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CONSTIPAÇÃO INTESTINAL EM PEDIATRIA NUTRIÇÃO EM PEDIATRIA MATERIAL DIDÁTICO AULA 5 Objetivos da Aula Conceituar constipação intestinal na infância; Identificar as características da constipação intestinal funcional na infância; Conhecer a dietoterapia para constipação intestinal; Realizar orientações nutricionais para constipação intestinal. Perguntas... O QUE É CONSTIPAÇÃO INTESTINAL FUNCIONAL? QUAIS AS SUAS CAUSAS? QUAL O TRATAMENTO? Introdução Afeta 0,3 a 8% da população pediátrica e muitas vezes é ignorada ou tratada de forma incorreta; Em consultas pediátrica corresponde de 3 a 5% de casos; Em Serviços de Gastroenterologia Pediátrica corresponde a 20,0 a 25,0% das consultas. Conceito Constipação: Eliminação de fezes duras, na forma de cíbalos, seixos ou cilíndricas com rachaduras, dificuldade ou dor para evacuar, eliminação esporádica de fezes muito calibrosas que entopem o vaso sanitário ou freqüência de evacuações inferior a três por semana, exceto em crianças em aleitamento natural(eliminação sem dor mas com intervalos de até 7 dias). Conceito Caracterizada por evacuações dolorosas e pouco frequentes, escape fecal (o reto constantemente ocupado pelas fezes leva, desta forma, a uma incontinência fecal por escape de parte líquida das fezes, cada vez que a criança tenta eliminar gases)e dor abdominal. Provoca grande transtorno para a criança e sua família e pode mesmo resultar em graves distúrbios emocionais, inclusive com desarmonia familiar. Classificação • Pseudoconstipação do lactente em aleitamento natural: ocorrência de evacuação de fezes macias em freqüência menor que 3 por semana • Escape fecal (soiling): perda involuntária de parcela do conteúdo fecal por portadores de constipação crônica, conseqüente a fezes impactadas no reto. • Encoprese: ato completo da defecação, em sua plena seqüência fisiológica, porém em local e/ou momento inapropriado, em geral, secundária a distúrbios psicológicos. Classificação • Incontinência fecal: Falta de controle do esfíncter decorrente de causas orgânicas , sendo : Aguda: durante ou após mudança do hábito alimentar/ambiente, uso de drogas constipantes, redução da atividade física, e convalescença de doença (infecciosas). Crônica: maior do que duas semanas e classifica- se em Orgânica e Funcional Causas Orgânicas Causas neurogênicas: doença de Hirschsprung (anomalia congênita), pseudo-obstrução intestinal crônica, desordens do sistema nervoso central (SNC) como: meningomielocele, tumor, paralisia cerebral e hipotonia (diminuição do tônus muscular e da força, condição ligada à paralisia infantil.). Causas anais: fissuras, ânus anteriorizado(estreito), estenose e atresia anal(afecção congênita, na qual não há abertura anal). Causas endócrinas e metabólicas: hipotireoidismo, acidose renal , doença celíca e hipercalcemia. Uso de drogas: metilfenidato (SNC), fenitoína(convulsões), imipramina(antidepressivo), fenotiazina(antipsicóticos), antiácidos e medicamentos contendo codeína (presente em analgésicos). Causas Funcionais São aquelas em que o fator etiológico é desconhecido. Segundo descrições da literatura, correspondem a 95% das constipações apresentadas pelas crianças. - Decorrente das mudanças alimentares(lactente com uso de alimentos com pouco resíduo na alimentação complementar); - Não atendimento ao reflexo da defecação(vontade), por dar prioridade as atividades de lazer, ou não gostar de utilizar o banheiro fora de casa; - Causa Psicogênica – a criança passa a ter medo da hora de evacuar pelo desconforto e dor que o ato acarreta por estar constipada Cont. Causas Funcionais Multifatorial = não completamente esclarecida. Comportamento de retenção = provavelmente a causa mais importante. Pode ser desencadeado por uma produção prévia de fezes de grosso calibre e endurecidas, que causam dor para evacuar e, consequentemente, provocam o surgimento de fissura anal. Fissura anal = pode ser a causa primária desencadeante do mecanismo de retenção fecal → pode ter seu início em uma resistência por parte da criança em utilizar outro vaso sanitário. Causas Funcionais Etiologia: ◦ Fatores hereditários ou constitucionais ◦ Hábitos de vida: desmame, alergia ao leite de vaca, baixo consumo de fibras vegetais, sedentarismo, negligência do reflexo da evacuação, viagens e hospitalizações. ◦ Ocorrência de episódios de evacuações dolorosas ◦ Distúrbios emocionais ◦ Distúrbios da motilidade intestinal: obstrução da via de saída, obstrução distal(passagem dificultada), inércia colônica(retardo no movimento da matéria fecal) Causas Funcionais Apresentação clínica Fezes ressecadas, desde cíbalos até muito volumosas Intervalo variável Lactentes(a partir de 28 dias até 2 anos): durante o desmame, eliminação de fezes secas, não muito volumosas e acompanhada de dor Crianças menores: evacuações acompanhadas de desconforto, gritos e manobras para reter as fezes Cont. Apresentação clínica Dor abdominal recorrente, vômitos, Náuseas, cefaléia, flatulência e indisposição e sangue nas fezes; Infecções urinárias de repetição, retenção urinária e enurese noturna(emissão involuntária de urina- xixi na cama) – O reto dilatado pode comprimir a bexiga e favorecer um esvaziamento urinário incompleto favorecendo infecções urinárias. Anorexia ou hiporexia (perda ou ausência de apetite ) – a retenção de fezes no reto ocasiona demora nos reflexos neurais de esvaziamento gástrico e do trânsito do int. delgado levando a diminuição do apetite) Cont. Apresentação clínica Exame físico: Distensão abdominal Massa fecal palpável no abdome Fissura anal Fezes impactadas no reto Causas Funcionais Evolução Manejo inadequado de um problema agudo. Atitude da criança (prender) – Inicia com a passagem de fezes endurecidas, ressecadas, em cíbalos – leva a dor – Leva a retenção de fezes na tentativa de evitar desconforto- leva o reto acomoda o conteúdo fecal - e a urgência para defecar passa. O ciclo se repete e agrava - choro e grito às evacuações – seguidas de contração dos músculos glúteos e anais, extensão do corpo, recusa de se sentar no vaso sanitário e várias outras manobras com a finalidade de evitar a evacuação. Tratamento na fase aguda Correção de fatores precipitantes Tratamento sintomático. Aumento do aporte de fibras na dieta. Utilização de laxativos por períodos curtos (3-4 dias). Raramente, necessita-se do uso de enemas(soluções) ou supositórios. Tratamento na fase crônica Tratamento clínico em quatro fases: 1. Educação; 2. Desimpactação; 3. Prevenção de reacumulação de fezes; 4. Recondicionamento para hábitos intestinais normais. Tratamento na fase crônica 1. Educação: Abordagem não acusatória dos pais e profissionais da saúde. Fornecer informação detalhada a respeito da prevalência e dos sintomas. Importante explicar aos pais e, quando possível à criança, a respeito da etiologia do escape fecal = produção de fezes amolecidas e/ou semilíquidas, decorrente da existência do bolo fecal impactado no reto, o qual provoca a produção de uma secreção serosa pela mucosa retal,que arrasta pequenas quantidades de material sólido dos bordos do bolo fecal. Tratamento na fase crônica 1. Educação: Cont. Exercícios físicos devem ser estimulados e o pé no chão realiza uma prensa abdominal Todas as crianças com idade de 4 anos devem ser instruídas a tentar evacuar no vaso sanitário durante 5 a 10 minutos depois de cada refeição (2x ao dia) – Há um reflexo gastrocólico que desencadeia a evacuação Aconselhamento dietético ◦ Lactente = 150 ml/kg/dia de líquidos. ◦ Crianças sadias pesando 10 kg ou mais = de 1.000 a 1.500 ml/dia. ◦ Ingestão de fibras para crianças acima de 2 anos = idade em anos, acrescida de 5 g/dia (por exemplo: uma criança de 7 anos de idade deve ingerir 12 g/dia de fibra). Tratamento na fase crônica 2. Desimpactação: Tratamento da constipação se torna menos eficiente caso a impactação fecal não seja inicialmente tratada. A realização da desimpactação fecal previamente ao início do tratamento de manutenção, por meio do uso de laxantes orais ou retais, é recomendada para aumentar a taxa de sucesso e reduzir o número de episódios de escapes fecais. Lavagens intestinais Tratamento 3. Prevenção da reacumulação de fezes Uso de laxativos: óleo mineral, leite de magnésia e a lactulona(laxante), na dose de 1-2ml/Kg/dia, uma a duas vezes ao dia. As crianças que estiverem no processo de treinamento do controle esfincteriano devem permanecer recebendo laxantes até que este processo esteja bem estabelecido. Os laxantes não devem ser suspensos abruptamente, mas as doses devem ser gradualmente reduzidas durante um período de alguns meses, desde que haja resposta positiva quanto à frequência das evacuações e a consistência das fezes. Tratamento 4. Terapia comportamental A terapia comportamental sempre deve vir acompanhada do uso de laxantes por via oral, cujo objetivo é o de reduzir o nível de estresse e, além disso, desenvolver ou restaurar os hábitos intestinais normais por meio de um reforço positivo. Indicação de tratamento com psicólogos somente naquelas crianças que apresentam graves problemas emocionais. Além disso, a terapia comportamental pode ser de grande valia nas crianças cuja terapia com laxantes tenha fracassado. Tratamento Fatores envolvidos na resposta terapêutica à constipação: Problemas psicológicos Nível sócio-econômico e cultural Complacência ao tratamento (disposição) Gravidade da constipação Anormalidades no funcionamento dos esfíncteres anais interno e externo Alterações na contratilidade e sensibilidade retais. Doença de Hirschsprung Introdução Dr. Hirschsprung - sua pesquisa que foi importante à sociedade mundial, com o estudo da patologia Megacólon Congênito, buscando aprimorar as técnicas e a qualidade de vida dos pacientes portadores. A doença de Hirschsprung é uma anomalia congênita que tem como característica a ausência de neurônios em uma porção do intestino, no caso o cólon, geralmente afeta as regiões mais distais do mesmo, e é observado por meio do atraso de 48 horas do mecônio (primeira eliminação fecal do neonato * neonato – corresponde do nascimento até o 27°dia. Introdução Anomalia congênita; Ausência dos neurônios intramurais dos plexos nervosos parassimpáticos Oito genes envolvidos; Síndrome de Down (10%); Causa multifatorial 1:5000 nascidos vivos; Intestino grosso, em geral, reto e o cólon sigmóide. Pode acometer todo o intestino, e raramente o intestino grosso e delgado. Pode estar associado com anormalidades neurológicas, cardiovasculares, urológicas e gastrintestinais. Introdução Características Distensão abdominal que ocorre logo após o nascimento, com presença de vômitos e retardo de mais de 48 horas na passagem do mecônio (primeira eliminação fecal do neonato), sem que haja um fator mecânico obstrutivo reconhecido de imediato. Sintomas da Doença de Hirschsprung Neonatos e crianças menores Vômitos biliosos Diarréia associada a enterocolite Não eliminação de mecônio nas primeiras 24h de vida Evacuações infrequêntes; explosivas; difíceis. Icterícia Hiporexia(diminuição do apetite) Distensão abdominal progressiva Esfíncter anal hipertônico ampola retal vazia Crianças maiores Constipação crônica progressiva, geralmente com início precoce Impactação fecal Déficit de crescimento Desnutrição Distenção abdominal progressiva Complicações Enterocolite (inflamação da mucosa dos intestinos delgado e grosso) Perfuração intestinal Transtornos hidroeletrolíticos Desnutrição crônica Atraso do crescimento Anemia Enteropatia (doença do trato intestinal )perdedora de PTN Episódios repetidos de oclusão(fechamento) e suboclusão intestinal (entupimento) Tratamento Clínico: aporte hidroeletrolíticos e esvaziamento do cólon por irrigação com enemas(solução) salinos mornos Cirúrgico ◦ Momento: logo após diagnóstico ◦ Objetivos - Permitir evacuação normal e assegurar funções urinárias e sexual adequada ◦ Procedimento: recomendações com colostomia prévia, no cólon transverso ou no sigmóide, logicamente no segmento inervado, e o tratamento definitivo posteriormente. ** Colostomia - procedimento cirúrgico - abertura na parede abdominal e ligar uma terminação do intestino, pela qual as fezes e gases passam a ser eliminados. Acopla-se uma bolsa adesiva, coletora dos produtos intestinais. REFERÊNCIAS CARVALHO, E, e cols. Gastroenterologia e nutrição em pediatria. Manole, 2012. P.466- 493 PALMA, D. e cols. Nutrição clínica na infância e adolescência. Guias de Medicina Ambulatorial e Hospitalar da UNIFESP- EPM. Manole. P.493-512.
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