Buscar

VITRUVIUS Habitação coletiva e a evolução da quadra. Mario Figueroa

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 10 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

Habitação coletiva e a evolução da quadra (1) 
Mário Figueroa 
O ideário moderno e a reflexão sobre habitação coletiva estão 
profundamente relacionados aos problemas decorrentes da densidade 
populacional urbana e do crescimento das grandes cidades durante o 
século XX. Nesse contexto as novas hipóteses de habitação e sua 
relação com o espaço urbano representam para o modernismo o núcleo 
inicial de investigações e experimentações desenvolvidas em âmbito 
disciplinar da arquitetura para uma possibilidade real de 
transformação em grande escala do ambiente urbano. 
A partir do desdobramento dos conceitos germinais do texto de 
Christian de Portzamparc, A terceira era da cidade (Ville age 
III) (2), este ensaio trata especificamente do papel da habitação 
coletiva na formação das distintas idéias de cidade a partir da 
segunda metade do século XIX até o final do século XX, compondo um 
quadro analítico com oito distintas estratégias projetuais que 
permitem uma reflexão sobre as diversas formas de inserção, 
complementação e construção da habitação coletiva na cidade moderna 
explicitando a evolução e a transformação da arquitetura urbana dentro 
deste período. 
O esforço concentra-se em constituir um raciocínio crítico do processo 
projetual estabelecendo distinções conceituais sobre as estratégias da 
habitação coletiva e sua relação com a trajetória do desenvolvimento 
das cidades através de uma visão ampla do elemento urbano que por 
essência é o mais coletivo de todos. Interessa enfatizar nestas 
condições o constante confronto entre habitação e espaço habitável, o 
qual tem transformado a paisagem, a sociedade, a cultura, os hábitos e 
o desenho das cidades. 
Quadra da cidade tradicional 
 
Figura 1 – Quadra da cidade tradicional 
 
 
Devemos entender como cidade tradicional um organismo urbano gerado 
através de um longo processo histórico. Neste contexto, tanto o 
traçado viário como a habitação coletiva são elementos que não podem 
ser concebidos separadamente, como o positivo e o negativo de um mesmo 
sistema. Não existem, portanto espaços indefinidos nesta relação 
restrita aos domínios do publico e do privado. 
A quadra da cidade tradicional se caracteriza por ser claramente 
delimitada e homogênea. Uma massa compacta que apresenta uma relação 
desproporcional entre uma grande quantidade de espaço construído em 
contraposição a escassos e fragmentados espaços livres habitualmente 
destinados apenas para a ventilação das habitações. A arquitetura, 
restrita a fachada, se expressa neste momento apenas de forma 
bidimensional. 
As transformações de Haussmann em Paris (1852-69) podem exemplificar 
este tipo de quadra “residual”, resultante do traçado viário, e não 
como módulo de composição urbana. Paralelamente o projeto dos 
edifícios era controlado (gabarito de altura, composição das fachadas, 
matérias e elementos construtivos) para regularizar o tecido urbano e 
proporcionar uma extraordinária força de conjunto. A habitação 
coletiva compunha a diversidade programática da quadra através de sua 
sobreposição em distintos pavimentos o que gerava habitualmente 
edifícios multifuncionais. 
Quadra do Plano Cerdá 
 
Figura 2 – Quadra do Plano Cerdá 
 
 
O Plano de expansão para Barcelona de Ildefonso Cerdá (1959-64) 
desenha uma grelha ortogonal, com quadras de 113m x 113m e vias de 20m 
de largura, de tal maneira que cada conjunto de nove quadras e vias 
correspondentes se inscrevem dentro de um quadrado de 400m de lado. A 
quadricula estende-se até os núcleos urbanos vizinhos e envolve a 
cidade medieval. Apesar de aparentar a imposição de uma nova ordem, 
indiferente ao contexto, o ajuste das bordas é feito com extrema 
habilidade tendo como suporte avenidas diagonais que surgem a partir 
de conexões pré-existentes. O corte diagonal nas arestas da quadra 
transforma o simples cruzamento de vias em lugar, gera também desta 
forma maior amplitude visual dos edifícios de esquina. Se dúvida 
nenhuma o melhor exemplo de habitação coletiva inserida neste contexto 
é a Casa Milà de Antoni Gaudí (1906-12). 
O Plano previa quadra com ocupação perimetral em dois ou no máximo 
três lados. Os edifícios não ultrapassariam mais do que dois terços da 
superfície do quarteirão. Os espaços internos resultantes se abririam 
para a cidade oferecendo equipamentos públicos e generosas áreas 
arborizadas. O importante é enfatizar que neste momento a quadra passa 
de uma condição de residual para se tornar suporte de uma composição 
urbana que a tem como espaço da cidade. Dá-se um passo adiante da 
relação edifício-rua como definidor da quadra, ou seja, o perímetro da 
quadra deixa de ser o limite do espaço público. 
Do desejo original de Cerda permaneceu apenas o traçado viário, as 
quadras foram maciçamente ocupadas no perímetro junto ao alinhamento 
da calçada retomando um caráter que a reaproximou da quadra 
tradicional. Originalmente as quadras foram concebidas em média com 
67.000m³ de área construída, atualmente após 150 anos de adensamento 
progressivo temos em média 295.000m³ de área construída por quadra. 
Quadra com ocupação perimetral 
 
Figura 3 – Quadra com ocupação perimetral 
 
 
Duas cidades desenvolveram experiências extremamente significativas 
desta tipologia: Amsterdã e Viena. No Plano de expansão de H. P. 
Berlage para Amsterdam Zuid (1915) as quadras ainda são resultado do 
sistema viário, porém contribuem como instrumentos de ordenação dos 
edifícios perante uma nova hierarquia de vias e espaços urbanos 
através de construção diferenciada das esquinas, diferenciação das 
bordas edificadas conforme as características da rua delimitadoras e 
principalmente pela evolução do miolo da quadra. Inicialmente 
destinado exclusivamente para jardins internos das unidades 
residenciais térreas, o espaço interno evolui a partir da redução dos 
jardins privados e inserção de ruas e pátios internos destinados ao 
uso semipúblico. 
No caso de Viena a opção não é pela expansão, mas sim, por aproveitar 
vazios urbanos pré-existentes para inserir habitação coletiva operária 
através de grandes edifícios residenciais contínuos, chamados de 
“hoff”. Possuíam equipamentos urbanos associados a generosos espaços 
ajardinados internos de caráter semipúblicos. As grandes dimensões 
obrigavam a se sobrepor sobre o traçado urbano existente. Os generosos 
pórticos resultantes definiam com clareza os acessos ao interior da 
quadra. O conjunto Karl Marx Hoff, projetado por Karl Elm em 1927, é o 
“hoff” mais conhecido. Implantado em um vazio urbano de 15 hectares, 
os blocos residenciais ocupam apenas 18% do solo, com 1382 unidades de 
habitação e aproximadamente 5000 habitantes. Duas novas questões 
surgem nos projetos de habitação coletiva: a resolução das unidades em 
edifícios mais esbeltos (maior e melhor ventilação e insolação) e 
necessidade de projetar as fachadas internas destas novas quadras. 
Quadra com edifícios laminares paralelos (Fig. 4) 
 
Figura 4 – Quadra com edifícios laminares paralelos 
 
 
Gropius no III CIAM (Bruxelas, 1930) lança a questão: “Habitação alta, 
média ou baixa?”. A pergunta é analisada por ele nas suas implicações 
econômicas e sócias e passam da mera discussão da tipologia da unidade 
de habitação para as regras de implantação e afastamento dos 
edifícios, assim como do gabarito de altura e densidade populacional. 
Por tanto temos uma inversão de papéis, até agora a unidade de 
habitação era conseqüência da forma do edifício, que era resultante da 
forma do lote, que era resultante da sua localização na quadra. Agora 
para o urbanismo moderno a célula de habitação é o elementobase da 
formação da cidade. 
A escolha pela forma laminar pelos urbanistas modernos basicamente é a 
mesma que aproximou os arquitetos: ausência de hierarquia entre as 
partes, capacidade de crescimento ilimitado, equivalência de condições 
para os distintos elementos, relação de proximidade entre o espaço 
interior e o espaço exterior. Em Frankfurt, Ernst May (diretor dos 
serviços de construção municipal), coordena entre 1925 e 1930 a 
construção de 15.000 unidades em distintos conjuntos chamados de 
“siedlungen” que apesar de intervenções pulverizadas no tecido urbano 
apresentam uma grande coerência. Neste mesmo período temos também 
importantes experiências em Roterdã (J. J. P. Oud) e Berlin (Bruno 
Taut). 
Edifício-cidade 
 
Figura 5 – Edifício-cidade 
 
 
Síntese do pensamento arquitetônico-urbanístico de Le Corbusier a 
“Unité d’Habitation” representa muito mais uma crítica a cidade 
herdada do que propriamente uma ruptura em relação a cidade 
tradicional. Pois como vimos, a diluição do sentido de quadra 
tradicional foi um processo gradativo desde Cerda até aqui. A 
substituição da quadra pela unidade habitacional representa a crítica 
à “rue corridor”, ao parcelamento fundiário e as condições insalubres 
das habitações urbanas. 
A “Unité” representa para Le Corbusier o elemento morfológico 
catalisador das novas cidades. Oferece a conquista do espaço público 
contínuo a partir da implantação do edifício sobre “pilotis”, a 
possibilidade da implantação do edifício não está mais vinculada ao 
sistema viário, mas sim a melhor orientação solar, a incorporação em 
pavimentos elevados de funções urbanas tradicionalmente vinculadas à 
cota do chão – desde o comércio aos equipamentos coletivos. Sem dúvida 
a personificação das idéias contidas na Carta Atenas que buscavam 
diferentes formas e práticas sociais de viver coletivamente decorrente 
das relações entre as funções básicas (habitação, lazer, trabalho e 
circulação). 
Mega-estruturas 
 
Figura 6 – Mega-estruturas 
 
 
Uma ampla revisão de muitos dos princípios da cultura moderna, a 
eclosão de distintas tendências arquitetônicas nos paises 
industrialmente mais avançados aliado a um otimismo perante as novas 
possibilidades tecnológicas tornam a década de sessenta um período de 
grande experimentalismo. Desde as propostas radicais do grupo 
Archigram as fantasiosas idéias do Superestudio todas compartilham o 
ideal Hegeliano do progresso ilimitado do positivismo moderno. 
Através de uma descomunal exaltação estrutural e tecnológica que se 
sobrepunha ao ambiente urbano existente as mega-estruturas geravam uma 
topografia artificial que comportariam as mais distintas atividades 
necessárias para uma metrópole. Esta paisagem artificial deveria ser 
de múltiplos níveis gerando um sólido tridimensional. Esta nova escala 
dimensional acreditava-se poder recuperar uma maior liberdade e 
oferecer utopias alternativas ao caos urbano. Como exemplo construído 
podemos citar o Barbican Complex (1964-82) em Londres projetado por 
Chamberlin, Powell e Bon. 
Quadra pós-moderna contextualista 
 
Figura 7 – Quadra pós-moderna contextualista 
 
 
A partir dos anos oitenta cidades européias como Berlin e Barcelona 
estão envolvidas em profundas transformações urbanas. A primeira, 
através do programa do IBA, serviu como modelo para outras cidades 
européias principalmente com as estratégias de remodelação de quadras 
parcialmente consolidadas através da reconstituição perimetral das 
quadras e a reinterpretação das tipologias, morfologias e linguagens 
das cidades históricas européias. A segunda cidade aproveita a 
oportunidade de sediar os Jogos Olímpicos de 1992 para reestruturar 
quatro grandes áreas urbanas. A intervenção mais importante é a da 
Vila Olímpica que permitiu recuperar o acesso da cidade ao mar além de 
criar um novo bairro residencial através de uma estratégia extensão do 
Plano Cerdà de certas características de suas quadras. 
Conceitualmente a quadra contextualista recupera a ocupação perimetral 
e conseqüentemente o desenho da rua tradicional. A esquina volta a ser 
valorizada como referência urbana. Pequenos fracionamentos do 
perímetro recuperam a possibilidade de acesso ao centro da quadra que 
volta a assumir o papel de espaço coletivo habitualmente recebendo 
equipamentos e generosas áreas verdes. 
Quadra aberta 
 
Figura 8 – Quadra aberta 
 
 
Tipologicamente a quadra aberta não é uma novidade, o melhor exemplo 
disso é o Conjunto Golden Lane (1954) em Londres, de Chamberlin, 
Powell e Bon. A diferença desta nova abordagem está no posicionamento 
perante a cidade; não se trata mais de uma abordagem positivista 
através da imposição de uma nova ordem racional ou de uma cidade ideal 
como desejava o abstrato ideário moderno. Após o esgotamento da 
linguagem pós-moderna e do reconhecimento das limitações evidentes das 
estratégias contextualistas o pensamento contemporâneo tende a 
considerar a possibilidade de uma revisão do espaço construído e do 
espaço livre da cidade herdada a partir de um posicionamento 
complementar do espaço já constituído. 
A quadra aberta é por essência um elemento híbrido conciliador. 
Permite a diversidade, a pluralidade da arquitetura contemporânea. Ela 
recuperar o valor da rua e da esquina da cidade tradicional, assim 
como entende as qualidades da autonomia dos edifícios modernos. A 
relação entre os distintos edifícios e a rua se dá por alinhamentos 
parciais, o que possibilita aberturas visuais e o acesso mais generoso 
do sol. Os espaços internos gerados pelas relações entre as distintas 
tipologias podem variar do restritamente privado ao generosamente 
público, sem desconsiderar as nuances entre o semipúblico e o 
semiprivado. 
notas 
1 
O conteúdo deste texto foi apresentado (em palestra do mesmo nome) no 
“Seminário Hipótesis de Paisaje 05” em Córdoba – Argentina, no dia 20 de 
setembro de 2005. 
 
 
2 
PORTZAMPARC, Christian. “A terceira era da cidade”, In: Revista Óculum 9, Fau 
Puccamp, Campinas, 1992. 
bibliografia 
LAMAS, José. Morfologia urbana e desenho da cidade. Fundação Calouste 
Gulbenkian / Junta Nacional de Investigação Científica e Tecnológica, Lisboa, 
1993. 
 
MARTÍ ARÍS, Carlos (Ed.). Las formas de la residencia en la ciudad moderna. 
Depto. de Proyectos Arquitectónicos de la UPC, Barcelona, 1991. 
sobre o autor 
Mario Figueroa, arquiteto pela FAU-Puccamp (1988) e doutor pela FAU-USP 
(2002). Desde 1993 é professor de Projeto na FAU Mackenzie, onde também é 
professor do curso de mestrado e pesquisador. Também leciona no CAU Belas 
Artes desde 1998 
comentários

Continue navegando