Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
UNIVERSIDADE ESTÁCIO DE SÁ Curso de Serviço Social Polo: Arapiraca/AL SUYANNE FERREIRA DO NASCIMENTO SILVA AS CONTRIBUIÇÕES DO ASSISTENTE SOCIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO NO BRASIL Arapiraca/AL 2020 SUYANNE FERREIRA DO NASCIMENTO SILVA AS CONTRIBUIÇÕES DO ASSISTENTE SOCIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO NO BRASIL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Universidade Estácio de Sá como requisito parcial para obtenção do grau de Bacharel em Serviço Social Orientadora: Prof. Ms. Maria Eunice A. Dantas Arapiraca/AL 2020 SUMÁRIO 1- INTRODUÇÃO ....................................................................................................... 05 2 - REFLEXÕES ACERCA DA ADOÇÃO NO BRASIL 2.1 ASPECTOS HISTORICOS DO PROCESSO DE ADOÇÃO NO BRASIL............... 06 2.2 O PROCESSO DE ADOÇÃO NO BRASIL............................................................... 08 2.3 A LEGISLAÇÃO DO PROCESSO DE ADOÇÃO NO BRASIL E O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE ........................................................................................11 3 – O SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO NO BRASIL 3.1 A QUESTÃO SOCIAL E O SERVIÇO SOCIAL.......................................................... 16 3.2 O SERVIÇO SOCIAL NO PODER JURIDICO..............................................................18 3.3 A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO NO BRASIL....................................................................................................................................21 4- CONCLUSÃO....................................................................................................................25 REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS.................................................................................26 SILVA, Suyanne Ferreira do Nascimento. As contribuições do Assistente Social no processo de Adoção no Brasil. Curso Serviço Social. Universidade Estácio de Sá, 2020. RESUMO O presente trabalho tem como objetivo geral compreender a adoção no Brasil e o papel do assistente social nesse processo. Tem como objetivos específicos reportar os aspectos históricos do processo de adoção, sistematizar as legislações do processo de adoção e compreender a intervenção do assistente social nesse processo. A escolha do tema foi pela vontade de compreender como o Serviço social contribui no trabalho dessa demanda. Para construção do trabalho analisou-se o Estatuto da criança e do Adolescente (ECA) no que tange ao processo de adoção. A adoção caracteriza-se nos dias atuais como uma garantia de se ter uma família. Para isso, foi utilizado como metodologia a revisão bibliográfica e pesquisa qualitativa. Através da pesquisa bibliográfica realizamos um levantamento histórico da adoção e como se desenvolveu durante a história. Compreende-se, portanto, que a adoção passa a ser vista como um mecanismo que deve priorizar a criança, garantindo-lhe vantagens tanto do ponto de vista psicológico quanto jurídico. A atuação do assistente social frente ao processo de adoção também foi analisada, por meio de um breve resgate histórico da profissão, sua atuação no campo sociojurídico, enfatizando o papel e o desafio do assistente social nos processos de adoção no Brasil. Palavras – Chaves: Adoção. Direitos Sociais. Serviço Social 5 1 INTRODUÇÃO O trabalho aqui apresentado, contextualiza sobre o processo de adoção no Brasil e a atuação do Serviço Social durante o processo de adoção. O tema foi escolhido devido ser um campo de atuação do assistente social que apresenta extrema importância e responsabilidade, como também inúmeros desafios. Esse trabalho pretende contribuir com o debate sobre a adoção, os fatores que influenciam direta e indiretamente o bem-estar da criança, e o trabalho do serviço social no campo sociojurídico e enfatizando no processo de adoção. Tem como objetivo geral tem como objetivo geral compreender a adoção no Brasil e o papel do assistente social nesse processo. E como objetivos específicos reportar os aspectos históricos do processo de adoção, sistematizar as legislações do processo de adoção e compreender a intervenção do assistente social nesse processo. As informações foram levantadas por meio de pesquisas bibliográficas, legislações vigentes da temática. O método utilizado foi o qualitativo. O assistente social é um profissional que apresenta uma larga atuação em distintos campos, sendo um destes o Poder Judiciário. Diante dos levantamentos teóricos, construiu-se o seguinte questionamento: De que forma o assistente social atua e enfrenta os desafios no campo sociojurídico no que remete ao processo de adoção? O presente trabalho foi dividido em três capítulos, para melhor compreensão. No primeiro capítulo realizou-se a Introdução. Logo após temos o segundo capítulo que reflete sobre o processo de adoção fazendo um resgate histórico e aponta as legislações atualizadas que envolve o processo. No terceiro capítulo, busca-se ressaltar a importância do serviço social no campo jurídico e durante todo o processo de adoção. 5 2 - REFLEXÕES ACERCA DA ADOÇÃO NO BRASIL Neste capítulo pontuaremos sobre a contextualização histórica do processo de adoção, também ressaltaremos sobre os desafios e as motivações dos pretendentes a adotar, durante o processo de adoção e os avanços no que diz respeito as legislações pertinentes a esse segmento. 2.1 ASPECTOS HISTORICOS DO PROCESSO DE ADOÇÃO NO BRASIL No Brasil, a adoção acontece desde épocas remotas da civilização, porem possuía conotações diferentes, e com o passar do tempo, diante da evolução social, as legislações foram se modificando e ocorreu mudanças no processo de adoção. Segundo Weber (2001, p.100) “a palavra adoção deriva do latim, adaptio, que possui como significado escolher, adotar.” No conceito de Cury, temos: A adoção é o ato do adotante pelo qual traz ele, para sua família e na condição de filho, pessoa que lhe é estranha. Ou ainda a adoção sendo o meio no qual atribui a condição de filho ao adotado, ocorrendo total e completo desligamento do adotado com o seu vínculo familiar anterior, salvo no caso de impedimentos matrimoniais (CURY, 2010, p.190). Ainda sobre o tema Adoção, Souza, define como: Adotar é um ato jurídico pelo qual o vínculo de filiação é criado artificialmente. Gera, sem consanguinidade, o parentesco de primeiro grau em linha reta descendente. Adotar é dar a alguém a oportunidade de crescer. É inserir uma criança em uma família definitiva e com todos os vínculos próprios de filiação. É uma decisão para a vida. A criança deve ser vista realmente como um filho que decidiu ter (SOUZA,2008, p.17). De acordo com Paiva (2004, p.19) “a situação destes ‘filhos de criação’ nunca era regulamentada, servindo sua permanência como oportunidade para mão-de-obra gratuita e, ao mesmo tempo, prestar auxílio aos mais necessitados, como ato religioso.” Dentro desse contexto nos remete Weber (2001, p.25) “a herança dos ‘filhos de criação’ contribuiu negativamente, para que ainda hoje, esta forma de filiação seja impregnada por mitos e preconceitos”. Assim, a adoção a princípio estava relacionada a caridade, onde os ricos prestavam assistência aos pobres, eram os conhecidos “filhos de criação”. 6 É importante ressaltar, que historicamente, a adoção traz consigo o abandono e a exclusão, que prevalecia para as crianças pobres, mas que, embora tenha seu processo histórico vinculado ao abandono, não significa que a mesma seja sinônimo de abandono atualmente (FÁVERO,2007). Para Fávero (2007, p.56) “durante o processo histórico no Brasil, as dificuldadesde subsistência contribuíram muito para que muitas mães, sobretudo solteiras ou viúvas, abandonassem seus filhos, introduzindo o conceito de abandono em suas crianças enjeitadas ou expostas”. De acordo com Motta (2001), no Brasil, por volta de 1726, para tratar a questão do abandono de crianças nas ruas e até nas calçadas, adotou-se os costumes de Portugal, e criou- se a Roda dos Expostas ou Roda dos Enjeitados. A primeira foi instalada em 1726, em Salvador e a segunda em 1738, no Rio de Janeiro. Ainda de acordo com o autor, essas rodas eram instaladas em Conventos, Santas Casas e Hospitais para receberem recém-nascidos sem qualquer identificação civil. Pode-se afirmar, que a roda foi a primeira política de acolhimento estabelecida pelo governo junto as Santas Casas de Misericórdias. Para Fávero (2007) até o século XX, no Brasil, a adoção não era regulamentada juridicamente. Sua prática era permitida apenas a casais que não tinham filhos biológicos, através da entrega de uma criança que fora deixada na Roda dos Expostos Vale ressaltar, que a sociedade tinha uma visão preconceituosa da roda dos expostos, o que prolongava muito a institucionalização da criança, Segundo Fontes (2005) os orfanatos passam então a receber crianças, ratificando a condição de instituições permanentes, pois como não existia a legitimação da adoção, as mulheres abandonavam seus filhos. Acontece o fim da Roda dos Expostos, mas nos deparamos com a institucionalização de crianças e adolescentes “abandonadas” pela sociedade, fator que também nos aponta para desigualdade social existente em nosso país (FONTES, 2005). O Brasil foi o último país a extinguir a Roda dos Expostos em 1950, mas continua-se com a atuação dos orfanatos, onde ainda persistia o abandono. Como forma legítima, a primeira vez que a adoção se deu, foi em 1828, tendo como objetivo solucionar o problema de casais sem filhos (PINHEIRO, 2001). Logo após, o Código Civil de 1916 (Lei 3071/16) postula que, além de a adoção ser permitida apenas para casais sem filhos, poderia ser revogada e o adotando não perderia o vínculo com a família biológica (PINHEIRO, 2001). 7 As instituições foram criadas com o intuito de resguardar a criança e ao adolescente, mas institucionalizar uma criança pode causar danos irreparáveis, pois na maioria das vezes são vítimas de preconceitos e exclusão social. Afirma Cunha (2011), durante esse período, o procedimento para adoção era judicializado, cabendo aos juízes o dever de confirmar o ânimo dos interessados em audiência, onde havia a expedição da carta de perfilhamento, que é a carta que oficializa o ato da adoção. Ainda de acordo com Cunha (2011), em 1957, acontece uma reformulação pela Lei 3.133/57 que revoga que as pessoas que já possuíam filhos poderiam adotar, porém ao filho adotivo não haveria direito à herança. Por volta de 1965, isso foi modificado, e o adotado passou a ter os mesmos direitos legais do filho biológico. Apenas com a Constituição Federal de 1988 – CF/88, que a lei passou a tratar de maneira igualitária os filhos, sendo eles biológicos ou não. Segundo Camargo (2005, p.32), no Brasil, o destino das crianças abandonadas pelos familiares segue uma ordem já pré-determinada; alguns são enviados à Instituições que são mantidas pelo Estado, em sua maioria, e somente uma pequena parcela acaba sendo adotada por casais e famílias. Enfim, decidir adotar é uma decisão muito importante e deve ser refletida com muita seriedade, pois adotar é reconhecer no filho gerado por outro, o próprio filho. 2.2 O PROCESSO DE ADOÇÃO NO BRASIL Atualmente, não existe mais a concepção de que os arranjos familiares são formados unicamente por laços biológicos, pois os laços afetivos são fatores preponderantes no âmbito familiar, uma vez que o afeto é o principal elemento responsável para que filhos e pais possam ter uma relação harmoniosa (SARMENTO, 2000). Com relação a adoção no Brasil, a princípio é necessário que a família que pretende adotar preencha alguns requisitos pessoais, formais e obrigatórios para o deferimento do processo. Neste contexto, continua Sarmento (2000, p. 08) “apesar das condições aparentemente favoráveis, onde para cada casal existe cinco crianças, ainda existe à espera devido ao perfil idealizado pela maioria dos pais pretendentes”. É de suma importância que toda família que deseja adotar conheça a fundo os tramites para uma adoção. 8 Afirma Dias (2010), no que concerne ao processo de adoção no Brasil, o site do Conselho Nacional de Justiça, criou o Cadastro Nacional de Adoção (CNA), que dispõe de um registro com dados e informações de pessoas interessadas em adotar. O CNA é um sistema de informações que consolida os dados referentes a crianças e adolescentes em condições de serem adotados e a pretendentes habilitados à adoção. Assim, a família que pretende adotar, deve procurar a Vara de Infância e Juventude da sua comarca e este será orientado a quais documentos deverá providenciar. Caso sejam aprovados, o casal ou o indivíduo já estará habilitado para constar no Cadastro local e nacional de pretendentes à adoção. De acordo com Granato (2005, p. 83), o Cadastro Nacional de Adoção é uma importante ferramenta na efetivação da adoção: A principal finalidade é possibilitar o encontro de pessoas interessadas em adotar, com crianças e adolescentes que possam ser adotados podendo assim haver a concretização de adoções que não ocorreriam se não fosse a oportunidade aberta pelo cadastro nacional de adoção. O processo de adoção tem como objetivo atender as necessidades das crianças e dos pais, proporcionando que ela encontre uma nova família, um ambiente afetivo positivo e satisfatório. Desta forma, fica claro que o principal objetivo do Cadastro Nacional de Adoção, é proporcionar celeridade ao processo e possibilitar o encontro de pessoas interessadas em adotar, com crianças em condições de serem adotadas (DIAS, 2010). Diante disso, nos remete Duccatti ( 2004), inúmeros são os motivos que levam as pessoas a procurarem pela adoção, entre eles, temos: dificuldade de engravidar, desejo de ser pai/mãe, o sentimento altruísta de dar uma família para uma criança, ter uma companhia, entre outros. Souza (2008, p.05) considera que a motivação para adoção é aquilo que desperta o interesse e o desejo de uma pessoa tornar-se pai ou mãe e varia de uma pessoa para outra. Neste sentido, Reppold e Hutz (2003, p.77) “classificam as motivações em: altruístas, relacionadas ao desejo social de beneficiar uma criança ou um adolescente, e hedonistas, aquelas relacionadas ao desejo pessoal de ter um filho.” Segundo Franco &Melão (2007, p.44) deve-se estar atento quanto às pretensões equívocas para adoção: Embora em muitas situações a pretensão de adotar esteja fundamentada numa pretensão ilegítima, ou seja, baseada em outros interesses que não a criança em si, como a esterilidade masculina, morte de um filho, resolução de conflitos conjugais, caridade, falta de companhia e outros, é importante que o interesse da criança em si seja o fator determinante na disposição para a adoção. 9 Pode-se dizer que a criança só se constitui a partir da relação com o outro, e que a família aparece, como núcleo fundamental para estruturação e desenvolvimento de cada indivíduo. Souza (2008, p.45) ressalta que adotar não é fazer um favor a uma criança, nem esperar que ela seja uma companhia para sua solidão. Conforme Camargo (2005, p.04) Em trabalho com o Grupo de Apoio aos Pais Adotivos, foi possível detectar uma série de mitos, medos e expectativas, atuando de modo negativo no processo de preparação dos casais e famílias, tanto para a adoção como para o momento da revelação da verdade ao filho já adotado. Neste sentido, muito pouco do que ouviram dizer, do que souberam ter acontecido com outros casais e famílias, ou do que tinhamlido acerca da adoção, os encaminhava para uma perspectiva de adoção positiva e propensa ao êxito. Com os mitos instalados e os medos atuando, sobretudo no que diz respeito à verdade sobre a origem da criança, seu passado e seu futuro após a revelação, muitos casais e famílias com potencial para adoção deixam de concretizá-la. Sendo assim, a prática da adoção de crianças requer tanto da família adotante quanto da criança pretendida uma profunda capacidade de adaptação. A adoção se efetiva, passando a produzir efeitos jurídicos, a partir do trânsito em julgado da sentença constitutiva (KAPLAN,2003). Vale ressaltar, que para que ocorra todo o processo de adoção, tem-se que haver a destituição do poder familiar ou a sua extinção por orfandade, é o que traz o artigo 1635, inciso V, do Código Civil. Após a destituição do poder familiar, as crianças aguardarão por novas famílias que possam recebê-las em instituições de abrigo. A principal característica política dessas instituições de abrigo é afastar do olhar público tudo que atenta contra a dignidade humana e a ordem social. O abrigo tem dentre suas finalidades, prover o sustento, moradia, saúde e educação, ou seja, oferecer assistência à criança que se encontra sem os meios necessários à sua sobrevivência, por diversos motivos, seja de maneira definitiva ou provisória (RIBEIRO,2002). Ocorre em algumas situações, pais que possuem dificuldade na adaptação e acabam por devolver a criança para a instituição, e isso representa um trauma, gerando frustação na mesma, que já vem de um histórico de abandono e agora passa por uma rejeição (STEINHAUER, 1992). Vale aqui ressaltar, que em um processo de adoção fracassado, a maioria das crianças possui dificuldades em se adaptar há novos pais (RIBEIRO,2002) Segundo Levinzon (2000, p.18), uma boa relação com os pais adotivos, na qual a criança se sente amada, aceita e compreendida, proporciona-lhe a oportunidade de minimizar suas fantasias de abandono. 10 Porém, o processo de adoção no Brasil é conhecido por sua morosidade e burocracia, indo defronte com os direitos da criança e do adolescente, essas continuam em longas filas para adoção, pois quanto mais características o candidato solicitar, mas tempo permaneceram na fila (PERUZZOLO,2004). Enfim, o processo de adoção no Brasil está longe da forma que acontecia há décadas atrás, com famílias "pegando para criar", porém se caracteriza pela pouca agilidade nos processos. A morosidade e a burocracia processual acabam gerando na família interessada em adotar uma desmotivação, até diminuindo a vontade de adotar, uma vez que a demora processual pode fazer com que os sentimentos e as situações dos adotantes se modifique (PERUZZOLO,2004). De acordo com o Conselho Nacional de Justiça há quantidade enorme crianças aptas para adoção, mas muitas não se encaixam nas características desejadas pelos pais pretendentes Afirma Luz (2009, p.238) Conforme dados estatísticos, embora pareça, paradoxal, o número de adotantes supera o de adotandos. A justificativa é a de que nem sempre as características dos adotandos coincidem com a preferência dos adotantes: criança de pele clara, com no máximo três anos de idade e que seja filho único. Esse é o perfil desejado pela maioria dos casais brasileiros que pretendem adotar. Ocorre que a maior parte dessas crianças é formada de grupos de irmãos, que não podem ser separados, com idade superior a três anos e portadores de algum tipo de necessidade especial. Vale ressaltar, que temos um sistema em que prevalece é o interesse da criança, sendo que estas é que realmente importam em todo esse processo. Portanto, vale lembrar que as crianças e adolescentes, por mais que tenham poucos anos de vida, já carregam muitas cicatrizes e assim só buscam um lar para seguir a vida rumo à felicidade. Existe muita burocracia no procedimento da adoção, e descaso por parte do Estado, mas também há muito preconceito em nossa sociedade (PERUZZOLO,2004). Contudo, ainda existe muito a ser realizado para que seja legitimada a aceleração necessária dos processos que envolvem a adoção, principalmente por conta da idade dos menores envolvidos, que muitas vezes, nos casos de demora exagerada dos processos, podem chegar inclusive a maioridade sem que seu processo de adoção seja concluído. 2.3 A LEGISLAÇÃO ATUAL DO PROCESSO DE ADOÇÃO NO BRASIL E O ESTATUTO DA CRIANÇA E DO ADOLESCENTE 11 No Brasil, ao falarmos em adoção, a temática já estava disposta no Código Civil de 1916 e também no Código de Menores de 1927. O código de 1916 tinha como maior preocupação a defesa dos interesses patrimoniais, principalmente quanto às relações familiares (LIBERATI,1995). Porém, com o advento da Constituição Federal de 1988 (CF/88), a estrutura familiar ganhou uma ênfase mais humanista, preocupada com o maior reconhecimento da dignidade de seus membros. A CF/88 difere das anteriores por ter um caráter mais voltado para a valorização do indivíduo (BRASIL,1988). Porém, foi a partir da promulgação do Estatuto da Criança e do Adolescente de 1990 (ECA), juntamente com o Código Civil de 2002, que a adoção ganhou uma conotação maior, enfatizando a efetiva defesa do melhor interesse de crianças e adolescentes. (BRASIL,1990). De acordo com Diniz (2010, p.67) A adoção hoje, não consiste em dar filhos para aqueles que por motivos de infertilidades não os podem conceber, ou por “ter pena” de uma criança, ou ainda, alívio para a solidão. O objetivo da adoção é cumprir plenamente às reais necessidades da criança, proporcionando-lhe uma família, onde ela se sinta acolhida, protegida, segura e amada. Com relação a legislação sobre a adoção no Brasil, é inegável os grandes avanços, porém o maior avanço foi à promulgação do ECA, que modificou o foco da legislação de forma que as crianças e adolescentes menores passaram também a serem sujeitos de direito e para tal precisavam ter direitos ao seu bem estar e a sua qualidade de vida, amparadas amplamente pelo Estado. O ECA foi legalizado com o objetivo de modificar o instituto da adoção, isso ocorreu por meio das lutas e reivindações dos movimentos sociais para que as crianças e adolescentes tivessem cidadania (BRASIL,1990). O art. 4 do ECA funda-se no princípio da proteção integral da criança e adolescente, já consagrado na Constituição Federal em seu art.227. (BRASIL,1990) O ECA, em seu art. 41, também estabelece o conceito legal de adoção “A adoção atribui a condição de filho ao adotando, com os mesmos direitos e deveres, inclusive sucessórios, desligando-o de qualquer vínculo com pais e parentes, salvo os impedimentos matrimoniais” (BRASIL,1990). Vale ressaltar, que existe o estágio de convivência, que é o período em que a criança ou adolescente é colocada em uma família para trabalhar a afinidade, afetividade, e pode ser substituído pela tutela ou pela guarda, que também são alternativas de família substituta. Nas palavras deVenosa (2011, p.293): 12 Tem-se o estágio de convivência como: A finalidade de adaptar a convivência do adotando ao novo lar. Entende-se ser o estágio de convivência um período de adaptação recíproca, cabendo ao juiz analisar seu período de estagio necessário, pois o período de convivência é a confirmação de interesse das partes. Muitas vezes, existe uma distorção sobre as definições de guarda e tutela. Ambas são formas de acolher, mas com concepções diferentes. A Tutela é definida quando um indivíduo recebe a incumbência de cuidar de um menor que está fora do pátrio poder por algum motivo. Nesse período o tutor administra os bens do menor, tendo poder de representa-la se for necessário. No que diz respeito a guarda, o detentor deve garantir assistência em todos os aspectos, seja, eles, material, moral e educacional. (BRASIL,1990) Nenhum dos estágios acima citados, a criança ou o adolescenteadquire status de filho e os processos podem ser revogados a qualquer momento, bem diferente da adoção. O artigo 46, do ECA, em seu parágrafo 1º, trata da dispensa do estágio de convivência nos casos em que o adotando, desde que esteja na companhia do adotante por meio de guarda ou tutela durante tempo suficiente para poder avaliar o relacionamento entre ambos fica dispensado do período de convivência. (BRASIL,1990) Conforme dispõe o Estatuto da Criança e do Adolescente em seu artigo 28 parágrafo 5º, o processo de adoção se configura Art. 28: A colocação em família substituta far-se-á mediante guarda tutela ou adoção, independentemente da situação jurídica da criança ou adolescente, nos termos desta Lei. (...) § 5º - A colocação da criança ou adolescente em família substituta será precedida de sua preparação gradativa e acompanhamento posterior, realizados pela equipe interprofissional a serviço da Justiça da Infância e da Juventude, preferencialmente com apoio dos técnicos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar (BRASIL,1990, p.32). Segundo Silva (2009, p.87) Embora legalmente o ECA tenha possibilitado falar em igualdade de direitos para filhos biológicos e adotivos, para esta lei a adoção aparece como medida secundária de colocação de crianças e adolescentes em uma família, posto que prega ser primeiramente um direito de aqueles serem criados em suas famílias biológicas. A adoção apenas ocorre quando todas as tentativas de manter os vínculos familiares se esgotarem. No art. 28 do ECA, no que se refere à adoção, temos: Sempre que possível, a criança ou o adolescente será previamente ouvido por equipe interprofissional, respeitado seu estágio de desenvolvimento e grau de compreensão sobre as implicações da medida, e terá sua opinião devidamente considerada. 13 § 2o Tratando-se de maior de 12 (doze) anos de idade, será necessário seu consentimento, colhido em audiência. § 3o Na apreciação do pedido levar-se-á em conta o grau de parentesco e a relação de afinidade ou de afetividade, a fim de evitar ou minorar as consequências decorrentes da medida. § 4o Os grupos de irmãos serão colocados sob adoção, tutela ou guarda da mesma família substituta. Ressalvada a comprovada existência de risco de abuso ou outra situação que justifique plenamente a excepcional idade de solução diversa, procurando-se, em qualquer caso, evitar o rompimento definitivo dos vínculos fraternais (BRASIL,1990, p.32). Em 2009, sancionou-se algumas alterações no ECA com relação a adoção, em nada menos que 54 artigos, e inúmeras inovações, que tiveram o intuito de garantir que crianças e adolescentes tenham direito de conviver com seus familiares, e somente em último caso a adoção. No que diz respeito ao registro de nascimento do adotado, de acordo com o art.47 do ECA, a sentença que concede a adoção será inscrita no Registro Civil mediante mandado do juiz prolator da sentença. Não poderá haver nenhuma observação na certidão de registro. Outro avanço que merece destaque foi a aprovação em 03 de agosto de 2009 da Lei nº 12.010/2009 - Lei Nacional de Adoção. Essa Lei dispõe não apenas sobre a adoção, mas também procura aperfeiçoar a sistemática prevista no ECA, para garantia do direito à convivência familiar, retirou a regulamentação do Código Civil passando o tema para o ECA. Em 2017, a Lei 13.509 alterou o ECA, reduzindo prazos e reforçando o instituto da adoção dentro do sistema e da proteção jurídica. Embora o Estatuto da Criança e do Adolescente confira aos abrigos um caráter provisório, muitas crianças passam toda a sua infância confinada nestes, e quando atingem a maioridade são obrigados a irem embora sem nenhuma perspectiva de futuro (CURY,2010). Vale ressaltar, uma alteração de suma importância, que passou a ser prioridade a adoção de grupos de irmãos e menores com deficiência, doença crônica ou necessidades específicas de saúde. Isto caberá aos adolescentes (irmãos) que não tiveram a felicidade da adoção, que possam ganhar uma família junto aos que já fazem parte da sua. RODRIGUES,2002). Segundo Digiácomo (2009, p.03), a implementação dessa nova lei, tem por objetivo, de um lado, evitar abrigamentos injustificados (e injustificáveis, como são os casos daqueles efetuados pelas próprias famílias e/ou motivados pela falta de condições materiais) e, de outro, assegurar que as crianças e adolescentes abrigados tenham sua situação permanentemente monitorada pela autoridade judiciária e pelos responsáveis pela execução da política municipal de garantia do direito à convivência familiar, na perspectiva de promover, da forma mais célere possível, a reintegração familiar (medida preferencial, que deve ser precedida ou acompanhada do encaminhamento da família aos referidos programas e serviços de orientação/apoio/promoção social) ou, quando isto não for possível, por qualquer razão plenamente justificada, sua colocação em família substituta, nas diversas 14 modalidades previstas (dentre as quais se incluem os programas de acolhimento familiar, também referidos pela nova lei). Segundo Cury (2010, p.197) “Com a adoção, ocorre o total desligamento da família de origem, adquirindo o adotando, a condição de filho daquele núcleo familiar, tendo os mesmos direitos, garantias e deveres do filho biológico”. Portanto, a adoção é um modo de se formar uma família com as mesmas características familiares de quem já possua filhos biológicos, nenhuma diferença é motivo para impedir que laços afetivos, filiais, de maternidade ou paternidade possam surgir entre essas pessoas. 15 3 – O SERVIÇO SOCIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO NO BRASIL Neste capitulo abordaremos no primeiro momento um pouco sobre o serviço social e a questão social. Depois, analisaremos a relação serviço social no setor jurídico e por fim as contribuições do assistente social no processo de adoção, no Brasil. 3.1 A QUESTÃO SOCIAL E O SERVIÇO SOCIAL No Brasil, historicamente, o Serviço Social passou por transformações em virtude das conjunturas políticas e sociais, tendo sempre as perspectivas teóricas e ideológicas como orientadoras da intervenção profissional. Assim, como em qualquer área de trabalho do assistente social, a sua atuação não se limita ao atendimento restrito de determinado segmento, ocorre compreensão das relações sociais em que o sujeito está inserido, sendo o espaço familiar um dos aspectos a serem priorizados. Faleiros (2007, p. 30) destaca que: O objeto de intervenção profissional do assistente social é o segmento da realidade que lhe é posto como desafio, aspecto determinado de uma realidade total sobre o qual irá formular um conjunto de reflexões e de proposições para intervenção. Os limites que configuram esse objeto são considerados uma abstração, uma vez que na realidade social o aspecto delimitado continua mantendo suas inter-relações com o universo mais amplo. O assistente social possui devido sua qualificação, capacidade crítica e reflexiva capaz de compreender a problemática na sua totalidade e tem capacidade de mobilização e organização, firmando seu compromisso com a cidadania (IAMAMOTO,2011). No Brasil, o serviço social ganhou visibilidade na sociedade, sempre em busca dos resultados e na efetivação dos direitos sociais. Segundo Iamamoto (2011, p.32) as práticas de concentração de capital, renda e poder, foram responsáveis pelo agravamento da questão social no país, além das precárias condições de vida da maioria da população brasileira, a questão social teve grande expressão no desemprego e no subemprego. Na análise de Fraga (2010, p. 45) O cerne da questão social está enraizado no conflito entre capital versus trabalho, suscitado entre a compra (detentores dos meios de produção) e venda daforça de trabalho (trabalhadores), que geram manifestações e expressões. Estas manifestações 16 e expressões, por sua vez, são subdivididas entre a geração de desigualdades: desemprego, exploração, analfabetismo, fome, pobreza, entre outras formas de exclusão e segregação social que constituem as demandas de trabalho dos assistentes sociais; também se expressa pelas diferentes formas de rebeldia e resistência: todas as maneiras encontradas pelos sujeitos para se opor e resistir às desigualdades, como, por exemplo, conselhos de direitos, sindicatos, políticas, associações, programas e projetos sociais. A questão social acontece dentro de um contexto sempre vinculada as desigualdades e as contradições do capitalismo. Com o intuito oferecer respostas a questão social são criadas as políticas públicas com a finalidade de provocar as mudanças sociais. Afirma Rosado (2000, p. 271) As políticas sociais públicas, por sua vez, são resultantes do confronto de forças entre os diversos grupos sociais e sustenta-se na necessidade de legitimação dos governos que, para garantir a manutenção do poder, atendem algumas demandas da classe trabalhadora, incorporando determinadas reivindicações dos movimentos populares e antecipando-se até a estas, como forma de amainar os conflitos de classe [...] As Políticas Públicas são uma das formas de se garantir o acesso aos direitos sociais e devem se efetuar atendendo as especificidades de cada segmento demandado. As ações das políticas sociais públicas devem ter como condição primordial o reconhecimento da realidade. (ROSADO,2000) Montaño (2012), afirma que o Serviço Social é uma profissão historicamente importante para o enfrentamento da questão social, pois através de seus instrumentais, trabalha para intervir positivamente na redução das desigualdades sociais. Todas as atribuições dos profissionais de Serviço Social, independente de que área atue, são norteadas pelo Código de Ética Profissional e pela Lei de Regulamentação da Profissão. O profissional de Serviço Social para atuar em qualquer área com competência deve reconhecer na questão social seu objeto de intervenção, e deve ser competente para fazer uma leitura crítica da realidade e buscar estratégias e técnicas capazes de garantir o acesso dos trabalhadores aos seus direitos (CFESS,2014). O profissional assistente social deve ser capaz de compreender e apreender a dinâmica da realidade e as diversas expressões da questão social, atuando na busca da garantia do acesso às políticas públicas, na ampliação da cidadania e do reconhecimento da condição de sujeito de direito social (IAMAMOTO,2011). Cabe ao profissional de serviço social o conhecimento da realidade em sua totalidade, construindo ações e estratégias que possibilitem a efetivação dos direitos a partir das demandas postas. 17 Nos remete Montaño (2012, p.52) “é fundamental que os assistentes sociais vão além das suas atribuições e competências e procurem investigar a realidade, fortalecendo seu compromisso ético-político, rompendo com as práticas rotineiras em defesa de políticas públicas de qualidade”. 3.2 O SERVIÇO SOCIAL NO PODER JURIDICO Diversos estudiosos escrevem sobre a história da inserção do Serviço Social na área jurídica, e concordam quando afirmam não haver uma data específica na qual delimita a atuação do Serviço Social no campo jurídico. Segundo Pizzol, (2008, p.32), realizar um resgate histórico do Serviço Social no campo socio jurídico, no Brasil, requer muito esforço, principalmente no que se refere a encontrar bibliografia que retrata os primeiros profissionais num campo predominantemente jurídico. De acordo com Fávero (2011, p.4) Os pioneiros do Serviço Social no TJSP foram também pioneiros do Serviço Social no Brasil, a exemplo da professora Helena Iracy Junqueira e do professor José Pinheiro Cortez. Ambos compuseram o grupo de professores da Escola de Serviço Social de São Paulo e militaram no Partido Democrata Cristão. Defendiam concepções de justiça social e de direitos com base no doutrinarismo católico, com um viés, ainda que embrionário, da social democracia, e tiveram participação decisiva na implantação do Serviço Social no primeiro Juizado de Menores da capital, em 1949, por meio do Serviço de Colocação Familiar, instituído pela Lei estadual n. 500 — que ficou conhecida como Lei de Colocação Familiar. A CF/88, possibilita ao Serviço Social aparecer de forma mais expressiva nas questões jurídicas. De acordo com o artigo 5º, § LXXIV “a assistência jurídica integral e gratuita aos que comprovarem insuficiência de recursos, tendo, pois, o Estado Democrático de Direito Social, como aparelho que viabiliza a cidadania” (BRASIL,1988). De acordo com Chuairi (2001, p.130) Esta Constituição representou um avanço no campo dos direitos individuais e sociais da sociedade brasileira como um todo, trazendo alterações não só na legislação e suas diretrizes operacionais, mas também houve um rompimento com o pensamento anterior, em que a assistência judiciária era identificada somente como o atendimento em juízo. Ainda corrobora Fávero (2007, p.1), no que diz respeito a designação dada ao Assistente Social no campo sociojurídico: O termo campo (ou sistema) sociojurídico é utilizado enquanto o conjunto de áreas de atuação em que as ações do Serviço Social se articulam a ações de natureza jurídica, como o sistema penitenciário, os sistemas penitenciário e prisional, o sistema de segurança, o ministério público, os sistemas de proteção e acolhimento e as 18 organizações que executam medidas sócio educativas, conforme previstas no Estatuto da Criança e do Adolescente, dentre outros. O Assistente Social é um profissional que possui um conhecimento cientifico e muito contribui com o poder judiciário, está inserido nas relações sociais, desempenha seu papel com grande relevância na busca constante de efetivação das políticas públicas e sociais. É um profissional que atua no desenvolvimento de ações e estudos no que diz respeito à questão social no campo sociojurídico, com o intuito de proporcionar auxílios que venham respaldar as ações judiciais, e facilitando acesso aos direitos dos indivíduos durante o processo (FAVERO,2007). Conforme Chuairi (2001, p.138), as principais atribuições do Assistente Social no campo socio jurídico são: Assessorar e prestar consultoria aos órgãos públicos judiciais, a serviços de assistência jurídica e demais profissionais deste campo, em questões específicas de sua profissão; Realizar perícias e estudos sociais, bem como informações e pareceres da área de sua competência, em consonância com os princípios éticos de sua profissão; Planejar e executar programas destinados à prevenção e integração social de pessoas e/ou grupos envolvidos em questões judiciais; Planejar executar e avaliar pesquisas que possam contribuir para análise social, dando subsídios para ações e programas no âmbito jurídico; Participar de programas de prevenção e informação de direitos à população usuária dos serviços jurídicos; Treinamento supervisão e formação de profissionais e estagiários nesta área Vemos que a atuação do Serviço Social no campo sociojurídico é bastante abrangente, e o profissional atua não apenas para a garantia de direitos e promoção da cidadania, mas também se configura como campo privilegiado no qual é possível atuar com as mais diversas expressões da questão social. Segundo Alapanian (2006, p.88) Dentre os espaços múltiplos de atuação do Serviço Social, podem-se destacar: a área da Infância e Juventude, em programas de acompanhamento à medidas socioeducativas, processos de adoção, guarda, destituição do poder familiar; programas relacionados a acompanhamento de penas abertas e pena alternativas junto ao sistema penitenciário grupos de apoio à adoção; assessoramento aos juízes das áreas de família, infânciae juventude, cível, execução penal, Juizados Especiais, entre outras; bem como também desempenhando funções junto ao Ministério Público e suas Promotorias; atuam na garantia do acesso à Justiça, por meio das Defensorias Públicas e dos Escritórios de Assistência Jurídicas. Assim, o campo sociojurídico vem requisitando cada vez mais a inserção do assistente social devido a crescente busca da resolução de conflitos via esfera judicial. Faria (2001, p.09) diz: O exercício profissional do assistente social no Poder Judiciário se realiza numa das instituições básicas do Estado constitucional moderno em cujo âmbito exerce uma função instrumental (dirimir conflitos), uma função política (promover o controle 19 social) e uma função simbólica (promover a socialização das expectativas à interpretação das normas legais ). A atuação do assistente social requer que o profissional esteja preparado para atuar no campo judiciário, cabendo ao mesmo posicionar-se criticamente frente as demandas institucionais. Desta forma, o principal papel do assistente social no campo sociojurídico é de realizar a perícia social por meio de laudos e pareceres sociais. Para concluir esses laudos técnicos, o profissional necessita realizar um estudo social, no qual são utilizados principalmente instrumentos de caráter individual: entrevista, visita domiciliar e visita institucional (CHUAIRI,2001). Fávero (2004, p.30) nos traz que: No espaço do judiciário, o Assistente Social, geralmente, é subordinado administrativamente a um Juiz de Direito – ator privilegiado nessa instituição, na medida em que sua ação concretiza imediatamente a ação institucional. Esta relação de subordinação, não raras vezes determina relações de subalternidade, em razão do autoritarismo muitas vezes presente no meio institucional. Todavia o Assistente Social é autônomo no exercício de suas funções, o que se legitima, fundamentalmente, pela competência teórico-metodológica e ético-política por meio do qual executa o seu trabalho. Autonomia garantida legalmente, com base no Código de Ética, na lei de regulamentação da profissão, no próprio ECA, na legislação civil. A atuação do assistente social no campo jurídico depara-se com inúmeros casos de violação de direitos e de indivíduos que enfrentam dificuldades no acesso aos seus direitos. Ainda corrobora Fávero (2011, p.42) Quando o assistente social é solicitado a oferecer um laudo, um parecer social, cabe a ele, portanto, definir os meios necessários para construí-los: em que nível e a quais conhecimentos precisa ter acesso, se necessita entrevistas, com quem e quantas, se deve realizar visitas domiciliares e/ou institucionais, se precisa estabelecer contatos variados, se deve consultar material documental e bibliográfico e quais etc. É sua prerrogativa definir os meios para atingir os fins propostos. Para tal, se faz imprescindível a permanente capacitação, em especial por se tratar de uma profissão que lida com expressões da realidade social – a qual se põe de forma dinâmica, em permanente transformação, e lida, especialmente, com situações e ações que dizem respeito a direitos, fundamentais e sociais. Neste contexto, o profissional contribui significativamente na luta pela defesa e garantia de direitos sociais, pois detém um saber especializado, baseado na concepção da totalidade. Um dos grandes desafios do assistente social são inúmeras circunstancias adversas que encontra no caminho, e diante disso é preciso coragem, sabedoria e conhecimentos para seguir no enfrentamento das questões sociais demandadas. No campo sociojurídico é exigido dos profissionais do Serviço Social uma constante atualização sobre as diversas legislações, 20 aperfeiçoamento continuado, está disposto a se qualificar em virtude das exigências postas diante das demandas (CHUAIRI, 2001). Segundo Chuairi (2001, p.135) “no campo sociojurídico, a atuação dos profissionais de Serviço Social representa um grande suporte, entre eles, estão mediar conflitos e agilizar os processos”. Porém, vale ressaltar que os desafios colocados no dia a dia, estimulam e movem a história, por meio da democracia, igualdade e respeito as diversidades, sempre com qualidade e compromisso aos serviços prestados. 3.3 A IMPORTÂNCIA DO ASSISTENTE SOCIAL NO PROCESSO DE ADOÇÃO NO BRASIL Nos dias de hoje, a adoção é um direito de todos, de acordo com as regras e normas estabelecidas nas leis, garantindo uma família tanto para quem deseja adotar quanto para a criança ou adolescente que necessita de um lar (BRASIL,1990). No Brasil, o serviço social tem como um de seus objetivos a defesa dos direitos dos indivíduos, inclusive as crianças e os adolescentes, desta forma o assistente social atua no processo de adoção. Como afirma Bittencou (2010, p. 48) “a criança ou adolescente é um sujeito de direitos especial, dotado de superioridade dentre todos os interesses envolvidos na questão concreta que se busca solucionar”. O ECA introduziu uma importância a prática profissional do assistente social, antes da promulgação do ECA, os procedimentos eram realizados por oficiais, voluntários, mas não tinham qualificação técnica. Atualmente, com o ECA e a Nova Lei de Adoção, a Justiça da Infância e da Juventude necessita de uma avaliação mais adequada, qualificada e que possa contemplar todos os segmentos que diretamente atenda aos interesses da criança e do adolescente, trazendo um novo patamar aos profissionais que buscam a garantia de direitos desse segmento (CUNHA,2014). É nesse patamar que se encontram os profissionais de Serviço Social, viabilizadores de direitos dos indivíduos envolvidos. Conforme Fávero (2011, p.26), na esfera judiciária, para o âmbito da infância e juventude, os artigos 150 e 151 do ECA apontam para a necessidade de assessoria de equipe interprofissional. 21 Art. 151. Compete à equipe interprofissional dentre outras atribuições que lhe forem reservadas pela legislação local, fornecer subsídios por escrito, mediante laudos, ou verbalmente, na audiência, e bem assim desenvolver trabalhos de aconselhamento, orientação, encaminhamento, prevenção e outros, tudo sob a imediata subordinação à autoridade judiciária, assegurada a livre manifestação do ponto de vista técnico. No que se refere ao processo de adoção, o Assistente Social funciona como uma ponte entre a criança a ser adotada e, a família que pretende adotar. Cunha (2014, p.12) afirma que o Assistente Social participa ativamente, de todas as etapas da adoção, estando intimamente próximo aos envolvidos, passando a conhecer a situação socioeconômica, os desejos e dificuldades dos adotantes. O processo de adoção é de extrema importância, pois legitima a criança ou adolescente no seio de uma família de forma definitiva e irrevogável. Segundo Ferreira e Carvalho (2002, p.36) “no âmbito judiciário, o Serviço Social exerce um papel de suma importância, que consiste no fornecimento de subsídios para as decisões judiciais”. Ao Assistente Social cabe observar a situação da família, conhecer os reais motivos que levam a adoção, orientar e esclarecer dúvidas sobre a adoção, e como encaram o fato da chegada de um novo indivíduo na família. Seu papel também é esclarecer, orientar sobre a adoção, ou seja, os tramites do processo, e também auxilia na decisão final do processo (FÁVERO,2011). Constata-se que o Assistente Social intervém na adoção de modo a esclarecer sobre a realidade da adoção, orientando sobre os trâmites legais. De acordo com CUNHA (2014, p.16) “sendo o curso preparatório, um dos espaços utilizados pelos assistentes sociais para intervir nas questões que envolve as motivações dos pretendentes”. Vale aqui ressaltar, que existe um período que antecede a adoção, ou seja, a preparação psicossocial e jurídica dos pretendentes a adoção. Nesse processo, o assistente social trabalha comestratégias com o objetivo de conhecer o ambiente doméstico, familiar e ter maior proximidade com os pretendentes (FÁVERO,2011). Outro ponto que merece destaque, é a condição socioeconômica da família que pretende adotar, se tem suporte material e emocional para atender as reais necessidades do adotado. Segundo Cunha (2014, p.18) Para que o trabalho do Assistente Social se concretize é necessário que ele sem dúvida alguma tenha pleno conhecimento de suas funções e responsabilidades dentro do contexto em que está inserido, pois, somente assim poderá prestar um serviço eficiente e eficaz. De acordo com o Manual de Procedimentos Técnicos (2006, p.156) 22 O assistente social judiciário deve ter em mente que precisam buscar a imparcialidade evitando pré-julgamento. Necessitam ter clareza do poder que a situação de avaliação que o lugar institucional lhe confere, buscando estabelecer uma vinculação positiva com os atendidos. O clima deve ser amistoso e proporcionar um espaço que facilite as reflexões, o que gerará – provavelmente –maior disponibilidade para revelações e reais motivações. Recomenda-se que os profissionais apurem suas escutas e a observação em relação a como os pretendentes à adoção lidam com as suas relações sociofamiliar e afetivas, pois elas trarão elementos significativos p ara a avaliação. Desta forma, o Assistente Social trabalha como um dos principais atores do poder público no processo de adoção, a ele cabe o contato físico e o reconhecimento dos anseios dos envolvidos. As visitas realizadas pelo Assistente Social têm como intuito analisar o ambiente como um todo, sendo de extrema importância, pois esse elo relatado é lavado em conta nas decisões do judiciário. Os Assistentes Sociais, utilizam vários instrumentos técnicos que embasam sua tomada de decisões, entre eles, a entrevista, relatório, visitas domiciliares, parecer social, estudo social, entre outros, fornecendo assim subsídios para a decisão do juiz (ÁVERO,2011). Então, necessita estar preparados teoricamente para concluírem com responsabilidade, honestidade e seriedade seu trabalho. Segundo Zanetti (2001, p.60) O assistente social na área da Infância e Juventude atua no cumprimento das medidas definidas pelo Estatuto da Criança e do Adolescente: nas Medidas de Proteção atua nos procedimentos de Guarda, Adoções (nacionais e internacionais), Tutela, Destituição ou Suspensão do pátrio poder e Manutenção de vínculos; nas Medidas Socioeducativas atua nos procedimentos estabelecidos para adolescentes em conflito com a Lei, através da Liberdade Assistida, Prestação de Serviços à Comunidade e abrigamento. O profissional de Serviço Social deve ter total conhecimento das leis que circundam a adoção, bem como, todas as normas do processo. No processo de adoção, o assistente social deve ter sempre como enfoque seu ponto de vista técnico e crítico, lutando para minimizar os preconceitos impostos, a fim de que o processo judicial não interfira no processo afetivo (RODRIGUES,2009). Pois, infelizmente o entendimento sobre a adoção ainda se encontra cercada de preconceitos. Outro momento de atuação do Assistente Social é após a colocação do adotante na família substituta, o profissional continuará acompanhando a família durante um determinado tempo, por meio de visitas domiciliares e outros instrumentais, para preservar o bem estar da criança ou adolescente (RODRIGUES, 2009). Nos remete Schmitiz (2014, p.8) 23 o acompanhamento do assistente social na prática adotiva e pós parecer social, torna- se indispensável e oportuno à relação familiar, onde o profissional do serviço social concomitantemente trabalha o particular e o grupo familiar e orientação aos mesmos na perspectiva do fortalecimento de um novo vínculo afetivo. Segundo Ferreira (2001, p.16). Uma vez deferida a adoção, a mesma é irrevogável, com a elaboração de nova certidão de nascimento que possibilita até alteração do nome do menor. Porém, esta nova situação jurídica da criança ou do adolescente adotado não altera a situação pessoal e emocional pelo qual passou. Assim, se juridicamente é possível se estabelecer uma nova família, apagando-se inclusive os registros anteriores, emocionalmente o problema é mais delicado. Deflui-se desta situação, que o acompanhamento posterior à concretização da adoção, é extremamente útil, para que o ciclo adotivo se complete satisfatoriamente. Contudo, mesmo com o Serviço Social atuando no campo sociojurídico, suas ações ainda não são expressivas como deveria ser, por se tratar de uma profissão que atua principalmente na perspectiva da garantia de direitos dos usuários. 24 CONCLUSÃO Durante o processo de construção desse Trabalho de Conclusão de Curso – TCC, foi possível compreender o papel do assistente social na defesa dos direitos sociais dos seus usuários. No que concerne ao processo de adoção, esse deve acontecer de forma a garantir o melhor para a criança ou adolescente, e para a família que se propõe a adotar, reforçando a cidadania e a identidade do adotante, desconstruindo a função de caridade que a adoção possuía antigamente. Enfim, um dos principais resultados obtidos, nesse estudo, foram: a relevância da atuação do Assistente Social em consonância com o que rege o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) e a Nova Lei da Adoção, com a participação ativa desse profissional em todas as etapas da adoção. O objetivo proposto foi atingido, pois conseguimos contextualizar e compreender a historicidade da profissão inserida no campo socio jurídico, e no processo de adoção respaldado pela legislação vigente, apesar do pouco material bibliográfico disponível sobre o tema. Desta forma, espera-se contribuir para elaboração de novos trabalhos que irão surgir, já que não se pode colocar como acabada a pesquisa aqui realizada. 25 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALAPANIAN, Silvia. Serviço Social e Poder Judiciário: Reflexões sobre o Direito e o Poder Judiciário. São Paulo: Veras, 2008. v. 1. 157 p. BRASIL. Constituição Federal de 1988. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente. Adoção. Lei 8.069 de 1990. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. BRASIL. Código de Ética do Assistente Social. Brasília: CFESS, 1993 BITTENCOURT, Sávio. A Nova Lei de Adoção. Rio de Janeiro: Lumen Juris, 2010. CHUAIRI, Sílvia H. Assistência Jurídica E Serviço Social: reflexões interdisciplinares. Revista quadrimestral de Serviço Social. Ano XXII – nº 67, São Paulo: Cortez, 2001. CUNHA, Anna Mayara Oliveira. Adoção por casais homoafetivos: Do preconceito ao Princípio da Dignidade da pessoa Humana. Revista Âmbito Jurídico, 2009. CURY, Munir. Estatuto da Criança e do Adolescente. 11.ed. São Paulo: Malheiros, 2011. CURY, Munir (coord.). Estatuto da criança e do adolescente comentado: comentários jurídicos e sociais. 9ª ed., atual. São Paulo: Malheiros, 2008 CFESS. Conselho Federal de Serviço Social - Atuação de assistentes sociais no Sociojurídico: Subsídios para reflexão. CFESS (org.) Brasília. 2014 DIAS, Maria Berenice. Manual de direito das famílias. 8. Ed. Ver. e atual.- São Paulo: Editora Revista dos Tribunais, 2011. Pg.504.) DINIZ, Maria Helena. Direito de Família. 18.ed. São Paulo: Saraiva, 2002. DUCATTI, M. T. Diálogos sobre Adoção. São Paulo: Editora Casa do Psicólogo, 2004. FALEIROS, Vicente de Paula. Impunidade e inimputabilidade. Revista Serviço Social e Sociedade. Cortez. São Paulo, nº 77, p. 78-107. Mar. 2007 FARIA, José Eduardo. O Poder Judiciário nos universos jurídico e social: esboço para uma discussão de política judicial comparada. In Revista Serviço Social e Sociedade n.67, ano XXII. São Paulo: Cortez, 2001 FÁVERO, E. T. O Estudo Social: fundamentos e particularidades de sua construçãona Área Judiciária. In: CFESS.2011 FÁVERO, E.T. O Estudo Social em Perícias, Laudos e Pareceres Técnicos: contribuição ao debate no Judiciário, Penitenciária e na Previdência Social. Conselho Federal de Serviço Social, (org.). 3. ed. São Paulo: Cortez, 2004. FÁVERO, Eunice Teresinha. Questão social e perda do poder familiar. São Paulo: Veras, 2007 FERREIRA, L. A. M. Aspectos jurídicos na intervenção social e psicológica no processo der adoção. FONTES, R. Criança. Revista Presença Pedagógica, v.11, n. 61, p. 03-05, jan./fev. 2005. 26 GRANATO, Eunice Ferreira Rodrigues. Adoção Doutrina e Prática. ed. Curitiba: Juruá, 2005. IAMAMOTO, Marilda Vilela e CARVALHO. Raul de. Relações sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação histórica-metodológica. 34ª ed. São Paulo, Cortez, 2011. IAMAMOTO, Marilda Vilela. Questão social, família e juventude: desafios do trabalho do assistente social na área sóciojurídica. In: SALES, Mione; Matos, Maurílio; LEAL, Cristina. (Orgs). Política social, família e juventude. São Paulo, Cortez, 2004. KAPLAN, H. I., SADOCK, B. J., GREBB, J. A. Compêndio de Psiquiatria: ciências do comportamento e psiquiatria clínica. 7.ed. Porto Alegre: Artmed, 2003. LEVINZON, Gina Khafif. A criança adotiva na Psicoterapia psicanalítica. São Paulo: Escuta, 2000. LIBERATI, Wilson Donizeti. Adoção internacional. São Paulo: Malheiros Editora.1995. LUZ, Valdemar da. Manual de direito de família. 1. Ed. São Paulo: Manole, 2009. MONTAÑO. C. Pobreza, “questão social” e seu enfrentamento. Serviço Social e Sociedade. São Paulo, n. 110, p. 270-287, abr./jun. 2012. PERUZZOLO, Dani L. O desafio da educação para o desligamento de adolescentes institucionalizados em abrigos de proteção especial. In: AZAMBUJA, Maria R. F.; PINHEIRO, Â. A criança e o adolescente no cenário da redemocratização: representações sociais em disputa. 2001. 438 f. Tese (Doutorado em Educação) – Programa de Pós-Graduação em Sociologia. Universidade Federal do Ceará, Fortaleza.2001. PIZZOL, Alcebir Dal. O serviço social na justiça comum brasileira. Aspectos identificadores – perfil e perspectivas profissionais. Florianópolis: Insular, 2008. RIBEIRO, Alex Sandro. A adoção no novo Código Civil. Jus Navigandi, Teresina. a. 7. n. 59. out. 2002. SARMENTO, H. B. de M. Instrumentos e Técnicas em Serviço Social: elementos para uma rediscussão. 1994 SOUZA, Jadir Cerqueira de. A Convivência Familiar e Comunitária e o Acolhimento Institucional. São Paulo: Pillares, 2014. VENOSA, Silvio de Salvo. Direito de Família. 11.ed. São Paulo: Atlas, 2011 WEBER, Lidia Natalia Dobrianskyj. KOSSOBUDZKI, Lúcia Helena Milazzo. Filhos da solidão: institucionalização, abandono e adoção. Curitiba: Governo do Estado do PR, 2001. ZANETTI, Isabel. Serviço Social Judiciário: Perícia Social e os rumos da profissão. Anais do X CBAS. Rio de Janeiro – RJ, 2001.
Compartilhar