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FACULDADE CEARENSE - FAC CURSO DE SERVIÇO SOCIAL ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL JUNTO AO NÚCLEO DE APOIO JURÍDICONA VARA DE FAMÍLIA DO FÓRUM CLOVIS BEVILÁQUA – FORTALEZA/CE ANA LÚCIA DE JESUS SILVA FORTALEZA-CE 2014 ANA LÚCIA DE JESUS SILVA ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL JUNTO AO NÚCLEO DE APOIO JURÍDICONA VARA DE FAMÍLIA DO FÓRUM CLOVIS BEVILÁQUA – FORTALEZA/CE Monografia submetida à aprovação Coordenação do curso de Serviço Social da Faculdade Cearense - FAC, como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação. Orientador(a): Prof.(a). Ms. Luciana Gomes Marinho FORTALEZA-CE 2014 ANA LÚCIA DE JESUS SILVA ATUAÇÃO DO ASSISTENTE SOCIAL JUNTO AO NÚCLEO DE APOIO JURÍDICONA VARA DE FAMÍLIA DO FÓRUM CLOVIS BEVILÁQUA – FORTALEZA/CE Monografia submetida à aprovação da Coordenação do Curso apresentado ao Curso de Serviço Social da Faculdade Cearense (FAC), como requisito parcial para obtenção do grau de Graduação. Orientadora: Profa. Ms. Luciana Gomes Marinho Data de aprovação: _______/_______/2014 Banca Examinadora: __________________________________________________ Profª. Ms. Luciana Gomes Marinho (Orientadora) __________________________________________________ Profª. Silvana Maria Pereira Cavalcante (1ª Examinadora) __________________________________________________ Profª. Priscila Nottingham de Lima (2ª Examinadora) “É tempo, sobretudo de deixar de ser apenas a solitária vanguarda de nós mesmos. Se trata de ir ao encontro (Dura no peito, arde a límpida verdade dos nossos erros). Se trata de abrir o rumo. Os que virão, serão povo, E saber serão lutando”. Tiago de Mello Dedico esse trabalho ao meu querido pai que já não está comigo fisicamente, mas sempre estará no meu coração e pensamentos. AGRADECIMENTOS Primeiro quero agradecer a Deus por está sempre comigo, guiando os meus passos e protegendo-me. Todos que estiveram ao meu lado direta e indiretamente nesta caminhada difícil mais não impossível. As minhas filhas Ana Giselle e Ana Glenda que são os motivos para que eu busque meus sonhos e pela compreensão das ausências familiar. Aos meus pais, Martinho José de Lima(in memória), minha mãe Maria Consuelo, que sempre fez o impossível para educação dos seus filhos, e especial minha irmã Jorgelina que é como se fosse uma filha, pois sofre de uma doença mental e eu cuido da mesma. As minhas cunhadas, Maria José e Adelvina e ao meu ex-maridoSigefredo Silva que deram todo apoio necessário para que eu tivesse essa conquista. A minha querida orientadora Luciana Gomes Marinho que me ajudou a construir esse projeto, me passando seu conhecimento para que fizesse um bom trabalho. Agradecer a banca examinadora, pela disponibilidade e contribuição para avaliar o Trabalho de Conclusão de Curso. Agradeço a minha supervisora de estágio Giovanna Guedes de Alencar, assistente social do Fórum Clóvis Beviláqua, de grande competência profissional e aos outros profissionais do setor. Não posso esquecer de todos os docentes da Faculdades Cearenses (FAC), que me passaram seus conhecimentos para que eu chegasse aqui. Quero agradecer a todos os discentes que conviveram comigo, algumas mais próximas como Silvânia, Sarah, Joelma, Charles, Juaniza, Tânia, como a turma é grande não para citar todos os nomes, mas tenho a dizer que sentirei muitas saudades. Agradecer minha grande amiga e irmã Leda por toda força que me passou e ao meu amigo Carlos Batista que me ajudou muito. A todos que de uma forma ou de outra contribuíram para o engrandecimento profissional e pessoal do meu ser. Meu muito obrigada. RESUMO Esta pesquisa teve por escopo de estudo a profissão de assistente social junto ao poder judiciário. Justifica-se pela necessidade de saber qual o impacto da atuação deste profissional dentro dessa instituição. A partir dessa visão, a pesquisa que aqui se apresenta traz como título: Atuação do assistente social junto ao núcleo de apoio jurídicoas varas de família no fórum Clovis Beviláqua – Fortaleza/CE.O objetivo geral da pesquisa busca analisar as atividades/atribuições do assistente social no Núcleo de Apoio à Jurisdição às Varas de Família no Fórum Clóvis Beviláqua. Esta pesquisa caracteriza-se como sendo um estudo exploratório, a natureza da pesquisa foi qualitativae foi desenvolvida no Fórum Clovis Beviláqua em Fortaleza/CE. Como instrumento de pesquisa, optou-se por questionário aberto, onde o respondente fica a vontade para responder sem nenhuma intervenção do entrevistador nas respostas, a observação participante. No entanto, percebemos que a profissão de assistente social é de suma importância para a solução de casos onde estão envolvidos cidadãos na busca por seus direitos, o que é necessário para oandamento dos trabalhos jurídicos no que diz respeito a algumas avaliações feitas por este profissional. Com esta pesquisa pode-se verificar que o assistente social é bastante solicitado pelos juízes o que aumenta consideravelmente o volume de processos a cargos destes profissionais, pois o assistente social trazcontribuições significativas no que diz respeito à proteção do indivíduo em situação de vulnerabilidade, como idosos, crianças e outros indivíduos que têm seu direito violado. PALAVRAS-CHAVE: Serviço social, Poder judiciário, Vara de família. ABSTRACT This research study wastoscopethe social work profession by the judiciary. Justifiedbytheneedtoknowwhatimpacttheperformanceofthis professional withinthatinstitution. Basedonthisview, theresearchpresentedherehas as title: Role ofthe social workerwiththe core legal supportthefamilycourts in Clovis Bevilaquaforum - Fortaleza / CE. The overall objectiveoftheresearchistoanalyzetheactivities / tasksofthe social workeratthe Center for Supportofthe Family CourtsJurisdictionForum Clovis Bevilaqua. Thisresearchischaracterized as anexploratorystudy, thenatureoftheresearchwasqualitativeandwasdeveloped in Clovis Bevilaqua Forum in Fortaleza / CE. As a research tool, it wasdecidedto open questionnaire, wheretherespondentisfreetoanswerwithoutanyinterventionoftheinterviewer in the responses, participantobservation. However, we realize thatthe social workprofessioniscriticaltothe cases ofsolutionwherecitizens are involved in thesearch for theirrights, whichisnecessary for theprogressof legal workwithregardto some assessmentsmadebythisprofessional . Thisresearchcanbeseenthatthe social workeris a strongdemandbythejudgestherebyincreasingthe volume of cases thepositionsoftheseprofessionals, sincethe social workerbringssignificantcontributionswithregardtotheprotectionofthe individual in a vulnerablesituation, as elderly, childrenandotherindividualswhohaveviolatedtheirrights. KEYWORDS: Social Services, Judiciary, Family Court. SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO ....................................................................................................9 2 SERVIÇO SOCIAL E O PODER JUDICIÁRIO ................................................... 15 2.1 A gênese do Serviço Social no poder judiciário brasileiro................................ 15 2.2O papel Assistente Social no poder judiciário brasileiro em tempos contemporâneos .................................................................................................... 20 3 IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO FÓRUM CLÓVIS BEVILÁQUA.. 24 3.1O Serviço Social nas Varas de Família........................................................... 26 3.2 O desenvolvimento das atividades cotidianas no Núcleo de Apoio Jurídico as Varas de Família ................................................................................. 28 4 PERCURSO METODOLÓGICO ......................................................................... 34 5 ANÁLISE E RESULTADOS................................................................................ 40 6 CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................. 52 REFERÊNCIAS ..................................................................................................... 55 APÊNDICE............................................................................................................. 58 ANEXO................................................................................................................... 64 9 1 INTRODUÇÃO O mundo contemporâneo vem sendo caracterizado por um período de extremas transformações em todos os campos da humanidade, sejam eles econômicos, sociais, políticos, da sociedade modificando-os, o que acaba afetando o cotidiano dos indivíduos na esfera pública e privada. Em alguns aspectos as modificações foram favoráveis para melhorar as condições de vida das pessoas de forma geral. No entanto, esses avanços ficaram restritos a uma pequena parcela da população, e a maioria continuaram enfrentando problemas referentes a habitação, saúde, trabalho, educação e segurança, agravando-se de forma progressiva as desigualdades sócio-política e culturais. Assim, realidade da sociedade moderna faz com que a todo o momento a questão da justiça seja retomada: os dilemas e os embates levam os sujeitos a procurarem as instituições judiciárias para solucionar seus conflitos. Deste modo nossa pergunta de partida busca responder como se dá a atuação do Assistente Social junto ao Núcleo de Apoio Jurídico as Varas de Família no Fórum Clóvis Beviláqua? O objetivo geral da pesquisa é analisar as atividades e/ou atribuições do Assistente Socialno Núcleo de Apoio à Jurisdição às Varas de Família no Fórum Clóvis Beviláqua. No que se refere aos objetivos específicos foram: identificar quais as demandas no trabalho do Assistente Social; descrever a atuação e os desafios postos ao Serviço Social junto ao jurídico e a importância do Assistente Social nesse trabalho; apreender a função sociojuridica na garantia dos direitos dos usuários com o trabalho profissional do Assistente Social. Busca-se com a formulação dos objetivos encontrar respostas ao que é pretendido com a pesquisa. Pois de acordo com Minayo (2010), os objetivos devem ser possíveis de serem atingidos e os mesmos devem responder aos questionamentos do pesquisador, para tanto se formulam um objetivo geral que deve ser amplo e forma que a partir deles possam- se articular os objetivos específicos. Conforme Chuairi (2001), o direito de acesso à justiça assume relevância em nossa sociedade, à medida que aparece como ponto de interligação entre a garantia do exercício de cidadania da população como de forma geral e principalmente àqueles mais carentes e ao funcionamento das instituições de justiça. 10 Ainda conforme a autora já citada, o acesso à justiça apresenta duas finalidades básicas: é direito do indivíduo, buscar seus direitos e também resolver seus problemas tendo a proteção do Estado1, é dever do sistema jurídico produzir leis que sejam para todos os cidadãos, ou seja, independente de cor, raça, ou condição social o resultado deve atingir a todos. A outra finalidade é que o Estado Democrático de Direito2, que é o de garantir o acesso à justiça igualmente a todos. É nesse sentido que o trabalho do Assistente Social na área sócio jurídica, especificamente no Núcleo de Apoio Jurídico a Vara de Famílias, contribui para a população ter acesso à justiça, para a viabilização dos seus direitos, através de informações. É direito do cidadão ter acesso a informações a respeito dos seus direito e deveres, quando o individuo é sabedor de determinada informação e das consequências seus atos ou as ações a foi submetido, esse conhecimento garante a sua integridade diante da sociedade, de acordo com artigo 5º do Código de Ética3Profissional do Assistente Social, alínea b, Art.5º- [...] b) garantir a plena informação e discussão sobre as possibilidades e consequências das situações apresentadas, respeitando democraticamente as decisões dos usuários, mesmo que sejam contrárias aos valores e às crenças individuais dos profissionais, resguardados os princípios deste Código (BARROCO,2012,p.172). Nossas categorias foram definidas de acordo com o tema abordado, a primeiraé a Instituição Judiciária, a segundaé o Assistente Social no Judiciário,a terceira tratam das Varas de Família e a quarta categoriase EspaçosSocio- ocupacionais, sendo referenciadas pelos autores Dal Pizzol(2008), Fávero (1992), Iamamoto (1992), Barroco (2012), Chuairi (2001) entre outros autores que serão utilizados durante a elaboração do texto. 1 Estado, segundo o Dicionário Houaiss (2013, p. 211), é datada do século XIII e designa "conjunto das instituições que controlam e administram uma nação"; "país soberano, com estrutura própria e politicamente organizado". 2 O Estado democrático de direito é um conceito que designa qualquer Estado que se aplica a garantir o respeito das liberdades civis, ou seja, o respeito pelos direitos humanos e pelas garantias fundamentais, através do estabelecimento de uma proteção jurídica. Em um estado de direito, as próprias autoridades políticas estão sujeitas ao respeito das regras de direito. (SANTOS, 2011) 3 Conforme BARROCO (2012), Código de Ética trata-se de um código moral que prescreve normas, direitos, deveres e sanções determinadas pela profissão, orientando o comportamento individual dos profissionais e buscando consolidar com uma direção social explícita. 11 A instituição Judiciária foi concebida para proteger os cidadãos contra os abusos do Estado, de garantir a Lei, os direitos individuais e fundamentais, além de garantir as liberdades públicas, e de preservar a propriedade privada. O poder judiciário estárepleto de contradições, enquanto parte do Estado, é procurado para atuar frente às contradições e problemáticas do cotidiano dos indivíduos, mantendo a ordem e a garantia dos direitos. (BARROCO, 2012). Segundo Bobbio, citado por Chuairi (2001, p.05), “[...]os direitos dos homens, por mais fundamentais que sejam, são direitos históricos, ou seja, nascidos em certas circunstâncias por lutas em defesa de novas liberdades contra velhos poderes e nascidos de modo gradual, não todos de uma vez e nem de uma vez por todas”. A segunda categoria, conforme Chuairi (2001), o Serviço Social no contexto jurídico, configura-se como uma área de trabalho especializado, que atua com as manifestações da questão social4, em suainterseção com o Direito e a justiça na sociedade. Este possui uma interface histórica com o Direito, à medida que sua ação profissional, ao tratar das manifestações e enfrentamento da questão social, coloca a cidadania, a defesa, preservação e conquista de direitos, bem como sua efetivação e viabilização social, como foco do seu trabalho. O Assistente Social judiciário ou forense, atua em diferentes órgãos e setores do Poder Judiciário, intervindo prioritariamente nas Varas da Infância e Juventude e nas Varas de Família, onde existem processos cujas decisões judiciais envolvem as vidas de crianças, adolescentes e famílias. Conforme Fávero, (2007, p.4), é possível afirmar que as áreas que compõem o campo sócio jurídico no âmbito do Serviço Social vêm, há décadas, atuando diretamente e cotidianamente junto às expressões dasquestões sociaisque atingem crianças, jovens, adultos, os quais muitas vezes frente ao limite da abrangência e proteção por parte das políticas sociais5, recorrem, são encaminhados, ou são denunciados a organizações que, ao longo da história, têm se apresentado como espaços de contenção, de coerção, de disciplinamento e de 4 Questão social - O principal conceito de questão social é o conjunto das expressões das desigualdades da sociedade. A questão social surgiu no século XIX, na Europa, e iniciou para exigir a formulação de políticas sociais em benefício da classe operária, que estavam em pobreza crescente. (IAMAMOTO, 1992) 5 Políticas sociais são ações governamentais desenvolvidas em conjunto por meio de programas que proporcionam a garantia de direitos e condições dignas de vida ao cidadão de forma equânime e justa (CRESS- MS, 2014). 12 enquadramento de situações ou comportamentos considerados,via de regra, como “desviantes” de modelos estabelecidos como desejáveis ou adaptados à norma dominante. No âmbito do Judiciário, as expressões da questão social6, que na maioria das vezes se manifestam em razão da transgressão da lei pelo próprio Estado (CÓLMAN, 2004), que tem sido omisso quanto à garantia universal dos direitos sociais7, se apresentam de forma ainda mais particularizadas, ou seja, como "conflito entre partes, como litígios" (ibid., p. 14). Entre as funções do Assistente Social também está a de acompanhar famílias em processos jurídicos, a inserção do profissional no acompanhamento de famílias no poder judiciário é um fato recente na história do Serviço Social. A profissão tem suas particularidades que tem sido motivo de estudo em diversos níveis. De acordo com Fávero (2006) um dos fatores para a atuação destes profissionais no sistema judiciário se deve a provável ampliação da necessidade de atendimento e de profissionais para a área, principalmente depois do ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente. O interesse pelo objeto de estudo em questão surgiu no decorrer do estágio no Serviço Social no Fórum Clóvis Beviláqua, especificamente no Núcleo de Apoio Jurídico as Varas de Família, onde tive a oportunidade de estagiar e acompanhar o trabalho no Núcleo, de abril de 2013 a junho de 2014, procurando apreender e compreender o trabalho do Assistente Social com os usuários que buscavam seus direitos, mesmo sem ter tanto esclarecimentos sobre os mesmos. A quarta e última categoria esta relacionada à análise dos espaços ocupacionais do assistente social. ConformeIamamoto(1992), as alterações verificadas nos espaços ocupacionais do assistente social têm raízes nesses processos sociais, historicamente datados, expressando tanto a dinâmica da acumulação, sob a prevalência deinteresses capitalista, quanto à composição do poder político e a correlação de forças no seu âmbito, capturando os Estados Nacionais, com resultados regressivos no âmbito da conquista e usufruto dos direitos para o universo dos trabalhadores. De acordo com Iamamoto, (1992), o espaço sócio profissional não pode ser tratado exclusivamente na ótica das demandas já consolidadas socialmente, sendo 6 Vide p. 12. 7 Os direitos sociais “se realizam pela execução de políticas públicas, destinadas a garantir amparo e proteção social aos mais fracos e mais pobres; ou seja, aqueles que não dispõem de recursos próprios para viver dignamente” (COMPARATO, 2010). 13 necessário, a partir de um distanciamento crítico do panorama ocupacional, apropriar-se das demandas potenciais que se abrem historicamente à profissão no curso da realidade. De acordo com Fávero, (2007, p.3), o termo campo sociojuridico é utilizado enquanto o conjunto de áreas de atuação em que as ações do Serviço Social se articulam as ações de natureza jurídica, como o sistema judiciário, os sistemas penitenciário e prisional, o sistema de segurança, o Ministério Público, os sistemas de proteção e acolhimento e as organizações que executam medidas socioeducativas8, conforme previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA,1990), dentre outros. O termo sócio jurídico passou a ser mais conhecido no meio profissional dos assistentes sociais, especialmente a partir de sua escolha como tema da Revista Serviço Social e Sociedade nº 67 (Cortez Editora), e de uma das sessões temáticas do X CBAS9 - Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais/2001, e, ainda, do Encontro Nacional Sociojuridico que ocorreu em Curitiba, em 2004, em que foi discutido o sistema de defesa de direitos nas áreas do Judiciário e do Penitenciário. Neste encontro os participantes aprovaram, dentro da agenda política, que o conjunto CFESS/CRESS consolidasse a terminologia. Segundo Fávero, (2007, p.4) é nessa realidade social e no espaço contraditório entre a coerção, o controle e o disciplinamento individualizado e individualizante, construído ao longo da história, e a intervenção profissional na direção do acesso, da garantia e da efetivação de direitos. Nessa área de atuação, o Assistente Social vem deparando-se com aampliação das demandas, cada vez mais graves e complexas, grande parte delas decorrentes da perversidade posta por um modelo político-econômico, em queos “(...) ‘excluídos’ do sistema econômico [que] perdem progressivamente as condições materiais para exercer seus direitos básicos (...)”. Com suas prescrições normativas, o Estado os integra ao sistema jurídico basicamente em suas feições marginais – isto é, como devedores, invasores, réus, transgressores de toda natureza, condenados “[infratores, abandonados] etc. (FARIA, apud. FÁVERO, MELÃO, JORGE, 2005, p. 33)”. 8 Medidas socioeducativas são medidas aplicáveis a adolescentes autores de atos infracionais e estão previstas no art. 112 do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA). Apesar de configurarem resposta à prática de um delito, apresentam um caráter predominantemente educativo e não punitivo. 9 Vide pag. 12. 14 A problemática deste trabalho teve o intuito de pesquisar sobre a atuação da prática profissional do assistente social, buscando compreender sua importância e foi organizada da seguinte maneira: Assim, no primeiro capítulo foi traçado o conteúdo teórico desse estudo. Este se encontra dividido em dois tópicos. No primeiro tópico foi realizado um breve relato do contexto histórico em que surge o profissional de serviço social na instituição do poder judiciário brasileiro. O segundo traz a inserção da profissão no contexto sócio jurídico. Considerando este capítulo como o mais extenso, contudo, considerando os pontos com mais relevância e significativos para o profissional de serviçosocial. No segundo capítulo abordou-se o serviço social no Fórum Clóvis Beviláqua. Dividido em dois tópicos: aspectos históricos; a implantação do Serviço do Social no Fórum Clóvis Beviláqua. O outro é a atuação do assistente social no Núcleo de Apoio Jurídico junto as Varas de Família. No terceiro capítulo dedica-se a análise dos dados obtidos através da pesquisa de campo, as principais questões levantadas nas entrevistas com as assistentes sociais sobre sua atuação profissional nas Varas de Família. No final, intentam-se sobre algumas considerações acerca da importância de buscar compreender, as questões referentes à atuação do assistente social no sócio jurídico. Esta pesquisa tem um enfoque qualitativo, abrangendo os processos humanos, buscando descrever e compreender as situações e os processos de inserção do assistente social no contexto que envolve a situação estudada de maneira integral e profunda. Trata-se de um estudo longitudinal, de nível exploratório, pois a mesma adentra por um campo pouco, ou ainda não estudado, tendo como técnica para levantamento de dados usou-se o questionárioestruturada, com questões abertas, pois as assim os respondentes ficam a vontade para expor suas opiniões sem a intervenção do pesquisador. A amostragem foi composta pelos profissionais especialistas na questão a ser investigada, pois os mesmos têm uma visão direta e profunda da problemática que se deseja estudar. Os dados foram analisados de maneira descritiva ou narrativa, por ser mais adequada ao estudo realizado. 15 2 SERVIÇO SOCIAL E O PODER JUDICIÁRIO O Serviço Social está inserido no Poder Judiciário desde o século XIX. Segundo Martinelli (1998), a atuação dos Assistentes Sociais nesse contexto deu-se inicialmente nos Estados Unidos, mais precisamente nas cidades de Boston e Chicago. Esse profissional foi requisitado nos tribunais para atuar em ações em que houvesse crianças envolvidas. Em Chicago, em 1889, foi aprovada a lei que criava os Tribunais da Infância, onde só poderiam atuar Juízes especializados em ações que houvesse crianças. Tais Juízes deveriam utilizar-se de audiências privadas e recorrer as “visitadoras domiciliares” na realização de inquérito e na elaboração do documento escrito que serviria para subsidiar sua decisão, quando necessário. Busca-se neste momento explicitar o papel do Assistente Social e sua contribuição junto ao poder judiciário no Brasil. Visando um resgate da história dessa profissão dentro do contexto social do país. 2.1 A Gênese do Serviço Social no Poder Judiciário Brasileiro Segundo Pizzol, (2008, p.32), fazer um resgate histórico do Serviço Social na esfera do Judiciário brasileiro é tarefa que requer esforço e dedicação. Mais complexo ainda é encontrar bibliografia com indicativos teóricos dos primeiros profissionais num campo predominantemente jurídico. A área sociojuridica foi uma das primeiras em que o serviço social se estruturou no Brasil, através do surgimento de demandas relacionadas com “menores infratores” 10, no ano de 1922, chamada de “questão do menor” e precisava da intervenção do Estado, onde o Assistente Social encontrou vasto campo de trabalho, e de certa forma consolidando sua atuação. Em 1927, foi promulgado o Código de Menores que legitimava a presença do Serviço Social nas questões ligadas a infância, aonde foi precedida a institucionalização da profissão.De acordo com Vasconcelos (1999) os menores estavam protegidos pelo Decreto nº 17.943-A, de 12 de outubro de 1927, apoiados pelos Assistentes Sociais: 10 A expressão “menores infratores”definia como objeto e fim da lei o “menor” com menos de 18 anos de idade, abandonado ou delinquente. 16 [...] denominado Código de Mello Mattos – Decreto 17.943-A, de 12 de outubro de 1927 – “definia como objeto e fim da lei o “menor” com menos de 18 anos de idade, abandonado ou delinquente. Esse menor seria submetido às medidas de assistência e proteção que a lei prescrevia” (VASCONCELOS, 1999, p. 31). De acordo Alapanian (2008), no ano de 1935, foi criado o Departamento de Assistência Social do Estado de São Paulo que era subordinado à Secretaria de Justiça e Negócios Interiores,responsável pela estruturação dos Serviços Sociais de Menores, Desvalidos, Trabalhadores e Egressos de Reformatórios, Penitenciárias, Hospitais e da Consultoria Jurídica do Serviço Social. Nesse início, os estudos realizados acerca da realidade sociofamiliar das crianças e adolescentes, com finalidade de subsidiar as decisões e ações que tramitam na esfera do Judiciário, remontam ao instrumento do inquérito, enquanto possibilitador de coleta de dados e de informações com vistas ao restabelecimento da “verdade” dos fatos, ou da construção de “provas” a respeito de ações litigiosas, numa direção coercitiva e disciplinadora da ordem social. É fácil compreender porque isso acontecia dado o momento histórico e social brasileiro, sua prática profissional era útil frente ao controle das sequelas da Questão Social11 e, por isso, passou a ter espaço privilegiado no âmbito da Justiça ligada à Infância e à Juventude(X CBAS, 2001). Mesmo a inserção do Serviço Social no campo sócio jurídico apontando para mais de meio século de história parece que só recentemente a categoria profissional como um todo vem abrindo os olhos para perceber esse espaço de atuação, fazendo deste objeto de investigações sistemáticas, questionamentos,polêmicas e debates, como o fora em uma das sessões temáticas do X Congresso Brasileiro de Assistentes Sociais/200112. O Assistente Social especificamente realiza um trabalho que busca traçar um exame de cada situação conflituosa no âmbito de litigiosos legais vivenciados e a partir da qual irá elaborar um laudo com parecer social sendo este encaminhado ao Juiz competente para subsidiar suas decisões, como já foi mencionado. Embora, neste contexto, o Assistente Social esteja subordinado legal institucionalmente ao Juiz essa condição não significa subalternidade profissional, necessita, pois a Lei Nº 11 Vide, pag. 12. 12 Vide, pag. 12. 17 8.662/93 dispõe acerca da autonomia técnica e ética no exercício de suas atribuições privativas ou não, o que exige condições de trabalho que assegurem o sigilo profissional( FÁVERO,1999). Embora com poucos registros, sabe-se que entre os primeiros profissionais atuantes no Brasil estão os que passaram a atuar na então Justiça dos Menores do Estado de São Paulo no final dos anos1940,(FÁVEROet al.,2005). É importante destacar ainda que a Escola Técnica de Serviço Social do Rio de Janeiro foi criada em 1939 para atender demandas ligadas ao Juizado de Menores (CASTRO, 2000). Conforme a visão de Fávero, (1999) o Serviço Social, ao dirigir o foco de atenção para o centro da crise institucional da organização da justiça evidencia um descaso no tocante à reabilitação das pessoas. Enfoca-se, a impressão de que os cárceres, por exemplo, constituem-se a base do crime, onde os apenados13 aprimoram uma conduta criminosa, ao invés de ser uma instituição de recuperação dos serviços sociais. Ainda de acordo com Fávero, Os pioneiros do Serviço Social no TJSP foram também pioneiros do Serviço Social no Brasil, a exemplo da professora Helena Iracy Junqueira e do professor José Pinheiro Cortez. Ambos compuseram o grupo de professores da Escola de Serviço Social de São Paulo e militaram no Partido Democrata Cristão. Defendiam concepções de justiça social e de direitos com base nodoutrinarismo católico, com um viés, ainda que embrionário, da social democracia, e tiveram participação decisiva na implantação do Serviço Social no primeiro Juizado de Menores da capital, em 1949, por meio do Serviço de Colocação Familiar, instituído pela Lei estadual n. 500 — que ficou conhecida como Lei de Colocação Familiar (FAVERO, 2013, p.4). No Brasil o Serviço Social começou a existir como profissão em 1937, fazendo assim 77 anos de sua existência, já no Estado de São Paulo no Tribunal de Justiça faz 65 anos de atuação, conforme o denominado Juizado de Menores, sem remuneração (FAVERO, 2013).De fato, os pioneiros do setor obtiveram participação preponderante neste processo, mais notadamente amparado pelas leis vigentes na época. Aimportância para o Serviço Social, no poder judiciário e para a sociedadefoi quando começaram a surgir às políticas de enfrentamento a questão social da área do Direito que determinaram as estratégias a serem tomadas procurando retratar 13 Apenados (adjetivo), Estado daquele que cumprirá uma pena. Que foi condenado a cumprir alguma pena; que foi punido ou castigado. (DICIONÁRIO HOUAISS, 2013). 18 uma política mais eficaz no setor social.Ao longo da existência se configura a função de punir, afirmando os procedimentos que lhe são necessários, onde culminam por mudar a manutenção da ordem interna. De acordo comTeles (2001), o Serviço Social era considerado um serviço assistencialista14, com foco básico nas pessoas mais necessitadas, conforme relacionamento com a igreja. Nos primeiros anos até 1950, foi muito influenciada pelas frentes francesas, onde o principal incentivo era dado aos de um serviço médico-social, de forma adequada o serviço médico-hospitalar. A função paternalista15 do Estadoconsolidava-se no Brasil e tinha como funcionalidade escolher clientes para obtenção de benefícios de ordem variada. Esse quadro começa a sofrer alteração a partir de 1942, quando o governo dos Estados Unidos, dentro de um programa de cooperação, concedeu bolsas de estudo a diversos estudantes brasileiros e os levou a cursar suas Escolas de Serviço Social. Ao retornar, introduziram aqui o processo de Serviço Social de Casos16 e a Supervisão de Estágios17 (GOMES;RESENDE, 2001). Conforme o meio jurídico, mais notadamente no poder judiciário, tenha sido um dos espaços iniciais do Serviço Social, somente nos dias atuais é que o profissional nesta área passou aser reconhecido. Sendoimportante asua atuação em se tratando de auxilio social aos menos favorecidosatendendo, assim o mínimo necessário àqueles menos favorecidos FÁVERO,( 2004). De acordo com o autor Fávero: [...] Era um dinheiro necessário para viver, mas não para tirar a condição de total dependência. Claro, a pessoa era estimulada a trabalhar [por meio do acompanhamento realizado pelo assistente social], mas dava se o mínimo necessário, porque se não se desse isso, a criança ia para a rua ou para uma instituição e aí seria mais caro para o Estado e para a sociedade (FÁVERO, 1999, p. 95). 14 Assistencialista: ação assistencial que não se funda no reconhecimento do direito social de seus usuários, mas no paternalismo e no clientelismo(Dicionário Houaiss, 2013), 15 Paternalista, (substantivo masculino). Doutrina de acordo com a qual as relações, entre empregador e empregado, devem ser baseadas em normas familiares, sendo os empregadores completamente responsáveis pelos empregados.Regime em que a autoridade do pai prevalece ou que nela se baseia. (HOLANDA, 2013), 16 Estudo de Caso Atividade técnica utilizada durante o processo de acompanhamento, para elaboração de diagnóstico sobre determinado indivíduo, família e grupo, visando à realização de intervenções. Inclui coleta de dados sobre a história pessoal e social, sistematização das informações e produção de conhecimento. (NETTO, 1998). 17 Supervisão de Estágios-A supervisão emergiu como um modo de “[...] treinamento de pessoal (pago ou voluntário), que trabalhava nas organizações de caridade e que devia ser instruído nos princípios e métodos das instituições a que estivesse ligado” (ANDER-EGG, 1974, p. 248), 19 O poder judiciário sem dúvida é parte integrante desse processo de ajustamento dos procedimentos de gestão, contribuindo para a conduta da sociedadeGOMES;RESENDE, (2001). A operação do poder judiciário, configurada para proporcionar a reabilitação de julgados e culpados culminam por convergir suas atitudes para aprimorar o controle destes e o Serviço Social seria uma alternativa para tentar minimizar possíveis falhas no sistemaCOSTA; DIAS, (2005). O poder judiciário não consegue dissimular seu avesso, ou seja, o de ser aparelho punitivo em detrimento de propósitos reformadores embutidos na convicção das pessoas aos quais está incumbida a tarefa de administrar as injustiças. (IAMAMOTO, 2001). Segundo Gomes e Rezende (2001) Pensar a particularidade da intervenção do Serviço Social no Judiciário é imperativos para nós assistentes sociais que atuamos nessa instituição, especialmente para aqueles que, considerando a dimensão social e histórica do trabalho que realizam, confrontam-se cotidianamente com desafios e contradições de sua prática(GOMES & RESENDE, 2001, p. 124). De fato, esta intervenção social proporcionou novos desafios e práticas importantes ao desenvolvimento das pessoas.Éimportante a intervenção do Serviço Social no Judiciário, especialmente para aqueles que, considerando a dimensão social e histórica do trabalhoque realizam, confrontam-se cotidianamente com desafios e contradições de sua prática(GOMES; RESENDE, 2001, p. 124). Objetivando a repressão da mesma, cada fase histórica criou suas próprias leis, usando métodos de punição que vão desde os castigos físicos e morais até a aplicação de princípios mais centrados no Serviço Social(FAVERO, 2004). A promulgação da Constituição Federal de 1988 representou do ponto de vista formal e jurídico, um marco importante na extensão de direitos sociais no Brasil. “[...] Ao menos constitucional e formalmente estão colocados alguns elementos que apontam para a possibilidade de conciliação entre direito e lei relativa à justiça social frente àqueles que sempre estiveram à margem de uma proteção social pública” (GOMES e RESENDE, 2001, p. 127). O processo judiciário aliado ao Serviço Social aparece como fator essencial no conjunto de alternativa e representa um momento importante na história da 20 justiça. A ação do Serviço Social é embasadana execução do Projeto Ético Político 18, pois de acordo com Fávero (2013), [...]. Importante é definir o papel do Serviço Social na esfera do Judiciário. E esse papel não é uma definição só da lei nem só do Poder Judiciário. É também, e fundamentalmente, nossa, dos assistentes sociais. Então, vou trabalhar os Serviços Sociais junto ao Poder Judiciário a partir de uma ótica específica e nossa, e que eu vou tentar convencer o Poder Judiciário, o juiz, o legislador, seja quem for a adotar essa ótica [...] (FÁVERO,2013.p.5). Portanto, essa forma permite que o papel do Serviço Social apareça como uma garantia de direitos, efetivando a legislação a partir das especificidades dos conflitos. O papel do Assistente Social vai se modificando de acordo com a evolução da sociedade, a situação política e econômica do Brasil. As necessidades dos indivíduos também vão seguindo essa mudança, o assistente social não poderia ficar no caminho paralelo a essa realidade, assim enfrenta um novo papel dentro do poder judiciário comoveremos a seguir. 2.2 O papel assistente social no poder judiciário brasileiro em tempos contemporâneos Nos anos1980 o papel do Assistente Social junto ao poder judiciário era mais ligado a questões éticas, davam mais atenção aos valores e moralidades,do que propriamente as necessidades dos indivíduos. Na década de 1990 essa realidade modifica-se, o Assistente Social adquiriu uma identidade própria buscando assim romper com certas atitudes conservadoras que traziam a herança intelectual europeia, rompendo assim com a tradição social, o status, a autoridade vigente até o momento. O Código de Ética Profissional construído em 1993 colocou a profissão em novo patamar, e com outras atribuições entre elas a defesa de uma sociedade 18 Projeto Ético Político - Um projeto tem teleologia, indica a direção que uma sociedade, uma categoria constrói para concretizar o que idealizou o que sonhou e sonha. (CRESS, 2014). 18 NETTO (1999), Projeto Ético Político apresenta a autoimagem de uma profissão, elegem os valores que a legitimam socialmente, delimitam e priorizam seus objetivos e funções, formulamos requisitos (teóricos, práticos e institucionais) para o seu exercício, prescrevem normas para o comportamento dos profissionais e estabelecem as bases das suas relações com os usuários de seus serviços, com as outras profissões e com as organizações e instituições sociais privadas e públicas ( inclusive oEstado, a que cabe o reconhecimento jurídico dos estatutos profissionais). 21 mais justa, oportunizando ao indivíduo a promoção de uma melhor qualidade de vida, mais digna. No Brasil, o processo de judicialização tem se realizado em meio a conflitos que envolvem a sociedade, o Poder Executivo e o Poder Judiciário. A produção teórica do Serviço Social tem se voltado para o tema de forma crítica, dando ênfase aos aspectos negativos. Em geral, destaca-se o avanço do neoliberalismo19e a consequente destituição dos direitos sociais como agravantes ao processo de judicialização. A necessidade de proteção social fez com que aumentasse consideravelmente o volume de processos judiciais o que fez com que a assistência social fosse de certa forma transformada em processos judiciais, aumentando a demanda de trabalho para os assistentes sociais. “Nestes termos, a demanda por proteção social, que tem engrossado os processos no Poder Judiciário, identifica-se como a judicialização da questão social, tida como algo que ocorre em "detrimento do compromisso mais efetivo do Estado e da esfera pública"” (AGUINSKI; ALENCASTRO, 2006, p. 20). É preciso um acompanhamento mais próximo do exercício profissional do serviço social junto ao sistema judiciário. De acordo com os autores Sonda e Poncheck; Desde sua constituição, há 33 anos, o CRESS/PR tem acompanhado o exercício profissional dos/as assistentes sociais no Poder Judiciário pelos mais diversos meios. Recentemente, este acompanhamento permite apontar algumas considerações sobre a relação entre a categoria profissional dos assistentes sociais e este órgão da Justiça(SONDA e PONCHECK,2013, p.4). Na visão de Paula(2013), é importante enfatizar que o Serviço Social nesse primeiro período, detinha um conceito assistencialista, centrado nos problemas do ajustamento individual, onde cada indivíduo busca ajustar-se as exigências éticas, morais, na sociedade, apoiando-se nos valores convencionais, valores estes que podemos citar como: respeito, autonomia, igualdade, solidariedade, entre outros. Os assistentes sociais ainda não tinham a percepção crítica de como realizar seus objetivos dentro da sociedade. 19 Neoliberalismo é um conjunto de ideias políticas e econômicas capitalistas que defende a não participação do estado na economia, onde deve haver total liberdadede comércio, para garantir o crescimento econômico e o desenvolvimento social de um país. (BASTOS, 2004). 22 Na visão de Costa e Dias(2005), somadoa assistência social, o Direito é uma ciência social, e sendo assim, só pode-se imaginar este Direito em função do indivíduo, porque este vive em sociedade, não se pode conceber a vida social sem se pressupor a existência de normas reguladoras das relações entre os homens, normas estas, que o próprio homem julga-as obrigatórias e necessárias para determinar, disciplinar o comportamento dos indivíduos dentro do contexto social. Segundo Teles (1996) as relações entre os indivíduos e as questões socialna a atual sociedade ocorre ocorrem dentro dos seguinte modelo A questão social das sociedades modernas põe em foco a disjunção, sempre renovada, entre a lógica do mercado e a dinâmica societária, entre a exigência ética dos direitos e os imperativos de eficácia da economia, entre a ordem legal que promete igualdade e a realidade das desigualdades e exclusões tramada na dinâmica das relações de poder e dominação”(TELES,1996, p. 85). Para Fávero (1999) na medida em que as sociedades evoluem e se organizam politicamente o poder judiciário se manifestaatravés da autoridade constituída. Esta atribui a norma da força coercitiva, impondo, por conseguinte suas obediências. E a infração a um preceito cogente20provocando uma reação do Poder Judiciário. Então, são estes os sujeitos de direitos e de políticas públicas que os assistentes sociais atendem pela via do poder executivo e poder judiciário. Tal demanda, torna significativo o desafio para os operadores do direito, que devem decidir subsidiados por estudos e análises, quando se referem a/s tentativa/s de recomposição de laços para a restituição dos direitos violados por outrem, que na maioria das vezes, não ocorrem por intenção única do transgressor, mas pelo conjunto das condições sociais a ele determinadas, daí resultando na importância do apoio do trabalho técnico do assistente social, comprometido com os valores éticos do projeto ético-político do Serviço Social brasileiro, defendido pelas entidades representativas da profissão do conjunto CFESS21/CRESS22, ABEPSS23 e ENESSO24(Sonda;Poncheck,2013, p.5). 20Na área jurídica, cogente faz referência às regras que devem ser integralmente cumpridas, mesmo que as partes tenham argumentos contrários diante de um fato. Uma norma cogente é aquela que se torna obrigatória, de maneira coercitiva, mesmo que venha a constranger a vontade do indivíduo a que se aplica, bastando haver a relação de casualidade para que a norma incida sobre ele. (TSJU, 2014) 21 Conselho Federal de Serviço Social. 23 Novamente Fávero (1999) enfatiza e revela a importância dasmedidas no poder judiciário que foram se modificando, para passar a ser protetiva do indivíduo para dar um convívio social e colocá-lo em uma comunidade. Mas o verdadeiro objetivo do Assistente Social é de ressocializar os indivíduos que vão de encontro a essas normas que disciplinam a vida em sociedade. Enquanto, Sonda e Poncheck (2013), atentam para o fato, de que se refere ao Assistente Social quanto ao dever do Estado na busca pela ressocialização do ser humano que transgrida as normas de conduta, já que se trata de uma normatização para disciplinar a conduta do indivíduo no sentido de trazê-lo de volta ao convívio social. Diante de todas essas informações trazidas pelo poder judiciário, fica até difícil de entender porque é que tantas pessoas na vara da família sofrem dificuldades ao procurarem os seus direitos e até de saberem que os tem e quando os procuram devido a demanda ser grande há uma demora em solucionaros seus processos na justiça. A atuação do assistente social é então de muita valia no cumprimento dos seus direitos, enquanto cidadãos. 22 Conselho Regional de Serviço Social. 23 Associação Brasileira de Pesquisa em Serviço Social. 24 Executiva Nacional dos Estudantes de Serviço Social. 24 3 IMPLANTAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO FÓRUM CLÓVIS BEVILÁQUA A primeira sede do Fórum Clóvis Beviláqua foi inaugurada em 31 de dezembro de 1960, na administração do desembargador Péricles Ribeiro, presidente do Tribunal de Justiça, e no governo de José Parsifal Barroso. O prédio escolhido para abrigar o Palácio da Justiça havia sido planejado desde 1956, no governo de Paulo Sarasate. O Fórum Clóvis Beviláqua recebeu esse nome em homenagem ao grande jurista cearense, notabilizado pela elaboração do anteprojeto do primeiro Código Civil Brasileiro(TJCE, 2014). A origem do Serviço Social no Fórum Clóvis Beviláqua iniciou na década de 1970 como extensão do Serviço Social do Juizado de Menores, ainda nesta década é implantada uma Unidade de Serviço Social do próprio Juizado, sob a justificativa de: “Assistir juridicamente o menor de idade e/ou crianças indefesas desassistidas socialmente nas suas necessidades de Pessoa Humana”(Veras, 1991, p. 59). Naquela época, as atividades do Serviço Social eram desenvolvidas no prédio localizado na Avenida da Universidade, 3281 – Benfica, pela assistente social Emiliana Veras, ela como pioneira neste trabalho considerava que o “o Serviço Social do Juizado de Menores surgiu por acaso” (VERAS, 1991, p.59), como será descrito abaixo. OServiço Social no Fórum Clóvis Beviláqua pode ser considerado uma extensão do Serviço Social do Juizado de Menores, observando que a princípio este trabalho era operacionalizado pelo Serviço Social da Fundação do Bem-estar do Menor -Ceará/FEBEMCE (responsável por atender e elaborar os relatórios sociais dos usuários encaminhados pelo Juizado de Menores). Porém, existia certa dificuldade em “localizar o plantão do Serviço Social no centro da cidade” (Veras, 1991, p.59). Por isso, o presidente da FEBEMCE – o Juiz Eduardo Bezerra, em acordo com o Juizde Menores do Poder Judiciário da época- JuizJosé Ricardo Barreto de Carvalho – resolveram transferir o Serviço Social daFEBEMCE25, para o prédio de Juizado de Menores, a partir daí o referido Setor passou a prestar serviços aos dois órgãos, até que uma das Assistentes Sociais da FEBEMCE ficou à disposição do Tribunal de Justiça do Ceará e lotada no Juizado de Menores – Emiliana Rodrigues Veras. 25 Fundação Estadual Bem Estar Menor do Ceará. Instituição responsável para o acolhimento de crianças e jovens infratores. 25 Em maio de 1979, o Juiz José Maria de Melo passou a responder pelo Juizado, pois o Juiz José Barreto de Carvalho foi nomeado ao cargo de Desembargador. Desde então, o Juiz José Maria de Melo demonstrou interesse em implantar um Setor de Serviço Social do próprio juizado, com o objetivo que o trabalho desenvolvido pela assistente social Emiliana Veras, fosse desempenhado de forma continuada, evitando que a troca de mudanças de governo não prejudicasse o desempenho das atividades do Serviço Social junto à referida instituição. Além de Emiliana Veras ter sido efetivada como Assistente Social do Tribunal de Justiça, e para completar o quadro de Assistente Social, Claúdia Maria Macedo de Lima também foi lotada no Serviço Social do Juizado de menores implantado com a justificativa de “(...) assistir juridicamente o menor de idade e/ou as crianças indefesas desassistidas socialmente nas suas necessidades de Pessoa Humana” (VERAS, op.cit, p.60).Complementando assim o trabalho do judiciário junto aos que necessitavam desse tipo de atendimento. Na década de 1980 os serviços ofertados pelo Serviço Social cresciam a cada dia, e isso trouxe a necessidade de contratação de mais profissionais. Nesta época o trabalho era com Atendimento ao Público, com Adoção e crianças que os pais tinham perdido o pátrio-poder26, além de trabalhar com a Liberdade assistida27. O trabalho foi transferido para o Fórum da Praça da Sé, onde o setor de Serviço Social foi ampliado ao estabelecer parceria com a Defensoria Pública, desta forma, o trabalhado foi crescendo e ganhando maior visibilidade. Passados trinta e sete anos, o Fórum Clóvis Beviláqua ganhou nova sede, inaugurada no dia 12 de dezembro de 1997, No Núcleo de Atendimento ao Público as Assistentes Sociais atualmente trabalham orientando e apoiando seus usuários, procurando criar condições de acordo entre as partes, cujo objetivo é agilizar e garantir uma resposta para os problemas postos pelos demandantes. Prestar apoio aos serviços judiciais, especialmente às Varas de Família, sucessões, cíveis e, em alguns casos, criminais, 26 Art. 28 – “A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda, tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou do adolescente, nos termos da Lei”. Nessa época quando se fazia quando se fazia referência ao Pátrio-Poder estava sendo feita alusão apenas ao poder do pai tinha sobre o filho(a), de forma desigual da mãe. Com o advento do ECA a terminologia Pátrio Poder continuou sendo utilizada, mas assumiu uma roupagem bem mais ampla, como resguardada a Lei. Além disso , e também por este motivo, passou-se a discutir a categoria teórica de “Poder Familiar”.(ECA, 1990). 27 Regime de liberdade aplicada aos adolescentes autores de infração penal ou que apresentam desvio de conduta, em virtude de grave inadaptação familiar ou comunitária, para o fim de vigiar, auxiliar, tratar e orientar. 26 bem como atender casos que compareçam ao setor, encaminhando-os quando necessário, às repartições competentes. Contribuir para agilidade de resolução de questões conflituosas, evitando o ajuizamento de Ações que podem ser solucionadas com a intervenção do Serviço Social. Mediar conflitos sociais, orientar e esclarecer Direitos Civis e Políticos assegurados em Lei aos usuários que procuram os serviços do Núcleo. A Instituição tem como função a prestação de atividades jurisdicionais, com o objetivo de diminuir os conflitos relacionados com o contexto social e assegurar os direitos dos indivíduos, garantindo a eficácia da lei, facilitando a prestação jurisdicional.O serviço prestado pelo Núcleo de Apoio à Jurisdição tem como premissa assessorar as Varas de Família, subsidiando a autoridade judiciária nos assuntos pertinentes às áreas de Serviço Social e Psicologia, mediante a realização de perícias. No tópico seguinte veremos mais detalhadamente o assunto citado neste parágrafo. 3.1 O Serviço Social na Vara de Família Família segundo Simões (2011) constitui a instância básica, na qual o sentimento de pertencimento e identidade social é desenvolvido e mantido e, também, são transmitidos os valores e condutas pessoais. Apresenta certa pluralidade de relações interpessoais e diversidades culturais, que devem ser reconhecidas e respeitadas, em uma rede de vínculos comunitários, segundo o grupo social em que está inserido. As particularidades do fazer profissional no campo sociojuridicopassaram a ser objeto de preocupação investigativa. O profissional do Serviço Social nas Varas de Família é um fato recentena história da profissão. Fávero (2006) descreve que tal fato pode ser atribuído à ampliação significativa da demanda de atendimento e de profissionais para área, sobretudo após a promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente, à valorização da pesquisa dos componentes dessa realidade de trabalho, inclusive pelos próprios profissionais atuantes, e, em consequência uma valorização de um campo de intervenção historicamente visto como espaço tão somente para ações disciplinadoras e de controle sociais. De acordo com Pizzol (2008, p. 36), “[...] Psicologia, Serviço Social e Direito unem suas singularidades em prol do estudo comum das questões de família, talvez 27 um dos terrenos mais férteis no longo e amplo convívio entre o Poder Judiciário e o cidadão”. Pizzol e Silva (2001) destacam que, no exercício de sua função no âmbito do Judiciário, o assistente social necessita munir-se de conhecimentos específicos e posturas próprias, e dentre as principais elenca: [...] seus instrumentais técnicos ( entrevistas, visitas domiciliares, relatório social, parecer social), nas legislações ( Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) 28 , Estatuto do Idoso 29 , Lei Maria da Penha 30 , Código de Ética do Assistente Social 31 , Constituição da República Federativa do Brasil 32 , Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) 33 , Código Civil 34 ), voltadas para garantia e efetivação dos direitos de seus usuários, tendo assim, compromisso profissional a cidadania, defesa, preservação e conquistas dos direitos. . A família, segundo Silva (2005), sofreu diretamente as influências das mudanças de uma sociedade agrária para uma sociedade industrial e enfrentou ao longo desse processo de mudança da economia nacional as transformações sociais do país, sendo que todos os membros tiveram que buscar fora da economia doméstica o seu próprio sustento. Conforme Alves (2006) a Constituição de 1988 representou um marco na evolução do conceito de família, elevando mulheres, crianças, adolescentes e idosos a sujeitos de Direito (art.226 a 230); equiparando homens e mulheres em direitos e obrigações (art. 226, § 5º), e terminando com o dogma35 do casamento como única 28 Lei Nº 8.069, de 13-07-1990 Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências. 29 Lei Nº 10741, de 01-10 -2003 Dispõe sobre o Estatuto do Idoso e dá outras providências. 30 Lei Nº 11.340, de 07-08-2006 Dispõe sobre a criação dos ajuizados de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher; altera o Código de Processo Penal e a Lei de execução Penal; e dá outrasprovidências. 31 LeiNº 8.662, DE 07 -06- 1993 Dispõe sobre a Profissão de Assistente Social e dá providências. 32 Constituição da República Federativa do Brasil de 1988 (Publicado no DOU N. 191 – A, de outubro). 33 Lei Nº 8.742, DE DEZEMBRO DE 1993 Dispõe sobre a organização da Assistência Social e dá outras providências. 34 Lei 10.406, de 10- 1 - 2002 Código Civil . 35 Um dogma é uma proposição que é considerada como certa e inegável. Trata-se dos fundamentos e dos princípios básicos de qualquer ciência, religião, doutrina ou sistema. O dogma é defendido por uma autoridade e não admite réplicas. Os seus fundamentos podem ser científicos, mas também religiosos ou filosóficos (isto é, não podem ser submetidos a provas de veracidade). Dá-se o nome de doutrinamento ao ensino de dogmas. (HOLANDA, 2013) 28 forma legítima de família (art. 226, § 3º e §4º) com o reconhecimento da união estável 36e da família monoparental37 como entidade familiar. Atualmente a família é protegida pelo Código Civil (Lei 10.406/2002), a Declaração dos Direitos a Criança na ONU (1989) e o Estatuto do Idoso (Lei 10.741/2003). No entanto, apesar de tanta proteção formal à família ninguém duvida que o tratamento jurídico atual não dá conta da abrangência dos conflitos familiares. Isso porque a legislação privilegiou, e continua a privilegiar, a estrutura da família em detrimento de sua dinâmica e da expectativa individuais de seus integrantes (PUPO, 2006, p. 41). No entanto, apesar de tanta proteção formal à família ninguém duvida que o tratamento jurídico atual não dê conta da abrangência dos conflitos familiares. Isso porque a legislação privilegiou, e continua a privilegiar, a estrutura da família em detrimento de sua dinâmica e das expectativas individuais de seus integrantes (PUPO, 2006, p. 41). O Poder Judiciário deve ser reconhecido “como espaço do cidadão comum e o acesso à justiça reconhecido como direito individual e passível de políticas públicas que, por sua vez, devem trazer a família contemporânea para o âmbito de suas discussões” (PUPO,2006, p.65). Oportunizando o cidadão comum exercer seus direitos junto ao Pode Judiciário, de forma que possa ser atendido em suas necessidades básicas, tendo a profissão de assistente Social reconhecida pela sociedade atual. É necessário que a sociedade civil juntamente com o poder judiciário e aqueles que o auxiliam reconheçam na profissão de Assistente Social mais um colaborador na prática das ações necessárias ao cumprimento daquilo que nos faz humanos. 3.2 O desenvolvimento das atividades cotidianas no Núcleo de Apoio Jurídico as Varas de Família 36 União estável é a relação de convivência entre dois cidadãos que é duradoura e estabelecida com o objetivo de constituição familiar. O Novo Código Civil não menciona o prazo mínimo de duração da convivência para que se atribua a condição de união estável. (www.casamentocivil.com.br, DEZ. 2014) 37 Família monoparental ocorre quando apenas um dos pais de uma criança arca com as responsabilidades de criar o filho ou os filhos (www.planalto.gov.br, DEZ. 2014). 29 O Serviço Social é uma profissão inserida nas relações sociais, desempenhando um papel de grande relevância na efetivação das políticas públicas e serviços sociais, atuando no desenvolvimento de ações, estudos e pesquisas em relação à questão social no campo jurídico, objetivando proporcionar auxílios que venham respaldar a propositura das ações judiciais ou mesmo facilitando Operadores de Direito e usuários no momento processual. O Serviço Social do Fórum Clóvis Beviláqua atua, diariamente, com usuários além de vulneráveis, em situação de conflito, essas pessoas que tem suas relações sociais fragilizadas, numa perspectiva de vínculo familiar e empregatício. Dentre as expressões da questão social que o Serviço Social no sócio jurídico atua, temos algumas destas, como: crianças em situação de abandono ou violentadas, casais em situação de conflito devido à separação, falta de regularização de pensão alimentícia e visitas de pais, dentre outras. O assistente social tem suas práticas profissionais atuando diretamente nas sequelas da questão social, tendo sua atuação embasada no Código de Ética Profissional (1993) se utilizando assim de instrumentais que amparam sua ação (TJCE, 2014). No Fórum Clóvis Beviláqua, os limites da intervenção profissional é o volume de processos para seremestudados e avaliados, as demandas são maiores que o número de profissionais, que a maioria não são concursados, alguns são disfunção, já que há muito tempo não concurso público voltado para essa área, tornando-se o trabalho precarizado. Conforme Iamamoto (2001, p. 145) desenvolve-se a seguinte análise sobre os limites institucionais o esforço volta-se para realizar um trabalho que zele pela qualidade dos serviços prestados e pela abrangência noseu acesso, o que supõe a difusãode informações quanto aos direitos sociais e os meios da sua viabilização. Sabe que o assistente social dispõe de relativo poder de interferência na formulação e/ou implementação de critérios técnico-sociais que regem o acesso dos usuários aos serviços prestados pelas instituições e organizações sociais públicas e privadas. Trata-se de envidar esforços para assegurar a universalidade ao acesso e/ou ampliação de sua abrangência, resistindo profissionalmente,tanto quanto possível, à imposição de critérios rigorosos de seletividade. Critérios que tendem a excluir parcelas significativas de cidadãos aos direitos e serviços sociais. 30 De acordo com Pizzol (2008, p.51) o serviço social institucionalizado pode ser um instrumento de esclarecimento e conscientização dos sujeitos. Por intermédio do profissional engajado, a população terá informação quanto aos direitos e aos benefícios à disposição na instituição, que poderão ser utilizados por toda sociedade. Além disso, pode também esclarecer quanto aos mecanismos necessários para sua utilização diante da barreira burocrática que muitas vezes se interpõe entre o indivíduo e o serviço a que tem direito. Segundo (ibid, p.66) convém salientar que a bandeira do Serviço Social contemporâneo é do usuário como sujeito de direitos, e não mais mero receptor de favores e filantropia por parte do Estado. Tal postura está respaldada no projeto ético-político da profissão38, que é direcionado pela lei que a regulamenta e pelo seu Código de Ética em vigor. Conforme (ibid, p. 67) disso se conclui que a atuação do Serviço Social nas lides judiciais vem gradativamente, assumindo uma ação pedagógica na promoção da justiça, que quando não alcançada de forma amistosa, permite ao usuário procurar o Judiciário para avaliar e resguardar suas pretensões. No Núcleo de Atendimento ao Público (extinto em abril de 2013) as Assistentes Sociais trabalham orientando e apoiando seus usuários, procurando criar condições de acordo entre as partes, cujo objetivo é agilizar e garantir uma resposta para os problemas postos pelos demandantes. Prestar apoio aos serviços judiciais, especialmente às Varas de Família, sucessões, cíveis e, em alguns casos, criminais, bem como atender casos que compareçam ao setor, encaminhando-os quando necessário, às repartições competentes. Contribuir para agilidade de resolução de questões conflituosas, evitando o ajuizamento de Ações que podem ser solucionadas com a intervenção do Serviço Social. Mediar conflitos sociais, orientar e esclarecer Direitos Civis e Políticos assegurados em Lei aos usuários que procuram os serviços do Núcleo (TJCE, 2014). O campo sócio jurídico tem se ampliado cada vez mais para a atuação de assistentes sociais, que como profissionais qualificados fazem a mediação de conflitos auxiliando no cumprimento dos direitos dos cidadãos, bem como no auxílio a solução de casos já com processos judiciais, pois o Núcleo de apoio à Vara de Família constituído por assistentes sociais e psicólogas, realizam estudos de casos 36 vide p. 21 31 afim de elaborar parecer social para ajudar na decisão judicial. O papel do assistente social nesta área é de suma importância, pois permite que se aproxime da realidade de forma a intervir garantindo os direitos(TJCE, 2014). De forma geral, a profissão do Assistente Social se depara com situações conflitantes em meio às demandas da população, e falta de recursos para viabilização dos direitos. “O Serviço Social aplicado ao contexto jurídico configura-se como uma área de trabalho especializado, que atua com as manifestações da questão social, em sua interseção com o Direito e a Justiça na sociedade.” (CHUAIRI, 2001, p. 81). Uma das dificuldades encontradas é a grande demanda de processos (cerca de 80 processos) para cadaAssistente Socialé preciso uma quantidade maior de profissionais que agilizasseessas demandas. Outra dificuldade é sobre o transporte, pois só existe um para o serviço social e outro para psicologia, então essa falta de mais transporte atrapalha na agilização dos profissionais em relação às visitas domiciliares (TJCE, 2014). O desafio da profissão é grande, mas não podemos nos desanimar com as circunstâncias adversas que encontraremos, é preciso coragem para seguir adiante no enfrentamento das questões sociais. Temos um amparo legal no qual devemos nos apoiar para garantir que os direitos sejam cumpridos. Os instrumentos geralmente utilizados neste campo são as entrevistas, visitas domiciliares e relatórios sociais, que permite ao profissional uma aproximaçãomais profunda da realidade do usuário e auxilia na compreensão à demanda do usuário, que muitas vezes já chega para ser atendido muito fragilizado (TJCE, 2014). Os serviços prestados pelos profissionais de Serviço Social representam um grande suporte ao núcleo jurídico, no qual apoiam mediar conflitos e agilizar os processos. O profissional que atua nesta área deve está consciente da importância de seu serviço, buscando obter os conhecimentos de todas as alterações de leis, que mudam constantemente, para obter um resultado mais eficaz, ressaltando também que o seu trabalho tem que ser levado muito a sério, assumindo a responsabilidade e compromisso com a sociedade verdadeiramente, tendo um olhar sensível, capaz de perceber para além do que está exposto, pois o seu parecer social é de grande relevância em uma decisão judicial (TJCE, 2014). 32 Há algumas décadas, os Assistentes Sociais, colocam-se à disposição do Judiciário, e os seus conhecimentos consolidados no Código de Ética Profissional (1993), busca orientar o trabalho do Assistente Social pelos princípios ético-políticos como o assistente social tem suas práticas profissionais atuando diretamente nas sequelas da questão social. As Assistentes Sociais no Núcleo de Apoio Jurídico as Varas de Família trabalham com vários de instrumentos, principalmente, o ‘Estudo Social’, Perícia Social e Parecer Social que de acordo com Fávero (2003, p.38) é o (...) processo metodológico do Serviço Social, que tem por finalidade, conhecer com profundidade, e de forma crítica, uma determinada situação, expressão da questão social. O estudo Social deve permanecer sigilosamente em arquivos do Serviço Social, Ainda citando Fávero (2003, p. 40) e a perícia social “(...)vistoria ou exame de caráter técnico especializado. Sempre solicitada por alguém, no caso da Fávero, esta afirma que é prerrogativa do judiciário”. Comprovando sua eficácia, reconhecendo que ainda resta muito a fazer. O trabalho do Serviço Social em Varasde Família por intermédio de seus pareceres nos processos de família é de fundamental importância na decisão do magistrado. De acordo com Pizzol(p.36), O Conselho Federal do Serviço Social, reconhecendo a importância desse campo de trabalho profissional e a necessidade de contribuir com esclarecimentos, principalmente sobre o estudo e a perícia social, com a colaboração de profissionais como Eunice Terezinha Fávero, promoveu a publicação em 2003 do livro Estudo Social em perícias, laudos e pareceres técnicos: contribuição ao debate do judiciário, no penitenciário e na previdência social: O estudo social, a perícia social, o laudo social 39e o parecer social 40fazem parte de uma metodologia de trabalho de domínio específico e exclusivo do assistente social. É o assistente social o profissional que adquiriu competência para dar visibilidade, por meio desse estudo, às dinâmicas dos processos sociais que39 Laudo Social: registro por escrito, e de maneira fundamentada, os estudos e conclusões da perícia; Elemento de prova com a finalidade de dar suporte à decisão judicial; Contribui para a formação de um juízo sobre determinado assunto.(FÁVERO, 2003). 40 Parecer Social: (...) pode ser emitido enquanto parte final ou conclusão de um laudo, bem como resposta a consulta ou a determinação de autoridade judiciária a respeito de alguma questão constante em processo já acompanhado pelo profissional. Trata-se de exposição e manifestação sucinta, enfocando objetivamente a questão ou situação social analisada.(FÁVERO, 2003). 33 constituem o viver dos sujeitos; [...] Mas o que é solicitado ao assistente social não é o conhecimento jurídico, ou a interpretação da lei, mas o conhecimento específico do Serviço Social, de forma que sua apresentação, por meio do estudo social, contribua para a justa aplicação da lei (Pizzol, apud Fávero, 2003, p. 41). Para que o trabalho do Assistente Social se concretize é necessário que ele sem dúvida alguma tenha pleno conhecimento de suas funções e responsabilidades dentro do contexto em que está inserido, pois, somente assim poderá prestar um serviço capaz de mudar as realidades vividas. O Assistente Social enquanto profissional consciente do seu papel dentro de uma sociedade capitalista e tão cheia de desigualdades sociais, como profissional criativo e propositivo deve estar constantemente em busca de estratégias e políticas para viabilizar ao cidadão brasileiro acesso aos serviços, bens e politicas sociaisoferecidas pelas instituições públicas. 34 4 PERCURSO METODOLÓGICO Nossa pesquisa segue os critérios do Ciclo de Pesquisa de Minayo (2010), definido por ela como um peculiar processo de trabalho em espiral que começa com uma pergunta e termina com uma resposta ou produto que, por sua vez, dá origem a novas interrogações. Esse Ciclo de Pesquisa é dividido em três fases, exploratória, de campo e por fim análise e tratamento do material empírico e documental. Iniciaremos certamente com a fase exploratória, que trata da produção do projeto de pesquisa e de todos os procedimentos necessários para preparar a entrada em campo, segundo a autora. Nossa pesquisa aborda a atuação do Assistente Social no Núcleo de Apoio Jurídico a Vara de Família no Fórum Clóvis Beviláqua, nosso tema foi recortado de acordo com a viabilidade e possibilidade de execução da investigação, pensando em uma pesquisa, não só teórica, mais com o contato direto com o campo e os sujeitos da pesquisa. A escolha dos sujeitos é um momento de fundamental importância, porque vamos traçar perfis, esses sujeitos devem se encaixar nos motivos que nos levaram a pesquisar na aquela instituição e aqueles sujeitos especificamente, por este motivo descrevemos os nossos critérios abaixo, nos baseando no raciocínio de Minayo (2010). Os sujeitos, peça fundamental da nossa investigação seguem os critérios das Assistentes Sociais que trabalham há mais tempo no Núcleo de Apoio Jurídico as Varas de Família, orientada quanto o processo da pesquisa e da entrevista, solicitando o seu consentimento. Ao formularmos perguntas ao tema, estaremos construindo sua problematização. Um problema decorre, portanto, de um aprofundamento do tema. Ele é sempre individualizado e específico. (Ibid, 2010, p. 39). Entrando na fase do trabalho de campo da nossa pesquisa, que segundo Minayo (2010) consiste em levar para a prática empírica a construção teórica elaborada na fase anterior, ou seja, fase exploratória que descrevemos acima. Na fase do trabalho de campo, definimos nossos instrumentos metodológicos e técnicas utilizadas para elaboração da pesquisa, sempre com embasamento teórico. De acordo com Minayo (2010) a pesquisa de campo que é um processo importante na construção do projeto, os dados são coletados no local da pesquisa, 35 os instrumentos utilizados é observação participante e entrevista com perguntas abertas, já que estamos em contato direto com o fenômeno. . Conforme Minaio(2010) a observação no local da pesquisafornece informações necessárias para enriquecer o estudo com anotações que somente a observação do campo pode nos dar. Pode-seregistrar, questionamentos, informações e angústias que não se consegue utilizando outras técnicas. Essas anotações ajudaram a compor etapas da pesquisa, sem perder nada que julgamos importante para alcançar nosso proposito que é elaborar e concluir nossa pesquisa com qualidade. Pois de acordo com Minayo (2008) O diário de campo é pessoal e intransferível. Sobre ele o pesquisador se debruça no intuito de construir detalhes que no seu somatório vai congregar os diferentes momentos da pesquisa. Demanda um uso sistemático que se estende desde o primeiro momento da ida ao campo até a fase final da investigação. Quanto mais rico for, em anotações esse diário, maior será o auxílio que oferecerá à descrição e à análise do objeto estudado. (MINAYO, 2008, p. 64). Abordagem da pesquisa é qualitativa, visto que, conforme Martinelli (1999), ela possui dimensão política, por expressar interesses e intencionalidades. A pesquisa objetiva analisar as informações colhidas através dos profissionais do Núcleo de Apoio a Jurisdição composto pelo Serviço Social e Psicologia do Fórum Clóvis Beviláqua, buscando aproximações teóricas, assim como, a análise de documentos oficiais condizentes com a realidade vivenciada dos sujeitos alvo da pesquisa. Segundo Martinelli (1999) No que se refere às pesquisas qualitativas, é indispensável ter presente que, muito mais do que descrever um objeto, buscam conhecer trajetórias de vida, experiências sociais dos sujeitos, o que exige uma grande disponibilidade do pesquisador e um real interesse em vivenciar a experiência da pesquisa. (MARTINELLI, 1999, p. 25). De acordo com Martinelli (1999), a autora afirma que todos somos sujeitos políticos quando se tratado de pesquisa qualitativa, lembrando-nos que a natureza desse tipo de pesquisa nunca é feita apenas para o pesquisador, pois seu sentido é social, portanto deve retornar ao sujeito, pois a pesquisa qualitativa lida com 36 significados de vivências que precisam ser devolvidos aos sujeitos que dela participaram. Na pesquisa qualitativa todos nós somos sujeitos políticos, o que nos permite afirmar que ela, em si mesma, é um exercício político, não há nenhuma pesquisa qualitativa que se faça a distância de uma opção política, então, ao estabelecermos o desenho da nossa pesquisa estamos nos apoiando em um projeto político singular que se articula a projetos mais amplos e que, em ultima analise, relaciona-se até mesmo com o projeto de sociedade pelo qual lutamos. (IBID, p.26). Segundo Martinelli (1999) através da pesquisa qualitativa pode-se elaborar e aplicar o que de fato a pesquisa se propõe, pois nos permite trabalhar com outras fontes, ou seja, fazer uso de técnicas diferentes como visitas, observação participativa, recurso de imagem, como as fotografias que forem relevantes para os sujeitos e para a pesquisa. Optamos pela entrevista com questões aberta, pois a mesma possibilita ao entrevistado falar sobre o tema livremente e também trabalharmos com a entrevista estruturada no qual são feitas perguntas previamente formuladas, por este motivo chamada de semiestruturada, pois é possível trabalhar com ambas as entrevistas, estruturada e não estruturada. [...] as entrevistas podem ser estruturadas e não estruturadas, correspondendo ao
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