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(ENSAIO)ENQUANTO AGONIZO, DE WILLIAM FAULKNER UMA JORNADA FUNERÁRIA PELAS TERRAS DO MISSISSIPPI

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ENQUANTO AGONIZO, DE WILLIAM FAULKNER: UMA JORNADA FUNERÁRIA PELAS TERRAS DO MISSISSIPPI 
	Nesta parte do ensaio buscaremos discorrer ainda sobre a obra Faulkneriana, considerando os quatro pontos apresentados no artigo “Enquanto Agonizo, de William Faulkner: Uma Jornada Pelas Terras do Mississippi”, que são respectivamente: a preparação do caixão, a presença do morto, o compromisso com o morto x a necessidade de livrar-se do corpo do morto e o aflorar da intimidade caipira. Assim, buscaremos também, perceber como se realiza no livro o chamado “fluxo de consciência”.
	A obra “Enquanto Agonizo” de William Faulkner narra a saga da família Bundren, que visa enterrar a matriarca Adie no local desejado por ela. É composta de uma concatenação de capítulos, onde cada um é contado através da perspectiva de um personagem como um mosaico e criando um caráter multiperspectivista. Segundo Brooks (1966), o livro apresenta a jornada fantástica dos Bundren, que o autor chama de burial journey (literalmente jornada funerária), aparentemente, tem o simples objetivo de cumprir uma promessa, mas que demonstra a relação de dependência entre os vivos e os mortos. 
	Deste modo, somos confrontados com a intimidade caipira (SANTIAGO 2006) e a Individualidade do homem do campo, o qual realiza feitos, tanto intelectual ou físicos, tidos como impossíveis.
	Vamos então, aos tópicos relevantes à essa parte.
 
1- A preparação do caixão 
Faulkner constrói muito bem seus personagens e lhes atribui características inimagináveis. Esse é o caso de Cash,o filho mais velho, o qual fabrica o caixão da própria mãe e que recebe destaque na primeira parte da análise. O fato aparentemente inusitado poderia-se atribuir a vários fatores, como uma questão financeira e visto o ambiente rural apresentado; relação de intimidade com a execução dos ritos funerários, no qual o filho demonstra-se sempre solícito ao pedido da mãe e assumindo uma tarefa dura de modo natural.
É interessante perceber que nessa parte, assim como em todo o livro, somos apresentados aos acontecimentos por meio dos próprios personagens e não de um narrador específico. Tal peculiaridade de Faulkner explica o “Fluxo de Consciência”, no qual somos inseridos nos acontecimentos a partir do Interior dos personagens, revelando assim, um desvelamento gradual dos fatos, onde não se tem uma visão holística da estória. Deste modo, somos questionados quanto a densidade dos personagens diante de sua simplicidade.
2- A presença do morto 
No segundo tópico, somos confrontados com “a imagem monstruosa” de Addie (BROOKS 1996) que retoma a dicotomia vivos-mortos por meio de uma memória subjetiva, que não é evocada simplesmente pelo cadáver, mas pelo sentimento ainda vivo e que mostra que “os mortos são pessoas que estão presentes entre os vivos” (OEXLE 1996, p. 30).
Assim, o morto se faz presente, seja por um sinal visível, o caixão, ou invisível, uma promessa. Segundo Brooks, 
“O cadáver de Addie torna-se um símbolo monstruoso – o único símbolo disponível – de sua identidade feroz quando, por meio da promessa arrancada do marido indolente, ela consegue dotá-lo de uma vontade pessoal quase vampiresca. O corpo morrerá apenas em seus próprios termos: ela não descansará – ou permitirá que sua família descanse – até que tenha sido depositada no local de descanso escolhido (BROOKS 1966, p. 149). 
A família é pois movida por motivos naturais desfarçadas de algo sobrenatural.
3- O compromisso com o morto x a necessidade de livrar-se do corpo do morto 
No terceiro ponto, existe a presença de um paradoxo, pois há um compromisso assumido com a esposa moribunda: “’Eu prometi para ela’, ele diz.”(FAULKNER, 2010, p. 93), do qual o pai, Anse e alguns filhos parecem ser impelidos ao cumprimento e que para cumpri-lo trilham um percurso tortuoso. É curioso perceber a tentativa dos familiares de livrar-se rapidamente da “moribunda”. Um dos motivos defendidos por Morin (1997) está no processo acelerado de decomposição da mãe, a qual já causa grande desconforto aos moradores dos lugares por onde passam. Cada ente possui uma razão para querer a conclusão do tortuoso caminho, tornando assim evidente a relevância da viagem em si e não focando no fim específico, o qual cada personagem apresenta uma motivação particular e secreta, seja uma promessa, a necessidade de purificação, e o desejo de conseguir uma dentadura e uma nova esposa. 
4- O aflorar da intimidade caipira 
Nesse quarto tópico, percebemos a exaltação dada à simplicidade do homem do campo. Deste modo, Silviano Santiago (2006, p. 342) vai dizer que “a ignorância no universo dos personagens faulknerianos (...) aponta para a iluminação poética de raiz mítico-religiosa, como pode ainda apontar para formas inaceitáveis de violência contra o indivíduo e a sociedade”. O autor dá representatividade à personagens ordinários; atribui por exemplo, “um senso lógico” surpreendente ao primogênito Cash que é evidenciado na construção do caixão, anteriormente citada. Assim, é relevante perceber que a dita ignorância dos “caipiras” é confrontada à certa “inocência poética”(Brooks, 1966) 
BROOKS, Cleanth. Odissey of the Bundrens. In: ________. The 
Yoknapatawpha County. New Haven/London: Yale University Press, 1966, p. 
141-166. 
FAULKNER, William. Enquanto agonizo. Tradução: Wladir Dupont. Porto 
Alegre: L&PM, 2010. 
MORIN, Edgar. O homem e a morte. Tradução: Cleone Augusto Rodrigues. Rio de Janeiro: Imago, 1997. 
OEXLE, Otto Gerhard. A presença dos mortos. 1996. Tradução: Maria Clara Cescato. In: BRAET, Herman; VERBEK, Werner (org). A Morte na Idade Média. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1996, p. 27-78. 
SANTIAGO, Silviano. Enquanto agonizo. In: ________. Ora (direis) puxar 
conversa!: ensaios literários. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2006, p. 337-342

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