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A Revolução do Porto e a emancipação da América

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A Revolução do Porto e a emancipação da América
portuguesa
REFLEXÃO
Você já se perguntou alguma vez como ficou a situação de Portugal após a transmigração da família real
para a América portuguesa? Uma das formas de tentarmos responder a essa pergunta é observando Lisboa,
a antiga sede do Império português.
Após a partida da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, a cidade transformou-se no retrato
da destruição: invadida e arrasada pela guerra com as tropas napoleônicas, governada
por um militar inglês, prejudicada pelo deslocamento do eixo econômico do império para
o Rio de Janeiro, a situação de Lisboa e do restante de Portugal era caótica.
No ano de 1814, após cerca de seis anos de conflitos e graças a um grande esforço do povo
português, as tropas napoleônicas deslocadas para o país foram finalmente derrotadas. Mas
Esse quadro de insatisfações e
dissidências no interior do Império
português foi agravado quando,
em 1820, estourou em Portugal
um movimento reivindicatório
que ficou conhecido como a
Revolução do Porto.
capítulo 2 • 49
o saldo de destruição e de prejuízos de toda ordem deixado por esses anos de guerra era
desanimador. A perspectiva lisboeta de retomada do protagonismo no interior do Império
português sofreu um duro golpe com a elevação do Brasil a reino unido de Portugal e Algarve
(1815): com essa medida, ficava clara a intenção da monarquia portuguesa de dar continuidade
ao projeto de enraizamento da metrópole em terras americanas, contrariando os
interesses dos portugueses que viviam na Europa.
RESUMO
Como já foi dito, estava em curso no Brasil não apenas uma estada temporária da Corte, circunscrita ao
momento em que Portugal estivesse invadido por tropas francesas, mas a execução de um projeto de
refundação do Império português a partir das Américas. Transferir-se para o Brasil não foi apenas uma
forma de fugir de Napoleão, mas também uma tentativa do Império português de recuperar o esplendor,
deslocando a sua sede para a região que já era há muito tempo a mais rica de todo o império: o Brasil.
Em 1820, o descontentamento em relação à situação periférica de Portugal no Império
português acentuou-se: na Espanha, um movimento de inspiração liberal ganhava as ruas
e submetia o rei a uma constituição.
No mesmo ano, o atraso no pagamento das tropas portuguesas sediadas no Porto foi o
estopim para o início de uma revolta que ganhou as ruas da cidade e, em poucos meses, se estendia
a Lisboa, ganhando o nome de Revolução Liberal do Porto: assim como os espanhóis,
os portugueses pretendiam não apenas que o rei retornasse a Portugal, mas também que ele
assinasse uma constituição, que limitaria seus poderes e garantiria direitos aos portugueses.
Além de desejarem retomar a condição de sede do Império português, o que seria conseguido
caso o rei D. João VI retornasse a Lisboa, os revolucionários tinham outras exigências:
para satisfazer aos desejos das Cortes de Lisboa, convocadas com o objetivo de reunir
os diferentes representantes da nação portuguesa e, assim, dar continuidade ao movimento
revolucionário, era necessário que o rei tomasse medidas que, na prática, significariam
o fim do processo de “interiorização da metrópole” no Centro-Sul da América portuguesa.
A esse processo, os brasileiros reagiram, denunciando o que seria uma tentativa de recolonização
do Brasil por parte das Cortes de Lisboa. Na prática, como já vimos, a única região
“descolonizada” da América portuguesa, que fazia às vezes de metrópole e impunha um rígido
controle sobre as demais regiões, era a Centro-Sul, liderado pelo Rio de Janeiro, que a essa
altura já era chamado nas províncias do norte pejorativamente de “a nova Lisboa”.
De fato, o Rio de Janeiro e os grupos de interesses constituídos na cidade após a chegada
da família real corriam risco de sofrer sérios prejuízos em consequência das determinações
que vinham das Cortes.
A partir daí, as divisões entre os grupos favoráveis e os contrários aos revolucionários do
Porto irão se tornar cada vez mais evidentes, até o momento em que reste apenas a alternativa
da separação política entre os reinos.
50 • capítulo 2
REFLEXÃO
Mas antes de chegar a isso, vamos discutir outros aspectos importantes dessa história?
Anteriormente, afirmamos que o movimento de reação às determinações vindas das Cortes de Lisboa foi
liderado pelos brasileiros, que denunciaram a tentativa de recolonização do Brasil contida naquelas medidas.
Mas, se antes da independência não havia o Brasil enquanto um país constituído, e se tampouco havia
naquele momento uma nação brasileira, como é possível afirmar que os brasileiros tiveram um papel de
destaque na oposição às determinações de Lisboa?
O significado do termo brasileiro é hoje para nós bastante conhecido: todos o identificamos
como o termo referente àqueles que possuem nacionalidade brasileira, ou seja, nasceram
no país ou são descendentes de brasileiros. No passado, entretanto, o termo brasileiro
já teve diferentes significados: no século XIX, precisamente durante a Revolução do Porto,
ser brasileiro era assumir uma atitude política.
IMAGEM
Maria Leopoldina Regente. Georgina de Albuquerque
Assim, brasileiros eram não necessariamente as pessoas nascidas no território que em
alguns anos formaria um novo país, o Brasil, mas, sim, aqueles que estavam unidos, ainda
que momentaneamente, em torno das mesmas convicções: eram contrários às determinações
que chegavam às Américas por meio das Cortes de Lisboa.
capítulo

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