Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
1 CENTRO UNIVERSITÁRIO TUPY - UNISOCIESC JAISON JOSÉ DE PICOLI ESTUDO DO EFEITO DO NÍQUEL NA CARACTERIZAÇÃOMICROESTRUTURAL DE AÇOS BAINÍTICOS ISENTOS DE CARBONETOS Joinville 2014/1 2 JAISON JOSÉ DE PICOLI ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E MICROESTRUTURAL DE AÇOS BAINÍTICOS ISENTOS DE CARBONETOS Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Centro Universitário Tupy - UNISOCIESC como requisito parcial para a obtenção dotítulo Bacharel em Engenharia Mecânica. Orientadora: Prof. MSc. Daniele da Silva Ramos Co-orientador: Prof. Eng. Vitor Ogliari Joinville 2014/1 3 JAISON JOSÉ DE PICOLI ESTUDO DE CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E MICROESTRUTURAL DE AÇOS BAINÍTICOS ISENTOS DE CARBONETOS Este trabalho foi julgado e aprovado em banca, sendo assinado pelos professores da Banca Examinadora. ____________________________________________________________ Profa. MSc Daniele Silva Ramos – IST (Orientadora) _________________________________________________________ Prof. Dr. Modesto Hurtado Ferrer - IST ___________________________________________________ Prof. Eng. Vitor Ogliari – IST Joinville 2014/1 4 DEDICATÓRIA Dedico este trabalho a toda a equipe de professores da UNISOCIESC, a meus amigos e familiares, em especial a minha esposa Janayna Chupel Neves de Picoli pelo apoio e compreensão durante todo o período acadêmico. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço a Deus por mais esta conquista, por prover o sonho da graduação, agradeço também a todos os amigos e colegas de classe, a toda a equipe da UNISOCISC que de alguma forma contribuiu para a concretização deste projeto, aos familiares pela ajuda e compressão da ausência em muitas circunstâncias, a minha orientadora Profa. MSC Daniele da Silva Ramos, meu co-orientador Vitor Ogliari e meus colegas de pesquisa Fabiano Bertoli e Gilliard Eismann. 6 “Julgue seu sucesso pelas coisas que teve que renunciar para conseguir.” (Dalai Lama) 7 RESUMO Aços bainíticos isentos de carbonetos, são formados por uma estrutura muito particular e de caraterísticas mecânicas muito interessantes, para aplicações onde se requer um bom desempenho com a dureza, resistência a fadiga por fratura e considerável tenacidade para um aço que no caso deste estudo com elevado teor de carbono. Tem grande aplicação no setor automobilístico e ferroviário , porém não se restringe a apenas estes mercados, já que com as características acima citadas, abrem um grande leque de utilização. O estudo mostra através de analise de dureza e microscopia óptica, a caracterização microestrutural do aço com a variação do elemento de liga Ni (Níquel) em relação a composição do aço base, este por sua vez aumenta austemperabeilidade, ou seja, favorece no tratamento térmico de austêmpera fazendo com diminua consideravelmente a velocidade de resfriamento, sendo de aproximadamente 10°C por 1% de Ni e com isto tem o efeito retardador para formação da bainita. Com amostras analisadas entre 1min. a 839 horas, pode- se determinar o inicio do fenômeno chamado de estáse, que compreende ao período onde não existem alterações microestruturais significativas e com esta determinação é que se ajusta o proceso de austêmpera, que consiste em resfriar o material em temperatura constante até que sejam obtidas as características desejadas. A temperatura de austempera foi de 280ºC e é nítida a transformação ao longo do tempo, sendo que no início do tratamento com 1 mim na porção de 0% de bainita e 100% de martensita até estabilizar a transformação que ocorreu por volta de 20h com 79% de ferrita bainíta e 21% de martensita e manteve-se praticamente com a mesma quantidade transformada até o final do experimento. O mesmo pode-se afirmar na analise da dureza, que no inicio do tratamento apresentou valor elevado devido a grande presença de martensita atingindo 62,7RC e estabilizando também a partir de 24 horas entre 45 e 50 HC devido a grande porção de ferrita bainica presente. Palavras chave: Aços baínicos, transformação de fase, austêmpera, estáse, dureza, elementos de liga. 8 ABSTRACT Bainitic steels free of carbides are formed by a very particular and very interesting mechanical characteristics structure for applications where good performance with the hardness, resistance to fatigue fracture and considerable toughness for steel in the case of this study with high carbon content. It has wide application in the automotive and rail industry, but is not limited to only these markets, as with the characteristics mentioned above, open up a wide range of use. The study shows analysis by microscopy and hardness of the steel microstructure characterization of the variation of the element Ni (nickel) for the composition of the base steel, this in turn increases austempering, or favoring heat treatment austempering causing considerable reduction in the cooling speed, being approximately 10 ° C per 1% Ni and this has the effect retardant formation of bainite. With samples between 1min. 839 hours can determine the beginning of the phenomenon called stasis, which comprises the period where no significant microstructural changes and this determination is that the process of being austempering, which consists of cooling the material at a constant temperature until fits the desired characteristics are obtained. The temperature where the austempering occurred was 280 ° C and is sharp transformation over time, and at the beginning of treatment with 1 i in the range of 0% of bainite and 100% martensite to stabilize the transformation that occurred around 16h with 79% and 21% of bainite and martensite remained practically the same quantity processed by the end of the experiment. The same can be said in the analysis of hardness, which at the beginning of treatment showed high value due to the large presence of martensite reaching 62.7 RC and also stabilizing from 16 hours between 45 and 50 HC due to the large portion of this ferrite bainitic . Keywords: Baínic steels, phase transformation, austempering, stasis, hardness, alloying elements. 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Aço bainítico com grandes áreas de austenita não transformada ........... 19 Figura 2 – Aplicações comerciais em ligas bainíticas ............................................... 22 Figura 3 – Bainita B1 ................................................................................................. 24 Figura 4 – Bainita B2 ................................................................................................. 24 Figura 5 – Bainita B3 ................................................................................................. 24 Figura 6 – Diagrama de classificação da bainita ....................................................... 24 Figura 7 – Microestrutura formada pela transformação isotérmica ........................... 26 Figura 8 – Diagrama de tranformação da bainita superior e inferior ......................... 27 Figura 9 – Diferentes tipos de morfologia da bainita proposto por Aaeronson .......... 28 Figura 10 –Microestrutura da bainita superior com aço rico em SI .......................... 30 Figura 11 – Microestrutura de feixes de bainita inferior incompleta .......................... 31 Figura 12 – Esquematização do processo de austêmpera ....................................... 32 Figura 13 – Microestrutura de feixes de bainita inferior incompleta .......................... 33 Figura 14 – Influência dos elementos mais comuns em aços comerciais ................. 34 Figura 15 – Influência do cromo (Cr) nas curvas C ................................................... 36 Figura 16 – Influência do Molibdênio (Mo) nas curvas C .......................................... 37 Figura 17 – Influência do Níquel (Ni) nas curvas C ................................................... 37 Figura 18 – Fluxograma de planejamento experimental ........................................... 40 Figura 19 – Bloco modelo Y (mm) ............................................................................. 41 Figura 20 – Material laminado ................................................................................... 42 Figura 21 – Marcador rotativo ................................................................................... 43 Figura 22 – Corpos de prova embrulhados em tela .................................................. 44 Figura 23 – Forno 1 (Pré-aquecimento 450°C), Forno 2 (Austenitização 870°C) e Forno 3 (Austêmpera 280°C) .................................................................................... 45 Figura 24 –Representação esquemática do experimento de tratamento térmico ..... 45 Figura 25 – Local de limpeza corpos de prova .......................................................... 46 Figura 26 – Durômetro rockwell ................................................................................ 47 Figura 27 – Amostra embutida .................................................................................. 49 Figura 28 – Equipamento de MO .............................................................................. 51 Figura 29 – Ambiente de trabalho do programa ImageProPlus................................. 52 10 Figura 30 -Tabela e gráfico da evolução do ensaio de dureza Rockwell ao longo do tempo................ ........................................................................................................ 54 Figura 31 – a) Microestrutura de amostra da liga 1, 280°C com 30 min. de austëmpera. Microscopia óptica (MO). (b) Microestrutura de amostra da liga 4, 280°C com 30 min. de austëmpera. Microscopia óptica (MO). ................................ 55 Figura 32 – Curvas que representam o aspecto da cinética da transformação bainítica durante austêmpera a 280°C em aços de alto carbono contendo teores variáveis de Ni.. ......................................................................................................... 55 Figura 33 – Linearização das frações transformadas em função do tempo através da equação de JMAK. .................................................................................................... 59 Figura 34 – a) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 1 austemperado a 280C por 0,5h. b) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 2 austemperado a 280C por 0,5h................................. 60 Figura 35 – Formação de feixes de bainita ............................................................... 61 Figura 36 – a) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 1 austemperado a 280C por 2h. b) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 2 austemperado a 280C por 2h. .................................. 61 Figura 37 – Influência do Níquel (Ni) nas curvas C .................................................. 62 Figura 38 – a) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 1 austemperado a 280C por 8h. b) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 2 austemperado a 280C por 8h ................................... 63 Figura 39 – ) Aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 1 austemperado a 280C por 20h. b) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 2 austemperado a 280C por 20h.................................. 64 Figura 40 – a) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 1 austemperado a 280C por 36h. b) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 2 austemperado a 280C por 36h.................................. 65 Figura 41 – a) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 1 austemperado a 280C por 839h. b) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 2 austemperado a 280C por 839h ........................... 65 11 LISTA DE TABELAS Tabela 1 – Nomenclatura das imagens ..................................................................... 43 Tabela 2 –Nomenclatura amostras embutidas .......................................................... 49 Tabela 3 – Nomenclatura das imagens ..................................................................... 51 Tabela 4 – Resultado da fração de bainita transformada na liga 1 e liga 4............. 56 12 LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas Al - Alumínio ASTM - American Society for Testing and Materials Bo - Boro C - Carbono Co - Cobalto Cr - Cromo ISSO - International Organization for Standardization MET - Microscopia eletrônica de transmissão Mn -Manganês Mo - Molibdênio MO - Microscopia óptica Ms - Inicio da transformação da austenita em martensita NBR - Norma Brasileira Regulamentadora Ni - Níquel P - Fósforo S - Enxofre Si - Silício TTT - Tempo, Temperatura, Transformação T0- Temperatura inicial RC - Dureza Rockwell ºC- Graus Celsius ��- Austenita não transformada ��- Ferrita bainítica M - Martensita Ma- Martensita mais austenita 13 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 15 1.1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 16 1.1.1 Objetivo geral ................................................................................................ 16 1.1.2 Objetivos específicos .................................................................................... 16 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA ............................................................................ 18 2.1 AÇOS BAINITICOS ............................................................................................. 18 2.2 AÇOS BAINÍTICOS ISENTOS DE CARBONETOS ............................................ 19 2.1.1 Aplicações e propriedades de aços bainíticos isentos de carbonetos ..... 21 2.3 TRANSFORMAÇAO DA BAINITA ....................................................................... 23 2.3.1 Aspectos termodinâmicos da transformação da bainita ............................ 23 2.3.1.1 Transformação bainítica por resfriamento contínuo ..................................... 23 2.3.2 Transformação bainítica por processo isotérmico .................................... 25 2.3.3 Aspéctos morfológicos da bainita ............................................................... 28 2.3.3.1 Bainita Superior ............................................................................................. 29 2.3.3.2 Bainita Inferior ...............................................................................................30 2.4 TRANSFORMAÇÃO INCOMPLETA DA BAINITA .............................................. 32 2.5 EFEITO DOS ELEMENTOS DE LIGA NA FORMAÇÃO DA BAINITA ................ 34 3 METODOLOGIA ................................................................................................... 39 3.1 MÉTODOS E MATERIAIS ................................................................................... 39 3.1.1 Materiais ......................................................................................................... 40 3.1.2 Métodos .......................................................................................................... 42 3.1.2.1 Caracterização Mecânica ............................................................................. 46 3.1.2.2 Tratamento isotérmico de austêmpera .......................................................... 48 4 DISCUÇÃO DOS RESULTADOS .......................................................................... 53 14 4.1 CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA ATRAVÉS DE ENSAIO DE DUREZA ............ 53 4.2 EVOLUÇÃO MICROESTRUTURAL .................................................................... 55 4.3 ASPECTOS MORFOLÓGICOS .......................................................................... 59 4.3.1 Micrografia e análise de aspectos morfológicos através de microscopia óptica.....................................................................................................................60 5 CONCLUSÕES ..................................................................................................... 66 REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 68 15 1 INTRODUÇÃO A busca por novos materiais e tecnologias é constante, isto porque na atual economia totalmente globalizada, a indústria que conseguir um material de qualidade e por melhor preço, isto em qualquer lugar do mundo, terá grande chance de largar na frente e vencer a concorrência. Dominar o processo, assim como conhecer a estrutura e composição do material faz com que seja possível adequar e procurar alternativas que atendam as necessidades garantindo a qualidade do material a ser obtido e com custo de matéria-prima ou processo mais barato. É crescente a procura por materiais com propriedades mecânicas multifuncionais, ou seja, que reúnam características normalmente inversamente proporcionais, como por exemplo, tenacidade e dureza, mas o que se procura em muitos casos é um misto de propriedades equalizadas para atender aplicações específicas onde se faz necessário o emprego de ligas de alto desempenho. Aços de microestrutura ferrita bainítica são relativamente novos, e somente em 1939, Mehl descobriu a existência de bainitas diferentes, a que chamou de bainita superior e bainita inferior, hoje sabe-se de sua vasta aplicação que pode ser estendida a eixos, parafusos, grandes peças forjadas que geralmente forjados atendem a indústria automotiva, de geração de energia, produção de máquinas, transporte de carga e passageiros como rodas, trilhos e mancais/pistas de rolamentos de trens onde recebem grandes cargas, impacto, altas velocidades e pouca lubrificação (BHADESHIA, 1992). A microestrutura bainítica pode ser descrita, como uma mistura de fases da ferrita e sementita, com redistribuição do carbono após o cisalhamento sendo uma transformação difusa, que normalmente precipita carbonetos, estes carbonetos de forma geral, aumentam a dureza e invariavelmente fragilizam o material, de acordo com Silva (2009), o aparecimento de carbonetos na estrutura do material, se deve a manutenção da temperatura no processo de austêmpera e isto faz com que a energia livre gerada pela rejeição do carbono diminua, levando a precipitação dos carbonetos dentro da austenita. As propriedades mecânicas requeridas a todas as aplicações estão diretamente ligadas à composição química do material e esta por sua vez, irá 16 influenciar além das propriedades mecânicas, todo o processo de transformação, seja de temperatura ou tempo, tipo de tratamento a ser empregado, custo e viabilidade. A maioria dos elementos de liga melhoram a temperabilidade, deslocando a curva de transformação para direita, (CHAVIER, 2009). O presente estudo pretende mostrar a transformação bainítica de modo geral, completa, incompleta, do aspecto morfológico e termodinâmico, será utilizado o tratamento de austempera em diferentes temperaturas que serão de 280°C e 370°C e observar a influência do elemento de liga Níquel (Ni), sempre comparando a o material base composto por Carbono (C), Silício (Si), Manganês (Mn), Níquel (Ni), Cromo (Cr), Molibdênio (Mo), Alumínio (Al), Fósforo (P) e Enxofre (S). O que se pretende, é verificar o intervalo de transformação, chamado de estáse, onde há austenita está retida entremeada ao restante da estrutura sem que se tenha iniciado a precipitação de carbonetos. 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo geral Avaliar a influência do Níquel (Ni) e de liga no tratamento de austêmpera e quantificar a evolução microestrutural ao decorrer do tempo. 1.1.2 Objetivos específicos a) Caracterizar a morfologia da bainita durante o processo de austêmpera; b) Acompanhar a evolução da transformação através de ensaios de dureza e microscopia óptica; 17 c) Avaliar a influência dos elementos de liga em especial a influência do Níquel (Ni) na cinética e morfologia da transformação bainítica; d) Determinar de forma experimental o intervalo da estase; 18 2 FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA A fundamentação teórica foi baseada na literatura existente referente a aços bainíticos, afim de obter um embasamento teórico para tratar do assunto com mais propriedade e técnica. 2.1 AÇOS BAINITICOS A microestrutura bainítica pode ser descrita, como uma mistura de fases da ferrita e cementita, com redistribuição do carbono após o cisalhamento sendo uma transformação difusa, que normalmente precipita carbonetos. Semelhante ao processo de obtenção da perlita, diferem no arranjo da ferrita e cementita que não são lamelares como na perlita, a ferrita surge na forma e cristais acirculares com a cementita precipitada em seus contornos (KRAUSS,1990). Aaustenita ao ser resfriada até a faixa de temperaturas entre 200 e 540°C, ocorre a formação da estrutura chamada bainita e isto porque a cementita crescerá na forma de agulhas extremamente finas, ao invés de camadas. As ligas de aço bainítico são relativamente novas, e somente em 1939, Mehl descobriu a existência de bainitas diferentes, a que chamou de bainita superior e bainita inferior, e o termo bainita surgiu devido a uma homenagem de uma homenagem de um grupo de pesquisadores do laboratório United States Steel Corporation Laboratory de New Jersey a E.C. Bain, que junto a Davenport, descobriram uma microestrutura constituída de ferrita acicular diferente de estruturas formadas por perlita ou martensita (BHADESHIA, 2001). A fase ferrita na bainita é, em geral, altamente deformada. A deformação advém das alterações volumétricas provocadas pela transformação e no excesso de carbono preso nos interstícios atômicos, devido ao rápido resfriamento até baixas temperaturas. Para temperaturas entre 300 e 540°C, a bainita se forma como uma série de fitas paralelas ou agulhas de ferrita, separadas por partículas alongadas da fase cementita e tal estrutura denominada como bainita superior. Entre aproximadamente 200 e 300°C, a fase ferrita forma placas finas com partículas 19 delgadas de cementita, formando-se no interior dessas placas de ferrita e esta estrutura é chamada de bainita inferior, estas diferentes estrutura de bainita serão melhor abordas posteriormente com mais detalhes (CALLISTER, 2002).2.2 AÇOS BAINÍTICOS ISENTOS DE CARBONETOS Aços bainíticos isentos de carbonetos,são uma estrutura muito particular e de características mecânicas muito interessantes para aplicações onde se requer um bom desempenho com a dureza, resistência a fadiga por fratura e considerável tenacidade para um aço que no caso deste estudo com elevado teor de carbono. A grande diferença e vantagem deste tipo de aço em relação ao outros aços bainiticos onde requer as características acima citadas, é presença de austenita retida com alto teor de carbono na forma de filmes entre as subunidades da bainita, isto se deve ao interrompimento do processo de transformação da bainita no processo isotérmico de austêmpera impedindo a precipitação de carbonetos a partir da ferrita saturada o que fragilizaria o material(BHADESHIA, 2001). De acordo com Silva (2008), o aparecimento de carbonetos na estrutura do material, se deve a manutenção da temperatura no processo de austempera e isto faz com que a energia livre gerada pela rejeição do carbono diminua, levando a precipitação dos carbonetos dentro da austenita. Para que se obtenha a condição de um aço isento de carbonetos Bhadeshia e Edmonds (1979), sugerem a adição de elementos de liga como silício, cromo, níquel e molibdênio, afim de facilitar a obtenção deste tipo de aço. Reforçando a afirmação acima, (BARBACKI 1995), diz que o aspecto básico para obtenção do aço isento de carbonetos, consiste na combinação de elevado teor de silício com adição de manganês ou níquel.Como citado anteriormente, existes grandes vantagem na utilização deste tipo de aço, mas de acordo com Bhadeshia (BHADESHIA, 2001), não é raro acontecer e, tratasse de uma grande desvantagem deste tipo de estrutura, é possibilidade de haver grandes blocos de austenita retida, que uma vez submetida a elevadas tensões, recebe energia suficiente para que haja uma transformação para martensita de alto teor de carbono, que por sua vez, irá elevar muito a dureza localizada e como consequência fragilizar o material. 20 Logo abaixo, na Figura 1, pode-se observar as áreas com grandes blocos de austenita retida citadas por Bhadeshia 2001. Figura 1 – Aço bainítico isento de carbonetos com grandes áreas de austenita não transformada Fonte: Adaptado de Bhadeshia,(2001) Para eliminar, ou diminuir consideravelmente a presença destes grandes blocos de austenita retida, Bhadeshia cita três formas eficazes: a) Reduzir a temperatura de transformação isotérmica; b) Reduzir a concentração total de carbono no aço; c) Mover a curva de �� do diagrama de fases para grandes concentrações de carbono; Sendo que para reduzir a temperatura deve-se observar o limite para inicio da transformação da martensita. 21 2.2.1 Aplicações e propriedades de aços bainíticos isentos de carbonetos De acordo com Chiaverini (1977), o que definirá as propriedades de um aço bainítico, serão os elementos de liga a ele adicionados. Isto porque, os elementos adicionados irão aumentar ou diminuir a temperabilidade pelo deslocamento das curvas de inicio e fim de transformação, aumentam a dureza e a resistência mecânica na ferrita quando nela dissolvidos, aumentam a resistência a corrosão principalmente com a adição me elementos como: cromo, níquel, cobre, fósforo. Um rigoroso processo de transformação isotérmico, garante um aço livre de carbonetos e este aço diferenciado proporciona propriedades excelentes como: alta ductilidade, tenacidade, resistente a fadiga, resistente a abrasão e boa resistência a tração e segundo Barbacki (1995), pode chegar a 1400 MPa de resistência ao escoamento e em torno 100 MPa. m½ de tenacidade a fratura.Esta combinação de propriedades fizeram com que peças antes produzidas com aços perlíticos, por exemplo, sejam substituídas por este material com propriedades mecânicas mais contundentes, tendo um combinado de vantagens nunca vista antes em outros tipos de aço (BHADESHIA, 2005). A aplicação pode ser estendida a eixos, parafusos, grandes peças forjadas que geralmente forjados atendem a indústria automotiva, de geração de energia, produção de máquinas, transporte de carga e passageiros como rodas, trilhos e mancais/pistas de rolamentos de trens onde recebem grandes cargas, impacto, altas velocidades e pouca lubrificação (BHADESHIA, 1992). Segundo Barbacki (1995) estes aços comercialmente são divididos em três principais classes: • Aços de baixa liga, para aplicações gerais • Aços de baixa liga resistente à fluência • Aços de alta resistência com médio e alto carbono Abaixo na Figura 2, tem-se uma tabela retirada do estudo de (BHADESHIA, 2001), onde são apresentadas aplicações comerciais de ligas bainíticas. 22 Figura 2 – Aplicações comerciais de ligas bainíticas Fonte: Bhadeshia,(2001) 23 2.3 TRANSFORMAÇAO DA BAINITA Ainda não estão totalmente esclarecidos os mecanismos de transformação bainítica, isto por que, existem teorias divergentes quanto à obtenção deste material. Em seu artigo Hillert (2002), se mostra surpreso pela considerável controvérsia quando se fala em transformação da bainita, isto porque esta controvérsia não parece proveniente uma falta de informação experimental e parece ser mais provável que a interpretação da informação disponível e baseada em paradigmas diferentes entre diferentes escolas, assim as opiniões sobre varias características e métodos são geralmente inter-relacionadas e cada escola de pensamento desenvolve um quadro auto consistente, com os recursos. A bainita, é uma formação complexa, formada pelo crescimento de uma fase ferrita acircular juntamente com pontos isolados de carbonetos, maretensita e austenita retida OLIVEIRA (1994). Para Oliveira (1994), existem duas maneiras de se obter a transformação bainítica, sendo que a primeira, por resfriamento contínuo, sua composição química influencia muito na temperatura de inicio de transformação (Bi) e segunda forma seria por transformação isotérmica onde a formação de bainita ocorre em uma faixa de temperatura entre o inicio da transformação da martensita e as temperaturas de transformação da ferrita e perlita (BHADESHIA, 2001). 2.3.1 Aspectos termodinâmicos da transformação da bainita 2.3.1.1 Transformação bainítica por resfriamento contínuo Para Branfitt e Speer (1990), existem três tipos de bainita produzidas através de resfriamento continuo, que são elas: a) Bainita B1: ferrita acicular associada com precipitação intracristalina de partículas de carbonetos de ferro; b) Bainita B2: ferrita acicular associada com partículas ou filmes intercristalinos de carbonetos de ferro e/ou austenita; c) Bainita B3: ferrita acicular associada com um constituinte composto por ilhas discretas ou regiões massivas de austenita e/ou martensita, ou perlita. 24 Nas Figuras 3, 4 e 5, são mostradas as diferentes estruturas de bainita B1, B2, B3. Figura 3 – Bainita B1 Figura 4 – Bainita B2 Figura 5 – Bainita B3 Fonte: Bramfitt e Speer (1990) Fonte: Bramfitt e Speer (1990) Fonte: Bramfitt e Speer (1990) Observa-se abaixo na Figura 6, o esquema de classificação também proposto por Bramfitt e Speer (1990). Figura 6 – Diagrama de classificação da bainita Fonte: Bramfitt e Speer (1990) Ainda na obtenção da bainita por resfriamento continuo, pode-se citar que é o processo mais comum e usado atualmente, isto muito se deve ao grande range de temperaturas e taxas de resfriamento o que é muito interessante por exemplo, em 25 peças de grande porte devido a constância das características mecânicas obtidas ao longo de sua secção transversal ao serresfriadas ao ar (CORDINE, 2013). 2.3.2 Transformação bainítica por processo isotérmico O processo isotérmico, não tem uma utilização tão difundida quanto ao processo de resfriamento continuo, isto se deve ao fato de ser um processo mais demorado e caro de se obter este tipo de estrutura e é aplicado apenas em situações onde se quer uma estrutura onde não se consegue obter por resfriamento continuo, como por exemplo, uma bainita isenta de carbonetos (BHADESHIA, 2001).No processo isotérmico, a transformação da bainita é a do tipo completa, com uma microestrutura composta por uma mistura não lamelar de ferrita e carbonetos e são classificadas na literatura como bainita superior e bainita inferior, que se distinguem principalmente pelo local onde se precipitam os carbonetos (BHADESHIA, 2001).Estas morfologias (bainita superior e inferior) são consideradas as principais e ocorrem de acordo com a temperatura onde se formam (SILVA; MEI, 1988). Em uma definição semelhante (AARONSON, 1999) descreve esta fase tendo como constituinte ferrita acircular ou em placas e carbonetos dispersos precipitados da ferrita. Neste processo, a temperatura é mantida constante até que haja a transformação da austenita na proporção desejada que pode ser completa ou incompleta e pode ser realizada em todas as temperaturas em que a formação de perlita e ferrita pro eutetoide sejam lentas e temperatura acima da temperatura do inicio da martensita (BHADESHIA, 2001). Como citado anteriormente, podemos obter microestruturas constituídas em diversas temperaturas, na Figura 7, são mostradas microestruturas formadas por transformação isotérmica a 180°C e 290°C. 26 Figura 7 – Microestruturas formadas por transformação isotérmica Fonte: Bhadeshia (2001) Observa-se na imagem (a) a microestrutura formada a 290°C e na imagem(b) observa-se a microestrutura formada a 180°C. Como citado anteriormente, as principais microestruturas observadas no processo isotérmico com transformação completa, são as da bainita superior, bainita inferior e suas principais diferenças são mostradas na Figura 8seguinte: 27 Figura 8 – Diagrama de transformação da bainita superior e inferior Fonte: Bhadeshia (2001) A bainita superior é constituída de finas ripas de ferrita, as quais possuem aproximadamente 0,2 µm de espessura e 10 µm de comprimento e também por precipitados de carbonetos. A bainita inferior possui a microestrutura e cristalografia semelhantes às da bainita superior, sendo o que difere é a espessura das ripas de ferrita que são ainda mais finas do que as encontradas na bainita superior e também com carbonetos precipitados e entremeados a austenita (BHADESHIA, 2000). 28 2.3.3 Aspectos morfológicos da bainita A microestrutura da bainita que se apresenta em aço de media e alta liga e variada, a bainita e uma mistura de ferrita e carbonetos precipitados e é dependente da partição de carbono e ordenadas de forma não lamelar. De acordo com a citação de Müller, (2010) do estudo de Aaeronson, existem seis morfologia distintas da bainita como pode-se ver abaixo na Figura 9. Figura 9 – Diferentes tipos de morfologia da bainita proposto por Aaeronson FONTE: Reynolds, Aaronson e Spanos (1991, vol.32, p.737). (a) Bainita nodular (b) Bainita colunar (c) Bainita superior (d) Bainita inferior (e) Bainita alotriomorfa de contorno de grão (f) Bainita inversa As duas morfologias mais estudas são: (c) Bainita superior e (d) Bainita inferior, que serão melhor detalhadas a seguir. 29 2.3.3.1 Bainita Superior A microestrutura da bainita superior ocorre entre 550°C e 350°C e consiste em finas ripas de ferrita, estas ripas, possuem espessura média de 0,2µ e comprimento de 10 µ. As ripas crescem de forma a se agruparem e assim se moldam em feixes. Em cada um dos feixes as ripas são alinhadas de forma paralela e possuem orientação cristalográfica idêntica e definidas. As ripas individuais dos feixes são denominadas subunidades da bainita. Normalmente, separadas por contornos com pequeno alinhamento ou por partículas de cementita (BHADESHIA e EDMONDES,1980). Em estágios distintos, a formação da bainita superior inicia com a nucleação das ripas de ferrita nos contornos de grão da austenita, isto se deve a difusão do carbono que sai da estrutura CCC (cúbica de corpo centrado) fazendo com que o não ocorra o inicio da formação da martensita pelo fato da temperatura de início da transformação da martensita diminuir e assim enriquecendo a austenita forçando os carbonetos a se aglutinarem formando estruturas finas (OHMORI, OHTANI, KUNITAKE, 1971). A deformação sofrida na região transformada muito se assemelha com a deformação sofrida pela martensita com a componente de cisalhamento, porém como citado acima, a bainita superior cresce em temperatura mais elevada se comparada com a martensita. Na figura 10, pode-se observar uma microestrutura rica em silício onde foi interrompida a precipitação de carbonetos e desta foram, surgem filmes de austenita retida entre as ripas de ferrita (a), (b) micrografia de transmissão em campo claro, (c) imagem de campo escuro da austenita retida, (d) montagem do feixe de austenita retida obtida por (MET BHADESHIA e EDMONDES, 1980). 30 Figura 10: Microestrutura da bainita superior com aço rico em SI Fonte: Bhadeshia e Edmondes (1980) 2.3.3.2 Bainita Inferior Diferente da bainita superior, com formato que se assemelha a agulhas, a bainita inferior tem o formato mais parecido com placas podendo chegar ate a 5µ de largura. Para (GOLDENSTAEIN, 2002), este tipo de formação (placas) ocorre apenas em aços com maior teor de carbono, isto se comprova se analisarmos a temperatura de inicio de transformação da martensita que tem inicio acima dos 400°C impossibilitando que ocorra este tipo de microestrutura que se forma com temperatura que variam entre 250°C e 350°C e assim como na bainita superior esta temperatura irá depender da composição química do material (BHADESHIA, 2001). 31 Em um relato semelhante ao de Goldenstein, (ZEPTER, 2007) afirma que para a obtenção de bainita inferior e preciso haver um material mais rico em carbono, isto se deve ao fato de ser mais difícil as ripas de ferrita bainítica supersaturadas sofrerem difusão do carbono. O crescimento de uma placa individual com os carbonetos precipitados no interior da matriz na bainita inferior é lenta, pois primeiramente nucleiam-se e novas ripas de ferrita na austenita são formadas (ZEPTER, 2007). Pelo fato dos carbonetos da bainita inferior serem extremamente finos e uma vez precipitados no interior da ferrita, uma pequena quantidade é dividida com a austenita retida e isto significa que carbonetos finos em pequena quantidade se precipitam entre as ripar de ferrita conferindo a bainita inferior uma tenacidade maior do que a encontrada na bainita superior (BHADESHIA, 2001). Abaixo, na Figura 11, pode-se observar exemplos da microestrutura onde são ilustrados feixes da bainita inferior em uma transformação incompleta. Figura 11: Microestrutura de feixes de bainita inferior incompleta Fonte: Bhadeshia (2001) A figura 11, acima, mostra em: (a) Micrografia óptica mostrando feixes de bainita inferior em uma transformação parcial, em (b) subunidades da bainita inferior mostradas através de microscópio eletrônico de transmissão (MET). 32 2.4 TRANSFORMAÇÃO INCOMPLETA DA BAINITA Com o processo de transformação isotérmico, austempera, podemos interromper a transformação da bainita e obter propriedades mecânicas interessantes como por exemplo uma estruturaisenta de carbonetos.Neste processo, ao ser interrompida a transformação da austenita, que seria transforma em ferrita bainita, ela fica entremeada na estrutura na forma de austenita retida com alto teor de carbono, que desta forma é estabilizada pela máxima concentração de carbono admissível na reação bainítica e não ocorre a precipitação do carbono na ferrita na forma de carbonetos o que em determinadas aplicações não se quer, devido a característica de fragilizar o material com a presença de carbonetos (BHADESHIA e EDMONDS, 1980). Na Figura 12, a seguir, é ilustrado o processo de transformação incompleta da bainita, onde no ponto (A) é iniciado o processo de aquecimento que vai até o ponto (B) que a temperatura para que ocorra a austenitização onde permanece até que ocorra toda a transformação microestrutural no material, tempo representado no ponto (C), no ponto (D), o material é resfriado até a temperatura adequada ao processo que é mantido isotermicamente até o ponto (E) e posteriormente resfriado ao ar ponto (F). Figura 12: Esquematização do tratamento de austêmpera . Fonte: Kovacs (1990) 33 O processo de estagnação da bainita é também chamado de estáse que pode ser compreendido como período em que não há transformação alguma, o material pode permanecer nesta condição por grandes períodos e é influenciado pela presença de elementos de liga no material. A estase, esta diretamente ligada separação entre as curvas C e abaixo da baía na curva TTT. Na Figura 13 é ilustrada a cinética da transformação bainítica com a presença do fenômeno de estáse, onde se vê no intervalo de (A) para (B), a nucleação simpática da ferrita que segundo (GOLDENSTEIN,2002 e FERRER, 2003) é a nucleação de subunidades a partir da interface α/γ que é gerada neste processo, de intervalo de (B) para (C) tem-se a “janela” de transformação que é a estáse, que como já dito anteriormente, o material permanecesse nesta condição por grandes períodos sem que haja transformação e haverá alteração na microestrutura a partir do ponto (C), onde SPANOS G, FANG H.S. e AARONSON, (1990) relata em seu artigo que começará a precipitar carbonetos na interface oriunda da redistribuição do carbono na austenita supersaturada ocorrendo a nucleação no interior da austenita. Figura 13: Microestrutura de feixes de bainita inferior incompleta Fonte: Adaptado de Reynolds, Aaronson e Spanos (1991) 34 2.5EFEITO DOS ELEMENTOS DE LIGA NA FORMAÇÃO DA BAINITA A escolha dos elementos liga que irão constituir o material, irá afetar diretamente as características para o processo do tratamento térmico principalmente na temperabilidade, custo do material e processo, viabilidade e também as características mecânicas como: tenacidade, limite de escoamento, dureza, resistência a fadiga, resistência ao desgaste, impacto, soldabilidade, conformabilidade. Pode-se verificar na Figura 14 de forma sucinta, a influência dos elementos de liga mais frequentes de aços comercias. Figura 14: Influência dos elementos mais comuns em aços comerciais Fonte: Revista CIMM (2014) A maioria do elementos de liga melhoram a temperabilidade, deslocando a curva de transformação para direita, mas segundo Chavier (2009), o cobalto tem efeito contrario, pois desloca a curva de transformação para a esquerda e diminui a velocidade de decomposição da austenita, seja em perlita ou bainita, embora haja 35 um aumento do domínio de temperatura da transformação bainítica (FERNANDES, 2003). Uma comparação rápida, com um aço eutetóide sem cobalto, a velocidade crítica de têmpera, é na ordem de grandeza 100 �� ⁄ , enquanto que um aço com cerca de 5% de cobalto dobra esta velocidade que é em torno de 200 �� ⁄ e chega a 500 �� ⁄ com adição de 7% (FERNANDES, 2003). Além do cobalto, outros elementos de liga não são interessantes na obtenção de bainita isenta de carbonetos, isto porque, a adições destes elementos tem implicações relevantes na formação de carbonetos que por sua vez fragilizam o material, alguns elementos estabilizadores da ferrita são também carburígenos, ou seja, apresentam forte afinidade para a formação de carbonetos, os elementos carburígenos mais relevantes por ordem crescente de afinidade para o carbono são:Cromo(Cr), Tungstênio(W), Molibdênio(Mo), Titânio (Ti), Nióbio Nb, TântaloTa, Zircônio Zr (FERNANDES, 2003). Além dos elementos citados acima, outros elementos irão afetar o aço de forma negativa, pois invariavelmente estarão presentes como impurezas, como enxofre e o fósforo que prejudicam na qualidade do material por serem inclusões fragilizantes e tendem a promover segregação no material e segundo Barbacki (1995) é aceitável um teor máximo de 0,05% de enxofre na microestrutura do material. Por outro lado, elementos como o silício (Si), manganês (Mn), níquel (Ni) e até mesmo o cobalto (Co), inibem a formação de carbonetos, que é essencial pra o material deste estudo (FERNANDES, 2003). Os principais elementos estabilizadores da austenita em temperatura ambiente, são o níquel e manganês e, isto dependerá da quantidade mínima destes elementos. O elemento que tem a maior influência sobre o aço , segundo Chiaverini (1977), é o carbono, pois aumenta muito a temperabilidade, dureza e o limite de escoamento e é considerado um elemento barato e de fácil obtenção e introdução no material, todavia, oferece efeito negativo na tenacidade e na soldabilidade. O carbono também é que tem a maior influência no inicio da transformação da austenita em martensita (Ms) que é um ponto limiar e determinante no estudo para a obtenção da bainita. Os elementos de liga em solução sólida na austenita, além de deslocarem (em maior ou menor) grau as curvas de transformação, contribuem na formação das 36 curvas “C” de forma individualizada, diferente do aço ao carbono que se consegue identificar apenas uma curva (FERNANDES, 2003). O Cromo (Cr) tem aproximadamente o mesmo efeito sobre o campo perlítico e bainítico e para concentrações de cromo superiores a 3% a separação entre estes dois domínios é completa, como pode ser observado na Figura 15. Figura 15: Influência do cromo (Cr) nas curvas C Fonte: Fernandes(2003) Fica evidente a influência nas curvas a medida em que se aumenta o teor de cromo, em (a) tratasse de uma material com 0,40% de Carbono e 0,5% de Cromo e em (b) material com 0,35% de Carbono e 2,0% de Cromo. A adição do Molibdênio traz como consequência um deslocamento (para tempos mais longos) muito mais acentuado do campo perlítico e do bainítico, conforme mostra a Figura 16. 37 Figura 16: Influência do Molibdênio (Mo) nas curvas C Fonte: Fernandes(2003) (a) Material com 0,40% de Carbono e 0,2% de Molibdênio (b) Material com 0,40% de Carbono e 0,5% de Molibdênio (c) Material com 0,3% de Carbono e 2,0% de Molibdênio O Níquel tem uma influência muito reduzida sobre a retardação das transformações isotérmicas; o seu efeito consiste em um deslocamento das curvas em "C" para tempos mais longos sem alterar substancialmente nem a forma nem as posições relativas, mostrado a seguir na Figura 17. Figura 17: Influência do Níquel (Ni) nas curvas C Fonte: Fernandes(2003) 38 (a) Material com 0,60% de Carbono e 1,0% de Níquel (b) Material com 0,60% de Carbono e 4,0% de Níquel Ainda com relação ao níquel, pode-se dizer que ele aumenta austemperabeilidade, ou seja, favorece no tratamento térmico de austêmpera fazendo com diminua consideravelmente a velocidade de resfriamento, sendo de aproximadamente 10°C por 1% de Nie com isto tem o efeito retardador para formação da bainita (BARBACKI, 1995). Além da melhora no tratamento daaustêmpera, o níquel eleva a tenacidade do material a baixas temperaturas e aumenta a resistência da ferrita e com adição de grandes quantidades, melhora a resistência a corrosão e combinado a Cromo e/ou Molibdênio eleva as propriedades mecânicas do aço (RANIERI, 2005). 39 3 METODOLOGIA Como passo inicial para a metodologia da pesquisa, faz-se necessário conhecer e entender o fenômeno da transformação bainítica, através de revisão de literatura existente e trabalhos referentes ao assunto. Posteriormente, se iniciou o processo de preparação das amostras para o tratamento térmico e inicio das tomadas de resultados, para que seja possível levantar informações contundentes que comprovem ou se assemelhem com as informações levantas na revisão de literatura. 3.1 MÉTODOS E MATERIAIS Neste capítulo apresenta-se o processo sistemático de desenvolvimento do método científico, cujo propósito fundamental é conduzir resultados aos objetivos do estudo, mediante do emprego de procedimentos científicos (GIL, 1989 p.19). A Figura 18 a seguir, mostra o fluxo planejado das atividades realizadas. Figura 18 3.1.1 Materiais Para a realização dos departamento de Fundição nas áreas de Serviços de Engenharia da Sociedade Educacional de Santa Catarina ( Schmitt, Davi Kandler Signori e Luana Martins; que realizaram materiais do presente trabalho, porém com outras variáveis, como temperatura e tempos de transformação Assim no atual trabalho, estudou anteriormente, essas apresentam composição levemente hipere variação significativa e analisada em relação ao elemento químico conforme pode ser observado abaixo. �������� ������������� �� ��� �������� ������������ ��������������� ������������ ����� � ��� ��� ���� ��������������� �������������� ����������� !"#� $��%�������������� Figura 18 – Fluxograma de planejamento experimental Fonte: O Autor (2014) Para a realização dos experimentos foram utilizados aços de Fundição nas áreas de Serviços de Engenharia da Sociedade Educacional de Santa Catarina (UNISOCIESC), pelos alunos Rafael de Souza Davi Kandler Signori e Luana Martins; que realizaram estudos nos mesmos materiais do presente trabalho, porém com outras variáveis, como temperatura e tempos de transformação Assim no atual trabalho, estudou-se duas das quatro ligas de aços fundidas anteriormente, essas apresentam composição levemente hipere variação significativa e analisada em relação ao elemento químico conforme pode ser observado abaixo. ������� � �� ������ � ��� ����������� � $��%�������������� �� ���� ����� ���� � ����� � �� ��� ��� &��'����� ���� (����� &��'�����)*�+ �� �� � &��'�����)*�+ �� &��� &��'����� ��� &��'�����,*��� -�������� $����������������� ����� .�������� �� ��� �������������� ���� ��� /������������ ���������� �� � ������ /�0�������� �1������� ��*������ ����������� ������ �������������� ��������������� 40 Fluxograma de planejamento experimental s aços fundidos no de Fundição nas áreas de Serviços de Engenharia da Sociedade pelos alunos Rafael de Souza estudos nos mesmos materiais do presente trabalho, porém com outras variáveis, como temperatura e se duas das quatro ligas de aços fundidas anteriormente, essas apresentam composição levemente hipereutética, com variação significativa e analisada em relação ao elemento químico Níquel (Ni) �������������� ��������������� .2 (�����%������� �� %���� � ���� �� !��������� � ��������� 41 - Liga 1: 0,5% de Níquel (liga base) - Liga 2: 1,85% de Níquel Na composição química do material foi variado o teor do Níquel (Ni)para poder avaliar o efeito potencial do elemento na estabilidade da austenita, nas etapas de austenitização e de austêmpera, avaliação que será feita através de ensaios que serão citados no decorrer deste capitulo. Entretanto, nestes materiais observa-se um teor elevado de silício devido o seu efeito inibidor na precipitação da cementita durante a reação bainítica, a fim de que a cinética de nucleação e crescimento dos carbonetos passasse a ser controlada pela difusão deste elemento substitucional e assim consequentemente, que a austenita remanescente ficasse enriquecida em carbono, que favorece o aumento da sua estabilidade. As ligas foram fundidas em blocos modelo Y, conforme padronização ASTM E8 para ferros fundidos e aços. As características geométricas e dimensionais dos blocos fundidos apresentam-se na Figura 19 abaixo: Figura 19 – Bloco modelo Y (mm) Fonte: Schmitt (2013) O material, ainda pelos alunos anteriormente citados, passou pelo processo de corte à jato da água junto à empresa Weld Vision e laminação à quente junto à Empresa Metisa-Metalúrgica Timboense S.A., na cidade de Timbó-SC, a fim de quebrar a estrutura de solidificação e de facilitar a obtenção dos corpos de prova para tratamento térmico e ensaios mecânicos. 42 O processo de laminação empregado foi realizado a quente, para uma melhor homogeneização do material. A Figura 20 a seguir ilustra a geometria e as dimensões do material após a laminação. Figura 20 – Material laminado Fonte: Bertoli (2014) A espessura do material após a laminação foi de 7mm e para eliminar incrustações, o material passou pelo processo de retífica ficando com espessura final de 6mm. Em posse desses lingotes de aço laminados, deu-se a confecção dos corpos de prova com formato retangular para a execução dos experimentos de austêmpera do presente estudo. Para efetuar os cortes foi utilizado o equipamento Cut-Off do laboratório de preparação de amostras da UNISOCIESC, sendo que os mesmos foram realizados na direção longitudinal e transversal das tiras, de modo que obteve- se corpos de prova com dimensão de 12mm x 8mm x 7mm. 3.1.2 Métodos O procedimento experimental do presente estudo, inicializou-se realizando a identificação da respectiva liga de cada corpo de prova na face com maior rugosidade, face esta que posteriormente não seria usada para teste de dureza ou revelação da microestrutura. 43 Para identificação das mesmas, foram gravados símbolos de fácil interpretação e realização. A tabela 01 mostra os símbolos aplicados na face dos corpos de prova. Tabela 01 – Símbolo da liga gravado nos corpos de prova Fonte: O Autor (2014) O equipamento utilizado para gravação dos símbolos foi fornecido pela orientadora do estudo, um marcador rotativo ilustrado na Figura 21. Figura 21 - Marcador rotativo Fonte: O Autor (2014) Posteriormente, iniciou-se a preparação dos corpos de prova e ao ciclo de tratamento térmico para obtenção da transformação bainítica. O processo de amarração das amostras,é ilustrado na Figura22 a seguir, as amostras foram embrulhadas em telas e amarradas em fio de arame, cada conjunto continha uma amostra de cada liga, assim as mesmas eram retiradas do forno de acordo com o tempo estipulado. 44 Figura 22 – Corpos de prova embrulhados em tela Fonte: O Autor (2014) Devidamente preparados, os corpos de prova foram submetidos ao ciclo de tratamento térmico, o qual consistiu em austenitizar as duas ligas de aço propostas ao estudo à temperatura de 870°C por 1,0h, antecedido de pré-aquecimento a 450°C por 0,5h, seguido de um resfriamento controlado com estágio isotérmico a 280°C em forno a banho de sais. O ciclo de tratamento térmico aconteceu no departamento de Tratamento Térmico na área de Serviços de Engenharia da Sociedade Educacional de Santa Catarina (UNISOCIESC),a Figura 23, mostra os fornos utilizados. 45 Figura 23 – Forno 1 (Pré-aquecimento 450°C), Forno 2 (Austenitização 870°C) e Forno 3 (Austêmpera 280°C) Fonte: O Autor (2014) Os tempos de permanência dos corpos de prova em austêmpera, variaram entre 1min e 839h. Trabalhou-se com uma grande faixa de tempos para poder caracterizar o início e final da estase da reação bainítica.. A Figura 24 representa o esquema do experimento de tratamento térmico, a fim de estudar o aspecto da cinética e morfologia da transformação bainítica bem como de avaliar o efeito do tempo da reação bainítica na fração volumétrica de austenita retida, decorrente desta transformação de fase. Figura 24 – Representação esquemática do experimento de tratamento térmico Fonte: Autor (2014) 46 Conforme os tempos de austêmpera previsto eram alcançados, os corpos de prova eram retirados do forno à banho de sais e transportado à um cabide, para resfriamento ao ar. Assim que os corpos de prova atingissem a temperatura ambiente, os mesmos eram encaminhados ao local de limpeza, Figura 25. A limpeza baseou-se respectivamente em: a) Inicialmente permanecer por aproximadamente 15 minutos em uma banheira com água á 80°C, para remoção dos sais que ficam impregnados nos corpos de prova; b) Em seguida levou-se ao banho em ácido por 30 segundos, para remoção dos resíduos que ainda permaneceram nas amostras; c) Posteriormente um banho em base neutralizante por 30 segundos, para anular o efeito do ácido; d) Prosseguido de um mergulho em óleo, para manter protegido os corpos de prova contra oxidação e corrosão; e) Finalizando com a remoção da tela e fio de arame, numa bancada com auxílio de alicate de corte. Figura 25 – Local de limpeza corpos de prova Fonte: O Autor (2014) 3.1.2.1 Caracterização mecânica A caracterização microestrutural dos corpos de prova inicializou-se com a medição de dureza Rockwell, a qual foi utilizada com o um único intuito de nos 47 auxiliar no processo de tratamento térmico e dar uma base para o procedimento de caracterização microestrutural, na face oposta à gravação dos símbolos de identificação de liga, a fim de relacionar a dureza do atual tempo com a dureza conhecida por experiência de outras fases, assim consequentemente detectar em que momento está a transformação bainítica. O teste de dureza Rockwell consiste em endentar o material sob teste com um cone de diamante ou edentador de esfera de aço endurecido. O endentador é pressionado contra a superfície do corpo de prova com uma pré-carga, ainda com a pré-carga aplicada, uma segunda carga é introduzida, aumentando a penetração e após a remoção da carga há uma recuperação do material e o equipamento faz a leitura da dureza, a norma utilizada para realização do ensaio foi a (ABNT NBRNM146-1, 1998). A Figura 26 mostra o equipamento Fixo-Test utilizado para o ensaio de dureza rockwell, o mesmo pertence à UNISOCIESC, que é disponibilizado aos estudantes. Figura 26: Durômetro Rockwell Fonte: Autor (2014) 48 Efetuado os testes de dureza, procedeu-se o embutimento dos corpos de prova para o processo de metalografia e posteriormente análise da microestrutura por MO. Os materiais utilizados para embutimento, foram resina de polietileno, catalisador, um recipiente de vidro para mistura, uma base lisa quadrada de madeira, óleo solúvel, serra manual e seções de tubos plástico de diâmetro 40mm. As atividades do processo de embutimento ocorreram respectivamente: a) Cortes de 12mm do comprimento do tubo plástico de diâmetro 40mm; b) Lubrificação com óleo solúvel, da base lisa de madeira; c) Disposição das seções de tubo sobre a base lisa lubrificada de madeira; d) Colocação de 4 corpos de prova de mesmo tempo de austêmpera, dentro das seções de tudo. Sendo o primeiro liga 1 (liga base), o segundo e o terceiro pertencentes aos membros da equipe de “aços bainíticos isentos de carbonetos” e o quarto liga 4, para corpos de prova 2 e 3, estuda-se respectivamente a influência dos elementos silício e manganês. O primeiro corpo de prova foi disposto horizontalmente e os outros três verticais, seguindo a ordem citada anteriormente; tal disposição foi realizada para não ocorrer troca do estudo das ligas. e) Mistura da resina de polietileno e catalisador num recipiente de vidro; f) Despejo cauteloso da mistura, dentro das seções de tubo com os corpos de prova, para não tirá-los da posição colocada; g) Secagem ao ar ambiente da mistura por 30 minutos; h) Remoção manual, das seções de tudo com corpos de prova embutidos, de cima da base lisa lubrificada; i) Corte com serra manual, das seções de tubo, para remoção dos corpos de prova embutidos. A Figura 27, corresponde à uma das amostras embutidas. 49 Figura 27 – Amostra embutida Fonte: O Autor (2014) Em prosseguimento das atividades as amostras embutidas foram identificadas colando-se uma fatia de papel escrita à caneta com a nomenclatura criada pela equipe “aços bainíticos isentos de carbonetos”. A nomenclatura criada e colada nas amostras embutidas, partiu da união de uma letra e um valor que correspondem respectivamente à temperatura de austêmpera submetida e tempo de permanência em austêmpera. A tabela 02, esclarece o procedimento definido pelas condições citadas. Tabela 02 – Nomenclatura amostras embutidas Fonte: Bertoli (2014) As amostras embutidas e identificadas, agora foram ao processo de metalografia, a fim de se obter uma superfície sem irregularidades, para promover uma boa visualização da microestrutura das amostras tratadas termicamente. O processo de metalografia inicializou aplicando gradativamente o uso das lixas nas granas: 80, 120, 320, 600 e 1200. 50 A lixadeira rotativa utilizada pertence à UNISOCIESC, que encontra-se no laboratório de caracterização de materiais da universidade. Para remoção das irregularidades ainda presentes na superfície das amostras, utilizou-se uma politriz rotativa de pratos de pano, pertencente à UNISOCIESC e disponível aos estudantes. O polimento procedeu-se em dois estágios: a) O primeiro, aplicando pasta de diamante de granulação 3µ no prato de pano de 3µ e deslizando a amostra em movimento contrário ao de giro do prato. b) O segundo, aplicando pasta de diamante de granulação 1µ no prato de pano de 1µ e deslizando a amostra em movimento contrário ao de giro do prato. Para revelar a microestrutura das amostras passadas pelo processo metalográfico, aplicou-se um ataque químico com reagente de Le Pêra na superfície das mesmas, este reagente ataca de forma diferenciada cada constituinte. O reagente é obtido através da mistura em quantidades iguais de duas soluções químicas: a) Metabisulfito de sódio (2 g) dissolvido em água destilada (100 ml); b) Ácido pícrico (4 g) dissolvido em álcool etílico (100 ml). Essa mistura foi aplicada em um chumaço de algodão e esfregada na superfície da amostra em torno de 30 segundos, em seguida um banho em água corrente com detergente neutro, para remoção do reagente, evitando que a superfície queime. Retirada a amostra da água corrente, esguichou-se álcool na área atacada, colocou-se um chumaço de algodão em cima e foi à secagem, utilizando um secador de cabelo. Preparada a amostra, chegou o momento de observar o resultado do tratamento térmico, ou seja, observar a evolução da ferrita bainítica e a transformação da austenita. Sendo que para visualizar a microestrutura da amostra atacada, utilizou-se um equipamento de MO (Microscopia óptica), da marca Olympus BX51 com programa de análise de imagemPro Plus 2002, acoplado ao banco metalográfico. As análises foram realizadas no laboratório de caracterização de materiais da UNISOCIESC e a figura 28, mostra o equipamento utilizado. 51 Figura 28 – Equipamento de MO Fonte: O Autor (2014) Na visualização por MO, realizou-se a tiragem de oito fotos da melhor região com as características buscada, ou seja, regiões que mostravam o melhor aglomerado de ferrita bainítica e austenita retida; regiões essas também que proporcionarem uma maior precisão no processo de contagem de fases. As imagens dos corpos de prova embutido, tiveram a respectiva magnitude de aumento: a) 1 imagem de 100x; b) 1 imagem de 200x; c) 1 imagem de 500x; d) 5 imagens de 1000x; A imagens capturadas eram armazenadas em um disco de memória removível e cada imagem era nomeada conforme sua liga, temperatura de austêmpera submetida e tempo de permanência em austêmpera. A tabela 03, esclarece o procedimento definido pelas condições citadas. Tabela 03 – Nomenclatura das imagens Fonte: O Autor (2014) 52 A análise quantitativa de fase, ocorreu conforme o procedimento descrito por Silva R. (2008). No ambiente do programa ImageProPlus™, a análise de fases e de características microestruturais é realizada por um módulo conhecido como Materials Pro. Dentro deste ambiente existem ferramentas destinadas à análise microestrutural, no caso foi utilizado a ferramenta Measure Phasesdestinada à quantificação das diferentes fases presentes na microestrutura. O método utilizado no trabalho possui duas faixas de “Threshold” destinada à quantificação de ferrita bainítica e austenita retida ou austenita retida mais martensita. O Software quantifica as fases escolhidas por diferenças de cores, com auxílio de uma ferramenta que possibilita o ajuste e definição dos intervalos de tonalidades, na Figura 29 ilustra o ambiente de trabalho da contagem de fases. Figura 29 – Ambiente de trabalho do programa ImageProPlus Fonte: O Autor (2014) 53 4 RESULTADOS E DISCUÇÕES Neste capitulo, serão apresentados os resultados dos experimentos em função do efeito do Níquel o em corpos de prova austemperados em 280º C. As características encontradas nos testes experimentais, estão subdividas em três capítulos, onde: o primeiro busca mostrar as características do material a partir do ensaio de dureza Rockwel e evolução dos resultados em função do tempo de tratamento, no segundo capitulo, serão explanados os aspectos morfológicos promovidos pelo Níquel na microestrutura do material tratado termicamente, ou seja, descreve qual foram as características e formadas fases presentes na microestrutura em função da variação do Níquel na composição química das ligas, identificando também se a influência deste foi positiva ou negativa na busca pela isenção de carbonetos nos aços bainíticos. Já o terceiro, buscar mostrar os aspectos cinéticos também promovidos pelo Níquel, ou seja, descreve qual foi a influência deste na evolução da microestrutura. 4.1 CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA ATRAVÉS DE ENSAIO DE DUREZA A analise da dureza foi a primeira a ser executada no material após o tratamento térmico. O ensaio foi realizado à medida que os corpos de prova foram retirados do tratamento térmico, sendo possível desta forma, avaliar a variação da dureza em relação ao tempo e a composição química do material. A importância desta verificação no experimento se dá pelo fato de poder analisar a evolução da microestrutura das amostras, através da dureza. Com o ensaio de dureza se consegue estimar a evolução microestrutural devido uma comparação com valores conhecidos através da literatura e estimar a fração transformada. Os resultados obtidos com as medições estão representados na Figura 30seguir. 54 Figura 30: Tabela e gráfico da evolução do ensaio de dureza Rockwell ao longo do tempo Fonte: Autor (2014) Com os valores visualizados no gráfico e na tabela,pode-se verificar que para os primeiros tempos a matriz predominante é a da martensita. Como descrito na revisão bibliográfica, a martensita é caracterizada pela elevada dureza, superior a da ferrita bainítica que está pouco presente nos primeiros tempos, pois o volume da fração transformada da bainita está em função da temperatura e do tempo (BHADESHIA, 2001). Na Figura 31a seguir, fica evidente a presença da martesita para o tempo de 30 (minutos) como já era esperado devido ao resfriamento ao ar com pouco tempo de austêmpera, a imagem foi obtida através de microscopia óptica (MO). 55 Figura 31– (a) Microestrutura de amostra da liga 1, 280°C com 30 min. de austëmpera. Microscopia óptica (MO).(b) Microestrutura de amostra da liga 4, 280°C com 30 min. de austëmpera. Microscopia óptica (MO). Fonte: Autor (2014) Observa-se também, que nas ligas 1 e 4, não apresentam grandes variações de dureza, pois por se tratarem de ligas com mesma base, apenas variando a quantidade de Níquel (Ni), onde na liga 1 contém 0,5% e a liga 4 contém 1,85%. O Níquel não influencia na dureza, apenas proporciona uma melhor austemperabilidade durante o tratamento térmico, pelo fato que este, segrega na fase sólida e por isso precisa de um tempo um pouco maior para aumento da fração transformada em bainita na liga 4, o que será visto no item 4.2 deste trabalho. Com o aumento do tempo de austêmpera, a dureza gradativamente diminuiu onde se observa no gráfico na Figura 30 no tempo entre 0,167h e 4h e estabilizando a partir de 6h na liga 1 e mantendo-se constante até o final do experimento de 839h com dureza média de aproximadamente 49,14HRc. Na liga 4, a estabilidade da dureza ocorre após 12h de austêmpera, mantendo-se constante até o final do experimento com dureza media de aproximadamente 48,16 HRc. 4.2EVOLUÇÃO MICROESTRUTURAL. Para determinar a fração transformada e traçar um gráfico da cinética de transformação de fase, utilizou-se um equipamento de MO (Microscopia óptica), 56 acoplado ao banco metalográfico conforme o procedimento descrito no capitulo 3 deste trabalho. Para os primeiros tempos, pode haver inconsistência nos valores obtidos, já que o software pode ser influenciado na contagem de fase com a presença da martensita, o que não terá mais influencia a partir de 20 horas onde inicia a estase da reação bainítica. A seguir Tabela 4 com os resultados obtidos através da contagem de fases e a partir da equação JMAK. Tabela 04 – Resultado da fração de bainita transformada na liga 1 e liga 4 Fonte: Autor (2014) 57 Utilizando a equação de Johnson-Mehl-Avrami-Kolmogorov (JMAK) é possível estudar a cinética de transformação bainítica incompleta. Sendo a dependência da fração transformada (Vv) com o tempo é dada pela equação �� � � ����������� sendo k e n constantes. Este modelo de quantificação assume que os núcleos estão aleatoriamente dispersos e as taxas de nucleação e crescimento permanecem constantes durante a transformação (PADILHA, 2007). Com os valores conhecidos e corrigidos, é possível avaliar e traçar as curvas da cinética da transformação bainítica com a variação do tempo e a influência do níquel. A Figura 32 mostra o gráfico contendo estas curvas. Figura 32. Curvas que representam o aspecto da cinética da transformação bainítica durante austêmpera a 280°C em aços de alto carbono contendo teores variáveis de Ni. Fonte: Autor (2014) 58 Observa-se na Figura 32 que os dados de fração transformada em função do tempo são descritos por uma função do tipo sigmoidal típica que segue a equação de JMAK, o que é comprovado pelos valores de R2. Nos primeiros tempos para os materiais tratados, observa-seuma pequena variação de quantidade e taxa de transformação, pois o níquel tem uma influência muito reduzida sobre o retardo das transformações isotérmicas, o seu efeito consiste em um deslocamento das curvas em "C" para tempos mais longos sem alterar substancialmente a forma e as posições relativas FERNANDES (2003). É percebido no gráfico, que a liga 4 com maior teor de níquel, tem o início de transformação retardada pelo efeito deste elemento, porém após o inicio da transformação, a taxa é maior em relação a liga 1, que tem menor teor de níquel, isto se deve segundo BARBACKI (1995), ao fato do níquel promover um refino de grão que é um fator importante para evitar a formação de carbonetos na transformação bainítica. Com o tamanho de grão reduzido, os mesmos rapidamente se tornam saturados por placas de bainita, antes que os feixes tenham a oportunidade de penetrar no grão aumentando a taxa de transformação bainítica CARMO (2011). Na Figura 32, é apresentada a linearização das frações transformadas utilizando também a equação de JMAK,sendo esta a forma mais usual para obtenção do coeficiente “n” da equação. Este fator trata-se da taxa de transformação e como citado anteriormente, o níquel tem efeito retardador ao início de transformação, mas aumenta a velocidade, que é possível ser visto no gráfico da Figura 33. Na liga 4, com maior teor de níquel, a transformação de fase inicia após já ter sido iniciada a transformação na liga 1, mas a partir de um certo tempo a fração transformada é maior na liga 4 em relação a liga 1, provando ter uma maior taxa de transformação. 59 Figura 33. Linearização das frações transformadas em função do tempo através da equação de JMAK Fonte: Autor (2014) 4.3 ASPECTOS MORFOLÓGICOS . A analise da morfologia tem como objetivo descrever sobre as imagens dos três principais estágios que ocorrem na transformação dos corpos de prova austemperados, sendo a fase inicial, a qual não há formação de ferrita bainítica. No segundo momento ocorre uma transição onde se verifica a presença de diferentes microestruturas, tais como: martensita, ferrita bainítica e austenita,que variam de acordo com o tempo. No terceiro momento se observa o fenômeno da estase, onde se tem diferentes microestruturas, porém com a predominância da ferrita bainítica sem que haja variação significativa neste período. 60 4.3.1 Micrografia e análise de aspectos morfológicos através de microscopia óptica. Com o auxílio da técnica de microscopia óptica, foi possível determinar a morfologia predominante nos corpos de prova. A Figura 34 a seguir, confirma a microestrutura esperada para aços bainíticos com pouco tempo de austêmpera, de modo que com 0,5h de tratamento, a matriz predominante é a martensita. Figura 34:(a) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 1austemperado a 280C por 0,5 h. b) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 2 austemperado a 280C por 0,5h. Fonte: Autor (2014) Observa-se na Figura 34 com aumento de 1000x, em (a) indicada pela letra M, a grande predominância da martensita. Após passadas 2 horas de tratamento é possível observar um pequeno indício do inicio da nucleação na liga 1 a partir de contornos de grão da austenita, que segundo Bhadeshia (2001) este fenômeno ocorre com a partição do carbono para a austenita, reduzindo a temperatura de inicio da transformação da martensita durante o resfriamento ilustradas na figura35 e Figura 36. 61 Figura 35: Formação de feixes de bainita Fonte: Bhadeshia (2001) Figura 36:(a) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 1austemperado a 280C por 2h. b) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 2austemperado a 280C por 2h. Fonte: Autor (2014) Observa-se na Figura 36 com aumento de 1000x, em (a) representada pela letra M, a grande predominância da martensita, as setas mostram uma pequena nucleação da ferrita bainítica a partir dos contornos de grão da austenita. Na Figura 35 (b) também representada pela letra M está a matriz completamente martensítica. Como descrito anteriormente, a liga 4 possui um teor maior de níquel e de acordo com(FERNADES, 2003), o Níquel, assim como a grande maioria dos elementos de liga, tem efeito retardador no inicio da transformação da bainita, fazendo com que as curvas de transformação de fase se desloquem para a 62 direita,exigindo um maior tempo de austêmpera para atingir o campo bainítico, conforme ilustrado na Figura 37 a seguir. Figura 37: Influência do Níquel (Ni) nas curvas C Fonte: Fernandes(2003) (a) Material com 0,60% de Carbono e 1,0% de Níquel (b) Material com 0,60% de Carbono e 4,0% de Níquel Semelhantes às reportadas na literatura (BHADESHIA, 2001), ao passar do tempo, ocorre o aumento da formação da bainita, pois em temperaturas características de bainita inferior, o carbono se precipita dentro da austenita fazendo com que haja um alongamento devido à baixa taxa de deformação da austenita, causando a perda da coerência da interface ferrita-austenita, deslocando-se até ser interrompida por um contorno de grão e formando novas placas determinas feixes de bainita �� ilustradas na Figura 38. 63 Figura 38:(a) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 1austemperado a 280C por 8h. b) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 2austemperado a 280C por 8h. Fonte: Autor (2014) Ainda sobre a influência do Níquel, a liga 1 apresenta uma maior taxa de transformação bainítica com o tempo de 8 horas, cerca de 33,44% do total contra 26,96% da liga 4 obtidas com contagem de fases que são mostradas na Tabela 4. Na proporção inversa, a quantidade de martensita ainda presente nas duas ligas, é maior na liga 4 e ambas as ligas também apresentam regiões de austenita não transformada, MA (martensita e/ou martensita). Após o período de aproximado de 20 horas, se inicia o fenômeno da estase, com a diminuição da cinética da migração das interfaces ferrita-austenita ligada a separação das curvas C provocada pelos elementos de liga. Com características morfologias muito semelhantes a descritas na literatura por (BHADESHIA, 2001), a Figura 39com aumento de 1000x, mostra a o predomínio de ripas de ferrita bainítica, apenas com pontos de martensita e austenita não transformada MA dispersos no material. 64 Figura 39:(a) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 1austemperado a 280C por 20h. b) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 2austemperado a 280C por 20h. Fonte: Autor (2014) Com quantidade transformada de aproximada de 80,4% para a liga 1 e 77,92% para a liga 4 conforme os valores apresentados na Tabela 4, pode-se afirmar que o material está em estase de transformação, pois visualmente e pela técnica de contagem de fases, é possível constatar que não houve alterações significativas na microestrutura do material no período entre 20 e 839 horas, com morfologia e dureza semelhantes. As Figuras 40 e 41 a seguir, mostram os tempos de 36 e 839 horas, que foi o último tempo analisado no experimento. Com o tempo de 36 horas, a porção transformada foi de 80,4% na liga 1 e 77,92% na liga 4 e sem grandes alterações para o tempo de 839 horas com a fração transformada de 85,95% na liga 1 e 80,23% na liga 4. 65 Figura 40:(a) aspectos morfológicos da transformação de fase no aço bainítico da liga 1austemperado a 280C por 36h. b) aspectos morfológicos
Compartilhar