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Se você finge que ensina eu finjo que aprendo

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VOZES
Um2 vk1 pelo born livro.
ISBN 85.326.0903-1
\Om k VOZES
SE V
FACE
1 3
0
ca,
00
No moment() histOrico da abertura e da mudan-
ca, a escola é urn instrumento de suma responsabi-
lidade na forrnacao das consci-encias.
... se a dialogicidade penetrai em suas prdticas,
se os curriculos ocultos corresponderem aos mani-
festos e se os educadores tiverem a coragem de
deixar os seus alunos errarem, para discutir corn
eles o erro, haver alguma esperanca de mudanca,
num borizonte que entre nos retrata apenas o ama-
nhecer.
SE VOCE FINGE QUE ENSINA,
EU FINJO QUE APRENDO
?it EDITORA
NI/ VOZES
i00(2.242.0
Educar 6 tarefa diffcil. Especialmente
a partir da constatacao de sen-nos urn
pals sem "memaria", enfrentamos
naturalmente condicaes adversas para
um trabalho continuo, tranqUilo e seguro,
e para as transformacaes indispensaveis
a criacao e renovacao de caminhos e
acao. Torna-se entao desnecessario
enfatizar o cuidado e a necessidade de
uma "re-visao" e avaliacao urgentes do
processo cue aprendizagem que yarn se
desenvolvendo no pais.
Como levar o educando
compreensao de que tal processo nao se
restringe apenas a fornecer inforrnacties,
mas tambem a propiciar uma base
cultural e gerar elementos para uma
posicao critica perante os problemas do
mundo? Como vincular este processo
intimamente ao momenta histarico,
filosafico. social e cultural?
E importante observar que tais
questaes possibilitarn inteipretacäes
varias e pessoais, e que a ausencia de
registro e documentacao tern como
conseqUencia o desgaste e
desaproveitamento de experiéncias e
tentativas que aprofundariam cada nova
atividade empreenclida, permitindo urn
trabalho mais produtivo.
Hoje, contudo, o nome de Hamilton
Werneck permite-me vislumbrar uma
nova trilha aberta a desafiar. inverter e
executar corn competencia tal processo.
50 anos de vida multiplicados por
incalculaveis anos de deciicacao,
inquietacao e estimulo, buscando adaptar
necessidades e interesses, na ansia de
tornar o processo de aprendizagem mais
rico, agradavel e eficaz.
Durante muitos anos, tive u privilegio
de fazer parte da sua "prole - , sempre
dividindo ansiedades e expectativas no
dia-a-dia dos corredores. salas de aula e
de coordenacao. Deparo-me corn seu
ultimo trabalho, Se voce finge que ensina
eu finio qua aprendo, do qual tenho a
Hamilton Werneck
SE VOCE FINGE QUE
ENSINA,
EU FINJO QUE
APRENDO
20a Edicao
Dados de Catalogacao na Publicacao (CIP) Internacional
(Camara Brasileira do Livro, SP, Brasil)
Indices para catalogo sistematico:
Educacao 370
Pedagogia 370
Planejamento educacional 370
EDITORA
VOZES
PetrOpolis
2001
Werneck, Hamilton, 1942-
Se voce Tinge que ensina, eu finjo que aprendo /
Hamilton Wcrneck. - PetrOpolis, RJ Vozes, 1992.
ISBN 85.326.0903-1
1. Aprendizagem 2. Educacdo - Filosofia 3. Pedagogia
Planejamento educacional 5. Sociologia educacional -
Brasil I. Titulo.
92-3415	 CDD-370
© 1992, Editora Vozes Ltda.
Rua Frei Luis, 100
25689-900 PetrOpolis, RJ
Internet: http://www.vozes.com.br
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra
podera ser reproduzida ou transmitida por qualquer
forma e/ou quaisquer meios (eletrOnico ou mecanico,
incluindo fotocOpia e gravacao) ou arquivada em qualquer
sistema ou banco de dados sem permissao escrita da Editora.
Hamilton Werneck
Rua Antonio Pereira de Jesus, 161
28621-530 COnego
Nova Friburgo, RJ
Fones:
0**24 522-1429 (residencia)
0"24 522-8381 (fax da residencia)
0**24 522-5777 (recados)
0"27 989-6286 (celular)
0"24 523-8000 R/349 (Secret. de educagao)
0"24 523-9972 (Univ. Candid() Mendes)
Editoracao e org. literaria: Eloi Triaca
ISBN 85 326 0903-1
Este livro foi composto e impresso pela Editora Vozes Ltda.
DEDICATORIA - Ao complexo educacional SALGADO
DE OLIVEIRA-ASOEC, na pessoa
de seus Diretores Gerais Joaquim
de Oliveira e Marlene Salgado de
Oliveira.
AGRADECIMENTO - Aos professores Antonio De
Vries e Alexandre Gaze, pela cons-
ciencia professional e luta constan-
te na abertura dos espacos surgi-
dos recentemente em minha vida
proftssional.
stathruo
PREFACIO, 9
INTRODUCAO, 11
1. FINGINDO ENSINAR, APRENDER, TRABALHAR
E PAGAR, 13
Sc voce finge que ensina, Eu finjo que aprendo - I, 13
Sc voce finge que ensina, Eu finjo que aprendo - II, 15
Voce finge que paga... Eu finjo quc trabalho - I, 16
Voce finge que paga... Eu finjo que trabalho - II, 18
2. FINGINDO EDUCAR OS FILHOS, 21
A escraviddo da classe media - I, 21
A escraviddo da classe media - II, 23
3. FINGINDO SER IMPARCIAL, 25
'Coda escola faz politica - I, 25
Toda escola faz politica - II, 26
4. 0 FINGIMENTO SOCIOPOLITICO DE "FAZER A CABECA"
DOS ALUNOS, 29
Responsabilidade social, 29
Educaedo - escola e ideologias, 31
0 profissional na fronteira da ideOlogia, 32
Administracao e ideologia em educacao, 34
FINGINDO SER POLITICO SERIO, 36
Falta de vergonha ou de responsabilidade?, 36
0 CONTEUDO FINGIDO, 39
0 que e o conteOdo oculto?, 39
7. AVALIACAO FINGIDA, 42
Como corrigir provas dos alunos?, 42
As diferencas entre provas e concursos, 44
SE VOCE FINGE QUE ENSINA, EU FINJO QUE
APRENDO é uma obra que tenta resgatar de forma abran-
gente e diversificada o verdadeiro sentido da educacao e
do papel social de todos aqueles que participam desse
processo, dentro ou for da escola. E urn trabalho critico
onde as mentiras sociais e educacionais que impedem a
vivencia democratica sao relatadas corn clareza e serieda-
de. Sem a pretens -do de dar solucOes preestabelecidas,
abre espaeo para urn dialog° enriquecido, permitindo
assim uma passagem reflexiva por diversos grupos so-
ciais, sejam eles a escola, a familia ou mesmo a rua que
abrigara, como afirma o autor, a maior escola fundamental
do mundo.
0 professor Hamilton enfoca neste livro alguns aspec-
tos basicos no processo educativo. Inicialmente retrata a
situaeâo pedagOgica em que alunos e professores estao
envolvidos por uma farsa. Os professores nao utilizam
adequadamente o material didatico de que disp6em, os
programas de ensino tern uma func
-ão apenas burocratica
e as aulas fluem sem que haja o compromisso de estimular
a aprendizagem. Os alunos, por sua vez, aceitam, enquan-
to lhes convem, esta realidade, permitindo que se proceda
a farsa. Os baixos saldrios e a maneira inadequada como
alguns estabelecimentos de ensino se estruturam, nao
sendo fieis as funeOes que lhes cabem, sâo outros fatores
citados e que interferem na qualidade da eclucaeao.
8. FINGINDO SANIDADE, 46
As neuroses da imbecilandia, 46
Imaginando loucuras, 48
9. FINGINDO SER MESTRE, 51
Urubus e garimpeiros, 51
10. FINGINDO SER PEDAGOGO, 53
Do absolutism° pedagOgico a anarco-pedagogia, 53
Tapiagogia - ou urn novo enfoque educacional, 55
0 dever de responder, 57
A histöria da maca podre, 58
c) A suspensao das atividades para o aluno, 59
f) 0 escolar e o suicidio, 62
11. DICIONARIO, 0 QUE NAO FINGE, 65
De pal dos burros a fiel companheiro, 65
12. IDEOLOGIA FINGIDA, 67
0 perfil do socialista brasileiro - I, 67
0 perfil do socialista brasileiro - II, 69
13. FINGINDO SER FORTE, 72
Por quern torcemos nas olimpiadas, 72
FINGINDO NAO VER, 75
A maior escola do Brasil, 75
FINGINDO TER PESO, 77
0 invejoso, o incompetente e o balao, 77
OCUPACAO FINGIDA DO ESPACO, 79
A funcao social da cartcira cscolar, 79
FINGINDO TER CONFIANCA, 82
Da decIsao da escola a interprctacao das famillas, 82
CONSEQUENCIAS DO FINGIMENTO, 84
Quern nao come nao aprende na escola, 84
PEW SINAL DO PROFESSOR, 86
PREFACIO
Urn outro aspecto abordado é o da pressao social, em
que as familias, especialmente as de classe media, estao
envolvidas. Corn a intencao de proporcionar a seus filhos
urn padrao de vida, que julgam ser o melhor, acabam por
estabelecer corn eles uma relacAo protecionista, negando-ihes a experiencia da autonomia. Para dentro das escolas,
o contexto social tarnbem é transportado. Neste caso o
autor enfoca o desenvolvimento da politica que nao e
necessariamente partiddria, mas esta presente porque
nutre-se das relacOes e das diversidades ideologicas que
estas naturalmente apresentam.
Ainda complementando, a analise se fixa na seria
problematica daqueles que vivem a margem das familias
e das escolas institucionalizadas para participarem por
forca das circunstancias da "escola da vida" onde tudo
vale. 0 quadro em que esta escola esta situada e sombrio
e reflete exatamente o que o autor durante a sua obra tenta
nos fazer ver. Estamos todos envolvidos em uma falsa
realidade da qual seremos as prOprias vitimas enquanto
perrnitirmos que sentimentos menores ocupem espacos
que, por direito, deveriam servir para dignificar a existen-
cia humana.
Prefaciar este livro, para mim, e motivo de grande
alegria. Estou certa de que ele sera um instrumento
valioso e uma leitura atenta propiciara novas perspectivas
e quern sabe uma nova postura frente ao desafio continuo
de educar e deixar-se educar.
Tánia Lucia Teixeira
Licenciada em pedagogia
Especialista em pre-escolar
INTRODUCAO
Este livro tern o objetivo de ser pratico. Visa facilitar
professores e alunos na compreensào dos problemas da
educacao, possibilitando o debate em torno deles. 0 livro
destina-se, sobretudo, a leitura extensiva. Como a varia-
cao esta na capacidade de debate dos grupos interessados,
ele pode ser usado pelos alunos do 2 2
 grau e 3 2
 grau, por
professores e pais, para encontros de educadores como
forma de reciclagem e ate como leitura dentro do estilo
"crenica" em qualquer curso de portugues do 2 2
 grau.
A sua distribuicao permite estudo em pequenos gru-
pos e plendrios, podendo, ao mesmo tempo, ser lido sob a
orientacao de professores de disciplinas diversas nos cur-
sos de educacao.
Os temas sao voltados para a realidade da escola
brasileira corn seus entraves e tentativas de progresso.
Nao ha a intencao de ensinar, ha apenas o interesse
de fazer uma proposta de temas facilitadores do debate.
Os debatedores serao os enriquecedores dos assun-
tos, conforme as experiencias adquiridas na vida diaria.
O professor, ao debater os assuntos, nao precisa estar
preocupado em defender a posicao do autor. 0 importante
é que, como conseqiiencia da leitura, haja o debate e a
troca de experiencias de forma critica e conclusiva. A
experiencia em educacao leva o autor a defesa de certos
pontos de vista, nunca se tratando de uma imposicao.
0 autor cre no debate e nas formas democraticas de
participacao, como elemento basic() na transmissao de
conceitos de liberdade, muitas vezes comprometida pela
forea oculta dos conteitdos, passados aos adolescentes.
Se o livro despertar para a andlise das estruturas
educacionais e favorecer algumas transformacOes, confor-
me a realidade de cada regiao ou situacao, ele tera atingido
o seu objetivo.
1.
FINGINDO ENSINAR, APRENDER,
TRABALHAR E PAGAR
a) SE VOCE FINGE QUE ENSINA, EU FINJO QUE
APRENDO - I
Por que nao pensarmos em desenvolver algumas teo-
rias acerca da pedagogia do fingimento? Ela é tao comum
em nossas escolas a ponto de merecer urn capitulo espe-
cial e consideracOes de destaque.
0 aperfeicoarnento desta pedagogia ja chegou as raias
do doutoramento. Os especialistas existem em todos os
recantos. Trata-se de urn metodo simples de repre-
sentacao, na realidade ha pouco trabalho e nenhum corn-
prometimento, ha, no entanto, a total burla do necessario
e de qualquer especie de trabalho duro na direcao de urn
aprendizado capaz de garantir o dominio do assunto em
pauta.
Mas, esta pedagogia é tao especial, a ponto de diplo-
mar os alunos e conseguir corn facilidade a adesao de
intImeros aprendizes, cada vez mais felizes corn o proces-
SO.
Algumas analises concretas facilitarao a compreen-
sao, porque uma teoria assim, tao inovadora, nao conse-
gue ser descrita dentro dos parametros da metodologia
tradicional.
0 professor em sala de aula, adotado o livro texto, e
capaz de transports-lo debaixo do bravo, sofrendo o ma-
terial escolar a acao de varios tipos de desodorante. Os
12 13
14 15
alunos compram o livro. Sao, as vezes, obrigados a levar
o material e ha escolas exigindo a apresentacao do mate-
rial escolar completo. Na realidade, a aula versa sobre
qualquer coisa, menos sobre os assuntos do livro. Aquele
enfeite fica dentro da pasta e o aluno copia do quadro, no
mais antiquado processo, alguns resuminhos apresenta-
dos pelo professor. A alegacao do mestre e que a materia
do resumo facilita ao aluno, nao necessitando de esforco
individual para aprender.
Resultado: os contefidos restringem-se aos resumos
e as provas sac) feitas como decalque sobre o que foi escrito
nos quadros de giz.
Quase nada foi ensinado, o gasto corn material serviu
apenas para agradar aos livreiros e editoras e o aprendi-
zado, contemplado corn a nota maxima de quase nada
serve.
Uma ilusao em cadeia, professores pensando ter en-
sinado e os alunos convictos de que sabem alguma coisa.
As aulas, na visa() de alguns membros do magisterio,
deveriam ser acontecencias continuas, sem programas,
sem texto. Por vezes trata-se de uma justificativa para se
ter o maxima de liberdade para atingir os interesses
individuais, dentro das propostas de pedagogos e tecnicos
em teorias de aprendizagem, mas a realidade é outra, estas
atitudes acabam levando ao porto do nada, as aulas sao
transformadas em "fofocas" organizadas pelo mestre e o
material para ser avaliado é praticamente nulo.
A teoria do fingimento é assim. 0 professor pode estar
em sala, no entanto, nao se sabe se ha algum ensino.
Enquanto espera-se o tempo passar tudo pode acontecer.
Na maioria das vezes nem provas ocorrem, ha apenas uma
nota de participacao dentro do processo de auto-avalia-
cao, onde cada aluno da para si mesmo aquilo que julgarjusto. Ora, diante do nada, qualquer aciimulo de conhe-
cimento pode merecer a nota maxima. Distorce-se a apli-
cacao dos conceitos de auto-avaliacao, importante para a
vida dos profissionais futuros, avilta-se o processo de
participacao e, em name de muita coisa seria, instala-se
a didatica do fingimento, agradando a gregos e troianos.
Os alunos, em casa, nada fazem, os professores, por sua
vez, nada corrigem. Uns fingem ensinar, enquanto outros
fingem aprender.
b) SE VOCE FINGE QUE ENSINA, EU FINJO QUE
APRENDO - II
0 professor enrolador, nada ensinando durante o ano
letivo, chega ao final sem material concreto para exigir.
Sofrera, irremediavelmente, pressOes dos alunos para dar
uma prova mais faeil, dado o estado de total desleixo do
profissional.
Para nao criar confusao, as questaes sao preparadas
corn urn grau de facilidade muito elevado, possibilitando
notas altas de aprovacao, evitando-se maiores reclama-
gees junto a direcao da escola.
Geralmente quando o professor finge que ensina, e,
depois, nada exige, os alunos fingem que aprendem e nada
falam. Quando, porem, nao se leciona e se exige depois
um grau de dificuldade incompativel, os alunos, fingindo-
se de interessados, procuram a direcao, reclamam do mau
desempenho do professor e desejam da escola uma satis-
facao para melhorar o nivel.
Durante o ano, os alunos nao reclamam, deixarn para
apresentar as reivindicacOes no final, quando nada mais
pode ser feito. Haja coracao!
A didatica e a pedagogia do fingimento revestem-se de
urn grande aparato para impressionar. Analisando-se
mais a fundo, ve-se nao passar de urn simples aparato
para conseguir uma credibilidade inexistente. As aparen-
cias devem ser salvas. Estar presente em aula e nada
ensinar e uma arte muito simples: o professor geralrnente
permanece sentado, aguardando a chegada dos alunos.
Uma vez instalados, o professor sugere que facam alguma
coisa a titulo de criatividade.Alguns fazem propostas de
redacao em grupo, outros de interpretacao de urn texto,
tambem em grupo, assim, o jogo do empurra acaba dei-
xando meia diazia encarregada de fazer alguma coisa,
todos assinam, a aula termina antes do trabalho de grupo
chegar ao final, nao se faz urn plenArio para avaliacao geral
e, as vezes, o professor recebe o material e nada faz corn
ele, simplesmente da urn vista solene corn elogios pela
dedicacao e interesse do grupo.
Nada se ensinou, nada se corrigiu, ninguem progre-
diu, instalou-se uma tapeacao em cadeia corn prejuizos
para todos os interessados.
Assim funciona esta pedagogia do fingimento.
Mas, como escapar de uma supervisao rigorosa? Mui-
to simples, o professor ben' treinado é capaz de nada fazer
e organizar uma Linda pauta, perfeitarnente enquadravel
numa especie de "pauta fria". 0 que la foi escrito nao
corresponde ao que foi lecionado. Ve-se logo que pauta e
uma aberracao burocratica, sem serventia, num processo
de educacao. 0 professor faz o que quiser e ninguem
podera realmente provar o que Id foi lancado, nem as
presencas dos alunos, porque nao ha assinatura, mas
simplesmente o lancamento feito pelo professor, uma
autoridade unilateral.
Dentre o folclore nacional, existe a lei do abono de
doenca, nas escolas do estado, geralmente por tres dias
em cada mes, apelidada de lei da menstruacao. Assim,
gracas a este dispositivo, as professoras nao precisam de
apresentacao de urn boletim medico, simplesmente apre-
sentam urn atestado. Mas todos fazem jus a lei, inclusive
acatada pelos professores, barbados convictos, aceitando
os incOmodos teOricos da menstruacao para ganhar três
dias de folga em cada mes. Um professor, "menstruado"
convicto, deixara de lecionar durante 27 dias a cada ano,
urn acrescimo aos seus dias de ferias. No entanto, assim
agindo, sempre dira ter cumprido os programas e ainda
sera capaz de defender o alto indice de assiduidade dos
alunos e respectiva competencia.
0 fingimento chega a tal ponto que o profissional
abdica de sua condicao de machista americano para aderir
a um "sempre livre" pedagOgico, ou entao procura orificios
da consciencia e os transforma em receptores de OB.
c) VOCE FINGE QUE PAGA... EU FINJO QUE
TRABALHO — I
Esta frase reflete a politica do fingimento, estabelecida
no Brasil, na medida do avanco do tempo, ap ps seu
descobrimento.
Ao lado do jeitinho, coisa muito pior e malefica é o
fingimento de todos os acomodados, por urn lado aquieta-
dos pelo clima e pelas injuncOes conjunturais e, por outro,
fingindo fazer alguma coisa para garantir urn salario
irris6rio no final do mes.
Esta estrutura define-se como subemprego. Na reali-
dade existe emprego corn salario digno para uma so
pessoa, mas a pressao da populacao leva o administrador
pUblico e privado a admitir mais gente, aliviando a pressao
corn a valvula de escape do subemprego. Mais gente
trabalhando for-ca o salario para baixo atraves do tempo
e, como conseqUencia, os subempregados diminuem o
ritmo de producao.
0 fingimento e o retrato das reparticOes publicas e das
empresas particulares desorganizadas. Ha uma impres-
sdo de muito movimento, trabalho efetivo, porem, nao
existe.
A solucao seria definir os limites do emprego, entregar
as tarefas a profissionais competentes e dedicados, au -
mentar-lhes o salario e acabar corn este convivio de "faz
de conta", aos poucos levando o pais ao mais desastroso
descredito.
No entanto, e ai esta o cerne do problema, quem assim
agir lancara nas calcadas uma incalculavel multidao de
desempregados, criando, corn a boa intencao, uma crise
social sem precedentes.
Nesta encruzilhada, ate o honesto e bem-intencionado
administrador resolve aderir ao sistema, porque o medo
da crise social e maior do que a aceitacao do convivio corn
a politica do fingimento, apesar das duras posicOes morais
de certos administradores e ate educadores.
Quando pensarnos, administrativamente, na manu-
tencao de baixos salarios, garantindo uma imagem sadia
da economia do sistema que administrarnos, nao refleti-
mos sobre o complemento exigido pelo mesmo sistema,
atraves de remedios caros para curar suas doencas.
Assim, paga-se uma miser-la aos professores dando
profissao uma aura de subemprego, afugentando do setor
muitos competentes e mais inteligentes que \Tao assinar
contratos em outras partes.
A situacao da educacao é tao triste neste aspecto, a
ponto do falsario, vendedor de gabaritos de provas de
vestibular, nao procurar candidatos aos cursos de peda-
gogia porque as vagas sao muito semelhantes ao ninnero
de candidatos e, se o interessado pagar uma soma vultosa
pelos gabaritos, tera cometido urn grave erro econOmico,
porque o mesmo dinheiro aplicado durante os anos do
curso seria capaz de devolver-lhe urn rendimento muito
superior ao saldrio dos 10 primeiros anos de sua carreira.
Uma visào administrativa mais ampla e mais humana
certamente pensaria na conseqiiencia imediata para urn
pais sem educadores e sem poder transmitir aos seus
novos filhos os valores de sua sociedade.
A marginalidade e a criminalidade, alem de todos os
demais tipos de contravencdo penal, sac), em grande parte,
o resultado da deseducacAo.
Toda a sociedade atingida pelos males sociais da
deseducacao de seu povo exige remedios muito caros e
penosos para todos.
No Estado de Sao Paulo e, creio, nos demais, os presos
custam ao estado urn pouco mais do que o salArio de urn
professor primArio.
A permanecer esta situacAo, teremos necessidade de
maior mamero de penitencidrias, aumentando o custo do
preso e impedindo, num circulo vicioso, o aumento do
salArio do professor.
0 custo anual de urn aluno de curso superior de uma
universidade federal, no Brasil, atingiu, no final de 1987,
a cifra de 3.000 dOlares, os professores continuam recla-
mando dos salarios e a producao das universidades, em
pesquisa, e uma nulidade. Por que tal situacAo?
Porque urn finge que paga, e o outro, finge que traba-
lha.
Corn uma relacdo nas universidades fedcrais de 1
professor para 4,7 alunos, deveriarnos ter urn SUPEREN-
SINO aliado a urn SUPERAPRENDIZADO. No entanto,
nada disso ocorre, porque a politica do fingimento coman-
da o processo.
d) VOCE FINGE QUE PAGA... EU FINJO QUE
TRABALHO — II
Onde ester o fingimento, nas escolas superiores? 0
governo reclama porque paga caro, os funcionarios recla-
mam porque ganham pouco, os alunos dizem nAo ser
assistidos devidamente, alêm da carência de material
didAtico. Onde estariam a falha e o desenvolvimento do
fingimento generalizado?
Em primeiro lugar, no sistema de empreguismo, ge-
rado pela politicagem e pelo medo de uma crise social
maior. E uma situacão semelhante a relacdo de funcio-
ndrios de uma empresa de Onibus particular e
Numa empresa particular, voce encontra uma relacao
maxima de CINCO funcionarios para cada ONIBUS. Numa
CTC, a relacao ultrapassa o nfimero de VINTE funcio-
nArios para cada VEICULO. Tarnbern ld as reclamacOes
existem, os funcionArios estao insatisfeitos, o governo
reclama porque gasta muito e as solucaes de encarnpacao
vérn demonstrando urn desastre administrativo muito
grande.
Em segundo lugar, existe urn fingimento muito mais
arnplo do que se possa pensar, no tocante a producdo
cientifica das universidades.
Nos paises desenvolvidos, toda pesquisa costuma ter
o apoio de alguma fundacao e os professores universitA-
rios sAo beneficiados corn a reducao de carga horAria para
desenvolver pesquisas. No Brasil, todo professor é, auto-
maticamente, urn pesquisador em acdo, mesmo que nada
apresente. Os contratos de trabalho envolvem 20 horas-
aula, mas a realidade indica urn professor, efetivamente,
trabalhando pelo periodo de 8 horas. Nas demais, ele
pesquisa, mesmo sentado junto a areia de alguma praia
da zona sul do Rio de Janeiro ou a beira da convidativa
Pirangi, no Rio Grande do Norte. Pesquisas... nunca efe-
tivadas...sempre pagas de alguma forma. Como o governo
ndo é tao ataxic) como se apresenta, seja ele de qualquer
estado brasileiro, os saldrios vAo decrescendo na propor-
cAo destas paralisacOes efetivas e estrategicas.
A manutencao do subemprego persiste, os funcio-
nArios vdo levando uma vida sem cobrancas e sem exigen-
cias, continuam nas praias corn saldrios baixos.
Resultado: Lazer + reclamacdo + greves + desilusao =
FINGIMENTO IMPRODUTIVO em nome da ordem e do
progresso.
Habitamos a patria do "PAZ DE CONTA", todos nos
fingimos alguma coisa e alguns fingem pagar e outros
fingem trabalhar. Existe o fingimento do pagarnento da
divida: "eu finjo que pago e voce finge que recebe", mais
18 19
ou menos como se processa a negociacao do pagamento
de nossa divida externa. Para o Brasil, os bancos interna-
cionais devem emprestar mais. Onde esta o real dessa
histOria? No fato claro e inconteste de que o Brasil ja pagou
esta divida ha muito tempo, atraves de aviltamento dos
precos de seus produtos primdrios e pelo descontrolado
contrabando existente. 0 prOprio governo afirma controlar
somente 40% do ouro extraido em ten-itOrio nacional. Fica
claro mais urn fingimento: "eu finjo que produzo e voce
finge que compra".
At-as do fingimento surge toda a serie de falsificacOes
possiveis, como textos capciosos na apresentacdo de pro-
dutos para enganar o consumidor.
Uma parte significativa de um jornal de grande circu-
lacao tern o titulo de "FALTOU DIZER"; o jornalista é
encarregado, simplesmente, de mostrar as sabotagens,
falcatruas, tapeaceles de toda especie, sejam numericas,
em nome da econometria, sejam relativas a depreciacao
dos produtos ou sonegacao de quantidades.
Pensando bem, nao é se o fingimento em relacao aos
salarios e trabalho; existem outros necessitando de uma
andlise mais acurada, e esta sera nossa tarefa em artigos
seguintes.
0 fingimento ideolOgico, esportivo, econOmico, religio-
so, educacional etc. etc. Vamos chegar a aceitacao ta.cita
de que o AVESTRUZ sera nosso simbolo.
2.
FINGINDO EDUCAR OS FILHOS
a) A ESCRAVIDAO DA CLASSE MEDIA - I
As reclamac6es da classe media brasileira contra a
cobranca de impostos e as mil maneiras do governo fazer
"caixa", gracas aos artificios de aumentos de compulsO-
rios, serao o ponto central de nossa analise. Ela estara
centrada noutro patamar, relacionado ao comportamento
dos pais em relacao aos filhos.
Nos vamos analisar o papel dos pais, as exigencias
feitas pelos filhos, o tipo de educacao passada a estes, para
os quaffs nao se deseja a mesma profissao.
NOs somos frutos de uma forca histerica dentro do
Brasil a retratar mais de quinhentos anos de colonizacao
portuguesa, onde o comercio foi sempre considerado uma
coisa de segunda categoria e o trabalho uma funcao de
escravos. Tendo muitos para fazer os servicos domesticos,
as limpezas e os ditos traballaos pesados, os senhores
ocupavam-se da politica, das leis, da religiao e de tudo a
que nao requeria o use da forca.
Os anos se passaram e_nOs assimilamos tudo isso e
somos avessos ao trabalho. E evidente que a conseqiiencia
mais imediata é o impedimento, desde muito cedo, para
aceitar urn filho fazendo alguma coisa, algum trabalho,
nao tanto para efeito de remuneracao, como para efeito de
educacao.
A resultante é muito clara: os pais desembolsam
mesadas semanais para que eles gastem nos clubes e nos
lanches, perrnanecem em seus trabalhos durante todo o
dia, quando nao avancam por serOes estafantes, deixam
de lado algum lazer para levar e buscar filhos nas escolas
de todos os tipos, nos clubes, na porta do cinema, e vao
se transformando em verdadeiros escravos-livres, pensan-
do estar fazendo uma obra meriteria, quando fabricam
adeptos da malandragem na qual nao foram educados,
por outras circunstancias.
Assim, os filhos nao lavam urn carro da familia, nao
limparn coisa alguma dentro de casa, nem arrumarn a
prOpria cama pela manha, nao aprendem a fazer alimen-
tos, pelo menos os de emergencia, lavar e passar uma
roupa deixaria a donzela adolescente com o estigma de
"dornestica", a ponto de vir imediatamente a cabeca da
pobre menina aquela mUsica: "domestica... la ra la ra la
ra... domestica...".
0 tUnel do tempo mostra logo a vida dos pais em
periodos muito curtos e explica muitas vezes urn panora-
ma diferente. Hoje, classe media, construida a duro tra-
balho pelos ayes, numa epoca de "vacas magras", numa
luta diaria at-as de urn balcao ou no transporte massa-
crante de estradas poeirentas e esburacadas sem o mini-
mo recurso.
Lutaram, os pais, conseguiram uma posicao mais
cOmoda na vida e pensarn estar educando, evitando os
dissabores para os filhos. Este é o erro. Se o trabalho, nas
circunstancias do passado, nao trouxe traumas, por que
hoje deixaria os filhos corn problemas de ordem psicolO-
gica?
Trata-se de uma mudanca de visao. Nao vamos exigir
que nossos filhos facarn as mesmas coisas corn os mesmos
recursos. Imp6e-se uma adaptacao a vida moderna. As
adolescentes nao precisam pensar no foga() a lenha, po-
dem usar o gas, o congelado, o forno de microondas; o que
deseduca é nao saber e nao querer trabalhar dentro dos
recursos da vida moderna, geralmente a disposicao da
classe media. As exigencias de hoje, em termos de aplica-
cao de trabalho, sac, pequenas, mas a familia deve pensar
na responsabilidade de educar os filhos para aplicacao de
toda a forca latente, potencial. Nao se trata de apenas
trabalhar, mas de se educar para o use da forca de
trabalho como elemento de realizacao, mesmo numa fase
de juventu de.
b) A ESCRAVIDAO DA CLASSE MEDIA - II
Parei meu carro num posto de gasolina. Quern me
atendeu foi urn aluno. Fez o servico, nos despedimos e a
reflexao foi aos poucos sedimentando. Ja se \Tao alguns
anos desde a ocorrencia do fato. Naquela epoca, estive corn
o pai do aluno e incentivei ainda mais. Alem de trabalhar
urn pouco corn o pai, este adolescente sentiu, de perto, o
sacrificio do trabalho num posto de gasolina. Hoje, o
adolescente do posto continua trabalhando em sua pro-
fissao, sem se sentir traumatizado pelo que fazia em
alguns dias da semana e por algumas horas.
Conheco urn industrial de renome na cidade que, sem
a minima necessidade pecuniaria, mas corn a Unica preo-
cupacao de educar, levava o filho para a fabrica, entrega-
va-lhe urn determinado setor de servico e exigia dele que
batesse o cartao de ponto. Este adolescente sempre teve
garra no que fazia, nao se traumatizou e ainda agradece
a educacao que recebeu.
No ano passado sentei-me ao restaurante corn a fami-
lia, dentro do lazer de domingo. Quern estava servindo,
entre os garcons, era o filho do proprietario, com seus doze
anos de idade! Vestido como os demais garcons, muito
responsavel, ele fazia o servico. Antes de sair passei pelo
caixa para parabenizar o pai e, mais, fui elogiar tarnbern
o filho, porque o que deveria ser normal, hoje, e furo de
reportagem e deve ser salientado.
Este garoto, na escola, e aplicado, servical, muito
amigo dos colegas, sabe respeitar; e tudo nao deve passar
por outro caminho sena() o da complementacao da educa-
cao dada pelo trabalho efetivo.
A cidade de Belem do Path tern hoje urn medico
nascido e criado em Dona Mariana, municipio de Sumi-
douro, filho de japoneses, que estudava em Friburgo e,
nos fins de semana, feriados ou ferias, ficava corn a familia
e trabalhava na lavoura. Voltava a escola corn as maos
calejadas. Hoje, talvez ele usasse outras maquinas mais
modernas, mas trabalharia do mesmo jeito.
Se o filho gosta de eletrOnica, deixe-o fazer algum
servico neste sentido. Se é adaptado ao computador, que
faca seus programas e comece a ajudar ate na firma corn
urn fichario e a organizacdo de arquivos.
Participei muito da educacâo de urn adolescente, hoje
responsavel empresario, vldrado em aquario. Pois bem, ele
trabalhava construindo aquarios, trocava e vendia. Certafeita ele trocou todos os aquarios por uma Texas 69, logo
depois, por urn pequeno computador TK; treinou urn
pouco ajudando-me na correcao e catalogacao de resulta-
dos de provas e, hoje, orienta um sistema de computacao
de uma empresa.
Na escola, quando minha coordenacao esta cheia,
costumo distribuir servico para todos, porque urn pouco
de terapia ocupacional faz bem. Alunos entediados por
causa de seus problemas, em casa ou na escola, sentem-se
mais felizes quando fazem algum trabalho.
Em suma, sair pela cidade sacudindo as tuberosida-
des isquiaticas (no born portugues: bundeando) Iran vai
trazer progresso a educacao de jovem algum, mas colocd-
lo facilmente em contato corn todos os males da sociedade,
a comecar pelo mais simples e disseminado, a fofoca.
3.
FINGINDO SER DIPARCIAL
a) TODA ESCOLA FAZ POLiTICA - I
0 titulo deste artigo nao é uma contradicao. Na ver-
dade, todas as escolas fazem politica. Nao pode ser mar-
cada como escola que faz politica somente aquela que
promove algum candidato a cargo pfiblico que necessita
de propaganda eleitoral. NA() é a escola que leva candida-
tos para conferencias culturais, quando todos sabem que
o objetivo é angariar votos indiretamente e tornar-se cada
vez mais conhecido, que deve carregar o rOtulo de politi-
queira. As escolas que agem no silencio, que se calarn e
constantemente dizem que nao fazem politica, sac) as que
mais tern posturas politicas, geralniente de convivencia
velada corn regimes, situacOes, cun-iculos e valores pas-
sados discretamente aos educandos.
Nao ha saida, todas fazem, a seu modo, politica,
porque todos nos somos politicos. Nao somos politicos
ligados a partidos, podemos nao defender candidatos, nem
programas especificos de partidos politicos, mas fazemos
a politica das estruturas, a politica dos sistemas, a nossa
politica e a politica que interessa a nossa classe social.
Tanto faz politica o Padre Cardenal na Nicaragua,
como o Papa em relacao a PolOnia. Faz politica o Vaticano
ern relacao a democracia crista italiana, fez politica clara
durante o Imperio a Igreja do Brasil, tanto quanto fazem
politica as forcas armadas, as associacOes que se dizem
apoliticas, as escolas ptiblicas e as escolas particulares.
Apenas o enfoque dos debates é diferente. Por que as
escolas particulares reclamam tanto dos curriculos que o
estado sugere? Por que as escolas do estado sac obrigadas
a seguir curriculos rigidos orientados pelas secretarias de
educacao? Por que na Franca uma passeata de urn milhao
pressionou o governo Mitterrand contra a legislacao favo-
ravel a escola pUblica?
Porque cada grupo, cada sistema escolar, quer defen-
der, atraves de seus curriculos e programas, sua ideologia
politica, sem a interferencia do estado que, na maioria das
vezes, tern outra ideologia.
Quando uma escola quer orientar seus alunos para
determinado comportamento politico, ela se organiza nes-
ta direcao. Se as carteiras escolares nao permitem traba-
lhos em grupo e o dialogo, as pessoas nao serao
democraticas no futuro, sera° aquele grupo humano sem-
pre esperando que alguem tome as medidas e de as
solucaes prontas como o professor, no passado, nas salas
de carteireies pesados e inamoviveis.
Quando os estudos sobre determinado assunto pas-
sam por cima de situacOes e estruturas de clara injustica,
sem a minima critica, cria-se um clima de aceitacão em
relacao ao problema. Bastam os exemplos de nossa cola-
nizacao, do escravismo, do sistema politico do Imperio,
Reptiblica, ate nossos dias.
Ensinando, o professor faz politica; organizando-se,
uma escola faz politica, atraves de todo o seu sistema
didatico-pedagOgico.
E, se alguêm tiver duvida, por que certos regimes em
estados totalitarios desej am o controle das escolas?
b) TODA ESCOLA FAZ POLITICA — II
Podem existir escolas coerentes no desenvolvimento
da politica e escolas incoerentes. As escolas coerentes sao
as que desenvolvem conteUdos corn objetivos claros e
determinados, cujo apice é a resposta comportamental dos
alunos, ate em questOes de provas, deixando claramente
transparecer as ideologias veiculadas em classe ou por
toda a comunidade educativa. Esta situacao, uma vez
instalada, nao atendendo ao espirito critico, transforma a
escola, na visdo de Althusser, num verdadeiro aparelho
ideolOgico de estado. Assim sendo, as escolas do bloco
capitalista burgues servirdo ao estado capitalista, e as
escolas do bloco socialista servirao ao estado socialista. A
escola, fazendo esta politica coerente corn o sistema, e uma
mola importante na reproducao do prOprio sistema, corn
suas estruturas, suas classes sociais, seus valores e suas
injustigas.
As escolas incoerentes sao as que, por vezes, traba-
lham no sentido do sistema e, nas mais imprevisiveis
circunstancias, trabalham contra o sistema. Sao escolas
que abrigam professores corn ideologias diferentes e, so-
bretudo, professores que gostam de passar por pessoas
"avangadas", pregadoras de ideologias que nao seguem,
mas divulgam e, se algum dia a ideologia pregada fosse
adotada, estariam irremediavelmente contra.
0 resultado destas escolas como elemento formador
do espirito critico, o mais importante em educacao, deixa
de ser nulo e avanga para outro campo, o campo da
confusao, estabelecendo na cabega dos alunos uma "fes-
tividade" dificil de ser entendida, e mais dificil ainda de ser
vivida.
Esta incoerencia politica de quem usa a educagdo pa-
ra passar valores pessoais, particulares e ideolOgicos é
altamente perniciosa porque, sendo pessoais e particu-
lares, os valores perdem as caracteristicas de sua univer-
salidade, sendo ideolOgicos, geralmente, atendem as oli-
garquias que defendem seus prOprios interesses.
Embora toda escola faga, queira ou nao, politica,
porque esta inserida num sistema, a preocupagdo maior,
se houver desejo de formar alunos, e criar condicOes de
andlise critica das situagbes propostas.
Que espago, entao, sobra para as escolas que desejam
formar e nao desejam fazer politica?
Em primeiro lugar, as escolas podem e devem esca-
par de propiciar a politica partiddria. Em segundo lugar,
verificando que nao conseguem ser tao neutras como
pensam, elas devem insistir nas avaliagOes dos sistemas
estudados, das situagbes concretas verificadas em nossas
civilizagOes e sempre e em todas as ocasibes, ressaltar
valores e contravalores, evitando, assim, a aceitagdo pas-
26 27
siva das estruturas, ou defendendo sectariamente e cega-
mente o que os livros e programas propOem. E, em terceiro
e Ultimo lugar, que desenvolvam, com sinceridade, deba-
tes, criticidade e verdadeiros valores universalmente reco-
nhecidos de promocao do ser humano. 4. 
0 FINGIMENTO SOCIOPOLITICO DE
"FAZER A CABECA" DOS ALUNOS
a) RESPONSABILIDADE SOCIAL
0 Brasil é urn pais pobre, com regiOes onde as crian-
cas rid° tern acesso a escola. No Nordeste, nAo ha escola
fundamental para a metade da populacao em idade esco-
lar. Este grupo alijado do processo de educacao é urn peso
insuportavel para toda a regiAo, repipocando para as
demais, local de destino dos intitmeros migrantes nordes-
tinos.
A escola brasileira e muito marcada pela acdo autori-
tdria dos seus orientadores, partindo dos prOprios orga-
nismos do governo, impondo ate as programacOes para
cada serie.
Outra imposicao passa pelos livros didaticos, na sua
maioria impressos em Sao Paulo, pela forca industrial,
criando, em conseqiiOncia, uma distorcdo do pensamento
em relacao a prOpria participacao do paulista como ele-
mento de integracao nacional e de conquista.
As mudancas, quando ocorrem em muitas escolas,
costumam encontrar respaldo entre os estudantes, quan-
do da proposta democratica em educacao. Os alunos,
diante de novas propostas, logo imaginam ser a democra-
cia urn regime capaz de banir, em principio, a obriga-
toriedade de assistência as aulas. Se houve em passado
recenteuma imposicao, nao sera o escancaramento das
28	 29
portas corn pintura de irresponsabilidade a marca de uma
reforma do tempo presente.
Urge, ante qualquer reforma educacional ou escrita
de algum estatuto ou regimento, uma parada no departa-
mento da responsabilidade social. Neste pais, ser capaz
de sentar-se numa carteira para receber algum ensina-
mento é urn privilegio. Deveria ser urn direito concretiza-
vel, mas é, na realidade, privilegio. E neste ponto é preciso
educar para a visao social do embutido na educacao.
JrIra escola para simplesmente contempla-la e nao
usufruir dos meios oferecidos, quando muitos nao conse-
guem chegar as suas portas, é urn crime social, urn
esbanjamento semelhante ao do irresponsdvel, queiman-
do uma nota de US$ 50,00 so para dizer-se rico diante dos
demais.
Assim como o dinheiro nao e propriedade da pessoa,
mas a propriedade fixa-se no valor ali estampado, assim
tarnbern as carteiras escolares e tudo o mais oferecido por
urn estabelecimento tern uma conotacao social. Não inte-
ressa a escola pUblica ou a particular, interessa somente
o espaco fisico ocupado. As vagas sdo semelhantes as
moedas, os alunos dete- m o valor representativo, nao
podendo destrui-las por ser propriedade de toda uma
nacao. Em nosso caso, nacão carente.
privilegio estudar numa escola pnblica, dada a
circunstancia de nosso desenvolvimento, tanto quanta
numa escola particular, podendo pagar as mensalidades.
Do mesmo modo, é condenavel a destruicdo de urn
equipamento medico prOprio do INAMPS, como a destrui-
cao de urn equipamento de urn hospital nao-conveniado e
mantido por urn seguro-saiide particular.
A educacao para a liberdade passard sempre pela
responsabilidade, entendendo-se claramente respon-
sabilidade como meio importante de socializacao e melho-
ria da conviVência humana. A responsabilidade, quando
chamada, para substituir os arbitrios anteriores, nao tern
sentido e sera sempre tao condenavel, quanta qualquer
autoritarismo.
A responsabilidade social e indispensavel, sobretudo
numa repnblica terceiromundista, onde as car'encias tor-
narn os acessos cada vez mais diticeis.
b) EDUCACAO — ESCOLA E IDEOLOGIAS
Acabamos de viver um momenta de campanha politi-
ca, onde ouvimos muitos candidatos falando de ideologia.
Contra os ideOlogos de muitos partidos, se opunham os
fisiOlogos dos outros. 0 fisiologismo e o ideologismo se
defrontam na politica de todos os paises. Resta aos eleito-
res entender bem o significado de cada coisa, sobretudo o
eleitor professor, para que nao contamine as escolas com
este virus ideolOgico ou fisiolOgico.
O fisiologismo e uma pratica politica, onde o candidato
e os membros do partido estao mais interessados nos
pastas concedidos pelo governo do que comprometidos
corn os programas do partido e os principios norteadores
da politica partiddria. Os fisiOlogos formarn em torno de si
urn grupo de pessoas interessadas na eleicao, como os
clientes na porta de urn consultOrio. 0 clientelismo é irrnao
do fisiologismo. No fundo interessa eleger urn candidato
para, depois, -faturar" urn emprego ou favor do governo.
Temos, assim, clientes para altos cargos e clientes mais
humildes, necessitando, apenas, de uma pequena mani-
lha junto ao seu portdo.
O ideologismo é uma pratica diferente, busca-se antes
o principio politico-partidario do que os cargos, pelo me-
nos essa é a expressao mais firme de todos os ideOlogos.
Os programas do partido estao em primeiro lugar, os
gastos com carnpanhas, e os favores, devem ser superados
pela ideologia de luta contra esse monstrengo chamado
clientelismo. Mas, cada partido defende seus principios,
eles sao dogrnaticos em cada agremiacao, e a defesa dos
principios pode representar perfeitamente o interesse co-
letivo do partido. Nao se trata sequer de uma verdade,
trata-se da defesa de urn principio que, no aqui e agora de
urn partido, pode ser interessante em termos politicos.
Assim sendo, hoje podem defender uma coisa e, ama-
nha, outra, nao se atendo cada grupo partiddrio a valores
de seguranca maior estribados na verdade. A ideologia,
portanto, é relativa a cada partido, nao tern caracteristicas
universais, nem relacao cientifica quanta ao tempo e ao
espaco. Num local pode valer, enquanto no outro nao terd
validade.
3130
A atitude de professores nas escolas, de educadores
em varios estabelecimentos de ensino, nao pode estar
ligada a ideologia partidaria, deve e pode estar ligada a
verdade cientifica. A escola pode ser o palco dos debates,
o que nao se admite e a exigencia de urn professor ou
educador no sentido de que os alunos assimilem seus
objetivos ideolOgicos, numa experiencia de "fazer a cabe-
ca", porque seria uma atitude tao antidemocratica, quanta
as praticas da repUblica velha, condenadas pelos prOprios
ideOlogos de partidos mais recentes.
Escola é local de debate, cabendo aos alunos a decisao
do futuro de suas vidas. Nao nos cabe, como educadores,
&agar as linhas da vida de nossos educandos, devemos,
sim, ser elementos Meis na sua educacao, sem massagear
as suas mentes, transformando-os na imagem e seme-
lhanca de coisas agradaveis aos nossos olhos.
c) 0 PROFISSIONAL NA FRONTEIRA DA IDEOLOGIA
Num estado democratic°, o cidadao tern o direito
constitucional de se expressar livremente, coma conse-
qiiencia de urn ato livre de seu pensamento. Dentro da lei,
pode o cidatiao agir livremente, propor sistemas novas,
tentar conservar ou transformar a sociedade corn suas
caracteristicas mais marcantes.
Num estado onde as transforrnacOes aumentam a
cada dia, devido a abertura democratica, surgem ideias
variadas sabre todos os campos do saber e do empreendi-
mento humano.
Nao se pode conceber democracia sem este pluralismo
benefico. E bem verdade que existe urn pluralismo imper-
tinente, prOprio daqueles pequenos ditadores, acredi-
tando ser a oportunidade para impor suas ideias, ha muito
sepultadas pelas ditaduras. A democracia nao corres-
ponde a "virada" de mesa. A democracia é a convivência
no pluralismo das ideias, sem a busca de dominio de umas
sobre as outras. Mais que isso, e o born relacionamento
de coisas diferentes, mesmo berrantemente diferentes.
Portanto, num estado democratic°, a pessoa pode
pensar coma quiser, so nao pode impor suas idêias aos
seus concidadaos.
Ideologias novas, perspectivas atraentes, tomam con-
ta dos paineis de controle da sociedade, a ponto de se ter
a impressao de que somente o novo tern vez e tudo o que
antigo deve ser desprezado.
Os momentos de mudanca servem para uma reflexao
sobre a nova escravidao, sobre a submissao ao novo corn
a mesma forca corn que se submeteu ao velho em tempos
recentes.
Na verdade, nao importa tanto a ideologia, importa o
comportamento profissional de quem pensa e milita.
Os partiddrios de posturas velhas e posturas novas no
campo do pensamento nao podem se esquecer dos deveres
profissionais. Ideologias a parte, o cumprimento do dever
profissional é condicao "sine qua non" ate para se defender
a ideologia vivida.
Quern merece credit° nesta floresta, sena° os bons
profissionais? Acaso e possivel acreditar numa ideologia
pregada par urn profissional relapso? Pois bem, isto acon-
tece demais, porque alguns confundem mudancas corn
relaxamento. Ao lado da pregacao de mudancas estrutu-
rais, vem o desmazelo no cumprimento dos principios
fundamentais, marcas importantes de qualquer profissio-
nal.
Os profissionais do magisterio, atravessando ainda
hoje urn tedio mais profundo e mais marcante, em relacao
a outras carreiras profissionais, deixam extravasar corn
maior freqfrencia o relaxamento, coma valvula de escape
para os prOprios problemas, muitos deles bastante serios
e merecedores de atencdo.
Alern dos saldrios, o magisterio perdeu muito a voca-
cao, inerente a qualquer profissao. 0 amor pela profissao
e a realizacao pessoal cairam a niveis incompativeis corno born desempenho. Nao adianta somente o saldrio, ha que
se recobrar a vocacao, alga mais profundo, sem significa-
dos de alienacao. Quando, ha alguns anos, falava-se em
vocacao, entendia-se coma urn mein de alienar o profissio-
nal para, inclusive, explord-lo economicamente. Na luta
que se seguiu a derrubada do conceito, esborrachou-se
ladeira abaixo corn uma serie de valores, sem os quais a
profissao do magisterio perde o sentido, coma perderia
tambern o sentido qualquer outra profissa.o.
O ponto fundamental surgido como conseqiiencia foi
a queda do profissionalismo. Ou seja, nao se cumpre corn
o dever profissional. Quern exige este cumprimento
taxado de patrulhador ideolOgico, como se houvesse algu-
ma exigencia acima do cabivel. Que tipo de exigencia
geralmente se faz? Cumprimento de hordrio, entrega de
servicos inerentes a profissao, correcao de exercicios e
provas, preparacao de testes e de aulas.
E bastante facil encontrarmos' profissionais do magis-
terio renitentes corn o cumprimento de seus preprios
deveres.
Nao se trata mais de fazer reflexOes, trata-se de se
perguntar, mais uma vez, se este profissional ainda pre-
tende continuar suas funcOes no magisterio. E preciso,
apesar da clareza das aril-mac -6es, dizer a estes profis-
sionais que eles estao errados e nao ha justificativa para
agir corn tarnanha falta de profissionalismo.
0 profissional que nao cumpre seu dever, nao importa
que seja da direita, do centro ou da esquerda, simples-
mente nao é born profissional e suas ideias merecem
pouco credit°.
A defesa da ideologia é urn merit°, sobretudo daqueles
clue demonstrarn ser capazes de cumprir os deveres e, na
fronteira da ideologia, nao escorregam para o patarnar facil
da malandragem institucionalizada, desejosa por vezes da
cobertura de uma "pseudoliberdade democratica".
Malandragem é diferente de profissionalismo. Liber-
dade para fugir de obrigacoes é uma interpretacao imatura
dos conceitos de democracia.
E terrnino, refletindo: "ou o magisterio recobra a sua
vocacao e o seu profissionalismo, ou sera desacreditado
pela comunidade discente em muito pouco tempo."
E, ainda, provo: se ensinarnos critica aos nossos
alunos, em breve virA o reverso da medalha, seremos
criticados corn a forca dos nossos ensinamentos. Sera o
major bumerangue da histOria da educacao brasileira.
d) ADMINISTRACAO E IDEOLOGIA EM EDUCACAO
A mudanca de governo acarreta mudancas adminis-
trativas em toda a regiao do estado, por ser da respon-
sabilidade do governo eleito organizar administrativamen-
to a educacdo. Assim, as regiOes educacionais e os cargos
de confianca das secretarias sao mudados e permanecem
nas maos do partido majoritdrio enquanto dura o seu
mandato.
Uma coisa é administrar, ou seja, distribuir as verbas
para a construe -do e reforma de unidades escolares, deter-
minar a criacdo de cursos novos para cada regiao confor-
me as suas necessidades, prover pessoal adequado para
as diversas funcees e estabelecer uma politica de recursos
humanos para este setor tao importante para o desenvol-
vimento humano.
Outra coisa é ideologizar, ou seja, assumir urn governo
e, imediatamente, tentar implantar uma ideologia interes-
sante ao partido politico, procurando aproveitar o tempo
de governo para "fazer cabeeas", no sentido de garantir o
espaco da eleicao seguinte.
Os alunos tern direito a liberdade, seja a liberdade de
aprender, de receber os conhecimentos necessdrios a sua
categoria estudantil, seja a liberdade de nao ser objeto de
plateia, para ideologias muitas vezes contrarias aos seus
conceitos ou de sua familia. Este direito a liberdade e
muito importante porque os professores e a organizacao
das escolas exigem, como de costume, a presenca dos
alunos em sala de aula. Os alunos, no entanto, nao
conseguem se estruturar para exigir o respeito, sendo
"massageados", em suas mentes, por todos os que se
arvoram em adeptos desta pedagogia.
As mudancas de direcao de uma escola, mesmo pn-
blica e do estado, devem atender a competencia dos novos
diretores, as necessidades da clientela, as metas adminis-
trativas do estado, nunca, porem, aos interesses pessoais,
aos interesses ideolOgicos dos partidos porque os alunos
merecem dos governos e da sociedade o respeito a liber-
dade para que esta mesma sociedade tenha a autoridade
para administrar a educacao.
Pregar a liberdade e protestar, quando as mudancas
sao feitas dentro dos criterios administrativos, nao tern
sentido, a nao ser que os "protestantes" tenham a intencâo
de se perpetuar no poder, indefinidamente, caso em que
se deveria admitir urn questionarnento mais profundo,
porque fere diretamente as mesmas pregacOes anteriores,
referentes ao direito de liberdade de expressao.
34 35
5.
FINGINDO SER POLITICO SERIO...
FALTA DE VERGONHA OU DE RESPONSABILIDADE?
Uma sociedade livre so se constred corn respon-
sabilidade. Uma educacáo voltada para a formacdo do
carâter responsAvel e uma imposicâo desta mesma socie-
dade. Vemos a escola em nossos dias presa a dois princi-
pios opostos de educacào: reprimir e punir para incutir
responsabilidade nos alunos, entre os partidarios do con-
servadorismo e liberdade ampla e sem orientacao, entre
os partidarios da forrnacâo por osmose. No final do pro-
cesso, nem urn nem outro tern a capacidade de educar
para a responsabilidade.
Costumamos dizer que é atraves das quedas que se
aprende a andar. Pois bem, uma escola evita todos os
tombos possiveis e ainda pune quando alguem cai no
chao; a outra, solta a crianca pela escada, esperando pelo
equilibrio nesta circunstância adversa.
As duas correntes pelo radicalismo e pelo atraso
pedagOgico sao falidas na sua estrutura, alêm de nao
contribuirem para a formacdo de uma sociedade livre,
responsavel e consciente.
NA° sabemos, depois de tantos anos de educacâo
sistematizada e de tantas leis e diretrizes, qual a histOria
exata. guem se apresenta corn razdo é o sociologo Lauro
de Oliveira Lima, corn sua "EstOda da Educacdo no Brasil,
de Pombal a Passarinho".
Quern é irresponsdvel, o aluno, deixando o seu dever
incompleto, ou o deputado, faturando o jeton apesar da
solene auséncia?
Qual dos dois tern menos vergonha e menos escrUpu-
lo, o aluno, por nao dar importancia a funcao social de
sua carteira escolar e a mensalidade paga pelo pal, ou o
senador da reptablica, recebendo o dinheiro do povo por
urn servico nao cumprido?
Qual a escola responsavel pela educacao dos dois? A
mesma de nos conhecida, carente de uma mudanca na
raiz dos processos, visando dotar os estudantes de hoje
de mecanismos facilitadores da forrnacao para a respon-
sabilidade.
Numa època de mudanca constitucional, vale lembrar
a passagem de nossa literatura quando foi proposta aos
brasileiros uma legislacâo simples e objetiva: "todo brasi-
leiro deve ter vergonha na cara; revoguem-se as disposi-
cOes em contrario."
A parte a literatura, o ridiculo comeca a se enfeitar
quando os prOprios parlamentares sugerem a abolicdo de
filmagens corn plenArios vazios ou as piadas sobre o
legislativo, para nao denegrir a imagem de probidade em
que estao envoltos os nossos legitimos representantes.
Para que a populacdo nao acredite no termino de tudo
em ritrno de samba, é preciso estar presente, ser honesto
e reconhecidamente probo, sem as artimanhas propor-
cionadas pelas mordomias postais e pelos meios de comu-
nicacao social.
NA° pode o pais, neste momento de abertura, ver suas
riquezas naturais contrabandeadas, assim como o dinhei-
ro do povo, na mesma direcao de bolsos irresponsáveis.
Vale o voto de confianca na democratizacdo do livro
diddtico nao descartavel e de maior duracdo, porque o pais
necessita revisar o seu processo de educacao para encher
os plenarios de suas cainaras e assembleias corn repre-
sentantes imbuidos de uma responsabilidade maior que
o comprimento do forro do prOprio bolso e bem diferentedos digitos das contas bancarias.
No momento histOrico da abertura e de mudanca, a
escola é um instrumento de suma responsabilidade na
forrnacâo das consciências. Se ela repetir os modelos do
36 37
passado atrav6s de pedagogos superados e presos aos
moldes arcaicos de uma educacao antidialOgica, a socie-
dade da nova repiablica sera presenteada com os mesmos
tipos inesqueciveis de nossa histOria. Ao contrario, porem,
se a dialogicidade penetrar em suas praticas, se os curri-
culos ocultos corresponderem aos manifestos e se os
educadores tiverem a coragem de deixar os seus alunos
errarem, para discutir corn eles o erro, haves alguma
esperanca de mudanca, num horizonte que entre nos
retrata apenas o amanhecer.
6.
0 CONTEUDO FINGIDO
0 QUE E 0 CONTEUDO OCULTO?,
Devemos avaliar uma noticia de telejornal onde o
professor ensinava o processo da respiracao fazendo uma
pequena boneca fumar um cigarro. Uma explicacao mais
aprofundada sobre os contetados ocultos e o modo de
passá-los aos alunos parece-nos importante.
Em todos os sistemas de ensino, os contefidos apre-
sentam-se como manifestos e ocultos. Urn aluno estudan-
do a urbanizacao brasileira e seus processos aprenderd
quaffs sdo as principais areas urbanas, o que se produz
em cada uma, analisara fatores de atracao e repulsao
provocadores de migracOes e tirard conclusbes sobre o
processo.
0 professor, no entanto, sobretudo em suas atitudes,
quando leciona, podera transmitir aos alunos urn senti-
ment° de aprovacao ou reprovacao do processo em pauta,
podera dar mais preferéncia a deterrninados textos, volta-
dos para a afirmacdo do exodo rural provocado pelo
fascinio urbano e ser mais urn a fazer coro, a favor do
despovoamento do campo.
Os prOprios livros entregues aos alunos, todos eles
impressos em grandes cidades, louvam a urbanizacao,
ficando o carnpo relegado a urn piano onde tudo falta:
hospitais, escolas, asfalto, luz eletrica e diversao.
Ao mesmo tempo em que a escola ensina uma coisa,
ela cria e desenvolve urn comportamento, uma atitude nao
38 39
manifestada nos contendos, mas perfeitamente mensura-
yel quando se analisa o comportamento dos alunos.
Nesse sentido, a taxonomia de Benjamim Bloom fala
em objetivos cognitivos e objetivos afetivos. Enquanto os
primeiros sao metas a serem perseguidas no processo
ensino-aprendizagem, como condicao do aluno lograr exi-
to e avancar para outros estagios, o segundo grupo de
objetivos fala mais a atitude, ao comportamento, a men-
talidade que se formou durante o processo de estudo.
Muitas vezes urn professor, sem sentir, passa aos alunos
alguns valores ocultos em seu contend°, mas assimilados
ate corn maior facilidade e refletidos em forma de atitudes.
O contend° oculto realmente nao est:a escrito em
planejamento algum, nem existe uma carga borax-la espe-
cial para ele. Ao mesmo tempo esta em todas as partes,
em todas as aulas, pelos corredores da escola, e faz mais
efeito que os manifestos.
Imaginemos numa aula de estudos sociais o desen-
volvimento de um programa sobre a democracia. Os obje-
tivos falariarn sobre a importancia de assimilacao dos
conceitos de democracia. Os alunos deveriam ser capazes
de compreender o processo democratic° e aplica-lo na
analise de uma sociedade contemporânea da America
Latina. ComparacOes entre liberdade democrâtica e tota-
litarismo seriam feitas e ate exigidas em sala de aula, como
elementos de avaliacao e condicao de aprovacao para a
serie seguinte.
Os alunos melhores e mais aplicados saberao, no final
do periodo de ensino, todas as definicOes e conceitos.
No entanto, se analisarmos o mecanismo da didatica
e constatarmos que as aulas foram ministradas corn base
no monologo, sem a participacao dos alunos, e que as
tarefas foram todas dirigidas sem a possibilidade de par-
ticipacao e criacao da consciencia da participacao, vamos
concluir pelo antagonismo existente dentro do processo
de ensino, ou seja, o professor fala de democracia e vive o
totalitarismo. Os alunos aprendem a teoria democratica e
vivenciam o totalitarismo.
A conclusao se impée facilmente: os alunos ficam
confusos mais ainda que os mestres ja acostumados aos
mais impossiveis casamentos ideolOgicos dentro das esco-
las. Os departanientos de estudos socials, contentes e
sorridentes, pensarao ter atingido os objetivos propostos
e estar diante de uma fileira de novos democratas aptos a
enfrentar as exigências da nova repUblica, mas nada
disso, na verdade, aconteceu. A democracia foi ensinada
e os alunos aprenderam qualquer coisa parecida corn o
absolutismo, nunca corn a democracia.
Muito alern da cautela, deve estar a preocupacao em
analisarmos os nossos contendos ocultos para nao sermos
os primeiros a promover os sistemas que mais combate-
mos.
7.
AVALIAcAo FINGIDA
a) COMO CORRIGIR PROVAS DOS ALUNOS?
UMA FABULA: Certa vez, urn mestre enviou um aluno
seu a cidade canadense de Montreal para dar urn recado
num determinado endereco. 0 aluno deixou a cidade
brasileira de origem e seguiu para o Rio de Janeiro,
tomando urn vOo internacional ern direcao a Nova Iorque.
De la, seguiu noutro vOo para Montreal, tramitou pela
alfandega corn suas bagagens e documentos, tomou urn
taxi e chegou a rua desejada. 0 edificio ja estava sendo
visto. Felizmente, no local certo, chegou ao andar do
endereco. Na hora de bater a porta do apartamento,
confundiu -se e tocou a campainha do apartamento ao
lado daquele que procurava.
0 proprietario, ao atender, explicou-lhe que estava
errado e a viagern foi considerada perdida; a passagem,
agora, precisaria ser reembolsada, além da grande "bron-
ca" a receber do mestre.
Urn erro imperdodvel, sobretudo depois de tanto es-
forco. Chegou pertinho e errou no final. Tudo perdido.
Nota zero.
Outro aluno, deste mesmo mestre, recebeu a mesma
incumbéricia, so que, tendo chegado ao Rio de Janeiro,
dirigiu-se a Santiago do Chile e de la tomou urn aviao para
as Filipinas. Errou tudo, nao tinha sequer flock) de
direcao. Viagem errada, reembolso das despesas, "bronca"
do mestre. Tudo perdido. Nota zero.
Apesar dos dois candidatos rid() terem conseguido
chegar ao ponto solicitado, ha uma diferenca fundamental
entre eles.
Enquanto urn tem uma sèrie de valores e conheci-
mentos ja dominados, o outro nao conhece o minim° de
orientacao e localizacao geografica de uma cidade. Estes
completamente perdido. Os zeros atribuidos aos dois im-
plicam uma grande injustica, porque afirmarn ser os dois
erros do mesmo nivel, enquanto urn deles é absurdo, e o
outro, muito menos pernicioso.
Os professores mais arraigados ao sistema de corre-
cao pela resposta final sustentarn que os dois nao conse-
guiriam chegar aos objetivos tracados pelo mestre e que,
portanto, nem urn nem outro conseguiu responder ao
problema. Mas, em educacao e no processo de aprendiza-
gem, existem duas coisas diferentes, a quantidade e a
qualidade. Num dos casos, ha uma evidéncia de maior
qualidade porque o discipulo foi capaz de chegar as raias
do absolutamente certo, enquanto o outro nao conhece
mêtodo ou processo algum.
Entre os dois, urn se destaca pela melhor qualidade e
nao poderia ter a sua avaliacao nivelada pela mesma nota
daquele que foi dar corn os costados nas Filipinas.
Entre urn e outro, e evidente que o aluno que se dirigiu
ao Canada demonstrou ter mais conhecimento, mais
orientacdo, mais capacidade de se deslocar por paises
diferentes.
Portanto, corrigir uma prova somente pelas respostas
inclui uma grande distorcao no processo de aprendiza-
gem. Desvaloriza-se uma se. rie de manifestacOes de saber
pelo fato de se nivelar por baixo. Valeria dizer, corrigir pela
nota finale a mesma coisa que afirmar, no caso da fabula,
que estariam os dois alunos errados, tanto um quanto
outro, no mesmo grau. A injustica parece clara. 0 estimulo
flea comprometido. 0 metodo e o processo cedem lugar a
urn _logo de"tudo ou nada", que pouca qualidade e efeito
tern na evolucao do aprendizado de uma pessoa.
b) AS DIFERENCAS ENTRE PROVAS E CONCURSOS
Embora muitas pessoas entrem em reparticaes
cas por apadrinhamento, existem muitos concursos no
Brasil e, neles, os candidatos prestam provas. Essas
provas visam selecionar, nao objetivam somente medir o
que eles sabem. Assim, as provas dos concursos apresen-
tam uma caracteristica peculiar, elas devem ser de alto
poder discriminativo e, conforme o marnero de candidatos
em relacao as vagas, devem ser de alta dificuldade.
0 poder discriminativo e a capacidade de cada ques-
tao, pedida pelo elaborador de uma prova, em mostrar
quem sabe e quem nao sabe. Quando uma questa° tem
esse poder, podemos dizer que se trata de uma questa.°
boa para ser aplicada.
A facilidade de cada questa. ° é medida pelo percentual
de candidatos que acertam a questa° no teste apresenta-
do. Assim sendo, somando-se facilidade baixa coin discri-
minacao elevada, teremos uma soma de dificuldades que
podem prejudicar o candidato. Muita facilidade e pouca
discriminacao tornam a questao facilima e, em se tratando
de concursos, pode ser uma questa° posta fora, servindo
pouco para esse objetivo.
No entanto, uma questa° de facilidade elevada, corn
alto poder discriminador, servira para urn concurso, pela
razao de medir os que sabem e os que nao sabem uma
coisa simples.
Nas escolas, a situacao é urn tanto diferente. 0 pro-
fessor deve ter esses elementos em conta quando prepara
seus testes. Existem casos em que, conjugando-se o n6-
mero de alunos e a quantidade de aulas ministradas,
pode-se eliminar o teste, porque o professor, no final, tern
uma ideia objetiva e clara sobre o desempenho de seus
alunos. Na escola pode haver nota sem existir prova,
porque nao se trata de organizar concursos de uma sex-le
para outra. Geralmente, as provas servem para facilitar ao
professor na medida do aprendizado, devido ao mamero
elevado de alunos e a quantidade de tempo reduzido
durante a semana para suas classes.
Quando sao aplicadas provas numa classe de alunos,
elas devem ser feitas pelo professor que ensinou. Ele, como
responsavel, deve dosar suas questOes para que haja uma
correcao, a mais perfeita, entre a dificuldade dos proble-
mas e situacaes abordadas em aula e as que sera° apre-
sentadas nas provas.
Uma prova corn dificuldade superior ao que foi lecio-
nado nao tem valor comp medida do aprendizado dos
alunos. Se esse fosse o objetivo do professor, as aulas
deveriam incluir esse grau de dificuldade.
Ajuda o professor, quando da organizacao das provas,
a estabelecer uma tabela de especificacdo, onde ele elabo- f
ra urn quadro contendo os itens abordados durante o
periodo de ensino-aprenclizado e os conjuga corn o grau j
de facilidade e poder discriminativo. Haverd uma dosagemj
quanto ao grau de dificuldade, poder discriminativo, dis-
tribuicao dos itens do programa lecionado e quantidade
de questOes que, a criterio do professor, merecem maior
enfase.
Esses criterios geralmente sac) suficientes para man-
ter o equilibrio de uma prova que verdadeiramente avalie
o desempenho de um aluno.
Os casos de rejeicao a disciplina, e de relacionarnento
corn o professor, devem ser contornados ou solucionados
de outra forma, nao atraves da prova. Nesses casos, corn
a exigencia ou nao de instrumento de medida, havera
sempre urn estado de antipatia, anterior a qualquer apli-
cacao de instrumentos de avaliacao, impedindo o born
desempenho do candidato.
Some-se a tudo isso uma simples regra da didatica:
comece as provas corn questnes muito simples e muito
face's para que o aluno adquira seguranca.
Se o professor, no entanto, nao admitir inseguranca
num adolescente, entao ele é que nao serve para professor.
4544
8.
FINGINDO SANIDADE...
a) AS NEUROSES DA IMBECILANDIA
8 para surpreender mesmo, mas encontrei urn medico
furioso porque acabara de fazer uma cirurgia e salvara urn
doente!
Na semana passada, conversando corn urn engenheiro
de renome, percebi a sua raiva por ter construido urn
edificio de trinta andares e todos os intrumentos estarem
em perfeito funcionarnento, o predio habitado por comple-
to e recebendo elogios da imprensa local!
Urn professor penitenciou-se porque seus alunos fo-
ram aprovados, urn dentista fechou o consulterio porque
as obturacOes nao cairam e todos falavam bem do trabalho
dele.
E incrivel! 0 motorista de taxi nao gosta de receber
elogios quando acerta urn itinerario complicado, o relojoei-
ro esmurra a mesa quando os clientes agradecem o traba-
lho feito corn precisao!
Sendo tudo verdade, so uma gaiola de loucos poderia
justificar tal situacao. Na cabeca sadia de alguem nao
entram pensamentos tan absurdos.
Se algum dia, em alguma parte do planeta, tais fatos
acontecerem, estaremos diante de uma equipe de alto grau
de idiotia e imbecilidade. Diria alguem: foi inventada a
IMBECILANDIA.
outro lado da moeda desta terra recem-inventada,
porque para descobrir é muito dificil, seria assim:
passageiro chateado porque o motorista parou no
ponto certo saiu do carro pensando baixinho: "desgraca-
do, esta defendendo a empresa onde trabalha, nao pode
ser outra coisa."
o doente, depois da cura: "medico safado, so pensa
no nome do hospital que defende corn unhas e dentes, sai
falando pra todo mundo que curou mais urn, sujeitinho
esnobe, alguma deve estar aprontando..."
transeunte, ao receber uma inforrnacao correta,
perguntou se o informante era candidato a algum cargo
politico; a amizade era taxada como ante-sala de interesse
e assim por diante, nesta terra de neuroses, psicoses, onde
ha falta de divas para os psicanalistas porque a procura é
maior que a oferta.
Estamos em IMBECILANDIA, onde tudo e possivel, ai
compreendemos estes medicos, engenheiros, transeun-
tes, estudantes e, sobretudo, psicopatas.
Agora, triste mesmo é voce estar vivendo em terra de
sadios mentais, pelo menos assim se julgam os seus
habitantes, e dentro de certas escolas encontrarmos tra-
cOS marcantes de habitantes em potencial desta encanta-
da IMBECILANDIA.
E vamos aos fatos, FATOS, CREIAM-ME, corn maiirs-
cula, vivencias de meu magisterio mais recente.
Encontro alunos desconfiados de professores que de- I
sejarn a aprovacao deles para faculdade de renome. Eles
querem it para estas faculdades mas desconfiam quando
ajudados e dizem abertamente: "ai tem, se me ajudam,
querem ganhar alguma coisa...". Outros, mais angustia-
dos em suas filosofias pessimistas, quando embarcam no
mecanismo de motivagdo dos professores, filosofam de
imediato: "estao me oprimindo...".
0 time dos incredulos aumenta tanto a ponto de surgir
uma ala mais afoita descrente da amizade dos professo-
res corn os alunos, das amizades dos grupos de estudo,I
desconfiam do sorriso, dos textos, analisam todos os ges-1
tos buscando neuroticamente o ponto de manipulacao. E
vao vivendo como se em cada pescoco de professor hou-
vesse urn colarinho branco, em cada voz uma ordem
46 47
opressora, em cada gesto urn epidemico interesse pecu-
niario, em cada promocao uma "jogada" de marketing.
Nero sei nao, mas IMBECILANDIA ester mudando de
lugar, ou entao sua "fflosofia" ester criando tentaculos e
atravessando fronteiras...
A saudade e a ansia desabam nas tardes de colorido
magico do pOr-do-sol e me fazem desejar corn muita
insistencia o nascimento, neste territOrio minado de pes-
simismo e desamor, temperado pelas descrencas ilOgicas,
da transparencia da atmosfera de qualquer regiao, con-
tanto que seja diferente de IMBECILANDIA.
b) IMAGINANDO LOUCURAS
Decreto n2 01/ 86, de maio, 03 - 164 2 da Independencia e
972 da Reptiblica:
Art. 1 2 - Ficam todos os profissionais obrigados a
pautar suas atividades pelos pardrnetros do magiste-
rio de 1 2 e 2 2 graus;
Art. 2 2 - Assim como os professores, todos os demais
profissionais deverao levar tarefaspara casa, visando
ocupar os espacos de lazer corn alguma atividade
professional;
Art. 3 2
 - Como os professores nada recebem pelas
tarefas de casa, assim tambem os demais profis-
sionais contentar-se-ao corn o seu salario regular;
Art. 4 2
 - Pelo disposto neste decreto, ficam automa-
ticamente suspensos todos os pagamentos de hora-
extra, uma vez que o trabalho de casa nao é
remunerado;
Art. 5 2 - Este decreto entrard em vigor na data de sua
publicacdo, revogando-se as disposicOes em contra-
Lido o decreto, procurei o jornal da situacao. A defesa
era arnpla, inclusive alegando ser o trabalho de casa, o
"homework" para os americanos, urn excelente metodo
terapico, diminuindo as neuroses. 0 jornal da oposicao,
ao contrario, atacava por todos os lados e todos os artigos:
"exploracao de todas as classes... todos reduzidos a situ-
acao do magisterio... aviltamento dos profissionais libe-
rals... etc."
Imaginando loucuras, o que costumo fazer como ati-
vidade indica, fui construindo a vida de alguns profis-
sionais liberais apOs o decreto e formulando conclusOes.
medico: concluida a cirurgia, sai o medico do hos-
pital carregando urn enorme fardo, corn gases, lencOis,
aventais, instrumental, mascaras e apetrechos para, em
seguida, lava-los em casa, preparando-os para a cirurgia
do dia seguinte. E ai dele se nao trabalhar direito, onde ja
se viu lencol sujo de sangue do paciente anterior, sendo
usado na mesa da sala de operacOes?
motorista de Onibus: no inicio, a situacao é cOmoda.
0 motorista termina o trabalho e segue de Onibus para
sua casa. Mas, no dia seguinte, devera levantar mais cedo
para van-er o veiculo, lava-lo por dentro e por fora, passar
alguma pasta, limpar pneus e estar a postos para a
primeira viagem urbana. Mais triste e a situacao do mo-
torista morador de favela. 0 6nibus flea na pracinha do pê
do morro. No dia seguinte, desce ele de madrugada para
fazer toda a tarefa suplementar.
ueterinario: as 18h, o veterinario fecha sua clinica
e carrega consigo alguns animais de estimacao: urn ca-
chorro corn a perna quebrada, uma porca prestes a dar
cria, urn cavalo manco e urn gato corn suspeita de raiva.
A noite mescla a atencao dada ao cavalo corn a novela,
conversa corn a esposa e espera o parimento dos leitOes,
cuida do cao, le jornal e conversa corn as criancas.
No dia seguinte, pela manha, retornam todos a clinica
veterinaria para novos tratamentos e diagnOsticos.
0 garcon: fechados os restaurantes, a situacao destes
profissionais e triste. Nos bravos, pilhas de pratos, copos,
talheres e guardanapos, tudo para ser lavado na prOpria
residencia corn a ajuda dos familiares. Urn sacrificio! Se
alguma coisa quebra, a responsabilidade é deles, mesmo
daqueles que viajam em trens de subUrbio.
0 professor: o professor faz sempre o que fez. Sacolas
cheias de cadernos e provas, ele deixa os recintos escolares
para privar da companhia de seus entes queridos em casa:
os livros, os cadernos, as correcOes...
Voce ester apto a continuar escrevendo o artigo, ima-
ginando as mais diversas loucuras. Va imaginando, mas
saiba que pelo menos uma delas e a pura verdade e a mais
' sêria de todas as realidades.
9.
FINGINDO SER "MESTRE"
URUBUS E GARIMPEIROS
As reacOes de professores ante os alunos retornando
as aulas sao muito variadas. Mas, hoje em dia, a reclama-
cao supera qualquer tentativa de consideracao de uma
realidade mais feliz.
Voltam os alunos e reencontram os mestres na
apreensao do aumento salarial. Somam-se aos dissabores
do magisterio, sobretudo dos mais frustrados, a fraqueza
academica cada vez maior dos alunos, a displicencia
generalizada de toda a sociedade em relacdo a educacao,
a descrenca na capacidade de uma escola efetivamente
ensinar. Nero abordo o problema da educacao porque a
televisao ester influenciando mais do que a pr6pria escola,
pela modernidade e capacidade visual de persuasao.
A propaganda de volta as aulas e uma vergonha
contrastando corn a outra a favor da educacao para todos,
quando diz que e por ali que se comeca.
A televisao mostra uma sala em desordem, alunosjogando papel por todas as partes ate a chegada de uma
professora colocando tudo em seus lugares. Sao duas
visees. E por ai que se comeca, pelo lapis ou pela confu-
sac)? Alguns nao querem comecar por causa da desmoti-
vacdo e do desAnimo e estdo vitimados pela descrenca.
Ante este quadro tao pessimista, mas real, da educa-
Q -A°, das escolas e do professorado, dois comportamentos
se destacam: o do urubu e o do garimpeiro.
50 51
Triste e aborrecido, faminto e sedento de carnica, o
urubu sobrevoa uma linda planicie verde, plantada em
sua maior parte, observa rios cristalinos, rodopia por
sobre arvores frutiferas e desce rapidamente em direcao
ao que mais chamou a atencdo: A CARNICA. Podre, fedo-
renta e insuportavel, ela é digerida. Assim sâo alguns
destes que retornaram a escola sem a minima dose de
esperanca em alguma transformacao.
Sobrevoando as cabecas dos alunos, observando os
olhares atentos dos primeiros dias, os sorrisos e a beleza
das criancas, detërn-se naqueles aspectos de reprovacdo,
desdnimo e apostam na derrota.
Outro grupo manifesta-se como garimpeiro, a imagem
do otimismo, atolado na agua suja do regato, no meio da
larna lidando corn a bateia, revolvendo o cascalho, vé, no
meio da sujeira, o brilho inconfundivel do diamante.
Aos mestres nao e preciso dizer sobre o inicio da nova
batalha. Importante seria que refletissem sobre as duas
imagens propostas, para que cada urn pudesse optar por
ser mais urn garimpeiro neste espaco geografico de nossa
educacdo, cheio de urubus.
10.
FINGINDO SER PEDAGOGO
a) DO ABSOLUTISMO PEDAGOGICO A
ANARCO-PEDAGOGIA
Nao adianta apenas comentar que estarnos repletos
de exageros e radicalismos nos sistemas escolares. 0
importante no contexto atual é a verificacao e analise dos
fatos para que, a luz do equilibrio, da filosofia da escola e
das propostas globais existentes, seja feita a construcao
de urn corpo pedagOgico capaz de atingir os objetivos.
Se no passado a escola era orientada pela absoluta
autoridade do professor na exposicao dos conteÜdos, na
orientacAo didatica e nas exigencias de sala de aula,
podemos constatar, ap6s as mudancas geradas pela aber-
tura social, o surgimento de urn comportamento classi-
ficavel como anarco-pedagOgico.
Ha uma diferenca marcante entre democracia e anar-
quia. Os absolutistas inveterados, quando se deparam
corn urn comportamento liberal-democratic°, enxergam a
mais perigosa anarquia. Os anarquistas inconformados,
quando sao levados a seguir uma decisao da maioria,
tipica da democracia, sentem-se pressionados por urn
mecanismo absolutista. Sao os extremos comportando-se
sempre contra uma postura democratica que se baseia no
consentimento expresso pelo voto.
Como a escola no passado era muito mais absolutista
que a de hoje, a caminhada para uma escola democrâtica
encontra em seu caminho os partidarios da anarco-peda-
gogia, defendendo a liberdade absoluta para todos, a
qualquer momento, como manifestacdo da indivi-
du alidade.
Como concretizar estes comportamentos e analisa-los
pedagogicamente? Vejamos como se comporta a didatica
absolutista:, o professor ensina conforme seu metodo,
tendo os alunos que se acostumar a se sujeitar ao proces-
so. Os conteUdos nao sac) discutidos, nem ha possibilidade
de mudar processo algum na caminhada do aprendizado.
O passado garante o exito do processo e a sua manutencdo
é ate uma questAo de born senso; na didatica andrquica
as aulas nao sao programadas, acontecem conforrffe o
andar dos desejos de cada turma ou de cada aluno.
Atendem aos interesses do moment°, estando mais o
professor a coerce das mudancas de interesse que atento
ao seguimento da seqfiencia pedagOgica preestabelecida.
O enfoque democratico da didatica e urn pouco diferente
das duas concepcOes descritas.

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