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Trabalho Sistematização

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CENTRO UNIVERSITARIO DE BRASÍLIA- UniCEUB
Leticia Stéffane, Carlos Eduardo Milene Marins e Daniel Alves
SISTEMATIZAÇÃO: LA CASA DE PAPEL E A ÉTICA
Introdução
	La Casa de Papel é uma série de TV espanhola que narra um assalto a Casa da Moeda da Espanha por um grupo de nove assaltantes, cada um com uma história, habilidades e personalidades bem distintas e peculiares. O plano “perfeito” do “assalto do século” foi arquitetado por um homem misterioso que atende pelo nome de El Professor ("Professor"). Filho de um assaltante de bancos, passou grande parte de sua infância e adolescência em uma cama de hospital, lendo vários livros e estudando sobre vários assuntos. Ele acreditava que esse plano poderia ser concretizado desde que fosse minuciosamente planejado e estudado, e dedicou anos da sua vida a isso.
	Ele recruta oito pessoas, pensando em suas habilidades específicas e no fato de que cada uma delas se encontrava em um estágio de vida onde supostamente nada teriam a perder ou temer caso entrassem para participar do crime, o objetivo do bando seria se infiltrar na Casa da Moeda de modo que pudessem imprimir cerca 2,4 bilhões de euros. Para tal feito eles precisariam permanecer onze dias reclusos no local, nos quais teriam que lidar com sessenta e sete reféns com a pressão das forças policiais, e com a incerteza de sucesso ou fracasso do plano de fuga.
	Durante os cinco meses que precedem a invasão, o Professor ministraria para os integrantes todas as nuances e técnicas que fariam parte do plano. De filosofia à táticas de guerra ou milícia, os oito assaltantes receberiam grande parte do conhecimento adquirido pelo Professor em seus anos acamado e todas as instruções do plano milimetricamente criado. Assim como o mentor do plano, os demais ladrões adotariam apelidos para preservar suas identidades (entre as regras do "código de conduta" do grupo estariam a não interação social e o sigilo em relação a suas histórias de vida - regras estas desrespeitadas). Os nomes escolhidos seriam de cidades a redor do mundo: Tóquio, Nairóbi, Rio, Moscou, Berlim, Denver, Helsinque e Oslo.
	O professor possui uma postura ética mista- utiliza tanto a ética principalista quanto a personalista. Principalista no sentido em que adota comportamentos que denotam preocupação em respeitar o coletivismo; personalista, pois como objetivo, o professor demonstra certo descontentamento com o sistema e o Estado que não trata as pessoas por aquilo que são, mas como objeto e por aquilo que possuem -  negando assim seu direito à liberdade e outros. Está ótica fica subentendida no último capítulo, durante o diálogo que o Professor tem com Berlim. 
	As decisões que orientam os personagens durante a série,  seguem de uma trajetória ética principalista com decisões heterônimas, para uma ética personalista com decisões autônomas, visto que a coletividade e o bem comum do grupo eram mais respeitados no início, e com o desenrolar da série cada um passa a visar mais seus próprios e interesses e agir de acordo com suas próprias decisões; Inclusive o professor que embora tenha arquitetado todo o plano, coloca o mesmo em risco ao apaixonar-se verdadeiramente por Raquel a principal investigadora do assalto.
Desenvolvimento
	Para ter êxito no assalto à casa da moeda o Professor delimita comportamentos éticos a serem seguidos pelo grupo para com os reféns, a principal regra era para que nenhum(a) refém ou policial fosse gravemente ferido ou morto durante toda a operação. Ao delimitar o tratamento
que deveria ser adotado, o professor não buscava apenas ser bondoso, mas sim, conquistar a empatia dos reféns e dos telespectadores da Espanha e do mundo, que acompanhavam o assalto de suas casas, visto que  o poder da empatia ajuda  a ascensão do movimento em massa, e dá força a opinião pública, pois quanto mais o país afeiçoava-se dos assaltantes, mais tempo eles ganhavam para a missão de imprimir e sair com o dinheiro, desse modo a polícia se tornaria a vilã caso invadisse e atirasse nos assaltantes- tal jogo de cena era o diferencial estratégico do plano montado.
	Cabia ao Professor, do lado de fora, a atividade de coordenar, monitorar e controlar toda operação estratégica de forma a atingir os seus objetivos. O fato é que além do interesse de
ganhar tempo, ele tenta na narrativa da série construir uma imagem "boa" (de heróis) para os assaltantes, e de perversidade para as forças de segurança do Estado, ou seja, no jogo em questão as manobras seriam para inverter a concepção de valores do público em relação ao bem e mal.
Segundo o texto Teoria da Argumentação: lógica, ética e técnica, escrito por Edvaldo Soares, uma boa argumentação é seu compromisso com a verdade, a argumentação deve seguir uma
linha de fatos lógicos para que seja bem construída. A narrativa mostra que O Professor constrói uma imagem autoritária do Estado, uma "verdade" para o grande público, na medida em que tenta demostrar a força da violência empregada pelo governo espanhol (resultando inclusive em um refém sendo baleado e num segundo momento, mostrando como a Espanha escolhe libertar um refém importante para atender a diplomacia internacional ao invés de escolher o próprio povo).
O professor ao escolher atacar uma instituição do sistema financeiro (a "casa do dinheiro") apela para a construção de uma linha de raciocínio que tenta destruir a linha que separa os bons dos maus, incutindo a seguinte premissa: por que se pensar em ilegalidade dos pequenos golpistas e falsários quando o próprio sistema global se funda na fabricação arbitrária de papéis, títulos, moeda e crédito? É a "lógica do Robin Hood", e o professor a utiliza de maneira bastante hábil, deixando para o público as seguintes perguntas: Seriam eles criminosos, já que não matam e não roubam o dinheiro de ninguém? Seria aquilo uma medida desesperada e emergencial de salvar suas próprias vidas? Em resposta a isso, a polícia passa a construir seu discurso midiático para manter o discurso de "polícia e ladrão" e se utiliza de uma suspeita de tráfico de mulheres contra um dos bandidos, erroneamente, o que acaba tendo um efeito reverso, pois futuramente o acusado refuta em rede nacional as acusações, fazendo o lado dos assaltantes ganhar ainda mais comoção. A narrativa construída pela polícia visava, quase que exclusivamente, vencer a disputa da opinião pública pouco se importando com a verdade, e ainda seguindo no texto uma argumentação que não tem como finalidade vencer o debate, mas construir uma linha logica de raciocínio seguindo parâmetros com a verdade.
Algo notório que vale ser citado, é o fato de como a força de violência do Estado espanhol trata os próprios agentes dentro de um código de conduta que parece em muitos momentos equivocado, a inspetora Raquel ao ser suspeita de envolvimento com os assaltantes sofre um aumento dos seus problemas, perdendo a guarda de sua filha para um marido agressor (também policial) e sendo taxada de criminosa antes de um julgamento. Mostrando as contradições e injustiças da justiça do estado, o professor consegue vencer a disputa narrativa, conseguindo apoio da mídia e colocando de modo visível os erros do estado atingindo o objetivo do plano do assalto à casa da moeda.
A série se passa na Espanha, país que teve um regime fascista comandado por Franco, a ditadura de franco foi marcada por autoritarismo de perseguições políticas, a música tema da série é Bella Ciao  (Cancão antifascista italiana), mostrando que a organização do  estado espanhol não está longe e comportamentos fascistas, deixando assim a reflexão para as pessoas que assistem. 
Conclusão
A série La Casa de papel teve uma audiência muito grande e acabou fazendo parte da cultura pop, o sucesso foi proporcionado pela grande tenção entre quem iria vencer a disputa da casa da moeda, trazendo também a reflexão de "qual lado é o realmente perverso". A matéria de Ética pode ser bem trabalhada com o uso das relações da série como analise, as reflexões deste trabalho trouxeram ummodo mais crítico de observar a trama. Tal como a vida real, a série trabalha em seus personagens de forma razoavelmente profunda, as grandes questões que permeiam o indivíduo em sua essência. Em muitos momentos os "alunos" do professor se deparam com situações que os colocam em conflitos morais e éticos. Valores como amor, liberdade, amizade, lealdade e outros a todo momento são inseridos na narrativa da trama. O autor inteligentemente construiu uma sequência de fatos que faz com os expectadores paulatinamente sentissem empatia pelos personagens a ponto de acreditar que o assalto se dar por motivos nobres ou revolucionários. Este sentimento criado faz com a linha entre o bem e o mal fique extremamente tênue - de que talvez o "socialmente aceito" como certo não seja assim tão certo e o errado não tão errado: como se as três questões básicas segundo Mario Sérgio Cortella " "quero?" , "devo?" e "posso" admitissem mais de uma forma de equilíbrio. 
A era da internet e da globalização possibilita cada vez mais a pulverização massiva de informações, temos acesso a todo tipo de conteúdo, seja ele inútil ou uma joia rara com mensagens e ensinamentos subliminares, definitivamente La Casa de Papel se encaixa no papel de joia rara. Nos dias de hoje, é de extrema importância tratarmos de uma "sociedade mais ética", e o emprego disso associado a programas de televisão, nesse caso na série "La casa de papel", nos abre os olhos para o quanto é amplo esse debate, tendo em vista que ele abrange desde o campo político, relações pessoais, postura policial, a história nacional [...] dentre diversas outras coisas. Desde os primeiros filósofos que estudamos nessa disciplina, Sócrates e Platão, observamos que a ética sempre esteve ligada ao valor dos indivíduos, ao sentindo do bem, da educação e da justiça para o alcance de uma sociedade ética.
Os valores e regras de comportamento que nos deparamos desde crianças muitas vezes permeiam por toda nossa vida, cada forma de criação forma indivíduos distintos, impares e peculiares, e o êxito do relacionamento social está intrinsecamente ligado as escolhas e atitudes que tomamos no decorrer da vida, foi de fato muito fácil e prazeroso observar isso na série “la casa de papel”, a série evidencia como as escolhas feitas por um indivíduo podem definir o sucesso ou o fracasso da imagem de alguém ou de um plano supostamente "perfeito", escolhas impensadas podem aniquilar qualquer perspectiva ou plano. Podemos dizer que essa reflexão nos tornou seres humanos mais éticos, uma significativa contribuição realizada por nos foi chamar atenção ao (terrível) passado fascista da Espanha e relacioná-los com o desenvolvimento da série, em relação a disciplina, achamos muito interessante utilizar séries para trabalhar os conceitos de ética e isso realmente facilitou muito o processo de aprendizado, sendo assim, só temos a agradecer pela experiencia e oportunidade. 
BRASÍLIA – DF
2018

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