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A Magia da Ensinagem: Gratidão e Compromisso

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Prévia do material em texto

A Magia da Ensinagem 
1 
 
A Magia da Ensinagem 
2 
 
AGRADECIMENTOS 
- Um trabalho como este só se realiza mediante a contribuição direta ou indireta de várias 
pessoas e de mestres amigos. 
- Para os professores que convivi desde 1969: “minha gratidão pelos seus ensinamentos, pelos seus 
exemplos de perseverança, de honradez, de disciplina, de humildade, de vitalidade e de alegria. Um dia nos encon-
traremos... 
“Além da Terra, além do Céu, no trampolim do sem-fim das estrelas, no rastro dos astros, 
na magnólia das nebulosas. Além, muito além do sistema solar, até onde alcançam o pensamento 
e o coração...” Carlos Drummond de Andrade 
Afinal, Aventura é isso! Perder-se em caminhos desconhecidos Desbravando florestas. Se 
apoiando em amigos [...] 
A Magia da Ensinagem 
3 
 
 
 
 
 
DEDICATÓRIA 
- Para todos os “sujeitos” comprometidos amorosamente com o Ensinar e com o Apren-
der1, nos diversos saberes, espaços e tempos, de luta por uma educação democrática e emancipa-
tória; 
- Ao Lucas, meu neto, pela continuidade da luta por um mundo mais solidário e fraterno; 
- À minha família, pela paciência...; 
- Ao prof Pio Campos Filho, por acreditar que as áreas do conhecimento vivem em sinto-
nia e que as amizades quando algemadas por um ideal comum é para sempre; 
- Ao prof Agnaldo Vanderlei Arnold, pela caminhada em prol da qualidade do ensino; 
- À minha irmã Catarina, pela educação que recebi, incentivo à leitura, além dos puxões de 
orelha, quando necessários; 
- Ao prof Don Oto Roberto Bormann, pela amizade selada diante das leituras diferencia-
das de mundo e, pelas oportunidades ofertadas. 
 
1 Cabe a nós, professores, fazermos com que o aluno se mostre por inteiro, não só nos seus conhecimentos cognitivos, 
mas que compartilhe seus saberes e vivências diárias mantendo uma relação de respeito, a partir das diferenças, dos pro-
blemas e dos conhecimentos próprios... (Carmen Brunel) 
A Magia da Ensinagem 
4 
 
 INTRODUÇÃO 
Para início de conversa, vamos a uma provocação: “Há um tempo em que é preciso abandonar as 
roupas usadas, que já têm a forma do nosso corpo, e esquecer os nossos caminhos, que nos levam sempre aos mesmos 
lugares. É o tempo da travessia… e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mes-
mos.” (Fernando Pessoa) 
A quem escrevo este livro? Por favor, Rousseau, responda: 
“É do ser humano que devo falar e a questão que examino me diz que vou falar a seres humanos pois não se 
propõem questões semelhantes quando se tem medo de honrar a verdade.” 
Mais que qualquer outro livro, é óbvio que este não poderia ter sido escrito sem a inspira-
ção e o apoio dos muitos homens e mulheres notáveis mencionados em suas páginas, e de muitos 
outros que não chegam a ser citados. Eu gostaria de expressar a todos a minha mais profunda 
gratidão. Agradeço também a minha família e a meus amigos por suas leituras críticas de diversas 
partes do manuscrito, especialmente minha irmã Catarina (minha segunda mãe) pela suas valiosas 
sugestões editoriais. 
Em O Grande Ditador, Charles Chaplin disse: “Pensamos demais e sentimos muito pouco. Mais do 
que inteligência, precisamos de bondade e compreensão”. A capacidade da liderança traz consigo essa pos-
sibilidade. O professor-líder é ainda aquele que acredita no poder do sonho — o sonho que livra 
da domesticação imposta pela rotina. Para isso, ele compromete as pessoas, e elas passarão a se-
guir o sonho, não mais o líder. 
O me levou a escrever este livro é algo que vem me intrigando há muito tempo e sou par-
ticipe dessa cumplicidade: 
• O que está havendo com o mundo? 
• Existe bondade? 
• Como as pessoas exercem a bondade? 
• Quais virtudes a sociedade 2ocidental precisa cultivar? 
• O que é ser bom/ humilde/ corajoso/ generoso em nossa sociedade ocidental? 
• É possível fazer um mundo melhor? 
 
2 Segundo Andy Hargreaves, o professor como catalisador da sociedade do conhecimento deve, dentre outros componentes promo-
ver a aprendizagem cognitiva profunda; comprometer-se com aprendizagem profissional contínua; trabalhar e aprender em equipes de 
colegas. 
A Magia da Ensinagem 
5 
 
Não posso deixar de lembrar neste livro que "... o homem mais sábio que conheci em toda a mi-
nha vida não sabia ler nem escrever3" (José Saramago) 
Devo a eles o amor pela história e seus atores sociais. 
Este livro revela uma ruptura com “rotulismos” e “modismos” pedagógicos, norteados 
muitas vezes por um “patrulhamento ideológico” de governos travestidos de “progressistas”, mas 
que não têm nada a oferecer à educação4 nesse país. 
Segundo Peter Henry, “a educação faz com que as pessoas sejam fáceis de guiar, mas difí-
ceis de arrastar; fáceis de governar, mas impossíveis de escravizar.” 
Confesso que cansei de participar de congressos em que alguns palestrantes que sequer es-
tão atentos ao que acontece nas salas de aulas, nas relações de poder, nas ideologias, “persegui-
ções, embates nada “dialéticos”, professores conspirando contra diretores e, vice- versa) e que 
não devemos nos contente em trilhar um caminho estabelecido, devemos caminhar para onde não 
há caminho algum , deixando um rastro. 
E o “excelente” João Cabral de Melo Neto, quando escreveu que “(...) o ovo (...) apesar /da 
pura forma concluída, / não se situa no final; / está no ponto de partida.”. Estejamos sempre no ponto de 
partida. 
Minha experiência no magistério ainda está na partida. O badalo do sino não tocou para 
que o trem caminhe seja uni ou transdisciplinar pelos trilhos do conhecimento5. 
O teórico Dewey, afirma que a educação não é algo que deva penetrar no espírito da criança 
de fora pra dentro, e sim ser desenvolvida através de dons que todo ser humano traz consigo ao nas-
cer, pode-se entender, então, que não se podem castrar os conhecimentos, pensamentos e sentimen-
tos das crianças ao adentrarem o âmbito escolar, mas, sim, ampliá-los, torná-los maiores e mais coe-
sos. 
Porém, minha felicidade é fazer deste espaço um momento para escrever para professores, 
que na sua maioria detestam teorias e metodologias6 “prontas” e “acabadas”, passa a ser uma tare-
 
3 HARGREVES, Andy. O ensino da sociedade do conhecimento: educação na era da insegurança. Porto Alegre: 
Artmed, 2004. 
4 “A educação faz com que as pessoas sejam fáceis de guiar, mas difíceis de arrastar; fáceis de governar, mas impossíveis 
de escravizar.” PETER, Henry 
5 Para Hargreaves sociedade do conhecimento deve haver o estímulo à inventividade e criatividade, utilizando-as em 
favor das transformações necessárias Na economia do conhecimento existe uma noção de competitividade bastante arrai-
gada e a plasticidade necessária para se efetuar as diversas mudanças inerentes ao desenvolvimento dos indivíduos e em-
presas. 
6 “A questão primordial que hoje se coloca para a metodologia do ensino é a da superação do apriorismo e do dogma-
tismo metódico reinante na prática pedagógica, cuja organização não é realizada a partir dos diferentes grupos sociais que 
hoje frequentam a escola brasileira.(...) Assim, um dos desafios didáticos do momento atual é o da concepção de uma 
A Magia da Ensinagem 
6 
 
fa árdua. Com certeza, você leitor(a), às vezes se irrita com palestras sobre motivação, educar pela 
emoção, escola de qualidade... 
Costumo afirmar que a educação é o passaporte para oportunidades e a prosperidade. Ela 
possibilita que indivíduos, independentemente de pertencerem a países em desenvolvimento ou 
desenvolvidos, tornem-se líderes acadêmicos, empresariais, comerciais e governamentais. 
Mudanças mundo afora, entre elas, a revolução tecnológica, o advento da sociedade do 
conhecimento7 e a globalização, nos trazem novos problemas a que a escola da revolução indus-
trial, tipo modelo único, não consegue responder...O pior é ainda encontramos e escolas e pro-
fessores com um currículo da primeira onda (TOFLER) – a agrícola, ritmada – com as estações 
do ano, cada bimestre um conteúdo ...(Bernstein). 
Analise esta música: 
Antes mundo era pequeno 
Porque Terra era grande 
Hoje mundo é muito grande 
Porque Terra é pequena 
Do tamanho da antena parabolicamará 
Ê, volta do mundo, camará 
Ê-ê, mundo dá volta, camará 
Antes longe era distante 
Perto, só quando dava 
Quando muito, ali defronte 
E o horizonte acabava 
Hoje lá trás dos montes, den de casa, camará 
Ê, volta do mundo, camará 
Ê-ê, mundo dá volta, camará 
Sobre o conhecimento, é importante analisar o seguinte texto: 
 
EDUCAR É CONTAR HISTÓRIA 
De que servem todos os conhecimentos do mundo, se não somos capazes de transmiti-los 
aos nossos alunos? A ciência e a arte de ensinar são ingredientes críticos no ensino, constituindo-
se em processos chamados de pedagogia ou didática. Mas esses nomes ficaram poluídos por ideo-
 
metodologia de ensino que minimize as discriminações sociais, geradas fora da escola, porém refletidas e expressadas na 
escola por aqueles que dela participam” (p. 99-100). Cansei de participar de congressos em que alguns palestrantes que 
sequer estão atentos ao que acontece nas salas de aulas, nas relações de poder, nas ideologias, “perseguições, embates 
nada “dialéticos”, professores conspirando contra diretores 
7 9 
Segundo César Coll e Elena Martín (2004), quanto mais amplos, ricos e complexos forem os significados construídos, 
isto é, quanto mais amplas, ricas e complexas forem as relações estabelecidas com os outros significados da estrutura 
cognitiva, tanto maior será a possibilidade de utilizá-los para explorar relações novas e para construir novos significados. 
A Magia da Ensinagem 
7 
 
logias e ruídos semânticos. Perguntemos quem foram os grandes educadores da história. A maio-
ria dos nomes decantados pelos nossos gurus faz apenas “pedagogia de astronauta”. Do espaço 
sideral, apontam seus telescópios para a sala de aula. Pouco enxergam, pouco ensinam que sirva 
aqui na terra. Tenho meus candidatos. Chamam-se Jesus Cristo e Walt Disney. Eles pareciam sa-
ber que educar é contar histórias. Esse é o verdadeiro ensino contextualizado, que galvaniza o 
imaginário dos discípulos fazendo-os viver o enredo e prestar atenção às palavras da narrativa. 
Dentro da história, suavemente, enleiam-se as mensagens. Jesus e seus discípulos mudaram as 
crenças de meio mundo. Narraram parábolas que culminavam com uma mensagem moral ou de 
fé. Walt Disney foi o maior contador de histórias do século XX. Inovou em todos os azimutes. 
Inventou o desenho animado, deu vida às histórias em quadrinhos, fez filmes de aventura e criou 
os parques temáticos, com seus autômatos e simulações digitais. Em tudo enfiava uma mensagem. 
Não precisamos concordar com elas (e, aliás, tendemos a não concordar). Mas precisamos apren-
der as suas técnicas de Há alguns anos, professores americanos de inglês se reuniram para carpir 
as suas mágoas: apesar dos esplêndidos livros disponíveis, os alunos se recusavam a ler. Poucas 
semanas depois, foi lançado um dos volumes de Harry Potter vendendo 9 milhões de exemplares, 
24 horas após o lançamento! Se os alunos leem J.K. Rowling e não gostam de outros, é porque 
estes são chatos. Em um gesto de realismo, muitos professores passaram a usar Harry Potter para 
ensinar até física. De fato, educar é contar histórias. Bons professores estão sempre eletrizando 
seus alunos com narrativas interessantes ou curiosas, carregando nas costas as lições que querem 
ensinar. É preciso ignorar as teorias intergalácticas dos “pedagogos astronautas” e aprender com 
Jesus, Esopo, Disney, Monteiro Lobato e J. K. Rowling. Eles é que sabem. Poucos estudantes 
absorvem as abstrações, quando apresentadas a sangue-frio: “Seja X a largura do retângulo...”. De 
fato, não se aprende matemática sem contextualização em exemplos concretos. Mas o professor 
pode entrar na sala de aula e propor a seus alunos: “Vamos construir um novo quadro-negro. De 
quantos metros quadrados de compensado precisaremos? E de quantos metros lineares de mol-
dura?” Aí está a narrativa para ensinar áreas e perímetros. Abundante pesquisa mostra que a maio-
ria dos alunos só aprende quando o assunto é contextualizado. Quando falamos em analogias e 
metáforas, estamos explorando o mesmo filão. Histórias e casos reais ou imaginários podem ser 
usados na aula. Para quem vê uma equação pela primeira vez, compará-la a uma gangorra pode 
ser a melhor porta de entrada. Encontrando pela primeira vez a eletricidade, podemos falar de um 
cano com água. A pressão da coluna de água é a voltagem. O diâmetro do cano ilustra a ampera-
gem, pois em um cano “grosso” flui mais água. Aprendidos esses conceitos básicos, tais analogias 
podem ser abandonadas. É preciso garimpar as boas narrativas que permitam empacotar habil-
A Magia da Ensinagem 
8 
 
mente a mensagem. Um dos maiores absurdos da doutrina pedagógica vigente é mandar o profes-
sor “construir sua própria aula”, em vez de selecionar as ideias que deram certo alhures. É irrealis-
ta e injusto querer que o professor seja um autor como Monteiro Lobato ou J.K. Rowling. É pre-
ciso oferecer a ele as melhores ferramentas – até que apareçam outras mais eficazes. Melhor ainda 
é fornecer isso tudo já articulado e sequenciado. Plágio? Lembremo-nos do que disse Picasso: “O 
bom artista copia, o grande artista rouba ideias”. Se um dos maiores pintores do século XX acha-
va isso, por que os professores não podem copiar? Preparar aulas é buscar as boas narrativas, 
exemplos e exercícios interessantes, reinterpretando e ajustando (é aí que entra a criatividade). Se 
“colando” dos melhores materiais disponíveis ele conseguir fazer b brilhar os olhinhos de seus 
alunos, já merecerá todos os aplausos.8 
Essa superação para a escola da sociedade do conhecimento (quinta onda?) (do tipo orga-
nismo aprendente) pressupõe uma escola que desenvolve um projeto educativo próprio, coerente 
e dinâmico para toda a comunidade; uma escola que se abre à comunidade local, integrando-se 
nela e não esperando ela ou tentando conhecê-la através de questionários quantitativos para 
(en)tabular num projeto9 pedagógico10; uma escola com coragem para inovar e interiorizar a mu-
dança. 
José Manuel Moran, enfatiza que os grandes educadores atraem não só pelas suas ideias, mas 
pelo contato pessoal. Dentro ou fora da aula chamam a atenção. Há sempre algo de surpreendente, 
diferente no que dizem, nas relações que estabelecem, na sua forma de olhar, na forma de comunicar-
se. São um poço inesgotável de descobertas”. 
“Não temo dizer que inexiste validade no ensino de que não resulta um aprendizado em que o aprendiz 
não se tornou capaz de recriar ou de refazer o ensinado.” (Paulo Freire) 
Uma escola pode fazer a “diferença”, um professor pode mudar uma história de vida. Há 
um texto elegante denominado “Vestido Azul”, que traz uma lição não muito diferente do que nós 
podemos fazer, sem precisar ter inveja da professora referenciada. 
O texto assim destaca “.. num bairro pobre de uma cidade distante, morava uma garotinha muito bo-
nita. Ela frequentava a escola local. Sua mãe não tinha muito cuidado e a menina quase sempre se apresentava 
 
8 CASTRO, Cláudio de Moura e. Veja. 10 jun, 2009. p.30. 
9 A construção do projeto pedagógico passa pela relativa autonomia da escola, de sua capacidade em delinear a própria 
identidade. A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9394/96 já prevê, em seu artigo 12, inciso I, a necessida-
de de toda escola, elaborar e executar seu projeto pedagógico. 
10 Pode-se afirmar que projeto é um meio pedagógico por excelência, porque tantoprofessor quanto alunos atuam co-
mo sujeitos ativos na situação metodológica propiciada pelo projeto. 
A Magia da Ensinagem 
9 
 
suja. Suas roupas eram muito velhas e maltratadas. Uma professora ao ver a situação da menina, ficou penaliza-
da. "Como é que uma menina tão bonita, pode vir para a escola tão mal arrumada?". Separou algum dinheiro do 
seu salário e, embora com dificuldade, resolveu lhe comprar um vestido azul. 
A menina ficou muito linda no seu vestido. Quando a mãe viu a filha naquele lindo vestido azul, sentiu 
que era lamentável que sua filha, vestindo aquele traje novo, fosse tão suja para a escola. Por isso, passou a lhe dar 
banho todos os dias, pentear seus cabelos, cortar suas unhas. Quando viu sua filha o pai falou para a esposa "mu-
lher, não é correto que nossa filha, sendo tão bonita e bem arrumada, more em um lugar como este, caindo aos peda-
ços? Que tal nós ajeitarmos a casa? Nas horas vagas, eu vou dar uma pintura nas paredes, consertar a cerca e 
plantar um jardim." Logo mais, a casa se destacava na pequena vila pela beleza das flores que enchiam o jardim, e 
o cuidado em todos os detalhes. Os vizinhos ficaram envergonhados por morar em barracos feios e resolveram tam-
bém arrumar as suas casas, pintar, plantar flores, usar a criatividade. Em pouco tempo, o bairro todo estava trans-
formado. E tudo começou com um vestido azul. A professora ao saber da história e daquela transformação no bair-
ro se surpreendeu, pois nunca imaginara que sua ação faria tantas modificações no bairro. Sua intenção era de 
apenas ajudar sua aluna, ela fez o que achava ser correto. Foi então que a professora percebeu o que havia feito, 
fez a primeira ação que levou outras pessoas a mudar o seu jeito de ser e de agir. Ser professor é ser transformador, 
basta nós professores acreditar no nosso poder de Transformação. 
Conversas informais com alguns professores sinto um descontentamento sobre o que ensinar aos alunos, di-
ante das tecnologias que estão por aí, do desinteresse, do sentido do conhecimento. Enfim, educadores transforman-
do-se em “dadores” de aulas. O encanto e a magia estão se curvando ao marasmo das aulas da famosa rotina 
“rotineira”. 
São inúmeros os livros sobre educação que abarcam a temática do entusiasmo, da motiva-
ção. Alguns, tornaram-se “ mercadores de ilusões”, palestrando para professores, apresentando 
“receitas de bolos” que nunca confeccionaram, pois erraram na receita ou na temperatura. Típi-
cos charlatões do ato de cozinhar. O bom “cozinheiro” é aquele que, em sala de aula, faz do co-
nhecimento um cardápio para o aluno, “sabor” – “sapiência”. 
Segundo Antonio Bolívar, “a ironia da realidade escolar é que as escolas são instituições dedicadas à 
aprendizagem e elas mesmo não sabem aprender”. 
Afinal para que serve a escola, além de retirar as crianças de seus lares e levá-las para um 
espaço hermético para serem “instruídas” (ou adestradas) conforme algumas teorias pedagógicas 
contemporâneas (sopão epistemológico)? Toda criança, ao entrar no universo escolar, traz consi-
go toda uma bagagem estruturada nas relações familiares; logo, pode-se dizer que já há um con-
texto histórico e social. 
A Magia da Ensinagem 
10 
 
Portanto, o processo educativo que pretende realizar a partir daí, deve ser coerente com o 
momento em que essa criança vive. Na cidade de Atenas, até hoje são lembradas as escolas de 
Platão, Aristóteles e a de Isocrates, cada qual com uma teoria11 em relação à concepção de ho-
mem, mundo e currículo. De todos os pensadores, Platão foi o que mais apostou no papel revo-
lucionário da escola na transformação da sociedade, moldando o homem e, assim configurando a 
estrutura e organização social. Platão não esboçou nenhum sentimento de angústia ao ser questi-
onado sobre a ruptura das crianças com seus pais, sendo tutelados por alguém (professor) respon-
sável por sua formação. Nasce aí o antropogenista, com discurso “novo” de um gênero literário 
que serve de mola propulsora para o nascimento da Filosofia. Platão não resistiu às forças ocultas 
da política, que tem por princípio “amputar” sonhos e utopias. Platão retirou-se e foi ensinar Ge-
ometria para alguns alunos. O sonho de sociedade evocado no livro “A República” desmorona-se 
tal qual um castelo de areia à beira do mar. Em 2006, o político que desejar resgatar o sonho utó-
pico de Platão terá muito, muito trabalho! E por que tal dificuldade? Simplesmente porque as es-
colas estão fragilizadas na sua essência, pois não conseguem impor seu verdadeiro papel (educar 
para a transformação). De um lado, os pais desconfiam dos educadores que, por sua vez, no ál-
bum da hierarquia são figuras sem autoridade e sem dinheiro. A escola, ao se tornar um burgo-
mestre do sistema, deixa o professor “refém” da sociedade, quando apenas fiscaliza-o, para cum-
prir a missão de “transmitir” conteúdos12. Uma revolução na educação deverá iniciar-se pela de-
volução do poder ao professor, retirando-o do “casulo” de vergonha que o envolve no final do 
mês, quando vai receber seu hollerite e repensa nas múltiplas oportunidades que deixou escapar 
de suas mãos nos concursos para escrivão, policial, juiz, médico, etc. No Brasil13, educar é deveras 
perigoso, pois oferecer “ferramentas” capazes de libertar o pensamento e retirar o espírito das 
 
11 Uma teoria educacional se constrói a partir de uma concepção do mundo, do ser humano e dos processos educacio-
nais. As teorias educacionais se efetivam como práticas pedagógicas que revelam os seus princípios gerais e seus temas de 
interesse. 
12 “A tendência habitual de situar os diferentes conteúdos de aprendizagem sob a perspectiva disciplinar tem feito com 
que a aproximação à aprendizagem se realize segundo eles pertençam à disciplina ou à área: matemática, língua, música, 
geografia, etc., criando, ao mesmo tempo, certas didáticas específicas de cada matéria. Se mudamos de ponto de vista e, em 
vez de nos fixar na classificação tradicional dos conteúdos por matéria, consideramo-los segundo a tipologia conceitual, 
procedimental e atitudinal, poderemos ver que existe uma maior semelhança na forma de aprendê-los e, portanto, de ensi-
ná-los, pelo fato de serem conceitos, fatos, métodos, procedimentos, atitudes, etc., e não pelo fato de estarem adstritos a 
uma ou outra disciplina.” (p.41). Cansei de participar de congressos em que alguns palestrantes que sequer estão atentos ao 
que acontece nas salas de aulas, nas relações de poder, nas ideologias, “perseguições, embates nada “dialéticos”, professo-
res conspirando contra diretores e, vice-: ZABALA, Antoni. Prática educativa: como ensinar. Porto Alegre: Artes 
Médicas, 1998. 
13 A Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB – Lei n.o 9.394/96) e a Deliberação 07/2000 do Conselho Estadual 
de Educação (CEE) explicitam a obrigatoriedade de um Projeto Pedagógico que aponte as finalidades da escola, seu 
papel social e a clara definição dos caminhos, formas operacionais e ações a serem empreendidas por todos os envol-
vidos com o processo educativo. 
A Magia da Ensinagem 
11 
 
pessoas de sua caverna úmida de sombra produz um caos, pois haverá uma desordem na mente 
dos homens pela “fome pantagruélica” da transformação. Professores deveriam ser estimulados a 
explorar as possibilidades de perturbação, transgressão e subversão das identidades14 existentes. 
Infelizmente, os salários e as condições de trabalho para professores vêm se deteriorando 
de forma assustadora. Assim, a antiga distinção e o respeito da profissão15 já se perderam pelo 
meio do caminho, e a pergunta-chave é essa: como atingir o clímax da valorização? 
Como a educação não sobrevive sem a política, aí vai um texto interessante que na condi-
ção de biólogo faz lembrar um pouco da minha carreira profissional. 
“Um pobre lavrador escocês, um dia, enquanto trabalhava, ouviu gritos de socorro que vinham de um pân-
tanovizinho. Imediatamente, interrompeu sua tarefa e ao chegar ao local, viu um menino, enlameado até à cintura, 
afundando lentamente. A morte parecia próxima. Experiente e ágil, o camponês salvou a criança, abrigou-a e fez 
com que se recuperasse do trauma. No dia seguinte, uma carruagem, riquíssima, chegou à humilde casa do escocês. 
Um nobre, elegantemente vestido, era o pai do menino que o lavrador salvara, sinceramente agradecido ofereceu ao 
lavrador uma grande recompensa em dinheiro. O camponês recusou-a afirmando que fizera o que fizera por amor 
ao próximo, à criança, sem nunca pensar em recompensa. Vendo, entretanto, o filho do camponês, pediu, então, o 
nobre, que permitisse a ele, pelo menos, dar uma educação de primeira ao menino. Nisto, o lavrador consentiu. 
Anos mais tarde, o filho do pobre camponês escocês, da família Fleming, inventaria a penicilina, que viria a salvar 
milhares de vidas. Por obra do destino, o filho do nobre Randolph, o jovem Winston Churchill, veio a ser, também, 
salvo pela penicilina, inventada pelo filho do camponês que seu pai educara. Assim é o efeito multiplicador do bem, 
assim o destino remunera os que não se deixam iludir pela especulação, pela ganância, mas que acreditam em algo 
maior e eterno. A grandeza está em ser útil. Quando tratamos de problemas de terceiros é preciso que nos coloque-
mos no lugar das pessoas. Quando o problema é coletivo, maior ainda a necessidade de se pensar no bem comum, no 
socorro pedido pela maioria”. 
Como a educação é uma ferramenta de libertação, Saramago (in memorian) respalda a im-
portância ao professor nesses tempos de crise, quando escreveu que "a globalização é um totalitaris-
 
14 De acordo com as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental, o reconhecimento de identidades 
pessoais é uma diretriz para a Educação Nacional, diversidades e peculiaridades básicas relativas ao gênero masculino e 
feminino, às variedades étnicas, de faixa etária e regionais e às variações socioeconômicas, culturais e de condições psico-
lógicas e físicas presentes nos alunos de nosso país. 
15 A profissionalização do ensino, segundo Tardif, busca renovar os fundamentos epistemológicos do ofício do profes-
sor. Por 
epistemologia da prática profissional, o autor define o estudo do conjunto dos saberes utilizados realmente pelos profis-
sionais em seu espaço de trabalho cotidiano para desempenhar todas as suas tarefas. 
A Magia da Ensinagem 
12 
 
mo. Totalitarismo que não precisa nem de camisas verdes, nem castanhas, nem suásticas. São os ricos que governam 
e os pobres vivem como podem". 
E tudo começa com o incentivo à leitura, uma vez que é na relação com o aluno naquilo 
que eu mostro para ele que eu admiro, que eu gosto, que vale a pena saber, e que é importante 
para ele ficar sabendo também. Eu nunca vou saber mais do que ele; daqui a pouco ele vai saber 
muito mais do que eu. Eu vou saber conduzir melhor. 
Há quem diga que professor é como vinho, “quanto mais velho, melhor”, o que lembra os 
três estágios na vida do professor (Roland Barth16). 
Porém, o que assisto é típico “apagão escolar”. Cada vez menos jovens querem ser pro-
fessores e mais professores desistem da profissão. 
Do outro lado, tenho assistido cada “tranqueira” entrando em sala de aula, denegringo 
com ofício de “ser” professor. 
Existem vantagens em envelhecer no magistério? Certamente. Que momento é melhor ou 
pior? Difícil dizer, pois cada idade tem seus sofrimentos e suas alegrias, envolve riscos e oferece 
encantos. É só pagando para ver... 
Uma das formas de encantamento está no incentivo à leitura para os alunos – eis a dife-
rença! 
Aos sete anos (1969), motivado pela minha professora, me “caiu” nas mãos, um texto de 
Pablo Neruda (em português – 1969) com os seguintes dizeres: 
− foi nessa idade que a poesia me veio buscar; 
− não sei de onde veio - do inverno, de um rio; 
− não sei como nem quando -= não, não eram vozes; 
− não eram palavras - nem silêncio; 
− mas da rua fui convocado; 
− dos galhos da noite; 
− abruptamente entre outros; 
− entre fogos violentos; 
− voltando sozinho; 
 
16 Roland Barthes (Cherbourg, 12 de Novembro de 1915 — Paris, 26 de Março de 1980) foi um escritor, sociólogo, crítico literá-
rio, semiólogo efilósofo francês. Formado em Letras Clássicas em 1939 e Gramática e Filosofia em 1943 na Universidade de Paris, fez parte 
da escola estruturalista, influenciado pelo linguista Ferdinand de Saussure. Crítico dos conceitos teóricos complexos que circularam dentro dos centros 
educativos franceses nos anos50. Entre 1952 e 1959 trabalhou no Centre national de la recherche scientifique - CNRS. 
 
A Magia da Ensinagem 
13 
 
− lá estava eu sem rosto; 
− e fui tocado." 
Assumi a profissão de professor na década de oitenta, como um grande leitor, do qual me 
orgulho, apesar de hoje estar ciente de que essa busca frenética por livro advêm, à luz da psicaná-
lise de algo que não ouso assumir – uma patologia vocacionada à linguística, cujo preço, paguei 
caro enquanto aluno até o nível de aluno “especial” no doutorado. 
Nesta década do século 2012, ainda tenho alguns questionamentos pertinentes para todos 
nós professores: 
- O que é ser professor no século XXI? 
- O que mudou no mundo? 
- Novas práticas nas relações humanas, econômicas, políticas, sociais e culturais 
- A que distância os professores estão do professor do século XXI? 
- Que novos arranjos educativos devem surgir para favorecer a prática17 docente no sé-
culo XXI? 
- A identidade do ‘professor do Século XXI’ se diferencia do que o professor não é ? 
- Ser professor é ser um não ‘professor do Século XXI’? 
No mundo muda tudo, ou seja, visão de mundo, de sociedade, de educação e de trabalho. 
Nessa crise de paradigmas, fica a pergunta: Para onde vai a Educação? 
Seria, como proposta para uma discussão estimular, em matéria de identidade, o impensa-
do e o arriscado, o inexplorado e o ambíguo, em vez do consensual e do assegurado, do conheci-
do e do assentado? 
Ou seja, Favorecer, enfim, toda experimentação que torne difícil o retorno do eu e do nós 
ao idêntico. 
Já estamos em 2012 e, sempre alguém pergunta o que é “ser” professor no Século XXI? 
Deleuze assim responde: “Devir é jamais imitar, nem fazer como, nem ajustar-se a um modelo(...). Não há 
um termo de onde se parte, nem ao qual se chega ou se deve chegar. (...) Pois à medida que alguém se torna, o que 
ele se torna muda tanto quanto ele próprio. Os devires não são fenômenos de imitação, nem de assimilação, mas de 
dupla captura, de evolução não paralela, núpcias entre dois reinos. (DELEUZE, 1998). 
 
17 A prática e a reflexão têm sido tratadas, frequentemente, como atividades separadas. Apesar de muitos profissionais 
interessarem-se mais pela prática, desprezando o valor da teoria, e outros estarem mais voltados para a reflexão teórica 
minimizando a prática, essas duas dimensões da atividade humana são inseparáveis, uma alimentando a outra. 
A Magia da Ensinagem 
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Para romper um jargão de senso comum costumo afirmar que dar aula para alunos vira 
dar aula com alunos.) 
“Anteontem, o professor falava a alunos dispostos a acatar; ontem a certos alunos pré-dispostos a discor-
dar; hoje, tem auditório de surdos”. Yves de La Taille. 
Confesso que muitas vezes, pensei em abandonar o magistério (ensino fundamental e mé-
dio) diante das circunstâncias enfrentadas nessa micro-sociedade. O conflito iniciava-se com alu-
nos que simplesmente compareciam às aulas para marcar presença, debochados, desinteressados, 
faltosos, e, de outro, alguns professores, com aquela “máxima” – finge que ensina e, o aluno finge 
que aprende. 
Já fui criticado por tentar descrever o mundo pela Filosofia. Oras, para quem nunca leu 
Filosofia, “filosofar é contemplara sabedoria acima de tudo o que é mundano”. Para o meu ami-
go José F (de filósofo) Woehl, “... a filosofia é uma espécie de exumação intelectual que revisita pensamentos. 
Mas basta uma pequena limpeza na lente que vislumbra o mundo e rapidamente esses clichês são dilacerados”. 
Alguns alunos meus, em especial na área da Biologia afirmavam que os que creem que a fi-
losofia é um devaneio extra-mundano, eu rebatia citando Platão: “Os deuses não filosofam” afirma ele 
em bom grego. Não filosofam porque filosofar é saber-se incompleto. O filósofo está sempre entre aquele que ignora e 
aquele que tudo sabe. 
A eles nunca negarei de que a filosofia é um percurso sem fim do homem e para o ho-
mem. Aos tolos (políticos, alguns professores, médicos, advogados) que creem que a filosofia é 
“palavra morta”, procuro buscar em Heidegger para quem “filosofar não é um acúmulo de informações 
passível de demonstração lógica” 
O prof Arlindo é filósofo, pois antes de tudo, ser iniciante porque envolve uma constante 
retomada daquilo mesmo que inicialmente levava a pensar. É o retorno renovado à origem que 
nunca permanece isolada num passado desprovido de sentido. O passado sempre participa das 
decisões do futuro, sempre gera novas possibilidades. E Heidegger arremata, “o que causa pânico em 
meus críticos: uma coisa é verificar as opiniões dos filósofos e descrevê-las”. Outra coisa bem diferente é filoso-
far com eles. 
Como biólogo, afirmo que o ser humano vai se moldando com o tempo e corrigindo suas 
imperfeições. Erramos e vamos errar muito. Contudo, o mais importante é errarmos “certo” para 
aprendermos e corrigirmos a tempo e assim sucessivamente até atingir o sucesso que buscamos. 
Convivi com excelentes professores, politizados, mas convictos de seu papel na educação, 
atuando como mediadores, superando leituras de Vygotsky, “deixando” que eu lesse obras-primas 
da biblioteca. 
A Magia da Ensinagem 
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E com suas palavras, lembram Cecília Meireles, quando escreveu num belo poema que a 
palavra atua como uma potência e um lugar onde tudo principia: 
(...) Ai, palavras, ai, palavras, que estranha potência a vossa / ! 
Ai palavras, ai palavras, sois de vento, ides no vento; / 
no vento que não retorna, e, em tão rápida existência / 
tudo se forma e se transforma”.(...) 
Ai, palavras,ai, palavras, 
Que estranha potencia. A vossa! 
Todo o sentido da vida principia à vossa porta; 
o mel do amor cristaliza seu perfume em vossa rosa; 
sois o sonho e sois a audácia, calúnia, fúria, derrota...” 
Às vezes, ouço de professores que são convocados, patrocinados ou, por vontade própria 
de participarem de workshop, congressos, seminários, congressos e fóruns sobre educação, de que 
“os palestrantes viajam na concepção de escola18”. 
A eles eu digo que a cidade de Pasárgada (Manoel Bandeira) é o porto seguro. Nessa cida-
de, haveria uma escola com uma pedagogia libertária – em simbiose com a libertadora. 
Nesses cursos que participam, muitos professores vibram quando o tema é motivação, 
dança daqui, dali, animações, piadas, sátiras sobre professor. Outros resmungam, pois são mo-
mentos privilegiados para debater os (en)caminhos da educação. Há professores que avaliam ne-
gativamente um palestrante por ter sido, digamos, muito “prático” nas abordagens, outros, po-
rém, se dizem enojados com o elenco de autores recitados de verso e prosa. 
Há professores que fazem desses eventos um “divã de psicanalista”, práticas de queixumes 
(muro das lamentações), e há também aqueles “safadinhos” que vão em busca de um certificado 
para um acesso no plano de carreira ou incluir no curriculum Lattes (coitado – do Lattes – se 
soubesse por que essa plataforma do CNPq vem sendo usada...) 
A pergunta que fica no ar: “Há receita para ensinar”? Essa angústia acomete professores de 
todos os níveis de ensino, uma vez que envolve pedagogia, currículo e avaliação1920. 
 
18 A contribuição da escola é a de desenvolver um projeto de educação comprometida com o desenvolvimento de capa-
cidades que permitam intervir na realidade para transformá-la. 
19 “Conforme se entenda o conhecimento, a avaliação vai – deve ir – por uns caminhos ou por outros. E, quando a des-
ligamos do conhecimento, nós a transformamos numa ferramenta meramente instrumental que serve para tudo, embora 
realmente valha para muito pouco no campo da formação integral das pessoas que aprendem, seja no âmbito intelectual 
ou profissional, seja no plano da aprendizagem ou do ensino, seja no plano da implementação do currículo” (p.29). Cansei 
de participar de congressos em que alguns palestrantes que sequer estão atentos ao que acontece nas salas de aulas, nas 
relações de poder, nas ideologias, “perseguições, embates nada “dialéticos”, professores conspirando contra diretores e, 
A Magia da Ensinagem 
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Esse tripé poderia ser o norteador deste livro, porém, insisto em afirmar que formação 
continuada vai além de um “palestrão”, cujas implicações na prática pedagógica são deveras ques-
tionáveis. 
No que tange à formação continuada, sem entrar no mérito da escolha dos professores 
“selecionados” nas unidades escolares para participarem, até porque nunca ouvi dizer que algum 
professor excluído recorreu ao Ministério Público, tem o agravante de que não criados “espaços” 
para repasses, ou seja, quem participou guarda para si as (in)formações, não socializando com os 
colegas os materiais recebidos ou as provocações suscitadas que, em muitos casos, podem contri-
buir para o projeto pedagógico. 
Leia a seguinte melodia: Rumo dos Ventos (Paulinho da Viola) 
A toda hora rola uma estória 
Que é preciso estar atento 
A todo instante rola um movimento 
Que muda o rumo dos ventos 
Quem sabe remar não estranha 
Vem chegando a luz de um novo dia 
O jeito é criar um novo samba 
Sem rasgar a velha fantasia. 
Ela tem algo ver com projeto pedagógico de sua escola? Desvende o mistério! 
Há questões pontuais que merecem de certa forma um “flerte” neste livro, ou seja, da ava-
liação21, planejamento22, conselhos de classe, metodologias e relações de poder. 
Quero deixar claro, que há bibliografias pertinentes sobre tais temas, mas através de narra-
tivas pessoais vivenciadas por este autor, elas convergem para tais embates, uma vez que, profes-
 
vice-: ALVAREZ MENDEZ, Juan Manoel. Avaliar para conhecer, examinar para excluir. Porto Alegre: Artmed Edi-
tora, 2002. 
20 Para a superação de uma avaliação técnica, autoritária e conservadora, Cipriano Luckesi em seu livro “Avaliação da 
Aprendizagem Escolar” propõe um outro modelo, denominado “Avaliação Diagnóstica”. 
21 Conceber e nomear o “fazer testes” e o “dar notas” como avaliação é uma atitude simplista e ingênua! Significa redu-
zir o processo avaliativo, de acompanhamento e ação com base na reflexão, a parcos instrumentos auxiliares desse proces-
so, como se nomeássemos por bisturi um procedimento cirúrgico. Cansei de participar de congressos em que alguns pales-
trantes que sequer estão atentos ao que acontece nas salas de aulas, nas relações de poder, nas ideologias, “perseguições, 
embates nada “dialéticos”, professores conspirando contra diretores e, vice-:Cansei de participar de congressos em que 
alguns palestrantes que sequer estão atentos ao que acontece nas salas de aulas, nas relações de poder, nas ideologias, 
“perseguições, embates nada “dialéticos”, professores conspirando contra diretores e, vice. Cansei de participar de con-
gressos em que alguns palestrantes que sequer estão atentos ao que acontece nas salas de aulas, nas relações de poder, nas 
ideologias, “perseguições, embates nada “dialéticos”, professores conspirando contra diretores e, vice- HOFFMANN, 
Jussara. Avaliação mediadora: uma relação dialógicana construção do conhecimento. São Paulo: FDE, 1994 
22 A autora Sandra Corazza defende o planejamento justificando que a ação pedagógica é uma forma de política cultural 
que deve ser planejada, posto que tal ação é uma intervenção intencional. Para ela, é importante planejar para poder se 
contrapor ao currículo oficial e ao discurso único; para atuar de forma contra-hegemônica; para colocar nossos planos em 
suspeição; para realizar uma prática reflexiva. 
A Magia da Ensinagem 
17 
 
sores têm o compromisso de aprimorar o conhecimento, no campo técnico através de suas res-
pectivas formações acadêmicas, e , paradidáticos. 
Ler Paulo Coelho, Sidnei Sheldon, ...., periódicos semanais contribuem, mas não é tudo! 
Não se pode viver de “receitas” produzidas em revistas como a “Nova Escola” para avançar 
nas metodologias. É preciso um algo “mais”. E é aí que está o “nó górdio” na educação. Ou seja, 
por escolhi a profissão de “mestre”? 
Muitas pessoas aderiram ao magistério por falta de opção no mercado, isto é tornaram-se 
professores a “fórceps”, outros, seguiram a tradição da família, mais especificamente do gênero 
feminino. 
Graciliano Ramos, no livro São Bernardo (1934), deve ter sido o primeiro a registrar essa si-
tuação de desconforto da profissão, por conta da lógica capitalista e, ao fazer da profissão do ma-
gistério – algo para mulheres. 
Num dos diálogos entre duas personagens (Paulo Honório e Madalena), trava-se uma disputa - por meio 
do discurso - sobre valores sociais. De um lado, estão os esforços e as trapaças de Honório para adquirir e sustentar 
uma fazenda; de outro, estão o empenho e o tempo despendidos à formação da professora Madalena. No ápice do 
embate discursivo, Honório diz que "... professorinhas de primeiras letras, a escola normal fabrica às dúzias. Uma 
propriedade como São Bernardo (nome da fazenda) era diferente". 
Num primeiro momento, as palavras de Honório sobre a formação de professores podem causar apenas in-
dignação. Todavia, parece-me que refletir sobre isso seja prudente e válido. Antes, é bom lembrar: à escola normal 
daquela época, basicamente, eram encaminhadas as jovens de certa condição econômica. A maioria delas nem exer-
cia a profissão. Um "bom casamento", no modelo burguês, garantia o futuro de muitas moças. 
Não é toa, que pelas estatísticas do MEC, o número de mulheres lecionando supera e mui-
to, o de homens da educação infantil ao ensino médio. No ensino superior, há uma certa paridade 
entre ambos, cujas variáveis são inúmeras, o que não merece aqui uma abordagem. 
E, no decorrer dos anos, a percepção governamental de que mulheres que lecionam são 
casadas e, tem um marido que sustenta a “casa”, uma visão de família patriarcal, foi induzindo o 
magistério ao sacerdócio, com baixos salários – realidade essa percebida na maioria dos estados 
brasileiros. 
Para os críticos contra maus professores que fazem do magistério um “bico”, lembro que 
temos na sociedade, maus médicos, maus advogados, sem contar os juízes, tribunais afora. 
Essa convivência traumática nas escolas, faz com o que o “bom” professor se desencante 
diante do que assiste, corroborando muitas vezes com as práticas nefastas balizadas por gestores 
mal intencionados. Essa perda na crença de que a educação transforma, faz com que a reprodução 
A Magia da Ensinagem 
18 
 
cultural perpetue-se de tal forma, que ministrar uma aula – torna-se, pois, uma mera formalidade, 
e isso anos, após ano. 
Até que chega a tão “sonhada” aposentadoria. Ao olhar para trás, enganadores travestidos 
de educadores, visualizam livros com páginas em branco, pois nada fizeram para mudar, quando 
muito, “engaiolaram” alunos, tais quais pássaros aprisionados que escola cerceou o direito de gor-
jear, ou melhor, dizer ao mundo para que vieram. 
É o currículo, a avaliação, as relações de poder, uma pedagogia23 “sebosa”, “jurássica”, que 
contribui para a formação de sujeitos que não transformam nada, péssimos eleitores, maus leito-
res, acríticos, alienados e, despojados de direitos constitucionais. 
O “mau” professor, caracterizado por tantos adjetivos pelas bibliografias afora, é um mau 
leitor, reprodutor, não cria, somente copia, pesquisador copista, repete os mesmos exemplos e 
conteúdos24, anos após anos, como se o mundo fosse imutável, desconhece as teorias pedagógi-
cas, behaviorista, do tipo “siga o modelo”. Avaliações fúteis, com questões hilárias reproduzidas 
na antiga “escolinha do prof Raimundo, na Rede Globo, pelo Tiririca, na aulinha do Gugu, que 
colocam o professor no plano de palhaço. Perguntas como, por exemplo, “em quantas partes se 
divide o camarão? E, um aluno responderia, “depende a cacetada”. 
Eu também fui responsável por perguntas tolas e sem sentido, sendo que numa delas, per-
guntei numa disciplina de Botânica: “Qual é a função das células ‘companheiras25’ no floema? Um aluno 
respondeu: “elas servem para ajudar as ‘necessitadas’”. 
Numa outra situação, como última questão, solicitei aos alunos construírem uma cadeia ou 
teia alimentar envolvendo um esquimó. Ao ler uma resposta, o aluno colocou que o ‘picolé’ havia 
derretido’. Demorei para entender que ele estava se referindo a uma marca de sorvete na cidade 
(aula de Ecologia, numa instituição de ensino superior). Um aluno, numa prova com questões 
abertas, deixou nove em branco, e de forma elegante, respondeu na décima, “desculpe querido 
professor Arlindo, mas infelizmente essa (sic) eu não sei”. 
 
23 A relação entre escola e sociedade apoia-se numa prévia noção sobre o que seja a sociedade. 
24 O modo de o professor trabalhar os conteúdos em sala de aula espelha a visão que ele tem da função social da escola. 
25 células companheiras são células parenquimáticas especializadas, que contém todos os componentes que existem 
nas células vivas, inclusive o núcleo. O Elemento do tubo crivado e suas células companheiras estão relacionados no de-
senvolvimento, são derivados da mesma célula mãe e têm várias conexões citoplasmáticas entre si. A possível função das 
células companheiras é a de liberar substâncias para o elemento do tudo crivado, e, quando o núcleo deste estiver ausente, 
incluir moléculas de informação, proteínas e ATP. Quando um elemento crivado morre, morrem também suas células 
companheiras, o que é uma demonstração dessa interdependência. 
A Magia da Ensinagem 
19 
 
Chega de aventurar-se pelos (des)caminhos da avaliação, pois há muito para escrever, para 
que você querido(a) leitor(a), deleite-se com o que vem pela frente. Antecipadamente, peço des-
culpas, se você esperava “receitas”, autores, técnicas de ensinagem, meios de avaliação. 
Avaliação é o elemento integrador entre aprendizagem e ensino, seu objetivo é a orienta-
ção da intermediação pedagógica. 
Por trás de qualquer proposta metodológica se esconde uma concepção de valor que se 
atribui ao ensino assim como certas ideias mais ou menos formalizadas e explícitas em relação aos 
processos de ensinar e aprender. Daí às perguntas: “qual a função social do ensino?” e “que fina-
lidade deve ter o sistema educativo?” respondem-se com outra pergunta: “o que pretendemos que 
nossos alunos consigam?” 
Fiz a opção em não colocar, por que haverá alguém que ao terminar este livro, desconten-
te, dirá “é sempre a mesma coisa”. Por ele, é que abro mão das leituras que que fiz(faço), de for-
ma egoísta, guardando para mim, numa alusão ao filme/livro “guardião de memórias”(autor - 
Kim Edwards) – história de um médico que fez das fotografias uma linda contação. Prefiro ser 
mais objetivo, ou seja, compartilhar com você (desculpe-me pelo tratamento informal) das belezas 
que o magistério me ofereceu, dos amigos, dos “indiferentes”, dos alunos (em especial), dos pais, 
dos funcionários, pois uma escola para ser completa deve dialogar com todos os seus pares. Ten-
tei fazer o melhor, errei, com certeza, mas tambémacertei também, e isso ninguém tira de mim. 
Quanto à capa do livro, não se assuste, o cão Cérbero26 joga no inferno de Dante os três 
níveis de ensino. Aos poucos, você vai percebendo que trata-se apenas de uma ilusão, pois ser 
professor é algo divino, maravilhoso, pena que nem todos percebam que podemos sim, fazer a 
diferença. 
Divirta-se, chore, ria, reflita, copie, recrie, faça de meu livro um espelho e se veja nele, pois 
foi com carinho que escrevei a você, na sua singularidade, pois dessa forma, completo mais um 
ciclo, ou seja, plantei uma árvore, tive filhos, e, estou deixando um livro... 
Querido(a) professor(a), me comparo a você como a “ave da mitologia grega”, isso quer 
dizer que renascemos das cinzas. Mesmo atingidos pela tristeza, e mesmo que sejam poucas as 
palavras para expressarmos a nossa dor, ainda assim, algumas poucas nos acorrem como um bál-
samo, e que talvez nos ajudem a enfrentar melhor a adversidade. Dentre elas, escolho três: solida-
 
26 Na mitologia grega, Cérbero ou Cerberus (em grego, Κέρβερος – Kerberos = "demónio do poço") era um monstruoso cão 
de múltiplas cabeças e cobras ao redor do pescoço que guardava a entrada do Hades, o reino subterrâneo dos mortos, 
deixando as almas entrarem, mas jamais saírem e despedaçando os mortais que por lá se aventurassem. Fonte: 
http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%A9rbero. 
A Magia da Ensinagem 
20 
 
riedade, coragem e esperança. É o tripé norteador de um professor compromissado com um 
mundo mais justo e solidário 
Resumindo, “guerreiro” da educação, ao parafrasear Hermann Hesse, “... nada lhe posso 
dar que já não exista em você mesmo. Não posso abrir-lhe outro mundo de imagens, além daque-
le que há em sua própria alma. Nada lhe posso dar a não ser a oportunidade, o impulso, a chave. 
Eu o ajudarei a tornar visível o seu próprio mundo, e isso é tudo. 
Desculpe-me se este livro não atingiu os objetivos que você pretendia... 
 Abraços 
Don Arlindo (apelido dado pelo meu amigo, prof Oto, que eu estimo muito) 
A Magia da Ensinagem 
21 
 
CAPÍTULO 2 – ALUNOS E PROFESSORES – FARTAS HISTÓRIAS... 
A ILUSÃO DO ENSINAR 
 
A Velha Escola de Nhazinha Gata, aquarela de Diógenes Paes 
Freinet estava certo quando escreveu que “está fadado ao fracasso qualquer método 
que prenda fazer beber água o cavalo que não tem sede”. 
Por isso, Paulo Freire escreveu que a democracia é, como o saber, uma conquista de todos. Toda a 
separação entre os que sabem e os que não sabem, do mesmo modo que a separação entre as elites e o povo, é apenas 
fruto de circunstâncias históricas que podem e devem ser transformadas. 
Devemos refazer a educação, reinventá-la, criar as condições objetivas para que uma edu-
cação democrática seja possível, criar alternativas pedagógicas que favoreçam o aparecimento de 
um novo tipo de pessoas, solidárias, preocupadas em superar o individualismo criado pela explo-
ração capitalista do trabalho, preocupadas com um novo projeto social e político que construa 
uma sociedade mais justa, mais igualitária nessa segunda década do século XXI. 
Há fórmulas ou receitas para melhorar a qualidade das aulas. Insisto, que sejamos professores 
adeptos do serendipitismo. A língua inglesa tem uma palavra -serendipity- para a qual é difícil en-
contrar equivalente em português. Ela define uma situação em que alguém, por acaso ou acidente, 
faz uma descoberta feliz e/ou inesperada. 
O termo vem do persa (sarandip), um dos primeiros nomes do país agora chamado Sri Lanka. 
Havia na Pérsia um conto de fadas chamado "As Três Princesas de Sarandip", cujas personagens 
A Magia da Ensinagem 
22 
 
principais tinham lampejos em suas viagens ao se encontrarem em situações ou lugares ou acha-
rem coisas que não haviam buscado. 
E que século é esse que só faltam 98 anos para acabar, o que estamos fazendo para muda-
lo, você se deparou com a sua responsabilidade? 
Eis uma sinopse do século XXI e suas provocações para o magistério 
 
DOMÍNIO CARACTERÍSTICAS PONTOS DE ACOPLAMENTO 
Didático Estar aberto a ouvir; 
Estar em uma relação constante de 
aprendizagem; 
Desenvolver uma ecologia de sabe-
res; 
Superar os resquícios de transmis-
sor do saber; 
Ser pesquisador 
Acreditar na educação como ins-
trumento de transformação; 
Ser facilitador do processo; 
Dar oportunidades aos alunos de 
aprenderem de diferentes maneiras; 
Trabalhar com realidade de Século 
XX e se encontrar num período de transi-
ção. 
Ser formado com base em pressu-
postos de séculos anteriores, mas as de-
mandas que se depara são de uma comple-
xidade atroz. 
Postura 
Abordagem 
Formação 
Dinamicidade 
Interatividade 
Complexidade 
Transitoriedade 
Dialógico 
Convivencialidade Atualização 
Social Ser ético 
Estar antenado com seu entorno e 
com o mundo sem perder a afetividade; 
Afetividade 
Valores sociais 
Solidariedade 
A Magia da Ensinagem 
23 
 
Midiático Dominar as novas tecnologias para educar 
em rede; 
Estar antenado às múltiplas possibilidades 
de expressão e comunicação; 
Incluir as tecnologias atuais em nosso coti-
diano e provocar novas descobertas; 
Criar ambientes de aprendizagem; 
Ter conhecimento das mídias 
Modelagem 
Integração 
Domínio 
Conhecimento 
Cooperação 
Político Estar disposto a gerenciar sua formação; 
Ser um professor que luta pelo que faz; 
Ser multiplicador 
Mobilizar seus saberes e poderes e conec-
tar-se com este novo mundo; 
Descentralização 
Mobilização 
Ambiguidade 
 
Eu me vejo numa citação de Ítalo Calvino, belíssima, que desejo partilhar com você: 
“Quem somos nós, quem é cada um de nós, senão uma combinação de experiências, de informações de leituras, de 
imaginações? Cada vida é uma enciclopédia, uma biblioteca, um comentário de objetos, uma amostragem de estilos, 
onde tudo pode ser continuamente remexido e reordenado de todas as maneiras possíveis”. 
Assim é o professor que ensina para quem adentra nas salas de aula. Gente, tratando-se de 
alunos, “diferente” – ávidos em aprender. 
Professores e alunos são, digamos, uma espécie diferente, por que: 
- não somos pré-determinados inatamente; 
- somos artefatos humanos; 
- produzimo-nos historicamente em um determinado tempo e lugar; 
- nesse momento, concluo que a humanidade funda-se na diferença e, cada pessoa é úni-
ca; 
- somos criados historicamente em um determinado tempo e lugar; 
- nós nos produzimos e forjamos pelo trabalho, na convivência social; 
- é no cadinho das relações sociais que se forja a têmpera humana; 
- é no ateliê da conviviabilidade que se cria o artefato humano; 
- nos construímos como gente na relação social 
A Magia da Ensinagem 
24 
 
O sujeito traz uma história que precisa ter espaço para ser contada, uma experiência a ser 
contemplada no contexto educacional. 
Espero que este “vá” além da clivagem teórico-prática, podendo constituir-se numa refe-
rência para todos os profissionais da aprendizagem. 
Que você educador, tenha coragem para não entregar os pontos, para enfrentar o precon-
ceito, coragem para mudar os rumos do país pelo voto consciente, para exigir justiça, para lutar 
contra a violência e a impunidade, para combater a corrupção, para resistir aos poderosos e de-
nunciar suas manobras espúrias que transformam o bem público em instrumentos mantenedores 
de benefícios privados. Morra por uma causa justa!!! 
Sempre fui um professor exigente, cobrei de meus filhos e alunos, conhecimentos sobre 
alguns ícones tais como: Ptolomeu, Kepler, Galileu, Newton, Koock, Spallanzani, Boile-Mariotti, Mendel 
Pasteur, Madame Curie, Einstein, Carlos Chagas, Oswaldo Cruz, César Lates. Mas certamente reconhecem a 
importância de outros como Piaget, Vygotsky, Anísio Teixeira, Paulo Freire, Leonardo Da Vince, Michel Ânge-
lo, Rembrant, Goya, Picasso, Quino, Henfil, Portinari, Zé da Silva, Raimundo de Oliveira, Erasmo de Roter-
dan, Cervantes,Camões, Fernando Pessoa, Sartre, Brecht, Maiakovsky, Saramago, Borges, Graciliano Ramos, 
Guimarães Rosa, Monteiro Lobato, Machado de Assis, Castro Alves, Cecícia Meireles, Patativa do Assaré, 
Beethoven, Tchaicovsky, Noel Rosa, Pixinguinha, Chico Buarque, Milton Nascimento, Elomar, Taiguara, Olo-
dum. 
Este professor (Arlindo) era criticado por falar muito em nomes que fizeram a diferença 
para a humanidade27, entre eles: Buda, Confúcio, Lao-Tse, Jesus Cristo, Maomé, São Francisco de 
Assis, Karl Marx, Rosa Luxemburg, Gandhi, Martin Luther King, Madre Tereza de Calcutá, 
Zumbi dos Palmares, Che Guevara, entre outros como o prof Antônio Dias para o ensino de 
Matemática em Mafra, Paulo Hentz para o ensino público em Santa Catarina e, o Arlindo, quando 
começou a lecionar na Escola Luiz Bernardo Olsen em Volta Grande, Rio Negrinho-SC. 
Em alguns momentos de minha vida, ávido em aprender a ler e escrever, encontrei num 
baú um livro em papel verde sobre a morte. Foi o primeiro livro escondido que lia, tentando se 
alfabetizar sozinho. 
Lá fora, prisões de professores, estudantes, operários, padres, meu pai “desaparecido” sem 
nenhum sentido, nenhum amigo frequentando minha casa, medo de repressão, minhas irmãs 
mergulhadas em suas angústias, meu irmão mais novo pedindo carinho, minha outra irmã des-
 
27 A maiêutica é uma concepção didático-pedagógica segundo a qual professor e aluno devem entrar em diálogo, orientado 
pelo questionamento do mestre, até que o aluno descubra a verdade que já lhe pertence. 
A Magia da Ensinagem 
25 
 
cendo todos os dias com livros dos Irmãos Grimm. O cenário era tétrico – muito frio – geadas 
prolongadas, doações de roupas e alimentos dos Estados Unidos. 
Naquele cenário empobrecido, sem nenhuma perspectiva, eu seria a Liesel, personagem 
do livro “A menina que roubava livros” (Entre 1939 e 1943, Liesel Meminger encontrou a morte três vezes. E 
saiu suficientemente viva das três ocasiões para que a própria, de tão impressionada, decidisse nos contar sua histó-
ria, em 'A menina que roubava livros'. Desde o início da vida de Liesel na rua Himmel, numa área pobre de 
Molching, cidade próxima a Munique, ela precisou achar formas de se convencer do sentido de sua existência. Ho-
ras depois de ver seu irmão morrer no colo da mãe, a menina foi largada para sempre aos cuidados de Hans e Rosa 
Hubermann, um pintor desempregado e uma dona-de-casa rabugenta. Ao entrar na nova casa, trazia escondido na 
mala um livro, 'O manual do coveiro'. Num momento de distração, o rapaz que enterrara seu irmão o deixara cair 
na neve. Foi o primeiro dos vários livros que Liesel roubaria ao longo dos quatro anos seguintes. E foram esses 
livros que nortearam a vida de Liesel naquele tempo, quando a Alemanha era transformada diariamente pela 
guerra, dando trabalho dobrado à Morte. O gosto de roubá-los deu à menina uma alcunha e uma ocupação; a sede 
de conhecimento deu-lhe um propósito. E as palavras que Liesel encontrou em suas páginas e destacou delas seriam 
mais tarde aplicadas ao contexto da sua própria vida, sempre com a assistência de Hans, acordeonista amador e 
amável, e Max Vanderburg, o judeu do porão, o amigo quase invisível de quem ela prometera jamais falar. Há 
outros personagens fundamentais na história de Liesel, como Rudy Steiner, seu melhor amigo e o namorado que ela 
nunca teve, ou a mulher do prefeito, sua melhor amiga que ela demorou a perceber como tal.) 
Eu também tentei mudar o mundo, e fiz isso, em algumas vezes roubando livros e não 
brinquedos que ficavam vulneráveis nas casas vizinhas. 
Não sei o autor, mas vá lá: “O educador deve respeitar a autonomia de seu educando, seja ele criança, 
jovem ou adulto. O educador deve estar constantemente advertido com relação a este respeito que implica igualmente 
o que deve ter pôr si mesmo. O respeito a autonomia e a dignidade de cada um, é um imperativo ético e não um 
favor que podemos conhecer uns aos outros.” 
Quem não tem uma linda história para contar a vivência com alunos em sala de aula? 
Vou pedir autorização a uma amiga minha – excelente professora, que alfabetizou uma criança 
“cadeirante” com uma máquina de escrever, quando computador ainda era privilégio de magnatas. 
Num curso de Especialização Lato-sensu, ganhei de presente das alunas um carro metáli-
co, cujo interior, repleto de lápis de cor – todas, até o branco que até hoje não entendi para que 
serve. Um colega questionou o presente, achando-o um tanto quanto “exótico”, uma vez que ele 
sabe que nunca fui uma assumidade em desenhar. A história é longa, lhe respondi. Em 1973, 
A Magia da Ensinagem 
26 
 
quando estava na 3ª série do ensino fundamental, me deparei num bar com uma caixa de lápis de 
cor de 24 peças, mas era apenas um detalhe. O que me chamou atenção foi a caixa, com foto de 
aviões de guerra dos EUA, quem sabe um F12, sei lá! Paixão a primeira vista. Consultei a dona do 
bar sobre o preço. Pedi que ela guardasse por uma semana que eu compraria. Acordo selado, sem 
fio de bigode, com dizem os gaúchos, devido à minha pré-adolescência, nem um fio. Capinei sete 
quintais (haja exploração) e, quando fui comprar, pasmem, a filha de um político havia levado. 
Sonhei com aqueles aviões, a ponto de estudar apostilas de matemática e física para entrar ou no 
ITA ou na EPCAR (Escola Preparatória de Cadetes do Exército). 
Se existe em minha vida uma obsessão, são por caixas de lápis de cor, o que faz de mim 
um cleptomaníaco (cuidado com suas caixas). 
Fui parar na Polícia do Exército em Brasília, do qual me arrependo até hoje, diante da tru-
culência que assisti e vivenciei num ano de caserna. Haja terrorismo! 
Quando adentrei no magistério, ouvi de colegas frases do tipo, “você é jovem mas não vai 
mudar nada”. 
Pensei em abandonar tudo e ir trabalhar numa empresa. Neste instante, um aluno de 1ª sé-
rie me procurou (1982) implorando que eu fosse brincar com eles no recreio. 
Lembrei de Sísifo e o seu mito. Diz a mitologia que Sísifo foi condenado a carregar morro 
acima uma bola de mármore. Uma vez no topo, a bola vai rolar morro 
abaixo e lá se vai Sísifo carregá-la de novo, e de novo, morro acima, 
por todo o sempre, como castigo de Zeus, por ele ter enganado a mor-
te e de tapear o demônio para fugir do inferno. Assim, Sísifo teria que, 
para toda eternidade, empurrar uma pedra redonda montanha acima 
até chegar no topo. Esse mito ficou conhecido como Trabalho de Sísi-
fo e serve para simbolizar o sofrimento daqueles que nunca conseguem 
se livrar de um peso, por mais que tentem. E mesmo sabendo que a 
sua tarefa era um esforço inútil, Sísifo continuava carregando sua pedra até o topo da montanha, 
até que ela rolasse de volta. 
Esse heroísmo é para que não nos ocorra à danação de Sísifo, que se esfalfava a cada dia 
no desafio de empurrar montanha acima a pesada pedra de sua sina, para assistir desolado, alcan-
çado o cume, seu rolar desenfreado pela outra vertente abaixo, zerando todo o seu esforço, reme-
tendo-o novamente à estaca inicial de sua tarefa insana. Toda tarefa malfeita impõe retrabalho. 
Quando a tarefa é a construção de nossa História, esse re-trabalho tem um custo altíssimo em 
termos de desperdício de energias e de vidas humanas (“estrabismo” e alienação das futuras gera-
A Magia da Ensinagem 
27 
 
ções). Preço que já estamos pagando por aqui em moeda de miséria, violência, embrutecimento 
humano, indiferença, condescendência. Seja você caro(a) leitor(a) um Sísifo para que possamos 
mudar a história. Ainda dá tempo de coletivamente levarmos a bola de pedra da moralidade polí-
tica ao mais cume mais alto... 
Percebi, que mesmo diante do descontentamento de alguns colegas, e que sozinho jamais 
levaria a pedra ao topo da montanha, fiz a melhor das opções. Não me arrependo, pois para mui-
tos, EU fiz a diferença! 
 
 
 
A Magia da Ensinagem 
28 
 
CAPÍTULO 2 – COLETÂNEADE ARTIGOS 
Desde criança, sempre fui chato, incomodava os professores, lia e escrevia o que vinha à 
minha mente. Ainda faço isso. Portanto, neste capítulo fiz um compilamento de artigos diversos 
que escrevi nos últimos anos, com o fito de demonstrar a necessidade de escrever para os “ou-
tros”. 
Para facilitar, fiz uma divisão por tópicos, sendo apresentados aleatoriamente: 
 
ARTIGO 1 - A HIPOCRISIA DA NOTA PARA DESFILAR DIA 07 DE SETEM-
BRO 
 
Uma aluna de ensino fundamental de uma escola mafrense estava eufórica ao saber que ao 
participar do desfile cívico do dia 07 de setembro, vai ‘ganhar’ um ponto na média do bimestre 
que se encerra no final do mês, podendo escolher a disciplina – Segundo ela (sic), matemática28, 
que é mais difícil. Pais, professores e diretores que endossam essa promiscuidade jogam no ralo da 
baixaria pedagógica, a importância que a avaliação tem no processo ensino-aprendizagem. 
Conforme se entenda o conhecimento, a avaliação vai – deve ir – por uns caminhos ou 
por outros. E, quando a desligamos do conhecimento, nós a transformamos numa fer-
ramenta meramente instrumental que serve para tudo, embora realmente valha para mui-
to pouco no campo da formação integral das pessoas que aprendem, seja no âmbito inte-
lectual ou profissional, seja no plano da aprendizagem ou do ensino, seja no plano da 
implementação do currículo (ALVAREZ MENDEZ29, , 2002, p.29). 
 
Com que moral, decidirão nos Conselhos de Classes, em especial no final do ano, à luz das 
médias bimestrais dos alunos, quem deverá ser aprovado ou reprovado? Muitas vezes, tive a sen-
sação de estar participando, não de Conselho de Classe, mas de Tribunais de “Inquisição”, que 
não davam direito ao aluno de defender-se de avaliações “rançosas”, ancoradas em questões que 
 
28 Segundo Zabala, os conteúdos de aprendizagem não se reduzem unicamente às contribuições das disciplinas ou matérias tradici-
onais; portanto, também serão conteúdos de aprendizagem todos aqueles que possibilitem o desenvolvimento das capacidades motoras, 
afetivas, de relação interpessoal e de inserção social. 
29 ALVAREZ MENDEZ, Juan Manoel. Avaliar para conhecer, examinar para excluir. Porto Alegre: Artmed Edito-
ra, 2002. 
A Magia da Ensinagem 
29 
 
não procuram avaliar o aluno. Esse conceito, está mudando, visto que gestores vêm comerciali-
zando “notas”, como fariseus de uma pedagogia (“p” minúsculo). São esses os educadores que 
conclamam qualidade de ensino nas escolas? Com que moral? Endossam aquela famosa pergunta 
de alunos sobre qualquer atividade – “vale nota30, professor(a)”? Se “dar” essa nota, já configura 
um desvio de conduta ética dos educadores, coadjuvada por pais que sequer sabem desse meca-
nismo nefasto, deturbam ainda mais o dia 07 de setembro, como um feriado nacional e o seu sen-
tido simbólico – dia da independência do Brasil. Essa “independência” que deveria ser trabalhada 
na construção de uma cidadania 31plena, de garantia dos direitos individuais, dos direitos huma-
nos, da liberdade de expressão. Porém, ao endossarem essa proposta, que não é de hoje que co-
nheço, entre algumas escolas públicas e privadas, corroboram com a erosão moral e ética que as-
sola esse Brasil – há muito tempo! Depois, com discursos de falácias, criticam políticos, como se 
fossem esses educadores – guardiões da ética. Pura ilusão! No limiar da minha trajetória no magis-
tério – em que ousei construir “faróis da sabedoria” através da prática pedagógica, fico entristeci-
do de assistir pseudo-professores “cavarem” através de práticas como essa (seria tolice, enumerar 
outras) “poços da ignorância”, semeando entre essa geração que aí está, ávida de conhecimento, 
de práticas delinquentes. É lamentável, que quem deveria se inspirar no “grito do Ipiranga”, “ou 
ficar a pátria livre, ou morrer pelo Brasil”, optem em transformar uma data magna num chafur-
damento na lama do que é necessário enquanto pedra angular, mola propulsora para a motivação, 
numa simples atividade, que a exemplos de muitas outras bobagens, que de pedagógicas nada tem, 
“valem nota, sim senhor!”. 
Você acha trágico o que leu até agora, “mergulhe” no próximo artigo... Boa leitura, assim 
espero: 
 
ARTIGO 2 APANHADOR DE “BOLAS” E “ENTRE MENINOS E LOBOS: 
INFÂNCIAS DILACERADAS 
 
 
30 Segundo Jussara Hoffmann, notas e conceitos são superficiais e genéricos em relação à qualidade das tarefas e mani-
festações dos alunos. Embora considerados mais precisos e menos arbitrários pela maioria dos educadores e leigos, eles 
representam um forte entrave ao entendimento dos percursos individuais de aprendizagem. 
31 A educação para a cidadania requer que questões sociais sejam apresentadas para a aprendizagem e à reflexão dos 
Alunos. 
A Magia da Ensinagem 
30 
 
Sempre fui defensor da Educação32 Inclusiva, em todas as escolas que trabalhei, incluindo 
as Faculdades. Na opinião de meus irmãos, eu sempre fui hiperativo, pois sempre estava “a mil” 
ou muitas vezes agir como se estivesse “a todo vapor”. 
Um certo dia de 1972, ganhei uma bola de borracha de minha mãe, e um colega chutou-a 
com força, fazendo-a entrar dentro um forno de lenha aceso. Chorei de raiva e, de forma agressi-
va, chamei-o de “retardado”. Escorreram lágrimas de seus olhos, talvez não pela palavra “retarda-
do”, mas pela agressão física e, é claro o fim da brincadeira. Lembro-me dos jogos de rua, em que 
um colega meu recebeu o apelido de “Babilônia” – sem nenhum sentido histórico e, sim à palavra 
“bobão”. Certa vez, eu comecei a estranhar de que outros meninos chutavam a bola num terreno 
baldio e mandavam ele buscar. A bola retornava através de um “balão” para o alto. Mas esse cole-
ga, não voltava. Como o jogo era seis contra seis, eu ouvia comentários maldosos do tipo, ele é 
tão “retardado”, que não faz falta alguma. Essa frequência dele buscar a bola e demorar um dia 
me deixou intrigado. Resolvi não jogar na rua aquele dia, emprestando a bola “dente-de-leite” e 
as latas. Estrategicamente, subi numa árvore de caqui e fiquei de tocaia para ver o que ocorria. 
Passado uma hora, chegaram dois meninos, dos quais eu nutria um medo pela violência física co-
mo tratavam os colegas. Postaram atrás de um barranco, e esperaram, esperaram... Ouvi o quique 
da bola naquele terreno íngreme, e, passando pelo buraco da cerca “o apanhador de bolas”. Um 
dos meninos segurou a bola e, quando ele foi pegar, levou “chave de braço”, caindo no chão. A 
bola retornou com chute (balão) de volta para a rua, e o que assisti, é um pesadelo que me acom-
panha até os dias atuais. Os malvados tiraram a calça do “apanhador de bolas” – amarraram sua 
boca e praticaram horrores – fiquei atônito no alto da árvore, fechando os olhos, com o senti-
mento de que pouco poderia fazer. Depois de assistir essa violência sexual, já estava escurecendo, 
furei a bola com facadas, enterrei as latas e, naquele buraco, coloquei pregos e cacos de vidro pon-
tiagudos. Um pouco mais acima, plantei hortênsias. Hoje, o “apanhador de bolas” – caminha pe-
las ruas da cidade, órfão de pai e mãe, e, não procuro pelo sentimento de culpa, de não ter feito 
nada para ajuda-lo. Por isso, “O apanhador de bolas”, naquele mês de junho de 1972, me deu a 
oportunidade de ter sido ali, um “grande homem”, e perdi essa condição. Esse gesto me faz lem-
brar a inoperância de Amir, no livro “O Caçador de Pipas”. “ - A jornada de “O caçador de pi-
 
32 A educação escolar deve constituir-se em uma ajuda intencional, sistemática, planejada e continuada para crianças, 
adolescentes e jovens durante um período contínuo e extensivo de tempo, diferindo de processos educativos que ocorrem 
em outras instâncias, como na família, no trabalho, na mídia, no lazer e nos demais espaços de construção de conhecimen-
tos e valores para o convíviosocial. (PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS DO ENSINO FUNDAMEN-
TAL) 
A Magia da Ensinagem 
31 
 
pas” começa nos anos 70, em um Afeganistão bem diferente do de hoje. Ameaçados, meninos 
atores de ‘O caçador de pipas’ fogem de Cabul. Amir (quando jovem interpretado por Zekiria 
Ebrahimi e, quando adulto, vivido por Khalid Abdalla) é um menino tímido, que gosta de escre-
ver histórias e foge de encrencas. Seu melhor –e único- amigo é Hassan (Ahmad Khan Mahmo-
odzada), filho do empregado de seu pai, que o protege e dedica a ele idolatria total. O passatem-
po preferido da dupla é empinar pipas, e Hassan tem um dom especial para encontrá-las, quando 
cortadas, antes das outras crianças. Enquanto uma dúzia de garotos correm pelas ruas de Cabul 
seguindo as pipas coloridas, Hassan já sabe exatamente onde cada uma delas cairá. E lá aguarda, 
confiante. Mas é justamente em um torneio de pipas que a amizade dos dois toma um rumo dife-
rente. Hassan vai sozinho atrás de uma pipa e acaba sendo encurralado por meninos que, por pre-
conceito com sua etnia, o violentam. Amir assiste a tudo, escondido e com medo de intervir. Só 
que, mais tarde, passa a ser torturado pela culpa e o arrependimento, e não tolera mais a presença 
do amigo” <(http://g1.globo.com/noticias/cinema/ html>. Acesso em 12 jan. 2012.). 
Qual seria o preço desse desafio? Alguns de meus colegas sabiam do que aconteciam, mas 
também nada fizeram para mudar. Numa outra tentativa, um dos seviciadores, cortou o pé pro-
fundamente, gritando para que os jogadores de rua “urinassem” no pé cortado – acreditando que 
isso resolveria. Torci para que ele contraísse um tétano e morresse definhando-se numa cama. 
Com mais dois colegas, fomos buscar “o apanhador de bolas”, nu, com parte das roupas rasga-
das. Esses dois, procuro evitar de encontrá-los, porque, o pesadelo não se desfez. 
Num outro caso, um colega de séries iniciais, caminhava quilômetros para ir à escola33. 
Num certo dia, eu e mais três colegas, encontramos descendo de um carro que para nós – leigos, 
“fubica” ou “charanga”. Coincidiu de assistirmos o filme “O Meu Pé de Laranja Lima” (José 
Mauro de Vasconcelos), aborda a amizade de Zezé com Manoel (Portuga), que tinha o carro mais 
bonito de Bangu. O nosso Zezé, ao invés de chegar cedo nas aulas, estava sempre se atrasando, e 
nós brincávamos de que ele estava passeando com o “Portuga” – até então um gesto caridoso – 
pela carona. Num certo dia, combinamos de gazear (pela primeira vez) as aulas e banhar-se no rio. 
Numa rua lateral, encontramos “Zezé” despido no colo do “Portuga”. Foi a primeira vez que 
tomamos conhecimento do que viria a ser pedofilia. Quando “Portuga” enxergou nossa presença, 
acelerou o carro na nossa direção. Fugimos, cruzamos o rio e, só voltamos para casa depois do 
 
- 33 Toda escola deveria ser topófila - TOPOFILIA É O ELO AFETIVO ENTRE A PESSOA E O LUGAR OU 
AMBIENTE FÍSICO. DIFUSO COMO CONCEITO, VIVIDO E CONCRETO COMO EXPERIÊNCIA 
PESSOAL. TUAN 
 
A Magia da Ensinagem 
32 
 
meio-dia. Aquele segredo ficou entre quatro colegas. Zezé, passou a chegar cedo nas aulas – com 
tênis “conga” surrado pelo tempo, o seu lanche (pão com banha e açúcar), que repartia com uma 
criança de outra série. Nas aulas, deixou de participar, não quis mais jogar futebol e passou a refu-
giar-se nos livros na biblioteca, mas de forma eclética, cada dois dias um livro. Passou a colecionar 
um gibi chamado “Tex Willer” de faroeste. Perdeu sua mãe naquele ano e foi morar com os pri-
mos. Cresceu, fez faculdade, casou, separou-se, tem uma filha que não se relaciona bem e, um 
segredo... que mas lembrar o filme “Entre Meninos e Lobos” (Três grandes amigos de infância 
acabam se separando após um deles sofrer uma experiência traumática - sequestro e abuso. Cres-
cem na mesma cidadezinha mas não se falam mais, apenas formalmente, até que uma nova tragé-
dia acaba por uni-los, fazendo-os trazer à tona velhos - e novos - conflitos.). 
O repertório é imenso de contações, conciliando ficção com realidade... 
Alguns superaram esses traumas, outros, estão em busca de um divã, de uma corda para 
aniquila a vida, de alguém para desabafar. Não é a toa que o filme “O Príncipe das Marés” (Descen-
dendo de uma família com um passado horrível que o assusta e transformara a irmã numa suicida, 
Tom Wingo (Nick Nolte), treinador de futebol americano, dirige-se a New York, em busca do 
auxílio de Susan Lowestein (Barbra Streisand), psiquiatra de renome. Numa tentativa desesperada 
de salvar a sua irmã e a si próprio, Tom e Susan iniciam uma viagem através de recordações re-
primidas - uma viagem em que juntos fazem novas descobertas sobre cada um de si e... sobre o 
outro). 
 
Artigo 3 NUMA ESCOLA QUE ESTUDEI... 
 
Quando entra em pauta as relações interpessoais nas 
escolas, sou obrigado a fazer um flashback na minha caminha-
da como estudante nos anos setenta (1974 a 1980), cujas lem-
branças, entre boas e más, algumas deixaram marcas que o 
tempo insiste em não apagar. De vez em quando encontro colegas que estudaram nesse período e, 
com raras exceções, também realçam como foi marcante a passagem pela escola. As políticas pú-
blicas já estavam presentes para alunos carentes, no qual eu estava incluído. Porém, humilhações e 
chacotas para os alunos da famosa “caixa”. Essa condição de “carente” criou uma subcategoria 
de aluno através de castas sociais. Seríamos os dalits (não pertencem a nenhuma das castas). Os 
alunos da “caixa” recebiam livros didáticos e, uniforme. Nas salas de aula, assisti cenas em que 
ouvia-se repreensões do tipo: “vocês da ‘caixa’ devem dirigir-se à direção da escola”, “ser pobre, 
A Magia da Ensinagem 
33 
 
não é defeito, mas relaxado, sim”, etc. Não havia merenda nessa escola, e, assistíamos pelo lado 
de fora, colegas consumindo na cantina, e, nós sem dinheiro, lembrando que muitos saiam de suas 
residências as 11 horas para as aulas do vespertino, sem contar que em alguns semestres, aulas de 
Educação Física eram no turno contrário e, quase dava tempo para retornar para casa. Quem 
sabe o filósofo francês, Michel Foucault tenha se inspirado nessa escola para escrever duas obras 
“Vigiar e Punir” e, “A Microfísica do Poder”. O assédio moral passava pela “revista” para ver 
quem estava de uniforme, incluindo o par de meias pretas. Os que os alunos da “caixa” tinham 
somente uma calça e uma camisa para uso no decorrer da semana. O calçado mais barato – de 
nome “Kichute” utilizado por muitos alunos, tinham de apresentar as “travas” cortadas, pois 
removiam a tinta das quadras nas aulas de Educação Física. Assim, muitas vezes, retornei para 
casa, pela ausência do uniforme, mesmo apelando para as justificativas, de que haveria prova na-
quele dia, apresentação de trabalho, etc. Nas sessões cívicas, lições de moral como ponto de parti-
da, um patriotismo exacerbado com hinos... Campanhas da fraternidade trabalhadas através de 
cantos, do qual não esqueço a de 1975 “Repartir o pão”, paradoxalmente, para muitos da “caixa”, 
cujo pão era negado. Conclamava-se o amor a Deus, mas, ali o afeto, o carinho, o respeito a di-
versidade, por vezes era negado. Então, eu perguntava: Que Deus é esse? Aulas perdidas com 
ensaio de “marcha”, quarteirões adentro. E, suspensão para alunos que faltava no dia do desfile e, 
os que iam sem uniforme (impecável). Às vezes, a cor do tênis era motivo de “suspensão”. Aulas 
de ensino religioso vocacionada apenas a uma religião, sem respeitar o levitismo das múltiplas 
crenças presentes nas singularidades. Ecumenismo, nem pensar! Por não se sentir confortável 
com as palestras, pedia para sair, mas para onde? E as reprovações? Quantos colegas meus foram 
ficando pelo caminho através de uma “seleção natural” ou darwinismo social. Sem apelação (pre-
sente ainda em 2010 em muitas escolas). Houve nos anos setenta um concurso de escola contra 
escola

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