundo dispõe o art. 103 do ECA, “considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção penal”. Se a conduta do adolescente não corresponder nem a um crime, nem a uma contravenção, ela será atípica (não será ato infracional). O princípio da legalidade, que resguarda a segurança jurídica, também se aplica aos atos infracionais.
Questão (CESPE): Ato infracional é a conduta descrita como crime. ERRADO.
Muita atenção: é irrelevante se o ato infracional corresponde a um crime de ação pública incondicionada, condicionada ou de ação privada. Em qualquer caso, o MP pode e deve sempre agir de ofício, sem necessidade de representação da vítima ou de queixa-crime. Ex: se o menor pratica crime de calúnia ou ameaça (crimes que dependem de representação), o MP pode agir de ofício para que se aplique ato infracional, independentemente de qualquer manifestação da vítima.
2.2. Insignificância
Para o STF e o STJ, é perfeitamente possível aplicar o princípio da insignificância em ato infracional. Cf. STF, HC 96.520/RS (24.03.09). Neste HC, o Supremo aplicou de ofício o princípio da insignificância a um ato infracional.
2.3. Extradição
O Pleno do STF decidiu que não é possível extradição de menor estrangeiro pela prática de ato infracional. Julgado: STF, Ext. 1.135.
3. Apuração de ato infracional
3.1. Fase policial
A fase policial de apuração de ato infracional deve ser divida em duas situações:
Se houver flagrante de ato infracional A fase policial segue a sequência dos arts. 172 a 176 do ECA.
Se não houver flagrante de ato infracional.
Nenhuma criança pode ser apreendida, se não estiver em flagrante de ato infracional, ou não houver ordem judicial de apreensão. Em outras palavras: aplica-se ao adolescente a mesma regra que se aplica aos maiores. Assim dispõe o art. 106 c/c art. 171, ambos do ECA:
Art. 106. Nenhum adolescente será privado de sua liberdade senão em flagrante de ato infracional ou por ordem escrita e fundamentada da autoridade judiciária competente.
Parágrafo único. O adolescente tem direito à identificação dos responsáveis pela sua apreensão, devendo ser informado acerca de seus direitos.
Art. 171. O adolescente apreendido por força de ordem judicial será, desde logo, encaminhadoà autoridade judiciária.
Muita atenção: a autoridade que apreende o menor fora dessas hipóteses pratica o crime do art. 230 do ECA, e não o abuso de autoridade. Muitos crimes previstos na Lei de Abuso de Autoridade, quando cometidos contra criança ou adolescente, configuram crime próprio do ECA, pelo princípio da especialidade.
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais.
I. Flagrante de ato infracional
Uma vez surpreendido em flagrante, o adolescente será imediatamente levado à autoridade policial, para que seja formalizada a sua apreensão por meio da lavratura de auto de apreensão de adolescente.
Obs: O auto de apreensão de adolescente equivale ao auto de prisão em flagrante de adulto.
Caso o ato infracional tenha sido cometido com violência ou grave ameaça à pessoa, o delegado, necessariamente, terá que lavrar um auto de apreensão de adolescente (não é auto de prisão). Por outro lado, se o ato infracional for praticado sem violência ou grave ameaça à pessoa, o delegado tem duas opções:
Ou ele lavra auto de apreensão de adolescente ou;
Substitui o auto de apreensão por boletim de ocorrência circunstanciada (não se confunde com termo circunstanciado). Cf. art. 173, parágrafo único.
Art. 173. Em caso de flagrante de ato infracional cometido mediante violência ou grave ameaça a pessoa, a autoridade policial, sem prejuízo do disposto nos arts. 106, parágrafo único, e 107, deverá:
I - lavrar auto de apreensão, ouvidos as testemunhas e o adolescente;
II - apreender o produto e os instrumentos da infração;
III - requisitar os exames ou perícias necessários à comprovação da materialidade e autoria da infração.
Parágrafo único. Nas demais hipóteses de flagrante [sem violência ou grave ameaça à pessoa], a lavratura do auto poderá ser substituída por boletim de ocorrência circunstanciada.
Vejamos os exemplos: a) adolescente pratica roubo: auto de apreensão de adolescente; b) adolescente pratica tráfico: auto de apreensão ou boletim circunstanciado.
Assim que fizer o boletim circunstanciado ou o auto de apreensão, o Delegado de Polícia terá duas opções:
Regra: Liberar o adolescente aos pais ou responsáveis, sob termo de compromisso de apresentá-lo no mesmo dia ou no primeiro dia útil seguinte ao MP (art. 174, primeira parte, ECA). Neste caso, o delegado deverá encaminhar ao MP cópia do Auto de apreensão ou do boletim de ocorrência:
Art. 176. Sendo o adolescente liberado, a autoridade policial encaminhará imediatamente ao representante do Ministério Público cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência.
Exceção: Não liberar o adolescente (ainda que não haja auto de apreensão, mas sim boletim circunstanciado) se, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer internado, para garantia de sua segurança ou da ordem pública (art. 174, 2ª parte).
Neste caso, deverá apresentar de imediato o adolescente ao MP, com cópia do Auto de apreensão ou do BO circunstanciada (art. 175, caput);
Caso não seja possível apresentar o adolescente ao MP, deverá encaminhá-lo à entidade de atendimento. Esta entidade fica encarregada de apresentar o adolescente ao MP em 24 horas (art. 175, §1º).
Se não houver entidade de atendimento, o Delegado poderá manter o adolescente apreendido, por até 24 horas, em repartição especializada para menores ou repartição policial comum, mas separado dos maiores (art. 175, §2º).
Art. 174. Comparecendo qualquer dos pais ou responsável, o adolescente será prontamente liberado pela autoridade policial, sob termo de compromisso e responsabilidade de sua apresentação ao representante do Ministério Público, no mesmo dia ou, sendo impossível, no primeiro dia útil imediato, EXCETO quando, pela gravidade do ato infracional e sua repercussão social, deva o adolescente permanecer sob internação para garantia de sua segurança pessoal ou manutenção da ordem pública.
Art. 175. Em caso de não liberação, a autoridade policial encaminhará, desde logo, o adolescente ao representante do Ministério Público, juntamente com cópia do auto de apreensão ou boletim de ocorrência.
§ 1º Sendo impossível a apresentação imediata, a autoridade policial encaminhará o adolescente à entidade de atendimento, que fará a apresentação ao representante do Ministério Público no prazo de vinte e quatro horas.
§ 2º Nas localidades onde não houver entidade de atendimento, a apresentação far-se-á pela autoridade policial. À falta de repartição policial especializada, o adolescente aguardará a apresentação em dependência separada da destinada a maiores, não podendo, em qualquer hipótese, exceder o prazo referido no parágrafo anterior.
II. Apuração de ato infracional sem situação de flagrante
Não havendo situação de flagrante, o Delegado pratica os atos investigatórios normais e encaminha ao promotor o relatório de investigações (não faz inquérito nem termo circunstanciado). Isso é o que dispõe o art. 177 do ECA:
Art. 177. Se, afastada a hipótese de flagrante, houver indícios de participação de adolescente na prática de ato infracional, a autoridade policial encaminhará ao representante do Ministério Público relatório das investigações e demais documentos.
O prazo para a conclusão do relatório, para a doutrina, será de 30 dias, em analogia ao prazo para a conclusão de inquérito policial, quando o réu está solto. Essa conclusão é extraída com base no art. 152 do ECA, que informa a aplicação subsidiária das normas do CPP, no que forem compatíveis.
Art. 152. Aos procedimentos regulados nesta Lei aplicam-se subsidiariamente as normas gerais previstas na legislação processual pertinente.
	
3.2. Fase pré-processual
Como vimos, em qualquer hipótese, o adolescente e as peças policiais serão encaminhadas, ao final, ao Promotor. Ou seja: toda apuração do ato infracional vai sempre desaguar nas mãos do MP. 
I. Oitiva informal
Chegando o adolescente ao MP, o Promotor realiza uma oitiva informal, ouvindo o adolescente e, se possível, seus pais ou responsáveis, vítima e testemunhas. A oitiva informal não precisa ser reduzida a termo (embora possa ser): 
Art. 179. Apresentado o adolescente, o representante do Ministério Público, no mesmo dia e à vista do auto de apreensão, boletim de ocorrência ou relatório policial, devidamente autuados pelo cartório judicial e com informação sobre os antecedentes do adolescente, procederá imediata e informalmente à sua oitiva e, em sendo possível, de seus pais ou responsável, vítima e testemunhas.
Parágrafo único. Em caso de não apresentação, o representante do Ministério Público notificará os pais ou responsável para apresentação do adolescente, podendo requisitar o concurso das polícias civil e militar.
Veja: a Lei alude a uma oitiva informal. Nada impede, contudo, que tudo seja formalizado, a critério do MP.
Jurisprudência do STJ:
O que ocorre se o MP oferece representação sem ter feito a oitiva informal? Em 03.03.09, o STJ decidiu que a ausência de oitiva informal do menor não gera nulidade, se o MP já dispunha de elementos suficientes para formar sua convicção e oferecer a representação. Ou seja, a representação do MP em face do adolescente infrator prescinde de prévio oitiva informal.
Pode o Promotor realizar a oitiva do adolescente, sem que este acompanhado por defensor ou representante? Inicialmente, o STJ vinha decidindo que a ausência de representantes do adolescente e defensor técnico durante sua oitiva informal gerava apenas nulidade relativa, dependente de demonstração de efetivo prejuízo.
Em sua jurisprudência mais recente, o STJ passou a entender que a oitiva informal tem natureza de procedimento administrativo que antecede a fase judicial. Ou seja, é um procedimento extrajudicial. Conclusão: Não se aplica à oitivainformal os princípios do contraditório e da ampla defesa, não havendo nulidade relativa pela falta de advogado. Julgado: STJ, HC 109.242, j. 04/03/2010.
Após a oitiva informal, o MP tem três opções:
Propor o ARQUIVAMENTO dos documentos/peças (auto de apreensão, boletim circunstanciado ou relatório de investigações). 
Conceder REMISSÃO.
Oferecer REPRESENTAÇÃO em face do adolescente para aplicação de medida sócio-educativa.
II. Arquivamento	
O arquivamento será requerido quando não houver elementos mínimos que comprovem a responsabilidade do adolescente (ex: se o ato infracional estiver prescrito). 
O arquivamento, assim como ocorre no Processo Penal, depende de homologação do juiz. Assim, da mesma forma prevista no art. 28 do CPP, o juiz, se discordar do pedido de arquivamento, enviará os autos ao Procurador-Geral de Justiça.
Art. 181. Promovido o arquivamento dos autos ou concedida a remissão pelo representante do Ministério Público, mediante termo fundamentado, que conterá o resumo dos fatos, os autos serão conclusos à autoridade judiciária para homologação.
§ 1º Homologado o arquivamento ou a remissão, a autoridade judiciária determinará, conforme o caso, o cumprimento da medida.
§ 2º Discordando, a autoridade judiciária fará remessa dos autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho fundamentado, e este oferecerá representação, designará outro membro do Ministério Público para apresentá-la, ou ratificará o arquivamento ou a remissão, que só então estará a autoridade judiciária obrigada a homologar.
III. Remissão (art. 188 do ECA)
Cuida-se de forma de exclusão ou suspensão do processo, podendo ser concedida a qualquer momento.
Art. 188. A remissão, como forma de extinção ou suspensão do processo, poderá ser aplicada em qualquer fase do procedimento, antes da sentença.
Remissão-perdão É a remissão simples, desacompanhada de qualquer medida educativa, sendo concedida na forma do art. 126 do ECA. Essa remissão é uma forma de EXCLUSÃO do processo, desde que observadas as circunstâncias e conseqüências do fato e do adolescente (sua participação e personalidade). Essa remissão na acarreta o reconhecimento da responsabilidade pelo ato infracional. Ademais, ela não pode ser considerada como maus antecedentes, nem mesmo como um outro ato infracional.
Art. 126 do ECA. Antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, o representante do Ministério Público poderá conceder a remissão, como forma de exclusão do processo, atendendo às circunstâncias e conseqüências do fato, ao contexto social, bem como à personalidade do adolescente e sua maior ou menor participação no ato infracional. Questão Delegado/DF – 2009.
Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela autoridade judiciária importará na suspensão ou extinção do processo.
Remissão-transação Neste caso, o Promotor propõe a remissão acompanhada de qualquer medida sócio-educativa não restritiva de liberdade. Ou seja, na remissão-transação o Promotor pode propor a aplicação de qualquer medida sócio-educativa, salvo: 
Regime de semi-liberdade;
Internação.
Art. 127 do ECA. A remissão não implica necessariamente o reconhecimento ou comprovação da responsabilidade, nem prevalece para efeito de antecedentes, podendo incluir eventualmente a aplicação de qualquer das medidas previstas em lei, exceto a colocação em regime de semi-liberdade e a internação.
Obs: Embora parte da doutrina a remissão transação fosse inconstitucional (pois significaria a aplicação de medida sócio-educativa sem o devido processo legal), no RE 248.018, o STF reconheceu a constitucionalidade da remissão transação. 
Muita atenção: tanto o arquivamento quando a remissão-perdão e a remissão-transação são concedidas pelo MP, mas dependem de homologação judicial, para que venham a produzir seus efeitos. Se o juiz discordar da medida, encaminhará os autos ao Procurador-Geral de Justiça, mediante despacho fundamentado.
Conclusos os autos ao Procurador-Geral, este tem 3 opções: a) oferecerá a representação; b) designará outro Promotor para apresentá-la ou; c) ratificará o pedido de arquivamento/remissão, caso em que o juiz estará obrigado a homologar.
ATENÇÃO: Se a remissão não for concedida pelo MP antes de iniciado o processo, o juiz poderá concedê-la posteriormente, em qualquer fase do processo, como forma de extinção ou suspensão do processo (art. 126, p. ún.).
Art. 126, Parágrafo único. Iniciado o procedimento, a concessão da remissão pela autoridade judiciária importará na suspensão ou extinção do processo.
Questão: quem pode conceder a remissão? O MP, antes de iniciado o processo e o juiz, depois de iniciado o processo, conforme previsto no art. 126 do ECA.
	Jurisprudência do STF/STJ 
O juiz pode acatar a remissão e cumulá-la com medida sócio-educativa não restritiva de liberdade? SIM. O STJ e o STF já entenderam que o juiz, ao homologar a remissão, poderá cumular medida sócio-educativa (no caso da remissão-perdão). Isso porque :
Há previsão expressa no art. 127 do ECA.
A medida sócio-educativa não significa reconhecimento de responsabilidade pelo ato infracional;
Recentemente, o STF reconheceu a constitucionalidade deste art. 127 (RE 248018 de 2008).
EMENTA: RECURSO EXTRAORDINÁRIO. ARTIGO 127 DO ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. REMISSÃO CONCEDIDA PELO MINISTÉRIO PÚBLICO. CUMULAÇÃO DE MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA IMPOSTA PELA AUTORIDADE JUDICIÁRIA. POSSIBILIDADE. CONSTITUCIONALIDADE DA NORMA. PRECEDENTE. RECURSO CONHECIDO E PROVIDO. 1. O acórdão recorrido declarou a inconstitucionalidade do artigo 127, in fine, da Lei n° 8.089/90 (Estatuto da Criança e do Adolescente), por entender que não é possível cumular a remissão concedida pelo Ministério Público, antes de iniciado o procedimento judicial para apuração de ato infracional, com a aplicação de medida sócio-educativa. 2. A medida sócio-educativa foi imposta pela autoridade judicial, logo, não fere o devido processo legal. A medida de advertência tem caráter pedagógico, de orientação ao menor e em tudo se harmoniza com o escopo que inspirou o sistema instituído pelo Estatuto da Criança e do Adolescente. 3. A remissão pré-processual concedida pelo Ministério Público, antes mesmo de se iniciar o procedimento no qual seria apurada a responsabilidade, não é incompatível com a imposição de medida sócio-educativa de advertência, porquanto não possui esta caráter de penalidade. Ademais, a imposição de tal medida não prevalece para fins de antecedentes e não pressupõe a apuração de responsabilidade. Precedente. 4. Recurso Extraordinário conhecido e provido.
O juiz pode conceder essa remissão ou aplicação de medida sócio-educativa sem a oitiva do menor e do MP? NÃO. O juiz, para conceder essa remissão ou aplicação de medida sócio-educativa, deverá, necessariamente e previamente, ouvir o adolescente e o MP, sob pena de nulidade (REsp 1025004-MG, julgado em 25.09.08).
IV. Representação
Se não for caso de arquivamento nem de remissão, o MP oferece representação em face do adolescente para a aplicação de medida sócio-educativa. Inicia-se, com isso, o processo para aplicação de medida sócio-educativa e/ou medida de proteção (ação sócio-educativa).
Para oferecimento da representação, não há necessidade de prova pré-constituída da autoria e materialidade do ato infracional, mas há necessidade de indícios mínimos de materialidade e autoria, que consubstanciem a justa causa para a representação, sob pena de rejeição da representação (STJ, HC 153.088, j. 13/04/2010).
Ex: se o MP oferece representação pela prática de ato infracional de tráfico por adolescente sem o laudo provisório da prova, a representação pode ser rejeitada por ausência de indícios mínimos de materialidade.
Essa representação pode ser promovida de forma oral ou escrita (se for oferecida oralmente, deve ser reduzida a termo), e deve ter os requisitos do art. 182 do ECA: breve resumo dos fatos, classificação do ato infracional e, quando necessário, rol de testemunhas.[3: Devedizer a qual crime corresponde o ato infracional.]
Art. 182. Se, por qualquer razão, o representante do Ministério Público não promover o arquivamento ou conceder a remissão, oferecerá representação à autoridade judiciária, propondo a instauração de procedimento para aplicação da medida sócio-educativa que se afigurar a mais adequada.
§ 1º A representação será oferecida por petição, que conterá o breve resumo dos fatos e a classificação do ato infracional e, quando necessário, o rol de testemunhas, podendo ser deduzida oralmente, em sessão diária instalada pela autoridade judiciária.
§ 2º A representação independe de prova pré-constituída da autoria e materialidade.
Obs: O ECA não prevê o número máximo de testemunhas a serem arroladas. Por conta disso, a doutrina aplica subsidiariamente o procedimento comum ordinário do CPP, que prevê o máximo de 8 testemunhas. 
Oferecida a representação, se o juiz recebê-la inicia-se a ação sócio-educativa contra o adolescente e começa a fase processual, que segue o procedimento da seguinte forma:
Oferecimento da representação
Recebimento da representação pelo juiz 
Audiência de apresentação do adolescente Serão citados e notificados a comparecer a essa audiência o adolescente e seus pais ou responsáveis. Na falta de pais/responsáveis, o juiz poderá nomear curador especial para acompanhar o adolescente na audiência de apresentação.
Atenção à jurisprudência do STJ: a presença do defensor técnico, nessa audiência de apresentação, supre a ausência dos pais ou responsáveis e do curador. Segundo o STJ, se os pais não estiverem presentes na audiência, mas for nomeado um defensor ao menor, não há nulidade, pois o defensor acumula a função de curador, que supre a ausência dos pais. 
Essa audiência não se realiza sem a presença do adolescente. Se ele não for localizado, o juiz suspende o processo, expede mandado de busca e apreensão (e não prisão preventiva) e essa audiência só será realizada quando o adolescente for localizado. Se o adolescente estiver internado provisoriamente, o juiz requisita sua apresentação em juízo.
Na audiência de apresentação, o juiz praticará os seguintes atos:
Interrogatório do adolescente e seus pais/responsáveis.
O juiz decidirá se decreta, mantém ou revoga a internação provisória
O juiz solicitará, se necessário, parecer de equipe técnica
O juiz decidirá se concede ou não a remissão, ouvindo o MP
Art. 184. Oferecida a representação, a autoridade judiciária designará audiência de apresentação do adolescente, decidindo, desde logo, sobre a decretação ou manutenção da internação, observado o disposto no art. 108 e parágrafo.
§ 1º O adolescente e seus pais ou responsável serão cientificados do teor da representação, e notificados a comparecer à audiência, acompanhados de advogado.
§ 2º Se os pais ou responsável não forem localizados, a autoridade judiciária dará curador especial ao adolescente.
§ 3º Não sendo localizado o adolescente, a autoridade judiciária expedirá mandado de busca e apreensão, determinando o sobrestamento do feito, até a efetiva apresentação.
§ 4º Estando o adolescente internado, será requisitada a sua apresentação, sem prejuízo da notificação dos pais ou responsável.
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabelecimento prisional.
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as características definidas no art. 123, o adolescente deverá ser imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente aguardará sua remoção em repartição policial, desde que em seção isolada dos adultos e com instalações apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob pena de responsabilidade.
Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado.
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a remissão, ouvirá o representante do Ministério Público, proferindo decisão.
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de internação ou colocação em regime de semi-liberdade, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente não possui advogado constituído, nomeará defensor, designando, desde logo, audiência em continuação, podendo determinar a realização de diligências e estudo do caso.
§ 3º O advogado constituído ou o defensor nomeado, no prazo de três dias contado da audiência de apresentação, oferecerá defesa prévia e rol de testemunhas.
§ 4º Na audiência em continuação, ouvidas as testemunhas arroladas na representação e na defesa prévia, cumpridas as diligências e juntado o relatório da equipe interprofissional, será dada a palavra ao representante do Ministério Público e ao defensor, sucessivamente, pelo tempo de vinte minutos para cada um, prorrogável por mais dez, a critério da autoridade judiciária, que em seguida proferirá decisão.
A vítima pode se habilitar como assistente de acusação no procedimento do ECA? Essa pergunta tende a cair em concursos. Segundo o STJ, NÃO é possível habilitação de assistente de acusação no procedimento do ECA (REsp 1.044.203-RS – julgado em 19.02.2009).
ATO INFRACIONAL. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ASSISTENTE DE ACUSAÇÃO. INTERPOSIÇÃO DE RECURSO. IMPOSSIBILIDADE. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. APLICAÇÃO DAS REGRAS DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PRECEDENTE DO STJ. RECURSO ESPECIAL DESPROVIDO.
1. A Lei 8.069⁄90, em seu art. 198 (capítulo referente aos recursos), prevê a aplicação subsidiária das regras do Código de Processo Civil, motivo pelo qual não cabe estender a aplicação dos arts. 268 a 273 do Código de Processo Penal, que trata da figura do assistente da acusação, ao procedimento contido no ECA.
2. "Considerando o caráter de lei especial do Estatuto da Criança e do Adolescente, na qual não há qualquer referência à figura do assistente da acusação, ele é parte ilegítima para interpor recurso de apelação, por falta de previsão legal" (REsp 605.025⁄MG, Rel. Min. GILSON DIPP, Quinta Turma, DJ de 21⁄11⁄05). 3. Recurso especial desprovido.
Se o adolescente, na audiência de apresentação, confessar a prática do ato infracional, poderá a defesa desistir da produção de provas? NÃO. A desistência de outras provas em razão da confissão viola o contraditório e a ampla defesa, havendo Súmula do STJ a respeito:
Súmula 342 do STJ. No procedimento para aplicação de medida sócio-educativa, é nula a desistência de outras provas em face da confissão do adolescente.[4: Essa súmula foi editada porque, na prática, o que acontecia é que com a confissão do adolescente, as partes entravam em acordo e desistiam das demais provas.]
E mais: o STJ decidiu que não se aplica a atenuante de confissão espontânea no ECA.[5: A denúncia espontânea está prevista no art. 65, VI do CP.]
HABEAS CORPUS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. ATOS INFRACIONAIS EQUIPARADOS AOS DELITOS DE HOMICÍDIO QUALIFICADO E HOMICÍDIO QUALIFICADO TENTADO. SEMILIBERDADE. CONFISSÃO ESPONTÂNEA. ART. 65, INCISO III, DO CP. INAPLICABILIDADE. - REsp 102158-DF.
A atenuante da confissão espontânea prevista no art. 65, inciso III, alínea d, do Código Penal, não é aplicável às medidas sócio-educativas previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, porquanto não guardam qualquer correlação lógica. Ordem denegada.
Outro julgado: HC 101.739/DF 04/02/2010.
Defesa prévia Não concedida a remissão, o juiz deve abrir prazo para a defesa prévia, oferecida em 3 dias, contados a partir da audiência de apresentação (excluindo o dia da audiência). Obs: na defesa prévia devem ser arroladas as testemunhas (o ECA não limita, mas a doutrina limita a 8).
Audiência de continuação Nada mais é do que uma audiência de instrução e julgamento. Nessa audiência, os seguintes atos serão praticados:
Oitiva as testemunhas de acusação e defesa, nesta ordem (sob pena de nulidade relativa);
Debates orais, com 20 minutos para cada, prorrogáveis por mais 10min, a critériodo juiz;
Sentença.
Obs: Esse procedimento é quase igual ao antigo procedimento sumário. 
Merece extrema atenção o art. 186, §2º:
Art. 186. Comparecendo o adolescente, seus pais ou responsável, a autoridade judiciária procederá à oitiva dos mesmos, podendo solicitar opinião de profissional qualificado.
§ 1º Se a autoridade judiciária entender adequada a remissão, ouvirá o representante do Ministério Público, proferindo decisão.
§ 2º Sendo o fato grave, passível de aplicação de medida de internação ou colocação em regime de semi-liberdade, a autoridade judiciária, verificando que o adolescente não possui advogado constituído, nomeará defensor, designando, desde logo, audiência em continuação, podendo determinar a realização de diligências e estudo do caso.
O artigo dá a impressão de que o juiz só é obrigado a nomear defensor ao adolescente que não contratou o advogado se o adolescente praticou infração que não está sujeita a medida de internação ou regime de semi-liberdade. Muita atenção: esta norma deve ser interpretada de acordo com os artigos 111 e 207 do ECA:
Art. 207. Nenhum adolescente a quem se atribua a prática de ato infracional, ainda que ausente ou foragido, será processado sem defensor.
§ 1º Se o adolescente não tiver defensor, ser-lhe-á nomeado pelo juiz, ressalvado o direito de, a todo tempo, constituir outro de sua preferência.
§ 2º A ausência do defensor não determinará o adiamento de nenhum ato do processo, devendo o juiz nomear substituto, ainda que provisoriamente, ou para o só efeito do ato.
§ 3º Será dispensada a outorga de mandato, quando se tratar de defensor nomeado ou, sido constituído, tiver sido indicado por ocasião de ato formal com a presença da autoridade judiciária.
Art. 111. São asseguradas ao adolescente, entre outras, as seguintes garantias:
I - pleno e formal conhecimento da atribuição de ato infracional, mediante citação ou meio equivalente;
II - igualdade na relação processual, podendo confrontar-se com vítimas e testemunhas e produzir todas as provas necessárias à sua defesa;
III - defesa técnica por advogado;
Nenhum adolescente poderá ser processado sem defesa técnica. Apesar de o art. 186, §2º do ECA dispor que o juiz só é obrigado a nomear defensor se o ato infracional que ele praticou estiver sujeito a medida de internação ou regime de semi-liberdade, o art. 207 do ECA, combinado com o art. 111, inciso III, dispõe que nenhum adolescente pode ser processado sem defensor. Em qualquer processo de apuração de ato infracional deve haver defesa prévia.
Sentença Ao final do procedimento, será proferida sentença, que pode ser de:
Improcedência da representação (art. 189, I a IV do ECA) Neste caso, a sentença equivalerá à absolutória, não se podendo aplicar qualquer medida sócio-educativa.
Art. 189. A autoridade judiciária não aplicará qualquer medida, desde que reconheça na sentença:
I - estar provada a inexistência do fato;
II - não haver prova da existência do fato;
III - não constituir o fato ato infracional;
IV - não existir prova de ter o adolescente concorrido para o ato infracional
Procedência da representação Neste caso, o juiz poderá aplicar as medidas sócio-educativas do ECA + as medidas de proteção. 
Atenção: no HC 99565/RJ (j. 07/05/09), o STJ entendeu que as medidas sócio-educativas podem ser aplicadas cumulativamente, no caso de concurso de atos infracionais.
4. Medidas específicas de proteção	
As medidas de proteção (MEP) podem ter caráter principal ou acessório, além de serem cumulativas. A MEP será:
Principal Quando autônoma, aplicada à criança que pratica desvio de conduta ou crime/contravenção, e ainda para adolescente que pratica desvio de conduta.
Acessória Quando for aplicada como medida sócio-educativa para adolescente.
Espécies de medida específica de proteção (art. 101, ECA):
Art. 101. Verificada qualquer das hipóteses previstas no art. 98, a autoridade competente poderá determinar, dentre outras, as seguintes medidas:
I - encaminhamento aos pais ou responsável, mediante termo de responsabilidade;
II - orientação, apoio e acompanhamento temporários;
III - matrícula e freqüência obrigatórias em estabelecimento oficial de ensino fundamental;
IV - inclusão em programa comunitário ou oficial de auxílio à família, à criança e ao adolescente;
V - requisição de tratamento médico, psicológico ou psiquiátrico, em regime hospitalar ou ambulatorial;
VI - inclusão em programa oficial ou comunitário de auxílio, orientação e tratamento a alcoólatras e toxicômanos;
VII - abrigo em entidade;
VIII - colocação em família substituta.
Parágrafo único. O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como forma de transição para a colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade.Os incisos VII e VIII do art. 11 (colocação em abrigo ou em família substituta – guarda, adoção e tutela) somente podem ser aplicados por medida judicial. Os demais incisos podem ser aplicados pelo Conselho Tutelar.
Observações importantes:
O abrigo é medida provisória e excepcional, utilizável como forma de transição para a colocação em família substituta, não implicando privação de liberdade;
A medida sócio-educativa, por seu turno, possui caráter privativo de liberdade;
Compete ao juiz tutelar comunicar o juiz da infância para fins de aplicação da medida de proteção do abrigo;
Registre-se que as medidas de proteção descritas serão acompanhadas da regularização do registro. O juiz da infância e juventude tem prioridade para determinar o registro tardio de crianças e adolescentes. E mais: o art. 50 da Lei de registros públicos foi parcialmente revogado pelo art. 102 do ECA, vez que este último não prevê qualquer prazo para que seja realizado o registro tardio de crianças e adolescentes.
5. Medidas sócio-educativas
As medidas sócio-educativas estão previstas nos arts. 112 a 123 do ECA. São aplicadas isoladamente ou cumulativamente para o adolescente que pratique ato infracional. Vejamos:
Prestação de serviços à comunidade;
Obrigação de reparar o dano;
Liberdade assistida;
Internação;
Advertência;
Semi-liberdade;
Medidas específicas de proteção (qualquer das medidas do inciso I a VI, ou seja, com exceção da colocação em abrigo ou família substituta).
(Recurso mnemônico: P O L I A S – MEP)
Atenção:
Segundo o art. 112, VII, o juiz só pode aplicar as medidas de proteção dos incisos I a VI. Ou seja, o juiz não pode aplicar ao adolescente infrator as medidas de proteção previstas no art. 101, VII, VIII e IX (que, aliás, foram alteradas pela lei 12.010/2009). Assim, jamais o juiz pode aplicar ao adolescente uma medida sócio-educativa de abrigo ou colocação em família substituta (art. 101, incisos VII e VIII), em razão da total incompatibilidade destas medidas protetivas com as medidas sócio-educativas.
VII - acolhimento institucional;  
VIII - inclusão em programa de acolhimento familiar;  
IX - colocação em família substituta. 
ATENÇÃO: Acolhimento institucional e familiar são medidas protetivas que estão sendo muito cobradas. Deve-se estudar esse assunto para as provas.
Em hipótese alguma, será admitida a prestação de trabalho forçado. Isto inclui também a prestação de serviços à comunidade que seja constrangedora.
Os adolescentes portadores de necessidades especiais receberão tratamento individual e especializado, em local adequado com as suas condições. Se não houver local adequado, tais adolescentes não ficarão sujeitos a MSE.
Súmula 108 do STJ: “a aplicação de medidas sócio-educativas ao adolescente, pela prática de ato infracional, é da competência exclusiva do juiz”. Ou seja, o MP não pode aplicar medida socio-educativa, embora possa conceder a remissão-transação, porque mesmo nesse caso a remissão depende de homologação judicial (assim, quem concede é o juiz).
Atenção: O adolescente que pratica ato adicional pode sofrer concomitantemente medida de proteção + medida socio-educativa, em razão do disposto no art. 112 do ECA.
5.1. Critérios genéricos para aplicar as medidassócio-educativas
As medidas sócio-educativas podem ser aplicadas isolada ou cumulativamente e são FUNGÍVEIS (podem ser substituídas a qualquer tempo) – art. 99 c/c art. 113 do ECA. 
São critérios genéricos para aplicação:
Capacidade de cumprimento;
Observar as circunstâncias em que foi praticado o ato infracional;
Observar a gravidade da infração.
Para aplicar as medidas sócio-educativas, o juiz deve respeitar o devido processo legal (art. 111, ECA). É necessária a citação ou meio equivalente. Como já dito, todos os atos infracionais são de ação sócio-educativa incondicionada. Depende da atuação do órgão ministerial.
A medida específica de proteção, por outro lado, não precisa respeitar o devido processo legal, vez que se destina a proteger o menor. A razão da verificação do devido processo legal para fins de aplicação de medidas sócio-educativas reside no fato destas terem caráter penal/retributivo.
Indaga-se: aplicam-se os 5 institutos despenalizadores (alternativas à pena, e não penas alternativas) previstos na Lei 9.099/95? Ex.: composição civil dos danos, transação penal, representações em lesão corporal leve e culposa, suspensão condicional do processo. Sim, desde que não possa ser aplicada a remissão.
Desde a convenção de Haia, o Brasil assumiu o compromisso de não punir o adolescente mais severamente que o adulto. Isto está na convenção internacional de direitos da criança e adolescente de 1979.
5.2. Advertência
I. Conceito 
Consiste na admoestação verbal que o juiz dá ao adolescente, reduzindo a termo.
II. Critérios específicos para aplicação (art. 114, parágrafo único):
Prova da materialidade;
Indícios de autoria e participação (não se confunde com “indícios suficientes de autoria”).
Obs: para aplicação de qualquer outra medida educativa, é necessária prova da autoria e prova da materialidade.
5.3. Obrigação de reparar o dano
Está prevista no art. 112, II e defina no art. 116 do ECA. A obrigação de reparar o dano pode ser aplicável nos atos que produzem reflexos patrimoniais, ainda que não seja um ato infracional correspondente a um crime contra o patrimônio. Para tanto, o adolescente deve ter condições financeiras de pagar (não podem os seus pais pagar). Pode consistir em:
Devolução da coisa
Ressarcimento do dano ou
Outra forma de compensação.
Art. 116. Em se tratando de ato infracional com reflexos patrimoniais, a autoridade poderá determinar, se for o caso, que o adolescente restitua a coisa, promova o ressarcimento do dano, ou, por outra forma, compense o prejuízo da vítima.
Parágrafo único. Havendo manifesta impossibilidade, a medida poderá ser substituída por outra adequada.
5.4. Prestação de serviços à comunidade
Está prevista no art. 112, III e definida no art. 117 do ECA. Essa medida tem o prazo máximo de 6 meses. Consiste na medida sócio-educativa mais aplicada atualmente.
Art. 117. A prestação de serviços comunitários consiste na realização de tarefas gratuitas de interesse geral, por período não excedente a seis meses, junto a entidades assistenciais, hospitais, escolas e outros estabelecimentos congêneres, bem como em programas comunitários ou governamentais.
Parágrafo único. As tarefas serão atribuídas conforme as aptidões do adolescente, devendo ser cumpridas durante jornada máxima de oito horas semanais, aos sábados, domingos e feriados ou em dias úteis, de modo a não prejudicar a freqüência à escola ou à jornada normal de trabalho.
A prestação de serviços pode ser decretada pelo prazo MÁXIMO de 6 meses!
Consiste em tarefas gratuitas em escolas, hospitais, unidades assistenciais etc. A jornada semanal máxima é de 8 horas, cumpridas aos sábados, domingos e feriados, ou dia útil, em horário que não prejudique a freqüência ao trabalho ou à escola.
Esta medida poderá ser convertida em 3 meses de internação, conforme veremos.
5.5. Liberdade assistida (arts. 118 e 119)
Está previsto no art. 112, IV, e definida no art. 118 do ECA. Significa que o menor ficará em liberdade, assistido por um responsável. Cuida-se de medida aplicada nos casos em que o adolescente precisar de acompanhamento, auxílio ou educação. Quando o adolescente reitera atos infracionais leves, é comum que o magistrado aplique a liberdade assistida.
Art. 118. A liberdade assistida será adotada sempre que se afigurar a medida mais adequada para o fim de acompanhar, auxiliar e orientar o adolescente.
§ 1º A autoridade designará pessoa capacitada para acompanhar o caso, a qual poderá ser recomendada por entidade ou programa de atendimento.
§ 2º A liberdade assistida será fixada pelo prazo mínimo de seis meses, podendo a qualquer tempo ser prorrogada, revogada ou substituída por outra medida, ouvido o orientador, o Ministério Público e o defensor.
Diferentemente da prestação de serviços à comunidade, que tem prazo máximo de 6 meses, essa medida tem prazo MÍNIMO de 6 meses, podendo ser prorrogada, revogada ou substituída.
Não há previsão legal de prazo máximo para a aplicação da medida de liberdade assistida. A doutrina e jurisprudência apontam como prazo máximo aquele previsto para a internação: 3 anos. 
A sua aplicação exige que o magistrado indique um orientador ao adolescente, que terá o dever de acompanhar, oriedatar e apoiar o menor durante a execução da medida. Se preferir, o pode ser indicada entidade ou programa de assistência.
Obs: a qualquer momento, a liberdade assistida poderá ser revogada, prorrogada ou substituída, mas, para isso, deverá ser ouvido o orientador, o MP e o defensor.
Deveres do orientador (art. 119, ECA):
Art. 109 - Incumbe o orientador, com apoio e supervisão da autoridade competente:
I – Promover socialmente ou sua família, promovendo-lhes orientação e inserindo-os se necessário em programa ou oficial ou comunitário de auxilio e assistência;
II – Supervisionar a freqüência e o aproveitamento escolar do adolescente, promovendo, inclusiva, sua matrícula;
III – Diligenciar no sentido da profissionalização do adolescente de sua inserção no mercado de trabalho;
IV – Apresentar relatório do caso.
5.6. Semi-liberdade (art. 120)
Trata-se de medida socio-educativa restritiva de liberdade. está prevista no art. 112, V e definida no art. 120 do ECA.
Internação em estabelecimento adequado ou;
Atividades externas e freqüência obrigatória em escola.
Através desta medida, o adolescente sai do seio de sua família ou da rua e vai para um local onde tenha atividades externas, que não dependam de autorização judicial (ex.: participação em cursos), sendo obrigatória a escolarização e a profissionalização.
O regime de semi-liberdade pode ser aplicado como medida inicial ou como progressão para medida sócio-educativa menos grave (em liberdade). Ou seja: é aplicável de forma autônoma ou como forma de transição para o meio aberto (prestação de serviço à comunidade ou liberdade assistida).
Segundo tem entendido o STJ, a medida de semi-liberdade só pode ser aplicada como medida inicial se a sentença for devidamente fundamentada, ou seja, demonstrar a necessidade concreta da medida desde o início. Isso porque no ECA vigora o princípio da excepcionalidade da restrição da liberdade do menor (o STJ utiliza esse princípio todo o tempo). Conclusão: se a sentença não fundamentar a imperiosa necessidade da semi-liberdade, será nula. Julgado: STJ, HC 128.113/SP e HC 111.876.
Esta medida é comumente aplicada quando há reiteração de atos infracionais graves e o juiz entende que ainda não é caso de internação.
Cuidado: não há prazo definido expressamente para a medida de semi-liberdade. Aplica-se o prazo para internação: máximo de 03 anos ou 21 anos de idade, o que chegar primeiro.
5.7. Internação em estabelecimento educacional (arts. 121 a 123) [6: Aula 20 – 04/01/2011. ]
Trata-se de medida sócio-educativa com caráter privativo de liberdade. Em outras palavras, o adolescente fica detido.
Muita atenção: a internação só pode ser aplicada nas hipóteses taxativamente previstas no art. 112, incisos I a III:
Art. 122. A medida de internação só poderáser aplicada quando:
I - tratar-se de ato infracional cometido mediante grave ameaça ou violência a pessoa;
II - por reiteração no cometimento de outras infrações graves Segundo a jurisprudência do STJ, reiteração não se confunde com reincidência. Por conta disso, a ela exige a prática de, pelo menos 3 atos.
III - por descumprimento reiterado e injustificável da medida anteriormente imposta.
Pergunta-se: ao adolescente que pratica tráfico internacional de drogas pode ser aplicada medida de internação? NÃO.
O tráfico, a princípio, não se encontra previsto em nenhuma das hipóteses do art. 122. Não há grave ameaça/violência no tráfico. Em concursos públicos, a questão que mais tem sido cobrada é esta.
Atente: a internação é medida breve e excepcional, não podendo ser aplicada, caso haja medida mais adequada. Em outras palavras: as hipóteses do art. 122 não exigem necessariamente a aplicação de medida de internação. Isso está no art. 121, caput e art. 122, §2º:
Art. 121. A internação constitui medida privativa da liberdade, sujeita aos princípios de brevidade, excepcionalidade e respeito à condição peculiar de pessoa em desenvolvimento.
Art. 122. § 2º. Em nenhuma hipótese será aplicada a internação, havendo outra medida adequada.
O STJ já pacificou que o juiz não é obrigado a requisitar laudo técnico psico-social para declarar a internação, podendo fazê-lo dentro de seu livre convencimento, dispensando o referido laudo.
Nas hipóteses do art. 122, incisos I (violência/grave ameaça) e II (reiteração de infrações graves), a internação é decretada por prazo indeterminado, não podendo ultrapassar 3 anos, devendo ser revista a cada 6 meses, pelo menos.
Na hipótese do at. 122, III (descumprimento de medida aplicada), a internação não pode ser superior a 3 meses.
I. Observações importantes:
O prazo máximo de 3 anos de internação é contado para cada ato infracional isoladamente. Portanto, se o adolescente tiver praticado 3 atos infracionais, poderá sofrer 3 medidas de internação de até 3 anos cada uma.
HABEAS CORPUS. ECA. REPRESENTAÇÃO PELA PRÁTICA DE ATOS INFRACIONAIS EQUIPARADOS AOS DELITOS DE USO E TRÁFICO DE ENTORPECENTES, RECEPTAÇÃO SIMPLES, RECEPTAÇÃO QUALIFICADA E TENTATIVA DE ROUBO DUPLAMENTE QUALIFICADO. IMPOSIÇÃO DE 4 MEDIDAS SOCIOEDUCATIVAS DE INTERNAÇÃO. INADMISSIBILIDADE DO PLEITO DE UNIFICAÇÃO. PRECEDENTES DO STJ. PARECER DO MPF PELA DENEGAÇÃO DA ORDEM. ORDEM DENEGADA. – STJ, HC 99.565/RJ, julgado em 07/05/09.
1.A pretensão de unificação das medidas socioeducativas impostas, como decorrência da pratica de diversos atos infracionais, é contrária aos arts. 99 e 113 do ECA, que autorizam a aplicação de medidas cumulativamente.
2.O entendimento deste STJ firmou-se no sentido de que o prazo de 3 anos previsto no art. 121, § 3o. da Lei 8.069⁄90 é contado separadamente para cada medida socioeducativa de internação aplicada por fatos distintos (RHC 12.187⁄RS, Rel. Min. FELIX FISCHER, DJU 04.03.02).
Questão de concurso: menor de 15 anos pratica dois atos de roubo. Por quanto tempo poderá ficar internado? Poderá ficar internado até 21 anos (3 anos para cada roubo). Mas não erre: mesmo que tenha praticado 4 roubos, o menor será liberado aos 21, pois que nesta idade ocorre a chamada liberação compulsória.
O STJ já decidiu que, aos 21 anos, cessa a compulsoriamente a internação, não podendo o adolescente permanecer internado, a pretexto de receber tratamento psicológico ou psiquiátrico. Ao atingir 21 anos de idade, o internado deve ser imediatamente liberado, não podendo ser transferido para prisão ou cadeia pública (HC 113371, STJ). Se houver necessidade de tratamento psicológico/psiquiátrico, cabe ao MP adotar as medidas cíveis cabíveis. 
O STJ já entendeu que, em nenhuma hipótese, a internação pode ser cumprida em cadeia pública, mesmo que em dependências separadas. Dispõe o art. 123 do ECA que a internação deve ser cumprida em estabelecimento especial, exclusivo para adolescentes, sem qualquer proximidade do adolescente com adultos.
Neste estabelecimento, deve haver a divisão dos adolescentes por idade, compleição física e por gravidade da infração praticada (princípio da individualização da execução da medida sócio-educativa de internação).
Art. 123. A internação deverá ser cumprida em entidade exclusiva para adolescentes, em local distinto daquele destinado ao abrigo, obedecida rigorosa separação por critérios de idade, compleição física e gravidade da infração.
Parágrafo único. Durante o período de internação, inclusive provisória, serão obrigatórias atividades pedagógicas.
Em nenhum caso deve ser decretada a incomunicabilidade do adolescente. É possível apenas a suspensão temporária da visita.
II. Direitos do adolescente internado
O art. 124 do ECA, que traz os direitos do adolescente internado, é muito cobrado em concursos. Tal artigo traz um rol meramente exemplificativo, segundo entendimento consolidado.
Art. 124. São direitos do adolescente privado de liberdade, entre outros, os seguintes:
I - entrevistar-se pessoalmente com o representante do Ministério Público;
II - peticionar diretamente a qualquer autoridade;
III - avistar-se reservadamente com seu defensor;
IV - ser informado de sua situação processual, sempre que solicitada;
V - ser tratado com respeito e dignidade;
VI - permanecer internado na mesma localidade ou naquela mais próxima ao domicílio de seus pais ou responsável;
VII - receber visitas, ao menos, semanalmente;
VIII - corresponder-se com seus familiares e amigos;
IX - ter acesso aos objetos necessários à higiene e asseio pessoal;
X - habitar alojamento em condições adequadas de higiene e salubridade;
XI - receber escolarização e profissionalização;
XII - realizar atividades culturais, esportivas e de lazer:
XIII - ter acesso aos meios de comunicação social;
XIV - receber assistência religiosa, segundo a sua crença, e desde que assim o deseje;
XV - manter a posse de seus objetos pessoais e dispor de local seguro para guardá-los, recebendo comprovante daqueles porventura depositados em poder da entidade;
XVI - receber, quando de sua desinternação, os documentos pessoais indispensáveis à vida em sociedade.
§ 1º Em nenhum caso haverá incomunicabilidade.
§ 2º A autoridade judiciária poderá suspender temporariamente a visita, inclusive de pais ou responsável, se existirem motivos sérios e fundados de sua prejudicialidade aos interesses do adolescente. 
III. Princípios da internação
Três são os princípios aplicados à medida:
Princípio da brevidade;
Excepcionalidade;
Respeito à condição do adolescente como pessoa em desenvolvimento.
Pela brevidade, o juiz deve condenar o adolescente pelo menor tempo possível. 
Pela excepcionalidade (art. 122, §2º), a medida de internação só será aplicada quando não houver outra medida adequada.
Já o respeito à condição do adolescente como pessoa em desenvolvimento está previsto no art. 6º do ECA. O juiz deve observar se a internação pode vir a atrapalhar o desenvolvimento físico e psíquico do adolescente.
 
5.8. Aplicação das medidas sócio-educativas 
De acordo com o art. 113 do ECA, as medidas sócio-educativas são fungíveis. Assim, durante sua execução podem ser substituídas umas pelas outras a qualquer tempo. Pode haver: 
Progressão de Medida Sócio-Educativa Cuida-se da substituição de uma medida mais grave por uma mais branda. Ex: internação por semi-liberdade.
Regressão de Medida Sócio-Educativa Neste caso, ao revés, substitui-se uma medida mais branda por outra mais grave. A regressão depende sempre de prévia oitiva do menor infrator, sob pena de a decisão ser NULA. Dispõe a Súmula 265 do STJ: “é necessária a oitiva do menor infrator antes de decretar-se a regressão da medida sócio-educativa”.
A doutrina entende que as medidas privativas da liberdade (de semi-liberdade ou internação) só podem ser concedidas em sentença que julga o ato infracional, não podendo ser aplicadas em decorrência de mera regressão pois, nesse caso, não haveria observância do devido processo legal e docontraditório e ampla defesa. Ex: Se o menor recebeu remissão pelo MP ou pelo juiz, com medida sócio-educativa de prestação de serviços à comunidade, essa medida não pode regredir para semi-liberdade ou internação, pois nesse caso não terá havido contraditório, ampla defesa. 
5.9. Prescrição de medida sócio-educativa 
O ECA não traz qualquer norma tratando da prescrição das MSE. Em razão disso, duas posições se consolidaram.
Corrente Não existe prescrição de ato infracional, porque: (i) o ECA não prevê; (ii) MSE não é pena e (iii) ato infracional não é crime. Essa corrente é minoritária.
Corrente (MAJORITÁRIA) Embora MSE não sejam pena, elas têm caráter punitivo/repressivo, inclusive podendo privar a liberdade do menor. Dispõe a Súmula 338 do STJ: “a prescrição penal é aplicável nas medidas sócio-educativas”. 
A prescrição penal, aplicável nas medidas sócio-educativas, pode ser: 
Prescrição da pretensão punitiva da MSE – Regula-se pelo máximo da pena cominada ao crime ou contravenção ao qual corresponde o ato infracional.
Prescrição da pretensão executória da MSE – É regulada pelo prazo da medida sócio-educativa aplicada na sentença. Se a medida sócio-educativa for aplicada por prazo indeterminado, a prescrição será de 3 anos, utilizando-se por analogia o prazo máximo da internação, salvo se lei especial previr prazo inferior de prescrição (ex: 28, Lei 11.343/06 prevê o prazo de 2 anos).
Em ambos os casos (PPP e PPE), os prazos são reduzidos à metade (art. 115 do CP), porque o menor será sempre menor de 21 anos na data do fato. 
Art. 115 - São reduzidos de metade os prazos de prescrição quando o criminoso era, ao tempo do crime, menor de 21 (vinte e um) anos, ou, na data da sentença, maior de 70 (setenta) anos.(Redação dada pela Lei nº 7.209, de 11.7.1984)
Cf. STF, HC 88788:
EMENTA: HABEAS CORPUS. ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE. DESCUMPRIMENTO DE MEDIDA SÓCIO-EDUCATIVA. INTERNAÇÃO-SANÇÃO. LEGITIMIDADE. INSTITUTO DA PRESCRIÇÃO. APLICABILIDADE. PARÂMETRO. PENA MÁXIMA COMINADA AO TIPO LEGAL. REDUÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL À METADE COM BASE NO ART. 115 DO CÓDIGO PENAL. HIPÓTESE DE CRIME DE ROUBO. PRESCRIÇÃO NÃO CONSUMADA, NA ESPÉCIE. AUSÊNCIA DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. ORDEM DENEGADA. 1. Não incide a irregularidade apontada pela impetrante, no sentido de que a medida de internação-sanção teria sido decretada antes do envio de precatória para a comarca onde o paciente estaria residindo. Constam informações nos autos de que a execução da medida de liberdade assistida foi deprecada e, diante da devolução da carta precatória, a medida extrema veio a ser decretada. 2. O instituto da prescrição não é incompatível com a natureza não-penal das medidas sócio-educativas. Jurisprudência pacífica no sentido da prescritibilidade das medidas de segurança, que também não têm natureza de pena, na estrita acepção do termo. 3. Os casos de imprescritibilidade devem ser, apenas, aqueles expressamente previstos em lei. Se o Estatuto da Criança e do Adolescente não estabelece a imprescritibilidade das medidas sócio-educativas, devem elas se submeter à regra geral, como determina o art. 12 do Código Penal. 4. O transcurso do tempo, para um adolescente que está formando sua personalidade, produz efeitos muito mais profundos do que para pessoa já biologicamente madura, o que milita em favor da aplicabilidade do instituto da prescrição. 5. O parâmetro adotado pelo Superior Tribunal de Justiça para o cálculo da prescrição foi o da pena máxima cominada em abstrato ao tipo penal correspondente ao ato infracional praticado pelo adolescente, combinado com a regra do art. 115 do Cód igo Penal, que reduz à metade o prazo prescricional quando o agente é menor de vinte e um anos à época dos fatos. 6. Referida solução é a que se mostra mais adequada, por respeitar os princípios da separação de poderes e da reserva legal. 7. A adoção de outros critérios, como a idade limite de dezoito ou vinte e um anos e/ou os prazos não cabais previstos no Estatuto da Criança e do Adolescente para duração inicial das medidas, além de criar um tertium genus, conduz a diferenças de tratamento entre pessoas em situações idênticas (no caso da idade máxima) e a distorções incompatíveis com nosso ordenamento jurídico (no caso dos prazos iniciais das medidas), deixando de considerar a gravidade em si do fato praticado, tal como considerada pelo legislador. 8. No caso concreto, o acórdão do Superior Tribunal de Justiça não merece qualquer reparo, não tendo se aperfeiçoado a prescrição até o presente momento. 9. Ordem denegada.
5.10. Boas questões de concurso
Se o MP oferece remissão complexa, cumulada com MSE, que é descumprida, aplica-se o art. 122, inciso III (internação – de 3 meses - por descumprimento reiterado e injustificável de medida anteriormente imposta)? NÃO. Neste caso, o parquet deverá oferecer a representação, caso não tenha havido a prescrição.
E mais: caso o descumprimento da MSE ocorra depois de iniciado o procedimento, uma vez aplicada a remissão, ocorrendo a suspensão do processo, também não será aplicado o art. 122, inciso III. Neste caso, o processo voltará a correr, encerrando-se a suspensão.
Em síntese: não se aplica o art. 122, inciso III (internação – de 3 meses - por descumprimento reiterado e injustificável de medida anteriormente imposta) nos casos de remissão, antes ou depois do procedimento.
A remissão serve para antecedentes? Não.
Como funciona a intimação de sentença para o adolescente? Veja: se for sentença que aplique MSE de internação ou semi-liberdade: 
A intimação deve ser feita ao adolescente e seu defensor.
Se não for localizado o adolescente, deve recair nos seus pais ou responsáveis e defensor.
No caso das demais medidas sócio-educativas, a intimação da sentença precisa ser feita apenas na pessoa do advogado.
6. Medida cautelar de internação provisória
Já vimos a internação como medida sócio-educativa, aplicada na sentença. Agora, veremos a internação como medida cautelar. Registre-se que a internação provisória é a única medida cautelar aplicável contra menor infrator durante o procedimento de apuração de ato infracional.
A medida cautelar de internação provisória só pode ser aplicada se houver imperiosa necessidade + indícios de autoria e materailidade, em decisão judicial devidamente fundamentada. 
	É decretada pelo juízo da vara da infânica e juventude por infração sócio-educativa. 
I. Prazo
Segundo dispõe o art. 108 do ECA, essa internação tem prazo máximo de 45 dias. Isso significa que o procedimento deverá terminar neste prazo. Repise-se: o STJ já atendeu que esse prazo de 45 dias não pode ser prorrogado em nenhuma hipótese, não importando a gravidade do ato infracional, as condições pessoais do adolescente ou a complexidade do processo (STJ, HC 119.930/PI, de 29/04/2010).
O juiz que não observa esse prazo para a internação provisória pratica o crime do art. XX do ECA.
Art. 108. A internação, antes da sentença, pode ser determinada pelo prazo máximo de quarenta e cinco dias.
Parágrafo único. A decisão deverá ser fundamentada e basear-se em indícios suficientes de autoria e materialidade, demonstrada a necessidade imperiosa da medida.
	ATENÇÃO: O STF decidiu que, proferida a sentença de mérito, fica prejudicada a alegação de excesso de prazo na internação provisória (STF, HC 102.057/RS, de 01/06/10). 
Obs: Esse é o mesmo entendimento que o STF aplica em relação à prisão preventiva (O STF afirma que o que justifica a prisão será um novo título, que é o título condenatório – mas isso é uma contradição, porque esse título, se estiver sendo recorrido, será provisório. Ou seja, haverá execução provisória de pena).
II. Estabelecimento
Também a internação provisória não pode ser cumprida em estabelecimentos prisionais, mas sim em local adequado. A questão é saber o que fazer, caso na cidade não haja estabelecimento de menores. Neste caso, o menor deve ser transferido para o estabelecimento de menores da cidade mais próxima, podendo permanecer em repartição policial,aguardando a transferência, por até 5 dias, sob pena de responsabilidade. Cf. art. 185 do ECA:
Art. 185. A internação, decretada ou mantida pela autoridade judiciária, não poderá ser cumprida em estabelecimento prisional.
§ 1º Inexistindo na comarca entidade com as características definidas no art. 123, o adolescente deverá ser imediatamente transferido para a localidade mais próxima.
§ 2º Sendo impossível a pronta transferência, o adolescente aguardará sua remoção em repartição policial, desde que em seção isolada dos adultos e com instalações apropriadas, não podendo ultrapassar o prazo máximo de cinco dias, sob pena de responsabilidade.
Atenção: o tempo de espera de transferência de 5 dias não pode ser prorrogado pelo juiz ou pela autoridade policial.
III. Cabimento
Só poderá ocorrer a internação provisória nos casos de ato infracional doloso cometido com violência ou grave ameaça contra a pessoa. Excepcionalmente, o STJ a permite nos casos de tráfico de entorpecentes, o que não está previsto em lei.
7. Sistema recursal do ECA
Aplica-se ao ECA o sistema recursal do processo civil (CPC), com as modificações do art. 198 do ECA.
Art. 198. Nos procedimentos afetos à Justiça da Infância e da Juventude fica adotado o sistema recursal do Código de Processo Civil, aprovado pela Lei n.º 5.869, de 11 de janeiro de 1973, e suas alterações posteriores, com as seguintes adaptações:
I - os recursos serão interpostos independentemente de preparo;
II - em todos os recursos, salvo o de agravo de instrumento e de embargos de declaração, o prazo para interpor e para responder será sempre de dez dias;
III - os recursos terão preferência de julgamento e dispensarão revisor;
IV - o agravado será intimado para, no prazo de cinco dias, oferecer resposta e indicar as peças a serem trasladadas; (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
V - será de quarenta e oito horas o prazo para a extração, a conferência e o conserto do traslado; (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
VI - a apelação será recebida em seu efeito devolutivo. Será também conferido efeito suspensivo quando interposta contra sentença que deferir a adoção por estrangeiro e, a juízo da autoridade judiciária, sempre que houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação; (Revogado pela Lei nº 12.010, de 2009)   Vigência
VII - antes de determinar a remessa dos autos à superior instância, no caso de apelação, ou do instrumento, no caso de agravo, a autoridade judiciária proferirá despacho fundamentado, mantendo ou reformando a decisão, no prazo de cinco dias;
VIII - mantida a decisão apelada ou agravada, o escrivão remeterá os autos ou o instrumento à superior instância dentro de vinte e quatro horas, independentemente de novo pedido do recorrente; se a reformar, a remessa dos autos dependerá de pedido expresso da parte interessada ou do Ministério Público, no prazo de cinco dias, contados da intimação.
Obs.1: Não são utilizados os prazo recursais do CPC. Por previsão do art. 198 do ECA, os prazo serão sempre de 10 dias, salvo no caso de embargos de declaração (que será de 5 dias). 
Obs.2: O art. 188 do CPC concede prazo em dobro o prazo para o MP recorrer. Pergunta-se: no procedimento do ECA aplica-se essa norma?
O STJ já pacificou o entendimento de que se aplica o prazo em dobro para o MP recorrer no procedimento do ECA. Logo, mesmo no procedimento para apurar ato infracional, o parquet tem prazo duplicado. Ademais, o STJ acaba de decidir que também a defensoria pública tem prazo dobrado para recorrer, contados da data da intimação pessoal do defensor (e não da juntada do mandato aos autos do processo). STJ, HC 116.421, de 15/06/10.
Há entendimento doutrinário de que o art. 188 do CPC não se aplica no ECA, por violação ao princípio da igualdade processual, garantido no art. 111, II do ECA. Este entendimento, como já dito, não é abraçado pelo STJ.
Têm prazo dobrado para recorrar o MP e a defensoria pública.
Obs.3: O art. 198, VI do ECA, já revogado, dizia que a apelação, nas ações que envolvessem o ECA, tinha apenas efeito devolutivo, em regra, e excepcionalmente também o efeito suspensivo, quando houvesse perigo de dano irreparável ou de difícil reparação. 
Como essa norma foi revogada, aplica-se a norma do CPC. Por isso, em regra, acho que, deve ter efeito suspensivo. Silvio se confundiu todo.
Aqui há um problema: se, via de regra, a apelação não tem efeito suspensivo, a sentença que aplica medida sócio-educativa ao adolescente pode ser executada desde logo. 
Assim decidiu o STJ no ano passado: “o Estatuto da Criança e do Adolescente não exige o trânsito em julgado da sentença para que se inicie o cumprimento da medida sócio-educativa aplicada” (RHC 21380/RS; 04.12.08). O fundamento dessa decisão foi o art. 198, VI do ECA (a apelação, em regra, não possui efeito suspensivo). 
Mas veja: no âmbito do processo penal, entende-se que, embora o REsp e RE não possuam efeito suspensivo, durante sua pendência não é possível expedir mandado de prisão contra o condenado, pois tais recursos impedem o trânsito em julgado, prelavecendo a presunção de inocência. No ECA, o STJ está entendendo diferente: a medida sócio-educativa pode ser executada mesmo na pendência de recurso.
RECURSO ORDINÁRIO EM HABEAS CORPUS. ATO INFRACIONAL INFRACIONAL EQUIPARADO AO DELITO DE ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR. APLICAÇÃO DE MEDIDA SOCIOEDUCATIVA DE INTERNAÇÃO, POR PRAZO INDETERMINADO. RECURSO DE APELAÇÃO RECEBIDO SEM EFEITO SUSPENSIVO. REGRA PREVISTA NO ART. 198, VI, DO ECA. POSSIBILIDADE. CONSTRANGIMENTO ILEGAL NÃO-CONFIGURADO. PRECEDENTES. RECURSO IMPROVIDO.
1. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça é no sentido de que "o recurso de apelação terá, em regra, efeito devolutivo, podendo, entretanto, ser atribuído efeito suspensivo em casos excepcionais, quando houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação" (RHC 20.530⁄SP, Rel. Min. GILSON DIPP, Quinta Turma, DJ de 2⁄3⁄07).
2. O Estatuto da Criança e do Adolescente não exige o trânsito em julgado da sentença para que se inicie o cumprimento da medida socioeducativa aplicada, conforme preceitua a primeira parte do inciso VI do art. 198 do ECA.
3. Para que o magistrado aplique a exceção prevista na segunda parte do referido dispositivo legal, a defesa deve apresentar os motivos pelos quais o cumprimento da medida imposta ao menor causará perigo de dano irreparável ou de difícil reparação. Dessa forma, não havendo nenhuma justificativa para o recebimento da apelação no efeito suspensivo, deve-se aplicar a regra. 4. Recurso improvido.
Obs.4: É cabível HC e revisão criminal em favor de adolescente. Embora estejam no capítulo dos recursos do CPP, HC e revisão criminal não são recursos, mas sim ações autônomas de impugnação. Por conta disso, logicamente é cabível o seu manejo em favor de adolescente.
Veja: as medidas sócio-educativas têm caráter sancionatório (justamente por isso cabe prescrição). Se existem medidas sócio-educativas restritivas da liberdade, caberá habeas corpus.
Obs.5: O STF e STJ pacificaram que não se aplica às ações fundadas no ECA o princípio da identidade física do juiz, previsto no art. 399, §2º do CPP (STF, RHC 105.198/DF de 23/11/10).
8. Crimes contra a criança e o adolescente
Todos os crimes contra a criança e o adolescente são de ação penal pública incondicionada (art. 227, ECA). Dica: todos os crimes da legislação penal são de ação pena pública incondicionada, com exceção da lesão culposa de trânsito que, em regra, depende de representação.
O descumprimento das obrigações previstas no art. 10 configuram os seguintes crimes:
Descumprimento do art. 10, I e IV – art. 228
Descumprimento do art. 10, II e III – art. 229
Descumprimento do art. 10, V – fato atípico
8.1. Art. 228 
Art. 228. Deixar o encarregado de serviço ou o dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de manter registro das atividades desenvolvidas, na forma e prazo referidos no art. 10 desta Lei, bem como de fornecer à parturiente ou a seu responsável,por ocasião da alta médica, declaração de nascimento, onde constem as intercorrências do parto e do desenvolvimento do neonato:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
I. Sujeitos do crime
	O sujeito ativo só pode ser encarregado de serviço ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde da gestante. Esse é um crime próprio que exige qualidade especial do sujeito ativo. 
O sujeito passivo é o neonato/recém-nascido, a parturiente ou eventual responsável pelo neonato.
II. Elemento subjetivo
	Esse crime é punido a título de dolo e de culpa.
III. Objetividade jurídico
	O objeto jurídico do crime é a proteção da vida e saúde do neonato. 
IV. Consumação e tentativa
	A consumação ocorre com a simples omissão no cumprimento das obrigações. Ou seja, o crime é omissivo puro ou próprio, não sendo possível tentativa, portanto.
8.2. Art. 229
Art. 229. Deixar o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atenção à saúde de gestante de identificar corretamente o neonato e a parturiente, por ocasião do parto, bem como deixar de proceder aos exames referidos no art. 10 desta Lei:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Se o crime é culposo:
Pena - detenção de dois a seis meses, ou multa.
I. Sujeitos
	São sujeitos ativos o médico, enfermeiro ou dirigente de estabelecimento de atendimento à saúde de gestante.
	Na primeira conduta (deixar de identificar corretamente o neonato e a parturiente) os sujeitos passivos são o neonato e a parturiente. Na segunda conduta (deixar de proceder aos exames referidos no art. 10), o sujeito passivo é somente o neonato.
II. Elemento subjetivo Dolo ou culpa
III. Objeto jurídico idem ao art. 228.
IV. Consumação e tentativa idem ao art. 228.
8.3. Art. 230 
Art. 230. Privar a criança ou o adolescente de sua liberdade, procedendo à sua apreensão sem estar em flagrante de ato infracional ou inexistindo ordem escrita da autoridade judiciária competente:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Parágrafo único. Incide na mesma pena aquele que procede à apreensão sem observância das formalidades legais.
I. Conduta
O adolescente e a criança, assim como ocorre com os adultos, só podem ser privadas de sua liberdade em flagrante ou por ordem judicial. 
A conduta prevista no art. 230 é a de privar a liberdade da vítima (criança ou adolescente) de forma ilegal ou sem atender às formalidades legais (v.g., sem a lavratura do auto de apreensão).
Apreensão ilegal Ocorre quando não houver flagrante de ato infracional ou quando não houver ordem judicial de apreensão. O menor só pode ser apreendido nestas duas hipóteses, de maneira análoga ao que ocorre com as pessoas maiores.
Apreensão sem formalidade legais Neste caso, a apreensão é legal, mas não são observadas as formalidades previstas em lei. Ex.: Delegado apreende adolescente em flagrante de ato infracional, mas não lavra o auto de apreensão, nem o boletim de ocorrência circunstanciada.
Observe que o delito somente ocorre quando a privação de liberdade se der por meio de apreensão. Logo, se ocorrer a privação da liberdade da vítima por qualquer outra forma que não a de apreensão, o delito será o de seqüestro ou cárcere privado.
II. Sujeito ativo
Cuida-se de crime comum, que pode ser praticado por qualquer pessoa. Ex.: investigador de polícia, policial militar, delegado de polícia. 
O sujeito passivo, claro, só pode ser criança ou adolescente.
III. Tipicidade subjetiva
O elemento subjetivo é o dolo (não se pune a culpa).
IV. Objetividade jurídica
	O objeto jurídico é a liberdade de locomoção da criança e do adolescente.
V. Consumação e tentativa
A consumação ocorre com a privação da liberdade da vítima. Ou seja, há crime material, que exige resultado naturalístico, sendo possível a tentativa, quando o agente não conseguir privar ilegalmente a liberdade da vítima.
8.4. Art. 231
Art. 231. Deixar a autoridade policial responsável pela apreensão de criança ou adolescente de fazer imediata comunicação à autoridade judiciária competente e à família do apreendido ou à pessoa por ele indicada:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
I. Conduta
Este delito tem origem na Constituição: dispõe o art. 5º da CF/88 que a prisão de qualquer pessoa deve ser comunicada pela autoridade ao juiz competente e à família do preso, ou a pessoa por ele indicada. 
No caso do ECA, faltando qualquer uma dessas comunicações em relação à apreensão, haverá o crime do art. 231. Portanto, a autoridade policial responsável pela apreensão tem um duplo dever de comunicação. Observações importantes:
Revela o tipo penal que esta comunicação deve ser imediata, e não em 24h, dentro das possibilidades fáticas. Atente: o atraso, sem justa causa, na comunicação, configura o crime.
O art. 231 dispõe que deve ser comunicado o juiz competente. Logo, se o delegado, propositalmente, comunica juiz incompetente, a fim de retardar o controle judicial da apreensão, responderá pelo crime.
II. ECA x Lei de Abuso de Autoridade
Na Lei de Abuso de Autoridade, só é crime deixar de comunicar a prisão ao juiz. Assim, deixar de comunicar a prisão à família do preso não é crime de abuso de autoridade. Em outras palavras, a LAA traz um único dever de comunicação, o que se justifica, pois este diploma é anterior à CRFB/88, quando só exigia comunicação ao juiz.
	Lei 4.898/65
	Art. 231 do ECA
	É crime deixar de informar ao juiz.
	É crime deixar de informar ao juiz ou à família/pessoa indicada
	O autor do crime pode ser qualquer autoridade
	O sujeito ativo é necessariamente autoridade policial
III. Sujeito ativo do crime
O sujeito ativo do crime é a autoridade policial responsável pela apreensão. Logo, trata-se de crime próprio, que exige qualidade especial do sujeito ativo.
Se outros policiais realizam uma apreensão e deixar de comunicar o juiz, já estará incorrendo no delito do art. 230.
IV. Tipicidade subjetiva
Esse crime é punido apenas com dolo; não há forma culposa. Se o delegado, por esquecimento, não comunicou o juiz, não há crime.
E. Consumação e tentativa
A consumação ocorre com a simples omissão na comunicação. Atente: não é possível a tentativa, por se tratar de crime omissivo puro ou próprio (ou o delegado comunica, e não há fato jurídico algum, ou ele comunica e o crime já está consumado).
8.5. Art. 232 do ECA
Art. 232. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
Quando a esse ponto, Silvio manda que se aplique as considerações acerca do art. 4º, “b” da lei de abuso de autoridade com uma diferença: aqui, o sujeito passivo é criança ou adolescente.
8.6. Art. 233 do ECA
O art. 233 do ECA previa o delito de tortura contra criança ou adolescente. O dispositivo foi expressamente revogado pela Lei de Tortura (9.455/97). Logo, atualmente, tortura contra criança ou adolescente não configura crime do ECA, mas sim crime da Lei de Tortura, com causa de aumento de pena de 1/6 a 1/3 (o fato de o torturado ser adolescente é causa de aumento de pena).
Art. 233. Submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a tortura:
Pena - reclusão de um a cinco anos.
§ 1º Se resultar lesão corporal grave:
Pena - reclusão de dois a oito anos.
§ 2º Se resultar lesão corporal gravíssima:
Pena - reclusão de quatro a doze anos.
§ 3º Se resultar morte:
Pena - reclusão de quinze a trinta anos.
8.7. Art. 234
	Silvio manda aplicar as considerações do art. 4
º da lei de abuso de autoridade com a alteração do sujeito passivo, que aqui é a criança ou adolescente.
Art. 234. Deixar a autoridade competente, sem justa causa, de ordenar a imediata liberação de criança ou adolescente, tão logo tenha conhecimento da ilegalidade da apreensão:
Pena - detenção de seis meses a dois anos.
8.8. Art. 235
Art. 235. Descumprir, injustificadamente, prazo fixado nesta

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