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1 SOCIEDADE EDUCACIONAL DE SANTA CATARINA – SOCIESC INSTITUTO SUPERIOR TUPY – IST RAFAEL DE SOUZA SCHMITT ESTUDO COMPARATIVO DA EVOLUÇÃO MICROESTRUTURAL DE LIGAS DE AÇOS BAINÍTICOS DE ALTO CARBONO CONTENDO DIFERENTES TEORES DOS ELEMENTOS Mn, Si e Ni JOINVILLE 2013/1 2 RAFAEL DE SOUZA SCHMITT ESTUDO COMPARATIVO DA EVOLUÇÃO MICROESTRUTURAL DE LIGAS DE AÇOS BAINÍTICOS DE ALTO CARBONO CONTENDO DIFERENTES TEORES DOS ELEMENTOS Mn, Si e Ni Trabalho apresentado ao Instituto Superior Tupy, como requisito parcial à aprovação na disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II, sob orientação da Profa. MSc. Daniele da Silva Ramos. PROFESSORA MSc. DANIELE DA SILVA RAMOS Joinville 2013/1 3 RAFAEL DE SOUZA SCHMITT ESTUDO COMPARATIVO DA EVOLUÇÃO MICROESTRUTURAL DE LIGAS DE AÇOS BAINÍTICOS DE ALTO CARBONO CONTENDO DIFERENTES TEORES DOS ELEMENTOS Mn, Si e Ni Este projeto de Pesquisa foi julgado à aprovação na Disciplina de Trabalho de Conclusão de Curso II (TCC II) do curso de Bacharel em Engenharia Mecânica do Instituto Superior Tupy. Joinville, ____ de _______ de 2013. _______________________________________________ Profª. MSc. Daniele da Silva Ramos _______________________________________________ Prof. Dr. Modesto Hurtado Ferrer _______________________________________________ Eng. Vitor Ogliari 4 Dedico este trabalho aos professores e colegas de estudo especialmente àqueles que acreditaram e apoiaram nesta ideia. 5 AGRADECIMENTOS Agradeço primeiramente a Deus que iluminou o meu caminho durante essa jornada. Agradeço também a minha namorada Manuela, meu maior estímulo, pelo seu carinho, companheirismo, e compreensão. Aos meus pais Narciso e Neuci, pelo eterno orgulho de nossa caminhada, pelo apoio, compreensão, ajuda, e em especial, por todo carinho ao longo deste percurso. As minhas irmãs, amigos e colegas de curso, pela cumplicidade, ajuda e amizade. À professora e orientadora Daniele por seu apoio e inspiração no amadurecimento dos meus conhecimentos e conceitos que me levaram a execução e conclusão deste trabalho. 6 “Que os vossos esforços desafiem as impossibilidades, lembraivos de que as grandes coisas do homem foram conquistadas do que parecia impossível.” (Charles Chaplin) 7 RESUMO Os aços bainíticos isentos de carbonetos são materiais de grande importância tecnológica em função da interessante combinação de propriedades como boa ductilidade e alta resistência mecânica, à fadiga e elevada tenacidade à fratura. A microestrutura destes materiais é composta por uma mistura de ferrita bainítica e austenita retida de alto carbono. No presente trabalho novas ligas de aço com alto teor de carbono foram elaboradas, variando os teores dos elementos de ligas Si, Mn e Ni. Estes aços têm como principais aplicações o mercado automobilístico e ferroviário. Desta forma, utilizando considerações de estudos já realizados, buscou- se o aprimoramento dos conhecimentos a respeito da influência dos elementos de ligas nas características microestruturais e mecânicas do aço, trabalhando com uma temperatura pré-determinada de austêmpera. Sendo assim, a partir da definição das ligas e rota de processamento das mesmas estudou-se as transformações de fase permitindo verificar a evolução microestrutural de cada liga em uma temperatura de austêmpera com um determinado intervalo de tempo. A temperatura de austêmpera trabalhada foi calculada através da literatura e fixada em 280°C e o intervalo de tempo que se trabalhou foi de 1 a 80 horas, alcançando-se evoluções volumétricas da fase de ferrita bainítica em ordens de 79,2 a 93,6 %, a quantificação de fases foi determinada utilizando a microscopia óptica. Palavras Chave: aço bainítico, transformações de fase, elementos de ligas; ferrita bainítica, microestrutura. 8 ABSTRACT The carbide-free bainitic steels are materials of great technological importance due to the interesting combination of properties such as ductility and high strength, fatigue and high fracture toughness. The microstructure of these materials consists of a mixture of bainitic ferrite and high carbon austenite. In this paper new alloy steel with high carbon content were prepared with varying levels of alloying elements Si, Mn and Ni. These steels have main applications the auto market and rail. Thus, using considerations of previous studies, we sought to improve the knowledge about the influence of alloying elements on the microstructural characteristics and mechanical properties of steel, working with a predetermined temperature austempering. Thus, from the definition of the alloys and the same processing route have studied the phase transformations allows one to microstructural evolution of each alloy at a temperature of austempering with a given time interval. The austempering temperature was calculated crafted through literature and set at 280 ° C and the time interval that was worked 1-80 hours reaching developments are volumetric phase bainitic ferrite in orders from 79.2 to 93.6 %, the quantification of phases was determined using optical microscopy. Keywords: bainitic steel, phase transformations, alloying elements; ferrite bainitic microstructure. 9 LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 – Características de transformações em aços ............................................................... 23 Figura 2 - Diferentes morfologias da bainita; a) bainita nodular, b) bainita colunar, c) bainita superior, d) bainita inferior, e) bainita alotriomorfa de contorno de grão, f) bainita inversa ... 24 Figura 3 - Formação da bainita superior e inferior e suas principais diferenças ...................... 25 Figura 4 - Esquema da precipitação de carbonetos ..................................................................... 27 Figura 5 - (a) Micrografia óptica ilustrando feixes de bainita inferior numa transformação parcial, (b) subunidades da bainita inferior .................................................................................... 28 Figura 6 - Esquema de classificação da bainita com resfriamento contínuo. ........................... 29 Figura 7 - Aspectos microestruturais da bainita ............................................................................ 31 Figura 8 - Relação da energia livre da ferrita e da austenita com a temperatura T0 .............. 32 Figura 9 - Diagrama de fases do tratamento de austêmpera ...................................................... 33 Figura 10 - Curvas esquemáticas típicas para uma transformação de fase heterogênea que segue a equação JMAK. ................................................................................................................... 37 Figura 11 - Ligas bainíticas comerciais ...........................................................................................40 Figura 12 - Aços bainíticos livres de carbonetos em serviço. ..................................................... 43 Figura 13 - Modelo bloco Y ............................................................................................................... 45 Figura 14 - Fusão do Aço .................................................................................................................. 46 Figura 15 - Aço fundido ..................................................................................................................... 47 Figura 16 – Representação do ciclo de tratamento isotérmico ................................................... 49 Figura 17 - fornos utilizados: a) de pré-aquecimento 400°C, b) forno austenitização 800°C, c) forno de austêmpera 280°C. ............................................................................................................. 49 Figura 18 - Métodos de limpeza: a) água, b)ácido, c) óleo. ........................................................ 50 Figura 19 - Microscópio Olympus BX 51 ........................................................................................ 51 Figura 20 – Microscópio Jeol (MEV), modelo JS-6360 ................................................................ 52 Figura 21 - Exemplo de método de análise utilizado para amostra da liga 1 com 0,85% C, 1,48% Si, 1,50% Mn, 0,50% Ni, 1,30% Cr, 0,30% Mo, austemperada a 280°C durante 4 horas e observada com aumento de 1000X. ................................................................................. 53 10 Figura 22 - Exemplo de método de análise utilizado para amostra da liga 1 com 0,85% C, 1,48% Si, 1,50% Mn, 0,50% Ni, 1,30% Cr, 0,30% Mo, austemperada a 280°C durante 24 horas e observada com aumento de 1000X. ................................................................................. 54 Figura 23 - Exemplo de método de análise utilizado para amostra da liga 3 com 0,85% C, 1,52% Si, 1,98% Mn, 0,47% Ni, 1,38% Cr, 0,30% Mo, austemperada a 280°C durante 24 horas e observada com aumento de 1000X. ................................................................................. 54 Figura 24 - Microestrutura das amostras brutas de fundição da liga 1 (a), liga 2 (b), liga 3 (c), liga 4 (d). Microscopia óptica (MO). Ataque com Nital a 4%. Aumento em 200X. ................... 57 Figura 25 - Microestrutura das amostras brutas de fundição da liga 1 (a), liga 2 (b), liga 3 (c), liga 4 (d). Microscopia óptica (MO). Ataque com Nital a 4%. Aumento em 1000X. Perlita refinada = (P), Ferrita e/ou Martensita = (F/M). ............................................................................. 58 Figura 26 - Microestruturas das amostras laminadas, seção longitudinal, ataque com Nital a 4%, aumento em função da escala ; a) liga 1 b) liga 2 c) liga 3 d) liga 4. ................................. 59 Figura 27 - Microestruturas das amostras laminadas, seção longitudinal, ataque com Nital a 4%, aumento em função da escala; a) liga 1 b) liga 2 c) liga 3 d) liga 4. .................................. 60 Figura 28 - Microestruturas das amostras laminadas, seção transversal, ataque com Nital a 4%, aumento em função da escala ; a) liga 1 b) liga 2 c) liga 3 d) liga 4. ................................. 61 Figura 29 - Microestruturas das amostras laminadas, seção transversal, ataque com Nital a 4%, aumento em função da escala ; a) liga 1 b) liga 2 c) liga 3 d) liga 4. ................................. 62 Figura 30 - Microestruturas das amostras laminadas, seção no sentido da laminação, ataque com Nital a 4%, aumento em função da escala ; a) liga 1 b) liga 2 c) liga 3 d) liga 4. ............ 63 Figura 31 - Microestruturas das amostras laminadas, seção no sentido da laminação, ataque com Nital a 4%, aumento em função da escala ; a) liga 1 b) liga 2 c) liga 3 d) liga 4. ............ 64 Figura 32 - Microestrutura de amostra da liga 1, 280°C. Microscopia óptica (MO). Ataque com Nital a 4%. Aumento em função da escala, a) austemperado em 1 hora, b) austemperado em 8 horas, c) austemperado em 24 horas, d) austemperado em 72 horas. 66 Figura 33 - Microestrutura de amostra da liga 2, 280°C. Microscopia óptica (MO). Ataque com Nital a 4%. Aumento em função da escala, a) austemperado em 4 horas, b) austemperado em 12 horas, c) austemperado em 48 horas, d) austemperado em 80 horas. ............................................................................................................................................................... 67 Figura 34 - Microestrutura de amostra da liga 3, 280°C. Microscopia óptica (MO). Ataque com Nital a 4%. Aumento em função da escala, a) austemperado em 1 hora, b) austemperado em 8 horas, c) austemperado em 12 horas, d) austemperado em 72 horas. 68 Figura 35 - Microestrutura de amostra da liga 4, 280°C. Microscopia óptica (MO). Ataque com Nital a 4%. Aumento em função da escala, a) austemperado em 1 hora, b) austemperado em 8 horas, c) austemperado em 24 horas, d) austemperado em 72 horas. 69 11 Figura 36 - Curvas de cinética da transformação bainítica das 4 ligas, durante tratamento térmico de austêmpera a 280°C durante 80 horas. ...................................................................... 71 Figura 37 - Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da liga 2, austemperado a 280°C por 80 horas, ataque Nital a 4%, 2000X. ............................................................................................... 72 Figura 38 - Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da liga 2, austemperado a 280°C por 80 horas, ataque Nital a 4%, 5000X. ............................................................................................... 73 Figura 39 - Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da liga 2, austemperado a 280°C por 80 horas, ataque Nital a 4%, 15000X. ............................................................................................ 73 Figura 40 - Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da liga 3, austemperado a 280°C por 80 horas, ataque Nital a 4%, 2000X. ............................................................................................... 74 Figura 41 - Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da liga 3, austemperado a 280°C por 80 horas, ataque Nital a 4%, 5000X. ............................................................................................... 75 Figura 42 - Microscopia eletrônica de varredura (MEV) da liga 3, austemperado a 280°C por 80 horas, ataque Nital a 4%, 15000X. ............................................................................................ 75 Figura 43 - Gráfico dos resultados dos ensaios de dureza Rockwell realizados nas amostras após o processo de laminação......................................................................................................... 77 Figura 44 - Gráfico dos resultados dos ensaios de dureza Rockwell realizados nas amostras Com tratamento térmico de austêmpera. ....................................................................................... 78 12 LISTA DE TABELAS Tabela 1 - Composição química definida para o estudo .............................................................. 44 Tabela 2 – Descrição do Tratamento Térmico de Austêmpera .................................................. 48 Tabela 3 - Porcentagem dos elementos de ligas presentes nos 4 distintos materiais. .......... 56 Tabela 4 - Resultados da fração volumétrica de ferrita bainítica das 4 ligas, calculadas a partir da equação de JMAK. ............................................................................................................. 70 Tabela 5 - Resultados dosensaios de dureza Rockwell realizados nas amostras; a) Com tratamento térmico de austêmpera. b) após o processo de laminação. .................................... 76 Tabela 6 - Resultados dos ensaios de microdureza Vickers (HV-0,1) realizado em amostras austemperadas a 280°C. ................................................................................................................... 79 13 LISTA DE SÍMBOLOS C = Carbono; Si = Silício; Mn = Manganês; Mo = Molibdênio; Ni = Níquel; Cr = Cromo ; Fe-C = Ferro Carbono; T1 = Temperatura de Tratamento; Ms = Inicio da transformação da austenita em martensita; γ = Austenita; α = Ferrita; Bi = Temperatura de inicio de transformação; TTT = Tempo, temperatura, transformação; VV = Fração volumétrica da fase; 14 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 17 1.1 OBJETIVOS ........................................................................................................ 18 1.1.1 Objetivo geral ................................................................................................. 18 1.1.2 Objetivo específicos....................................................................................... 18 2 REFERENCIAL TEÓRICO ..................................................................................... 20 2.1 TRANSFORMAÇÃO BAINÍTICA ......................................................................... 20 2.1.1 Aspectos morfológicos da bainita ................................................................ 22 2.1.1.1 Transformação Isotérmica ............................................................................. 24 2.1.1.1.1 Bainita Superior .......................................................................................... 26 2.1.1.1.2 Bainita Inferior ............................................................................................ 26 2.1.1.2 Resfriamento Contínuo .................................................................................. 28 2.1.2 Aspectos cinéticos ......................................................................................... 29 2.1.3 Aspectos termodinâmicos ............................................................................. 31 2.2 TRANFORMAÇÃO BAINÍTICA INCOMPLETA ................................................... 32 2.3 EFEITO DOS ELEMENTOS DE LIGA................................................................. 34 2.4 CINÉTICA GLOBAL DAS TRANSFORMAÇÕES DE FASE ................................ 36 2.4.1 Descrição da curva de fração volumétrica versus tempo em reações heterogêneas ........................................................................................................... 37 2.5 AÇOS BAINITICOS ............................................................................................. 39 2.5.1 Aços baixa liga para aplicações gerais ........................................................ 39 2.5.2 Aços baixa liga resistentes a fluência .......................................................... 39 2.5.3 Aços de alta resistência de médio e alto carbono....................................... 40 2.5.4 Aços bainíticos de alto carbono ................................................................... 41 2.3.2 Aços bainíticos de alto carbono isentos de carbonetos ............................ 41 2.3.2.1 Propriedades Mecânicas e Aplicações .......................................................... 42 2.3.2.1.1 Comportamento à Fadiga ........................................................................... 43 15 3 MATERIAIS E MÉTODOS ..................................................................................... 44 3.1 MATERIAIS ......................................................................................................... 44 3.2 MÉTODOS .......................................................................................................... 44 3.2.1 Condições iniciais .......................................................................................... 44 3.2.2 Processo de fundição .................................................................................... 45 3.2.2.1 Moldagem ...................................................................................................... 45 3.2.2.2 Fusão das Ligas ............................................................................................ 45 3.2.3 Laminação a quente ....................................................................................... 47 3.2.4 Tratamento térmico de austêmpera .............................................................. 48 3.2.5 Preparação metalográfica .............................................................................. 50 3.2.5.1 Microscopia Óptica ........................................................................................ 51 3.2.5.2 Microscopia Eletrônica de Varredura............................................................. 52 3.2.5.3 Quantificação de Fases ................................................................................. 52 3.2.5.4 Microdureza Vickers ...................................................................................... 55 3.2.6 Ensaio de dureza ............................................................................................ 55 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES ........................................................................... 56 4.1 COMPOSIÇÃO QUÍMICA ................................................................................... 56 4.2 CARACTERIZAÇÃO MICROESTRUTURAL ....................................................... 56 4.2.1 Caracterização do material bruto de fusão .................................................. 57 4.2.2 Caracterização do material laminado ........................................................... 59 4.2.2.1 Microscopia Óptica (MO) ............................................................................... 59 4.2.3 Caracterização do material austemperado .................................................. 65 4.2.3.1 Microscopia Óptica (MO) ............................................................................... 65 4.2.3.2 Metalografia Quantitativa ............................................................................... 69 4.2.3.3 Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV) ................................................. 72 4.2.4 Dureza ............................................................................................................. 75 4.2.5 Microdureza .................................................................................................... 78 16 5 CONCLUSÕES ...................................................................................................... 80 6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................... 82 17 1 INTRODUÇÃO A concepção de novas ligas ferrosas está associada às exigências e aos contínuos desafios do mercado de aço. Aliado a isso, as enormes pressões econômicas, ambientais e políticas que caracterizam o mundo atual se refletem na área dos materiais, onde há uma busca constante de novas alternativas que ofereçam um baixo custo e possam garantir uma boa relação entre manufatura, propriedades mecânicas e peso dos componentes projetados. Recentemente, ocorreu o desenvolvimento dos Aços Avançados de Alta Resistência(Advanced High Strength Steels - AHSS), com resistência ou combinações de resistência/estampabilidade superiores aos obtidos tradicionalmente pelo endurecimento por solução sólida ou pelos aços de alta resistência e baixa-liga. Entretanto, outros aços de construção mecânica vêm sendo aprimorados de forma a atender as crescentes demandas da indústria, entre eles os aços bainíticos livres de carbonetos. A presença de carbonetos reduz a tenacidade à fratura, quando comparados com os aços convencionais temperados e revenidos, limitando o campo de aplicação dos aços bainíticos com carbonetos. De acordo com Bhadeshia (2001) a ausência dos carbonetos nos aços bainíticos implica em microestruturas mais resistentes à falha por clivagem e à formação de vazios. Um exemplo característico de estruturas bainíticas isenta de carbonetos são os ferros fundidos nodulares austemperados, nos quais as altas resistências à fadiga mecânica são atribuídas em parte à estrutura de ausferrita (ferrita bainítica e austenita retida), Carmo (2011) após Kovacs (1986). Sabe-se, que a formação de carbonetos durante a transformação bainítica dos aços pode ser inibida com a adição de elementos de liga. Esse fenômeno é conhecido como estáse da transformação bainítica ou como transformação interrompida que pode estar associado à separação entre as curvas em C da bainita e da ferrita/perlita e à existência de uma baía na curva TTT destes materiais (GOLDENSTEIN, 2002). Reynolds et al, (1991) mostrou que a estáse não é um fenômeno geral da transformação bainítica, mas é uma característica da adição de alguns elementos de liga, a partir de determinadas concentrações mínimas. A microestrutura característica dos aços bainíticos isentos de carbonetos é a mistura de ferrita bainítica e austenita retida de alto carbono, a qual é a responsável 18 pela combinação de propriedades mecânicas como elevada resistência, tenacidade, alta ductilidade, resistência à abrasão e à fadiga (BHADESHIA, 2001). Porém a grande dificuldade atualmente é a obtenção desse aço, que exige um estudo mais aprofundado na rota de processamento desse material. Desta forma, neste estudo trabalhou-se desde a obtenção de quatro ligas aço de alto teor de carbono fundidas e posteriormente laminadas, com variações de determinados elementos de liga, sendo o Si, Mn e Ni. Posteriormente as ligas foram tratadas termicamente pelo processo de austêmpera em uma temperatura de 280ºC, com tempos variando de 1 a 80 horas. A partir destes procedimentos realizou-se análise microestrutural das amostras pelas técnicas de microscopia óptica e microscopia eletrônica de varredura, para identificação das fases e verificação da evolução microestrutural da ferrita bainítica. Também se realizaram ensaios de microdureza e dureza Rockwel nas amostras. Após o levantamento destas informações foi possível avaliar a influência dos elementos de liga na evolução microestrutural das amostras. 1.1 OBJETIVOS 1.1.1 Objetivo geral Definir as ligas e rota de processamento das mesmas estudando as transformações de fase verificando a evolução microestrutural de cada liga em uma temperatura de austêmpera com um determinado intervalo de tempo. 1.1.2 Objetivo específicos • Realizar tratamento térmico de austêmpera nas 4 ligas; • Analisar as microestruturas do material bruto de fusão, laminado e austemperado; • Estudar a evolução microestrutural das ligas através das técnicas de Microscopia Óptica (MO) e Microscopia Eletrônica de Varredura (MEV); 19 • Estudar o comportamento mecânico das ligas através de ensaios de dureza Rockwel e Microdureza (Vickers). 20 2 REFERENCIAL TEÓRICO 2.1 TRANSFORMAÇÃO BAINÍTICA Há duas maneiras de se obter uma transformação bainítica, por resfriamento contínuo ou pela transformação isotérmica. No resfriamento contínuo, sua composição química influencia muito na temperatura de início de transformação (Bi), a temperabilidade bainítica (uma alta temperabilidade bainítica implica que esta se forma em uma grande faixa de taxas de resfriamento) e a cinética de transformação bainítica (atrasando a formação da ferrita poligonal) (BAI, 1998). Assim, ocorrendo a formações de microestruturas complexas, que são formadas pelo crescimento de uma fase ferrita acicular juntamente com pontos isolados de carbonetos, martensita e/ou austenita (OLIVEIRA, 1994). Na transformação isotérmica a formação de bainita ocorre em uma faixa de temperatura entre o início da transformação da martensita e as temperaturas de formação da ferrita e perlita (BHADESHIA, 2001). Inúmeras tentativas têm sido feitas para analisar estatisticamente os dados disponíveis para ampliar o conhecimento científico sobre o comportamento do aço, a fim de auxiliar a produção de tratamento térmico da grande variedade de ligas de aço. Várias equações foram obtidas, porém são necessários mais dados para aumentar o alcance e a precisão das mesmas, dentre estes pode-se destacar os seguintes aspectos: A determinação da taxa de aquecimento O intervalo de transformação da martensita A faixa de transformação bainítica As condições de resfriamentos críticos O efeito das condições de austenitização Steven e Haynes estudaram a faixa de transformação bainítica e forneceram a seguinte fórmula quantitativa: Bs (°C) = 830 – 270.C – 90.Mn – 37.Ni – 70.Cr – 83.Mo (1) 21 com B50 = Bs – 60°C (2) e Bf = Bs - 120°C (3) Sendo que a temperatura de transformação bainítica varia até ± 25°C (ATKINS; MET, 1980) A morfologia da bainita pode se apresentar de diversas formas, dependendo do tipo de transformação e resfriamento aplicados. Durante a transformação isotérmica a bainita é constituída de finos agregados de ripas de ferrita e partículas de carbonetos. Porém, tem-se também a bainita da transformação isotérmica incompleta, constituída de ripas de ferrita e austenita retida, ou seja, a reação bainítica é interrompida antes da precipitação dos carbonetos. Estas morfologias são diferentes da bainita gerada durante o resfriamento contínuo (BHADESHIA, 2001). O fenômeno de reação incompleta, será abordado em maiores detalhes posteriormente. Por hora, de uma forma simplificada, os estágios característicos de reação durante o tratamento de austêmpera em aços e suas respectivas transformações de fase, podem ser assim descritos: 1º estágio: austenita () → ferrita () bainítica + austenita () alto carbono; 2º estágio: austenita () alto carbono → ferrita () + carbonetos. No primeiro estágio da reação, o crescimento da ferrita bainítica faz com que a austenita remanescente se torne rica em carbono, pelo fenômeno de partição do carbono da ferrita, devido à diferença de solubilidade das duas fases. O crescimento ocorre simultaneamente com a difusão do carbono para austenita (BHADESHIA, 2001). Sendo assim, no primeiro estágio da reação de austêmpera tem-se a formação de uma microestrutura composta por ferrita bainítica e austenita rica em carbono. No segundo estágio da transformação tem-se a precipitação de carbonetos, que ocorre devido à manutenção da temperatura de austêmpera, pois a austenita rica em carbono pode reduzir a energia livrepela rejeição de carbono, induzindo a precipitação de carbonetos dentro da austenita, até que a mesma seja praticamente consumida (BHADESHIA, 2001). 22 A bainita deve crescer sem difusão de solutos substitucionais, mas o excesso de carbono é rapidamente rejeitado para a austenita residual. O carbono particionado deve então precipitar como carbonetos, originando a microestrutura clássica de bainita superior. Nas temperaturas de transformação inferiores, onde a repartição do carbono é menor, o excesso de C irá oportunamente precipitar dentro da ferrita bainítica, levando à microestrutura de bainita inferior, (BHADESHIA, 2001). O crescimento da bainita ocorre quando é atingido determinadas temperaturas onde a austenita possui baixa resistência ao escoamento e se tornando incapaz de acomodar elasticamente a deformação. Assim o deslocamento causado pela deformação plástica da austenita causa a perda de coerência na interface α/γ (BHADESHIA, 2001). Sendo assim interrompido quando encontra um obstáculo como o contorno de grão, para dar continuidade a transformação é requerido que uma nova plaqueta se forme, propiciando um aglomerado de subunidades paralela com orientações cristalográficas parecidas. Estes aglomerados são conhecidos como feixes de bainita, (BHADESHIA, 2001). 2.1.1 Aspectos morfológicos da bainita As diferenças entre as possíveis transformações que podem ocorrer a partir da austenita estão demonstradas na figura 1, onde os dados foram obtidos através de práticas experimentais (BHADESHIA, 2001, p.405). 23 Figura 1 – Características de transformações em aços Fonte: BHADESHIA (2001) Sendo assim a bainita é definida como um produto onde sua transformação ocorre em faixas de temperaturas intermediárias, encontrando-se entre a temperatura de formação eutetóides (formação da perlita) e a formação da martensita, na qual é constituído por agregados de ferrita e cementita (COLPAERT, 2008). Estudos realizados por Reynolds relatam que há seis diferentes morfologias da bainita (demonstrado na figura 2), entendidas como agregados de ferrita e carboneto não lamelares, obtidas a partir da decomposição isotérmica de austenitas em aços. 24 Figura 2 - Diferentes morfologias da bainita; a) bainita nodular, b) bainita colunar, c) bainita superior, d) bainita inferior, e) bainita alotriomorfa de contorno de grão, f) bainita inversa Fonte: REYNOLDS (1991) Dentre as seis morfologias só duas são classificadas como as principais, a bainita superior e a bainita inferior, 1.c e 1.d respectivamente (figura 2), onde sua classificação ocorre de acordo com a temperatura na qual é formada e das suas características microestruturais (SILVA; MEI, 1988). 2.1.1.1 Transformação Isotérmica A bainita isotérmica proveniente da transformação completa da reação bainítica geralmente é descrita na literatura (BHADESHIA, 2001) como uma microestrutura composta por uma mistura não lamelar de ferrita e carbonetos, que pode ser classificada em dois tipos principais: i) bainita superior; e ii) bainita inferior. Outra definição comumente utilizada descreve esta microestrutura como sendo composta por ferrita acicular ou em placas, contendo carbonetos dispersos (AARONSON, 1999). Vale mencionar que as definições clássicas de bainita não fazem nenhuma restrição morfológica além da exclusão de agregados lamelares de ferrita e carbonetos. a) b) c) d) e) f) 25 Na figura 03 é possível observar que a transformação bainítica inicia na ferrita rica em carbono (placa saturada de carbono) e dependendo da composição química da liga e temperatura de resfriamento, pode-se ter a formação da bainita inferior ou superior. Figura 3 - Formação da bainita superior e inferior e suas principais diferenças Fonte: BHADESHIA (2001) Em aços de alto carbono, tanto a bainita superior como a bainita inferior se formam com supersaturação de carbono na ferrita: na bainita superior, com alta velocidade de difusão do carbono, todo excesso de carbono se difunde na austenita residual, que se enriquece em carbonos, assim formando a precipitação de carbonetos entre as lamelas de ferritas. Já na bainita inferior, por ter uma velocidade de difusão mais baixa, todo o carbono se difunde na austenita residual, precipitando partes dos carbonetos no interior das placas ferriticas (GUTIÉRREZ; ALTUNA, 2005). 26 2.1.1.1.1 Bainita Superior A transformação da bainita superior ocorre entre 550°C e 350°C, embora dependa da composição química do aço. As ripas de ferrita crescem agrupadas em feixes de agulhas paralelas e apresentam orientação cristalográfica idêntica e definida, onde ocorre com mais frequência com o aumento da porcentagem de carbono (BHADESHIA, 1999). Essas finas ripas de ferrita tem aproximadamente 0,5 µm de largura, e no contorno dessas ripas são encontrados precipitados de cementita, em aços de alto carbono a formação de cementita ocorre em fileiras contínuas ao longo do contorno das ripas (SILVA;MEI, 1988). Conforme o crescimento da ripa de ferrita, o carbono, por difusão, sai da estrutura CCC (cúbica de corpo centrado), fazendo com que a temperatura de inicio de transformação da martensita diminua e enriqueça a austenita. Com o aumento do teor de C e ao mesmo tempo a diminuição da temperatura de transformação propiciam na diminuição do comprimento das ripas de ferritas, assim forçando os carbonetos a se aglutinarem entre elas formando um estrutura fina (OHMORI, OHTANI, KUNITAKE, 1971). A bainita superior proporciona uma grande perda de resistência e uma leve perda de ductilidade comparada com a bainita inferior. Atribuindo-se ao fato de sua microestrutura ser grosseira, e a possível precipitação de carbonetos nos contornos do grão de austenita. Na realidade, esta fragilização é encontrada na formação da bainita superior nas proximidades do cotovelo principal da curva TTT, à uma temperatura 25°C abaixo do cotovelo (HABRAKEN, ECONOMOPOULOS, 1967). 2.1.1.1.2 Bainita Inferior A bainita inferior é formada numa faixa de temperatura que está entre 250°C e 350°C, próxima à região de formação da martensita, assim como a bainita superior, é dependente da composição química do aço (SILVA;MEI, 1988, p.66). Apresenta microestrutura e características cristalográficas parecidas as apresentadas pela bainita superior. Entretanto, enquanto na bainita superior apresenta a formação de agulhas, na bainita inferior tende a formar mais placas que agulhas, podendo chegar até 0,5 µm de largura. Ocorrendo no interior das placas de 27 ferrita precipitação de cementita. Subsistindo dois tipos de precipitados de cementita: os que se formam por meio da austenita enriquecida em carbono e que afastam as plaquetas de ferrita bainítica, e o que se precipita a partir da ferrita saturada (HABRAKEN E ECONOMOPOULOS, 1967). Obtendo a baixas temperaturas, plaquetas de ferrita intragranulares de forma lenticular apresentando em seu interior precipitados de carbonetos agrupados em ângulo de 55 a 60 graus comparado ao eixo longitudinal representado na figura 4 (OHMORI, 2002). Figura 4 - Esquema da precipitação de carbonetos Fonte: OHMORI (2002) A principal distinção entre bainita inferior e superior é que a bainita inferior ocorre em temperaturas mais baixas, promovendo a formação de carbonetos (cementita) no interior das ripas de ferrita, enquanto na bainita superior os carbonetos precipitam entreas ripas de ferrita. O carboneto (cementita) na bainita inferior apresenta dois sítios de nucleação : i) que cresce a partir da austenita enriquecida em carbono e que separa as ripas de ferrita bainítica; e ii) uma segunda cementita que precipita a partir da ferrita saturada. O carboneto que se forma a partir da ferrita saturada apresenta uma relação de orientação de revenido, encontrada quando ocorre a precipitação de cementita durante o revenido da martensita. 28 O crescimento individual de uma placa de bainita inferior, com os carbonetos precipitados no interior da matriz é lenta, pois inicialmente nucleiam-se e se formam novas ripas de ferrita na austenita, até obter uma estrutura completamente bainítica no grão de austenita (PICKERING, 1967). Exemplos de microestruturas típicas da bainita inferior são mostrados na figura 05. Figura 5 - (a) Micrografia óptica ilustrando feixes de bainita inferior numa transformação parcial, (b) subunidades da bainita inferior Fonte: BHADESHIA (2001) 2.1.1.2 Resfriamento Contínuo Com relação à bainita proveniente do resfriamento contínuo, tem-se uma classificação diferente de acordo com as morfologias, as quais foram identificadas como B1, B2 e B3, e correspondem a uma disposição mais abrangente, quando comparadas à classificação de Ohmori para os produtos bainíticos da transformação isotérmica da austenita. O esquema de classificação morfológica, proposto por Bramfitt (1990) é dado na figura 06. 29 Figura 6 - Esquema de classificação da bainita com resfriamento contínuo. (BRAMFITT, 1990) O termo bainita granular é muito utilizado para descrever a bainita formada no resfriamento contínuo com baixa taxa de resfriamento. A bainita granular é chamada assim por ter a forma de “grãos”. O carbono que é segregado da ferrita bainítica estabiliza a austenita residual e a microestrutura final consiste em: ferrita acicular associada com compostos M-A (carbonetos, martensita, austenita e/ou perlita), dependendo da difusão e saturação de carbono na austenita. (HONEYCOMBE E BHADESHIA, 1995). Habraken e Economopoulos (1967) verificaram que durante o resfriamento contínuo se obtém ilhas de austenita retida em uma matriz de ferrita acicular, estrutura semelhante a que é denominada de bainita granular. Nos seus experimentos encontram estruturas parecidas com as denominadas bainita superior e inferior, porém misturadas com a bainita granular (HABRAKEN E ECONOMOPOULOS,1967). 2.1.2 Aspectos cinéticos A transformação bainítica ocorre em temperaturas intermediárias, entre 250 e 550 °C, dependendo da composição química do aço e das taxas de resfriamento e deformação (ANDRÉ et al., 2005). Neste intervalo de temperatura, os elementos de liga que constituem o aço adquirem taxas de difusão suficiente para a redistribuição dos átomos. No entanto, Honeycombe e Bhadeshia (1995) determinaram um modelo 30 que descreve o papel dos elementos de liga substitucionais nos aços assim definindo a condição de “paraequilíbrio” quando estes não forem capazes de se difundirem no tempo esperado de transformação. Bhadeshia e Edmonds (1980) realizaram o primeiro estudo a respeito do mecanismo de reação bainítica, destacando em 1982 os seguintes princípios: i) Uma ripa individual de ferrita bainítica cresce sem difusão. Particionando todo o excesso de carbono para a austenita. Ocorre uma limitação da fração volumétrica de ferrita bainítica pelo fato de que, para uma dada temperatura, as energias livres da austenita e da ferrita, para uma dada composição, se tornam idênticas; ii) O tamanho de cada ripa individual é influenciado pela quebra de coerência na interface α/γ, em função da deformação plástica causada pela mudança de formato na frente de reação. O crescimento de um feixe de ripas exige então a nucleação de novas subunidades; iii) A teoria clássica de nucleação não se aplica à transformação bainítica; uma vez que a nucleação é governada pela dissociação de arranjos tridimensionais de discordâncias. Há também o crescimento no sentido do comprimento das subunidades e dos feixes, ocorrendo um processo de nucleação das subunidades com precipitação de carbonetos. Onde a variação da fração do volume de trasformação bainítica é em função do tempo e da temperatura de austêmpera, de tal forma que para temperatura T2 maior que a temperatura T1 o volume de bainita transformada é menor. A nucleação de uma subunidade ocorre através do contorno de grão austenítico, assim crescendo até ser barrado pela deformação plástica da austenita. A partir dessa subunidades já formada novas subunidades nucleiam-se no seu extremo como mostra a figura 7 (BHADESHIA, 2001, p.129). 31 Figura 7 - Aspectos microestruturais da bainita Fonte: BHADESHIA (2001) 2.1.3 Aspectos termodinâmicos Takahashi e Bhadeshia (1991) determinaram que para aços bainíticos isentos de carbonetos, a concentração de carbono na austenita retida é praticamente a mesma da austenita na temperatura T0, que é uma determinada temperatura ondem a austenita e ferrita de mesma composição tem a mesma energia livre. E o teor de carbono na austenita aumenta com o decréscimo da temperatura de tratamento (T1 na Figura 8), pois uma temperatura de tratamento menor promove um menor crescimento da austenita e, consequentemente, menor quantidade relativa de carbono. Assim antes da transformação adifusional tornar-se impossível, ou seja, acima de Ms, há uma região estável da austenita que acompanha o decréscimo da temperatura T0 até a saturação de carbono. A reação é dita incompleta, pois ela encerra antes que a austenita atinja a sua composição de equilíbrio, dada pela curva Ae3. É neste tempo que a austenita retida é estabilizada pela máxima concentração de carbono que é permitida na reação bainítica (BHADESHIA e EDMONDS, 1980). 32 Figura 8 - Relação da energia livre da ferrita e da austenita com a temperatura T0 Fonte: Bhadeshia, 2001 2.2 TRANFORMAÇÃO BAINÍTICA INCOMPLETA Em aços ligados a transformação isotérmica apresenta uma cinética característica, onde a decomposição isotérmica da austenita em temperaturas abaixo da baía da curva TTT é inicialmente rápida, formando um produto isento de carbonetos (bainita superior sem carbonetos ou ferrita pro-bainítica) e parando quase completamente. Este fenômeno é conhecido como “estáse” da transformação bainítica ou fenômeno da transformação interrompida e está ligado à separação entre as curvas em C da bainita e da ferrita/perlita e à existência de uma baía na curva TTT (WEVER, 1932,p.71). A “estáse” não é um fenômeno geral da transformação bainítica, mas é uma característica de alguns elementos de liga, a partir de determinadas concentrações mínimas. A “estáse” está associada a uma diminuição da cinética de migração das interfaces ferrita/austenita em relação à velocidade calculada supondo equilíbrio (ou para-equilíbrio) na interface, o que provoca a separação das curvas em C e a baía. A explicação para esta diminuição da velocidade local na presença de elementos de liga é a existência de fenômenosde arraste de soluto associados à segregação na interface. Esta, aliás, é parte da explicação mais moderna sobre o efeito destes elementos de liga na temperabilidade dos aços (REYNOLDS, 1990, p.1433). 33 Kovacs (1990 – 1999), Carmo (2001) e Putatunda (2001) demonstram passo a passo o processo de obtenção do aço isento de carbonetos, de acordo com a figura 09, o aço sofre um aquecimento até a temperaturade austenitização (B-C), permanecendo nesta temperatura até tornar-se totalmente austenítico e sua matriz ficar saturada de carbono. O tempo de austenitização é relativo ao tamanho da peça (espessura), da quantidade de peças, da composição química e da proporção de ferrita e perlita das peças. Após a austenitização completa da peça, refria-se rapidamente até a temperatura de 150 à 350°C, abaixo da transformação da perlita e acima da linha de transformação martensítica (Ms) (C-D). Depois as peças permanecem a temperatura constante o tempo necessário para que ocorra a transformção da austenita. Nesta etapa a peça pode ser retirada do forno e resfriada até a temperatura ambiente. Sabendo que deve ocorrer antes do início da transformação bainítica (ferrita + carbonetos), precisamente na etapa D-E. Figura 9 - Diagrama de fases do tratamento de austêmpera Fonte: KOVACS, 1990. O uso do silício em aço de alto carbono é um dos grandes responsáveis pelo fenômeno da reação incompleta da bainita, pelo fato dele ser pouco solúvel na cementita, tende a repelir o carbono em solução sólida na austenita, propiciando uma maior difusão deste elemento na ferrita. Desta forma causando um 34 retardamento na formação de precipitados de carbonetos ao decorrer da formação da fase bainita (CABALLERO e BHADESHIA, 2004). 2.3 EFEITO DOS ELEMENTOS DE LIGA Qualquer elemento de liga adicionado nas ligas de aço, com exceção do cobalto, afetam a posição das curvas isotérmicas, deslocando a curva de início e de fim de transformação para a direita, assim retardando a transformação da austenita. A virtude desse deslocamento e, portanto, do retardamento nas transformações, se da na maior facilidade de obter a estrutura bainítica, por resfriamentos isotérmico (CHIAVERINI,1977). Com a adição destes elementos ocorre assim a redução da temperatura de formação da bainita, resultando no afastamento das baias de ferrita e perlita e a de bainita nos aços ligados, um dos elementos que exerce essa função é o boro, mesmo em pequenas adições (0,002%). A vantagem destes aços é que aliam uma boa resistência mecânica à ductilidade sem a necessidade de se empregar tratamentos térmicos posteriores (SILVA;MEI, 1988). O carbono é o elemento de liga com extrema importância na composição química de um aço, por ser o mais barato e ter grande efeito na redução da faixa de temperatura em que ocorre a formação da bainita. Contendo também maior solubilidade na austenita que na ferrita e tem um grande potencial para estabilizar a austenita (RANIERI, 2005). Já o manganês e o silício, além de serem elementos de ligas mais baratos, são considerados ótimos para a aplicação nos aços, devido as sua qualidade desoxidante, elevando a resistência da ferrita sem que haja perda de sua ductilidade, além do manganês em elevada quantidade estabiliza a austenita (RANIERI, 2005). O níquel é um elemento que eleva a temperabilidade, eleva a tenacidade a baixas temperaturas e a resistência da ferrita. Em grande quantidade ele melhora a resistência à corrosão, e quando é adicionado juntamente com cromo e molibdênio proporciona melhores propriedades mecânicas ao aço, aumentando a temperabilidade e reduzindo a ductilidade e a estampabilidade (RANIERI, 2005). É muito utilizado para produtos que necessitam resistência ao impacto, devido a sua função de deslocar a curva de transição dúctil frágil para a direita, ou 35 seja, aumenta a ductilidade e tenacidade dos materiais em temperaturas mais baixas, melhorando a absorção do choque, elevando à tenacidade a fratura do material (QUIDORT, 2002). O manganês tende a diminuir a temperatura Ms (início da transformação da martensita), é um estabilizador da austenita, contribuindo para aumentar a fração volumétrica de austenita retida. Este aumenta a solubilidade do carbono na austenita, deslocando a curva da formação da bainita para a direita (BHADESHIA, 2001). Este quando é encontrado em grandes quantidades nos aços carbono atua de duas formas: quando há um teor de carbono muito baixo, ele acaba se dissolvendo na ferrita, causando o aumento da sua dureza e resistência, no caso do teor de carbono for elevado, ocorre a formação do composto Mn3C ligado assim com o Fe3C, elevando ainda mais a dureza e a resistência do aço (SANTOS,2005). Porém com a substituição do Fe3C pelo Mn3C a tendência de aumento da segregação é maior, ondem pode originar a formação das partículas de austenita ricas em Mn que necessita de uma menor concentração de carbono para que ocorra sua estabilização à temperatura ambiente (CABALLERO e BHADESHIA, 2004). A adição de silício tem como função de repelir o carbono em solução sólida na austenita, proporcionando uma maior difusão deste elemento na ferrita. Gerando um retardamento na formação de precipitados de carbonetos durante a formação da fase bainitica, pois o silício é pouco solúvel na cementita. A transformação bainítica, no caso da bainita superior, interrompida antes da precipitação de cementita na austenita residual, da lugar a um maior enriquecimento progressivo da austenita residual a medida que avança a transformação bainítica (NAVARRO, 2006) De acordo com Chiaverini (1977), os principais efeitos dos elementos de liga sobre as propriedades mecânicas, microestrutura, tratamentos térmicos e outros característicos dos aços são: - aumentar a temperabilidade pelo deslocamento para a direita das curvas de início e fim de transformação da austenita, no diagrama TTT; - aumentar a dureza e a resistência mecânica da ferrita, quando se dissolvem nesse constituinte, com consequente aumento de dureza e resistência mecânica do aço, mesmo antes de qualquer tratamento térmico; - aumentar a resistência à corrosão; os elementos mais atuantes nesse sentido são, como se verá o cromo, o níquel, o cobre e o fósforo, os quais, mesmo 36 em teores relativamente baixos, melhoram muito a resistência à corrosão atmosférica; o cromo, em teores elevados, torna o aço inoxidável; - aumenta a resistência ao desgaste. 2.4 CINÉTICA GLOBAL DAS TRANSFORMAÇÕES DE FASE Para a determinação da cinética global de uma reação ou transformação, em geral, deve-se medir a concentração ou a fração volumétrica de certa fase em função do tempo, obtendo-se, a partir daí, a velocidade da transformação (PADILHA, 2007). A determinação e a predição da fração transformada, VV, em função do tempo de reação, t, é o ponto central do estudo da cinética das transformações de fase. VV corresponde à fração volumétrica da fase ou do constituinte que se forma ou que se dissolve. Desta forma, tem-se a curva VV,versus t. Experimentalmente a fração volumétrica (VV) pode ser determinada por meio de dois métodos: direto ou indireto. O método direto consiste em determinar diretamente a fração transformada, geralmente por meio de metalografia quantitativa. O método direto é trabalhoso, exige um número grande de amostras e normalmente há necessidade de se interromper a reação para efetuar a medida (PADILHA, 1985). Já o método indireto consiste em se determinar uma propriedade sensível à microestrutura que, portanto, dependa da transformação de fase. Um método indireto largamente empregado é a dilatometria que consiste na determinação da variação da dimensão linear do corpo de prova em função do tempo. Esta variação é relacionada aos diferentes volumes molares das fases presentes e a fração transformada é obtida (PADILHA, 1985). A desvantagem óbvia é que nem sempre a relação entre as propriedades medidas e a fração transformada é trivial. Outras técnicas indiretas, tais como medidasde resistividade elétrica, dureza e análise térmica, também são freqüentemente utilizadas. A principal vantagem é a facilidade da medida que permite a obtenção de uma curva VV, versus t contínua. 37 2.4.1 Descrição da curva de fração volumétrica versus tempo em reações heterogêneas Uma vez obtida experimentalmente uma curva VV, versus t, representada em seguida, por facilidade de notação, como f (t), é geralmente conveniente descrever esta curva por uma função f = g(t). Nada impede que sejam usados todos os recursos disponíveis do cálculo numérico para se ajustar a curva obtida por meio de uma função arbitrária. No entanto, do ponto de vista teórico, uma função “g” escolhida arbitrariamente pode não ser de grande utilidade. No caso de transformações isotérmicas nos sólidos, a equação que é tradicionalmente utilizada é da forma: nkttf exp1)( (4) Onde k e n são determinados ajustando-se a equação acima aos dados experimentais. No gráfico superior da figura 10 são apresentadas três equações deste tipo para três temperaturas diferentes. Figura 10 - Curvas esquemáticas típicas para uma transformação de fase heterogênea que segue a equação JMAK. Fonte : PADILHA (2007). 38 O ajuste permite a avaliação da influência de fatores tais como temperatura, composição ou histórico térmico prévio, por meio da comparação entre os valores de k e n. Esta equação é empregada em diversos campos do conhecimento com diversos nomes. Em transformações nos sólidos é geralmente denominada Johnson-Mehl-Avrami-Kolmogorov ou simplesmente JMAK (PADILHA, 2007). Ela foi deduzida e apresentada em trabalhos independentes no final da década de 1930 e início da década de 1940. A equação JMAK possui a forma sigmoidal e é mais freqüente utilizar-se a forma linearizada, da seguinte forma: tnk tf ln.ln) 1 1 ln(ln (5) O lado esquerdo da equação linearizada é plotado contra ln(t), resultando numa linha reta, no caso de n e k serem independentes do tempo, conforme ilustra a gráfico inferior da figura 10. Se as retas são paralelas, então o mecanismo operante é o mesmo e a energia de ativação pode ser determinada. Em certos casos é possível atribuir significados mais precisos aos valores dos coeficientes n e k. De fato é possível deduzir a equação acima desde que se façam suposições da geometria e da cinética da reação. Para tanto, é necessário introduzir-se os conceitos de nucleação e crescimento. Um ponto importante é que estes conceitos são utilizados de forma puramente operacional, isto é, nenhuma suposição é feita acerca do mecanismo, mas apenas acerca das funções matemáticas que descrevem a nucleação e o crescimento (PADILHA, 2007). Considere que se tenha inicialmente uma dada fase α que, com o passar do tempo, se transforma numa nova fase β. Admite-se que regiões da nova fase β surjam em determinados locais ou sítios da matriz, esta etapa é denominada nucleação. Após o aparecimento de um núcleo da nova fase, este núcleo aumenta de tamanho consumindo a matriz, esta etapa é denominada crescimento. 39 2.5 AÇOS BAINITICOS Nos dias de hoje, uma grande parte dos aços bainíticos presentes no mercado mundial passam por processos termomecânicos antes da transformação bainítica. Tais ligas bainíticas estão presentes na figura 11 (BHADESHIA, 2001). Segundo Barbacki (1995) os aços comerciais são divididos em 3 grandes grupos na qual essa divisão é baseada na bainita como constituinde majoritário na microestrutura, sendo assim representados como: aços baixa liga para aplicações gerais, aços baixa liga resistentes à fluência, aços de alta resistência de médio e alto carbono. 2.5.1 Aços baixa liga para aplicações gerais Os aços de baixa liga são muito aplicados na construção de máquinas, na indústria automobilística, na fabricação de dutos de alta qualidade, tanques, reservatórios e em navios, onde exigem que o aço a serem soldados tenha alta resistência. Aços que contém entre 0,01% e 0,10% de carbono são considerados aços de baixo carbono. Aços que possuem uma porcentagem de carbono inferior a 0,003% são denominados aços bainíticos ultrabaixo carbono, tais aços possuem boas propriedades mecânicas como: ductilidade, tenacidade e soldabilidade. 2.5.2 Aços baixa liga resistentes a fluência Neste grupo os aços são muito empregados em equipamentos que necessitam de alta resistência a temperaturas, sendo assim projetados para trabalhar em temperaturas próximas a 600°C. Sendo indispensável a qualidade (pureza) metalúrgica deste aço diminuindo assim a probabilidade de fragilização do revenido, (BAHDESHIA,2001). 40 2.5.3 Aços de alta resistência de médio e alto carbono Um segmento em que está em alta a aplicação desses aços é a indústria automobilística e ferroviária, no que diz respeito a fabricação de componentes forjados, como pequenos parafusos e eixos de transmissão, pelo fato de exigirem boa resistência ao desgaste especialmente em condições de baixa lubrificação, buscando assim uma combinação que favoreça tanto a resistência, a dureza e a tenacidade dos aços de alto carbono(BHADESHIA, 2005a). Figura 11 - Ligas bainíticas comerciais Fonte: BHADESHIA,2001, p.346 41 2.5.4 Aços bainíticos de alto carbono Busca-se uma combinação da micoestrutura bainítica que seja satisfatória tanto na propriedade de resistência quanto na de dureza com tenacidade. Existe uma faixa de aplicação muito ampla neste grupo, sendo os mais utilizados atualmente: componentes forjados de vários tamanhos, desde pequenos parafusos e eixos de transmissão para veículos até grandes rotores para turbinas de geradores de energia (CARMO,2001). 2.3.2 Aços bainíticos de alto carbono isentos de carbonetos Segundo Bhadeshia e Edmonds (1979), é indesejável a presença de carbonetos na microestrutura de aços bainíticos, pelo fato de causar trincas e vazios entre os grãos de ferrita bainíticas e austenita. Para a eliminação dessas características indesejáveis, os autores citados acima, sugerem a adição de outros elementos de ligas. A microestrutura de aços responsáveis pelas boas propriedades mecânicas como alta ductilidade, tenacidade com resistência à tração, resistência à abrasão e à fadiga, consiste de finas ripas de ferrita bainítica, livres de carbonetos, e pequenos blocos de austenita retida rica em carbonos. Onde é essencialmente conseguido em aços com elevado teor de carbono, que ajuda a diminuir a temperatura de transformação bainítica e estabiliza a austenita retida após a tranformação bainítica (QIAN, 2012). Além disso, as finas ripas bainíticas são mais desejadas, pois é essa microestrutura o principal mecanismo responsável pela melhora simultânea da força e tenacidade do aço. O tamanho das ripas bainíticas tende a ser refinado com a diminuição da temperatura de transformação, devido ao aumento da força de transformação de condução e o fim da aglutinação de finas ripas bainíticas (QIAN, 2012). Recentemente os aços bainíticos são utilizados para substituir os aços perlíticos muito usados em componentes ferroviários, na qual existem condições de serviços severas, tendo uma composição básica similar, mas com uma diferença no 42 teor de carbono apresentado no aço bainitico podendo ultrapassar 0,8 % e adição de Cr para aumentar a temperabilidade(CARMO, 2001). Segundo García-Mateo et al. (2005), a dureza do aço bainítico aumenta rapidamente a medida que a temperatura de transformação diminui, apesar que a fração de ferrita bainítica presente na microestrutura aumenta de 0,5 a 0,7 no mesmo intervalo de tempo. Esse aumento brusco de dureza está relacionado com a diminuição da espessura da placa de ferrita bainítica. 2.3.2.1 Propriedades Mecânicas e Aplicações Estudos realizados mostram que os aços bainíticos de alto carbono livre de carbonetos combinam uma série de propriedades mecânicas como: alta ductilidade, tenacidade com resistência à tração, resistência à abrasão e à fadiga. Estas propriedades são geralmente obtidas de acordo com a quantidade de cada fase presente na microestrutura, após o tratamento térmico. A sua microestrutura formada por ferrita bainítica e austenita retida é a responsável pela combinação de propriedades mecânicas (CABALLERO e BHADESHIA, 2004; CARMO, 2011). De acordo com Barbacki (1995) as propriedades mecânicas tendem a ser muito interessantes, como por exemplo, apresentando 1400 MPa de resistência ao escoamento e tenacidade à fratura em torno de 100 MPa.m ½. As suas principais aplicações incluem: componentes forjados de vários tamanhos, desde pequenos parafusos e eixos de transmissão para veículos até grandes rotores para turbinas de geradores de energia. Outra linha de aplicações que está ganhando espaço é a indústria ferroviária: rodas para trens de carga e de alta velocidade para passageiros, bem como em aplicações que exijam a resistência ao desgaste como pistas de mancais de rolamentos, especialmente em condições de baixa lubrificação (BHADESHIA, 2005; VIÁFARA et al 2005; PEET et al, 2013). Na figura 12 podem-se observar exemplos de aplicações destes materiais. 43 Figura 12 - Aços bainíticos livres de carbonetos em serviço. (BHADESHIA, 2005a) De acordo com Bhadeshia (1992) estes aços vêm substituindo os aços altamente ligados em componentes de máquinas onde se necessita alta resistência à tração combinada com capacidade de absorver energia no impacto. Pois, os aços bainíticos convencionais quando aplicados na construção de máquinas não apresentam êxito devido à presença de carboneto de ferro, a cementita, em sua microestrutura. 2.3.2.1.1 Comportamento à Fadiga Uma das principais propriedades mecânicas dos aços bainíticos de alto carbono livre de carbonetos é a resistência à fadiga. Desta forma, Bhadeshia (2005) sugere que sejam realizadas pesquisas em fadiga de aços bainíticos livre de carbonetos, pois atualmente existem poucos estudos nesse sentido. Peet et. al (2013) divulgaram pela primeira vez, resultados de estudo da resistência a fadiga mecânica dos aços bainíticos livre de carbonetos. As investigações foram realizadas com ciclos de carregamento em que as tensões máximas situaram-se na faixa de 1,2 a 1,6 GPa em testes de fadiga com carregamento de tração e compressão. Foram aplicados 105 ciclos e os dados extrapolados para 107 ciclos estimando a vida a fadiga em 855 MPa. O aço estudado foi fundido em cadinho aberto, ou seja, sem procedimentos para controle da atmosfera e austêmperado a 200°C por 10 dias, formando bainita de granulação fina com dureza de 680 ± 3 HV50 (PEET et. al, 2013). 44 3 MATERIAIS E MÉTODOS Neste capítulo serão demonstrados os procedimentos para obtenção dos resultados finais do trabalho, como as ligas metálicas utilizadas, tratamento térmico, e tipos de ensaios realizados. 3.1 MATERIAIS Os materiais obtidos nesse trabalho foram quatro ligas de aço de alto carbono com uma composição levemente hipereutética, onde a porcentagem dos elementos de ligas definidos são apresentados na tabela 01 que segue abaixo. Tabela 1 - Composição química definida para o estudo Fonte : Autor 3.2 MÉTODOS 3.2.1 Condições iniciais Como visto anteriormente, os materiais a serem utilizado foram ligas de aço de alto teor de carbono, variando alguns elementos de ligas como Mn, Si e Ni. Após a definição dos materiais, foram estabelecidas divisões em relação aos métodos de trabalho a serem aplicados sendo: 1º - Realização do Processo de Fundição das Ligas; 45 2º - Realização do Processo de Conformação Mecânica das Ligas; 3º - Realização dos tratamentos térmicos de Austêmpera; 4º - Ensaios metalográficos e dureza; 3.2.2 Processo de fundição 3.2.2.1 Moldagem Utilizando um modelo de bloco Y (figura 13) já confeccionado, modelo esse padronizado pela ASTM E8 para ferro fundido e aços. Dando início ao processo de moldagem dos blocos que consistem na mistura de areia, resina fenólica, resina isocianato e catalizador piridina, acrescentando em quantidades precisas cada um dos componentes, sendo a resina fenólica adicionada com 0,6% sobre o peso da areia, na mesma proporção que a resina fenólica ocorre a adição da resina isocianato, e o catalizador piridina adicionado a 0,5% sobre o peso da resina fenólica. Figura 13 - Modelo bloco Y Fonte : Autor 3.2.2.2 Fusão das Ligas A fusão das ligas de aço ocorreram em forno de indução a cadinho de média frequência e com capacidade de 350 Kg de aço, sua temperatura de fusão é de 46 aproximadamente 1520 ºC, antes que ocorra o vazamento do material é necessário a queima de uma amostra chamado de “moeda”, utilizando a técnica de espectroscopia de emissão óptica que indicará a porcentagem de cada elemento que formam a determinada liga, tal processo realizado no laboratório de materiais da Sociesc, com uso de um espectrômetro do tipo Spectrolab. Se a porcentagem de elementos estiver diferente do desejado, é necessário recalcular a quantidade a ser acrescentada e em seguinda realizar a queima novamente, processo esse sucessivo até se encontrar dentro das margens aceitáveis de elementos do material. Após a retirada da escória, o material é transferido para uma panela pré-aquecida, para que não ocorra um choque térmico com o material, em seguida ocorrendo o vazamento do aço nos blocos de moldes tipo Y, em temperaturas variando de 1380 a 1400 ºC, como mostra as figuras 14 e 15. Figura 14 - Fusão do Aço Fonte – Autor 47 Figura 15 - Aço fundido Fonte - Autor 3.2.3 Laminação a quente Um segmento em que está em alta a aplicação desses aços é a indústria automobilística e ferroviária, no que diz respeito a fabricação de componentes forjados, como pequenos parafusos e eixos de transmissão, pelo fato de exigirem boa resistência ao desgaste especialmente em condições de baixa lubrificação (BHADESHIA, 2005a). Buscando se aproximar o máximo possível do processo que é usado atualmente optou-se então em aplicar a laminação a quente nas peças analisadas, assim identificando sua estrutura metalográfica e dureza que mais se assemelham ao processo de forjamento. As amostras para o estudo de austêmpera foram conformadas mecanicamente pelo processo de laminação, com o intuito de deixar as amostras mais próximas das condições de uso. A partir das áreas úteis dos blocos Y se obterão as laminas nas quais serão realizados os cortes das amostras para os estudos. A laminação foi realizada na empresa Metisa em tiras de 25 mm de espessura em dois passes, com reduções para espessuras de 14,5 e 7,5 mm, respectivamente. 48 3.2.4 Tratamento térmico de austêmpera O processo foi realizado na fundição da Sociesc (figura 17), sendo primeiropasso a separação e marcação dos corpos de prova, separando-os em 9 (nove) grupos com as 4(quatro) ligas, realizando uma repetição dos tratamentos, ou seja, tendo um total de 72 amostras. Depois de realizada a marcação foi efetuado o pré-aquecimento das amostras, onde permaneceram no forno à 400ºC por 30 minutos, em seguida as amostras foram austenitizadas a uma temperatura de 800ºC, permanecendo por mais 30 minutos. Após a austenitização completa as peças passaram pelo processo de tratamento térmico de austêmpera onde ocorreu um resfriamento rápido até chegar a 280ºC mantendo assim até atingir o tempo pré-estabelecidos, como mostra a figura 16 e a tabela 2. Tabela 2 – Descrição do Tratamento Térmico de Austêmpera Legenda: Exemplo referente a nomenclatura: 1BT1, sendo 1 – liga 1, B – Temperatura de 280°C e T1 – Tempo de 1hora Fonte: Autor 49 Figura 16 – Representação do ciclo de tratamento isotérmico Fonte : Autor Figura 17 - fornos utilizados: a) de pré-aquecimento 400°C, b) forno austenitização 800°C, c) forno de austêmpera 280°C. Fonte - Autor Após atingir o tempo previsto, o grupo de peças foi retirado do forno e transportado até o local de limpeza dos mesmos (figura 18), permanecendo assim por aproximadamente 15 minutos em uma banheira com água á 80°C, para que seja extraída a camada mais grossa de sal que fica impregnado nos corpos de prova, resíduos que ainda permanecem nas amostras são retirados ao passar pelo ácido que em elevado tempo de contato acaba danificando a peça, sendo assim após ser a) b) c) 50 mergulhado no ácido é necessário que todas as peças passem por um neutralizante que tem função de anular o efeito do ácido, finalizando assim com um banho de óleo para que se mantenham protegida as peças contra a corrosão. Figura 18 - Métodos de limpeza: a) água, b)ácido, c) óleo. Fonte – Autor 3.2.5 Preparação metalográfica As amostras utilizadas para a análise metalográfica foram retiradas dos blocos que sofreram laminação e posteriormente passaram pelo tratamento térmico de austêmpera, tais amostras foram cortadas com dimensões de (8 mm) x (12 mm) x (7 mm) com objetivo de de facilitar a identificação do sentido da laminação, que se refere aos 12mm. Foram analisadas amostras no estado após a laminação e após os tratamentos térmicos de austêmpera. Primeiro passo para a preparação metalográfica foi o embutimento a quente das amostras, contendo em cada embutimento duas amostras com o mesmo tempo de tratamento térmico e o mesmo material. Depois de pronto utilizou-se o método convencional de praparação metalográfica, lixamento até a grana 1200, seguido do polimento com pasta de diamante de 3 μm. O ataque metalográfico foi realizado utilizando solução de Nital a 4%. a) b) c) 51 3.2.5.1 Microscopia Óptica Com auxílio da técnica de microscopia óptica (MO), foi possível analisar as microestruturas das amostras no estado bruto de fusão, após o processo de laminação, e após o tratamento térmico de austêmpera, com auxílio de um microscópio modelo Olympus BX 51 (figura 19), disponibilizado no laboratório de materiais da SOCIESC. Após a preparação metalográfica, as amostras foram levadas ao microscópio óptico para captura de imagens, foram analisados 4 regiões em cada amostra, com magnitude de aumento entre 200 e 1000 vezes, sempre buscando a melhor região e o melhor contraste com a luz, proporcionando assim uma precisão maior no processo de contagem de fases. Figura 19 - Microscópio Olympus BX 51 Fonte – Autor 52 3.2.5.2 Microscopia Eletrônica de Varredura Na análise microestrutural através da técnica MEV, utilizou-se as mesmas amostras usadas no processo de microscopia óptica (MO), método de preparação das amostras foram os mesmos, lixamento até a grana 1200, seguido do polimento com pasta de diamante de 3 μm. O ataque metalográfico foi realizado utilizando solução de Nital a 4%. Com este equipamento é possível produzir imagens de alta ampliação e resolução, permitindo uma melhor análise das morfologias de fases presentes nas amostras. As imagens foram obtidas com auxílio do microscópio da marca Jeol, modelo JS-6360 instalado no laboratório de materiais na empresa ArcelorMittal/Veja do sul representado na figura 20. Figura 20 – Microscópio Jeol (MEV), modelo JS-6360 Fonte : Autor 3.2.5.3 Quantificação de Fases Após realizada a microscopia óptica é possível dar início ao processo de quantificação de fases, utilizando o mesmo programa para a captação de imagens o Image ProPlus™, neste existe um módulo conhecido como MaterialsPro que por sua 53 vez apresenta diversas ferramentas designadas para análise microestrutural, neste caso foi utilizado a ferramenta Measure Phases destinada à quantificação das diferentes fases presentes na microestrutura. O método utilizado no trabalho possui duas faixas de “Threshold” destinada à quantificação de: i) ferrita bainítica; ii) austenita retida ou austenita retida mais martensita. O Software quantifica as fases escolhidas por diferenças de cores, com auxílio de uma ferramenta que possibilita o ajuste e definição dos intervalos de tonalidades. Nas figuras 21, 22 e 23 são apresentados exemplos que ilustram algumas análises testadas e seus respectivos resultados. Figura 21 - Exemplo de método de análise utilizado para amostra da liga 1 com 0,85% C, 1,48% Si, 1,50% Mn, 0,50% Ni, 1,30% Cr, 0,30% Mo, austemperada a 280°C durante 4 horas e observada com aumento de 1000X. Fonte : Autor 54 Figura 22 - Exemplo de método de análise utilizado para amostra da liga 1 com 0,85% C, 1,48% Si, 1,50% Mn, 0,50% Ni, 1,30% Cr, 0,30% Mo, austemperada a 280°C durante 24 horas e observada com aumento de 1000X. Fonte : Autor Figura 23 - Exemplo de método de análise utilizado para amostra da liga 3 com 0,85% C, 1,52% Si, 1,98% Mn, 0,47% Ni, 1,38% Cr, 0,30% Mo, austemperada a 280°C durante 24 horas e observada com aumento de 1000X. Fonte : Autor 55 3.2.5.4 Microdureza Vickers Medidas de microdureza Vickers foram realizadas com intuito de identificar a presença de martensita em regiões específicas de algumas amostras. Pelo fato de existirem regiões com morfologias semelhantes, porém, com colorações diferentes e de difícil distinção ao microscópio óptico foi necessário o uso desta análise buscando identificar e diferenciar as regiões como pertencentes a ilhas de ferrita acicular ou martensita. Utilizou-se um microdurômetro Leitz-Wetzlar 6833, com cargas de 200gf (HV-0,2). 3.2.6 Ensaio de dureza O ensaio de Dureza foi realizado em todas as amostras após o processo de metalografia, ensaio este executado de acordo com a norma ASTM E18 (Standard Methods for Rockwell Hardness and Rockwell Superficial Hardness of Metallic Materials) e a ABNT NBR NM ISO 6508-1:2008 (Metallic Materials – Rockwell Harness Test – Part 1: Test Method (Scales A, B, C, D, E, F, G, H, K, N, T)) no durômetro Rockwell, com cone de diamante e carga de 150 Kgf. Utilizando assim a escala C, unidade assim representada como HRC. 56 4 RESULTADOS E DISCUSSÕES 4.1 COMPOSIÇÃO QUÍMICA A composição química presente nas quatro ligas de aço utilizadas está presente na tabela 03, na qual é representado em percentual de peso
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