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ADORNO. Educação para que?


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ADORNO. Theodor W. Educação – para quê IN: ADORNO. Theodor W. Educação e emancipação. São Paulo: Paz e Terra. Tradução de Wolfgang Leo Maar p. 139-154.
Filósofo de uma corrente conhecida como Teoria Crítica, Theodor Adorno, é um pensador que procura a partir da materialidade da sociedade em que vive, pesá-la e explica-la, não somente por seus fatos, mas também pelas possibilidades que podem vir-a-ser.
Entre outros, escreveu junto com Horkheimer a dialética do esclarecimento, no qual, busca com referências weberianas, kantianas, hegelianas e principalmente marxistas, olhar para os dois lados que a razão ascendente com Iluminismo trouxe à sociedade.
Um dos temas discutidos por Adorno é a educação enquanto formadora do ser humano para viver em sociedade, prezando por seus avanços, e que não repita os mesmos erros do passado, como, por exemplo, a segunda guerra mundial e o massacre judeu cometido pelos alemães nazistas.
São sobre essas bases que a obra educação e emancipação foi concebida. De fato, não são somente textos produzidos por Adorno com tema de educação, nele foram compilados também, entrevistas que o filósofo concedeu à rádio sobre o tema. O texto analisado Educação – para quê é uma dessas entrevistas, em forma de diálogo entre Adorno e Hellmut Becker, na rádio alemã Hessen.
Na Alemanha, os estudos sobre educação e como fazê-la são primordialmente quantitativos, ou seja, tratam sobre números das escolas, mas não só dessa maneira, a medida que se trata dos resultados palpáveis, há uma necessidade também de pensar sobre os conteúdos que estão sendo ensinados para, consequentemente, chegar-se a esse tipo de resultado. Quando se pensa dessa maneira, então, existe a necessidade do questionamento que Adorno propõe nesse texto: Educação – para quê?
Tal pergunta reflete à escuridão que a educação alemã se encontra já que seus objetivos não estão mais claros como já estiveram, como, por exemplo, num modelo de educação burguesa, concretizando isso, Adorno (p.140) afirma que “Houve tempos em que esses conceitos, como dizia Hegel, eram substanciais, compreensíveis por si mesmos a partir da totalidade de uma cultura, e não eram problemáticos em si mesmos. Mas hoje tornaram-se problemáticos nestes termos.”
Vê-se então que de uma maneira objetiva, a educação se fragmentou em si, multiplicando-se em diversas facetas, e, em nenhuma delas se encontra uma razão para sua própria existência, aos moldes hegelianos. Assume-se então uma forma subjetiva de educação na pedagogia moderna, na qual ela é voltada a uma disseminação de ideais.
Não é, absolutamente, uma proposta de retorno da pedagogia tradicional, mas, ao que colocam a educação serve à emancipação e ao comportamento crítico. Dessa maneira, a educação não pode conter a heteronomia, já que aos jovens, é cerceado a ingenuidade, a espontaneidade, colocando-se modelos ideais do exterior ao interior, na qual Adorno (p. 141) chama de “modelagem de pessoas”. A modelagem, é altamente política, bem como a educação, todavia, ao adotar isso, jamais produzirá uma real democracia, já que “Uma democracia efetiva só pode ser imaginada enquanto uma sociedade de quem é emancipado.” (p.142)[1: Heteronomia, segundo Kant, significa que o sujeito outro coloca as regras de ação para o indivíduo, esse conceito é contrário ao conceito de autonomia, significando o sujeito, agir segundo seu próprio entendimento. Para o filósofo, a heteronomia é inadmissível, pois isso reduz o ser humano à menoridade, sendo essa ultima, a incapacidade do indivíduo determinar o próprio agir, sendo influenciada por causas externas.]
Observamos aqui as primeiras linhas do que Adorno aceita como razão da educação: a emancipação do sujeito, por meio do pensamento crítico, levando assim a uma real democracia.
Da mesma maneira que Becker ataca os modelos ideais, a ideia de “homem emancipado”, também não pode se tornar um modelo ideal, pois recairá na heteronomia. Como argumento para isso, Becker ainda cita os jovens, principalmente na idade adolescente, afirmando que eles não precisam de consciência crítica, ao contrário, preferem os modelos ideais como o nacionalismo.
Adorno confirma a posição de Becker, e coloca que o conceito de emancipação é bastante abstrato e não poderá ser nunca afirmado unilateralmente, mas de uma maneira dialética. Juntamente a isso, Adorno ainda cita dois problemas quando se fala sobre educação.
O primeiro está em uma das bases da teoria crítica, na qual a própria organização econômica e social do mundo se converteu em ideologia, assim, a consciência do ser no mundo está obscurecido unilateralmente por esses ideais.
O segundo, na rápida mudança da sociedade na qual a adaptação do ser ao meio está imposta, assim, a emancipação, segundo adorno, “De um certo modo, emancipação significa o mesmo que conscientização, racionalidade. Mas a realidade sempre é simultaneamente uma comprovação da realidade [...]”. Esse problema reflete então uma das falhas da educação, que produz não a emancipação, mas well adjusted people. 
As pessoas bem ajustados, acabam por perder suas próprias individualidades, novamente, não é uma necessidade de criar alguém que não se adapte de maneira alguma, afirma Becker (p. 144) que 
[...] esta tarefa de reunir na educação simultaneamente princípios individualistas e sociais, simultaneamente [...] adaptação e resistência, é particularmente difícil ao pedagogo no estilo vigente. Certa feita, quando discorria acerca de educação política para jovens professores, mostrei por que acredito que quem deseja educar para a democracia precisa esclarecer com muita precisão as debilidades da mesma.
Adorno propõe uma reflexão histórica na qual afirma a grande velocidade que a realidade muda, impondo a adaptação do homem a cada momento sem que os sujeitos consigam refletir sobre as ocorrências, e baseando-se em Freud, o sujeito em estado automático identifica-se com o agressor, nesse caso em particular, o realismo exagerado.
Nesse meio de adaptações bruscas e rápidas, ocorre que o ser não consegue mais ter experiência das imagens e símbolos do mundo, tomando-se um exemplo atual, não se desliga do mundo real, para escutar uma música e perceber seus elementos como notas, melodias, entre outros. Isso causa o empobrecimento da linguagem, de uma maneira na qual o sujeito não consegue mais olhar para o mundo com um repertório, consequentemente, não conseguirá um pensamento crítico com vias de emancipação. Afirma Adorno (p. 148-149)
O defeito mais grave com que nos defrontamos atualmente consiste em que os homens não são mais aptos à experiência, mas interpõem entre si mesmos e aquilo a ser experimentado aquela camada estereotipada a que é preciso se opor. Penso aqui sobretudo também no papel desempenhado na consciência e no inconsciente pela técnica, possivelmente muito além de sua função real. Uma educação efetivamente procedente em direção à emancipação frente a esses fenômenos não poderia ser separada dos questionamentos da psicologia profunda.
Nota-se então, que a experiência não está sendo deixada apenas na Alemanha, mas o fenômeno acontece em escala mundial. 
Para finalizar o texto, Adorno e Becker propõem dois últimos questionamentos, o primeiro de o que significa a inaptidão para a experiência, em seguida, como restaurar as experiências no sujeito.
O primeiro relaciona-se com a aceitação ao diferente outro, afirmando que ao aceitar a diferença que está contido no outro, um sujeito com poucas experiências de relação com o mundo se perderia ainda mais em sua própria orientação existencial, confirma Adorno (p. 150) que “Não se trata, portanto, apenas da ausência de formação, mas da hostilidade frente à mesma, do rancor frente àquilo de que são privadas.” Becker ainda complementa “[...] que esta aptidão à experiência constitui propriamente um pressuposto para o aumento do nível de reflexão. Sem aptidão à experiência não existe propriamente um nível qualificado de reflexão.”
A educação então não deveria servir como uma forma de razão subjetiva, comoa educação para o mundo profissional de um “mundo administrado”, em outras palavras, o lugar da escola não deve ser técnico, como um conjunto de habilidades que serão usadas dentro de uma indústria, ou atualmente, em um serviço, ao contrário, serve a experiências intelectuais. “Nesta medida e nos termos que procuramos expor, a educação para a experiência é idêntica à educação para a emancipação.” (p. 151) e complementa Becker (p. 151) afirmando que “[...] antes de tudo a educação para a experiência é idêntica à educação para a imaginação.”
Chega-se então à conclusão que é necessário se afastar da realidade promovida pela estrutura, que nega o tempo a experiências individuais realmente formadoras, o que se espera de uma educação para a emancipação é que os sujeitos tenham essas experiências individuais, mas que não se encerrem em um individualismo antidemocrático, mas do reconhecimento do sujeito em si e nos outros, formando-se assim uma sociedade emancipada. De outra maneira, forma-se “as pessoas para a sua individualidade e ao mesmo tempo para sua função na sociedade”.
REFERÊNCIAS
ADORNO. Theodor W. Educação – para quê IN: ADORNO. Theodor W. Educação e emancipação. São Paulo: Paz e Terra. Tradução de Wolfgang Leo Maar p. 139-154.
BREZOLIN. Keberson. Autonomia versus heteronomia: o princípio da moral em Kant e Levinas IN: Conjectura: Filos. Educ., Caxias do Sul, v. 18, n. 3, p. 166-183, set./dez. 2013.
HORKHEIMER, Max. Eclipse da razão. Tradução de Sebastião Uchoa Leite. São Paulo: Centauro, 2002.