Buscar

Rituais de Cura dos Indígenas Potiguaras da Paraíba

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 13 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Continue navegando


Prévia do material em texto

RITUAIS DE CURA PELOS INDÍGENAS POTIGUARAS DA PARAIBA 
KLEBER AFONSO DE CARVALHO 
 
 
INTRODUÇÃO 
 
Muito se fala e se escreve sobre os cuidados à saúde no Brasil e no mundo 
durante muito tempo. A literatura especializada sobre o tema é ampla, quase todos os 
dias deparamo-nos com matérias através dos meios de comunicação falada ou escrita, 
sobre o caos no sistema de saúde e os transtornos por ele causados. A crise econômica 
atual, com o alto preço dos medicamentos industrializados e o difícil acesso da 
população à assistência médica e farmacêutica são os prováveis fatores responsáveis 
pelo uso de práticas religiosas de cura, realizadas por rezadores, que através de rezas 
sanadoras de diversos males, utiliza-se de conhecimentos sobre as propriedades 
curativas dos vegetais, animais e minerais, presentes na “Natureza” e no “Mundo 
Desconhecido” “Encantado” cheios de rituais de cura através do saber empírico herdado 
de seus antepassados e que fazem parte do saber popular, neste caso a literatura 
especializada é escassa quase nula. “Conhecimento este baseado na transferência de 
informações de geração para geração, inerente à experiência acumulada, arraigados na 
imitação” segundo LAKATOS (1991 apud FAVILLA e HOPPE, 2011, p.469). 
 “Tachadas de superstições, as rezas proferidas por estes rezadores (as) ou 
benzedores (as) integram um vasto campo da religiosidade popular criadas com resíduos 
e às margens das instituições religiosas tradicionais” (VILHENA, 2005, p.91). Em 
busca da cura, pessoas às vezes desesperadas recorrem a estes rituais como única fonte 
de socorro, sentem-se melhores e mais protegidas, por ter recebido cuidados especiais 
junto às forças desconhecidas, místicas e com a promessa de cura capaz de reordenar a 
harmonia perdida nas funções corporais e até mesmo no convívio social. 
O foco desta pesquisa procura abranger o ritual de cura, o processo de 
aprendizagem passado geração pós-geração, os tipos de doenças, as rezas e as curas 
realizadas pelas rezadeiras/rezadores e/ou benzedeiras/benzedores indígenas Potiguaras 
da Paraíba. São eles quem realiza as benzeduras e orações em rituais de cura, termo que 
abrange um grande repertório material e simbólico. Para executar a prática, geralmente 
são acionados conhecimentos herdados de seus antepassados, como “súplicas” e 
“rezas”, com o objetivo de restabelecer o equilíbrio material ou físico e espiritual das 
pessoas que buscam a sua ajuda, além do uso de ervas e plantas medicinais. E antes de 
entrar no foco da pesquisa é importante saber um pouco da origem dos índios 
Potiguaras da Paraíba, os indígenas que mais combateu a invasão européia no 
continente brasileiro na época do descobrimento e que foram massacrados quase 
dizimados, mas sobreviveram e procuram manter viva sua origem ainda na luta pela 
retomada de suas terras, em briga constante com usineiros. 
 
 
OBJETIVOS 
 
 
O principal objetivo deste artigo é conhecer os rituais de cura realizados pelos 
rezadores (as) /benzedores (as) de etnia indígena Potiguara da Paraíba e as formas de 
uso de espécies de plantas medicinais nestes rituais com base em relatos encontrados em 
livros, artigos, periódicos e publicações online sobre os povos indígenas em questão. 
 
 
METODOLOGIA 
 
 
O conjunto de estudos analisados foi identificado através de pesquisa 
bibliográfica sistemática, cuja principal fonte foi às bases de dados pesquisados no 
Google Acadêmico (acessados no período de 20 de outubro de 2011 a 22 de janeiro de 
2012), como critérios de inclusão foram escolhidos artigos originais a partir das 
expressões Indígenas, Potiguara, Paraíba. Na busca bibliográfica geral nas bases de 
dados buscou-se apenas a temática: Índios Potiguaras da Paraíba, rezadeiras/rezadores, 
benzedoras/benzedores, rituais de cura e plantas medicinais. 
 
 
QUEM SÃO OS POTIGUARAS 
 
 
Potiguara palavra de origem tupinambá de vários significados como: 
“pescadores de camarão”, “catadores de camarão” ou “criadores de camarão”. 
 
“Conhecidos historicamente desde 1501, os Potiguara já ocupavam 
um território que se estendia pela costa do nordeste, entre as cidades de 
Fortaleza/CE até João Pessoa/PB. Na Paraíba, ocupava todo o vale do rio 
Mamanguape, litoral norte, desde a Baia da Traição até a atual Serra da Raiz 
(na época Serra da Cupaoba). De acordo com cronistas portugueses, 
possuíam 50 aldeias na „terra do caju azedo‟, também conhecido como 
Acajutibiró, hoje Baía da Traição” (BARCELLOS, 2005 pag.08). 
 
 Mesmo tendo passado por um processo de extinção, quase dizimados, os 
Potiguaras da Paraíba resistiram, escaparam do extermínio e conseguiram sobreviver 
como povo indígena que hoje ocupa o litoral norte do estado. São poucas aldeias que 
mais parecem vilas diante a influencia do homem branco e a modernidade, casa de 
alvenaria com água e luz em algumas aldeias saneamento básico 
No estudo de Barcellos (2005) pude observar que os Potiguaras resistiram à 
invasão dos europeus por mais de 500 anos em seus territórios. Vários estudos mostram 
como foi violenta essa presença forçada do europeu, somada posteriormente com a 
chegada dos escravos vindos da África e de outros povos dos demais continentes. O 
litoral brasileiro foi palco de diversas e sucessivas batalhas travadas pelos brancos com 
os habitantes que aqui viviam, para apropriarem-se de suas terras. É um dos poucos 
exemplos de povos indígenas que se fixaram na “mãe terra” e conseguiram que sua 
etnia e suas tradições culturais e religiosas fossem relativamente preservadas, mesmo 
com toda imponência do invasor. Ainda hoje é um desafio para os Potiguaras 
permanecerem na terra devido à cobiça dos latifundiários e usineiros. 
Quanto à religião Potiguara, quase todos são católicos: 
 
 “Como grande parte dos brasileiros professam uma religião sem 
obediência ao culto católico; é muito mais social, faz parte dos costumes 
locais, apesar de existir algumas denominações evangélicas nas aldeias”, 
(BARCELLOS, 2005). 
 
 Essa religião sem obediência ao culto traz certa impressão de liberdade vou 
quando posso ou quando quero, devemos repensar o conceito desse povo, de sua cultura 
e sabedoria acerca do conhecimento do fenômeno religioso, integrar-se a sociedade sem 
perder sua identidade, suas raízes. As origens históricas de suas tradições religiosas 
perdem-se nos tempos da história da humanidade. Seus mitos transmitidos oralmente 
geração a geração são revividos por meios dos ritos , sofrem influencia do catolicismo e 
das congregações evangélicas, o toré é um exemplo de resgate da cultura, mas não é 
aceito completamente por influencia religiosa. 
 
“A língua atual que todos falam é o idioma português. Um grupo de 
professores terminou o curso de Tupi antigo em 2002. Nem todos que moram 
na reserva indígena são indígenas, mas, outros genuinamente indígenas 
moram na cidade, ou em outros locais distantes de suas aldeias de origem” 
(BARCELLOS e PAIVA, 2002). 
 
 A ideia do resgate da língua vem dando certo, hoje o Tupi é obrigatório em todas 
as escolas do ensino fundamental nas aldeias, fato importante que resgata através da 
linguagem a cultura de seu povo. 
 
 
 SABEDORIAS EMPÍRICAS E PLANTAS MEDICINAIS 
 
 
Evidência da sabedoria empírica é percebida no conhecimento das plantas medicinais 
pelos índios: 
 
“Nesse processo, os povos indígenas reconstituem suas identidades 
num processo que não apenas recupera sua história e sua memória, suas 
identidades coletivas e suas práticas tradicionais, mas também recoloca para 
eles, a necessidade de reconfigurar o ser diante da globalização econômica” 
(LEFF, 2002 apud FAVILLA e HOPPE, 2011, p.469).As pesquisas iniciam-se a partir do conhecimento popular em sua grande parte 
dos costumes e tradições indígenas, dando o pontapé inicial para as descobertas de 
novas formas de tratamentos e cura de doenças, usando a sabedoria milenar indígena 
com a tecnologia do homem moderno, mas com os desmatamentos e invasões de terras 
as comunidades migram para os grandes centros deixando para traz a tradição no uso 
das plantas medicinais. 
“A relação entre o conhecimento popular e o científico pode ser 
enquadrada dentro da visão dialética que prevê a transformação e a educação 
das idéias. O conhecimento popular, por um lado, associado com plantas 
curadoras e religiosas, leva a questionamentos na tentativa de dar-se uma 
compreensão racional ao método terapêutico. Por outro lado, o conhecimento 
científico procura ser racional entre o uso das plantas medicinais e a cura das 
doenças. O resumo entre esses dois pontos de vista é alcançado quando os 
pesquisadores, em busca de novas fontes de substâncias biologicamente 
ativas, vão até a população fazer levantamentos etnobotânicos para 
realizarem pesquisas laboratoriais” texto descrito por CASTRO et all (2001 
apud FAVILA E HOPPE, 2011, p.469). 
 
 Enquanto os cientistas procuram ser racionais através das pesquisas, testes e mais testes em 
cobaias (ratos de laboratórios), a sabedoria popular funciona pelo conhecimento herdado geração pós 
geração, de forma verbal eternizado através deste saber empírico. O inicio das pesquisas e das descobertas 
cientificas na sua maioria das vezes se dão a partir do conhecimento popular, do lambedor expectorante 
contra tosse, gripe e resfriado faz-se surgir o famoso xarope exposto em farmácias e drogarias em todo o 
mundo. 
 
 
MITOS, RITOS E MEMÓRIA. 
 
 
“A dimensão religiosa é parte constitutiva no cotidiano da vida Potiguara e, sem 
ela, o indígena não vive. A espiritualidade indígena, cálice inesgotável de sabedoria, é 
conservada e perpetuada por meio dos mitos, dos ritos e da memória” (BARCELLOS, 
2005, p.25). 
Os Potiguaras tem uma rica dimensão religiosa, percebidos em vários espaços e 
nas situações e partilha, seja na igreja ou qualquer outro lugar. 
 
 [...] Os mitos são fundamentais porque contribuem para dar o significado da 
vida, da práxis cotidiana dos povos, delimitam territórios, trazem memórias 
das gerações antigas, dos conflitos, das guerras, das desgraças e de tudo o que 
nos aconteceu diferentes períodos históricos. Em suma, solidificam, 
perpetuam a identidade étnica, pois, através do mito, o povo primeiramente 
se vê a si mesmo, relaciona-se com o outro, com a cultura, com a natureza, 
com a dimensão sagrada e consegue descobrir o equilíbrio e a plenitude da 
vida (BARCELLOS, 2005, p.28). 
 
Os mitos fazem parte da história do índio, mito e história complementam as 
formas das sociedades indígenas lerem a realidade, tendo a história (mito) como 
referência para vida. 
[...] Quando uma história (mito) está em sua mente, você percebe sua 
relevância para com aquilo que esteja acontecendo em sua vida. Isso dá 
perspectiva ao que está acontecendo. Com a perda disso, perdemos 
efetivamente algo, porque não possuímos nada semelhante para pôr no lugar. 
(CAMPBELL, 1990, p. 14-15) 
 
Os rituais se aproximam dos mitos atualizando seus significados e conteúdos. 
[...] Os ritos têm uma proximidade com os mitos porque fazem parte do 
legado cultural de um povo e atualizam os significados e conteúdos dos 
mitos. Durante as cerimônias rituais, os participantes têm a consciência de 
reproduzir, nos mínimos detalhes, os atos exemplares dos Ancestrais e dos 
heróis, assim como estes os executaram em “illo tempore” (ELIADE, 1973, 
p. 78). Através dos ritos, exterioriza-se e se manifesta publicamente a 
espiritualidade, se expressa a fé na divindade. Nas crenças, nos ritos, nos 
mitos, na celebração da presença de Deus, está presente a espiritualidade 
Potiguara (BARCELLOS, 2005, p. 29). 
 
O ritual tem conotação do passado e do presente, ou seja, é tanto a expressão de 
atos construídos no passado como uma edificação do presente. (BARCELLOS, 2005, p. 
30). O ritual procura mostrar que o que foi ensinado permanece vivo e na memória 
perpetua-se geração pós-geração e permanecerá vivo amanhã. 
 
[...] Todo ritual tem um modelo divino, um arquétipo. Dizem os adágios 
hindus: devemos fazer o que os deuses fizeram no princípio; assim fizeram os 
deuses, assim também fazem os homens [...] os poderes diante do ritual e da 
palavra, que os sacerdotes possuíam, deviam-se ao fato de estes imitarem o 
gesto primordial [...] os atos da criação. (ELIADE, 1974, p. 44). 
 
 
Para Vilhena (2005), essas práticas rituais de certa forma são herdadas, elas são 
ensinadas de pais para filhos, são ensinadas no contexto familiar ou em relações 
primarias, quando as mães passam para suas filhas mais velhas e os pais para seus 
primogênitos, mestres sem escolas para seus discípulos que ensinam passo a passo tudo 
que aprenderam. Segundo Vilhena (2005), esses rituais não são de domínio público, 
mas, referem-se a uma dimensão na vida social, posto que eles sejam conhecidos pela 
comunidade e aglutinam a sua volta pessoas que necessitam de seus serviços e 
acreditam em seus poderes. Apesar de não ser de domínio publico a população de um 
modo geral tem conhecimento desses rituais e de seu poder de cura e vão a busca de 
alguém que possa realiza-lo e acabam por assim indicar para outras pessoas que vão em 
busca da cura. 
De acordo com Barcellos (2005), o rito é a categoria que estará mais presente 
nas práticas educativo-religiosas dos Potiguaras uma vez que aparece em praticamente 
todos os rituais indígenas cristãos e não cristãos, neste caso, também presente no ritual 
de cura. Além dos mitos e dos ritos existe a Memória que para ele, 
 
[...] a memória é freqüentemente utilizada pelos índios para passar de geração 
a geração seus ensinamentos. Através do ato de rememorar e de relembrar, as 
pessoas tornam-se infinitamente ricas em suas manifestações. Isso porque a 
memória reacende as utopias e os sonhos de um tempo vivido no passado; 
relembra valores, costumes, hábitos e práticas do cotidiano; revigora toda a 
vida afetiva e emocional; revivem situações de lazer, trabalho, lutas, vitórias. 
 
[...] Os grupos estão sempre se transformando porque novos indivíduos vão 
aderindo, outros se afastando ou se isolando e, mesmo na família, esse 
movimento é constante por causa do nascimento de novos membros, dos 
casamentos que vão surgindo e das separações que vão ocorrendo. Não se 
tem a precisão de quando uma memória coletiva desaparece, uma vez que, 
ficando alguém do grupo social, ela sempre estará sendo reatualizada. 
 
 
Concordo com Barcelos (2005) quando ele afirma que a memória, além dos 
mitos e dos ritos, é essencial para manter viva a tradição indígena Potiguara e que passar 
os ensinamentos de geração em geração é a melhor forma de o conhecimento popular 
seja mantido. 
 
 
MEDICINA INDÍGENA, RITUAIS DE CURA 
 
 
A medicina indígena, a religião e a cosmologia do grupo constituem o cerne da 
“ciência do índio.”. 
[...] a primeira forma de transmissão da “ciência do índio”, os saberes 
sagrados e médicos ancestrais, dá-se através da manifestação dos 
“encantados” nos rituais - pajelança e toré, em sonhos, estados extáticos, etc., 
vivenciados pelos especialistas. A segunda forma de transmissão é realizada 
através da socialização dos conhecimentos da “ciência do índio” [...] A troca 
de ensinamentos, tanto realizada pelos “encantados” quanto pelos 
especialistas mais experientes, representa a nutrição do sistema médico 
Xukuru [...]SOUZA (2004 apud BARCELLOS,2005, p.213). 
 
È importante saber o que será analisado através dos artigos é as práticas 
educativo-religiosas utilizadas pelos rezadores e rezadoras Potiguaras para a cura dos 
mal estares e das doenças causadas por fatores físicos, psíquicos, subjetivos, bem como 
espirituais. 
Os indígenas são povos de uma fundamentação mística milenar, acreditam no 
contato com os espíritos da natureza, dos encantados e de seus ancestrais. Cada história 
(mito) indígena conta sobre a criação do universo, dos astros, da Terra, deixa um 
ensinamento para a vida ou como nasceu um determinado alimento, uma ligação com os 
elementos da natureza. 
 “As rezadeiras Potiguara realizam, de forma muito discreta, mas de 
fundamental importância para a etnia, curas de muitas doenças, mal-estares e 
diversos incômodos como: dor de cabeça, dor de dente, dor no estômago, dor 
no braço, erisipela (vermelhão), febre, diarréia, “espinhela caída”, “ventre 
caído”, “mau olhado”, íngua, “terçol”, “cobreiro” (herpes zoster), quebranto, 
males provocadas por catimbozeiros, picadas de bicho, entre outras” 
(BARCELLOS, 2005, p.214). 
 
[...] espíritos; agressão de catimbozeiro; sentimentos como inveja, raiva e 
ódio; conduta moral desviante; não cumprimento da vítima de sua “missão” 
estabelecida pela “Natureza”; desobediência a restrições alimentares; picadas 
de cobras e de outros insetos; esforços físicos; condições naturais como frio, 
calor, ventos, sereno, etc. [...] SOUZA (2004, apud BARCELLOS, 2005, p. 
214). 
 
 As rezadeiras Potiguaras são consideradas como um misto de médica e terapeuta 
espiritual pelas comunidades nas quais atuam. Não cobram por seus serviços, as 
rezadeiras atuam na proteção e cura de males de origem física ou espiritual. É 
importante perceber que um doente que procura uma rezadeira não o faz apenas por 
fatores sociais e econômicos, mas por aquela prática possuir respaldo cultural para 
tanto. 
“Essas nosologias são curadas através de rezas e com a utilização de 
remédios caseiros feitos com ervas do mato e/ou dos quintais, bem como, em 
rituais religiosos realizadas somente pelos rezadores na aldeia sem a presença 
do biomédico. Tanto nos Potiguara como no Xukuru.” (BARCELLOS, 2005, 
p.214). 
 
[...] as noções de corpo, doença e cura estão intimamente ligadas à 
cosmologia, religião, organização social, política, economia, história, entre 
outras esferas da vida social do grupo. O aparecimento de uma doença pode 
ser desencadeado pela conjunção de inúmeros fatores pertencentes às 
dimensões física, social e espiritual. SOUZA (2004 apud BARCELLOS, 
2005, p. 214,215). 
 
Todo aquele que opta pela cura na medicina popular o faz de acordo com seu 
entendimento de enfermidade e saúde inseridas em sua cultura, se um determinado 
indivíduo crê que o chamado “erisipela (vermelhão)” é uma enfermidade não passível 
de ser curada pelo médico, mas sim pela rezadeira; ou se outro acredita que a depressão, 
tristeza de seu filho não é outra coisa senão "quebranto", então ambos irão procurar a 
rezadeira. Não há de dúvida, pois, para aquele doente, a medicina popular é a única apta 
a curar os chamados "males da alma", e a medicina “Dos Brancos”, os "males do 
corpo". Obviamente que a dificuldade de acesso a recursos e informações de saúde pesa 
quando se pensa em um suposto distanciamento da medicina "Oficial" por parte desse 
paciente. Porém, sem dúvida, é equivocado definir que o ofício de rezadeira persista até 
os dias de hoje, mesmo em ambientes urbanos, por conta da ineficiência do sistema de 
saúde. É o fator cultural que age como fator decisivo na opção entre ir ao médico ou a 
rezadeira, no caso dos Potiguaras, não há uma hierarquia de especialista em cura como 
no caso de algumas tribos no amazonas que existe o Pajé como a grande autoridade 
religiosa, e do sistema médico nativo, 
 
 [...] o Pajé é aquele que detém a ciência e a tradição indígena, conhecedor 
dos segredos da cura e do encontro com as forças da “mata sagrada‟, 
erigindo-se muitas vezes como símbolo focal da identidade étnica ativa na 
manutenção da fronteira que define o grupo[...], MAGALHÃES (2004, apud 
BARCELLOS, 2005, p.215). 
 
Para Vilhena (2005), as rezas proferidas pelos benzedores ou benzedeiras 
integram o vasto campo da religiosidade popular construída com resíduos e às margens 
das instituições religiosas tradicionais, que, preconceituosamente, as tacam de 
superstições. 
A cultura impele a crer que aquela é a única opção, o único caminho pelo qual 
ele obterá a cura. Esses rituais que utilizam as plantas medicinais e rezas, são revestidos 
de sacralidade, são rituais sérios que lhes conferem simbolismo e significado cultural 
que são capazes de reordenar a harmonia perdidas nas relações sociais e funções 
corporais. 
 
 
RITUAIS E O USO DE PLANTAS MEDICINAIS PELOS POTIGUARAS 
 
 
Em meio a toda essa discussão sobre quem tem o poder de curar? médicos, 
rezadeiras (ou ambos), as práticas complementares e alternativas se misturam, em um 
verdadeiro caldeirão de saberes, com as técnicas formais, medicamentosas, conhecidas 
como “oficiais”. É como encontrar, em um mesmo espaço, clínicos gerais indicando 
remédios alopáticos e outros profissionais tentando curar através de massagens, rezas, 
lambedores, ervas, conversas, pelo toque ou afeto. 
 As rezadeiras Potiguaras realizam suas práticas no período diurno mas, podem 
abrir exceções para qualquer hora da noite. Algumas preferem não rezar em 
determinadas horas. Em conversa com Barcellos a Pajé Fátima (set. 2003) disse que: 
“tem horas que são mais poderosas para se rezar alguém, como às seis da manhã, ao 
meio-dia, às seis da tarde e também à meia noite”. 
 
[...] Muitas vezes, além das rezas, são necessários banhos de ervas 
para a pessoa ficar curada. Existe o “banho pra limpeza”, feito com plantas 
cheirosas: rosa branca, manjerona, manjericão, colônia, alecrim do tabuleiro. 
Mas há também o “banho do descarrego”, feito com sal grosso e com outros 
tipos de plantas: pião roxo (Jatropagossypifolis), manjerioba, piqui, etc. Para 
preparar esse banho, colocam-se sete pedras de sal grosso, sete folhas de cada 
planta, de seis qualidades de mato diferentes [...](BARCELLOS, 2005, 
p.216). 
 
[...] Muitas vezes, é preciso também dar um defumador na casa com 
chifre, amescla (planta), bejuim, para fazer a limpeza de tudo o que é nocivo. 
Se pega um fogareiro com brasa e se colocam umas lascas de chifre para 
incensar toda a casa. Para cada situação, é dada uma orientação de como a 
pessoa deve proceder para ficar boa e purificada [...] (BARCELLOS, 2005, 
p.216). 
 
Visto que certas concepções biomédicas, já difundidas no senso comum, não 
sejam capazes de reconhecer nesse amplo conjunto de práticas e saberes sua 
especificidade e eficácia, as rezadeiras e rezadores têm papel significativo no 
tratamento de diversas doenças seja física, espiritual ou social. De acordo com os 
artigos pesquisados, as rezadeiras ou rezadores Potiguaras são vistos pelo seu povo não 
só como agentes religiosas, mas também terapêuticas detentoras do conhecimento da 
cura através do uso de plantas medicinais fornecidos pela mãe natureza. 
 
[...] Além da reza, dos banhos e do defumador, muitas rezadeiras aconselham 
a pessoa a tomar determinados tipos de chá de plantas medicinais. Muitos são 
conhecidos também fora da aldeia, como o chá do broto da goiabeira, para 
disenteria; chá da folha da laranjeira, para insônia; sabugueiro, para febre 
alta; romã, para dor de garganta; cajueiro roxo, para ferimentos. Mas existem 
conhecimentos de certas plantas só utilizadas na hora de fazer certos 
lambedores e mesinhas (garrafadas). Há casos de “doençasdesenganadas” 
pelos médicos que são curadas na aldeia. Quando acontece uma cura, cresce a 
procura das pessoas da aldeia e de outros lugares pela rezadeira [...] 
(BARCELLOS, 2005, p.216). 
 
Entre os Potiguaras, as rezadeiras preparam-se antes do atendimento para não 
ficarem carregadas com os males que as rondam. Elas precisam fortalecer suas defesas 
para livrarem-se de todos os males, e mesmo assim, há situações em que são atingidas. 
Alguns depoimentos confirmam essa assertiva: 
 
[...] Ave Maria, tem vez que vem assim, uma pessoa pra gente rezar, tá 
arriado, a gente pensa que é olhado, mas não é. É outras coisas invisível, aí 
pronto a gente pega os carregos forte. Quando a pessoa chega doente, a 
pessoa na reza encontra, se está pesadão ou não. Eu mesmo encontro. 
Quando eu encontro, eu rezo; se é uma coisa que eu puder tirar na reza, aí eu 
rezo. Quando eu não posso, eu mando sair fora [...]. (Maria das Neves, Aldeia 
Camurupim, abr. 2003). (BARCELLOS, 2005, p.217). 
 
[...] Quando a gente está rezando se percebe que a pessoa está com espírito, 
carregado, a gente já sabe que não é coisa boa. Aí se começa a rezar logo 
com a força do credo. Aí prende o que for três vezes. Aí começa a rezar, 
pronto. Ninguém erra mais não. A força do credo espanta qualquer coisa, 
nada resiste [...]. (Cacique Aníbal, Aldeia Jaraguá, jan. 2005) (BARCELLOS, 
2005, p.217). 
 
Pela linguagem religiosa o rezador Potiguara consolida o seu ser no seu mundo. 
Expressa sua linguagem por meio do sagrado, a experiência pode ser vivida por sua 
comunidade e vizinhanças. Há varias formas de o índio rezar, seja com ramos ou com as 
mãos e se preciso for a pessoa será tocada. 
 “Existem diversas maneiras do índio rezar, ou com ramos ou com as 
mãos. Em algumas rezas, utilizam-se determinados tipos de galhos de 
plantas, denominados de ramos, como pinhão roxo (mais usado), manjerioba, 
vassourinha, alecrim do tabuleiro etc. Em outros casos, coloca-se a mão sobre 
o local onde irá rezar. Se for necessário toca-se na pessoa corrigir a postura, 
como no caso da “espinhela caída” (BARCELLOS, 2005, p.219). 
 
Há unanimidade entre as rezadeiras, quando afirmam que o “mau olhado” só 
acontece por causa da maldade, gente de maus olhos, que quer o mal, que só pede 
derrota pros outros e fica mal também. (BARCELLOS, 2005, p. 220). Há sempre este 
encontro entre o bem e o mal e uma mistura de rituais indígenas, afrodescendentes e 
católicos. 
Os Potiguaras utilizam-se de diversas formas para terem a proteção de um santo 
de devoção. Terços, imagens, sinal da cruz, água benta, ramo santo para livrar da 
maldade. No estudo de Barcellos (2005) as rezas, o sinal da cruz e o pronunciado de 
palavras milagrosas são capazes de parar com mau olhado e quebrante além de retirar 
todo mal de cima das pessoas. 
“Estando a pessoa perturbada, inquieta, impaciente, pode estar com 
um encosto no corpo. Dona Maria da Luz, da Aldeia Camurupim, afirma que 
se reza uma única vez a oração do anjo Custódio, e os sintomas desaparecem. 
Se a pessoa estiver com dor de cabeça, ela reza a Oração de São Bartolomeu, 
colocando a mão sobre a cabeça da pessoa e pedindo para que a mesma pense 
em Jesus”. (BARCELLOS, 2005). 
 
Muitas orações são conhecidas para benzer as pessoas que estão afetadas por algum 
mal. No que concernem as bênçãos são estratégias do saber popular indígena Potiguara 
significados por sua cultura, a saber, dos conhecimentos sobre plantas medicinais, 
simpatias, lambedores, garrafadas, medicamentos caseiros que se corporificaram nas 
concepções terapêuticas das rezadeiras na busca pela extirpação das doenças do corpo e 
da alma. 
De acordo com Barcellos (2005) muitas das informações sobre as rezas não 
foram repassadas por serem segredos da etnia. Quando perguntados A ALGUMAS 
lideranças potiguaras, elas disseram que não poderiam responder. As orações católicas 
predominam nas rezas pesquisadas, assim como o culto aos santos católicos,e as 
citações de passagens bíblicas, que sempre estão presentes nas orações dos Potiguaras. 
Outras orações são criadas pelos rezadores. 
 
CONSIDERAÇÕES FINAIS 
 
Este artigo salientou a relevância dos rituais de cura indígena Potiguara, principalmente 
através da reza e do uso de plantas medicinais pelos rezadores (as), bem como as 
mudanças que se vêm passando entre as gerações. A capacidade e a possibilidade de 
ajudar através da reza e do saber empírico das plantas medicinais, de participar como 
sujeito ativo nas interações, promovendo resultados positivos na saúde, principalmente 
na saúde física e espiritual de seu povo. Ainda são poucas publicações sobre o povo 
indígena em questão e sobre o tema abordado fica mais difícil de ser encontrada, a tese 
do professor Dr. Lusival Antônio Barcellos é a melhor e mais completa sobre o assunto. 
Espero de certa forma ter contribuído e que este estudo suscite o despertar de novas 
pesquisas sobre o povo Indígena em questão, enriquecendo cada vez mais as produções 
acadêmicas sobre os povos indígenas paraibanos e que a sabedoria proveniente das 
diversas formas de experiências vivenciadas pelas rezadeiras potiguaras e seu saber 
empírico possa acarretar no acumulo de práticas necessárias para que esse povo possa 
intervir em várias situações que acometem a sua população e vizinhanças, elaborando 
estratégias necessárias ao menos para tranquilizar os enfermos e assegurar sua 
existência desta prática de cura para as gerações futuras. 
 
 
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
ALVES, M.B.M.; ARRUDA, S. M., Modelo de Artigo de periódico 
baseado na NBR 6022 , 2003. Disponível em 
http://read.ea.ufrgs.br/enviar_artigo/ArtigoCientifico.pdf acessado em: 03/01/ 2012. 
 
BARCELLOS, Lusival Antonio. As Práticas Educativo-religiosas dos Índios 
Potiguara da Paraíba. 2005. 310 f. principalmente il. color. Tese (Doutorado em 
Educação) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Natal, 2005. 
 
___________, PAIVA, Marlúcia. O Ressurgir dos Potiguaras. Universidade Federal 
do Rio Grande do Norte, 2002. 
 
CAMPBELL, Joseph. O Poder do Mito, com Bill Moyeres. São Paulo: Palas Athena, 
1990. 
 
ELIADE, Mircea. Mito e Realidad. Ed. Perspectiva S. A. São Paulo, 1972. 
 
FAVILLA, M.A.C.; HOPPE, J.M., As Plantas Medicinais Como Instrumento de 
Educação Ambiental. Revista Eletrônica do Curso de Especialização em Educação 
Ambiental da UFSM, vol.3, n°3, p. 468– 475, 2011. 
 
VILHENA, Maria Angela. Ritos: expressões e propriedades. (Coleção Temas do 
Ensino Religioso).São Paulo: Paulinas, 2005. 
 
 
 
KLEBER AFONSO DE CARVALHO 
Licenciatura Educação Física 
FIRP – Faculdades Integradas de Ribeirão Pires - SP 
Bacharelado Educação Física 
FIRP – Faculdades Integradas de Ribeirão Pires – SP 
Capacitação Personal Trainner 
CEFE – Centro de Estudos em Fisiologia do Exercício – UNIFESP/SP 
Capacitação PILATES Clássico do Brasil 
CECC – Centro de Estudos Cândida Cintra – Recife – PE 
Especialização – Gerontologia 
FIP – Faculdades Integradas de Patos – Polo João Pessoa – PB 
Aluno Especial PPGCR 
PPGCR- UFPB/ João Pessoa – PB.