Buscar

ELIANE MENDES SILVA MONOGRAFIA RESERVA final

Prévia do material em texto

�PAGE �
�PAGE �1�
ELIANE MENDES SILVA
 
O PRINCÍPIO DO DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO DIREITO AMBIENTAL
Monografia apresentada à Banca Examinadora do curso de graduação em Direito das Faculdades Integradas Pitágoras de Montes Claros como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, sob orientação da Prof.ª Luciana Marques.
Montes Claros/MG
Novembro/2007
					
Dedico este trabalho a Deus e aos meus pais e irmãos pelo incentivo constante e apoio incondicional.
�
					
Agradeço aos meus pais que possibilitaram a concretização de um sonho, à minha orientadora Profª Luciana Marques pela paciência e atenção, e principalmente a Deus que me conduz.
�
RESUMO
Neste trabalho são demonstradas as necessidades de proteção ao Meio Ambiente, bem como a importância do princípio do desenvolvimento sustentável para o Direito Ambiental. O foco de análise é a integração entre o movimento brasileiro socioambiental e o princípio do desenvolvimento sustentável a luz da Constituição Federal de 1988, ressaltando a importância do princípio do Desenvolvimento Sustentável inter-relacionado com a teoria sistêmica, afirmando a necessidade de se resguardar um dos valores mais importantes para a humanidade que é o princípio da dignidade da pessoa humana, que se caracteriza pelo direito de se viver em um ambiente sadio e ecologicamente equilibrado.
A corrente do socioambientalismo enfatiza o desenvolvimento, porém, este deve se adequar a nova realidade orientadora das modernas diretrizes de crescimento econômico, que é a junção de economia e meio ambiente como importante fator social. Tal proteção ao desenvolvimento sustentável se faz presente através do ordenamento jurídico que através de Leis Infraconstitucionais e da própria Constituição Federal buscam tutelar o direito Ambiental. 
São apresentadas, também, algumas convenções internacionais sobre o Meio Ambiente, demonstrando o relevo da questão do desenvolvimento sustentável, incorporando economia e socioambientalismo como fatores essenciais para o desenvolvimento da humanidade. 
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................06
CAPÍTULO I O DESENVOVIMENTO HISTÓRICO POLÍTICO, E SOCIAL DO MOVIMENTO SOCIOAMBIENTALISTA NO BRASIL........................................ 08
A Construção do socioambientalismo brasileiro e sua evolução histórica....................................09
 O socioambientalismo na constituição federal de 1988 ...............................................................11
 A legislação infra-constitucional brasileira em matéria ambiental.................................... ........15
CAPÍTULO II- O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO DIREITO AMBIENTAL...................................................................................................................17
2.1. Desenvolvimento e Teoria Sistêmica do Mundo........................................................17
2.2. Conceitos e Características do Desenvolvimento Sustentável...................................18
2.3. – O Desenvolvimento Sustentável à Luz da Legislação Brasileira............................21
CAPÍTULO III- A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E O MOVIMENTO SOCIOAMBIENTAL......................................................................................................25
3.1 A Cúpula Mundial Sobre Desenvolvimento Sustentável e as Novas 
Tendências do Socioambientalismo...................................................................................25
3.2 Economia e o Desenvolvimento Sustentável...............................................................28
3.3 A Os Órgãos do Estado Brasileiro nas Questões Sócioambientais..............................30
CONSIDERAÇÕES FINAIS..........................................................................................33
REFERÊNCIAS...............................................................................................................35
INTRODUÇÃO
O presente trabalho enfatizará as várias teorias a respeito do desenvolvimento ambiental, desde o ambientalismo, corrente que se propõe a lutar pela conservação do meio ambiente, até o socioambientalismo, corrente voltada para a necessidade da conservação da biodiversidade do planeta, como um aspecto fundamental para manutenção da própria vida humana, e a necessidade de se conciliar economia mundial e meio ambiente. 
Com o passar dos anos e em função do desinteresse que se materializa com o descaso, não só com a falta de investimentos, mas, sobretudo, pela ação devastadora do homem em relação ao meio-ambiente, governos e sociedade, que também possui a sua parcela de responsabilidade, sofrem com as atuais catástrofes ambientais. Além disso, são tenebrosas as projeções feitas por estudiosos da ONU e outras organizações internacionais sobre o futuro do planeta em se permanecendo com a gradativa destruição do ecossistema, o que já se reflete, de forma irreversível, sobre os danos na camada de ozônio. 
Os protestos e as crescentes manifestações em prol do, hoje, denominado socioambientalismo, passam a ser vistas como uma luta pela manutenção da vida de todas as espécies, sobretudo a vida humana. Os defensores dessa causa instituem uma verdadeira saga em favor das gerações futuras e ficam perplexos diante de uma sociedade que se vê voltada quase exclusivamente para o Capitalismo e para os valores individuais, se esquecendo de que o planeta é a “casa” de todos e a sua não conservação deixará seqüelas que a seu tempo não mais poderão ser sanadas.
 Partindo do princípio de que o assessório segue o principal, não se pode mais falar em valores individuais sem se preocupar com o social. A vida de todos depende da reação de cada um, de uma luta constante em favor da coletividade. 
Países de todo o mundo voltam seus esforços para tentar mitigar os efeitos nocivos da ação humana no meio-ambiente, comandada pelas nações mais ricas do globo e por países em desenvolvimento, como por exemplo, no primeiro casos os Estados Unidos da América e no segundo caso a China, ambos considerados os maiores poluidores do planeta. 
Várias foram as tentativas para se chegar a um equilíbrio sustentável entre desenvolvimento econômico e ecológico. Para este fim, instituiu-se a Declaração de Estocolmo, a Declaração do Rio de Janeiro de 1992 (ECO 92), o Protocolo de Kioto de 1997, a RIO + 10 de 2002 e a Agenda 21. Enfim, várias convenções e conferências internacionais foram criadas para debater o tema, sendo que vários acordos chegaram a ser celebrados, porém, em boa parte não cumpridos.
Apesar de algumas tentativas frustradas, não há mais como fugir do tema. É o que demonstra a atual pauta de discussões das entidades governamentais na qual o aquecimento global é visto como uma realidade que não aceita soluções paliativas.
 No Brasil, a preocupação com o meio ambiente iniciou-se na década de 70, com lutas em prol da preservação da Mata Atlântica e da floresta Amazônia que desde então são gradativamente devastadas ano após ano, com algumas reduções no desmatamento porem não o suficiente para garantir as suas conservações.
Em se tratando de aspectos políticos-jurídicos, o Brasil deu um salto no seu desenvolvimento social ao estabelecer no seu texto constitucional a preocupação com o ecossistema, instituindo no Título VIII, da Constituição Federal de 1988 (que trata da ordem social) um Capítulo versando sobre o meio ambiente. Assim, a luta pelo desenvolvimento sustentável sai do anonimato e passa a ser matéria de ordem constitucional, com direitos e obrigações de todos, inclusive dos entes públicos.
Visando estas e outras reflexões, o atual trabalho, buscará a análise crítica da atual situação do socioambientalismo no mundoe, sobretudo, no Brasil, destacando possíveis problemas e apresentando soluções para o desenvolvimento social e ambiental sustentável.
O objetivo que se pretende alcançar com o presente trabalho é a análise da responsabilidade do ente estatal, as suas obrigações constitucionais, dispondo sobre a evolução histórica do ambientalismo e pesquisando explicações de como tal processo se desenvolveu no Brasil e no mundo, contribuindo para a degradação do planeta, buscando possíveis soluções.
O trabalho realizado se desdobrará em três capítulos enfocando algumas propostas estabelecidas em Conferências Internacionais como a RIO + 10, a Agenda 21 além de estudos sobre o desenvolvimento sustentável. 
 No primeiro capítulo faz-se um estudo acerca do Desenvolvimento histórico e o contexto político e social do surgimento do socioambientalismo no Brasil, e a sua construção sob o prisma da Constituição Federal de 1988. Em seguida, no segundo capítulo, será realizado uma análise do principio do desenvolvimento sustentável no direito ambiental, definindo a proteção ambiental através de uma concepção holística e sistêmica do mundo, e por fim, no terceiro capítulo, discutir-se-á acerca da concretização da sustentabilidade ambiental e do movimento socioambiental.
CAPÍTULO I-O DESENVOLVIMENTO HISTÓRICO POLÍTICO, E SOCIAL DO MOVIMENTO SOCIOAMBIENTALISTA NO BRASIL
Desde o surgimento do homem fala-se em agressão ao meio ambiente. É, contudo, a partir da Revolução Industrial, ocorrida no século XIX, que tal problemática começa a tomar contornos de realidade preocupante para toda a sociedade, devido ao avanço industrial, dirigido principalmente pelos grandes grupos comerciais, os quais, por falta de uma educação ambiental, passam a se utilizar de maneira irresponsável da tecnologia alcançada, gerando graves conseqüências para o ecossistema.
As agressões ao meio-ambiente estão na ordem do dia. A partir do momento que se descobriu que os recursos hídricos não são infinitos, que a camada de ozônio pode ser destruída, que a poluição gerada pelos resíduos sólidos é problema de todos, que a clonagem (de animais e humana) não é tão simples nem tão salvadora quanto se afirmava, iniciou-se uma preocupação nunca vista com o meio ambiente. 
Esse novo momento mundial, essa nova realidade, trouxe reflexos para o mundo do direito. O direito, como é sabido, possui como objetivos precípuos tornar obrigatórios ou proibidos os comportamentos humanos de acordo com padrões éticos pré-definidos e aliviar tensões, antes ou depois que elas se transformem em conflitos. Nesse sentido nasce a preocupação do direito com a questão ambiental, uma vez que na nova ordem mundial, a degradação do meio ambiente, se não controlada irá gerar, num futuro próximo, conflitos de caráter global.
O Direito ambiental pertence ao novo grande ramo do direito que - dizem alguns autores - não é público, nem privado, mas sim pertencente ao ramo dos direitos difusos. Direito de terceira geração.(Milaré, 2001, p.131)
É da natureza do interesse difuso não ser a sua titularidade atribuída a ninguém em particular. Também é da sua natureza não pertencer a nenhuma pessoa jurídica, pública ou privada e nem mesmo a um Estado em particular, já que se refere a bens pertencentes a toda a humanidade.
Tal fato, entretanto, não autoriza a afirmar que o Direito correspondente a esse interesse não pertença ao ramo do Direito Público. Justamente pelo fato de pertencer a todos, sem exceção, é que há de ser tutelado pelos Estados.
Hoje essa situação é tema que preocupa a todos, em todas as nações, mesmo as intocáveis como os Estados Unidos, que por ironia é o Estado que mais vem sofrendo com os desajustes do clima no planeta, como se observa no exemplo recente do furacão Catrina que devastou Nova Orleans, em 2005.
Este debate sobre as questões do meio ambiente, que hoje é tema de primeira importância, iniciou-se no Brasil na década de 70 e culminou com a inclusão da questão ambiental na constituinte de 1988. Vários são os aspectos e as peculiaridades do movimento socioambientalista no Brasil como o seu surgimento no momento de redemocratização do Estado brasileiro.
 
1.1- A Construção do socioambientalismo brasileiro e sua evolução histórica
No Brasil o socioambientalismo, corrente que busca o desenvolvimento de forma sustentável, é composto por centenas de grupos, organizações e milhares de pessoas da sociedade civil preocupadas com a situação ambiental e social do planeta e com os rumos do modelo de desenvolvimento da sociedade humana. Desde sua gênese, a comunidade ambientalista brasileira trabalha articulada com diversas áreas para alcançar uma mudança na realidade ambiental, social, econômica e política agindo quase sempre sem o apoio do ente estatal. (Monteiro, 1998, p.41)
Existe por parte deste movimento uma imensa preocupação com o processo de degradação ambiental causado pelo atual modelo de desenvolvimento da humanidade e as conseqüências trazidas em função desta ação para as pessoas, em sociedade, como o aumento da pobreza, sobretudo nos Estados onde a situação ambiental é agravada por fatores naturais como, por exemplo, regiões que são naturalmente secas e vêem a situação piorar em função do descontrole do clima. 
Esses fatores aliados a uma má administração pública, geram uma distribuição injusta da renda, além de interferir diretamente na qualidade de vida do povo, que sofre com a poluição atmosférica, o que gera problemas respiratórios e, principalmente, com a falta de água em boas condições para o consumo humano, dentre outros fatores ambientais. Tais impactos são sentidos e aumentados em função da destruição da natureza. 
No Brasil os grupos ambientalistas e as suas atuações possibilitam a circulação de informação à sociedade, o que a faz refletir sobre as formas de desenvolvimento que degradam o meio ambiente no país e no mundo.
Através de organizações locais e de base, ambientalistas estão mobilizando pessoas e educando a sociedade brasileira para semear mudanças profundas que signifiquem a preservação das florestas do Brasil, da biodiversidade, dos recursos hídricos e demais fatores ambientais, com vistas ao melhoramento do convívio social e a redução da poluição visual e sonora.
Desta forma, esta comunidade está barrando um número enorme de ações de destruição da natureza e seus impactos negativos na vida de populações que dependem da boa conservação dos recursos naturais. Além disso, o trabalho de proteção ambiental e de mobilização social em face desta questão faz com que o Estado se preocupe em oferecer uma resposta à sociedade através de inovações na implementação de legislação e no monitoramento e desenvolvimento das políticas ambientais.
O aparecimento desta parcela da sociedade voltada aos interesses da coletividade começa a se destacar, no Brasil, a partir do final da década de 60 e início dos anos 70, mais precisamente em 1971. Os ambientalistas passam a chegar a milhões de brasileiros com a divulgação de suas campanhas e denúncias de crimes ambientais e sociais cometidos em nome da ganância, do poder político e econômico.( Moraes, 2004, p.144) 
As instituições que se organizam para a defesa do ecossistema desde as suas origens se mostram fracas, apesar do respaldo popular em relação a sua importância. O maior problema é a falta de recursos financeiros e apoio governamental o que acaba por inviabilizar a profissionalização de seus membros, a realização de campanhas sistemáticas e o custeio de gastos administrativos como pagamento de taxas telefônicas, energia, aluguel da sede, compra de materiais, equipamentos de infra-estrutura e consultorias nas áreas jurídica e profissional. 
O ambientalismo brasileiro, embora não escape da escassez de recursos que afeta o país, está tentando construir sua profissionalização, enfrentando a burocracia e as dificuldades para financiamento de suas ações.
Mesmo com todos os problemas enfrentados, várias mudanças e muitas conquistas podem ser creditadasas instituições que buscam o desenvolvimento ambiental sustentável no Brasil como as inovações, sobretudo nas questões jurídicas, na mobilização da opinião pública, no avanço das políticas ambientais e sociais e na participação da sociedade. 
A influência dos movimentos sociais na tomada de decisões dos governos possibilitou ao Brasil ter um complexo sistema de leis ambientais e mecanismos de participação pública conquistadas pelas pressões da sociedade.
Grande parte das organizações operam, há muitos anos, de forma voluntária ou semivoluntária. Basicamente são através de doações de trabalho ou financeiras dos próprios membros e a paixão e compromisso com a causa ambiental que tornam possível a continuidade das organizações. 
As organizações ambientalistas mais articuladas têm priorizado meios de comunicação mais democráticos, com o uso de estratégias de comunicação em rede e a ampliação da participação social nas políticas públicas. Isto permite estarem mais próximas dos problemas sociais e ambientais locais no Brasil e do modo como atuam organizações e movimentos de base, que passam a ser as fontes fundamentais de informação para organizações financiadoras do meio ambiente.
Desde 1976, quando começam várias campanhas com ampla cobertura da imprensa, o movimento ambientalista tem revelado seu potencial de mobilização da opinião pública local, regional e nacional contra ameaças de degradação ao meio ambiente brasileiro.
Os espaços ocupados pelos ambientalistas nas TVs e nos jornais em campanhas contra a energia nuclear, uso de pesticidas, contaminação de alimentos, perda da biodiversidade, impactos negativos de grandes projetos, buscando preservar verdadeiros santuários ecológicos numa época em que o Brasil acelerava sua urbanização e desenvolvimento, tornou-se uma bandeira que fez disseminar todo um movimento e políticas ambientais em nosso território nacional.
O resultado deste movimento foi o aumento do número de grupos e organizações ambientalistas por todos os lugares do Brasil e a proliferação de campanhas. As mobilizações locais, regionais e nacionais, que de fato começaram por uma série de ativistas, continuaram se fortalecendo com o surgimento de peritos na educação da opinião pública para a defesa do meio ambiente.
A construção dessas relações entre as organizações, grupos e líderes locais, regionais e nacionais da área ambiental e social com entidades financiadoras de projetos no Brasil é um processo contínuo, planejado, porém ainda incipiente.
1.2- O socioambientalismo na Constituição Federal de 1988
Os movimentos ambientalistas fizeram surgir no ordenamento jurídico brasileiro, uma preocupação efetiva com o meio ambiente, preocupação esta evidenciada concretamente apenas após a Constituição da República Federativa do Brasil de 1988.
Somente com o trabalho de muitos tidos como inconseqüentes, em uma época que se dizia que os recursos naturais eram infinitos, é que se pode, hoje, debater sobre uma legislação que efetivamente existe mas que deve se fazer cumprir, através de órgãos do Estado voltados à fiscalização da ação humana. 
Antes da Constituição Federal Brasileira de 1988 a proteção outorgada pelo legislador ao meio-ambiente sempre foi de uma visão homocêntrica da questão, ou seja, amparava-se o patrimônio ambiental à medida em que a própria saúde do ser humano estivesse em risco. Daí não existir qualquer menção expressa de amparo constitucional, no ordenamento jurídico, no sentido de se tutelar a biodiversidade, antes de 1988.
Desta forma, para se alcançar a punição ou reparação de danos causados ao meio-ambiente era necessário provar a existência de degradação das condições de saúde humana, o que, lato sensu, poderia jamais ocorrer de maneira direta, sendo, portanto, uma visão extremamente minimista dada a um problema de tamanha monta.
           Apesar deste contesto social era possível, mesmo antes da Constituição da República Federal Brasileira de 1988, perceber o desenvolvimento de um direito ambiental no ordenamento jurídico tendo-se dividido a evolução histórica do período de surgimento da disciplina, em termos de legislação, até os dias atuais, em três fases, demostrando, muito corretamente, a preocupação que a sociedade outorgou ao patrimônio ambiental nos últimos anos. (BENJAMIN, 1999, p. 76)
          A primeira fase, denominada de "exploração" ou "laissez-faire ambiental", foi marcada pela quase inexistência de salvaguarda jurídica da biota, principalmente no Brasil, transcorrendo-se do período colonial e imperial ao republicano, caminhando-se até a década de 60, sendo as ações governamentais caracterizadas por iniciativas isoladas, mais com o sentido de se conservar determinadas culturas do que propriamente buscar a preservação. Basicamente, a conquista de novas fronteiras era tudo o que importava na relação do homem com a natureza. A omissão legislativa, portanto, era dominante neste período (BENJAMIM, 1999, p. 73).
           Seguiu-se a segunda fase, denominada de "fragmentária", marcada (justificando a denominação) pela preocupação não ainda com o mundo natural em si, mas com as diversas categorias de recursos naturais existentes, impondo o legislador controles às atividades exploradoras. Deu-se o surgimento dos Códigos, tais como: o Florestal (Lei nº 4.771/65); o de Caça (Lei nº 5.197/67); o de Pesca (Dec-lei nº 221/67) e o de Mineração (Dec-Lei nº 227/67). Mais tarde, surgiram também algumas leis específicas: a Lei de Responsabilidade por Danos Nucleares (Lei nº 6.453/77); a Lei do Zoneamento Industrial nas Áreas Críticas de Poluição (Lei nº 6.803/80); e, por fim, a Lei de Agrotóxicos (Lei nº 7.802/89).
Ademais, e finalmente, veio a terceira fase, chamada de "holística", sendo a ocasião, nas palavras do Profº Antônio Herman V. Benjamin (1999, p. 35), "na qual o ambiente passa a ser protegido de maneira integral, vale dizer, como sistema ecológico integrado e com autonomia valorativa é, em si mesmo, bem jurídico".
Tem-se como marco inaugural da terceira fase, que segue até hoje, a Lei da Política Nacional do Meio-Ambiente (Lei nº 6.938/81). Mais recentemente, foi promulgada a Lei dos Crimes Ambientais (Lei nº 9.605/98), com responsabilização inclusive para pessoas jurídicas, concretizando-se, em lei ordinária, texto até então com previsão apenas constitucional (CF/88, art. 225, § 3º). Em 1995 criou-se a Lei da Engenharia Genética (Lei nº 8.974/95), seguida de diversas instruções normativas. 
O direito ambiental passa, então, a ser tratado como um ramo do direito que apesar de incipiente em seus estudos já possui uma legislação forte culminada pelo amparo constitucional.
Dispõe o art. 225 da Constituição da República Federativa do Brasil 1988 que:
Art.225- todos tem direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao poder público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações. 
Nasce uma espécie de direito difuso, caracterizado por uma preocupação não só com impactos presentes mas com a tutela do patrimônio ambiental para as gerações futuras, dispondo que se trata, o meio ambiente, de um bem de uso comum do povo, o que significa dizer que é um bem gravado de inalienabilidade (não estão sujeitos em regra à transferência de domínio), impenhorabilidade (são insuscetíveis de constrição judicial por penhora) e imprescritibilidade (são insuscetíveis de se adquirir por usucapião). (CARVALHO, 2002, p. 251)
Determina ainda a Constituição Federal Brasileira de 1988, em seu art. 225, que para assegurar a efetividade desse direito, incumbe ao Poder Público preservar e restaurar os processos ecológicos essenciais e prover o manejo ecológico das espécies e ecossistema; definir em todos os entes da federação, espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos, sendo a alteração e a supressão permitidas somente através da lei, vedada qualquer utilização quecomprometa a integridade dos atributos que justifiquem sua proteção. 
Após a Constituição de 88 e seu amparo ao meio ambiente passou-se a exigir, na forma da lei, para a instalação de obra ou atividade potencialmente causadora de significativa degradação do meio ambiente, a realização de um estudo prévio de impacto ambiental, e terá que dar, a esse, publicidade. ( CARVALHO, 2002, p.608) 
O Estado brasileiro passou a tutelar a fauna e a flora no nível constitucional, determinando que é vedado as atividades que comportem em risco sua função ecológica e que provoquem a extinção de espécies ou submetam os animais a crueldade.
A obrigação de reparar o dano causado ao meio ambiente passa a se tornar obrigação de todo e qualquer ente de direito, seja pessoa física ou jurídica como dispõe o parágrafo 4˚ do art. 225 da Constituição Federal Brasileira de 1988:
Art.225- § 4º- as Condutas e Atividades consideradas lesivas ao meio ambiente sujeitarão os infratores, pessoas físicas ou jurídicas, a sanções penais e administrativas, independentemente da obrigação de reparar os danos causados.
A proteção ambiental, apesar de seu caráter geral, demonstra uma especial preocupação com reservas ambientais e com florestas que representam uma grande concentração de biodiversidade como a Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal e a Zona Costeira estabelecendo que essas são patrimônio nacional, e a sua utilização far-se-á, na forma da lei, dentro de condições que assegurem a preservação do meio ambiente, inclusive quanto ao uso dos recursos naturais.
Apesar da norma constitucional determinar diversos direitos e obrigações em matéria ambiental, algumas de suas normas se mostram inócuas pelo descumprimento de seus preceitos pelo poder público.
Segundo o art. 225, § 1˚, inciso VI da CRFB/88 incumbe ao poder público: 
Art 225: §1º- promover a educação ambiental em todos os níveis de ensino e a conscientização pública para a preservação do meio ambiente. 
Tal dispositivo constitucional é um dos mais importantes da carta política, por estabelecer a relevância da conscientização ambiental a todos os níveis de escolaridade, porém, é totalmente descumprido pelo poder público. A instituição da educação ambiental nas escolas da rede de ensino, pública e particular, em todos os níveis, como disciplina fundamental garantiria uma melhor orientação sobre o tema e uma futura geração verdadeiramente preocupada com os aspectos sociais que envolvem o meio ambiente.
Assim sendo, vê-se que o socioambientalismo está amparado por um complexo de normas constitucionais que deveriam garantir um equilíbrio entre o desenvolvimento econômico, que é essencial nos tempos atuais, com a proteção à biodiversidade. Ocorre que, o poder público, apesar das disposições constitucionais, não percebe o problema da poluição, do desmatamento da Floresta Amazônica e demais florestas brasileira, além de aplicar multas extremamente irrisórias às empresas que poluem e degradam o meio ambiente.
As instituições que cuidam da proteção do meio ambiente devem permanecer na luta agora não mais pela tutela legislativa, uma vez que ela já existe, o que se deve buscar é o fiel cumprimento da lei, seja constitucional ou infraconstitucional e a sua adequação aos fins sociais as quais elas se destinam.
 1.3- A legislação infra-constitucional brasileira em matéria ambiental
	Diante da nova ordem constitucional, estabelecida com a constituição federal de 1988, diversos mandamentos legais tiveram de ser instituídos a fim de regulamentar o que foi disposto na norma ápice. Assim, a legislação infra-costituicional, que já era extensa em nosso ordenamento jurídico, ganha mais corpo e passa a ser elaborada de forma cada vez mais dinâmica, buscando acompanhar os anseios da sociedade moderna. 
A Lei Federal n. 9.433, de 8 de janeiro de 1.997 institui a política nacional de recursos hídricos. A Lei 9.984, de 17 de julho de 2.000 dispõe sobre a Agência Nacional de Águas – ANA; a Lei federal n. 9.966, de 28 de abril de 2.000, dispõe sobre a prevenção, controle e fiscalização da poluição causada por lançamento de óleo e outras substâncias nocivas ou perigosas em águas sob jurisdição nacional. A Lei federal 9.605, de 12 de fevereiro de 1.998 é a Lei dos Crimes Ambientais, que define e estabelece penas para “poluição de qualquer natureza (O Decreto federal 73.030, de 30 de outubro de 1.973 define o que é poluição hídrica). A lei federal 7.990, de 28 de dezembro de 1.989 institui para os Estados, Distrito Federal e Municípios, compensação financeira pelo resultado da exploração de petróleo ou gás natural, de recursos hídricos para fins de geração de energia elétrica, de recursos minerais em seus respectivos territórios, plataforma continental, mar territorial ou zona econômica exclusiva.
A Lei federal 6.938, de 31 de agosto de 1981 e a Lei 6.902, de 27 de abril de 1981, estabelece a política nacional do meio ambiente. A lei federal 7.802, de 11 de julho de 1989, regulamentada pelo Decreto 4.074, de 4 de janeiro de 2002, trata dos danos ambientais. A Lei federal 7.661, de 16 de maio de 1.988 institui o plano nacional de gerenciamento costeiro; o Decreto federal n. 24.643, de 10 de julho de 1934 institui o Código de Águas. O Decreto federal 94.076, de 5 de março de 1987 institui o Programa Nacional de Microbacias Hidrográficas; o Decreto-lei 221 de 28 de fevereiro de 1967 (alterado pelos Decretos 3.978/2.001 e 4.174/2002) regulamenta o Conselho Nacional de Recursos Hídricos. As Resoluções CONAMA n. 20, de 29 de novembro de 2.000 e 274, de 29 de novembro de 2.000 dispõem sobre a balneabilidade das águas doces, salobras e salinas. 
O Estatuto da Cidade (Lei 10.257, de 10 de julho de 2.001), que estabelece normas gerais de política urbana, estatui literalmente em seu art. 1º, § único: “estabelece normas de ordem pública e interesse social que regulam o uso da propriedade urbana em prol do bem coletivo, da segurança e do bem-estar dos cidadãos, bem como do equilíbrio ambiental”.
	Existem, ainda, outras normas mais específicas: Decreto-lei 25, de 30 de novembro de 1937, sobre a proteção do patrimônio histórico e artístico nacional; Lei 3.924, de 26 de julho de 1.961, sobre monumentos arqueológicos e pré-históricos; lei 5.197, de 30 de janeiro de 1.967, sobre a proteção à fauna; Lei 7.802, de 11 de julho de 1.989, sobre agrotóxicos; Lei 7.805, de 18 de julho de 1989, sobre permissão de lavra garimpeira; Lei 8.429, de 2 de junho de 1.992, sobre improbidade administrativa; lei 8.984, de 5 de janeiro de 1.995, que regulamenta a engenharia genética; lei 9.795,. de 27 de abril de 1999, sobre educação ambiental; lei 9.985, de 18 de julho de 1.000, que institui o sistema nacional de unidades de conservação. (Machado, 2004, p. 88) 
	Como a atribuição para legislar sobre a defesa do solo e dos recursos naturais é de competência concorrente da União, dos Estados e do Distrito Federal (conforme artigo 24, VI, da Constituição), e suplementar dos municípios, conforme artigo 30, II e VIII da Constituição, outras tantas normas foram geradas nos demais entes federativos (SILVA, 2003).
Assim sendo, observa-se que baseado na Carta Magna de 88 o legislador infra-constitucional buscou regulamentar tudo quanto está disposto na norma ápice com o fim de que ela seja efetivamente respeitada. 
É necessário, agora, que o poder público estabeleça políticas que possam tornar concretas as medidas estabelecidas pela lei, fortalecendo o socioambientalismo e fazendo renascer a esperança de salvar o patrimônio ambiental brasileiro. 
 
         
CAPÍTULO II-O DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL NO DIREITO AMBIENTAL
 Desenvolvimento e Teoria Sistêmica do Mundo
Inicialmente o desenvolvimento sustentável pode ser explicado a partir de uma concepção científica dos seres vivos.
Os biólogos foram os pioneiros em se tratando do pensamento sistêmico, pois enfatizavam a concepção dos organismos vivos comototalidades integradas. A partir deste pensar as revoluções cientificas e filosóficas nortearam a capacidade de mudança e compreensão da vida, influenciando, também, vários segmentos do Direito. 
A palavra sistema deriva do grego systema e tem o sentido de reunião, juntura, “exprime o conjunto de regras e princípios sobre uma matéria, tendo relações entre si, formando um corpo de doutrinas e contribuindo para a realização de um fim” (SILVA, 1988, p. 763).
Compreender as coisas sistematicamente significa, coloca-las dentro de um contexto, determinar a natureza de suas relações. De acordo com o teórico Fritjof Capra (1996, P. 40), na visão sistêmica da vida, as partes não se apresentam isoladas, “a natureza do todo é sempre diferente da mera soma de suas partes”.
Com desenvolvimento da ciência da ecologia-do Grego ecos+ logos, sendo a ciência que estuda as relações dos seres vivos com o meio ambiente, que emergiu da escola organismica da biologia, durante o século XIX, a maneira sistêmica de pensar se consolidou.
A nova concepção de comunidade ecológica se desenvolveu como um todo onde os seus integrantes estão ligados como uma rede. É a conhecida “teia da vida” �, expressão que revela a forma pela qual o ecossistema é entendido como uma rede de organismos individuais. 
O mundo passa a ser observado como um todo integrado, holístico e não mecânico fragmentário. Essa passa a ser uma visão científica e, por conseguinte, mais profunda da ecologia, significando dizer que seres humanos e meio ambiente natural não estão isolados, ao contrario, ambos tem valores que se completam como fios de uma teia. (CAPRA, 1996, p. 26)
Os diversos danos ambientais com os quais a humanidade vem se defrontando, só pode ser entendida de maneira inter-relacionada. Assim, quanto mais se observa os problemas de uma determinada época, mais se percebe que eles não podem ser entendidos isoladamente. São problemas sistêmicos, o que significa que estão interligados e são interdependentes.
A conservação do meio ambiente de forma equilibrada é a tradução do reconhecimento da visão sistêmica, de que todos os problemas ecológicos só podem ser tratados, solucionados, com a sustentabilidade. 
O socioambientalismo se baseia na inversão de princípios no qual o homem se apresenta como parte integrante de uma mudança de mentalidade. As ações humanas devem se firmar na idéia de que não há hierarquia na organização da estrutura social, mas há um vinculo entre os indivíduos e união destes com a natureza.
O mundo, para a teoria sistêmica, constitui-se num elo entre comunidades ecológicas, como salienta Fritjof Capra (1996, p. 23): “ambos são sistemas vivos que exibem os mesmos princípios básicos de organização”. 
A manutenção de uma qualidade de vida saudável é contrária a um sistema de produção em geral agressivo ao meio ambiente. O contínuo desrespeito à natureza tem sido alvo de uma luta incessante por parte dos ambientalistas e cientistas, que defendem um ambiente ecologicamente equilibrado principalmente no que se refere ao paradigma da ecologia profunda.
Ainda em relação a teoria sistêmica, destaca-se como princípios básicos de ecologia: a interdependência, na qual os membros da comunidade ecológica estão interligados na teia da vida; a parceria que se apresenta como associações para a melhoria da vida; a flexibilidade ou capacidade de adaptação diante de mudanças; a diversidade que é essencial na sobrevivência e enriquecimento das relações das comunidades; a reciclagem onde o fluxo cíclico de recursos impede a extinção ou diminuição dos mesmos e finalmente a sustentabilidade.
Os processos ecológicos e sociais se interpenetram, deixando de lado o individualismo freqüente nos homens, sendo o desenvolvimento sustentável ou a sustentabilidade um fator essencial nesse processo.
– Conceitos e Características do Desenvolvimento Sustentável
A análise sobre as questões ambientais insurgiu precipuamente, na esfera internacional, ao serem buscadas soluções concretas para problemas que envolviam indivíduos ou mesmo Nações, vítimas de agressões ambientais provocados por outros paises.
Congressos e simpósios foram realizados em meados do século XX resultando em tratados e acordos internacionais versando sobre a questão ambiental. Exemplo é a célebre Declaração de Estocolmo, de junho de 1972, instituída num congresso organizado pela ONU, o qual foi responsável pelo impulso dado a legislação nessa área, em todos os países, na tentativa de minimizar os problemas e buscar soluções adequadas. (FERREIRA, 2000, p. 18)
O termo desenvolvimento sustentável aparece pela primeira vez na Comissão Brundtland em 1987, resultando na redação do documento “Nosso Futuro Comum”. Tal documento trouxe a incipiente idéia de desenvolvimento sustentável, principalmente no que se refere às suas conseqüências em relação à qualidade de vida e ao bem-estar da sociedade tanto presente quanto futura�.
O relatório Brundtland foi adotado pelas Nações Unidas como referencia para Conferência sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento realizada em junho de 1992 no Rio de Janeiro, mais conhecida no Brasil como Eco-92.
A Eco-92 explicitou o desenvolvimento sustentável como meta a ser seguida e respeitada por todos os países, em especial aos paises industrializados. O seu princípio 4 estabelece que para se alcançar o desenvolvimento sustentável, a proteção ao meio ambiente deve constituir parte integrante do processo de desenvolvimento e não pode ser considerada de forma isoladamente em relação a lei ( MACHADO, 2002, P. 572).
As Nações Unidas, ou seja, a comunidade internacional acordou na aprovação de um documento contendo compromissos para mudança do padrão de desenvolvimento, denominando de Agenda 21. O foco da referida Agenda foi justamente a sustentabilidade, conciliando proteção ambiental, justiça social e eficácia econômica. Apesar de tais esforços, ainda é grande a apropriação unilateral e destrutiva pelo homem dos recursos naturais do planeta�.
A Agenda 21 em seu preâmbulo afirma que está voltada para os problemas preementes de hoje e tem como objetivo, ainda, preparar o mundo para os desafios do próximo milênio. 
Mesmo sendo um documento direcionado à ordem internacional a Agenda 21 precisa para sua efetivação da ação das agendas nacionais e locais. Deverá ela ser entendida como uma estratégia capaz de dar o suporte do desenvolvimento sustentável a planos de governo, sejam eles em nível estadual, regional ou local. 
O desenvolvimento sustentável representa, assim, um fator limítrofe entre a ecologia e o contexto econômico de um Estado. Como salienta Ignacy Sachs: 
A sustentabilidade resultou da Conferencia de Estocolm enfatizando a proposta de uma via intermediária entre o ecologismo absoluto e o economicismo arrogante que pudéssemos conduzir a um desenvolvimento orientado pelo princípio da justiça social em harmonia com a natureza, e não através de sua conquista.( Sachs, 1988, p. 162)
O eminente doutrinador Paulo Afonso Lemi Machado (1999, p.139) dispõe ser o desenvolvimento sustentável, uma espécie de desenvolvimento que responde as necessidades do presente sem comprometer a capacidade das gerações futuras de responder as suas próprias necessidades fundando-se na prioridade da manutenção de uma vida sustentável e produtiva, em harmonia com a natureza.
Preservar o meio ambiente, através de um modelo de desenvolvimento sustentável não significa um entrave para o progresso, porém, justifica-se pela proteção aos próprios homens vivos às gerações vindouras. Essa nova ideologia corresponde a uma dimensão ambiental e não apenas a dimensão de transformação em termos de produção econômica, tão ligada a industrialização e riqueza.
Não se pode mais admitir o crescimento econômico a qualquer custo. O crescimento de um Estado deve estar em harmonia com o contexto econômico social ligado ao meio ambiente, na medida em que se mostra falso a expressão que dispõe “ou desenvolvimento ou meio ambiente”.
A conscienteutilização do patrimônio natural deve estar subordinada aos princípios maiores de uma dignidade humana, em que o econômico não prevaleça sobre a perspectiva de sobrevivência da humanidade.
Assim o ecodesenvolvimento compreende um desenvolvimento aliado à melhoria da qualidade de vida e se mostra como sendo uma solução equilibrada para a questão que envolve a relação do homem com o meio ambiente.
Meio ambiente e desenvolvimento sustentável representam a conciliação de diversos fatores sociais e tecnológicos capazes de garantir a conservação dos recursos naturais. Passa a ser a sustentabilidade o remédio para a utilização dos recursos naturais de forma planejada buscando o não comprometimento da biodiversidade ( JARDIM, 1999, p. 31).
A degradação do ecossistema ameaça a vida no planeta, trazendo como conseqüência alterações ambientais tais como: efeito estufa, desertificação, chuva ácida, tsunâmis dentre outros, sendo que estes acontecimentos destroem um patrimônio que é também das gerações futuras. 
Idealizar que a natureza é intocável não vigora mais, já que, à situação de pobreza é extrema em muitos países necessitando, estes, se desenvolverem buscando uma melhor qualidade de vida para o seu povo. Porém, esse crescimento não pode ser a qualquer custo, ao contrário, deve-se buscar o progresso com a junção dos fatores responsabilidade ambiental e desenvolvimento.
Construir uma sociedade que prima pela sustentabilidade é estar em consonância com os anseios das atuais comunidades internacionais e, sobretudo, uma demonstração de preocupação com o futuro planetário.
A humanidade não se restringi às pessoas de hoje, mas, também a toda uma geração posterior a esta, que é detentora do direito de habitar em um planeta que lhes proporcione o mínimo necessário para a sua subsistência. Assim, o desenvolvimento sustentável é o que pode trazer um equilíbrio ecológico-economico capaz de suprir as necessidades das diversas nações do globo, garantindo a vida de forma equilibrada no hoje e, sobretudo, no amanhã do planeta. 
– O Desenvolvimento Sustentável à Luz da Legislação Brasileira
O Estado brasileiro iniciou o trabalho voltado a tentativa de estabelecer, legalmente, uma proteção à incipiente corrente que determina a importante junção do desenvolvimento com a proteção ambiental, desenvolvendo o conceito de sustentabilidade, ainda por ocasião da lei 6.803 de 03 de julho de 1980. Esta, em seu artigo 1º, dispõe que nas áreas críticas de poluição, as zonas destinadas a instalação de indústrias serão definidas em esquema de zoneamento urbano, aprovado por lei que compatibilize as atividades industriais com a proteção ambiental ( MILARÉ, 2001, p. 123). 
Iniciava-se, com a proteção da lei, um mecanismo no qual a atividade industrial não suprimiria por completo a questão ambiental. Confirmava-se a necessidade de se garantir uma vida mais saudável e voltada, também, para o futuro, buscando o desenvolvimento industrial, mas não esquecendo da garantia de sustentabilidade das gerações futuras. 
Pouco mais de um ano após a implementação da Lei nº 6.803/80, eis que surge um novo dispositivo legal: a Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981. 
O novo mandamento pode ser considerado um marco em se tratando de política e meio ambiente. Assim, instituiu-se, pela primeira vez no Estado brasileiro uma Política Nacional do Meio Ambiente, trazendo intocáveis benefícios objetivando a preservação do meio ambiente, protegendo em especial a vida humana.
O respeito ao meio ambiente passa a ser considerado fator integrante do processo de desenvolvimento econômico e social do Brasil.
As normas do inicio da década de 80, versando sobre o direito ambiental, serviram, além da objetividade de sua aplicação em seu tempo, como instrumento para a concretização da responsabilidade ambiental na seara constitucional brasileira. 
A Constituição da República Federal Brasileira de 05 de outubro de1988, em seu título VII, capítulo VI, destina-se especificamente ao meio ambiente, acolhendo o conceito de desenvolvimento sustentável, em seu art. 225.
Em consonância com o caput do referido artigo da constituição, os seus incisos e parágrafos disciplinam de forma objetiva a maneira pela qual o meio ambiente deve ser, a partir do comando legal, tratado. O poder público, através do disposto, passa a agir em conjunto com a coletividade em busca do desenvolvimento sustentável, iniciando-se uma conscientização da necessidade da convivência harmoniosa do povo com a natureza.
Nota-se que, em se tratando da atual Constituição Federal Brasileira, não apenas o artigo 225 vislumbra a sustentabilidade. São exemplos da proteção economico-ambiental os artigos 170, que institui a defesa do meio ambiente como principio geral da atividade econômica e o 185, inciso I, que impõe como requisito essencial da função social da propriedade a utilização adequada dos recursos naturais disponíveis, bem como a preservação ambiental (MACHADO, 2002, p. 111).
Não obstante a considerável proteção constitucional, também o legislador infraconstitucional se mostra sempre voltado a dar executoriedade ao disposto na norma ápice. 
Assim, leis ordinárias trazem ao ordenamento jurídico a preocupação com o meio ambiente, que direta ou indiretamente, colimam ao desenvolvimento sustentável.
Leis como a nº 7.802 de 11 de julho de 1989, alterada pela Lei nº 9.974 de 06 de junho de 2000 ( lei de agrotóxicos); Lei nº 8.723 de 28 de outubro de 1993, alterada pela Lei 10.203 de 22 de fevereiro de 2001 (dispõe sobre a redução da emissão de poluentes por veículos automotores); Lei nº 9.605 de 12 de fevereiro de 1998 (trata das sanções penais e administrativas derivadas de condutas e atividades lesivas ao meio ambiente); demonstram a tutela estatal na busca de um equilíbrio ambiental.
O desenvolvimento sustentável tem reflexos imediatos não só no direito, mas, também, em muitos setores da vida nacional, como na saúde pública, economia, educação e desenvolvimento tecnológico. Em função de tal importância, juristas em conjunto com ambientalistas já vislumbram a possibilidade de se elaborar um Código de Meio Ambiente Brasileiro, como uma forma de se garantir uma melhor proteção ambiental para o povo.
A concretização dessa legislação ambiental ainda mais específica e completa, fará com que as questões envolvendo o patrimônio ambiental sejam analisadas de maneira ainda mais clara e precisa, fortalecendo o Direito em matéria Ambiental.
Além das diversas normas, o direito ambiental se vê resguardado pela atuação não menos importante das organizações não-governamentais (ONGs). Tais entidades possuem um grande relevo uma vez que por muito elas organizam a sociedade civil e difundem os interesses públicos em matéria ambiental, sem serem organismos do governo, mas suprindo essa deficiência da administração pública (JARDIM, 1999, p. 36).
O papel das ONGs inicialmente era dividido entre denuncias, educação ambiental e conscientização pública, ou seja, era mais voltado para mobilizar a sociedade, engajando-a nos problemas que estavam sendo denunciados. 
Posteriormente outros objetivos, em relação a atuação das ONGs, foram sendo traçados. Passaram estas a apresentar soluções para aqueles problemas que estavam sendo denunciados, através da promoção de estudos e pesquisas guiados por valores éticos e sócio-ambientais.
Hoje as organizações não governamentais estão presentes nas mais diversas regiões do mundo, auxiliando na mudança de mentalidade das pessoas que não percebem a gravidade dos atentados a natureza. 
Com escopo de ilustrar o trabalho e o empenho das ONGs, em busca do desenvolvimento sustentável, pode-se relembrar o episódio de derramamento de petróleo acontecido na Baia de Guanabara, em 18 de janeiro de 2000, época em que a Pretrobrás em parceria com 18 ONGs, assinou um pacto ambiental para recuperação da Baia: 
Elas impuseram condições para firmar a parceria, como a punição dos responsáveis pelo acidente, a criação de uma força tarefapermanente para fazer frente a acidentes, a contratação de uma auditoria externa independente e o pagamento imediato de multa devidas aos órgãos ambientais. (FERREIRA, 2000, p. 18). 
Assim, os esforços comuns da sociedade civil, representada, sobre tudo, pelas organizações não governamentais, e do poder público, com a provação de novas normas que venham a complementar as já existentes, são os fatores principais que levaram o Estado brasileiro a conseguir alcançar o tão desejado desenvolvimento de forma estruturada e sustentável. 
 
CAPÍTULO III- A SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL E O MOVIMENTO SOCIOAMBIENTAL 
3.1– A Cúpula Mundial Sobre Desenvolvimento Sustentável e as Novas Tendências do Socioambientalismo
As cúpulas mundiais relacionadas com o desenvolvimento sustentável têm como marco a declaração de Estocolmo. Após esta, várias outras convenções internacionais foram instituídas na tentativa de se concretizar as aspirações das entidades supra-estatais em matéria ambiental.
A Declaração sobre o ambiente humano, da Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente – UNEP, resultado da Assembléia Geral da ONU, que se reuniu em Estocolmo, de 5 a 16 de junho de 1972, estabeleceu um marco histórico para o trato da matéria ( MILARÉ, 2001, p. 85).
 Atendendo à necessidade de se estabelecer uma visão global e princípios comuns, que servirão de inspiração e orientação à humanidade, para a preservação e melhoria do ambiente humano através dos vinte e três princípios enunciados, a declaração de Estocolmo iniciou um cíclico debate em matéria ambiental.
 A Organização das Nações Unidas para o Meio Ambiente – UNEP, definiu em Estocolmo diversas orientações relacionadas aos direitos da humanidade, dentre eles: “todo homem tem o direito fundamental à liberdade, à igualdade e ao desfrute de condições de vida adequadas, em um meio ambiente de qualidade tal que lhe permita levar uma vida digna, gozar de bem-estar; e é portador da solene obrigação de proteger e melhorar esse meio ambiente, para as gerações presentes e futuras. A esse respeito, as políticas que promovem ou perpetuam o apartheid, a segregação racial, a discriminação, a opressão colonial e outras formas de coerção e de dominação estrangeira permanecem condenadas e devem ser eliminadas” (SANTILLI, 2005, p. 42).
Dispunha ainda a citada declaração que: “ Os recursos da terra, incluídos o ar, a água, o solo, a flora e a fauna e, especialmente, parcelas representativas dos ecossistemas naturais, devem ser preservados em benefício das gerações atuais e futuras, mediante um cuidadoso planejamento ou administração adequados”(CAVALCANTI, 2001, p. 234).
O homem tem a responsabilidade especial de preservar e administrar judiciosamente o patrimônio representado pela flora e pela fauna silvestres, bem assim o seu habitat, que se encontram atualmente em grave perigo por combinação de fatores adversos. Em conseqüência, ao planejar o desenvolvimento econômico, deve ser dada a devida importância à conservação da natureza, incluídas a flora e a fauna silvestres.
Para os países em desenvolvimento, a estabilidade dos preços e o pagamento adequado para produtos primários e matérias-primas são essenciais à administração do meio ambiente, uma vez que se deve levar em conta tanto os fatores econômicos como os processos ecológicos.
As políticas ambientais de todos os países devem melhorar e não afetar negativamente o potencial desenvolvimentista atual e o futuro dos países em crescimento, nem obstar o atendimento de melhores condições de vida para todos, cabendo aos Estados e Organizações Internacionais a adoção de providências adequadas, que visem a chegar a um acordo, a fim de fazer frente às possíveis conseqüências econômicas nacionais e internacionais resultantes da aplicação de medidas ambientais.
O desenvolvimento econômico e social, indispensável para assegurar ao homem um ambiente de vida e trabalho favoráveis, bem como para criar na terra as condições necessárias à melhoria da qualidade de vida, foram a síntese dos assuntos destacados em Estocolmo, dando voz a incipiente corrente do desenvolvimento sustentável.
 A Declaração do Rio de Janeiro, de 1992 (ECO-92) e o Protocolo de Kioto são exemplos do fruto gerado por declarações anteriores, como a de 1972. 
O princípio 16 da Declaração do Rio de Janeiro dispõe que o poluidor deve, em princípio, arcar com o custo decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem esforçar-se para promover a internalização dos custos de proteção de meio-ambiente e o uso dos instrumentos econômicos, levando-se em conta o conteúdo de que o poluidor deve em princípio, assumir o custo da poluição, tendo em vista o interesse do público, sem desvirtuar o comércio e os investimentos internacionais.
Embora se trate apenas de uma declaração, o princípio do poluidor pagador já foi previsto anteriormente na Lei da Política Nacional do Meio Ambiente, lei federal 6.938, de 31 de agosto de 1981. 
O princípio da prevenção, ou princípio da precaução, também constante da ECO 92 gerou norma jurídica brasileira, através do Decreto Legislativo Federal nº 1, de 3 de fevereiro de 1994 (art. 3º, inciso 3º):
Art.3º- inc.3º- As partes devem adotar medidas de precaução para prever, evitar ou minimizar as causas da mudança do clima e mitigar seus efeitos negativos. Quando surgirem ameaças de danos sérios ou irreversíveis, a falta de plena certeza científica não deve ser usada como razão de postergar essas medidas.
Em relação ao Protocolo de Kioto, de 1997, este é um acordo internacional que estabelece metas de controle dos gases causadores do efeito estufa.
O protocolo complementa a convenção da ONU sobre mudança do clima no planeta, assinada na Conferência das Nações Unidas sobre Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro em 1992, a eco 92. 
Pelo acordo internacional, os países integrantes da União Européia (UE) têm meta conjunta de 8% de redução das emissões de gases, em relação a 1990. Os Estados Unidos, que respondem por quase 25% das emissões, abandonaram o protocolo. O presidente norte-americano George W. Bush alegou que o acordo seria prejudicial à economia do país ( VEJA, 2005, p. 95).
Para que o protocolo entre em vigor, é preciso que ele seja ratificado por pelo menos 55 países, entre eles, os países desenvolvidos responsáveis por 55% das emissões.
O Protocolo de Kioto não prevê compromissos de redução de emissões de gases para países em desenvolvimento, como o Brasil.
Verifica-se, ainda, a RIO + 10, de 2002, como uma das mais recentes cúpulas mundiais sobre o desenvolvimento sustentável.
O Jornal Folha de São Paulo, de 5 de setembro de 2002, sob o título “Saiba o que a Rio + 10 conseguiu decidir”, publicou interessante matéria resumindo as constatações e decisões dessa Convenção. A constatação primeira é de que há mais problemas que medidas concretas para deslanchar o desenvolvimento sustentável em escala global.
Várias, porém, foram as colocações em relação às necessidades de preservação dos recursos naturais. No que se refere à energia, destacou-se a importância em se ampliar o acesso as formas modernas, as novas tecnologias na sua obtenção, mas sem prazos nem metas específicas.
Quanto à mudança climática, Canadá, Rússia e China anunciaram que deverão ratificar o Protocolo de Kioto (tratado para conter o efeito estufa), uma vez que a temperatura média da atmosfera global deve subir 5,8ºC até o ano 2100, se nada for feito para conter a emissão de CO2.
Ainda como destaque da Rio + 10, a questão da água aparece como um dos piores problemas a ser enfrentado pela humanidade nas próximas décadas. Assim, decidiu-se cortar a metade, até 2015, o número de pessoas sem acesso a água potável e esgotos, com a busca de novas técnicas de reaproveitamento da água e de conservação das fontes já existentes. 
Por fim, a Agenda 21 que é a mais abrangente tentativa já feita de promover, em escala mundial, um novopadrão de desenvolvimento, conciliando proteção ambiental, justiça social e eficiência econômica. 
Foi consubstanciada em um documento de quarenta capítulos, do qual participaram governos e instituições da sociedade civil de 179 países, que por dois anos se prepararam para a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente e Desenvolvimento – ECO-92. A Agenda 21 traduz em atitudes práticas o desenvolvimento sustentável. 
A questão não é de conceito, mas de aplicação prática dos conceitos. Na Assembléia Geral das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável, de Johannesburgo (2002), à qual compareceram mais de 22.000 pessoas, o próprio Secretário Geral da Conferência, Nitin Desai dispôs: 
Quando a Assembléia Geral das Nações Unidas aprovou a realização da Conferência Mundial sobre o Desenvolvimento sustentável não era nenhum segredo – nem sequer uma questão que se deveria debater – que o avanço em direção ao desenvolvimento sustentável havia sido extremamente decepcionante desde a Conferência sobre a Terra, de 1992, já que a pobreza havia aumentado e a degradação do meio ambiente havia piorado. O que o mundo desejava, segundo afirmava a Assembléia, não era um novo debate filosófico ou político, mas uma conferência de ações e resultados. (Página oficial da Organização das Nações Unidas. Disponível em: <http://www.un.org>/ Acesso em: 20.09.07)
Sem prejuízo dos princípios gerais que possam ser estabelecidos pela comunidade internacional e dos critérios e níveis mínimos a serem definidos em âmbito nacional, será indispensável sempre considerar os sistemas de valores predominantes em cada país e o limite de aplicabilidade de padrões válidos para os países mais avançados, mas que não sejam inadequados e de alto custo social para os países em desenvolvimento.
Enfim, as diretrizes foram estabelecidas nos mais diversos temas, buscando o progresso da vida humana, sobretudo nos paises mais pobres, e objetivando o avanço das políticas sociais sob o enfoque do desenvolvimento sustentável. 
3.2 – Economia e o Desenvolvimento Sustentável
No final dos anos sessenta, mais precisamente em 1969, um grupo de cientistas, através de um manifesto denominado Blueprints for survival, logo seguidos pelo Clube de Roma, estabeleceram um debate que fazia uma projeção catastrófica para o século XXI: os recursos naturais explorados indiscriminadamente se esgotariam. Assim, a questão ambiental passou a fazer parte, também da economia.
Isso produziu reflexos no mercado. Todas as matérias primas básicas sofreram fortes aumentos de preços. Nos países de economia de mercado cada vez que se tentava acionar mecanismos de estímulo do tipo keynesiano (capacidade produtiva + pleno emprego = crescimento), o resultado não era crescimento, mas inflação. A alternativa: cortar custos de material, energia e mão de obra. (Keynes, 1992, p. 75)
 Assim, na prática, ironicamente, a fórmula resultante foi: capacidade produtiva + pleno emprego = inflação + desemprego. A opção “cortar custos” suprimiu o componente “pleno emprego”. O exemplo brasileiro é emblemático: gerar emprego significa gerar encargos tributários cada vez maiores. A solução mais fácil e mais barata, a médio e longo prazo, é substituir mão-de-obra por tecnologia. 
Em suma, a economia mundial passou de uma crise keynesiana para uma crise ricardiana (elevação dos custos de produção + degradação da riqueza social global = empobrecimento). ( Ricardo, 1819) 
Essa crise engendrou o fortalecimento de duas teorias concorrentes: o neoliberalismo, que prega a contenção de custos nas diversas economias, e a do desenvolvimento sustentável, que busca combinar correção econômica com controles administrativos e decisões negociadas entre os diversos setores da sociedade civil envolvidos. 
As forças econômicas dominantes que se aglutinam em torno da teoria neoliberal, capturando inclusive governos, que são ao mesmo tempo os detentores dos maiores avanços tecnológicos, não se conformam com os postulados do desenvolvimento sustentável: o questionamento das desigualdades dos modos de consumo das diversas economias nacionais diante da impossibilidade material e energética de se estender os modos de consumo dos países ricos para os países pobres.
Dessa forma o desenvolvimento sustentável da economia moderna se acha condicionado à concessão à natureza de um cuidado social. Isso compreende em primeiro lugar o gerenciamento dos recursos renováveis, incluindo a terra, a fim de evitar seu uso destrutivo e salvaguardar suas capacidades de regeneração. 
A gestão dos recursos deve ser direcionada a um uso parcimonioso, sobretudo em relação aos recursos não renováveis, tendo em vista a irreversibilidade da redução do patrimônio natural. Em relação, por exemplo, às fontes de energia fóssil, isso implicaria como uma solução em relação a essa fonte de energia o emprego maciço de todas as formas de energia solar, da geração da energia fotovoltaica, hidroelétrica ou eólica, ou ainda pelo uso de álcool carburante, ou da madeira como combustível.
Todavia, na economia moderna a substituição de recursos não renováveis ainda não assegura, por si só, a sustentabilidade, pois as próprias fontes renováveis devem ser empregadas de uma forma sustentável, que assegure a integridade dos fundamentos básicos da vida.
Devido ao fato de que o montante de recursos renováveis ser absolutamente restrito, no tempo, pela velocidade dos processos de regeneração ecológica e, no espaço, pela terra disponível para se fornecerem recursos renováveis, eles são ainda mais escassos que os não renováveis.
A utilização extensiva de energia eólica, hidroelétrica ou fotovoltaica sustentaria a ameaça de um estresse espacial enorme e de paisagens destruídas. A produção em massa de álcool carburante pode, da mesma forma, tornar estéril a terra sob cultivo. Assim, mesmo que gerenciados numa forma sustentável os cultivos de florestas secundários para obtenção de matérias-primas em vastas plantações de madeiras sacrificariam a biodiversidade pela destruição de florestas primárias. 
Ressalta-se, portanto, para problemas ecológicos, a sabedoria econômica de que “não há almoço gratuito”, significando dizer que não existe nada de graça. Nesse sentido empregar recursos renováveis para cobrir as necessidades enormes de energia da economia moderna não seria sustentável em absoluto.
A busca é sempre pelo melhor equacionamento das relações de consumo e de produção, a fim de que os recursos, sejam duráveis ou não, possam ser bem utilizados e quando possível reaproveitados.
Economia, desenvolvimento e meio ambiente são temas que envolvem a mesma seara, o progresso das nações e a manutenção da vida. 
Assim, o Direito Ambiental tenta encontrar, de modo forçado, o equilíbrio entre a atividade econômica e a preservação do meio ambiente, para sobrevivência da geração atual e das gerações futuras. 
3.3 – Os Órgãos do Estado Brasileiro nas Questões Sócioambientais.
O Estado brasileiro, atua, como nas demais atividades de sua responsabilidade, através de órgãos, o que caracteriza uma desconcentração em matéria administrativa. No que se refere ao direito ambiental não é diferente.
Os órgãos do Estado, responsáveis pelo meio ambiente, surgem nos anos 80 com a política nacional do meio ambiente, instituída pela Lei nº 6.938 de 31 de agosto de 1981. Os objetivos de tal lei era a criação de mecanismos que possibilitassem a aplicabilidade dos incipientes projetos de proteção ambiental.
Instituiu-se assim, na década de 80 o SISNAMA ( Sistema Nacional do Meio Ambiente), constituídos pelos órgãos e entidades da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, integrados pela proteção e melhoria da qualidade ambiental.
O governo, através do SISNAMA, possui uma composição que é definida pela lei e que possui a seguinte característica: como órgão superior, o conselho de Governo referido na lei 6.938/81, mas que nunca fio instituído; órgãos consultivos e deliberativos comoo Conselho Nacional do Meio Ambiente (CONAMA); como órgão central o Ministério do Meio Ambiente, que de acordo com Paulo Affonso Leme tem a função de “ supervisão, planejamento, coordenação e controle das ações relativas ao meio ambiente e aos recursos hídricos” Leme, (2001, p. 295) ; o IBAMA (Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis), autarquia vinculada ao Ministério do Meio Ambiente que tem o objetivo de executar a política de preservação, e uso sustentável dos recursos naturais; e, ainda, órgãos seccionais e locais que possuem como fim precípuo a preservação do meio ambiente nos locais de sua atuação espacial.
Através dessa estrutura o Sistema Nacional de Meio Ambiente realiza as suas funções de gestão ambiental, através de seus órgãos que são investidos de autoridade para atuarem na tutela do meio ambiente.
A atuação dos órgãos públicos é uma questão que se deve analisar de maneira a buscar soluções para a sua melhor consecução. Observa-se que diversos órgãos foram instituídos, porem a finalidade de suas idealizações não foram atingidas. A busca por um ecossistema mais saudável, é missão que deve ser concretizada pelo ente estatal, sendo que a sua inobservância gera a precariedade ao direito em relação ao desenvolvimento sustentável.
A questão do meio ambiente, como bem de interesse comum, essencialmente difuso, necessita de uma eficaz tutela do ente Estatal. O estado então passa, com a Constituição de 1988, a ser responsabilizado objetivamente por ações e possíveis omissões lesivas ao meio ambiente.
O poder público possui, para a tutela administrativa do meio ambiente, o poder de policia administrativa, que de acordo com Álvaro Lazzarini é “ Um direito que o Estado tem de através da policia, que é uma força organizada, limitar as atividades nefastas dos cidadãos”( LAZZARINI, 1995, p. 17).
O poder de polícia ambiental é a atividade da administração pública que limita ou disciplina direito, interesse, liberdade, regula a prática do ato, da abstenção de fato em razão de interesse publico concernente à saúde da população, a conservação dos ecossistemas, à disciplina da produção e do mercado, ao exercício de atividade econômica e de outras atividades dependentes de concessão, autorização, permissão ou licença do poder público de cujas atividades possam decorrer poluição ou agressão à natureza.
Tais mandamus, por sua vez não são cumpridos pelos órgãos estatais do meio ambiente ocasionando abuso, omissão ou desvio do poder. Nesse sentido dispõe Hely Lopes Meirelles (2001, p. 550): “Ocorrendo essa conduta do poder público caberá ação popular a invalidar o ato ilegal e lesivo ao meio ambiente”.
O direito ao desenvolvimento sustentável está situado no rol dos direitos da espécie humana e constitui juntamente com outros direitos difusos ou coletivos, como o direito à paz, ao progresso e o direito de consumidor, nos direitos humanos de terceira geração.
Assim, mesmo possuindo diversas entidades criadas na luta pela defesa do meio ambiente, observamos que no que se refere a concretização de tais direitos difusos, podemos constatar que o Estado brasileiro avança em passos lentos.
O sistema de produção, em geral agressivo ao meio ambiente, aliado à insuficiente atuação dos órgãos estatais tem provocado o contínuo agravamento do problema ecológico e, por conseguinte o desrespeito ao desenvolvimento sustentável.
Portanto, o Estado não tem contribuído de maneira eficaz para a solução desse problema que cresce indiscriminadamente e provoca a devastação dos recursos naturais em todo Brasil.
A fim de alcançar o desenvolvimento sustentável, o poder publico deve exercer a função que a Constituição do 1988 lhes impôs, assumindo os riscos de sua falta de ação relativa à questão ambiental. Cabe aos órgãos estatais, portanto, agir em defesa do meio ambiente garantindo o equilíbrio ecológico para toda a coletividade.
		
CONSIDERAÇÕES FINAIS
 
Diante da explanação sobre o tema voltamos as nossas atenções para o desenvolvimento sustentável e a sua inobservância como direito fundamental do homem.
Percebemos a indiscutível ligação do fator social com a sustentabilidade que é o padrão que se adequa ao novo conceito cientifico dos sistemas vivos, baseado numa visão holística e sistêmica do mundo, onde todos os integrantes das comunidades ecológicas estão ligados como uma rede. 
Demonstrou-se que o desenvolvimento sustentável não é uma mera forma de desenvolver-se, também, economicamente, mas uma necessidade de preservação do próprio homem, garantindo a existência das gerações vindouras.
Com a Constituição da República do Brasil de 1988, a matéria ambiental se viu tratada com a importância que hoje lhe é dada. Todo um capitulo foi dedicado a questão do meio ambiente, trazendo em seu contexto a idéia de sustentabilidade. O mesmo se verifica em se tratando da legislação infraconstitucional, sendo que um vasto corpo de leis foram instituídas com o fim de preservar o desenvolvimento em harmonia com o patrimônio ambiental.
O artigo 225, e seus parágrafos, da constituição de 88, inserem os fundamentos da proteção ambiental, culminando no direito ao desenvolvimento sustentável. É na constituição federal que se encontra a competência ambiental e os mecanismos que servem para assegurar o efetivo acesso de todos os cidadãos ao poder judiciário.
A sociedade civil, de forma organizada, através das ONGs, vem desenvolvendo um importante trabalho, servindo como um auxiliar do ente Estatal na questão ambiental.
As cúpulas internacionais sobre desenvolvimento e meio ambiente se mostram, ao longo do tempo, como sendo de fundamental importância para o desenvolvimento de tecnologias e até mesmo de legislações sobre direito ambiental, além de determinarem as futuras conseqüências da degradação do ecossistema. Porém, na pratica das ações ali definidas, nota-se um descaso no cumprimento de suas resoluções, sobretudo pelos países mais desenvolvidos. 
O desenvolvimento sustentável se consagra, então, como um direito fundamental do homem, sendo definido pelos juristas como um direito de terceira geração garantidor do patrimônio natural ecologicamente equilibrado.
Enfim, deve o Estado proporcionar ao seu povo os meios legais para se buscar o equilíbrio ambiental, onde desenvolvimento econômico, social e ambiental, sejam lados de uma mesma verdade, o que significa numa visão prática da existência a garantia de que existirá um futuro. 
REFERÊNCIAS
BENJAMIN, Antônio Herman. Revista de Direito Ambiental, ano 4, nº 14, São Paulo, Revista dos Tribunais: abril-junho 1999
BONAVIDES, Paulo. Curso de Direito Constitucional. 7.ed. rev.Atual. ampl. São Paulo: malheiros, 1998.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Agenda 21-O Caso do Brasil Perguntas e Respostas. Brasília, 1998. p.14
CAPRA, Fritjof. A Teia da Vida: Uma nova concepção cientifica dos sistemas vivos. Tradução Newton Roberval Eichemberg. São Paulo: Cultrex, 1996.
CAVALCANTI, Clovis. Meio Ambiente, Desenvolvimento Sustentável e Políticas Públicas. Cortez, São Paulo. 2001.
CARVALHO, Kildare Gonçalves. Direito Constitucional Didático. 8. ed. Belo Horizonte; Del Rey, 2002.
IN DIREITO DO AMBIENTE. 2a. Ed., São Paulo: RT, 2001, p. 131
FERREIRA, Zilda. Pacto pela baia de Guanabara. Folha do Meio Ambiente. Brasília. Ano 11. n. 101, jan/fev de 2000.p.18.
JARDIM, Simone Silva. Folha do Meio Ambiente. Brasília, Ano 10, n. 97, setembro de 1999
LAZZARINI, Álvaro. Aspectos Administrativos do Direito Ambiental. São Paulo: BDA, março 1995.
KEYNES, John Mainaird. Teoria Geral do Emprego do Juro e da Moeda. Tradução: Cruz, Mario Ribeiro da. São Paulo: Athas, 1992
MACHADO, Paulo Afonso Leme. Direito Ambiental Brasileiro. 7 ed. Atual. São Paulo: Malheiros, 2002.
MEIRELLES.Hely Lopes. Direito Administrativo Brasileiro. 26. ed. Atual. São Paulo: Malheiros, 2002.
MILARÉ, Edis. Direito do Ambiente: Doutrina, Prática,jurisprudência, glossário. 2.ed . Rev. Ampl e Atual. São Paulo: Revistas dos Tribunais, 2001.
	
MORAES, Alexandre de. Direito Constitucional. 4. ed. Ver. E atual. São Paulo : atlas. 2002
REVISTA DA MEIO AMBIENTE. Encarte sobre o meio ambiente, ano 4, n˚ 16, São Paulo. Revista dos tribunais: outubro-dezembro 1998
RICARDO, David. Princípio da Economia Política, Ano 1819.
SACHS, Ignacy. Do crescimento Econômico ao Ecodesenvolvimento. In: VIANA, Paulo Freire et allis (org.). Desenvolvimento e meio Ambiente no Brasil: A Contribuição de Ignacy Sachs. Porto Alegre: Alloti. Florianópolis: APED, 1999
SANTILLI, Juliana. Socioambientalisma e Novos Direitos. Ieb. São Paulo: Peirópolis. 2005
SILVA, De Plácido. Vocabulário Jurídico. 15. ed. Rio de Janeiro: Forense, 1998
SILVA, José Afonso da. Direito Constitucional Positivo. 22. ed. São Paulo, 2002 
SILVA, Sálvio Renato Bittencourt S. É Hora de varrer as omissões. Folha do meio Ambiente. Brasília, Ano 11, n. 101, jan/fev de 2000. p. 20.
VIEIRA, Liszt. Cidadania e globalização. 2. ed. Rio de Janeiro: Record, 1998
VEJA. Revista. Ed. Abril, Rio de Janeiro, nº 1845, 2005 
� Expressão criada por CAPRA, Fritjof. Op. cit. p. 26
� BRASIL. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Agenda 21 - O Caso do Brasil: perguntas e respostas. Brasília, p. 14, 1998.
� BRASIL. Ministério do Meio Ambiente (MMA). Op. Cit.

Continue navegando