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15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 1/18 Fato Típico é o comportamento humano que se amolda perfeitamente aos elementos constantes do modelo previsto na lei penal. A primeira característica do crime é ser um fato típico, descrito, como tal, numa lei penal. Um acontecimento da vida que corresponde exatamente a um modelo de fato contido numa norma penal incriminadora, a um tipo. Para que o operador do Direito possa chegar à conclusão de que determinado acontecimento da vida é um fato típico, deve debruçarse sobre ele e, analisandoo, decompôlo em suas faces mais simples, para verificar, com certeza absoluta, se entre o fato e o tipo existe relação de adequação exata, fiel, perfeita, completa, total e absoluta. Essa relação é a tipicidade. Para que determinado fato da vida seja considerado típico, é preciso que todos os seus componentes, todos os seus elementos estruturais sejam, igualmente, típicos. Os componentes de um fato típico são a conduta humana, a consequência dessa conduta se ela a produzir (o resultado), a relação de causa e efeito entre aquela e esta (nexo causal) e, por fim, a tipicidade. CONDUTA Considerase conduta a ação ou omissão humana consciente e voluntária dirigida a uma finalidade. Teorias da Conduta Teoria Causalista, Clássica ou Naturalística A teoria causalista ou naturalista da ação, de BELING e VONLISZT, incorpora ao conceito de conduta as leis da natureza; daí o seu nome. Os adeptos da teoria causalista ou naturalista entendem que a conduta é um puro fator 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 2/18 de causalidade. Segundo eles, a vontade é a causa da conduta e esta é a causa do resultado. Em outras palavras: a conduta é efeito da vontade e causa do resultado. A vontade causa a conduta, que dá causa ao resultado. Para o causalismo, a conduta é um comportamento humano voluntário que se exterioriza e consiste num movimento ou na abstenção de um movimento corporal. Essa teoria considera imprescindível que a conduta típica seja um comportamento voluntário, impulsionado pela vontade do homem, que se concretiza, tornase real, material, por meio de uma ação positiva ou negativa. Existe conduta na atitude de Cláudio que se levanta da cama e vai até o banheiro, para escovar os dentes, tropeça e derruba seu filho que, na queda, fratura o braço. O movimento voluntário das pernas de Cláudio dentro de seu quarto – o andar, tropeçando – causou a fratura do braço de seu filho. A vontade de Cláudio impulsionou seu comportamento, que deu causa ao resultado. Igualmente, é conduta o comportamento de Jorge, impulsionado por sua vontade, que consiste em atirar, com a mão, uma pedra em direção ao corpo de Mário, ferindoo. Os causalistas, ao examinarem a conduta de uma pessoa, não realizam qualquer valoração acerca do fim pretendido pelo agente. Para eles, basta analisar a voluntariedade do comportamento – se o agente queria movimentarse ou absterse de um movimento – e se há nexo de causa e efeito entre o comportamento e a conseqüência dele advinda. Não se importam – quando examinam a conduta – com o conteúdo da vontade do agente. Não perguntam se Cláudio, ao derrubar seu filho, desejava ou não ferilo, nem se Jorge, ao atirar a pedra, queria ou não atingir e ferir o corpo de Mário. Para a teoria causal, essas são questões que não se resolvem no âmbito da conduta, do fato típico, momento em que basta verificarse a voluntariedade do agente e o nexo de causalidade entre a conduta e o resultado. A finalidade, o conteúdo da vontade, diz o causalismo, não são temas para serem abordados no momento da análise da tipicidade do fato. Devem ser estudados quando se for verificar a culpabilidade, que é a terceira característica do crime. Teoria Finalista Contra o causalismo levantaramse críticas importantes, falhas cruciais. Imaginemse três fatos da vida: 1. Fato A: João, voluntariamente, dispara um tiro de revólver contra Márcio, causandolhe um ferimento na perna direita. 2. Fato B: Pedro, voluntariamente, dispara um tiro de revólver contra Paulo, causandolhe um ferimento na perna direita. 3. Fato C: Antônio, voluntariamente, dispara um tiro de revólver contra Sérgio, causandolhe um ferimento na perna direita. Nos três fatos, as três condutas consistem em três ações voluntárias de pressionar a tecla do gatilho da arma de fogo, disparandoa em direção a outra pessoa. As conseqüências das três condutas, os resultados, são 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 3/18 absolutamente idênticos nos três fatos: lesão do corpo do sujeito passivo. Em qual tipo legal de crime se ajusta cada um dos três fatos? Seriam três “lesões corporais”, dolosas, como definidas no art. 129 do Código Penal? Ou seriam três “lesões corporais”, culposas, de que trata o § 6ºdo mesmo art. 129? Ou poderiam os três fatos caracterizarse como três tentativas de homicídio? O adepto da teoria causalista não pode, neste momento, responder a essas indagações, porque, segundo ele, não importa, no âmbito do fato típico, o conteúdo da vontade do agente. De conseqüência, só poderá responder quando for analisar a culpabilidade. É indiscutível que ele precisa verificar o que se continha na vontade de cada um dos agentes, para definir em qual tipo legal de crime sua conduta se ajusta. Sem essa análise, é impossível afirmar se como e quando um fato da vida é típico. Para se dizer que no fato A houve tentativa de homicídio, é necessário que se analise o conteúdo da vontade de João e se conclua que ele desejava matar Márcio, não conseguindo porque, errando, só atingiu a perna, região não letal. No segundo fato, B, para se afirmar que houve uma lesão corporal dolosa, é indispensável que, analisandose o conteúdo da vontade de Pedro, se conclua pela certeza de que este queria apenas e tão somente ferir Paulo. E no terceiro fato, C, terá havido lesão corporal culposa, quando se chegar à conclusão de que Antônio, ao disparar voluntariamente sua arma, não desejava nem matar, nem ferir Sérgio, mas, apenas, brincar com seu revólver. A distinção entre uma lesão corporal intencional, uma lesão corporal causada por negligência e uma tentativa de homicídio em que a vítima sai ferida está no conteúdo da vontade dos três agentes, na finalidade da vontade do agente dos três fatos, posto que o resultado é idêntico nas três hipóteses. HANS WELZEL, estudando a conduta nas primeiras décadas do século passado, verificou que o elemento diversificador dos fatos típicos não está em seu resultado, mas na ação. A ação do homem que mata outro com vontade de matar é punida mais rigorosamente que a conduta do homem que mata outro sem vontade de matar, apesar de o resultado ser o mesmo nas duas situações (morte de um homem), porque o Direito deseja censurar mais severamente aquele que teve vontade de causar o mal a outrem. Ao Direito importa distinguir entre o que quis um resultado e o que não o quis,mas, por descuido, o causou. Com base nessas observações, WELZEL estruturou a Teoria Finalista da Ação ou Teoria da Ação Final, que diz ser toda ação uma atividade humana final, ou o exercício da atividade finalista. Todo e qualquer comportamento humano é um acontecimento finalista e não puramente causal, pois o homem, enquanto ser consciente das leis naturais, de causa e efeito, pode prever as conseqüências de seu comportamento e tem condições de dirigir sua atividade no sentido da produção de um ou de outro resultado. E, sempre que age, ele o faz com determinada finalidade. Toda vontade tem um conteúdo, que é o fim. A teoria causal, quando prescinde da análise do conteúdo da vontade, está fraturando o conceito de ação, que é um fenômeno uno. A vontade que impulsiona a conduta tem um conteúdo que não pode ser separado dela. A diferença, portanto, entre as duas teorias é que, para os causalistas, a ação é um puro processo causal, ao passo que o finalismo demonstrou que a conduta é um processo causal dirigido a determinada finalidade. Não importa, neste primeiro momento, qual seja a finalidade, mas que ela exista sempre. Em algumas 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 4/18 situações, essa finalidade é dirigida à produção de um dano a algum bem jurídico, noutras o fim pode ser a obtenção de um resultado permitido ou não proibido. Mas, sempre, haverá uma finalidade, sempre a vontade humana terá um conteúdo, não importa com qual natureza. Segundo WELZEL, a direção final da ação realizase em duas fases: internamente, na esfera do pensamento, quando o homem se propõe realizar alguma coisa e, externamente, quando concretiza, materializa esta sua vontade, por meio da colocação em marcha de um processo causal, dominado pela finalidade, para alcançar o fim proposto. Na proposição da realização da conduta, estão incluídas a escolha do fim, a seleção dos meios e a aceitação dos efeitos secundários da realização da ação. Isso quer dizer que a finalidade da ação engloba não somente o fim escolhido, mas também os meios utilizados e os efeitos desta utilização. Por exemplo, quando alguém decide viajar de Brasília para Salvador, por via terrestre, conduzindo seu veículo, durante um final de semana, integram a direção final da conduta: (a) chegar a Salvador, um objetivo lícito; (b) viajar por rodovia, dirigindo o veículo (meios); (c) a possibilidade de atropelar um animal ou uma pessoa na pista ou colidir com outro veículo, enfim, toda e qualquer conseqüência secundária, decorrente da colocação do processo causal dirigido à finalidade estabelecida inicialmente. A conclusão indiscutível é de que somente analisando o conteúdo da vontade é que se pode afirmar a realização de um tipo legal de crime, já que a finalidade é parte integrante da conduta, dela inseparável. Essa é a essência do finalismo. Teoria Social da Ação Alguns importantes estudiosos do Direito Penal, como JESCHEK e WESSELS, entenderam que o finalismo de WELZEL seria insuficiente para conceituar a conduta, porque esquecia uma característica essencial de todo comportamento humano, que é seu lado social. Nem o causalismo, nem o finalismo, segundo eles, conseguem explicar a ação, pelo que acresceram ao conceito de conduta a idéia de relevância social; assim, ação é um comportamento humano socialmente relevante, questionado pelos requisitos do Direito e não pelas leis naturais. Segundo essa teoria, para se verificar a tipicidade de uma conduta é indispensável conhecer não apenas seus aspectos causais e finalísticos, mas também sua nota social. Seria relevante do ponto de vista social a conduta que fosse capaz de afetar o relacionamento do indivíduo com o meio social. Para essa teoria, para que o agente pratique uma infração penal é necessário que, além de realizar todos os elementos previstos no tipo penal, tenha também a intenção de produzir um resultado socialmente relevante . Teoria Adotada no Brasil A teoria adotada pelo código penal é a FINALISTA. A teoria finalista é a que melhor atende aos interesses do Direito Penal, até porque é a teoria que consegue explicar a conduta com base no próprio direito positivo. Em síntese, a conduta é o comportamento voluntário do homem dirigido a um fim, proibido ou não. Só constituem condutas os comportamentos corporais voluntários externos dos humanos, consistentes em fazer alguma coisa ou em deixar de fazer alguma coisa. 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 5/18 Elementos da Conduta São quatro: a) vontade; A conduta, ademais, deve refletir um ato voluntário , isto é, algo que seja o produto de sua vontade consciente. Nos chamados “ atos reflexos ” (como o reflexo rotuliano) e na coação física irresistível (vis absoluta), ocorrem atos involuntários e, por isso mesmo, penalmente irrelevantes. Quando se trata de “atos instintivos”, o agente responde pelo crime, pois são atos conscientes e voluntários — neles há sempre um querer, ainda que primitivo. b) finalidade; Pressupõe um agir destinado a um fim, seja ele de ordem lícita ou ilícita. c) exteriorização (inexiste enquanto enclausurada na mente); Só haverá conduta se ocorrer a exteriorização do pensamento , mediante um movimento corpóreo ou abstenção indevida de um movimento. Afinal, cogitationis poenam nemo patitur, vale dizer, o Direito Penal não pune o pensamento, por mais imoral, pecaminoso ou “criminoso” que seja. Significa que, enquanto a ideia delituosa não ultrapassar a esfera do pensamento, por pior que seja, não se poderá censurar criminalmente o ato. Se uma pessoa, em momento de ira, deseja conscientemente matar seu desafeto, mas nada faz nesse sentido, acalmandose após, para o direito penal a ideação será considerada irrelevante. Podese falar, obviamente, em reprovar o ato do ponto de vista moral ou religioso, nunca porém à luz do Direito Penal. d) consciência Só entram no campo da ilicitude penal os atos conscientes . Se alguém pratica uma conduta sem ter consciência do que faz, o ato é penalmente irrelevante (ex.: fato praticado em estado de sonambulismo ou sob efeito de hipnose). Exclusão da Conduta Só existe conduta quando houver vontade do agente. A experiência da vida mostra algumas situações em que o homem, sem vontade, movimentase ou abstémse de movimento, dando causa, com uma dessas atitudes, a alguma lesão a um bem jurídico penalmente protegido. São hipóteses em que se pode até ter movimento humano, mas não se tem fato típico. São elas: Caso Fortuito ou Força Maior São acontecimentos imprevisíveis e inevitáveis, que fogem da vontade do ser humano. Se não há vontade, não há dolo nem culpa. Pode ocorrer por fato de terceiros, como greve de ônibus, ou por fato da natureza, como 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 6/18 inundação. Coação Física Irresistível Em algumas situações, incide sobre alguém uma força física externa irresistível,a qual, atuando materialmente sobre ele, não pode ser repelida, de modo a não lhe deixar qualquer opção de movimento corporal. Tratase de uma força absoluta, a que não se pode resistir. Nesses casos, o homem deixa de movimentarse, deixa de realizar um comportamento positivo, de fazer alguma coisa, sem vontade alguma de absterse, mas em virtude da irresistibilidade da força externa que sobre ele atua. Essa força é tão forte, que elimina, totalmente, a possibilidade de o homem ter vontade. Nem vontade de omitirse. A força deve ser física e absoluta, deve atuar materialmente, concretamente, sobre o corpo do homem e não apenas sobre sua mente, e deve ser de tal intensidade, que seja impossível a ele contraporse, de modo a, pelo menos, neutralizála ou diminuíla, tornandoa resistível. Havendo a chamada vis absoluta, não há vontade, não há conduta e, de conseqüência, não há fato típico, e por isso o fato não é crime. A coação física irresistível ocorre, em síntese, quando o coagido não tem liberdade para agir . Não lhe resta outra alternativa, a não ser praticar um ato em conformidade com a vontade do autor . Exclui a conduta e o fato típico . Na coação moral irresistível (vis compulsiva), o coagido pode escolher o caminho a ser seguido : obedecer ou não a ordem do coautor . Como a sua vontade existe, embora de forma viciada, a excluise a culpabilidade, em face da inexigibilidade de conduta diversa. Movimentos Reflexos Movimento reflexo é uma reação motora em conseqüência da excitação dos sentidos . O movimento corpóreo não se deve ao elemento volitivo, mas ao fisiológico . Em movimentos do corpo ditados pelos reflexos naturais, também não se pode falar na existência de vontade. Imaginem a situação: João, vendo Joana sentada ao lado da parede da sala de aula, e estando por ela apaixonado, resolve abordála, dirigindose a sua frente, onde pretende declarar seu amor. Ao se aproximar da amada, encosta seu braço à parede que, por um defeito da fiação elétrica interna, emite um choque elétrico que atinge, com grande intensidade, o corpo de João. Este, num movimento reflexo, impensado, indesejado, move bruscamente o braço, atingindo o rosto de Joana, bem no olho direito, causandolhe equimoses. Esse fato revela um movimento corporal de João que, todavia, não constitui conduta, posto que não houve, da parte dele, qualquer vontade de movimentar o braço. O que houve foi um movimento corporal instintivo, impensado, indesejado, mas determinado pela dor sofrida e que gerou um comando cerebral dirigido a João no sentido de que ele movesse seu braço, livrandoo do choque elétrico. Não houve vontade e, por isso, não houve conduta. Sem conduta, não há fato típico, não há crime. Estado de Inconsciência É o caso do sonambulismo ou da hipnose onde também não há conduta, por falta de vontade nos comportamentos praticados em completo estado de inconsciência . 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 7/18 No movimento reflexo, não há nem consciência acerca do fato e, de conseqüência, não pode haver vontade. Nos chamados estados de inconsciência, não existe, simplesmente, a consciência. O agente encontrase absolutamente privado da possibilidade de saber qualquer coisa. É como se ele estivesse cego, surdo, mudo e em sono profundo. Logo, não pode querer. Durante o sono, no sonambulismo, na embriaguez letárgica, não se pode afirmar que o agente tenha agido, porque, em qualquer dessas hipóteses, não se pode concluir pela existência de mínima vontade. Nos casos em que o agente se tenha colocado, voluntariamente, num estado de inconsciência, para realizar o fato típico, chamados actiones liberae in causa, o direito vai considerar relevante a atitude anterior, realizada com consciência. Ausente, pois, a consciência, ausente a vontade e, de conseqüência, a conduta, ainda que dessa situação decorra qualquer lesão a qualquer bem jurídico. Não havendo conduta, não há fato típico, e sem este não há o crime. Espécies de Conduta São duas: ação e omissão . Ação é a conduta positiva, que se manifesta por um movimento corpóreo. A maioria dos tipos penais descreve condutas positivas (“matar”, “subtrair”, “constranger”, “falsificar”, “apropriarse” etc.). A norma penal nesses crimes , chamados comissivos, é proibitiva (ex.: “não matarás”, “não furtarás” etc.). Omissão é a conduta negativa, que consiste na indevida abstenção de um movimento. Nos crimes omissivos, a norma penal é mandamental ou imperativa: em vez de proibir alguma conduta,determina uma ação, punindo aquele que se omite. Omissão penalmente relevante Teorias da omissão Há duas teorias acerca da natureza jurídica da omissão: naturalística ou causal e normativa ou jurídica. A primeira sustenta que se deverá imputar um resultado a um omitente sempre que sua inação lhe der causa. Esse nexo de causalidade entre a omissão e o resultado verificarseia quando o sujeito pudesse agir para evitálo, deixando de fazêlo. Se um indivíduo, por exemplo, caminha por uma calçada e visualiza, a poucos metros, uma idosa distraída prestes a atravessar a rua e ser atropelada, nada fazendo para alertála ou salvá la do perigo (embora nada o impeça), e, com isso, deixa de evitar sua morte, responde por homicídio. A segunda teoria parte da premissa de que a omissão é um nada e do nada, nada vem (ex nihilo, nihil). A omissão, portanto, não produz nenhuma relação de causalidade. A possibilidade de atribuir (imputar) ao omitente o resultado dáse não por haver nexo real entre a omissão e o resultado (até porque esse nexo é inexistente), mas como decorrência de uma obrigação jurídica anterior à omissão , que impõe ao sujeito 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 8/18 que, podendo, aja no sentido de evitar a produção do resultado. O nexo entre omissão e resultado é, portanto, jurídico ou normativo (leiase: deriva da existência de um dever jurídico de agir para evitar o resultado). Nesse sentido, dispõe nosso CP no art. 13, § 2º (“A omissão é penalmente relevante quando o omitente devia e podia agir para evitar o resultado (...)”). Espécies de crimes omissivos Há duas espécies de crimes omissivos: próprios (ou puros) e impróprios, impuros ou comissivos por omissão . Os primeiros são aqueles em que o próprio tipo penal descreve uma conduta omissiva (ex.: arts. 135, 244 e 269 do CP). Em outras palavras: o verbo nuclear contém um não fazer (non facere). Tais crimes são crimes de mera conduta , ou seja, o tipo penal nem sequer faz referência à ocorrência de um resultado naturalístico. Basta que o sujeito se tenha omitido indevidamente, independentemente da ocorrência de qualquer modificação no mundo exterior. Nesses casos, portanto, não se coloca a discussão estudada no item anterior, a respeito dos requisitos para imputação de um resultado a uma omissão. Repitase que, nos omissivos puros, basta a inação, à qual não se vincula necessariamente algum resultado material. Nos crimes comissivos por omissão , o tipo penal incriminador descreve uma conduta positiva, édizer, uma ação. O sujeito, no entanto, responde pelo crime porque estava juridicamente obrigado a impedir a ocorrência do resultado e, mesmo podendo fazêlo, omitiuse. Para que alguém responda por um crime comissivo por omissão, é necessário que, nos termos do art. 13, § 2º , do CP, tenha o dever jurídico de evitar o resultado. As hipóteses em que há o citado dever jurídico são as seguintes: Dever legal ou imposição legal: quando o agente tiver, por lei, obrigação de proteção, cuidado e vigilância (ex.: mãe com relação aos filhos; diretor do presídio no tocante aos presos). Dever de garantidor ou “garante”: quando o agente, de qualquer forma, assumiu a responsabilidade de impedir o resultado (não apenas contratualmente). É o caso do médico plantonista; do guia de alpinistas; do salvavidas, com relação aos banhistas; da babá, para com acriança. Ingerência na norma: quando o agente criou, com seu comportamento anterior, o risco da ocorrência do resultado (ex.: o nadador exímio que convida para a travessia de um rio pessoa que não sabe nadar tornase obrigado a evitar seu afogamento; a pessoa que joga um cigarro aceso em matagal obrigase a evitar eventual incêndio). Pode ainda ser a conduta dolosa ou culposa. Estabeleceuse que os fatos definidos como crime serão dolosos ou culposos. Os primeiros constituem a regra e serão punidos mais rigorosamente, porque constituem comportamentos merecedores de maior resposta penal. Logo, somente haverá conduta típica dolosa ou conduta típica culposa. Por isso, é necessário entender tanto o conceito de dolo quanto o de culpa, em sentido estrito, que qualificam as condutas, respectivamente, de dolosas 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 9/18 e de culposas. Conduta Dolosa Consiste na vontade de concretizar os elementos objetivos e normativos do tipo. Tratase de elemento subjetivo implícito da conduta, presente no fato típico de crime doloso. Conduta Culposa Os doutrinadores ensinam que não existe um conceito perfeito de culpa, em sentido estrito, mas que, com base no enunciado no art. 18, II, do Código Penal (dizse o crime culposo quando o agente deu causa ao resultado, por imprudência, negligência ou imperícia), se poderia dizer que culposa é a conduta voluntária que produz resultado ilícito, não desejado, mas previsível, e excepcionalmente previsto, que podia, com a devida atenção, ser evitado. A culpa, em sentido estrito, ou negligência, expressão mais técnica e precisa e que evita confusões desnecessárias, é a falta de cuidado do agente, numa situação em que ele poderia prever a causação de um resultado danoso, que ele não deseja, nem aceita, e às vezes nem prevê, mas que, com seu comportamento, produz e que poderia ter sido evitado. Desse conceito extraemse os elementos que integram a culpa, em sentido estrito: (a) conduta voluntária; (b) inobservância do dever de cuidado objetivo; (c) resultado lesivo indesejado; (d) previsibilidade objetiva; (e) tipicidade. RESULTADO A expressão resultado tem natureza equívoca, já que possui dois significados distintos em matéria penal. Pode se falar, assim, em resultado material ou naturalístico e em resultado jurídico ou normativo. O resultado naturalístico ou material consiste na modificação no mundo exterior provocada pela conduta. Tratase de um evento que só se faz necessário em crimes materiais, ou seja, naqueles cujo tipo penal descreva a conduta e a modificação no mundo externo, exigindo ambas para efeito de consumação. O resultado jurídico ou normativo reside na lesão ou ameaça de lesão ao bem jurídico tutelado pela norma penal. Todas as infrações devem conter, expressa ou implicitamente, algum resultado, pois não há delito sem que ocorra lesão ou perigo (concreto ou abstrato) a algum bem penalmente protegido. A doutrina moderna dá preferência ao exame do resultado jurídico . Este constitui elemento implícito de todo fato penalmente típico , pois se encontra ínsito na noção de tipicidade material. O resultado naturalístico, porém, não pode ser menosprezado, uma vez que se cuida de elementar presente em determinados tipos penais, de tal modo que desprezar sua análise seria malferir o princípio da legalidade. Classificação dos Crimes Quanto ao Resultado Naturalístico Materiais ou de resultado: o tipo penal descreve a conduta e um resultado material, exigindoo para fins 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 10/18 de consumação. Exemplos: homicídio (CP, art. 121), furto (CP, art. 155), roubo (CP, art.157), estelionato (CP, art. 171). Portanto, o tipo penal é composto por conduta e resultado. Formais ou de consumação antecipada: o tipo penal descreve a conduta e o resultado material, porém não o exige para fins de consumação. Exemplos: extorsão (CP, art. 158), extorsão mediante sequestro (CP, art. 159), sequestro qualificado pelo fim libidinoso (CP, art. 148, § 1º , V). De mera conduta ou simples atividade: o tipo penal não faz nenhuma alusão a resultado naturalístico, limitandose a descrever a conduta punível independentemente de qualquer modificação no mundo exterior. Exemplos: omissão de socorro (CP, art. 135), violação de domicílio (CP, art. 150). Alguns autores afirmam que nos crimes formais o tipo penal é incongruente , porquanto descreve conduta e resultado, mas se contenta com aquela para que ocorra a consumação, vale dizer, exige menos do que aquilo que está escrito na norma penal. Classificação dos Crimes Quanto ao Resultado Jurídico De dano ou de lesão: quando a consumação exige efetiva lesão ao bem tutelado. Exemplos: homicídio (CP, art. 121), lesão corporal (CP, art. 129), furto (CP, art. 155). De perigo ou de ameaça: caso a consumação se dê apenas com a exposição do bem jurídico a uma situação de risco. Exemplos: perigo de contágio venéreo (CP, art. 130), perigo à vida ou saúde de outrem (CP, art. 132). Estes se subdividem em crimes de perigo concreto ou real (o risco figura como elementar do tipo e, em face disto, exige efetiva demonstração) e de perigo abstrato ou presumido (o perigo não está previsto como elementar, porque o legislador presume que a conduta descrita é, em si, perigosa, tornando desnecessária a demonstração concreta do risco). NEXO CAUSAL, RELAÇÃO DE CAUSALIDADE OU NEXO DE CAUSALIDADE Entendese por relação de causalidade o vínculo que une a causa, enquanto fator propulsor, a seu efeito, como consequência derivada. Tratase do liame que une a causa ao resultado que produziu. O nexo de causalidade interessa particularmente ao estudo do Direito Penal, pois, em face de nosso Código Penal (art. 13), constitui requisito expresso do fato típico. Esse vínculo, porém, não se fará necessário em todos os crimes, mas somente naqueles em que à conduta exigirse a produção de um resultado, isto é, de uma modificação no mundo exterior, ou seja, cuidase de um exame que se fará necessário no âmbito dos crimes materiais ou de resultado. As teorias sobre a relação de causalidade Existem, no âmbito da Filosofia e da Ciência do Direito, várias teorias destinadas a esclarecer quais os critérios 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU11/18 para se estabelecer a relação de causalidade. Dada a diversidade de pontos de vista, é possível distinguir dois grandes grupos: Teorias da condição simples: tratase daquelas que não fazem qualquer distinção entre os fatores que antecederam o resultado. Teorias da condição qualificada ou individualizadoras: abrange aquelas que dão aos antecedentes diferente hierarquia ou grau de importância. A teoria da condição simples , isto é, que não estabelece níveis de importância entre os antecedentes do resultado , é mais conhecida comoteoria da conditio sine qua non ou da equivalência dos antecedentes. Boa partes dos autores atribuemna a Von Buri e Stuart Mill, muito embora haja quem a considere concebida, originariamente, por Juluis Glaser. Para esta teoria, todo o fator que exercer influência em determinado resultado, ainda que minimamente, será considerado sua causa. Sob o enfoque da conditio sine qua non, que foi adotada expressamente pelo nosso Código Penal (art. 13, caput, parte final), haverá relação de causalidade entre todo e qualquer fator que anteceder o resultado e nele tiver alguma interferência. O método utilizado para se aferir o nexo de causalidade é o juízo de eliminação hipotética, vale dizer, quando se pretender examinar a relação causal entre uma conduta e um resultado, basta eliminála hipoteticamente e verificar, após, se o resultado teria ou não ocorrido exatamente como se dera. Assim, se, depois de retirado mentalmente determinado fator, notarse que o resultado não se teria produzido (ou não teria ocorrido exatamente do mesmo modo), poderseá dizer que entre a conduta (mentalmente eliminada) e o resultado houve nexo causal. Por outro lado, se a conclusão for a de que, com ou sem a conduta (hipoteticamente retirada), o resultado teria se produzido do mesmo modo como se deu, então , ficará afastada a relação de causalidade. Essa teoria já sofreu várias objeções, dentre as quais se podem apontar: a de confundir a parte com o todo e a de gerar soluções aberrantes, mediante um regresso ao infinito ou produzindo um ciclo causal interminável. As soluções aberrantes decorrentes da teoria da conditio sine qua non referemse a um exagero nos antecedentes e um excesso nos consequentes . Os casos em que há exagero nos antecedentes correspondem ao chamado regressus ad infinitum . São exemplos clássicos: a discussão da relação de causalidade entre a fabricação da arma de fogo e o homicídio praticado com o instrumento bélico; o nexo causal entre a confecção de uma cama por um marceneiro e o estupro nela cometido; a relação sexual entre os pais que conceberam o criminoso e o delito por ele praticado. Os excessos nos consequentes referemse aos “cursos causais extraordinários”. São exemplos: a imputação da morte decorrente do incêndio no hospital ao agente que atropelou a vítima culposamente, fazendo com que ela fosse internada no nosocômio; a atribuição da morte de um paraplégico durante desabamento em um estabelecimento fechado a quem deu causa à sua condição de deficiente físico em anterior acidente, caso se constate que o falecido teria sobrevivido se não tivesse reduzida sua mobilidade. Dentre as teorias da condição qualificada ou individualizadoras, merece destaque a teoria da causalidade 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 12/18 adequada. A maioria dos autores atribui sua criação a um fisiólogo, Von Kries. Segundo ela, somente se reputa causa o antecedente adequado à produção do resultado. Para que se possa considerar um resultado como causado por um homem, fazse mister que este, além de realizar um antecedente indispensável, desenvolva uma atividade adequada à concretização do evento. Causa, portanto, é apenas o antecedente adequado à produção do resultado, segundo uma regularidade estatística. O nexo de causalidade não se afere por meio da simples eliminação hipotética, mas por intermédio de um juízo de prognose póstuma objetiva. Em outras palavras, para se verificar a relação de causalidade entre conduta e resultado, devese analisar se, no momento da conduta, o resultado se afigurava como provável ou possível, segundo um prognóstico capaz de ser realizado por uma pessoa mediana, baseado no quod plerumque accidit. A teoria em questão também sofreu diversas objeções. Houve, em primeiro lugar, quem julgasse supérfluo o exame do que já aconteceu como se não tivesse, ainda, ocorrido. Forte crítica, contudo, foi a que apontou ser impossível determinar, com a precisão estatística que a teoria sugere existir, o grau de possibilidade para que uma conduta produza determinado resultado. Existiram, por fim, aqueles que a taxaram de ser responsável por uma ampliação excessiva das causas de irresponsabilidade penal, gerando um excesso de absolvições. Há, ainda, outras teorias individualizadoras, todas derivadas, em certa medida, da teoria da causalidade adequada. São elas: a teoria da condição perigosa (Grispigni), a da causa humana exclusiva (Antolisei), e a da causalidade jurídica (Maggiore). A teoria adotada em nosso Código Penal Como já tivemos a oportunidade de destacar, nosso Código , desde sua versão original, em 1940, adotou expressamente a teoria da equivalência dos antecedentes ou da conditio sine qua non. É o que dispõe o art. 13, caput: “O resultado de que depende a existência do crime somente é imputável a quem lhe deu causa. Considerase causa a ação ou omissão sem a qual o resultado não teria ocorrido ”. Para essa teoria, repisese, todos os antecedentes do resultado, ainda que sobre ele tenham exercido mínima influência, serão considerados como sua “causa”. A verificação da relação de causalidade baseiase no juízo de eliminação hipotética. A teoria da equivalência dos antecedentes ou da conditio sine qua non e as causas independentes Desenvolveuse, no âmbito da teoria da equivalência dos antecedentes ou da conditio sine qua non, o estudo das causas independentes . Cuidase de fatores que podem interpor se no nexo de causalidade entre a conduta e o resultado, de modo a influenciar no liame causal. A doutrina distingue causas dependentes e independentes. As primeiras seriam as que têm origem na conduta do sujeito e inseremse dentro da sua linha de desdobramento causal natural, esperada. São elementos situados no âmbito do quod plerumque accidit, isto é, decorrências normais ou corriqueiras da conduta (como 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 13/18 ocorre no caso da morte por choque hemorrágico subsequente a um ferimento perfurante profundo; ou, ainda, segundo nossa jurisprudência, na hipótese da morte por conta de infecção hospitalar). Quanto às causas independentes, são as que, originandose ou não da conduta, produzem por si sós o resultado. Elas configuram um fator que está fora do quod plerumque accidit, ou seja, não pertencem ao âmbito do que normalmente acontece. São eventos inusitados, inesperados, dos quais se pode citar a morte provocadapor sangramento oriundo de uma pequena ferida incisa, em vítima hemofílica. De acordo com a teoria da equivalência e seu juízo de eliminação hipotética,quando o resultado for produto de causas dependentes, o agente por ele responderá. No que concerne às causas independentes , entretanto, fazse necessário distinguir entre as causas absolutamente e as relativamente independentes da conduta. Por causas absolutamente independentes , entendemse as que produzem por si sós o resultado, não possuindo qualquer origem ou relação com a conduta praticada. Nesse caso, o resultado ocorreria de qualquer modo, com ou sem o comportamento realizado (eliminação hipotética), motivo pelo qual fica afastado o nexo de causalidade (fazendo com que não se possa imputar o resultado ao autor da conduta). As causas absolutamente independentes dividem se em preexistentes ou anteriores (quando anteriores à conduta), concomitantes ou simultâneas (quando ocorrem ao mesmo tempo) e posteriores ou supervenientes (quando se verificam após a conduta praticada). A título de ilustração, citamse alguns exemplos: a) efetuar disparos de arma de fogo, com intenção homicida, em pessoa que falecera minutos antes (a morte anterior configura causa preexistente); b) atirar em pessoa que, no exato momento do tiro, sofre ataque cardíaco fulminante e que não guarda relação alguma com o disparo (o infarto é a causa concomitante); c) ministrar veneno na comida da vítima, que, antes que a peçonha faça efeito, vem a ser atropelada (causa superveniente; nesse caso, o agente só responde pelos atos praticados, ou seja, por tentativa de homicídio). Já as causas relativamente independentes , por seu turno, são as que, agregadas à conduta, conduzem à produção do resultado . Com base na teoria da equivalência dos antecedentes, a presença de uma causa desta natureza não exclui o nexo de causalidade. Do mesmo modo que as causas absolutamente independentes, elas também se dividem em preexistentes ou anteriores, concomitantes ou simultâneas e supervenientes ou posteriores . A título de exemplo, observemse os seguintes casos hipotéticos: a) efetuar ferimento leve, com instrumento cortante, num hemofílico, que sangra até a morte (a hemofilia é a causa preexistente, que, somada à conduta do agente, produziu a morte). Notese que, nesse exemplo, pressupõese que o sujeito tenha vibrado um golpe leve no ofendido, que não produziria a morte de uma pessoa saudável; b) disparar contra a vítima que, ao ser atingida pelo projétil, sofre ataque cardíaco, vindo a morrer, apurandose que a soma desses fatores produziu a morte (considerase, nesse caso, que o disparo, isoladamente, não teria o condão de matála, o mesmo ocorrendo com relação ao ataque do coração — causa concomitante); c) após um atropelamento, a vítima é socorrida com algumas lesões; no caminho ao hospital, a ambulância capota, ocorrendo a morte (o capotamento da ambulância é a causa superveniente que, aliada ao atropelamento, deu causa à morte do ofendido). Deste último exemplo há algumas variantes dignas de menção: a vítima chega ilesa da ambulância ao hospital, que se incendeia; a vítima chega sem outras lesões ao hospital, mas falece por decorrência de um erro médico; ou, ainda, depois de ser atendida no nosocômio, tem uma de suas pernas amputadas como consequência da gravidade dos ferimentos 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 14/18 e, depois de receber alta, morre num incêndio ocorrido no interior de um teatro, de onde não conseguiu fugir em razão de sua reduzida capacidade de locomoção. Em todas as hipóteses retratadas no grupo das causas relativamente independentes da conduta, há nexo causal entre esta e o resultado (pela teoria da conditio). A imputação do resultado, todavia, exigirá outro elemento, de caráter subjetivo, consistente em se verificar se a causa era por ele conhecida (o que conduzirá à responsabilização a título de dolo), ou, ao menos, previsível (indicativo de culpa). Sem tais requisitos, por óbvio, terseia a responsabilidade objetiva do agente, algo repudiado de há muito no campo do Direito Penal. As situações designadas como causas relativamente independentes supervenientes da conduta correspondem àquilo que os autores estrangeiros denominam “cursos causais extraordinários ou hipotéticos”. São casos em que não haverá imputação pela teoria da imputação objetiva (como será visto adiante). De qualquer modo, vale consignar que tais situações se enquadram no art. 13, § 1º , do CP, que expressamente exclui a responsabilidade penal. Em suma: as causas absolutamente independentes sempre excluem o nexo causal, de modo que o agente nunca responderá pelo resultado; somente pelos atos praticados; as causas relativamente independentes não excluem o nexo causal, motivo por que o agente, se as conhecia ou se, embora não as conhecendo, podia prevêlas, responde pelo resultado; na causa relativamente independente superveniente à conduta, embora exista nexo de causalidade entre esta e o resultado, o legislador afasta a imputação (art. 13, § 1º ), impedindo que o agente responda pelo evento subsequente, somente sendo possível atribuirlhe o resultado que diretamente produziu. Imputação Objetiva A relação de imputação objetiva, inserida como elemento do fato típico pelo funcionalismo, atua como um complemento à relação de causalidade. Por meio dela, agregamse outros requisitos que irão atuar em conjunto com a relação de causalidade, de modo a permitir que a atribuição de um resultado a uma conduta não seja um procedimento meramente lógico (fundado na teoria da equivalência dos antecedentes), mas se constitua também de um procedimento justo. A imputação (ato de atribuir a alguém determinado resultado, sujeitandoo às suas consequências) não pode se basear apenas numa relação lógica, pois é preciso ter em mente que a responsabilidade penal deve atender, antes de tudo, a critérios justos. Por esse motivo, considerase que, depois de constatada a presença do nexo de causalidade entre a conduta e o resultado, deve o intérprete exigir a demonstração de outros requisitos, que atuarão conjugadamente e, se presentes, permitirão a imputação do evento ao autor. São eles, segundo orientação predominante entre os adeptos do funcionalismo: a criação de um risco juridicamente proibido e relevante; a produção do risco no resultado; que o resultado provocado se encontre na esfera de proteção do tipo penal violado. 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 15/18 TIPICIDADE A tipicidade, ao lado da conduta, do nexo causal e do resultado constitui elemento necessário ao fato típico de qualquer infração penal. Deve ser analisada em dois planos: formal e material. Entendese por tipicidade a relação de subsunção entre um fato concreto e um tipo penal (tipicidade formal) e a lesão ou perigo de lesão ao bem penalmente tutelado (tipicidadematerial). Tratase de uma relação de encaixe, de enquadramento. É o adjetivo que pode ou não ser dado a um fato, conforme ele se enquadre ou não na lei penal. O conceito de tipicidade, como se concebe modernamente, passou a ser estruturado a partir das lições de Beling (1906), cujo maior mérito foi distinguila da antijuridicidade e da culpabilidade. Seus ensinamentos, entretanto, foram aperfeiçoados até que se chegasse à concepção vigente. Jiménez de Asúa sistematizou essa evolução, dividindoa em três fases: Fase da independência (Beling — 1906): a tipicidade possuía função meramente descritiva, completamente separada da ilicitude e da culpabilidade (entre elas não haveria nenhuma relação). Tratarse ia de elemento valorativamente neutro. Sua concepção não admitia o reconhecimento de elementos normativos ou subjetivos do tipo. Fase do caráter indiciário da ilicitude ou da ratio cognoscendi (Mayer — 1915): a tipicidade deixa de ter função meramente descritiva, representando um indício da antijuridicidade . Embora se mantenha a independência entre tipicidade e antijuridicidade, admitese ser uma indício da outra. Pela teoria de Mayer, praticandose um fato típico, ele se presume ilícito. Essa presunção, contudo, é relativa, pois admite prova em contrário . Além disso, a tipicidade não é valorativamente neutra ou descritiva, de modo que se torna admissível o reconhecimento de elementos normativos e subjetivos do tipo penal. Fase da ratio essendi da ilicitude (Mezger — 1931): Mezger atribui ao tipo função constitutiva da ilicitude, de tal forma que, se o fato for lícito, será atípico. A ilicitude faz parte da tipicidade. O tipo penal do homicídio não seria matar alguém, mas matar alguém fora das hipóteses de legítima defesa, estado de necessidade etc. A concepção defendida por Mayer é, ainda hoje, a dominante. Adequação típica Para muitos, é sinônimo de tipicidade, ou seja, a relação de subsunção entre o fato e a norma penal e a lesão ou perigo de lesão ao bem tutelado. Há quem pense de modo diverso, afirmando que tipicidade seria a mera correspondência formal entre o fato e a norma, enquanto a adequação típica, a correspondência que levaria em conta não apenas uma relação formal de justaposição, mas a consideração de outros requisitos, como o dolo ou a culpa. Não nos parece correto esse ponto de vista, porque dolo e culpa ingressam no tipo penal, como elementos inerentes à conduta. Há duas modalidades de adequação típica: Adequação típica por subordinação imediata ou direta: dáse quando a adequação entre o fato e a norma penal incriminadora é imediata, direta; não é preciso que se recorra a nenhuma norma de extensão do tipo. Exemplo: alguém efetua dolosamente vários disparos contra a vítima — esse fato se amolda diretamente ao tipo penal incriminador do art. 121 do CP. Adequação típica por subordinação mediata ou indireta: o enquadramento fato/norma não 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 16/18 ocorre diretamente, exigindo se o recurso a uma norma de extensão para haver subsunção total entre fato concreto e lei penal. Exemplo: se alguém , com intenção homicida, efetua vários disparos de arma de fogo contra outrem e foge, sendo a vítima socorrida e salva a tempo, esse fato não se amolda ao tipo penal do art. 121 (não houve morte). Também não se enquadra no art. 129 (lesões corporais), porque o sujeito agiu com animus necandi (o art. 129 pressupõe animus laedendi ). Seria o fato atípico? Não. Para que ocorra o perfeito enquadramento da conduta com a norma, contudo, será preciso recorrer a uma norma de extensão; no caso, o art. 14, II, que descreve a tentativa. O mesmo se verifica quando alguém empresta arma de fogo a um homicida, que a utiliza posteriormente para cometer o crime. Sua conduta não encontra correspondência direta com o art. 121 do CP. Novamente é preciso, então, socorrerse de uma norma de extensão; nesse caso, o art. 29, caput, que pune a participação. Tipicidade conglobante (Zaffaroni) Tratase, segundo seu autor, de um dos aspectos da tipicidade penal, que se subdividiria em tipicidade legal (adequação do fato com a norma penal, segundo uma análise estritamente formal) e tipicidade conglobante (inadequação do fato a normas extrapenais). Por meio desta, devese verificar se o fato, que aparentemente viola uma norma penal incriminadora, não é permitido ou mesmo incentivado por outra norma jurídica (como no caso das intervenções médicocirúrgicas, violência desportiva, estrito cumprimento de um dever legal etc.). Não teria sentido, dentro dessa perspectiva, afirmar que a conduta do médico que realiza uma cirurgia no paciente viola a norma penal do art. 129 do CP (não ofenderás a integridade corporal alheia) e, ao mesmo tempo, atende ao preceito constitucional segundo o qual a saúde é um direito de todos (não seria lógico dizer que ele viola uma norma e obedece a outra, ao mesmo tempo). Por meio da tipicidade conglobante (que resulta numa análise conglobada do fato com todas as normas jurídicas, inclusive extrapenais), situações consideradas tradicionalmente como típicas, mas enquadráveis nas excludentes de ilicitude (exercício regular de um direito ou estrito cumprimento de um dever legal), passariam a ser tratadas como atípicas, pela falta de tipicidade conglobante. Com a adoção da teoria da imputação objetiva, tais resultados (atipicidade de fatos então considerados típicos, porém lícitos) são atingidos sem necessidade dessa construção, que se torna supérflua. Observese, porém, que independentemente da teoria adotada, não haverá crime por parte do médico que faz a cirurgia ou do desportista que atua dentro das regras do esporte, embora divirjam os doutrinadores acerca do fundamento. Funções do tipo penal O tipo penal contém três relevantes funções: a função selecionadora; a função de garantia; a função motivadora geral. A função selecionadora referese à tarefa de escolher, dentre a quase infinita gama de comportamentos humanos, quais devem ser inseridos como conteúdo das normas penais incriminadoras . Cuidase de dever incumbido ao órgão encarregado de elaborar as leis penais, mas admite, sem dúvida, controle judicial, de modo 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 17/18 a co nformar a eleição às normas constitucionais (p. ex. , ao princípio da alteridade, da insignificância etc. ). A função de garantia constitui a realização material e concreta do ideal de segurança jurídica que o princípio da legalidade busca fornecer. Em outras palavras, tratase de garantir que somente haverá imposição de pena criminal se o ato realizado corresponder (de modo perfeito) a um comportamento descrito previamente no dispositivo legal. A função motivadora geral corresponde ao intento de fazer com que os destinatários das normas motivem se a se comportar de acordo com o que elas prescrevem. Assim, se o tipo penal define como crime “matar alguém”, esperase que com essa regra as pessoas se abstenham de suprimir a vida humana alheia. Referida função remonta à racionalidade comunicativa desempenhada pelo Direito Penal,consistente em transmitir à sociedade mensagens de confiança no modelo normativo, estimulando comportamentos conforme o Direito. Tipo objetivo e tipo subjetivo — tipos normais e anormais O tipo objetivo corresponde ao comportamento descrito no preceito primário da norma incriminadora, desconsiderandose o estado anímico do agente, isto é, sem a análise de sua intenção. O tipo subjetivo , de sua parte, corresponde à atitude psíquica interna que cada tipo objetivo requer. Asúa afirmava que os tipos penais deveriam ser, de regra, objetivos, daí por que os chama de tipos normais . Quando, por outro lado, inseriamse elementos subjetivos ou normativos na disposição, como a elementar “para si ou para outrem” (no crime de furto) ou “com fins libidinosos” (no sequestro qualificado), ou, ainda, “indevidamente” (no crime de prevaricação), estarseia diante de tipos anormais . É de ver, contudo, que todo tipo de crime doloso possui um elemento subjetivo implícito: o dolo e, nos crimes culposos, um elemento normativo tácito: a culpa. Tipo aberto e tipo fechado Entendese por tipo aberto aquele em cuja definição empregam se termos amplos , de modo a abarcar diversos comportamentos diferentes. É a técnica utilizada na maioria dos crimes culposos (“se o homicídio é culposo” — diz o art. 121, § 3º , do CP). O tipo fechado , por outro lado, é aquele que utiliza expressões de alcance restrito , englobando poucos comportamentos na definição legal. Eles apresentam uma descrição completa do modelo de conduta proibida. O legislador deve, sempre que possível, preferir os tipos fechados aos abertos, e m razão do princípio da legalidade. Estes, contudo, podem ser construídos sem ofensa à Constituição, até porque, ainda que suas expressões sejam amplas, eles sempre possuirão conteúdo determinado. Quadro Sinótico: 15/03/2016 Fato típico: o que é e quais são os seus elementos? ~ Dr. Civilizese! http://www.civilizese.com/2013/06/oqueeofatotipicoequaissaoseuselementos.html#.VuhCd_krLIU 18/18
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