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O CONCEITO DE ESTADO
	É impossível encontrar um conceito de Estado que satisfaça todas as correntes doutrinárias, por isso haverá sempre uma grande variedade de conceitos. Dalmo de Abreu Dallari lembra que David Easton, um dos principais cientistas políticos americanos, ao se perguntar “Quem é o Estado” vai encontrar um autor que cita, nada menos que 145 diferentes definições.
	Pode-se observar que o conceito de Estado está interligado com o fator ideológico. E o que é ideologia?
	Dos múltiplos usos do termo “Ideologia”, delineia-se dois tipos de significados:
Significado positivo de ideologia: 
	 Ideologia enquanto um sistema de ideias relacionadas com a ação.
 Ideologia como um conjunto de ideias, valores, maneiras de sentir, pensar de pessoas ou grupos.
 Ideologia como ordenação de crenças que são elaboradas e integradas entre si de maneira mais ou menos coerente, de modo a poder funcionar como guia de ações e de comportamento, como critérios idôneos, para justificar o exercício de poder, explicar e julgar os conhecimentos históricos, explicar as conexões entre atividades políticas e outras formas de atividade. Este conceito de ideologia, chamado por Norberto Bobbio de significado “fraco”, tem predominado na ciência e na sociologia política liberal burguesa.
Significado negativo de ideologia: 
	 Ideologia como ilusão, mistificação, distorção e oposição ao conhecimento verdadeiro.
 Ideologias são dissimulações sobre os fatos ou sobre a realidade social. Este conceito seria, na visão de Bobbio, o significado “forte” de ideologia.
Para Marilena Chauí,
“Ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representação (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicou e prescreveu aos membros da sociedade o que devem pensar e como devem pensar, o que devem valorizar e como devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classes, a partir das divisões na esfera da produção. Pelo contrário, a função da ideologia é a de apagar as diferenças e de fornecer aos membros da sociedade o sentimento de identidade social, encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos, como, por exemplo, a humanidade, a liberdade, a igualdade, a nação ou o Estado”.
 IDEOLOGIA
Cazuza
Meu partido
É um coração partido
E as ilusões
Estão todas perdidas
Os meus sonhos
Foram todos vendidos
Tão barato
Que eu nem acredito
Ah! eu nem acredito...
Que aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Frequenta agora
As festas do "Grand Monde"...
Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver...
O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs
Não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar
A conta do analista
Pra nunca mais
Ter que saber
Quem eu sou
Ah! saber quem eu sou..
Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro...
Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Pra viver...
Pois aquele garoto
Que ia mudar o mundo
Mudar o mundo
Agora assiste a tudo
Em cima do muro
Em cima do muro...
Meus heróis
Morreram de overdose
Meus inimigos
Estão no poder
Ideologia!
Eu quero uma pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver..
Ideologia!
Pra viver
Ideologia!
Eu quero uma pra viver...
 TEORIA GERAL DO ESTADO
 Introdução
Cada ramo de estudo precisou definir bem o seu objeto de estudo, os seus métodos de pesquisa e as teorias com as quais iria trabalhar. Por exemplo: se o pesquisador estivesse preocupado em compreender os aspectos relativos ao funcionamento de um organismo vivo, deveria necessariamente tornar-se um biólogo, apropriando-se dos métodos e das doutrinas aceitas em biologia. A regra número um nas ciências modernas – pelo menos no início – era a “objetividade”. Para saber-se sobre a reprodução da ameba, o cientista deveria “observar” pura e simplesmente uma ameba se reproduzindo, a fim de “explicar” este processo. Não interessam, para a explicação científica, os pensamentos filosóficos ou as crenças religiosas (subjetivas) do cientista sobre a origem ou o sentido da vida e da reprodução. Só são considerados válidos os conhecimentos obtidos através da observação e da experimentação. Daí que, ao observar-se em microscópio a reprodução da ameba, não resta nenhuma dúvida de que se trata de um processo de cissiparidade (bipartição). A teoria que explica o fenômeno observado não pode escapar deste fato objetivo: as amebas reproduzem-se a partir da divisão de uma célula em duas, gerando duas ambas com idêntico DNA. As forças externas ao processo observado, em cuja existência o cientista acredita, não podem ser incluídas na teoria explicativa senão sob a condição de poderem ser testadas e verificadas segundo um protocolo de problemas e de métodos especificados (explícitos) e racionalmente justificados.
Para que os biólogos chegassem a consolidar a sua ciência – enquanto ramo de estudos autônomo, como objeto, método e teorias próprios – foi necessário que empreendessem um imenso trabalho de demarcação das fronteiras entre a ciência “biologia” e as filosofias generalistas que balbuciavam sobre assuntos biológicos. A biologia precisou libertar-se de toda a religião e de todo o misticismo de que estava impregnado o pensamento sobre os seres vivos. Após, ela precisou marcar bem suas diferenças com os outros ramos de estudo relacionados, como a química e a psicologia. Uma ciência bem desenvolvida é aquela que goza de grande autonomia, para definir seus objetos, métodos e teorias, sem precisar recorrer ou responder a questões provindas de lógicas alienígenas.
Assim, um bom exemplo de campo científico bem desenvolvido é o “campo da matemática”, campo bastante autônomo, onde só são aceitos resultados obtidos mediante a utilização dos instrumentos lógicos e metodológicos reconhecidos e controlados pelos especialistas. Por outro lado, um bom exemplo de um campo relativamente pouco desenvolvido é justamente o caso do “campo das ciências sociais”, uma vez que, em matéria de “sociedade”, o próprio “homem da rua” sente-se autorizado a falar, muito embora ignore os conceitos, as teorias e os métodos, formulados e controlados pelos especialistas na área, a partir dos quais se pode conhecer minimamente alguma coisa sobre a realidade “objetiva” da vida do homem “em sociedade” – conceitos, métodos e teorias sobre os quais, muitas vezes, nem os próprios especialistas concordam, testemunhando pelo baixo grau de sistematização desta complexa ciência.
Para o estudo da Sociologia Aplicada ao Direito, é pertinente estabelecermos algumas distinções desta em face de campos de estudo muito próximos, porém inconfundíveis. É preciso, neste ponto, invocar a pertinente distinção estabelecida por Miguel Reale na conhecida concepção tridimensional do direito. O estudo do Direito enquanto “valor” cabe à Filosofia do Direito, ramo mais generalista, estudado por meio das “teorias da justiça” dos gregos ou da questão da “ética do Príncipe” de Maquiavel. Caberiam também, na categoria genérica da Filosofia do Direito, os estudos atinentes à hermenêutica, à tópica, aos fundamentos últimos (metafísicos) da ordem jurídica, e assim por diante. O estudo do Direito enquanto “norma” cabe à Dogmática Jurídica, muito embora Hans Kelsen tenha desenvolvido sua teoria “pura” com o intuito de transformar o estudo da norma em uma “ciência do direito”. Certamente, a “ciência do direito”, no sentido do positivismo jurídico, tem em comum com a ciência o fato depossuir um objeto, uma teoria e uma metodologia próprios (autonomia), o que permite considerar a “teoria pura do direito” como uma “ciência”, mas apenas neste sentido. 
Sob a aparência de cientificidade e respaldada na autoridade da própria ciência, a sociologia espontânea dos juristas impõe universalmente uma visão do mundo social, que é uma visão do Estado (ou melhor, do “campo jurídico”), como sendo a melhor configuração possível (portanto, a mais “justa”) do mundo social, legitimando as divisões de classe e, em especial, o lugar privilegiado dos juristas e dos homens de Estado na hierarquia social. 
Todavia, do ponto de vista do método das ciências sociais, a sociologia dos juristas não está em posição mais confortável que a do “homem da rua”, quando este ou aqueles pretendem emitir juízos e pareceres sobre a vida em sociedade. Pensemos, ilustrativamente, nas filosofias políticas dos pensadores do século XVII, para as quais o Estado é a única forma de organização humana capaz de superar o estado de caos social, promovendo a ordem e a liberdade dos cidadãos. 
A cegueira seletiva implicada na lógica deste discurso é parte da estratégia inconsciente pela qual o Estado de Direito se legitima como instituição voltada à promoção do “bem comum”, na medida em que se desconhece enquanto aparelho ideológico e instituição de poder. O Estado é um poder soberano, dominante, pois dispõe da força para obrigar a execução de suas ordens. Dessa forma, institui a presença permanente do caráter jurídico com três elementos que o constituem: o território, o povo e o governo.
 OBJETO DA TEORIA GERAL DO ESTADO
Fórmula n.º 1.: Preparo dos juristas
	
 Conhecer as Instituições: Poderes Legislativo/Judiciário/Executivo.
	+
 Problemas Sociais - o Estado, por intermédio do Judiciário, procura solucionar a desestabilização social.
Ex.: (pretensão/demanda/ação/fato jurídico/Constituição rígida/jurisprudência)
=
 Compreensão do papel que eles (juristas) representam na atuação das instituições e aprenderem técnicas requeridas para a solução dos problemas
Por que estudar Teoria Geral do Estado?
Três pontos devem ser ressaltados:
É necessário o conhecimento das instituições, pois quem vive numa sociedade sem consciência de como ela está organizada e do papel que nela representa não é mais do que um autômato, sem inteligência e sem vontade;
É necessário saber de que forma e através de que métodos os problemas sociais deverão ser conhecidos e as soluções elaboradas, para que não se incorra no gravíssimo erro de pretender o transplante, puro e simples, de fórmulas importadas, ou a aplicação simplista de ideias consagradas, sem a necessária adequação às exigências e possibilidades da realidade social;
Esse estudo não se enquadra no âmbito de matérias estritamente jurídicas, pois trata de muitos aspectos que irão influir na própria elaboração do direito.
 Resumo: Objeto da Teoria Geral do Estado
Aprecia os aspectos jurídicos + os aspectos não jurídicos, dedicando-se ao estudo do Estado em sua totalidade, detendo-se apenas quando surge o direito legislado, ou seja, formalmente positivado.
De maneira ampla, pode-se dizer que é o estudo do Estado sob todos os aspectos, incluindo a origem, a organização, o funcionamento e as finalidades, compreendendo-se no seu âmbito tudo o que se considere existindo no Estado e influindo sobre ele.
O que estuda a Teoria Geral do Estado?
É uma disciplina de síntese, que sistematiza conhecimentos:
	
 Jurídicos
 Filosóficos: Aristóteles
 Sociológicos: Hannah Arendt
 Políticos: Ulisses Guimarães
 Históricos
 Antropológicos: vicissitudes/mudança das coisas; formas de Estado
 Econômicos: social (sobrevivência: segurança, alimentação)
 Psicológicos: ânimo/estudo do espírito de um povo
Valendo-se de tais conhecimentos para buscar o aperfeiçoamento do Estado, concebendo-o, ao mesmo tempo, como um fato social e uma ordem, que procura atingir os seus fins com eficácia e com justiça.
Ex.: França abalada por diversas questões = Revolução francesa. Forma o Estado.
 SOCIEDADE
O ESTUDO DA SOCIEDADE
Primeiro, o estudo da sociedade poder-se-ia ser realizado através de abordagens de “estrutura” ou de abordagens de “ação”. 
Em segundo lugar, o estudo da sociedade poderia ser realizado focando-se a ordem social, nas chamadas abordagens de “consenso”, ou focando-se a transformação social, nas chamadas abordagens de “conflito”.
I - As abordagens de “estrutura” são aquelas que pretendem explicar o comportamento das pessoas em sociedade através da “estrutura social”:
“Partindo da constatação de que os membros e os grupos de uma sociedade são unidos por um sistema de relações de obrigação, isto é, por uma série de deveres e direitos (privilégios) recíprocos, aceites e praticados entre si, a estrutura social refere-se à colocação e à posição de indivíduos e de grupos dentro desse sistema de relações de obrigação. Por outras palavras, o agrupamento de indivíduos, de acordo com posições, que resulta dos padrões essenciais de relações de obrigação, constitui a estrutura social de uma sociedade”.[1: Disponível em: http://pt.wikipedia.org/wiki/Estrutura_social Acessado em: 01/03/2012]
A noção de estrutura remete à concepção da sociedade com um complexo de unidades individuais, cujas partes (como as “células” de um organismo) mantêm “relações” mais ou menos rígidas entre si, relações que superam a própria autonomia das partes na configuração de suas possibilidades. Segundo esta concepção, os indivíduos são como as células de um organismo, que possuem funções estruturalmente determinadas, independentemente de suas vontades individuais.[2: Quando as partes de uma “estrutura” colaboram para atingir resultados comuns, como a manutenção da vida do “organismo” social, se diz, com razão, que elas desempenham uma “função” social. Quando a estrutura está ordenada de tal maneira que a supressão de uma de suas partes alteraria drasticamente a natureza do seu funcionamento (com a morte do corpo social ou uma “revolução” social, por exemplo), se diz tratar-se de um “sistema” social. Nestes termos, a analogia com os conceitos biológicos é fluida. O biologismo em ciências sociais começa com Spencer e desenvolve-se com Durkheim e Merton, transformando-se numa verdadeira tradição com o chamado estrutural-funcionalismo norte-americano, cujo desenvolvimento mais consequente é sem dúvida a obra de Niklas Luhmann.]
Durkheim e Marx são representantes da tradição estruturalista. Durkheim sustenta que a “consciência coletiva” é mais que a mera soma das consciências individuais; a sociedade precede lógica e cronologicamente aos indivíduos; e os indivíduos agem em sociedade de um modo que não agiriam se estivessem dispersos. Marx, por sua vez, sustenta que a existência material dos indivíduos – isto é, a sua posição na estrutura de distribuição material – determina a própria consciência individual; as idéias sociais estão associadas à posição de “classe”.
II - As abordagens de “ação” opõem-se logicamente às abordagens de “estrutura”, pois advogam que o comportamento do indivíduo em sociedade é mais bem explicado pelas razões subjetivas do indivíduo, que desempenha um dado comportamento, que pela posição deste na estrutura social. O maior representante deste tipo de “perspectivismo” é Max Weber, para quem a unidade de análise da Sociologia deve ser o indivíduo e não o grupo. O sentido que o indivíduo atribui à sua ação deve ser “compreendido” para apreender-se o “sentido” da respectiva ação.
A questão que surge é saber, neste contexto, se a ação é mais bem explicada pela posição dos indivíduos e instituições na “estrutura social” ou pela “ideia consciente” que estes indivíduos e instituições têm de si quando agem. Boa parte da teoria sociológica desenvolvida desde os anos 60 teve por objetivo superar a lacuna existente entre as abordagens de ação e de estrutura, com destaque especial para as obras de Giddens, Bourdieu e Touraine, dentre outros.
Além da divisãoclássica entre as abordagens de “ação” e de “estrutura”, há outra divisão pertinente para o fim de estabelecer a comparação entre os “pais fundadores”, que é a divisão entre as abordagens de “consenso” e de “conflito”. Ao estudar a “moral social” ou a “consciência coletiva”, Durkheim tem em vista a “ordem” social e o consenso tácito estabelecido entre os membros dos grupos sociais sobre os fundamentos básicos da vida em grupo. Sua teoria privilegia os aspectos que contribuem para a conservação e a manutenção da ordem social. Trata-se de uma abordagem de “consenso”.[3: É necessário pressupor logicamente um acordo de todos os indivíduos de uma sociedade para compreender como foi possível que coletividades complexas se submetessem e se ajustassem aos diferentes sistemas de regras (jurídicas ou outras), muitas vezes contrários, ao menos em aparência, aos interesses individuais. Seguem esta lógica as teorias do “contrato social” desenvolvidas por Locke, Hobbes, Rousseau e Rawls. Durkheim, para subtrair-se a tais pressupostos metafísicos, lançou mão da idéia de “consciência coletiva” e postulou a “superioridade ontológica” do coletivo sobre o individual.]
Marx e Weber, ainda que por vias opostas, construíram ambos abordagens de “conflito”. Para Marx, na dialética da história, as forças produtivas entram em contradição com as relações de produção existentes, desencadeando os períodos de revolução social:
“A história de todas as sociedades existentes até hoje é a história das lutas de classe. Homem livre e escravo, patrício e plebeu, barão e servo, mestre de corporação e companheiro, numa palavra, opressores e oprimidos, em constante oposição, têm vivido numa guerra ininterrupta, ora franca, ora disfarçada; uma guerra que terminou sempre, ou por uma transformação revolucionária da sociedade inteira, ou pela destruição das duas classes em luta”.[4: Trecho clássico do “Manifesto Comunista”.]
Max Weber, por uma via individualista, também elabora uma abordagem de conflito, o que se expressa, por exemplo, na sua teoria do “poder”, segundo a qual “poder é toda a probabilidade de um indivíduo impor a própria vontade em uma relação social (conflitual), apesar das resistências que lhe possam opor”.
Se Durkheim explicava suficientemente bem os processos de conservação social, faltavam-lhe, todavia, elementos para compreender a transformação da estrutura social. Estes elementos estão presentes nas “sociologias do conflito” de Weber e Marx. Marx, porém, explicava a dinâmica social por um viés de corte “puramente econômico”, no que Weber lhe superou ao introduzir a ideia da “multidimensionalidade” do social – ou seja, a ideia de que a esfera econômica não constitui o único, nem necessariamente o mais importante sistema de ação social, havendo também as esferas política, religiosa, cultural, etc., a influenciarem-se mutuamente. A superação de Marx por Weber, neste aspecto, fica evidente no clássico A ética protestante e o espírito do capitalismo, no qual Weber demonstra que “fatos religiosos” podem ser “economicamente relevantes” – negando, assim, o “determinismo econômico” de Marx.
Muito embora Marx preceda a Durkheim e a Weber, cronologicamente falando, convém estudá-lo depois destes, pois ele representa uma alternativa sintética à oposição entre as abordagens de “estrutura” e de “ação”, ainda que seu pensamento incline-se mais ao estruturalismo. Se, por um lado, Weber explicava a ação individual através do “sentido subjetivo visado” pelo indivíduo e, por outro, Durkheim a explicava pelo peso do “arbítrio estrutural”, Marx introduziu, por sua vez, a ideia sintética de que certas idéias e comportamentos podem ser relacionados à posição de classe – sintetizando assim o estruturalismo e o acionismo. Porém, tal ponto só será desenvolvido até as últimas consequências por Bourdieu, por volta da década de 1970.[5: O estudo de Bourdieu que se tornou clássico, sobre este assunto, é La distinction: critique sociale du jugement.]
Outro aspecto importante do pensamento de Durkheim é a concepção organicista do Estado e da sociedade. A utilização de conceitos próprios da biologia em ciências sociais já era praticada por Spencer. A ideia nova trazida por Durkheim é a concepção do Estado como sendo o órgão de “deliberação” (cérebro) do corpo social. Nas sociedades diferenciadas, os órgãos possuem elevado grau de diferenciação funcional. Diferentemente, nas sociedades primitivas, indiferenciadas, o Direito e a moral social confundem-se. A moral é bastante difusa na sociedade e as sanções morais são impostas por todos os membros de uma coletividade. Nas sociedades diferenciadas, ao contrário, o Direito autonomiza-se em face da moral, passando a ser deliberado por um órgão especializado, o Estado.
Por fim, as mais importantes lições sociológicas de Durkheim, são aquelas constantes da sua obra máxima, A divisão do trabalho social. Neste livro, Durkheim apresenta sua concepção evolutiva da sociedade. As sociedades primitivas são caracterizadas por uma forte “consciência coletiva”. A sociedade precede lógica e cronologicamente aos indivíduos, os quais, no início dos tempos, desconhecem-se enquanto egos individuais. Nestas sociedades, os laços sociais se dão com base na semelhança dos indivíduos, que entram em relações movidos pelo sentimento de pertencerem a um mesmo grupo. Esses laços sociais são chamados de laços de “solidariedade mecânica”. O Direito nestas sociedades é predominantemente “repressivo”, correspondendo àquilo que conhecemos hoje como Direito Penal.
A sociedade primitiva é a horda, sociedade de um segmento só. Os indivíduos são muito semelhantes entre si, não havendo diferenças significativas quanto às formas individuais de sentir, pensar e agir. Isso se deve ao fato de praticamente inexistir divisão social das funções produtivas nestes agregados. Aos poucos, ao longo do devir histórico, as funções produtivas vão sendo divididas entre os diferentes grupos que compõe uma sociedade. Melhor dizendo, os diferentes grupos vão-se constituindo, enquanto grupos distintos, na medida em que se vão apropriando de funções produtivas diferenciadas. Os diferentes trabalhos colaboram organicamente uns com os outros. E a produção dos produtos complexos (um automóvel, um computador, etc.) é o resultado do trabalho coletivo de indivíduos cada vez mais especializados. A divisão social do trabalho é um processo que está em pé de igualdade com a diferenciação dos grupos, cujas particularidades emergem e diferenciam-se em grau crescente. Surgem os grupos de estatuto, surgem as classes sociais, etc. Surge, enfim, o ego individual, como resultado de um processo histórico de diferenciação social crescente.
Nas sociedades diferenciadas de hoje, ao contrário, a “consciência coletiva” é enfraquecida pela emergência do ego individual e do sentimento individualista correlato. Os indivíduos conhecem-se enquanto livres arbítrios individuais e estabelecem relações sociais baseadas nas suas diferenças recíprocas. Pensemos, ilustrativamente, nas relações entre médico e paciente, professor e aluno, padre e fiel, etc., todas elas são relações que têm em comum o fato de basearem-se na diferença recíproca entre os indivíduos relacionados. Os laços sociais baseados na diferença chamam-se laços de “solidariedade orgânica” e pressupõem a diferenciação funcional das partes da sociedade e o seu funcionamento como “organismo”, no sentido biológico do termo. O Direito nas sociedades de “solidariedade orgânica” é predominantemente o “direito restitutivo”, semelhante ao que chamamos de Direito Civil, pois é esta a forma jurídica que melhor contribui para o funcionamento orgânico (fisiológico) da sociedade complexa.
 Origem e conceituação
Associação de Homens na vida comum por:
Mesma ORIGEM – USOS – COSTUMES – VALORES – CULTURA
(sociedade: necessidades e potencialidades da vida humana) – HISTÓRIA
SOCIEDADE – por questões básicas de sobrevivência, inicia com troca de produtos, formada por pequenos clãs. Surgimento: grupos, famílias (clãs).A sociedade é para alguns privilegiados.
PAI = chefe do clã; ter nascido grego; possui pais gregos; não ser escravo; não ser estrangeiro; ser homem (mulher e boi = o mesmo valor).
SOCIEDADE – miscigenação (cruzamento de etnias, várias origens).
Ex.: RS – valores/cultura/história: tradicionalismo, chimarrão.
Ex.: PARÁ – estado por ser grande pensa-se em dividi-lo em três partes = cisão do estado.
Sociedade brasileira: caracterizadas por cada região possuir sua tradição.
 Teorias
TEORIA NATURAL: Aristóteles, Aquino – instinto (preservação) e sobrevivência.
Associação humana = preservação da espécie
PAI = chefe do clã,
mulheres,
escravos
F
Família
P
Pólis
Na Pólis = só o PAI participa de alguns pressupostos, os demais não.
Da Pólis = surge o Estado - participação somente de certas pessoas.
Separação da corrente Natural = Aristóteles
1.ª questão natural
 Homem vive em sociedade pela preservação da espécie e separação dos animais.
 Separa a família: a mulher é coisa aparte (animal, escravo).
 A pessoa se realiza em sociedade dentro da pólis, separando-se dos animais, por questões de sobrevivência.
 Assim, o Estado primitivo surge com esta personalidade PÓLIS
 Ficam no poder: ROMA
 Queda do Império Romano, surgindo a igreja católica;
CÓDIGO JUSTINIANO = junta regras específicas para a vida em sociedade, daí surgindo a nossa tradição. Poder da igreja católica é retomado com estudos teológicos.
São Tomás de Aquino é o primeiro a retomar a leitura, escrevendo baseado em Aristóteles = ato instintivo.
 o instinto do ser humano de sobrevivência
 associação do ser humano para sua preservação
Ex.: menino Chong vendeu um rim para comprar um IPED2
(questão de sobrevivência = viver em sociedade)
ATO DE VONTADE CONTRATUAL = contratualistas (Locke, Hobbes, Rousseau) = racionalidade = racional = criar o Estado e seus representantes = segurança
A racionalidade desvincula Deus. Abrimos mão do indivíduo para vivermos em sociedade. O homem pode ser mau por natureza, como pode ser bom.
 Quais são os elementos necessários para o reconhecimento de uma sociedade?
1.º FINALIDADE OU VALOR SOCIAL
2.º MANIFESTAÇÕES DE CONJUNTO ORDENADAS
3.º PODER SOCIAL
Determinista = nós (in)voluntariamente: início/meio/fim
 São as engrenagens que nos levam até o final da vida, isto é, temos um local determinado (segue uma regra). 
Finalista = bem comum: a finalidade da sociedade = contratualista;
 Bem comum = não pode ser só para uma classe.
 (para Marx: separa em 3 esferas)
 Bem comum = valor: econômico/moral/ético (=bem social);
Valor = garantia do homem de cada um pela Constituição e pelos Direitos Humanos (universal);
 = valores que correspondem ao bem social = transpassam o Estado;
 = é difícil medir o valor comum = em princípio todos são iguais perante a Lei.
Ex.: Universidade Pública; crianças com as necessidades especiais = princípio da igualdade.
VALOR ECONÔMICO
 		 MORAL
 		 ÉTICO
Garantia humana de cada um pela Constituição e Direitos Humanos.
 
 BEM SOCIAL valores da sociedade que transpassam o Estado.
 ELEMENTOS CARACTERÍSTICOS DA SOCIEDADE
Todo Estado é uma sociedade, a esperança de um bem, que é seu princípio, assim como o de toda associação, pois todas as ações dos homens têm por fim aquilo que consideram um bem” (Aristóteles, Política, 355 a.C).
* Finalidade (ou valor social). Relaciona-se com a liberdade humana. 
 O determinismo nega a possibilidade de escolha de finalidades e, portanto, é incompatível com a liberdade (ex.: socialismo científico). 
 O finalismo aceita a possibilidade de escolha e, portanto, pressupõe a liberdade (ex.: contratualismo). O bem comum como finalidade da sociedade humana (Dallari). Definição: “Bem comum é o conjunto de todas as condições de vida social que consintam e favoreçam o desenvolvimento integral da personalidade humana” (João XXIII, Encíclica Pacem in Terris).
* Manifestações de conjunto ordenadas. Não basta apenas a finalidade. Para que exista uma sociedade, é preciso haver também manifestações de conjunto ordenadas (reiteração, ordem e adequação). 
a)Reiteração: A finalidade social é um objetivo permanente, a ser buscado sempre, reiteradamente. 
b) Ordem: É a “disposição conveniente das coisas” (Goffredo). A atuação da sociedade deve ser ordenada em razão da finalidade. A ordenação se faz através de normas de conduta (leis e regras). Lei como “a relação necessária que deriva da natureza das coisas” (Montesquieu). Diferença entre as leis naturais (mundo físico, o “dado”) e as normas sociais (mundo ético ou da cultura, o “construído”). 
Princípio da causalidade (mundo físico: “ser”): Se “A” é (condição) – “B” é (consequência). 
Princípio da imputação (mundo ético: “dever-ser”): Se “A” é (condição) – “B” deve ser (conseqüência). 
Espécies de normas éticas: a Moral (unilateral, imperativa) e o Direito (bilateral,imperativo-atributivo). 
Lei como “a relação necessária que deriva da natureza das coisas” (Montesquieu). 
Diferença entre as leis naturais (mundo físico, o “dado”) e as normas sociais (mundo ético ou da cultura, o “construído”). 
c) Adequação. São também necessárias ações adequadas para atingir o fim almejado (bem-comum). Inadequação é a superexaltação de um fator em detrimento de outros (ordem pública, fatores econômicos etc.).
* Poder. Importância do conceito. Poder, em geral, é a possibilidade de uma pessoa determinar o comportamento de outra pessoa. Há várias formas de poder. É necessário? O que o justifica? Fenômeno social, bilateral, implica uma vontade predominante e outra submetida. 
a) As teorias anarquistas: os gregos (cínicos, estóicos, epicuristas), o cristianismo, o anarquismo de cátedra (Duguit: poder é fato), o movimento anarquista (Proudhon, Bakunin, Kropotkin). 
b) O poder visto como algo necessário à vida social. Fontes (origem) do poder: o poder do mais forte; como emanação da divindade; o povo como titular do poder (contratualismo, democracia). A necessidade de fazer coincidir direito e poder. 
A lição de Rousseau: “O mais forte nunca é suficientemente forte para ser sempre o senhor, senão transformando sua força em direito e a obediência em dever”. 
Os graus de juridicidade (culturalismo realista de Miguel Reale). 
A legitimidade do poder: Weber e as três formas de poder legítimo: o tradicional (independe da lei), o carismático (líderes autênticos) e o racional (autoridade investida pela lei). Poder legítimo é poder consentido, é a força da ideia de bem comum (Burdeau). 
A objetivação (despersonalização) e a racionalização do poder.
 ORIGEM, FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO DO ESTADO
	A denominação do Estado (do latim status = estar firme) significa situação permanente de convivência. Ligada à sociedade política.
	Designa-se Estado a todas as sociedades políticas que, com autoridade superior, fixaram as regras de convivência de seus membros.[6: DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado. 31. ed. – São Paulo: Saraiva, 2012, p. 59.]
	Três posições merecem destaque no que diz respeito ao aparecimento do Estado:
a) Para muitos autores, o Estado, assim como a própria sociedade, existiu sempre, pois desde que o homem vive sobre a Terra acha-se integrado numa organização social, dotada de poder e com autoridade para determinar o comportamento de todo o grupo.
b) Uma segunda ordem de autores admite que a sociedade humana existiu sem o Estado durante um certo período.
c) A terceira posição admite como Estado a sociedade política dotada de certas características muito bem definidas. Karl Schmidt diz que o conceito de Estado não é um conceito geral válido para todos os tempos, mas é um conceito histórico concreto, que surge quando nascem a ideia e a prática da soberania, o que só ocorreu no século XVII.
Formação originária dos Estados parte-se de agrupamentos humanos ainda não integrados em qualquer Estado;[7: Obs.:nos dias atuais é muito pouco provável que se possa assistir à formação originária de um Estado.]
Formação derivada dos Estados formação de novos Estados a partir de outros preexistentes.
Ao examinar as principais teorias que procuram explicar a formação originária do Estado, chega-se a uma primeira classificação, com dois grandes grupos, a saber:
a) Teorias que afirmam a formação natural ou espontânea do Estado, não havendo entre elas uma coincidência quanto à causa, mas tendo todas em comum a afirmação de que o Estado se formou naturalmente, não por um ato puramente voluntário.
b) Teorias que sustentam a formação contratual dos Estados, apresentando em comum, apesar de também divergirem entre si quanto às causas, a crença em que foi a vontade de alguns homens, ou então de todos os homens, que levou à criação do Estado. De maneira geral, os adeptos da formação contratual da sociedade é que defendem a tese da criação contratualista do Estado.
	No tocante às causas determinantes do aparecimento do Estado, as teorias não contratualistas mais expressivas podem ser agrupadas da seguinte maneira:
 Origem familial ou patriarcal. Estas teorias situam o núcleo social fundamental na família. Segundo essa explicação, defendida principalmente por Robert Filmer, cada família primitiva se ampliou e deu origem a um Estado.
 Origem em atos de força, de violência ou de conquista. Com pequenas variantes, essas teorias sustentam, em síntese, que a superioridade de força de um grupo social permitiu-lhe submeter um grupo mais fraco, nascendo o Estado dessa conjunção de dominantes e dominados.
 Origem em causas econômicas ou patrimoniais. Há quem pretenda que essa tenha sido a origem indicada por Platão, quando nos “Diálogos”, no Livro II de “A República”, assim se expressa: “Um Estado nasce das necessidades dos homens; ninguém basta a si mesmo, mas todos nós precisamos de muitas coisas”. E logo depois: “...como temos muitas necessidades e fazem-se mister numerosas pessoas para supri-las, cada um vai recorrendo à ajuda deste para tal fim e daquele para tal outro; e, quando esses associados e auxiliares se reúnem todos numa só habitação, o conjunto dos habitantes recebe o nome de cidade ou Estado”.
Marx e Engels teoria que sustenta a origem do Estado por motivos econômicos.
Engels, além de negar que o Estado tenha nascido com a sociedade, afirma que “é antes um produto da sociedade, quando ela chega a determinado grau de desenvolvimento”.
Gens grega
“Faltava apenas uma coisa: uma instituição que não só assegurasse as novas riquezas individuais contra as tradições comunistas da constituição gentílica; que não só consagrasse a propriedade privada, antes tão pouco estimada, e fizesse dessa consagração santificadora o objetivo mais elevado da comunidade humana, mas também imprimisse o selo geral do reconhecimento da sociedade às novas formas de aquisição da propriedade, que se desenvolviam umas sobre as outras – a acumulação, portanto, cada vez mais acelerada das riquezas: uma instituição que, em uma palavra, não só perpetuasse a nascente divisão da sociedade em classes, mas também o direito de a classe possuidora explorar a não possuidora e o domínio da primeira sobre a segunda. E essa instituição nasceu. Inventou-se o Estado.[8: DALLARI, Dalmo de Abreu. Elementos da Teoria Geral do Estado. 31. ed. – São Paulo: Saraiva, 2012, p. 63.]
 Origem no desenvolvimento interno da sociedade. O Estado é um germe, uma potencialidade, em todas as sociedades humanas, as quais, todavia, prescindem dele enquanto se mantêm simples e pouco desenvolvidas. Aquelas sociedades que atingem maior grau de desenvolvimento e alcançam uma forma complexa têm absoluta necessidade do Estado, e então ele se constitui.
	A criação de Estados por formação derivada, isto é, a partir de Estados preexistentes, é o processo mais comum atualmente, havendo por tal motivo um interesse prático bem maior nesse estudo, bem como a possibilidade de presenciarmos a ocorrência de muitos fenômenos ilustrativos da teoria.
	Há dois processos típicos opostos, ambos igualmente usados na atualidade, que dão origem a novos Estados: 
 o fracionamento: uma parte do território de um Estado se desmembra e passa a constituir um novo Estado.
Outro fenômeno, este menos comum, é a separação de uma parte do território de um Estado, embora integrado sem nenhuma discriminação legal, para constituir um novo Estado, o que ocorre quase sempre por meios violentos, quando um movimento armado separatista é bem sucedido, podendo ocorrer também, embora seja rara a hipótese, por via pacífica.
Em todos esses casos, o Estado que teve seu território diminuído pelo fracionamento continua a existir, só se alterando a extensão territorial e o número de componentes do povo, uma vez que uma parcela deste sempre se integra no Estado recém-constituído. E a parte desmembrada, que passou a constituir um novo Estado, adquire uma ordenação jurídica própria, passando a agir com independência, inclusive no seu relacionamento com o Estado do qual se desligou.
Ex.: PARÁ = estado por ser grande pensa-se em dividi-lo em 3 partes = cisão do estado.
 a união de Estados: quando esta implica a adoção de uma Constituição comum, desaparecendo os Estados preexistentes que aderiram à União. Neste caso, dois ou mais Estados resolvem unir-se, para compor um novo Estado, perdendo sua condição de Estados a partir do momento em que se completar a união e integrando-se, no Estado resultante.
 A EVOLUÇÃO HISTÓRICA DO ESTADO
 Estado Antigo (oriental ou teocrático) 
• impérios da antiguidade (Egito, Pérsia, Babilônia etc.)
• natureza unitária (família, religião, Estado, economia englobados num todo) 
• religiosidade (teocracia) 
• despotismo
 Estado Grego 
• Cidade-Estado (polis) (Ex.: Atenas, Esparta, Corinto, Tebas etc.)
• autarquia (governo e leis próprios) e auto-suficiência
• liberdade política e restrições à liberdade individual (B. Constant: liberdade dos antigos x liberdade dos modernos)
• distinção entre o público e o privado
• a Democracia Ateniense
 Estado Romano 
• fases de Roma: união das tribos, reino, república e império
• a cidadania romana 
• as instituições políticas romanas: o Senado, o Consulado, o povo, as magistraturas 
• a queda do Império Romano
 Estado Medieval 
• cristianismo 
• invasões bárbaras 
• feudalismo 
• pluralidade de ordens 
• aspiração de unidade 
• tentativas de unificação pelo Sacro Império Romano-Germânico e pela Igreja 
 
 Estado Moderno 
• influência da burguesia
• formação de Estados nacionais: afirmação do poder soberano sobre determinado território e em relação a determinado povo, prevalecendo contra a Igreja, o Império, os nobres e as cidades: soberania e territorialidade
• absolutismo 
 A conquista de um direito
A educação, a aquisição de conhecimento e a devida utilização deste permitem ao ser humano um salto evolutivo de geração a geração. Esse salto é possível, uma vez que os indivíduos de hoje aprendem teoricamente o que outros, em época anterior, aprenderam na prática, através da experiência. Tal forma de aprendizado vem facilitar e agilizar o acesso ao conhecimento. 
Além disso, o acesso ao conhecimento e, por extensão, à educação nunca foi direito da totalidade das pessoas. O que é constatado ao longo do tempo é que o conhecimento sempre foi utilizado como forma de dominação.
O que importa nesse contexto é o fato de que a importância da educação na formação do indivíduo foi reconhecida já na antiguidade, mais precisamente nas sociedades politicamente organizadas. Esse reconhecimento fez com que a educação fosse mantida como um privilégio de determinadas classes com o intuito de permitir ou facilitar a permanência das mesmas no domínio. 
Na posse do conhecimento, havia determinados escolhidos – na maioria das vezes, se não em sua totalidade - favoráveis à situação presente: nobreza no topo do sistema; os demais, a serviço dela, eram educados para conquistar, governar e dirigir. Essa forma de transmissãodo conhecimento era utilizada na Grécia bem como em Roma, como nos diz Clóvis Gorczevski (2006, p. 11), citando Carlos Rodrigues Brandão:
Precursoras da sociedade ocidental, em Roma e Grécia a educação não era diferente. Por serem sociedades escravistas, o trabalho manual era desvalorizado, enquanto o intelectual constituía privilégio da aristocracia. A diferença é que enquanto os gregos preferem a contemplação e a reflexão do mundo, os romanos voltam-se à vida prática. Mas, em ambos sistemas, só possui acesso ao conhecimento quem dispõe de vultuosas quantias.
Ao perceber que a educação poderia gerar frutos favoráveis, ou melhor, potencializar a capacidade dos indivíduos, e assim aumentar os valores existentes nos cofres do Estado, os governantes imediatamente trataram de oferecê-la na medida certa, nem mais nem menos, somente o suficiente para que cada indivíduo fosse educado para dar o máximo de si em favor do Estado e a isso aceitar. 
Salienta-se ainda a opinião de Brandão citado por Gorczevski (2006, p. 11-12):
É verdade que ainda no séc. IX a.C. em Esparta, Licurgo, percebendo a importância da educação para o Estado, transformou-a em obrigatória para crianças a partir dos 7 anos. Também em Roma, durante o Império, a educação passa a ser pública. Nos dois casos, a educação é dirigida a interesses do Estado. Enquanto o objetivo de Roma era romanizar o mundo, permitindo o acesso à cultura romana, e capacitar funcionários para a burocracia estatal, Esparta tinha como objetivo transformar o indivíduo num soldado ideal: corajoso, lutador, conquistador, obediente às leis e capaz de suportar o trabalho árduo. Em Atenas, como os escravos garantiam a sobrevivência dos cidadãos, cabia aos jovens, financeiramente favorecidos, a dedicação à política e à cultura. A democracia exigia grande habilidade com as palavras e conhecimento para gerir os negócios públicos. A escola sofista surge para atender as necessidades das classes mais abastadas. Tudo inicia, quando a riqueza da polis grega criou na sociedade estruturas de oposição entre livres e escravos, entre nobres e plebeus, aos meninos nobres da elite guerreira e, mais tarde da elite togada, a educação então passa a ser dirigida. O mesmo ocorreu em Roma quando uma nobreza enriquecida com a agricultura e o saque abandona o trabalho da terra pelo da política e cria as regras do império, a educação passa a preparar o futuro guerreiro, o funcionário imperial e os dirigentes do império.
Essas culturas, com a invasão dos povos bárbaros, sofreram a fragmentação de seus poderes e principais conceitos, momento que a igreja soube aproveitar para fortalecer seus dogmas e preceitos, aumentando sua influência e poder. Isso foi possível, uma vez que ela foi a única instituição que conseguiu manter certa unicidade.
Desde então, a educação passou a ter uma visão direcionada. Sua finalidade, a partir daí, passou a ser a salvação da alma e a busca pela vida eterna. Foi com esse jargão que o clero conseguiu infiltrar-se nas classes dominantes e manter-se entre elas. Utilizando-se da educação, não em sua forma pura, mas sim devidamente reciclada de acordo com sua finalidade máxima: manter-se no poder.
Conforme elucida Gorczevski (2006, p. 12) veio então o século XVI, período em que a sociedade européia deu início a profundas transformações que, consequentemente, prosseguiram no século XVII e XVIII.
Os fatos presentes atropelavam o modelo vigente, o que provocou profundas alterações sociais e culturais. Dentre os fatores, estão a ruptura da unidade religiosa, o auge de uma nova ciência, bem como de um novo método de conhecimento. Surge, então, o Estado Moderno e o renascimento cultural vindo a desenvolver ideias de uma cultura centralizada no homem, e não mais em Deus. 
Nesse período, marcado por altos e baixos e por certa violência, o homem moderno passou a ver a educação com mais interesse, uma vez que toma ciência da importância dela para a formação de um ser humano que estivesse de acordo com as novas visões. Como nos diz Gorczevski (2006, p. 13):
Assumindo novos paradigmas, o homem moderno, não mais preso aos dogmas medievais, volta seu pensamento às artes, à literatura, às ciências.
É neste momento, de grandes transformações, que a educação vai ocupar papel de destaque no interesse e na preocupação de intelectuais e políticos que passam a considerá-la como a ferramenta única para se transformar a natureza humana no sujeito exigido pelos novos tempos.
E tal interesse não diminuiu; ao contrário, só se fez aumentar nos círculos de filósofos e intelectuais, até que o Iluminismo transformou o século XVIII no século da educação, uma vez que aqueles que lutavam contra o que consideravam os maiores erros do homem - superstição, fanatismo, dogmas religiosos - encontraram na educação o seu instrumento mais poderoso.
Com isso, a partir da segunda metade do século XVIII, deu-se a discussão sobre a Teoria da Educação, o que fez com que ocorresse a passagem da discussão teórica para o mundo do Direito, mesmo que o status jurídico de tal Teoria fosse objeto de polêmica durante todo o século XIX, pois a educação não teve o mesmo tratamento que outros direitos e liberdades reconhecidos nas Declarações que ocorreram. Tudo porque a educação era considerada ainda um direito.
Mudanças começam a ocorrer, quando pensadores de vanguarda percebem a importância da educação para a formação do indivíduo, tendo que se voltar contra a Igreja que monopolizava a formação das elites e via com receio o acesso dos trabalhadores à educação. Assim, houve um mergulho em décadas tensas, nas quais pensadores defendiam um novo modelo, propagadores de novos tempos e havia pensadores defensores do regime antigo. No entanto, esse período acaba por não dar à educação o status de Direito, pois a mesma não era considerada uma questão de Estado.
 A evolução do conceito de educação
 A educação do homem primitivo
Na Antiguidade, a educação não era organizada e resumia-se na imitação direta do adulto pela criança. Assim, as experiências eram repassadas às novas gerações principalmente através das religiões naturais e das ciências rudimentares. Ou seja, imitando o adulto, a criança recebia a experiência e a tradição dos mais velhos e, com isso, ia se preparando para a idade adulta nessa educação prática, voltada para as necessidades básicas da vida: alimento, vestuário e abrigo.
Em tais sociedades primitivas, ao longo do tempo, começaram a surgir rituais religiosos bem como cerimônias para tais fins e, com isso, a necessidade de transmissão de tais conhecimentos, ou seja, a necessidade do ensino consciente dos rituais e mitos para poucos escolhidos, como indica Paul Monroe (1979, p. 02):
[...] como contêm explicações de mitos, lendas, dogmas religiosos, crenças científicas ou intelectuais, e ainda tradições históricas das respectivas tribos, - tais cerimônias possuem função educativa. Desta forma as gerações mais jovens vão sendo constantemente instruídas na tradição do passado, isto é, no que constitui a vida intelectual e espiritual desses povos.
Assim, começou a ocorrer a manipulação do saber, uma vez que o mesmo deixou de ser transmitido a todos os componentes das comunidades primitivas, pois os donos do saber – magos, xamãs, feiticeiros - apenas transmitiam seus conhecimentos a seus eleitos. Ou seja, os cerimoniais religiosos constituíam processos educativos diferenciados impostos aos demais de forma coerciva, cristalizando na comunidade mitos e tradições. 
O acúmulo de conhecimento e sua monopolização ocorrem quando os mestres dos cerimoniais religiosos começam a explicar os significados dos mitos e tradição apenas aos poucos escolhidos. Assim, quando foi possível a dissociação do trabalho e da sobrevivência, certa gama da sociedade primitiva não mais necessitava trabalhar para subsistir, uma vez que só eles detinham os conhecimentos dos rituais. Conseguintemente, foram-lhes transmitidos novos saberes referentes a conhecimentos especiais da sociedade, dando a esta determinadagama de “escolhidos” poder e supremacia entre seus semelhantes.
 A educação do homem antigo
Em relação ao homem antigo, cabe-nos analisar a educação dos gregos e romanos.
Na Grécia, a educação destinava-se aos homens livres, tendo como objetivo o desenvolvimento integral da personalidade, em todos os seus aspectos, e assim passou por uma evolução contínua, tendo seu auge com a criação das escolas filosóficas.
Neste contexto, duas cidades destacaram-se: Esparta e Atenas. Naquela, a educação objetivava tornar o indivíduo o soldado perfeito através de sua obediência às leis e dedicação ao corpo. Para tanto, as crianças eram retiradas de suas famílias aos sete anos de idade, sendo levadas a estudarem em escolas militares custeadas pelo Estado. Já nesta, ocorria o contrário, visto que a educação do indivíduo cabia à família, que tinha liberdade para com seu ensino para a verdade e para o belo. As escolas eram particulares e buscavam o desenvolvimento moral e intelectual, e não exclusivamente físico.
Três grandes filósofos gregos – Sócrates, Platão e Aristóteles – criaram sua doutrina educacional.
Consoante Monroe (1979, p. 61), as grandes contribuições de Sócrates para a educação podem ser resumidas nas seguintes:
1) o conhecimento possui um valor prático ou moral, isto é, um valor funcional, e conseqüentemente é de natureza universal e não individualista; 2) o processo objetivo para obter-se conhecimento é o de conversação; o subjetivo, é o de reflexão e organização da própria experiência; 3) a educação tem por objetivo imediato o desenvolvimento da capacidade de pensar, não apenas o de ministrar conhecimentos.
Na visão de José Fleuri Queiroz (2003, p. 109), para Sócrates a coisa mais valiosa para o homem era o saber. 
Utilizou-se do epigrama “Conhece-te a ti mesmo”. A virtude coincide com a Ciência e o vício com a Ignorância; quem conhece não erra e, portanto, ninguém é voluntariamente mau. Assim, a educação e a cultura são os meios de melhorar os homens, dando-lhes as noções de bem.
Ainda segundo o referido autor (2003, p. 109) para Platão, a educação era o objeto para a escolha dos homens para exercer seu dever perante um grupo social. Era o conhecimento necessário para exercer uma função que auxiliasse a sociedade.
Desta forma, Monroe (1979, p. 64) salienta esse aspecto da doutrina de Platão:
A filiação a essas classes, entretanto, não deve ser determinada por espírito algum de casta. Por meio de um sistema de educação, que descobre e desenvolve as qualificações do indivíduo para filiação na classe a que a natureza o destinou, consegue-se alcançar a virtude, no indivíduo, e a justiça na sociedade. Desta forma, e conscientemente, atribui-se à educação a mais ampla função que jamais lhe foi prescrita, pois que ela visa agora ao mais completo desenvolvimento da personalidade do indivíduo e à manutenção de uma forma perfeita de sociedade.
De acordo com Queiroz (2003, p. 110), Aristóteles considerava como fim da educação a felicidade, que seria obtida mediante o uso da razão, devendo reger a conduta. Para ele, a educação tinha como objeto fazer as pessoas virtuosas.
Já para os romanos, vale esclarecer que seu ideal sempre se ateve a uma concepção de virtude, tendo na família seu suporte indispensável e consistindo o método educacional basicamente na imitação direta dos pais e dos antigos romanos. Esse fato contribuiu para sua destruição, visto que, com a decadência do Império Romano, a nova educação ministrada pela primitiva igreja cristã foi substituindo a educação romana que, justamente pelo seu sentido prático, não conseguiu desenvolver nenhum ensinamento teórico que conseguisse subsistir à sua destruição.
 A educação do homem medieval
Com a decadência do Império Romano, deu-se a deterioração da educação, que se restringiu às classes altas da sociedade, visto que, para a sociedade em geral, não era dada nenhuma instrução, ou melhor, somente o necessário para o exercício de alguma profissão.
Roma passou a ser atacada por diversas tribos, causa principal de as escolas remanescentes estarem localizadas unicamente em territórios urbanos, uma vez que os bárbaros já haviam tomado todo o território rural.
Destarte, a única entidade que sobreviveu com alguma organização foi a igreja, visto que tal período foi marcado pela falta de poder estatal que pudesse estabelecer regras e diretrizes gerais para a sociedade. Isso porque os nobres estavam interessados em permanecer sob a proteção de seus castelos ao invés de governar as cidades. Logo, o processo de educação teve seqüência, quase que com exclusividade, dentro da igreja.
Thomas Ransom Giles (1987, p. 65-66) bem demonstra essa situação, quando menciona:
Sendo a única instituição a sobreviver à queda do Império, a Igreja encontra-se na posição de única instância capacitada para dar continuidade coerente ao processo educativo. Entretanto, a primeira preocupação da Igreja será com a preparação do próprio clero e não com a formação para profissões seculares.
Obviamente que tal processo educacional causou seqüelas que seguiram por séculos, uma vez que foram relegados ao segundo plano os aspectos intelectuais e literários, sendo o fim principal a educação religiosa. Assim, quando alguns padres/professores de idéias mais liberais davam início a estudos mais abrangentes, logo eram repreendidos pelos altos escalões que determinavam a estagnação imediata de tais ensinamentos filosóficos.
 A educação do homem moderno
Situado entre o fim da Idade Média e o início da Idade Moderna, surge o renascimento, trazendo expectativas para educação, pois tem como ideal básico o humanismo, que pode ser definido, segundo Edward McNall Burns (1989, p. 345) como:
[...] um programa de estudos que visava a substituir a ênfase da escolástica medieval na lógica e na metafísica pelo estudo da linguagem e da literatura, da história e da ética. Preferia-se sempre a literatura antiga: o estudo do latim clássico constituía o núcleo do currículo e, sempre que possível, o estudante devia passar pelo grego. Os mestres humanistas afirmavam que a lógica escolástica era demasiado árida e irrelevante para a vida prática; preferiam, ao invés, as humanidades, destinadas a tornar seus alunos virtuosos e a prepará-los para melhor servirem às funções públicas do estado.
Galileu Galilei, Francis Bacon, Descartes, Comênico e Rousseau foram os grandes nomes dessa época moderna. Segundo Giles (1987, p. 162),
[...] o homem moderno conheceu um aprofundamento do conceito de educação, embora isso não representasse, ainda, vantagens imediatas para a população, pois, por exemplo, no século XVIII, na França, ainda mais da metade da população do país permanece analfabeta.
 A educação do homem contemporâneo
Com a revolução francesa, em 1789, inicia-se o período contemporâneo e com ele se abre uma nova era para a educação e para todas as ciências.
O ponto de partida revolucionário desta nova fase vem principalmente com a máxima de que a razão humana pode alcançar a verdade sem a colaboração da Teologia, fato este que representa uma forte reação contra todo o autoritarismo até então imposto. Com isto, são abandonadas todas as formas de pensamento utilizadas no período medieval, pois se passa a acreditar nas formas científicas do pensamento e na possibilidade de o homem alcançar o seu desenvolvimento. 
Logo, o desenvolvimento pretendido pelo Iluminismo tende a abranger o ser humano em todos os seus aspectos, buscando, através da razão, abandonar os erros do passado, reformando instituições e assim gradativamente chegar a uma ordem social mais harmoniosa.
Assim, ao abandonar o modelo engessado utilizado pela igreja com fins exclusivamente de se manter no poder, a educação passa/deve refletir uma escola realmente formadora de indivíduos críticos e conscientes de que possam contribuir para uma sociedade melhor e mais justa.
A educação, portanto, deve ser vista como um direito que tem o indivíduo de se desenvolver integralmente e, consequentemente, umaobrigação para com a sociedade de proteger esse desenvolvimento mediante ações efetivas e concretas.
Para Monroe (1979, p. 362),
Do ponto de vista sociológico a educação é o processo de assegurar a estabilidade e o melhoramento da sociedade. A teoria sociológica da educação acentuou a importância da seleção adequada do conteúdo educacional como principal meio de preparar o indivíduo para a vida social e trouxe, como resultado, a educação universal a gratuita. Todos aqueles que promoveram o aspecto prático da tendência psicológica, contribuíram para o ponto de vista sociológico dando especial relevo ao objetivo moral ou social da educação.
Por fim, avalia-se a valoração dos interesses e opiniões utilizados no processo de aprendizado educacional. Antes das modificações advindas com a contemporaneidade, a educação dos mais jovens era regrada de acordo com os interesses dos adultos, ignorando-se as necessidades e opiniões das crianças e adolescentes, fato esse que se tornava prejudicial, visto que não permitia um desenvolvimento completo através da busca de conhecimentos, que, embora pareçam insignificantes, na verdade são fundamentais para a formação do caráter. Já de acordo com a nova visão, passa-se a observar o que realmente contribui para a formação de pessoas humanizadas, críticas e conscientes, sendo que a educação a partir de então passou a ser organizada de forma que coincidisse com as necessidades e opiniões das faixas etárias correspondentes.
 BREVES APONTAMENTOS SOBRE A EVOLUÇÃO HISTÓRICA 
DO SURGIMENTO DO ESTADO
 A PRIMEIRA MANIFESTAÇÃO DO ESTADO MODERNO: ABSOLUTISMO
 Considerações iniciais sobre o Absolutismo
O Estado Absolutista é derivado do enfraquecimento do poder espiritual da Igreja e da emergência do individualismo exacerbado, resultado das ideias humanistas e do movimento renascentista. Os reis intitulavam-se como representantes divinos e agiam de acordo com a teoria de que os atos de poder não estavam suscetíveis a freios morais.
Nesse contexto, não se pode olvidar que o absolutismo constitui a consolidação histórica do Estado, tal como entendemos hoje, um poder centralizado, secularizado, burocratizado, dotado do monopólio exclusivo da coação física, mediador de conflitos, dentre outras características.
Isto se deve, sobretudo, ao fato da própria burguesia clamar pela centralização política e administrativa, eis que ela desejava a unificação do Estado Nacional, contribuindo sobremaneira para a consolidação do Estado Moderno. Paradoxalmente, a mesma burguesia que teve papel primordial para tanto, vai ser responsável dois séculos mais tarde, pela sua destruição com o consequente surgimento do Estado Liberal.
	
 Reflexão sobre a gênese do Estado Moderno
Deficiências da sociedade política medieval determinam as características fundamentais do Estado Moderno.
Dentro do seu governo tem-se: TERRITÓRIO
	 POVO
 GOVERNO SOBERANO
Como surge o Estado Moderno Segunda metade do Séc. XV
1.º Permeado pelo Estado Absolutista e as Reformas Protestantes (Martinho Lutero na Alemanha) (base para origem do capitalismo)
			
Capitalismo foi uma diferença entre a Igreja Católica (condenava o lucro) e a Igreja Protestante (defendia o lucro).
Monarquias – questão do divino – Deus é que dava o poder aos monarcas (poder centralizado).
O poder do governo dividido entre Príncipe e o Clero.
 Henrique VIII separou-se do 1.º matrimônio, para casar-se com Ana Bolena. Após 9 meses assassinou-a, alegando traição e bruxaria, casando-se mais 7 vezes.
 Luis XIV: “O Estado sou eu”. O poder que me foi dado é divino. Eu sou o Executivo, Legislativo e Judiciário.
Finalidade do Estado Moderno: a vida boa = bem comum.
ESTADO MODERNO DE ALEXANDRE GROPALLI
O Estado é uma entidade jurídico-social constituído pelo povo sob um governo soberano estabelecido dentro de um espaço territorial delimitado.
SOBERANIA E ESTADO MODERNO
Final do Séc. XVI aparece no final deste século justamente com o Estado para indicar sua plenitude ao poder estatal, sujeito único e exclusivo da política.
Tal conceito possibilita ao Estado Moderno, mediante sua lógica absolutista interna, impor-se à organização medieval ao poder, baseada, por um lado, nas categorias e nos Estados e, por outro, nas duas grandes coordenadas universalistas representados pelo papado e pelo império. Ocorre em decorrência de uma notável necessidade de unificação e concentração de poder.
 A autonomização do político como condição à construção do Estado: Maquiavel
Nicolau Maquiavel (1469 – 1527), italiano de Florença.
Infância marcada pela instabilidade dos governos.
Trabalhava no Tesouro de Florença, um estudioso que morreu frustrado pelo que escreveu. Os médices detinham o poder na Itália, quando o governo deles cai. Maquiavel é considerado traidor, sendo preso, torturado e banido. Morre na pobreza. Cidadão sem fortuna.
Anarquismo = sociedade corrompida, instável e caos. É necessário a existência de um príncipe virtuoso, justo República. (desvinculamento das questões religiosas)
Mulher deusa da fortuna príncipe respeitado por uma nação precisa de um homem forte, viril e com força política. Bem comum para a formação da coisa pública.
 O Estado como construção hipotética: Hobbes
Nasceu de parto prematuro, quando os invasores fugiram da invasão da Espanha no Ducado de Cornualha, Inglaterra. Diria ele que ao nascer sua mãe partiu gêmeos “Eu e o Medo” (paradoxalmente o Medo e a Esperança vivem juntos). Viveu intensivamente os momentos cruciais das revoluções da Dinastia dentro da Inglaterra. Teve problemas advindos com a aliança da Igreja Católica.
Para Hobbes, o estado de natureza humana sem o Estado, mesmo sendo em sociedade, rompendo com o até então sustentado, se não temos a presença artificial do Estado, é uma condição de guerra. A melhor defesa seria o ataque (sem o Estado não há uma organização de conduta = desconfiança).
 A SEGUNDA MANIFESTAÇÃO DO ESTADO MODERNO: LIBERALISMO
Conceituação do Estado Liberal
Durante a vigência absolutista a soberania estatal ficava adstrita à pessoa do Monarca e os diretos individuais ficavam reduzidos a pactos como a Carta de João Sem Terra, de 1215 na Inglaterra.
Com a independência das 13 Colônias Inglesas da América em 1776 e a edição da primeira Constituição escrita do mundo, a Constituição dos Estados Unidos de 1787, veio a universalizar-se a tese de que o Estado deve ser subordinado a uma Lei Fundamental, garantidora dos Direitos Individuais e limitadora dos poderes do Estado. Cumpre ressaltar que a Constituição, nesse contexto, passou a assegurar a divisão de poderes e garantir os direitos fundamentais de 1ª dimensão.
Esta nova visão acaba invertendo a ótica pela qual se concebia o poder político, uma vez que a separação entre Estado e sociedade traduzia-se em garantia de liberdade individual. Neste modelo, portanto, o “Estado deveria reduzir ao mínimo a sua ação, para que a sociedade pudesse se desenvolver de forma bastante harmoniosa”. Há um predomínio claro do Poder Legislativo em relação aos outros poderes.[9: 	SARMENTO, Daniel. Direitos Fundamentais e Relações Privadas. Rio de Janeiro, Lúmen Júris, 2004, p. 28.]
Dentro deste paradigma, os direitos fundamentais foram arquitetados como direitos públicos subjetivos de 1ª dimensão (ou 1ª geração), oponíveis apenas perante o Estado. Portanto, no âmbito do direito público, os referidos direitos acabaram concebidos como limites à atuação dos governantes, em prol da liberdade dos indivíduos. Enquanto que no plano privado, o princípio fundamental era o da autonomia da vontade.[10: 	 Podemos dizer, ainda, que os direitos de 1ª dimensão são os direitos de liberdade, onde não há a intervenção do Estado (direitos negativos)][11: GERAÇÕES OU DIMENSÕES DE DIREITOSPrimeira geração Diz respeito aos direitos da pessoa humana inerentes à defesa contra abusos do Estado: vida, liberdade, propriedade.Segunda geração Direitos de receber prestação(ajuda) do Estado. Fazem parte os direitos econômicos, sociais e culturais: educação, saúde, moradia. São os direitos sociais dos artigos 6º e 7º da CF.Terceira geração Direitos coletivos e difusos, também chamados direitos de solidariedade e fraternidade: meio ambiente, qualidade de vida, paz, autodeterminação dos povos, defesa do consumidor, da criança, do idoso.Quarta geração São os novos direitos sociais decorrentes da evolução da sociedade e da globalização. Para Paulo Bonavides, são direitos à democracia, à informação e ao pluralismo. Direitos da informática estão neste grupo.Quinta geração Envolvem questões relacionadas à biotecnologia, biociência, clonagem, eutanásia, estudo de células tronco, ou seja, biodireito e questões controvérsias da bioética.]
A perspectiva em comento manifestou-se em nossas Constituições de 1824 a 1891. No entanto, segundo alguns autores, “o Brasil jamais vivenciou o liberalismo em sua pureza, já que nossa economia, desde os primórdios, sempre gravitou em torno de um Estado Cartorial”[12: Ibidem, p. 30]
 A emergência do constitucionalismo: o Estado Constitucional
 O Constitucionalismo pode ser entendido sob vários aspectos. Genericamente pode-se dizer que consiste no ideário de força filosófico-política que garante a supremacia absoluta do Poder Constituinte como forma de estruturação e manutenção de uma Constituição garantidora das instituições de um Estado, bem como, reguladora e organizadora daquela comunidade.
 Cabe salientar a definição que trata dos quatro aspectos do Constitucionalismo: 
Numa primeira acepção, emprega-se a referência ao movimento político-social, com origens históricas bastante remotas que pretende, em especial, limitar o poder arbitrário. Numa segunda acepção, é identificado com a imposição de que haja cartas constitucionais escritas. 
Tem-se utilizado, numa terceira acepção possível, para indicar os propósitos mais latentes e atuais a função e posição das constituições nas diversas sociedades. Numa vertente mais restrita, o constitucionalismo é reduzido à evolução histórico-constitucional de um determinado Estado. 
Desta forma, é possível se depreender que o Constitucionalismo é a forma pela qual um povo dá credibilidade total à matéria constitucional em, por consequência, à sua Constituição.
Na Idade Contemporânea, o constitucionalismo é chamado de “totalitarismo constitucional” que significa que a Constituição tem caráter programático ou dirigente (segundo Canotilho). Isto quer dizer que a Constituição coloca normas programáticas que são metas a serem cumpridas pelo Estado.
 Separação de poderes do Estado: Montesquieu
Montesquieu (1689-1755) é considerado o “pai da sociologia” por ter sido o primeiro a criar uma teoria das “formas de governo” a partir do problema de saber qual a “base social” dos diferentes regimes, questão desdenhada tanto por Aristóteles quanto por Maquiavel. O pensamento de Montesquieu permanece atrelado à problemática própria da “filosofia política”, aqui chamada de filosofia social “generalista”. Ainda que lhe faltasse a intenção de fundar uma “ciência sociológica”, com objeto e método próprios, pode-se dizer que Montesquieu foi o primeiro a introduzir a “problemática” propriamente sociológica, ao relacionar as formas de governo com a “base social” sem a qual as mesmas não poderiam prosperar.
Em O espírito das leis, Montesquieu pretendia estabelecer leis científicas sobre o comportamento da sociedade, entendo por “leis” as “relações necessárias que derivam da natureza das coisas”.
Montesquieu As leis de Montesquieu relacionam as diferentes “naturezas” dos regimes políticos aos seus respectivos “princípios”, entendendo-se princípios como “os sentimentos populares fundamentais sem os quais os governos não podem prosperar”.
Para Montesquieu, as formas de governo são três, a monarquia, a república e o despotismo. Na monarquia, na qual um só homem governa com base em leis escritas, havendo distinções de direito (nobreza), o princípio que vigora é a “honra”, isto é, o amor à posição social. Na república (que pode ser tanto democrática quanto aristocrática), na qual várias pessoas governam com base em leis escritas, sendo todos iguais perante a lei, o princípio que vigora é a “virtude”, ou seja, o amor às leis e às instituições. Por fim, no despotismo, onde um só governa, sem lei, sendo todos iguais na submissão ao déspota, o princípio que vigora é o medo.
Montesquieu dizia que apenas um grande acaso faria com que as instituições de um país viessem a funcionar noutro. A ideia de relacionar a cultura popular ao tipo de instituições políticas ou de economia praticadas em um país, perquirindo-se pela compatibilidade ou não destas dimensões, foi, possivelmente, a principal contribuição de Montesquieu para a ciência sociológica posterior. Hoje, nos países do chamado terceiro mundo, são bastante significativas as pesquisas que se perguntam sobre a forma assumida pelas instituições européias importadas. Apesar de Montesquieu ser considerado por muitos como o “pai da sociologia”, ele sequer conhecia a palavra.[13: Por exemplo, Rayond Aron e Francisco Weffort.]
 TRANSFORMAÇÃO DO LIBERALISMO: ESTADO DO BEM-ESTAR SOCIAL (WELFARE STATE) 
 A transformação dos papéis do Estado 
 A noção do Estado do Bem-estar social 
Apesar dos progressos realizados pelo Estado Liberal, o fato é que após a Revolução Industrial, surge uma nova classe, qual seja a do proletariado que acaba clamando por novas demandas. Dessa forma, houve a necessidade do redesenho do Estado e de suas funções ante a existência de duas classes conflitantes (burguesia e proletariado). 
Há, nesse contexto, uma ampliação de direitos políticos, com uma consequente democratização política. Surge, então, na virada do século XX, o chamado, Estado de Bem-Estar Social, juntamente com a consagração constitucional de uma gama de direitos que exigem prestações do Estado, no intuito de garantir algumas condições mínimas de vida para a população.
Esses direitos vão ser incorporados a partir da Constituição mexicana de 1917 e da Constituição de Weimar de 1919. Agora, além do Estado se preocupar com a liberdade do indivíduo, preocupa-se, também, com o bem-estar de seu cidadão. 
Aliás, é no Estado de Bem-Estar Social que se dá a positivação dos direitos sociais, econômicos e culturais, ou seja, daqueles direitos característicos de segunda dimensão (geração). Estes direitos impõem ao Estado o cumprimento de prestações positivas, onde o Estado deve intervir na economia e fornecer condições materiais para a sua concretização.
Todavia, há que se destacar que os direitos sociais ensejam maiores dificuldades para a sua concretização, tendo em vista, sobretudo, o fato da carência de recursos públicos, o que levou a afirmação da existência em direitos sociais da chamada “reserva do possível”, uma vez que sua realização encontra óbice em limites, muitas vezes, insuperáveis.
Em razão disso, durante boa parte do século XX, negava-se a possibilidade de tutela judicial desses direitos consagrados nas Constituições, o que significa dizer que não se aplicavam tais normas porque elas eram meramente programáticas e, dessa forma, não possuíam efetividade.[14: Ibidem, p. 39.]
No contexto desse paradigma, há uma inflação legislativa, ou seja, a estabilidade das normas é substituída pela efemeridade, o que acarreta a insegurança jurídica. Aqui, há o predomínio do Poder Executivo em relação aos demais poderes, pois é ele quem vai instrumentalizar a interferência do Estado na economia.
Nesse diapasão, torna-se fundamental trazermos à baila os ensinamentos de Sarmento sobre as alterações sofridas no perfil do Estado.[15: Ibidem, p. 40.]
No afã de conformarem a realidade social, as constituições passam a valer-se com freqüência de normas de conteúdo programático, que traçam fins e objetivos a serem perseguidos pelo Estado, sem especificar, de modo suficientemente preciso, de que modo os mesmos devem ser atingidos. Elas não mais se limitam à disciplinado fenômeno estatal, passando a cuidar também da ordem econômica e das relações privadas. O direito constitucional penetra em novos campos, fecundando-os com seus valores. A Constituição, em suma, não é mais a “Lei do Estado”, mas o Estatuto Fundamental do Estado e da Sociedade.
Dessa forma, por fim, acontece no Estado Social a publicização do direito privado, razão pela qual, vários institutos sofreram alterações significativas, pois ao invés da autonomia da vontade, por exemplo, sobrepõem-se os interesses de proteção de uma população que aguarda providências e prestações estatais.
A partir do colapso do petróleo em 1973, instaura-se uma crise no Estado de Bem-Estar Social (Welfare State). O Estado encontra-se com grandes dificuldades de execução de suas tarefas, devido ao surgimento de novos fatores, como o desemprego, a globalização, a grande expansão tecnológica e capitalista, dentre outros.
Assim, surge o Estado Democrático de Direito como reação às anomalias do Estado do Bem-Estar Social. Nessa órbita, as constituições passam a incorporar uma função eminentemente principiológica, de textura aberta.
 O DIREITO E O ESTADO NO PENSAMENTO DE KARL MARX
Dentre os “pais fundadores” da sociologia, Karl Marx (1918-1883) é sem dúvida o mais controverso e aquele que mais suscitou filiações político-ideológicas para além das intenções teórico-científicas. Seu pensamento é extremamente complexo e oferece as diretrizes conceituais para a superação de algumas das questões mais difíceis da nova ciência, especialmente a polaridade estrutura/ação. Todavia, o uso político da teoria (científica?) de Marx – inclusive por ele mesmo – aparece constantemente como um aspecto desabonador. As críticas que desacreditam o pensamento marxista baseiam-se, sobretudo, num paradigma científico tradicional – talvez positivista – para o qual a ciência deveria estar isenta de juízos de valor, concepção que rechaça de plano as pretensões de uma ciência que se pretende engajada numa práxis. Por fim, com maior razão, os cientistas sociais em geral, inclusive os marxistas, insurgem-se contra o reducionismo a que a filosofia marxista é e foi submetida, especialmente pelo uso semidouto dos intelectuais de esquerda.
A questão da (im)possibilidade de uma ciência engajada ainda não está bem resolvida. Escolas de pensamento herdeiras de Marx e ainda muito em voga nos meios acadêmicos, tais como a chamada Escola de Frankfurt e o pensamento do próprio Habermas, proclamam vivamente a urgência de uma “teoria crítica”. Por outro lado, a grande maldição do marxismo – capaz de comprometer definitivamente a possibilidade da prática de qualquer “ciência” marxista – ainda parece ser o reducionismo implacável a que o marxismo esteve exposto, vinculado ao (ab)uso político dos seus métodos e conceitos, principalmente nos países em que o “campo científico” não conseguiu autonomizar-se do jogo de forças político (e este é exatamente o caso do Brasil). Por fim, estas críticas, fundamentadas ou não, não anulam a significativa contribuição que Marx emprestou à sociologia, resolvendo problemas complicados e propondo importantes direções para a pesquisa futura.
Em primeiro lugar, é preciso situar Marx no campo da sociologia. Já foi dito que a intenção principal dos primeiros “sociólogos” era fornecer um diagnóstico da “sociedade moderna”, o que os pensadores fizeram de diversas maneiras. Primeiro, Comte caracterizava a sociedade moderna como uma sociedade científica e industrial, em oposição à sociedade pré-moderna que era teológica e militar. Depois, Durkheim caracterizava a sociedade moderna pelo elevado grau de diferenciação social e pela organicidade da solidariedade social, em oposição à sociedade pré-moderna, indiferenciada e de solidariedade mecânica. Max Weber, por sua vez, pretendeu identificar o traço característico da modernidade na crescente “racionalidade”, que nunca esteve tão presente em outras sociedades quanto na moderna sociedade ocidental. Marx, por fim, entendeu que o traço fundamental da sociedade moderna era a nova economia capitalista, em oposição às economias feudais e escravocratas do medievo e da antigüidade. Portanto, pode-se dizer que o principal tema de pesquisa de Karl Marx é a moderna sociedade “capitalista”.
É preciso entender que não é possível classificar o pensamento de Marx através das categorias básicas usadas ordinariamente para comparar autores como Weber e Durkheim (explicação/compreensão, ação/estrutura, etc.). Quanto à oposição entre os termos “estrutura” e “ação”, se pode dizer que a sociologia de Marx pende mais a um tipo de “estruturalismo” materialista, na medida em que explica a dinâmica social através do conflito entre as diferentes classes econômicas, situadas em diferentes e antagônicas posições na estrutura de produção da riqueza material. Neste sentido, a “determinação econômica” da consciência pode ser aproximada, com alguma utilidade teórica, ao conceito de “fato social” durkheimiano. O fato econômico pode ser considerado, neste esforço, como uma espécie do “arbitrário social”, entendido aqui num sentido muito geral como sendo aqueles pensamentos, sentimentos e ações que se impõe aos indivíduos pelo simples fato de estarem em grupo (e, neste caso – veja-se bem – trata-se de grupos de estatuto econômico, ou seja, classes sociais). Todavia, o movimento filosófico de aproximação dos pensamentos de Durkheim e de Marx, embora possível e útil, era totalmente estranho às intenções teóricas de Marx. Marx simplesmente desconhecia a discussão propriamente sociológica sobre o “arbitrário social”, discorrendo sobre outra natureza de problemas teóricos e tendo em mira outros interlocutores, especialmente os filósofos hegelianos (Proudhon, Feuerbach, etc.) e os economistas clássicos (Smith, Mill, Ricardo, etc.). Poderíamos lembrar que, ao lado de uma teoria da “ideologia” e da “conservação” social, o marxismo inclui também uma teoria da “revolução” que implica numa certa teoria da “ação coletiva”. Portanto, classificar a sociologia de Marx em termos de “estruturalismo” e de “associacionismo”, como se fossem pólos radicalmente opostos da explicação, é extremamente problemático.
Além disso, a tentativa de classificar Marx através da oposição entre os termos “compreensão” e “explicação” também não apresenta menores dificuldades. A visão de que a consciência dos homens é determinada pela sua existência material, envolvendo a ação de mecanismos superestruturais e ideológicos do qual os indivíduos podem não estar conscientes, implica num certo tipo de “sociologia explicativa”. Todavia, a idéia – tantas vezes proclamada por Marx – de que a classe operária tomaria “consciência” de sua condição e transformar-se-ia no sujeito da transformação histórica implica, por sua vez, numa certa “sociologia do conhecimento” que é, neste sentido, “compreensiva”. Em todo o caso, a obra de Marx é mais antiga (cronologicamente inclusive) do que a própria discussão que pautou a fundação e a consolidação da ciência sociológica e, portanto, desconhece em absoluto as categorias “compreensão” e “explicação”. A dialética, concebida por Marx como o único método verdadeiramente científico, é inclassificável em termos de explicação-compreensão.
Marx considerava que a principal característica da moderna sociedade era o “modo capitalista de produção”. Marx observa que o “capitalismo” produz duas coisas que lhe são bastante peculiares, a “mais-valia” e a “mercadoria”, inexistentes em todos os outros modos de produção. Não se compreende a dinâmica do sistema capitalista sem o estudo da produção da mais-valia e da mercadoria, bem como da ideologia burguesa que legitima e garante a sua produção. Antes, porém, de apresentarmos as características da teoria da “ideologia” presente em Marx, precisamos apresentar os fundamentos filosóficos do seu sistema, principalmente o “materialismo histórico” e o “método dialético”.
Marx diz: “Na produção social da própria existência, os homens entram em relações determinadas, necessárias, independentes de

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