Buscar

Caderno Filosofia do Direito - José Fernando

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

FILOSOFIA DO DIREITO
Professor José Fernando
Caderno Carolina Nobre de Castro Henrique
		2014	
Aula 1- 18/03
Giorgio Del Vecchio e Miguel Reale
Ambos são muito influenciados pela filosofia de Kant. Em filosofia do Direito temos muitas correntes
Giorgio Del Vecchio
Em seu livro - , ele diz que a filosofia do direito abrange 3 investigações (3 níveis)
- Lógica (conceito de direito)
- Fenomenológica (histórico-social)
- Deontologica (valorativa)
Ele define a filosofia do Direito como sendo “a disciplina que define o Direito da e a sua universalidade lógica [investigação Lógica], investiga os fundamentos dos caracteres gerais do seu desenvolvimento histórico [fenomenológica] e avalia-o segundo o ideal de justiça traçado pela razão pura [deontologica]”
Ele faz disntinção entre “o que é o Direito” [ligada ao elemento lógico] e “o que deve ser o Direito”[ligada à investigação deontologica – que é a questão valorativa].
Ele associa o conceito de Direito à lógica e à universalidade – estabelece que o conceito de direito deve ser válido para qualquer contexto. O conceito só pode ser aceito se puder ser aplicado à qualquer tipo de sociedade. Assim, ele separa do conceito de Direito qualquer conteúdo – para que o conceito de direito seja lógico e universal, ele deverá ser meramente formal.
Ele se distingue de Kelsen porque adiciona as investigações fenomenológicas e deontologicas ao estudo do Direito, enquanto Kelsen se limita ao formalismo lógico.
Essa razão pura é um elemento kantiano. A investigação deontologica dele se relaciona com a avaliação VALORATIVA do Direito. Nota-se certo idealismo na concepção de Del Vecchio, com avaliação valorativa de justiça.
Podemos tecer algumas criticas à esse conceito
Formalismo - Associação que ele faz do conceito de direito ao elemento lógico (investigação lógica)
(assim, ele nega ao conceito de direito qualquer elemento de conteúdo, porque todo conteúdo é particular, sendo assim, não será lógico, porque a idéia de lógico pressupõe algo universal. Construindo um conceito de Direito sem conteúdo, caímos no erro de Kelsen – um conceito meramente formal)
Não podemos ignorar o conteúdo que o Direito pressupõe – o Direito deve ser um conjunto de forma + conteúdo
O termo deontologico empregado – o termo mais apropriado seria axiológico. Porque? Deontologia denota que há apenas uma concepção correta da moral e da ética (formulada por Kant, essencialmente kantiana) mas essa é UMA visão da ética, e existem muitas. A ética de Aristóteles, por exemplo, temos uma clara oposição – a ética de Aristoteles é ideológica (que é a ética antiga), já em Kant temos a ética moderna, que e deontologica. Del Vecchio já parte de uma abordagem pré determinada da ética. Axiológica significa valores, e abrangeria todas as concepções de éticas, não exclusivamente a de Kant, dessa forma, a teoria seria mais abrangente e aberta.
Obs: toda teoria de ética e moral traz definição de bem e de justo. A ética kantiana parte da definição de justo – colocondo-a como anterior à de bem. Já Aristoteles e a ética antiga colocam o bem como anterior. Para Aristoteles e os gregos em geral, dentro da discussão de bem e ética, há a noção de felicidade – o bem supremo e a finalidade maior do ser humano é ser feliz. Kant acredita que a noção de felicidade não pode jamais ser a base do raciocioni, porque é uma noção subjetiva, e não se pode construir uma teoria moral a partir de uma noção subjetiva. Dessa forma, o critério de Kant associa o justo ao correto, à noção de norma, idéia de lei moral.
Miguel Reale
Também encontramos elementos de uma filosofia kantiana. Antes de definir direito propriamente, Reale tenta identifica a função, a tarefa, a missão da filosofia do direito
“tem a missão de ser crítica da experiência jurídica, no sentido de determinar as suas condições transcendentais, ou seja, aquelas condições que servem de fundamento à experiência jurídica, tornando-a possivel ” (livro Filosofia do Direito página 10)
Crítica e Transcedental – palavras que sugerem a influencia da filosofia de Kant – a palavra critica está colocada no sentido kantiano
Obs: critica no sentido marxista: colcoa em questão uma coisa
Critica no sentido kantiano: sentido transcendental – envolve a condição de existência e possibilidade de determinada coisa – estuda as condições que tornam a coisa possível (anteriores a própria experiência)
Para Miguel Reale, a filosofia se preocupa com questões que são anteriores ao mundo empírico, são questões de ordem o saber epistemológico mas também são qusestões valorativas. O elemento valorativo se relaciona não o que aquilo que é, mas com o que deve ser.
O critério de justiça não é extraído da experiência, pelo contrario, ele será anterior à experiência e usado para julgar a experiência e classifica-la como justa ou injusta. A definição do que é justo, moral, ético, é transcedental na medida em que são conceitos à priori que serão aplicados à experiência.
Definição de Filosofia Direito (p. 290 do livro):
“Estudo crítico e sistemático dos pressupostos lógicos, axiológicos e históricos da experiência jurídica”
Essa definição apresenta os 3 elementos que o Giorgio Del Vecchio já apontava, a diferença é que o Reale não restringe a questão da ética e da moral usando uma terminologia mais fechada
Filosofia do Direito
Busca uma investigação do Direito que envolve os aspectos epistemológicos que envolve os aspectos conceituais epistemológicos (dimensão lógica), a investigação hisórico-social (dimensão fática) e o aspecto axiológico (dimensão valorativa). Além disso, a filosofia do direito analisa a interação entre forma e conteúdo do direito.
Ciência do Direito X Filosofia do Direito 
Filosofia do Direito irá conceituar a própria ciência do direito, então em certo sentido ela é anterior à própria ciência do direito. Ciencias jurídicas vão se ater aos aspectos empíricos do Direito, enquanto a filosofia do direito e outras matérias zetéticas se ocuparão mais de aspectos valorativos.
Divisão da Filosofia do Direito (segundo Reale)
Parte Geral: função de determinar em que consiste a experiência jurídica indagando suas estruturas objetivas bem como saber como tais estruturas são pensadas, ou seja, como elas se expressam em conceito (definição de Miguel Reale)
Ontognoseologia Juridica
Ontologia(ser) + Gnoseologia (=epistemologia – saber)
É o estudo do ser enquanto objeto de conhecimento
Ontologia – se indaga sobre as condições de conhecimento sobre algo (condições segundo as quais algo – como o direito – se torna objeto de conhecimento. Todas abordagem ontológica dessa forma se refere ao ser como algo conhecível (ponto de vista do objeto). – associado à realidade (real)
A Gnoseologia (vem do grego gnose – saber) e se indaga sobre as condições do conhecimento pertinentes ao sujeito que conhece. (ponto de vista do sujeito) – associado à razão
Ontognoseologia - Teoria do ser como algo conhecido e das condições primeiras de pensamento em relação ao ser.
- estudo critico da realidade jurídica e da sua compreensão conceitual, na unidade integrante de seus elementos que, para o Miguel Reale, são suscetíveis de serem vistos como valor, como norma, e como fato, implicando perspectivas éticas, lógicas ou histórico-culturais
Obs: Kant introduz essa noção de necessidade de se estudar o sujeito (a própria razão, q eu é o objeto de critica de Kant) para melhor compreender o objeto (o real, a realidade). Ele defende que a filosofia pode entender como a razão (sujeito) se comporta e estabelece a noção de sujeito-objeto, introduzindo a noção base da gnoseologia. Kant fez uma critica ao racionalismo para salvar o próprio racionalismo.
Partes Especiais :
epistemologia jurídica (SABER) –aborda o problema da vigência dos valores lógicos do direito – se preocupa com os pressupostos logicos e metodológicos da pesquisa jurídica – reflexão sobre o que é ciência do direito, o que é o saber jurídico – discute-se o discurso sobre o direito e os elementos que o fazemciência
Culturologia jurídica (dimensão histórico-social) – discute essencialmente a questão da eficácia do Direito. Reflexão sobre o sentido e objetivo da história do Direito – o Direito é um fenômeno social, portanto está inserido em uma cultura, e essa matéria analisa a cultura na qual o direito se desenvolver, as condições sócias do direito.
Deontologia Jurídica (valorativa) - novamente o problema da terminologia – deontologia é um termo parcial, deveria ser AXIOLOGIA JURÍDICA que seria um termo mais abrangente. Esse ramo estuda a questão dos fundamentos do direito, indagando-se sobre os valores e fins que norteiam ou devem nortear a experiência juridica. Indaga sobre a legitimidade da obediência às leis, o que quer dizer indagação dos fundamentos ou dos pressupostos ético do Direito no Estado – aqui a questão fundamental é “por que o direito obriga?” Essa axiologia pode ser vista como uma teoria da Justiça, embora haja discussão sobre essa matéria, mas a teoria da justiça será um elemento fundamental. Há correntes que buscam justificadas de legitimidade mais formais, e outras que investigam mais o campo valorativo ao tratar da teoria da justiça.
Aula 2 - 25/03
A F.D. NA ANTIGUIDADE (filosofia grega do séc. V e séc. IV A.C.)
Sócrates, Platão e Aristóteles são os maiores representantes da filosofia na antiguidade.
A Filosofia do Direito (FD) sofre grande influencia, até hoje, dos filósofos antigos.
Do século V ao IV a.c. temos o início da filosofia de Sócrates. Antes disso, existia apenas a filosofia pré-socrática. Oposição Sócrates X Sofistas; a filosofia socrática têm sempre vencido.
A Grécia Antiga
A cultura grega antiga é marcada por dois aspectos: dionisíaco (referente ao deus Dionísio, tragédia, etc) e à cultura apolínea (referente ao deus Apolo, ressalta a razão, a harmonia, a paz). Ora se sobressai uma perspectiva, ora outra.
A filosofia Socrática que vai influenciar a base da filosofia moderna está ligada à visão apolínea
Outra característica importante da cultura grega é a ênfase a 3 elementos: 
Importância à vida boa, ao viver bem (prazeres morais – virtudes), à vida virtuosa (para os gregos, o homem feliz é o homem virtuoso, o homem justo)
Contemplação, reflexão (o pensar como elemento fundamental da condição humana)
Capacidade de ação do homem (o ser humano é um ser que age) – Ação política
O nascimento da Filosofia
Os gregos inventaram a filosofia e também a política (e a ciência da medicina, da matemática, da geometria...), que se tornaram elementos centrais dentro da sociedade grega
Os gregos inventaram a filosofia como uma nova forma de saber sobre o mundo, que levasse em consideração a razão
A filosofia surge como ruptura com a concepção mitológica (concepção cosmogôniga/teogôniga) contexto de laicização da sociedade grega
A visão cosmogôniga vai perdendo força e suas referencias dão lugar a uma visão mais racional de mundo, a filosofia (concepção cosmológica) 
A natureza “cósmica”
Em um primeiro perído, os pré-socráticos se voltam para uma visão de observar a natureza, rompendo com a visão cosmogoniga avaliação cosmológica, coloca a natureza (physis) como objeto principal
Em um segundo momento, temos finalmente o nascimento de uma filosofia do Direito, no chamado período socrático. A filosofia abandona concepção cosmológica e se volta para a avaliação de questões mais humanas, como política e direito.
Obs: a concepção de natureza dos antigos (gregos) é muito diferente da concepção de natureza moderna. Na Grécia, também havia um concepção de direito natural, mas completamente diferente dos jusnaturalistas.
Natureza dos antigos: natureza CÓSMICA
Natureza moderna: natureza HUMANA.
Por que o gregos têm essa concepção de natureza cósmica? Por que ele têm a idéia de natureza como um cosmo totalmente harmônico que possui um fim, uma finalidade (visão teleológica). A natureza é um todo com uma finalidade, e as partes só fazem sentido dentro desse todo. Para os gregos, a natureza tem um fim. É uma concepção valorativa da natureza se ela tem uma finalidade ela também tem um valor. O indivíduo é visto como parte da natureza, não se coloca acima dela. Nessa visão de todo organizado, a sociedade também pode ser vista como um todo organizado, representado pela “polis”, a cidade o estado era a própria sociedade, a própria comunidade organizada.
Os modernos colocam a natureza como noção instrumental, eles se colocam acima da natureza; introduzem a noção de indivíduo, que pode ser visto isolado da natureza.
O nascimento da polis
Seu processo de construção tem início no século VII a.C. 
É uma organização totalmente nova, por isso leva tempo para ser criada.
Assim como na natureza, as partes só fazem sentido dentro do todo organizado; na polis o individuo só tem finalidade dentro das organizações sociais.
Essa noção também traz oposição à noção moderna de Estado, que coloca o Estado como posterior aos indivíduos e à organização social. Para os gregos, não há individuo fora do Estado (“o homem é um ser político” – Aristóteles). Os gregos trazem a noção da sociedade como estado natural do ser humano, cultuando o todo como mais importante que a parte a comunidade é mais importante que o individuo. O homem só te razão de ser no interior da sociedade.
Criação da Polis: processo de mudanças políticas que gerou o apogeu dessa visão de natureza e individuo antiga, e culminou, no século V, no nascimento da democracia e cidadania e da liberdade e igualdade. (ainda que limitados de acordo com a concepção moderna)
Polis: separação clara entre poder religioso e poder jurídico; distinção clara entre espaço público e espaço privado
3 elementos que caracterizam a Polis:
A importância da palavra
Abriram espaço para argumentação e o debate político
Essa concepção da política dos gregos racionalizou o poder – o poder passou a ser exercido através da argumentação: a dominação de um sobre os outros só pode ocorrer através da argumentação.
O poder agora se define em função da palavra
A publicidade
Noções de transparência política; prestação de contas e interesse comum
Publicidade em dois sentidos: no sentido de domínio público sendo maior que os interesses particulares; e no sentido de transparência, decisões abertas
A igualdade (isonomia) e a liberdade (isegoria)
Noção de que todos são iguais no que tange decisões políticas (apesar da igualdade ser extremamente limitadas
Essas noções de liberdade e igualdade ainda são muito diferentes das noções modernas (na modernidade, a liberdade envolve a noção de não intervenção do Estado na esfera privada; na Grécia, temos a idéia de liberdade no sentido positivo – liberdade engloba a idéia de participação política, liberdade do individuo de participação no poder)
Dentro dessa concepção, o aspecto coletivo prepondera sobre o individual – uma noção republicana que valoriza o bem coletivo e o interesse comum
Assim, os interesses públicos da republica por vezes era reflexo de uma mistura de interesses privados
Ética Teleológica
Thelos: significa fim – visão finalística da natureza; finalidade das coisas
Avalias-se a moral e o valor das coisas e das ações a partir da finalidade delas.
A ética grega diz respeito a noção de fim, de bem, de felicidade e de virtude
Para os gregos, viver bem é viver virtuosamente se opõe à ética kantiana, que fundamenta o viver bem na escolha dos indivíduos
Política,Ética, Justiça, Direito e Economia
Dentro da concepção dos gregos, tudo se define através da politica. A politica define a ética, que define a justiça e o direito.
Não há a possibilidade de uma ética fora da politica. Os conceitos estão todos articulados.
Obs: Outro ponto que distingue antigos e modernos: os modernos separam politica e ética (filósofos como Maquiavel e Hobbes – colocam politica e ética como espaços distintos, com autonomia) 
ex: Maquiavel coloca a politica dentro uma lógica de poder que muitas vezes não se confunde com a lógica da ética, afasta-se dessa noção
Os modernos transformam a politica e o direito emuma técnica, com autonomia
Hoje em dia há desvinculação total entre ética e economia, 
Aula 3 – 27/03 e Aula 4 – 01/04
Philo conhecimento, saber // Sofia amigo, amante
Os Sofistas e Sócrates (470 – 399 A.C.)
O contexto histórico
Atenas, século V
Período de efervescência política e consolidação da democracia ateniense
Diferente do período anterior (cosmológico; foco na natureza), a filosofia desse período tem como foco o HOMEM.
Protágoras: “o homem é o motivo de todas as coisas”
O homem passa a ser objeto do estudo da filosofia; interesse crescente da filosofia pelos problemas do homem
Tanto os sofistas quanto Sócrates terão como foco de estudo o homem
Ápice do movimento educativo; a educação do povo e dos cidadãos sofre um processo de valorização aqui temos a origem da idéia ocidental de cultura no sentido político-pedagógico
As características da concepção dos sofistas: Protágoras e Górgias
Os sofistas, dentro do contexto de valorização da educação, se apresentam como professores de retórica; pessoas vindas de diversas regiões que vão para a cidade de Atenas porque nesse momento, no século V, Atenas é o centro do mundo ocidental (centro urbano, cultural, artístico, politco, econômico...). Professores de retórica (se apresentavam como donos do saber); ensinavam a técnica da argumentação que era muito importante no contexto político de democracia.
Os sofistas dão muito importância ao conhecimento que tem alguma utilidade prática (conhecimento prático, técnico, utilitário); visão instrumental, finalística, do conhecimento.
Para os sofistas tudo é opinião (doxa); defendem a idéia de que existe opiniões sobre justiça, e não um conceito absoluto; tudo depende da arte de argumentação.
Os sofistas defendem que todas as opiniões são formadas sobre convenção; tudo é convenção.
Esse contexto de centralidade do homem na filosofia também permite a defesa de que o homem é o definidor de todas as coisas (ética, moral, justiça são o que os homens entendem). 
As coisas só tem sentido a partir do momento em que o homem sente as coisas; atribui-lhes sentido. (idéia contemporânea que também pode ser encaixada na lógica sofista).
Dentro dessa idéia de convenção, os sofistas dão grande valor às tradições, ao senso comum e aos costumes.
A crítica de Sócrates e Platão aos sofistas
Os sofistas não respeitam a busca pelo saber, que deveria ser fundamental aos filósofos. Desrespeitam a autonomia e o diálogo.
Os sofistas colocam a palavra como instrumento de enganação, a retórica como instrumento de manipulação, “veneno da alma”; a palavra ilude, quando ela deveria ser instrumento de interação e conhecimento.
Sócrates afirma que a filosofia não pode ser reduzida a uma mera opinião sobre as coisas; ele considera a filosofia como a busca pela verdade.
Parte da noção de que existe um conhecimento verdadeiro sobre as coisas e a filosofia se prontifica a buscá-lo.
Platão desenvolve a verdade como reminiscência; conhecimento como lembrança; o que também contraria a visão sofista do conhecimento.
Sócrates e Platão vêem duas faces da verdade:
Verdade como reminiscência o conhecimento existe e deve ser lembrado
Verdade como velamento (????) a verdade está sempre oculta 
Na lógica de Platão, os sofistas prendiam-se ao mundo sensível e não alcançavam o mundo das ideias, que é onde a verdade de fato se encontra. Esse mundo das opiniões dos sofistas é o mundo dos sentidos; o mundo da verdade é o mundo racional.
Os sofistas estão no mundo da ilusão; esse mundo existe, não é falso, mas é superficial. As opiniões existem, mas não se pode confundi-las com conhecimento.
As coisas são como são não por que foram convencionadas, mas por que é da natureza delas serem de tal maneira. É natureza da própria justiça ser de tal forma, a justiça não é simples convenção humana, e a filosofia deve dar conta dessa essência.
Rejeita a ideia sofista de que o importante é o senso comum das pessoas; Sócrates e Platão defendem que tudo tem uma essência independente do senso comum, a ciência vai além do senso comum e pode diferir dela. 
As características da filosofia socrática (e de Platão)
Problema socrático: Sócrates nunca escreveu suas idéias. Tudo que se sabe de Sócrates foi passado principalmente por Platão.
Principais características:
 Ideia de autonomia do filosofo (“conhece-te a ti mesmo”) -o sujeito só pode chegar ao conhecimento por ele mesmo, o conhecimento não pode ser imposto, para Sócrates, a busca pelo conhecimento é uma busca interior e individual. E dentro dessa busca individual, o autoconhecimento é fundamental).
Visão critica em relação do próprio conhecimento (“só sei que nada sei”)
Ao contrário dos sofistas, Sócrates nunca se apresentou como professor. “Sei que nada sei”. essa ideia expressa a atitude aberta do Sócrates em relação ao saber.
Sócrates busca o conhecimento pelo conhecimento; vê o saber como um fim em si, um bem a si mesmo (contrariando a visão finalística dos sofistas sobre o conhecimento).
Considera o conhecimento como a busca por uma verdade; a busca pela natureza, essência, das coisas.
Crítica à democracia ateniense e à política que foi influenciada pela filosofia sofista retrata o espaço político ateniense como desvirtuado por estar impregnado com as concepções sofistas de opinião e convenções. É preciso que a política obedeça a outros critérios que não os sofistas; a política deve subordinar-se à filosofia como ciência e se guiar pela busca da verdade, e não se guiar pelas noções de convenção e senso comum.
Sócrates se nega a escrever seus pensamentos justamente por essa ideia de que o pensamento é aberto. É através de Platão que conhecemos o pensamento de Sócrates.
Para Sócrates e Platão, a verdade está dentro de nós, já nascemos com o conhecimento. Esse pensamento dialoga com a ideia de plano espiritual que não se resume ao plano da realidade.
Não se encontra em Sócrates e Platão um conceito de justiça, por exemplo. Em Sócrates encontramos um método e em Platão uma teoria, mas nunca um conceito.
O método socrático: ironia e maiêutica
Ironia: é o processo de refutação das idéias recebidas; desconstrução de preconceitos; questionamento; com objetivo de fazer o interlocutor refletir e se desvencilhar dos preconceitos, que não são verdadeiros conhecimentos. Os questionamento tem como objetivo o fazer o interlocutor perceber as lacunas do pensamento e os quanto ele era insatisfatório, assim ele chegaria a conclusão de que aquele pensamento era um preconceito. A ironia tem objetivo de fazer com que as pessoas se desvencilhem da opinião (ideia dos sofistas) e cheguem na verdade.
A ironia tem a função de preparar para a maiêutica.
Maiêutica: Em grego, quer dizer “parto”. Dialoga com a questão da autonomia, Sócrates se colocava como um “parteiro do conhecimento”. Assim como a mulher por ela mesma dá a luz à criança e a parteira só ajuda, Sócrates se coloca como mero ajudante do interlocutor para gerar o conhecimento. A pessoa só pode chegar ao conhecimento por ela mesma. O sujeito deve ser preparado para por ele mesmo chegar ao conhecimento, por um processo maiêutico. 
Lógica Socrática:
Basea-se em dois importantes pilares: 
Raciocínio Indutivo - Parte do particular para o geral. Em Platão, esse método é substituído pelo dedutivo. Sócrates parte das coisas para entender as idéias. Em Sócrates, a observação empírica tem seu lugar. Platão despreza a experiência.
Conceito – Em Sócrates encontramos pela primeira vez a ideia que conhecer uma coisa é conceituá-la. Para conhecer uma coisa totalmente é necessário chegar ao seu conceito. Na questão da justiça esse conceito não é alcançado. Conceituar algo é encontrar o traço comum a todos os casos particulares, a essência das coisas. Conceito é uma síntese racional do universo. Sócrates nesse contexto ainda diferencia o parecer ser do ser, a aprencia do real. Sócrates faz a distinção da aprencia sensível do real
Esse debate Sócrates X sofistas pode ser um embrião do debate entre essencialistase convencionalistas.
	SOFISTAS
	SÓCRATES (e Platão)
	Opinião (dóxa) (retórica, palavra)
Aparência (sensível)
Convenção (nómos)
Senso comum (tradições, consenso social)
	Verdade (alethéia)
Real
Natureza (physis)
Ciência (epistéme)
Ideias fundamentais da filosofia socráticas
Reflexão sobre o que é virtude; o homem passa a ser o centro da filosofia. Não é possível definir uma virtude sem buscar sua essência. Portanto não é definir uma virtude apenas, é necessário definir a virtude como um todo. 
Não é possível separar virtude e ciência, virtude e saber. Para Sócrates, a virtude só é possível através da ciência. A verdade também só pode ser alcançada pela ciência. Não existe a possibilidade de sermos virtuosos sem a ciência. Essa ciência é entendida no sentido metafísico. Para Sócrates e Platão, Platão sobretudo, a virtude e a ciência não são uma questão prática, é questão da teoria.
Também não é possível separar virtude de razão. A virtude depende do predomínio da razão, o individuo só poder ser justo quando nele predomina a razão. A virtude é mais que um simples modo de agir, não é apenas uma ação, é uma forma de conhecimento, por que só podemos ser virtuosos pelo conhecimento. Para sermos virtuosos pressupõe-se um saber teórico sobre a virtude.
A razão para Sócrates é a nossa capacidade para chegarmos aos conceitos. O conhecimento é o conceito. Sócrates distingue o parecer ser do ser. “A razão é o poder da alma para conhecer a essência das coisas”
As coisas de que trata a filosofia não são coisas naturais à cosmologia, mas as qualidades morais e políticas dos homens e os meios de conhecê-las. Assim, a filosofia deixa de e preocupar com as questões da natureza para se preocupar com as questões dos homens.
A finalidade da vida ética é a felicidade. A felicidade se encontra na autonomia e na virtude; a vida ética está associada à autonomia e na virtude; é na virtude que podemos ser felizes.
Oposições de Socrates e Platao:
Aparencia X Real
Opinião X verdade
Senso comum X ciência epistemológica
Corpo X alma (razão)
Virtude X Ignorancia
Platão
Na concepção do Platão é mais perceptível o raciocínio dedutivo, e não indutivo, como em Sócrates. Platão parte das idéias para entender as coisas, do geral para o particular.
Para Platão, para compreendermos o que é belo sempre partiremos da ideia da beleza, pois tudo que é belo é mera cópia dessa ideia. 
Ao contrário de Sócrates, Platão despreza a experiência.
Para Sócrates e Platão, Platão sobretudo, a virtude e a ciência não são uma questão prática, é questão da teoria.
Platão vai defender a ideia de governo dos filósofos, pois acredita que só há virtude se houver ciência e filosofia, assim, somente os filósofos seriam capazes de entender as virtudes, como a justiça, e de serem justos.
Em Platão fica clara a oposição entre razão e paixão – o ser só consegue ser esclarecido e virtuoso na medida que nele predomina a razão sobre a emoção; a virtude é racional. A virtude não está ligada ao mundo sensível.
Aula 5 - 08/04
Platão
O “problema Platão”
Platão é um discípulo de Sócrates.
Problema Sócrates: ele não deixou nenhuma obra escrita.
Só se tem acesso ao pensamento de Sócrates pela obra de Platão.
Platão, por sua vez, deixou obra escrita e até criou a Academia. 
O “problema Platão”, no entanto, é que existem muitos platões muitas interpretações da obra de Platão. Não é de fato um problema.
A influência de Platão
Alguns estudiosos apontam que Platão foi a maior influencia dentro da filosofia ocidental.
Por que tanta influencia? Marilena Chauí: Platão foi o inventor do gênero “filosofia”.
Por que sua obra, além de definir a própria filosofia, definiu a razão e os critérios da racionalidade.
Para compreendermos a obra de Platão, é essencial ter noção de seu contexto histórico, apesar de seus pensamentos serem atuais e nos fazerem pensar no nosso próprio tempo.
O elemento mais importante dentro do contexto histórico é a decepção de Platão com a politica.
O conflito entre a filosofia e a politica
Experiência Politica em Santa Cruz2 momentos de decepção 
de Platão com a politica
Julgamento de Sócrates
Platão considera o julgamento de Sócrates uma tremenda injustiça.
Assim, Platão faz um diagnostico de que a cidade está mal governada e vive um momento de degeneração e corrupção.
Platão culpa os sofistas. Diz que perdeu-se de vista o sentido da politica e que parte disso se deve à influencia dos sofistas.
A grande paixão de Platão era a politica e é ela que o leva à filosofia. A sua filosofia é um projeto politico.
Platão cria um ideal politico, um “dever ser”, diferente de Aristóteles, que analisa a filosofia como ela é (“ser”).
Platão promove um processo de sublimação da politica e da filosofia.
Platão se apresenta como filosofo racional, defendendo a filosofia racionalista e a separação estrita de paixão e razão, mas ele é próprio é movido pela paixão, a politica.
Platão apresenta a filosofia como ciência, mas diverge da noção de ciência atual.
Na concepção filosófica de Platão, a experiência é totalmente desconsiderada.
A visão de ciência de Platão não considera o mundo empírico, pelo contrario, ele acredita que o mundo sensível pode ser um obstáculo para a obtenção do conhecimento.
Sócrates também incomodava os governantes, mas é em Platão que o conflito com a politica se consolida.
Platão não era um filosofo meramente contemplante e afastado, como algumas interpretações levam a crer.
Platão defende que a politica se submeta à filosofia (governo dos filósofos).
A politica deve ser guiada pelos fatores que norteiam a filosofia, e não pelos pensamentos sofistas, que seriam responsáveis pela corrupção.
Características gerais da filosofia de Platão
Idealismo
Transcendência (a verdade está além do mundo que vivemos)
Universalismo (defende a ideia de verdade universal, e filosofia buscará essa verdade).
Racionalismo
Forte oposição entre razão X paixão
O universalismo de Platão combate toda forma de relativismo, principalmente o relativismo moral, contradizendo totalmente os sofistas.
Platão é essencialmente um reformador moral e politico da sociedade. (seu projeto filosófico é politico e pedagógico).
Idealismo transcendente ≠ Idealismo transcendental
Platão				Kant
Oposição de Noções filosóficas 
			 Platão		X		 Aristóteles
			Idealismo				 visão realista
 Busca a verdade das coisas no plano transcendente noção empírica, observação
 Olha para cima		 Olha para baixo
 DEVER SER		 SER
A teoria da Ideias
O conceito de ideia é conceito chave na filosofia de Platão.
Heidegger (filosofo alemão, séc. XX), um dos fundadores da filosofia hermenêutica, provê uma interpretação de Platão:
“Platão transformou a verdade numa atividade da nossa razão, numa qualidade ou propriedade de nossas ideias e não do próprio real”.
Ou seja, para Platão, a verdade não esta no mundo, mas no processo racional.
É nessa logica que surge a teoria das ideias.
Platão aponta um limite na filosofia de Sócrates: diz que apenas um método não é suficiente. Uma teoria se faz necessária acerca do conhecimento.
Para compreender uma coisa, temos que compreende-la teoricamente.
Platão defende que só podemos entender a experiência (o método) a partir de uma teoria.
IDÉIA em Platão: princípio lógico, ontológico, epistemológico e causal que garante a inteligibilidade do mundo, a verdade das coisas e do conhecimento, a perfeição ou justeza das ações morais, politicas e técnicas, pois orienta a atividade fabricadora, dado que a “arte imita a Natureza” e a Natureza são as ideias.
Para Platão, a ideia que fazemos de uma coisa provém do princípio geral, do mundo inteligível, que constitui a Ideia Universal, categoria que está na base da sua filosofia, o idealismo. Assim, a ideia da coisa é uma projeção do saber.
A Ideia e as ideias articulam numa unidade inseparável a teoria do conhecimento, a ontologia, a logica,a cosmologia, a ética, a politica e as artes.
Para conhecer uma coisa, precisa-se de um conhecimento prévio, um paradigma. É a partir do paradigma que a coisa sensível pode tornar-se conhecida.
A Teoria das ideias também é chamada teoria das formas.
A verdade não está no mundo, mas em outro plano, essencialmente teórico, que define a essência das coisas.
A teoria do Conhecimento (os graus do conhecimento)IDEIA
(eidos)
Essência	
	Dedutivo
	(dianoia)
Intuição 
Intelectual
(noesis)
		
	Raciocinio
Dedutivo	
(dianoia)
E ciência
(espistéme)	
	(dianoia)
	
	
		 Opinião
(doxa)	
		 
Simulação
(eikasía)
Crença
(pístis)
Imaginação
Livro 6 da república de Platão
Se divide em diversos níveis (graus). 
Há a divisão do conhecimento e a divisão de dois mundos:
Mundo sensível X mundo inteligível
Processo de conhecimento: é o processo de passagem do mundo sensível para o mundo inteligível.
A base da teoria do conhecimento está na separação do mundo sensível e do inteligível, ou visível e invisível.
O mundo sensível é visível aos nossos sentidos, enquanto o inteligível é invisível.
O processo de conhecimento busca tonar o mundo invisível visível.
Assim, Platão resgata o sentido da verdade da Grécia antiga desvelar algo, ultrapassar a aparência das coisas.
Parecer X Ser
Dialética como método para pensar no visível e no invisível.
Mundo Sensível		X		Mundo Inteligível
	 Coisas materiais, corpóreas			 mundo das essências e das ideias
	Suscetíveis à corrupção, morte, etc.		 identidade e imobilidade
	 Mudança e movimento permanência e perenidade das formas matérias
	 Ao alcance dos sentidos
Parmendes X Platão
Parmendes: Tudo externo ao ser não existe; o “não-ser” não é possível.
Cavalo é branco: contradição. Cavalo é cavalo; branco é branco.
Platão: pluralidade de essências; o que está fora do ser é outro ser; pluralidade de seres.
Dialética ascendente: Depura o objeto e vai retirando dele tudo que não faz parte da essência, camada por camada, até se chegar na verdade sobre ele (sua essência pura). Supera-se um estagio inferior para chegar-se a um superior.
Dialética descendente: Vai se reunindo, pouco a pouco, os elementos que compatíveis com a essência, até constitua a verdade.
Aula 6 – 10/04
Platão – continuação
Os graus do conhecimento
Numa dialética ascendente, chegamos ao último grau de conhecimento, que é a ideia.
Na dialética ascendente, fazemos um processo de depuração, tirando tudo aquilo que é incompatível com a ideia.
Na dialética descendente, faz- se o inverso: vão se reunindo os elementos compatíveis com a ideia. 
Dentro do mundo sensível temos dois degraus: 
Imaginação: é a primeira maneira de compreender o mundo, o modo mais primitivo de conhecimento
Opinião e Crenças: em um segundo degraus, uma compreensão do mundo que é mais qualificada em relação à imaginação, mas ainda é uma forma de conhecimento ligada ao mundo sensível.
Mas para Platão, não é possível o conhecimento no mundo sensível, então é necessário subir mais degraus. O terceiro degrau corresponde ao primeiro passo em direção a essência das coisas.
Raciocínio Dedutivo: é um passo importante para alcançar a verdade das coisas, uma espécie de estágio (condição) para ascendermos ao plano da evolução intelectual. É um pré-requisito para chegar à essência, o domínio sobre o raciocínio dedutivo. Na porta da academia, inclusive, estava escrito: só entrava ali quem soubesse matemática e geometria. Esse é o degrau intermediário entre o mundo sensível e o mundo das idéias: não chegamos ainda no conhecimento em sua plenitude mas não estamos tão longe do mundo invisível. Ainda está ligado ao mundo sensível porque tem necessidade de representar as idéias por figuras ou números. O conhecimento essencial dispensa qualquer representação da ideia.
Ideia – depara-se com a essência das coisas, o último grau de conhecimento, onde as hipóteses já não são necessárias. A verdade incondicionada. A ideia é vista como modelo, paradigma, a partir do qual o mundo sensível é criado. O mundo sensível é uma copia, uma imitação, desse modelo.
Mito da Caverna
É uma parábola
É um mecanismo ao qual Platão recorre para tentar explicar de maneira mais simples a sua teoria.
Na sociedade grega, fazia parte da tradição essa narrativa mitológica.
Assim, ele cria o mito da caverna para explicar sua teoria de uma forma mais didática.
Prisioneiros estão desde sempre em uma caverna, acorrentados, virados para a parede. Por trás deles, têm-se uma fogueira e pessoas e objetos em volta dessa fogueira. Como esses prisioneiros estão de costas para a luz, eles sempre tiveram diante deles o reflexo ou a sombra dos objetos e das pessoas atrás deles. Eles não vêem o real, ele vêem as sombras do real na parede. Platão imagina libertar um desses prisioneiros. Um prisioneiro será libertado, (independente de sua vontade). Assim, esse prisioneiro é guiado para a “luz” de fora de caverna, representando o saber. Quando ele se volta para a luz do fogo, seus olhos ficam ofuscados e de imediato, ele não entende nada, seus olhos estavam pouco acostumados com o claro. 
A simbologia é que o prisioneiro saiu de sua zona de conforto e chegou a um lugar novo, desconhecido, que gera apreensão em um primeiro momento. Assim, o prisioneiro deve passar por um momento de adaptação. O processo de conhecimento é um processo complexo e demorado que vai exigir um esforço da pessoa, e é um processo doloroso porque tira a pessoa de uma situação conhecida para uma desconhecida, gerando certa instabilidade e apreensão. Com o tempo, ele vai começar a enxergar as coisas como elas são e a visão passará a ficar mais clara, até o momento em que ele vai conseguir enxergar plenamente todos os objetos. Assim, ele perceberá que sua nova situação é melhor que a anterior. Depois dessas etapas, esse prisioneiro caminha para fora da caverna e contempla a verdade. 
Por fim, o prisioneiro volta para a caverna para contar aos seus companheiros a verdade contemplada. Assim, Platão atribui ao filosofo uma missão política, de compartilhar a verdade contemplada. Mais uma vez será um processo doloroso por que os companheiros não irão acreditar; o filosofo tende a ser rejeitado por seus antigos companheiros.
A caverna representa a cidade, a sociedade.
A luz fora da caverna representa a verdade.
A verdade está fora da caverna.
O prisioneiro libertado representa o filosofo.
Têm-se assim a ideia de Platão como filosofo contemplativo – deve-se sair da cidade, da caverna, para ter a verdade. Entretanto, essa visão não é absoluta por que Platão prega que o filosofo deve voltar para a caverna, para o mundo, para compartilhar a verdade.
O mito da caverna é nada mais que o processo do conhecimento pelo qual o filosofo passa.
Ideia do processo do conhecimento como uma adequação do olhar em relação ao objeto conhecido (a verdade). Tudo é uma questão de direcionar o olhar à correta direção.
A verdade é quando nosso olhar se adequa ao objeto.
Mito da reminiscência (Mito de ER)
Vem para resolver uma questão que fica em aberto no mito da caverna.
Como vamos reconhecer a verdade se não sabemos o que é a verdade? Como identificar a verdade quando nos depararmos com ela, s enão sabemos o que ela é?
Resgata o sentido da palavra aletheia – aletheia como lembrança, como não esquecimento.
Nós podemos reconhecer a verdade ao nos depararmos com ela por que de alguma forma, trazermos na nossa alma a verdade. 
Tudo é uma questão de resgatarmos a verdade através da lembrança.
Concepção inatista do conhecimento: nós nascemos com o conhecimento, a razão é algo inato ao ser humano.
Já vimos isso em Sócrates, no conceito de autonomia de Sócrates.
ER é um guerreiro que morre no campo de batalha. Após a morte, sua alma é levada para a planície dos mortos. Nessa planície dos mortos, há a possibilidade das almas contemplarem a verdade e também escolherem uma nova vida. Algumas almas optaram pela sabedoria eoutras pelo prazer e riquezas. Os que optaram pela sabedoria terão a capacidade de reconhecer a verdade. Os que optaram pela vida de riquezas terão mais dificuldade.
Se nós optarmos pelo saber e pela vida virtuosa teremos condições de lembrar da verdade.
Concepção de Platão de que a alma é imortal. Nossa intelegigencia racional é imortal
Teoria da Alma e da Virtude em Platão
Para Platão, existem 3 almas e a cada uma dessas almas corresponde uma virtude (função):
Alma racional – saber
Alma colérica - prudência
Alma concupiscente - temperança
Cada alma tem uma virtude que lhe é própria.
Virtude em Platão é a função de alguma coisa; uma coisa é virtuosa se ela cumpre bem sua função.
Tudo tem uma função, tudo tem uma virtude.
Um individuo é virtuoso se houver equilíbrio entre as almas, com o predomínio da alma racional.
O virtuoso será governado pela alma racional; a colérica predomina sobre a concupiscente e a racional predomina sobre as duas.
A razão deve ser separada da paixão.
Para Platão, a ideia de prazer é estranha à ideia de virtude.
Virtude é o estado onde há controle da razão sobre o prazer e sobre o desejo.
A divisão das almas correpondem à divisão do nosso corpo.
Alma racional: cabeça; alma colérica: peito (defesa, etc); alma concupiscente: desejo.
No que diz respeito ao desejo, ele será temperante.
No que diz respeito à defesa, ele será prudente.
No que diz respeito ao saber, ele será racional.
O saber da alma racional é referente ao saber metafísico, filosófico.
Governo dos Filosofos
Platão transporta essa divisão das almas para a cidade; começando a construir a ideia de que o Estado só pode ser justo se for governado por filósofos.
Se o individuo so poderá ser virtuoso se for governado pela razão, o Estado só será justo se for governado por aqueles indivíduos que tem compromisso com o saber: os filósofos.
O Estado é dividido em 3 grupos de indivíduos, assim como o individuo é dividido em 3 almas. Assim, o Estado só será justo se todos os grupos cumprirem suas funções.
Para Platão, cada grupo tem sua função na sociedade organizada e cada grupo deve cumprir sua função especifica.
Grupo dos comerciantes – alma concupiscente - função dos comerciantes é produzir riquezas; ligados aos bens comerciais; alma ligada aos desejos, prazeres. Assim como o individuo não pode ser governado pela alma concupiscente, o estado não pode ser governado pelos comerciantes, por que não seria justo. Os comerciantes devem cumprir a função que lhe é específica. Nível de instrução menor.
Grupo dos militares – alma colérica: função de proteger a cidade, de lutar, guerrear.Sua virtude é a prudencia. Seria temerário se os militares fossem governantes por que poderiam levar a cidade a guerra permanente.
Grupo dos magistrados – alma racional: São os que tem nstrução maior. Platão estabelece dois subgrupos:
-- Encarregados por cargos mais técnicos, de administração burocráticas.
-- Encarregados do governo político – esses são os governantes efetivamente. Esse governo cabe ao filosofo. Os filósofos são os homens de ouro, são os capazes de governar.
Para Socrates e Platão, só há virtude e conhecimento na filosofia. A metafísica é vista como um campo superior de conhecimento; abaixo estaria o conhecimento técnico (matemática, física).
Quando Patão fala se governo dos filósofos, ele não está falando do governos tecnocrata.
Hoje em dia temos uma política que se guia pela definição dos técnicos; Platão prega diferente, quer a filosofia guiando a técnica.
Ou os políticos se transformam em filósofos para que o estado seja justo, ou os filósofos assumem o governo.
Para Platão, a política esta corrompida por que foi dominada por sofistas e sua retorica, opinião e relativismo. Não há preocupação com a verdade na política.
Para Platao, política deve ter compromisso com a verdade.
Criticas à Platão: 
Concepção elistista: governo de esclarecidos, governo anti-democrático.
Coloca o filosofo em um patamar acima, quase divino, um escolhido, iluminado.
Coloca a verdade quase como uma revelação divina.
Devido à abstração de sua teoria do conhecimento, em nenhum momento Platão nos deixa claro a essência da justiça. Ele fala de uma teoria e de um método, mas em nenhum momento fica claro o conceito da justiça.
Sua visão é muito abstrata, remete à um plano tão transcendente que inviabiliza o conceito.
Sócrates era criticado pelo seu método que era uma eterna indagação.
Platão também tinha traços democráticos, defendia a propriedade coletiva (contra a propriedade privada) e também mais direitos às mulheres.
Quando ele defende a divisão da sociedade e do governo de filósofos, existia também a ideia de igualdade: todos nós somos seres racionais e todos nós somos capazes de ser filósofos.
Para Sócrates e Platão a igualdade está no planto da racionalidade: todos são iguais por que todos tem igual capacidade de pensar.
Para os sofistas a igualdade estava no plano das opiniões: uma opinião é tão boa quanto a outra.
Ao mesmo tempo que Platão diz que cada um tem seu lugar na sociedade, ele admite a possibilidade de um comerciante largar os prazeres e buscar a verdade, transformando-se assim em um filósofo.
Com relação à justiça, não temos em Platão uma teoria da justiça.
Em Aristóteles, encontramos uma teoria da justiça de fato.
Aristóteles (387 – 321 a.C)
A critica a Platão
A divisão do conhecimento
- Metafísica
- Matemática
- Física
Conhecimento
 Teórico
Conhecimento- Práxis: politica, ética, economia
- Poiesis: técnicas, artes, agricultura, etc
 Prático
Aula 7 – 29/04
Aristóteles (387 – 321 a.C)
A ética de Aristóteles
A ética de Aristóteles se apresenta em um tom teleológio.
A ética teleológica é a que prioriza a noção de bem sobre a noção de justo.
A ética grega pensa a moral a partir da noção de bem.
A noção de bem está muito associada à noção de fim tudo tem um bem, logo, tudo tem uma finalidade. O bem é a finalidade da coisa. O bem da medicina é a cura, o bem da arquitetura é a casa. 
Aristoteles começa a discutir a ética e a virtude a partir dessa noção de bem.
Ele começa a questionar quais são os bens humanos.
Ele considera que é importe buscar nessa reflexão sobre o bem qual é o bem humano mais importante, qual é a finalidade ultima do humano. 
Ele aponta o bem superior como sendo a felicidade.
A felicidade é a ideia central da ação humana. É a busca mais importante do homem.
Em um raciocínio circular, ele identifica a felicidade com a virtude (arreté).
Para Aristóteles só é possível ser feliz na virtude.
O que são as virtudes humanas: são os elementos que fazem o individuo capaz de buscar a felicidade.
A virtude é uma força que age ou que pode agir, a virtude no ser é o que constitui seu valor e sua excelência. A virtude é a função de alguma coisa, é a finalidade de alguma coisa. E assim a virtude remete à noção de bem.
A virtude da faca é cortar bem. Uma faca é virtuosa, é boa, na medida em que ela corta bem.
A virtude de um homem é o que o faz humano. A nossa maior virtude é a nossa maneira de ser e agir humanamente.
A virtude humana mais importante é a justiça. É a virtude perfeita, virtude completa.
Entre todas as virtudes humanas, a justiça é a virtude perfeita (completa) por que ela engloba todas as outras; o individuo justo tem que apresentar todas as outras virtudes.
Virtude Intelectual ≠ Virtude Moral
A virtude intelectual diz respeito ao conhecimento teórico, à capacidade de compreensão teórica que o individuo tem do mundo.
A virtude intelectual é ao mesmo tempo natural (inata), na medida em que os individuo nascem com inteligência maior; e fruto de instituição, porque para o seu desenvolvimento faz-se necessária a educação.
A virtude Moral se refere à ação, ao conhecimento pratico. Não é inata, os indivíduos não nascem virtuosos moralmente. A virtude moral é algo que se adquire com a prática. Diz respeito ao caráter, à índole do individuo.
Nesse sentido, a virtude moral se define pelo hábito. É a pratica que define amoralidade do individuo, é a experiência que constrói seu caráter.
Portanto, para Aristóteles, p individuo é justo, não porque realizou um ato de justiça na vida, mas realizou, repetidamente, atos de justiça ao longo da vida.
Uma andorinha não faz o verão.
Difere de Platao. Para Platao, o individuo so será virtusoso moralmente se ele for virtuoso intelectualmente; só o filosofo pode ser virtuoso, pro que ele tem o conhecimento. Para Platao, a política, moral e justiça são questões teóricas, não praticas.
Aristoteles busca outro caminho, e encontra a virtude no plano da pratica.
Phronesis – palavra grega para “prudência” - sabedoria pratica.
Em Aristoteles a virtude maior também é racional, assim como em Platão, mas o homem encontra prazer nessa ação virtuosa; ações virtuosas devem ser aprazíveis em si mesmas, na medida em que são boas e nobres.
Assim, a ideia de prazer não é a algo que se contrapões à virtude, enquanto que em Platão, a ideia de prazer afasta a ideia de virtude.
A ética de Aristóteles é conhecida como a ética do meio-termo.
 Para Aristóteles, a ética está no meio termo; a ação virtuosa é uma cão mediana; a virtude não está nem na escassez nem no excesso.
Esse meio-termo é uma proporção relativa não ao objeto, mas a nós mesmos.
Justiça e Igualdade em Aristóteles
A virtude e a lei são vistas como elementos que se complementam. Ou seja, para Aristoteles, o cumprimento da lei tem a ver com a questão da virtude. Por que as leis são fruto de um envolvimento de toda a comunidade; um projeto comum da comunidade, portanto o respeito as leis denota uma postura moral do individuo.
Justiça particular (dikaion) X Justiça Geral (dikaiosune)
Justiça Geral: ou justiça legal; justiça vista do ponto de visto moral; virtude moral. (Justiça legal porque não se distingue a lei moral da legal – são uma só).
Justiça Particular: mais ligada ao direito, justiça jurídica propriamente dita. O objeto é o direito. Divide em justiça distributiva e justiça comutativa ou corretiva.
Ainda assim, não há uma autonomia absoluta da justiça jurídica da moral; os dois elementos ainda continuam articulados, compartilham a mesma natureza; o objeto deles que é diferente.
Justiça: é dar a cada um o que lhe é devido. 
Em Aristóteles, encontramos pela primeira vez um conceito de justiça, ausente em Platão e em Sócrates.
O método para definir o que é de cada um é o mérito. Esse mérito está muito ligado à virtude moral.
É a política que vai fazer a distribuição das honras e dos cargos e dos bens, não é direito que defini o que é de cada um, é a política. O Direito é o instrumento que garante a cada um o que lhe é devido.
Dentro da justiça particular, Aristóteles divide justiça distributiva e justiça comutativa ou corretiva. Assim surge a discussão acerca da igualdade.
A justiça distributiva diz respeito à relação das partes com o todo; dos indivíduos com a sociedade. Segue a ideia de proporção geométrica de igualdade. A igualdade estará submetida a proporção de participação dos indivíduos na sociedade. Leva-se em conta na igualdade as diferenças entre os indiviuduos, partindo do ponto que não se pode tratar os desiguais de forma igual, por que senão não haverá igualdade. Para haver igualdade, deve haver um tratamento desigual. É o critério material de igualdade. Iualdade no sentido material. Leva em conta a igualdade de fato do individuo. Diz mais respeito à justiça social, e pauta em geral o direito público. Igualdade material.
A justiça comutativa trata da relação entre as partes. O critério é de proporção aritmética. É uma justiça tipicamente sinalagmática, que caracteriza as relações contratuais. Ela existe para garantir que aquilo estabelecido entre A e B seja respeito. Nesse caso, a justiça considera A e B a priori como iguais. Não leva em consideração as diferenças entre as partes. Ela age no sentido de corrigir desequilíbrios em contratos pré-acordados, restituindo a uma das partes aquilo que lhe é era direito de acordo com o combinado entre as partes previamente. É a justiça que caracteriza o direito privado clássico. No direito contemporâneo, no entanto, temos a conjugação da comutativa e da distributiva nas relações rivadas. Igualdade formal. 
Kant, no direito tradicional moderna, reduz o direito à justiça comutativa, na medida de que defini o justo como sendo aquilo que foi acordado entre as partes; igualdade formal, direito reduzido ao aspecto contratualista sinalagmático. 
Direito em Aristóteles
O Direito é uma justa-medida, um elemento de mediação entre duas partes em um conflito.
O juiz é um mediador entre as partes.
O juiz é a justiça viva, o direito é o meio-termo da relação social.
Em Aristóteles, encontramos pela primeira vez uma reflexão sobre a equidade.
A equidade é um sentimento de justiça, senso de justiça, que todo o julgador tem que ter quando julga. Tanto no plano moral quanto no plano do direito.
O problema da equidade é o da adequação do principio ou da lei, que são sempre gerais, ao caso particular. Aristóteles considera que sempre haverá aí a necessidade de um trabalho de adequação do julgador.
Toda justiça pressupõe o trabalho de adequação do geral ao particular.
O julgador precisa ter a sabedoria pratica, a prudência, a “phronesis”, e é isso que vai permitir a ele encontrar a melhor solução para o caso.
Aristóteles considera que a lei é insuficiente para aplicar a justiça, é preciso que o julgador tenha equidade.
Justiça = lei + equidade

Outros materiais