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Abandono Afetivo Inverso em Idosos

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UNIVERSIDADE BRASIL
ABANDONO AFETIVO INVERSO
ADMARA MOTTA RODRIGUES
DESCALVADO – SP
DEZEMBRO, 2017 
UNIVERSIDADE BRASIL
ADMARA MOTTA RODRIGUES
ABANDONO AFETIVO INVERSO
Monografia apresentada como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito na Universidade Brasil.
Orientador: Marcos Roberto Costa
DESCALVADO – SP
DEZEMBRO, 2017 
COMISSÃO EXAMINADORA:
_____________________________________
Orientador Prof. Marcos Roberto Costa
_____________________________________
Prof.
_____________________________________Prof. 
Descalvado, __ de dezembro de 2017.
DEDICATÓRIA
Aos meus pais, Silvia e Ademar, que sempre me apoiaram e me incentivaram a crescer.
AGRADECIMENTOS
Em primeiro lugar, a Deus.
A toda minha família, principalmente a minha mãe Silvia, pelo incentivo desde o início.
Ao meu noivo Reinaldo, pelo apoio e motivação.
Ao Professor e Orientador Marcos Roberto Costa, pelo auxilio, paciência e apoio para a construção deste trabalho.
Por fim, aos professores e colegas, que de alguma forma, me ajudaram para a conclusão deste trabalho, e pelo aprendizado ao longo do curso.
“O essencial é invisível aos olhos...”
(Antoine de Saint-Exupéry)
RESUMO
Este trabalho visa analisar o aumento do instituto do Abandono Afetivo Inverso, tendo como característica a contraversão das partes, os quais os idosos são as vitimas abandonadas pela família. O tema em questão, é uma situação preocupante e crescente. Esse trabalho traz uma pesquisa pertinente ao ordenamento jurídico no que diz respeito aos idosos, e verificar da possibilidade de propor ações reparadoras e indenizatórias com o objetivo de cobrar e diminuir as consequências do abandono e desafeto. O objetivo é verificar a presenças de casos de abandono de idosos na sociedade, por meio dessa pesquisa, bem como as consequências que tal situação afeta toda a estrutura familiar, como o intimo do idoso, demonstrando por meio de jurisprudência casos que podem ser usados para que assim, o direito do idoso seja assegurado. Mediante Constituição Federal, Código Civil e do Estatuto do Idoso (Lei 10.741, 2003), o trabalho debate a problemática e encontra meios de aplicar o instituto do Abandono Afetivo Inverso.
PALAVRAS CHAVES: ABANDONO AFETIVO, DANO MORAL, ABANDONO DE IDOSOS, RESPONSABILIDADE CIVIL.
 
ABSTRACT
This work aims at analyzing the increase of the Infeitable Affective Abandonment Institute, having as a characteristic the counterversion of the parts, which the elderly are the victims abandoned by the family. The issue in question is a worrying and growing situation. This work brings a pertinent research to the legal order with regard to the elderly, and verify the possibility of proposing reparatory actions and indemnities with the purpose of collecting and reducing the consequences of abandonment and disaffection. The objective is to verify the presence of cases of elder abandonment in society, through this research, as well as the consequences that this situation affects the entire family structure, such as the intimate of the elderly, demonstrating through case law cases that can be used to so that the right of the elderly is ensured. Under the Federal Constitution, Civil Code and the Statute of the Elderly (Law 10.741, 2003), the work discusses the problem and finds ways to apply the Institute of Inertial Affective Abandonment.
KEY WORDS: AFFECTION ABANDONMENT, MORAL DAMAGE, ABANDONMENT OF ELDERLY, CIVIL LIABILITY.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
O abandono afetivo inverso enquadra-se no âmbito do Direito de Família, o qual se busca preservar e indenizar os danos causados aos pais idosos, que com o decorrer dos anos, são abandonados pelos filhos. O assunto originou-se do uso do Abandono Afetivo comum nos judiciários, no qual frequentemente acontece a negativa da obrigação do zelo com as crianças, cuidando do direito as indenizações dos anos em que se estavam ausentes as assistências necessárias, garantidas pela própria Constituição Federal, assim como sendo um direito fundamental.
Abordar tal assunto é de suma importância, considerando que números de casos crescem atualmente. Vale destacar a proporção e a seriedade que alguns casos tomam, que sem a assistência adequada, pais idosos são esquecidos em asilos, onde mesmo proporcionem o dever de cuidado, que é obrigação dos familiares e filhos, não alcançam a individualização aos idosos, deixando o afeto de lado.
O desafio encontra-se nesse componente: o afeto. No tempo em que assuntos são examinados e decididos pelos judiciários, o Abandono Afetivo Inverso ainda é debatido limitadamente.
A finalidade aqui é de apresentar que em prol dos pais idosos, podem ser também determinados o direito a reparação por abandono afetivo, considerando-se que a relação de dependência entre crianças e pais são as mesmas que entre os filhos e pais idosos. O presente trabalho inicia com o tema acerca tratamento dos idosos na legislação brasileira, contendo o conceito e a norma jurídica.
A valoração do afeto é tratada também posteriormente, acrescentando os pressupostos necessários para a reparação por dano moral, definindo o prejuízo psicológico no idoso, e as lesões emocionais causadas.
Enfim, a Teoria do Desamor é citada com algumas decisões dos judiciários relacionados ao Abandono Afetivo, e também foram anexas entrevistas realizadas com idosos, sobre o abandono.
Foram utilizados para o presente trabalho métodos de pesquisa bibliográfica por meio de noticias, artigos e livros.
1 IDOSO: ANÁLISE HISTÓRICA
Historicamente, os idosos fizeram sempre parte de relevantes momentos sociais sob os quais ganham destaque até hoje. Sejam pelas memórias, pelas histórias contadas ou até mesmo por atitudes presentes, a figura do idoso historicamente sempre teve seu destaque, o que se observa atualmente em alguns grupos é que o ―velho, hoje, já não é mais reconhecido simbolicamente como um dos agentes fundamentais de transmissão dos valores ancestrais e da memória coletiva. (SANTOS, 2012, p. 15).
É necessário fazer uma analise importante sobre o abandono cometido pelos pais com relação aos filhos antigamente. É normal descobrir informações que se mencione a desvinculação total das mulheres de sua família após o casamento, desfazendo os vínculos afetivos e a obrigação para com os pais. Essa foi uma realidade de diversas mulheres, as quais ao se casar ficavam responsáveis pela família do conjugue, deixando sua família de lado, ressaltando a preferência pelo filho homem, que era incumbido a responsabilidade pelo seguimento dos negócios da família, bem como cuidar dos pais idosos.
De acordo com Fustel de Coulanges, em sua obra A Cidade Antiga, reconhecida por retratar os costumes da sociedade romana e grega antiga no que diz respeito à religião, costumes e a família, a mulher se tornava quase que propriedade de suas novas famílias, não podendo assim retornar às suas origens de forma alguma. (COULANGES, 2005, p. 239)
Em contrapartida, em algumas sociedades antigas, o místico e a tradição eram elementos que por vezes custavam vidas, mas que também tratavam da família como base de tudo, arraigando seus integrantes de forma que eles sempre seriam lembrados por seus alicerces. ―Nas sociedades tradicionais, os idosos tinham uma aura simbólica que os envolviam. Ocupavam um lugar de referência, respeito e suas produções, histórias, fazeres e dizeres eram extremamente valorizados. (ANDRADE D.P., 2006, p. 67).
Em Atenas, era comum o dever de cuidado do filho homem para com o pai, mesmo que em outras realidades culturais tal relação ocorresse embasada no poder que o ancião tinha sob toda a família e por intermédiono domínio financeiro, assim como a base das famílias brasileiras, que colonizadas por Portugal, trouxeram consigo o Patriarcalismo como bandeira e lei, a família era respeitada, e enquadrada como base de tudo, tendo como cabeça a figura de um homem mais velho, sempre respeitado e também presente nas sociedades orientais, conforme retrata Coulanges: ―Conhecemos uma lei de Atenas que manda ao filho alimentar o pai velho ou enfermo; (...) Essa lei não existia em Roma, porque o filho nunca possuía coisa alguma, e ficava sempre sob o domínio do pai. (COULANGES, 2005, p. 240).
Não há dados confirmados onde se iniciou o abandono de idosos, é sabido que historicamente no Oriente havia a imagem dos pais e chefes de família, que eram admirados e idolatrados por seu conhecimento e habilidade de resolver conflitos. O idoso foi esquecido após os meios de investimentos novos e do reconhecimento do trabalho na Revolução Industrial, o qual a trabalho seria mais rápido, onde até mesmo as crianças e adolescentes davam grandes rendimentos para os investidores da época.
No final do século XVIII, com o advento da Revolução Industrial, a invenção da máquina acarretou a expansão do capitalismo e desmembrou a sociedade. A partir de então, o prestígio e apreço que antes os velhos detinham começou a se perder, ocorrendo a desestruturação do esquema social no qual viviam. (CARVALHO; CAMILO, 2011, p. 02).
O pai idoso, apresenta delimitações, que poderiam trazer prejuízos, onde não era considerado a experiência, mas sim a velocidade de produção nas atividades da industria, e algumas vezes a velocidade para manejar maquinas eram importantes, condição que as crianças e adolescentes executavam melhor, para Dias:
No envelhecimento biológico, praticamente, todos os sistemas do corpo se deterioram, tanto na eficiência estrutural quanto na funcional, marcados por uma faixa metabólica mais baixa, que torna mais lento o intercâmbio de energia dentro do organismo, assim, seus recursos para auto expressão comportamental vão sendo gradualmente reduzidos. A desaceleração é consequência do aumento da idade celular, decorrente de menor capacidade para a divisão celular. (DIAS; SCHWARTZ, 2005, p. 02).
Na atualidade, o que acontece é a reprodução de tudo junto. Um embaraçado de moral, com educação que depende de a sociedade aprender no cotidiano, que é obrigação honrar os idosos, pois eles fazem da base familiar, ligado à um método capitalista no qual idosos não se amoldam as nossas condições e presunções futuras, o qual consideramos o futuro e esquecemos o que esta longe, e menosprezamos o envelhecimento e deixamos de lembrar que além do presente dos nossos antepassados, são o amanhã de nós mesmos.
	
1.1 CONCEITO DE IDOSO
Conforme o Estatuto do Idoso, Lei 10.741 de 01 de outubro de 2003, em seu artigo 1º, idoso é considerado a “pessoa com idade igual ou superior a 60 anos”. Vale ressaltar que não existe menção a qualquer característica individual da pessoa, tais como condição social, sexo, entre outros, somente como referência, a idade.
Considerar as variedades do país, as inúmeras realidades, limitar uma idade para estabelecer o idoso é uma dificuldade a transpassar. Na atualidade, as pessoas idosas de idade igual ou superior a 60 anos, o qual sugere cuidados, em similaridade não só com a legislação vigente, assim como com a moral da sociedade, no lugar em que aprendemos a respeita-los desde cedo.
A imagem do idoso rancoroso, muitas vezes até maltratado, é reflexiva no Dom Casmurro de Machado de Assis, que de acordo com o Rael Rogowski, advogado, descreve Dom como:
(...) Um homem idoso no crepúsculo da existência: a visão amarga e doída de quem foi traído e machucado pela vida. No Brasil temos milhões de "Dons Casmurros" machucados pela vida, marcados pelo abandono da família e pela omissão do Estado. (ROGOWSKI, 2009, p. 01)
A imagem do idoso que sempre foi um exemplo de um comportamento a seguir, foram se desorientando nas culturas, e tornando-se para muito atualmente, modelo de vida difícil. O conhecimento do idoso era enaltecida, porém, conforme o decorrer da sociedade, esse reconhecimento foi se ocultando atrás de jovens que aprendizes, comprovaram na agilidade e força o seu valor, realmente, aqueles que não os bastantes para a laboração braçal se encontraram em um grupo social inativo, pelo qual erradamente escanteado, viram-se à sombra de um sistema que pretendia somente a quantidade em produção e lucro. Exemplo dado pela Adryelle Vanessa Camila, que junto com a Marilza Simonetti Carvalho aludem: 
O idoso que era considerado autoridade devido a sua sabedoria, com o passar do tempo viu o seu poder econômico e social se esvair, com isso, suas memórias e sua experiência de vida, que em momento anterior eram muito valorizadas, agora parecem ser irrelevantes, recaindo sobre eles o peso da inutilidade e decadência. (CARVALHO; CAMILO, 2011, p. 03)
Tradicionalmente, é imposto pela sociedade a obrigação de cuidado dos pais com os filhos – muito das vezes não respeitado – é o alicerce de uma família próspera, e que é passada entre as gerações. – A obrigação que os filhos têm com os pais, é fundada no ponto de vista da mutualidade esperada, que se demonstra na retribuição pelo zelo ganho na infância e no amor de filho.
O que necessita ser levado em consideração é que a figura do idoso atualmente não deve ser considerada como estorvo social, mas o futuro de todos os indivíduos. Ignorar o passar do tempo, e a lei natural da vida humana, talvez seja hoje um dos maiores erros do homem moderno, é de fato a maior certeza que existe, e em diversas atitudes o ser humano prova que tenta ignorar cada aspecto desse envelhecimento natural. Impossível seria negar que atitudes tomadas atualmente, recairão sobre a sociedade futura, foi tal ponto que se ignorou na antiguidade e que se ignora até hoje. O saber enfrentar uma velhice e tomar atitudes preventivas para que se leve uma vida futura saudável é o grande desafio, a chegada da morte um dia é inevitável, isso não se pode negar. ―Somos inconscientemente levados a rejeitar e a ignorar a velhice, não lhe atribuindo um lugar de destaque em nossas reflexões, mantendo a morte à distância. (ANDRADE M.M, 2014, p. 69).
É obvio que o processo de envelhecimento necessita de cuidados tanto na afetividade quanto no financeiro, assim, cabe aos filhos reconhecer suas obrigações, sem a necessidade de propor ação. Mas o que não deve ser esquecido, é a necessidade e urgência que o problema deve ser tratado, e as dificuldades que envolve o uso do direito nas relações de família.
1.2 OS IDOSOS E O DIREITO 
Existem dispositivos que vão desde a Constituição Federal, até as leis especificas como a Lei nº 8.842, de 04 de janeiro de 1994 (Política Nacional do Idoso) e a Lei nº 10.741/2003 (Estatuto do Idoso), essas são meios reproduzidos para a tutela da terceira idade, que são imprescindíveis enquanto existir filhos que abandonam os pais.
Segundo Marco Antonio Vila Boas: Infelizmente precisou que tal dispositivo ficasse assim escrito. É vergonhoso que a obrigação alimentar, mais moral que material, necessitasse ficar registrada na Lei Maior. Este dever é anterior a qualquer lei. É uma obrigação de cunho afetivo e moral. Qualquer filho que tenha caráter e sensibilidade terá que cumprir fielmente este dever de consciência. (SILVA et al.,2012, p. 07)
O que acontece na maior parte dos casos, são os filhos, que abandonam os pais idosos em hospitais ou asilos com o comprometimento de que o lugar é apenas um lar provisório, e que acontecerá uma volta a residência, porém a promessa não se cumpre. Assim, a lei objetiva tutelar idosos que não possuem condições se auto sustentar, não possuem condições psicológicas ou físicas para gerenciar seus gastos e que na maioria não existem possibilidades para serem independentes. Com o decorrer dos dias aumentam os números de idosos deixados nessas situações e que esperam diariamente a visitade um ente familiar, é claro a dor da espera e da expectativa frustrada ser irreparável, o que piora vindo dos que foram contemplados vida pelo próprio idoso abandonado. Dessa forma, os idosos acabam sendo deixados em asilos, e excluídos do convívio familiar. Sendo ferido o direito da Assistência Afetiva, zelado no Estatuto do Idoso.
Os pais idosos têm o direito de receber pensão alimentícia dos filhos quando não possuírem meios de manutenção própria ou recursos suficientes para a subsistência. O vocábulo "alimentos" é utilizado de forma ampla pela lei e compreende tanto o valor necessário para a alimentação em si quanto o imprescindível para a manutenção da pessoa de forma geral, vale dizer, recursos para remédios, assistência médica, pagamento de despesas básicas como água, luz, gás, telefone e até cuidadores ou empregados, se o idoso não puder viver sozinho. (SILVA et al.,2012, p. 07)
Recentemente e constantemente, os idosos sofrem diretamente ou indiretamente ameaças ao bem tutelado dos mais diversos tipos de violências, insultos, e agressões físicas, cujo sujeito ativo encontra-se na sua própria casa – familiares -, bem como fora dela – coletividade-. (CARVALHO; CAMILO,2011, p. 02)
Vale ressaltar, que o processo de envelhecimento é algo natural, garantido como direito personalíssimo, ou seja, aqueles que cuidam das questões ligadas à dignidade da pessoa humana, declarada na Constituição Federal de 88. Cuidando dos Direitos Personalíssimos, estão previstos no artigo 11 do Código Civil, os quais são irrenunciáveis e intransmissíveis, somente o titular pode desfrutar do mesmo, no caso no idoso.
Nessa linha, os direitos são garantidos desde o nascimento aos seus titulares, findam-se assim com a morte, podendo concluir que a responsabilidade quanto ao bem da vida assegurado é do Estado, de acordo com Pedro Lenza:
O envelhecimento é um direito personalíssimo e a sua proteção,
um direito social, sendo obrigação do Estado garantir à pessoa idosa a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam um envelhecimento saudável e em condições de dignidade. (LENZA, 2011, p. 1119)
O processo de envelhecimento é uma fase trabalhosa da vida, onde situações corriqueiras tornam-se uma impedição a ser enfrentada, onde por vezes não há aceitação. Por conseqüência, o acompanhamento familiar se torna de suma importância, pois ao longo do decorrer dos anos o afeto se torna o maior auxilio.
1.2.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1988
A responsabilidade familiar mutua, encontra-se na Constituição Federal, no artigo 229, conforme expõe: 
Art. 229: “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.”.
No âmbito da Constituição, diz respeito ao abandono afetivo, que se sustenta sobre as bases do principio da dignidade humana que se dispõe todo o ordenamento jurídico, o qual a Constituição Federal é a Lei Maior.
Nela o princípio está consagrado logo no artigo 1º, inciso III, compreendendo-se que o mesmo princípio é característica intrínseca ao Estado Democrático de Direito. (ANDRADE M.M., 2014, p. 06)
Na Constituição, está expresso a dignidade da pessoa humana como um de seus fundamentos, pertinente a todos, sendo direito fundamental, de acordo com o artigo 1º, inciso III, da Carta Magna:
Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos:
(...)III - a dignidade da pessoa humana;
Pode perceber que no Direito a dignidade humana é o principio orientador. Assim, não deve existir nenhuma contestação a esse principio, sob pena de inconstitucionalidade. Deste modo, Ferraz expõe:
Prevê o artigo 1º, inc. III, da Constituição Federal de 1988 que o nosso Estado Democrático de Direito tem como fundamento a dignidade da pessoa humana, sendo observado como um princípio máximo do Direito moderno e considerado pelos doutrinadores como o ―ponto de partida do novo direito de família brasileiro. (FERRAZ, 2010, p. 06)
A Constituição vigente elenca uma série de direitos individuais e sociais, expostos em um rol taxativo, com a intenção de garantir a dignidade de todos. Isso se apresenta como forma de compromisso, para que se assegure o afeto, que nesse caso é o primeiro que assegura tal aspecto, mesmo que não haja a expressa menção. Mesmo que a Constituição tenha enlaçado o afeto no âmbito de sua proteção, a palavra afeto não está no texto constitucional. (PEREIRA, 2012, p. 05)
Mais um artigo que deve ser ressaltado é o 226, o qual temos como base da sociedade da família, e o Estado apresenta-se como protetor dela, e o artigo 230, o qual o os princípios da proteção e da solidariedade, a sociedade, a família e o Estado tem a responsabilidade de proteger os idosos, garantindo seu convívio na comunidade, tutelando sua dignidade e bem-estar, garantindo assim, o direito à vida.
Maria Berenice versa sobre o artigo 230:
A Constituição veda discriminação em razão da idade, bem como assegura especial proteção ao idoso. Atribui à família, à sociedade e ao Estado o dever de assegurar sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar, bem como lhe garantindo direito à vida (CF 230). (BERENICE, 2013, p. 71)
Também pode ser relacionado nesse contexto, o principio da afetividade, o que pode ser ressaltado no âmbito da Constituição, representa o propósito do legislador de ligar princípios de forma coesiva, expondo a relação do principio da dignidade da pessoa humana e o da proteção integral, para assegurar a efetiva tutela não só da criança e do idoso, mas da família como um todo.
Decerto o princípio da afetividade, entendido este como o mandamento axiológico fundado no sentimento protetor da ternura, da dedicação tutorial e das paixões naturais, não possui previsão legal específica na legislação pátria. Sua extração é feita de diversos outros princípios, como o da proteção integral e o da dignidade da pessoa humana, este também fundamento da República Federativa do Brasil. (SOUSA,2008, p. 02)
O principio da afetividade é reflexo na família, onde acontece manifestação principal do afeto, é o elemento fundamento para a formação da família, por essa razão deve ser decorrência do principio da dignidade da pessoa humana.
A afetividade é uma atividade psíquica básica, é a vida emocional do ser humano. É contínua no tempo: não pode deixar de sentir afetos e possuir predicados: valorização polar (amor, ódio, alegria e tristeza, etc.); é subjetiva; é atemática, isto é, não tem objeto – um indivíduo pode sentir alegria por motivos completamente diferentes de outro. (GOMES; et al., 1998, p. 11).
O laço da afetividade demonstra uma ideia de relações que são duradoras, laços que nunca irão se desmanchar, o que se sabe que não é efetivado assim na pratica do direito de família. De fato, tal como a obrigação alimentar, a obrigação de zelo com o idoso é algo que não deveria ser cobrado, e sim estabelecido culturalmente em cada pessoa, sem a necessidade de ser enfrentada a norma com os problemas atuais da sociedade.
1.2.2. O CÓDIGO CIVIL
No Código Civil, existem quatro artigos que devem ser ressaltados, não são sobre o assunto especifico do abandono afetivo, como já mencionado, não existe previsão legal ainda, mas em relação com a responsabilidade civil e a obrigação que se refere aos pais e filhos e vice-versa.
O primeiro artigo a ser ressaltado é o principio norteador de toda doutrina de responsabilidade civil, segundo Stolze, ao consultar o art. 186 do Código Civil (art. 159, CC-16), base fundamental da responsabilidade civil, consagradora do princípio de que a ninguém é dado causar prejuízo a outrem (neminem laedere), observa-se que: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar danoa outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. (STOLZE, 2012, p. 74)
Diante do exposto no artigo 186, trata-se da indenização adequada por ato ilícito, mesmo que o dano seja moral, conforme expõe Rodolfo e Stolze, esse artigo não fez nada mais do que expor determinações constitucionais que já corroboravam a autonomia do dano moral.
Se uma pessoa, dolosa ou culposamente, causar prejuízo a outrem, fica obrigada a reparar o dano. Ou seja, se TICIO, dirigindo imprudentemente, atinge o veículo de CAIO, o interesse jurídico patrimonial deste último restou violado, por força do ato ilícito cometido pelo primeiro, que deverá indenizá-lo espontânea ou coercitivamente (pela via judicial). (STOLZE, 2012, p. 46)
Em seguida, mostra-se o artigo 927 do Código Civil, o qual versa: “aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.”.
O novo Código Civil brasileiro (Lei n. 10.406, de 10-1-2002), adequando, de forma expressa, a legislação civil ao novo perfil constitucional, reconhece expressamente, em seu art. 186, o instituto do dano moral e, consequentemente, por força do art. 927, a sua reparabilidade. (STOLZE, 2012, p.123)
Seguindo a linha do artigo 927, aparece a necessidade de determinar a dimensão do dano. Assunto muito polemico no tema desse trabalho, haja vista que a valoração do afeto é alvo de discussão frequente entre doutrinadores e legistas. Na jornada de Direito Civil, a qual foi realizada pelo Superior Tribunal de Justiça no mês de setembro de 2001, em Brasília, o DoutrinadorAdalberto Pasqualoto expos um enunciado aprovado unanimemente segundo Stolze: 
Enunciado 38 — A responsabilidade fundada no risco da atividade, como prevista na segunda parte do parágrafo único do artigo 927, do novo Código Civil, configura-se quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano causar à pessoa determinada um ônus maior do que aos demais membros da coletividade. (STOLZE, 2012, p.217)
Os artigos aqui mencionados procedem no assunto somente como complemento para a obrigação de cuidado dos filhos com os pais, na tutela do bem da vida, ora retratado no direito ao convívio entre familiares, assim como na falta deste, a exigência de prestação alimentícia, como acontece na relação inversa ou a normal, dos pais com os filhos, conforme o artigo 1696 do Código Civil:
Art. 1696 - O direito à prestação de alimentos é recíproco entre pais e filhos, e extensivo a todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta de outros.
O Código Civil não demonstra de fato, nenhuma norma jurídica que ampare os idosos do abandono com o decorrer dos anos, mas, o simples fato de manifestar e inserir na jurisprudência o uso da reparação civil como uma forma de punição e de assegurar a proteção do idoso.
1.2.3 O ESTATUTO DO IDOSO E A POLÍTICA NACIONAL DO IDOSO
O Idoso no ordenamento jurídico brasileiro é tema que vem sendo tratado com mais cuidado a partir da sanção da Lei nº 10.741, 01 de outubro de 2003, o chamado Estatuto do Idoso. Representando um grande avanço para os direitos dos idosos, a referida lei se divide em sete títulos, que versam sobre garantias e direitos fundamentais dos maiores de 60 anos, incluindo os diretos à Liberdade, Respeito e Dignidade, Saúde, Habitação, Transporte, Proteção, Atendimento, Acesso à Justiça, Crimes, e o que também chama atenção ao presente trabalho, Direito à Alimentação. (ARGOLO e FURTADO, 2013, p. 02)
O Estatuto do Idoso construiu um regulamento, mais moral do legislativa, o que já deveria existir na educação de cada pessoa, mas que devido os acontecimentos, o Legislador achou necessário prever legalmente. 
O Estatuto do Idoso constitui-se em um microssistema e consagra uma série de prerrogativas e direitos às pessoas de mais de 60 anos. Os maiores de 65 anos são merecedores de cuidados mais significativos. Não se trata de um conjunto de regras em caráter programático, pois são normas definidoras de direitos e garantias fundamentais de aplicação imediata (CF 5º § 1º). (BERENICE, 2013, p. 71)
O artigo 3º do Estatuto também afirma essa relação, quando se refere dos direitos dos idosos, estes que embora expressos na Constituição anteriormente, foram corroborados na Lei. É de se ressaltar o direito da Assistência Afetiva, que lista como “responsáveis” pelos idosos:
Art. 3º - É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária.
O Estatuto do Idoso bem como a Constituição Federal, mostra a entidade da família como responsável fundamental pelo idoso, existindo a necessidade e importância de uma ação junto ao Estado, com o propósito de uma supervisão cautelosa, cuidando assim de todos os direitos oferecidos. Garantindo-se assim:
IV – Viabilização de formas alternativas de participação, ocupação e convívio do idoso com as demais gerações;
V – Priorização do atendimento do idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar, exceto dos que não a possuam ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência; (Lei nº 10.741 de outubro de 2003, Estatuto do Idoso.).
O Estatuto pretende nesses incisos, proporcionar convencia maior com a nova geração, além de acrescentar no seu inciso V, a precedência da obrigação de cuidado da família, e preferencia aos asilos, que são opção para as famílias que às vezes não possuem condições para cuidar do idoso.Com efeito, é necessário destacar, que mesmo existindo a opção dos asilos, a família nunca estará desobrigada da obrigação de cuidar dos idosos, sendo garantido tais incisos com a obrigação de visita-los nos asilos. Nesse sentido, a verificação sobre acerca dos idosos, traz consigo o entendimento de dependência e hipossuficiência, o qual de acordo com o que já mencionado, precisa da proteção dos ramos do direito.
Ocorrendo prejuízos na esfera emocional e moral, os idosos com a norma do abandono afetivo inverso, podem procurar a reparação, visando que as condições necessárias para a propositura do ajuizamento de ação de indenização por dano moral sejam preenchidas.
2 RESPONSABILIDADE CIVIL: BREVES CONSIDERAÇÕES
Primeiramente, há de se considerar a correta conceituação de Responsabilidade Civil acerca desse tema. Trata-se da aplicação de medidas que buscam e acima de tudo, obriguem, uma pessoa a reparar o dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de um ato que ela mesma praticou, ou que pessoas que ela responde praticaram. Trata-se de uma atividade recíproca, onde ao passo que tutela a atividade do homem que age em conformidade com a lei, reprime aquele que não age, demonstrando uma dupla atividade jurídico-social. (CAVALIERE, 2012, p.01)
O conceito de responsabilidade, vem da instituição de garantir algo, o qual desde o direito romano garante as atividades de valor jurídico, as vezes tutelando, as vezes igualando e ainda, confirmando o dever de se reparar qualquer dano, conforme esclarece Lilian Ponchio e Alexandre Alliprandino, ao se tratar da responsabilidade civil dos filhos para com os pais idosos:
A palavra "responsabilidade" vem do verbo latino respondere, que indica o fato de alguém ter se constituído garantidor de alguma coisa. Contém ainda sua origem na raiz latina spondeo, maneira pela qual o devedor se vinculava nos contratos verbais no direito romano. Responsabilidade transmite a ideia de "restauração do equilíbrio, decontraprestação, de reparação do dano. (SILVA, at al., 2012, p. 02).
O grande desafio nesse sentido, é o de aplicar a ideia que anteriormente tratava de contratos verbais ou de relações jurídicas expressamente financeiras ou derivadas de algum negócio jurídico, às necessidades pessoais e ainda familiares da nossa sociedade. Defato, ainda há uma tímida relação entre ambos os institutos, desprotegendo os sujeitos vulneráveis das relações entre o direito de família, comprovando que apesar dos esforços legislativos, em casos práticos e não raros, a figura dos pais idosos abandonados é frequente, onde há ausência de assistência material e, principalmente, a imaterial afetiva. (SILVA, at al., 2012, p. 04).
2.1 PRESSUPOSTOS DA RESPONSABILIDADE CIVIL 
Há uma classificação da responsabilidade civil, definida pela doutrina por dois critérios. Quanto a natureza da norma violada, pode ser contratual ou extracontratual. Em relação a presença do elemento culpa, divide-se em responsabilidade civil subjetiva ou objetiva.
Na responsabilidade civil contratual é caracterizada o dano em virtude de celebração ou execução de contrato. O dever violado é originário ou de um contrato ou de um negócio jurídico unilateral, do qual o descumprimento gera o dever de indenizar. 
A responsabilidade civil extracontratual, por sua vez, decorre da violação a um dever jurídico imposto pela lei, gerado fora dos contratos, mais precisamente fora dos negócios jurídicos.
Quanto a classificação doutrinária na existência do elemento dolo ou culpa, a responsabilidade civil subjetiva é fundada na culpa. Seus pressupostos são: ação ou omissão do agente; conduta culposa; o nexo causal e o dano.
SÉRGIO CAVALIERI FILHO (2010:18) segue a mesma linha de entendimento, baseando-se no artigo 186 do Código Civil:
Há primeira um elemento formal, que é a violação de um dever jurídico mediante conduta voluntária; um elemento subjetivo, que pode ser o dolo ou a culpa; e, ainda, um elemento causal-material, que é o dano e a respectiva relação de causalidade. Esses três elementos apresentados pela doutrina francesa como pressupostos da responsabilidade civil subjetiva podem ser claramente identificados no art. 186 do Código Civil.
Já, a responsabilidade civil objetiva não necessita do elemento culpa, sendo suficiente para sua caracterização os elementos: ação ou omissão, nexo causal e danos.
CAVALIERI FILHO (2010:16), esclarece: 
Pela concepção clássica, todavia, a vítima só obterá a reparação do dano se provar a culpa do agente, o que nem sempre é possível na sociedade moderna. O desenvolvimento industrial, proporcionado pelo advento do maquinismo e outros inventos tecnológicos, bem como crescimento populacional geraram novas situações que não podiam ser amparadas pelo conceito tradicional de culpa.
A responsabilidade objetiva é sustentada pelas teorias do risco e da culpa presumida, previstas nos artigos 927, parágrafo único e 931 do Código Civil:
Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo.
Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem.
A seguir, será tratado acerca de cada um dos pressupostos da responsabilidade civil, bem como da ocorrência deles no cenário do abandono afetivo dos pais idosos.
Para que exista a caracterização e possibilidade de Indenização devem ser seguidos os pressupostos, que são complicados de se encontrar hialinos no âmbito do Direito de Família, assim, este é o grande desafio se tratando da utilização do Abandono Afetivo no nosso Direito atual.
2.1.1 AÇÃO OU OMISSÃO
RUI STOCO ensina: “o elemento primário de todo ilícito é uma conduta humana e voluntária no mundo exterior”.
Segue dizendo que:
Esse ilícito, como um atentado a um bem juridicamente protegido, interessa a ordem normativa do Direito justamente porque produz um dano. Não há responsabilidade sem um resultado danoso (STOCO 1996:131)
A omissão, nas palavras de SAMPAIO (2003:31):
Embora de difícil visualização, o comportamento omissivo pode gerar a obrigação de reparar o dano. Para que o comportamento omissivo ganhe essa relevância, faz-se necessário que se tenha presente o dever jurídico de praticar determinado fato (de não se omitir) e que do descumprimento desse dever de agir advenha o dano (nexo de causalidade). Esse dever de agir pode decorrer de lei (dever de prestar socorro às vitimas de acidente imposto a todo condutor de veiculo – art. 175, XVI, do Reg. Do CTB), de convenção (pessoa que assume a guarda, vigilância ou custodia de outra e omite-se no desempenho das obrigações deles decorrentes) ou da própria criação de alguma situação de perigo (criada a situação de perigo, surge a obrigação de quem a gerou de afastá-la).
 Sendo assim, toda ação ou omissão que infringir dever jurídico pré-existente e resulte em danos, é sujeito a reparação, desde que corresponda aos demais requisitos que serão analisados a seguir.
2.1.2. CULPA
Segundo, CAVALIERI FILHO (2011:35):
(...) culpa é a conduta voluntária contrária ao dever de cuidado importo pelo Direito, com a produção de um evento danoso involuntário, porém previsto ou previsível. 
Ainda, o autor ensina que existem dois critérios de aferição da previsibilidade, os quais devem ser conjugados em prol de uma solução justa (idem, 35):
Há dois critérios de aferição de previsibilidade: o objetivo e o subjetivo. O primeiro tem em vista o homem médio, diligente e cauteloso. Previsível é um resultando quando a previsão do seu advento pode ser exigida do homem comum normal, do individuo de atenção e diligencia ordinárias. Pelo critério subjetivo a previsibilidade deve ser aferida tendo em vista as condições pessoais do sujeito, como idade, sexo, grau de cultura, etc.
GONÇALVES deixa claro o critério objetivo adotado no ordenamento brasileiro, sobre a previsibilidade da conduta danosa: (2011:41)
O critério para aferição da diligencia exigível do agente e, portanto, para caracterização da culpa, é o da comparação de seu comportamento com o do homos medius, do homem ideal, que diligentemente prevê o mal e precavidamente evita o perigo.
Ainda, os autores costumam classificar a culpa em estrito senso e dolo. 
CAVALIERI FILHO (2011:31) explica que 
No dolo o agente quer a ação e o resultado, ao passo que na culpa ele só quer a ação, vindo a atingir o resultado por desvio acidental de conduta decorrente da falta de cuidado.
De igual forma, a explicação de RIZZARDO (2011:02):
Já o dolo corresponde à pratica voluntaria de uma infração a lei. Age a pessoa deliberadamente no rompimento da ordem natural das coisas ou do equilíbrio no relacionamento humano. A infração é pretendida, repercutindo maior gravidade nas consequências e no combate pela Lei. 
Contudo, mesmo que haja essa diferença conceitual doutrinaria, o Código Civil determina a reparação do dano independente de tal distinção, GONÇALVES (2011:572):
Tenha o agente agido com dolo ou culpa levíssima, existirá sempre a obrigação de indenizar, obrigação esta que será calculada exclusivamente sobre a extensão do dano e não pelo grau de culpa.
Continua o doutrinador, em relação a culpa estrito senso, a qual é caracterizada pela negligencia, imprudência e imperícia (idem, 490): 
O Juízo de reprovação próprio da culpa, pode, pois, revestir-se de intensidade variável, correspondendo a clássica divisão da culpa em dolo e negligencia, abrangendo esta ultima, hoje, a imprudência e a imperícia. Em qualquer de suas modalidades, entretanto, a culpa implica a violação do dever de previsão de certos fatos ilícitos e de adoção de medidas capazes de evita-los.
No presente estudo, a culpa é fator necessário, visto que a responsabilidade originária do abandono afetivo de idosos é subjetiva, consoante a discussão a diante.
2.1.3 NEXO CAUSAL
Nexo causal é a ligação que existe entre a conduta do agente e o resultado por ele produzido; analisar o nexo de causalidade é constatar quais foram as condutas, boas ou ruins, que causaram o resultado esperando em lei. Sendo assim, para que podemos dizer queuma pessoa produziu tal fato, é necessário determinar o vínculo entre sua conduta e o resultado provocado, ou seja, analisar se sua ação ou omissão sucedeu o resultado.
Ensina CAVALIERI FILHO (2011:46):
Não basta, portanto, que o agente tenha praticado uma conduta ilícita; tampouco que a vítima tenha sofrido um dano. É preciso que esse dano tenha sido causado pela conduta ilícita do agente, que exista entre ambos uma necessária relação de causa e efeito. É necessário ter consciência que o nexo de causalidade é quesito imprescindível para que seja configurado o dever de indenizar, independente da natureza da responsabilidade civil considerada. 
É a lição que VENOSA (2033:39) expõe que:
A responsabilidade objetiva dispensa a culpa, mas nunca dispensará o nexo causal. Se a vitima, que experimentou um dano, não identificar o nexo causal que leva o ato danoso ao responsável, não há como ser ressarcida.
VENOSA (idem, 39) discorre sobre as questões enfrentadas na definição do nexo causal, se referindo a teoria da causalidade adequada:
Primeiramente, existe a dificuldade em sua prova; a seguir, apresenta-se a problemática da identificação do fato que constitui a verdadeira causa do dano, principalmente quando este decorre de causas múltiplas. Nem sempre há condições de estabelecer a causa direta do fato, sua causa eficiente. Normalmente aponta-se a teoria da causalidade adequada, ou seja, a causa predominante que deflagrou o dano.
Não restam dúvidas de que o vinculo entre a conduta do agente e o dano causado é necessário também na análise da responsabilidade civil por abandono afetivo de idosos aqui tratada.
2.1.4 DANO
Requisito da responsabilidade civil, o dano se relaciona ao prejuízo causado a outrem.
De acordo com ALVIM (2008:171), o termo dano “( ...) em sentido amplo, vem a ser a lesão a qualquer bem jurídico, e aí se inclui o dano moral”.
Sendo assim, além dos danos patrimoniais, o dano inclui os imanentes a personalidade humana, como a vida, a saúde, a honra, entre outros.
Se não existir o prejuízo, não há de se falar em responsabilidade civil. Essa é a lição de RUI STOCO que vai além:
O dano é, pois, elemento essencial e indispensável à responsabilização do agente, seja essa obrigação originada de ato lícito, nas hipóteses expressamente previstas; de ato ilícito, ou de inadimplemento contratual, independente, ainda, de se tratar de responsabilidade objetiva ou subjetiva (...) 
Ao contrário do que ocorre no Direito Penal, que nem sempre exige um resultado danoso para estabelecer a punibilidade do agente, no âmbito civil, é a extensão ou o quantum do dano que dá a dimensão da indenização. 
Aliás, (...) o art. 944 do atual Código Civil preceitua que a indenização “mede-se pela extensão do dano”. Do que se infere que, não havendo dano, não há indenização, como ressuma óbvio, pois o dano é pressuposto da obrigação de indenizar. (STOCO 1996:129).
Sobre a reparação do dano, GONÇALVES (2011:545) lembra que:
Indenizar significa reparar o dano causado à vitima, integralmente. Se possível, restaurando o status quo ante, isto é, devolvendo-a ao estado em que se encontrava antes da ocorrência do ato ilícito.
Esclarece (idem, 545): 
Todavia, como na maioria dos casos se torna impossível tal desiderato, busca-se uma compensação em forma de pagamento de indenização monetária. Deste modo, sendo impossível devolver a vida à vitima de um crime de homicídio, a lei procura remediar a situação, impondo ao homicida a obrigação de pagar uma pensão mensal às pessoas a quem o defunto sustentava, além das despesas de tratamento da vítima, seu funeral e luto da família.
Vale ressaltar a observação na obra de VENOSA (2003:28), referente a utilização do termo “dano injusto” pelo doutrinador, a qual traduz a noção de lesão a um interesse, expressão que se torna mais própria modernamente, tendo em vista ao vulto que tomou a responsabilidade civil. 
O entendimento de VENOSA é compartilhada na obra de FERNANDO NORONHA (2010:491) o qual aponta à noção de “lesão a um bem jurídico protegido” como requisito próprio para configurar o dever de indenizar.
 Podemos ordenar os pressupostos da responsabilidade civil de forma mais didática dizendo ser necessário, para que surja a obrigação de indenizar:
(...)
e) é preciso que o dano esteja contido no âmbito da função de proteção assinada à norma violada. Isto é, exige-se que o dano verificado seja resultado da violação de um bem protegido. 
NORONHA (idem, 491) aprofunda a ideia da lesão a um bem jurídico assegurado, complementando não ser qualquer conduta capaz de causar danos que geram a reparação civil. Logo, para que seja admissível falar em indenização, é necessário ter violação de uma lei que proteja determinado bem ou direito:
Nas palavras de NORONHA (2010:493): 
Será o exame da norma jurídica violada, será sua ratio legis que esclarecerá quais são os valores e interesses tutelados, quais são em especial os danos que podem ser reparados e quais são as pessoas que a norma intenta proteger. A ação de reparação deve ser reservada às pessoas que a norma violada visa proteger e deve ter por objeto apenas os danos visados pela norma. Fala-se, a este respeito, no princípio, ou na teoria, do escopo da norma violada, ou da relatividade aquiliana. 
A compreensão dos doutrinadores citados, a respeito da necessidade da lesão a um bem jurídico tutelado como requisito da responsabilidade civil se enquadra a hipótese do abandono afetivo de idosos, a medida em que será analisado em momento adequado.
2.1.5 RESPONSABILIDADE CIVIL SUBJETIVA E O DANO MORAL
De acordo com o que foi exposto anteriormente a Responsabilidade Civil é sustentada na teoria da Responsabilidade Civil Subjetiva, a qual a culpa do agente é baseada em três aspectos: Imprudência, negligencia e imperícia. No primeiro, o agente age forma desregrada, faltando com os cuidados necessários para que não haja dano. No segundo, o agente deixa de agir ou de realizar algo que deveria; E por fim, no terceiro, existe uma falta de habilidade técnica para que o agente pudesse agir de forma satisfatória e sem causar o dano.
Responsabilidade Civil Subjetiva é conceituada em suma, como o dano causado a terceiros em razão de ato do próprio imputado, sendo por intermédio dele, de pessoa por quem ele responde, de fato, coisa ou animal que ele mantiver guarda. Sendo assim, fundamenta-se na teoria da culpa para que haja assim o direito de indenizar. (KARAM, 2011:35)
Se divide na doutrina a Responsabilidade Subjetiva em dois parâmetros, um voltado ao interesse privado, e o outro, busca tutelar algum bem jurídico.
Interessa-nos neste estudo a Responsabilidade Civil Extracontratual Subjetiva, no sentido de que, a Responsabilidade é eminentemente civil por tratar de interesses da esfera privada; extracontratual em virtude da lesão ao bem jurídico advir de uma infringência da lei ou mesmo da ordem jurídica, além de ser uma responsabilidade subjetiva por ter como elemento definidor a culpa do agente com previsão explícita nos artigos 186 e 927 do Código Civil. (SILVA, 2014, p.02)
Tal Responsabilidade, subsiste como regra, mesmo que prevendo casos onde há necessidade para onde sem o prejuízo de tal doutrina, adota-se a responsabilidade objetiva, deixando claro que uma não substitui ou anula a outra, ficando uma circunscrita aos limites da outra. (GONÇALVES,2012, p. 42)
O abandono afetivo aqui discutido, se utiliza da responsabilidade civil subjetiva, estando o ente familiar responsável pela proteção do idoso e se tratando daquele que tenha agido com imprudência, negligencia e imperícia causou um dano ao idoso. Efetivamente, a negligencia é o mais presente nas relações familiares, o qual o individuo deixa de agir de forma presente como deve.
2.1.6 VALORAÇÃO DO AFETO NA RESPONSABILIDADE CIVIL
A questão que precisa ser debatida com prevalência nesse sentido, se encontra no valor do sentimento, o maior desafio desdeo inicio para o Direito de Família se formou da ideia do Direito como um todo, alcançar todas as relações familiares e suas particularidades. Quando as utilizações de tais direitos se remetem para a responsabilização de valores às obrigações que deveriam ser de natureza social e sentimental, o desafio se torna evidentemente maior. Socialmente, é dificultoso encontrar no financeiro a atenção que no sentimental não foi dado, mas como cunho preventivo e punitivo, essas medidas vem sendo tomadas, obtendo como exemplo a prestação pecuniária da pensão alimentícia. Efetivamente, não da para substituir o afeto, porém, a lesão e o dano causado decorrendo do dever de cuidado, devem ser no mínimo substituídos. 
Acredita-se que não é a ausência do amor e do afeto o fundamento do dano moral nas relações de família, uma vez que ninguém é obrigado a amar ninguém, mas a responsabilidade do Estado é ter de tratar das condutas ilícitas capazes de ofender o psicológico e a moral do indivíduo. (BRITO, 2011, p.05)
Haja vista que o ordenamento jurídico brasileiro conta com ampla legislação, não só na proteção da família como um todo, mas também nas relações em que dizem respeito aos sujeitos mais indefesos, como os idosos e as crianças, assistidos tanto na seara constitucional como na infraconstitucional. (BRITO, 2011, p.08)
A principio, é preciso levar em consideração que no Direito de Família há princípios ligados com a dignidade da pessoa humana, e ferir o principio gera lesão por vezes difíceis de reparar.
Há de se observarem os princípios que regem o Direito de Família, como também questões como a dignidade humana, a personalidade e os traumas experimentados pelo indivíduo, a atmosfera familiar como um todo, as relações entre as entidades familiares e, principalmente, a pessoa dos filhos que são mais carentes de cuidado por estarem em processo de formação. (SILVA, 2014, p.02)
Daí surge mais uma necessidade da indenização, uma reparação justa, fundada em lei para proteger não só as crianças que sofrem com o abandono afetivo, bem como com o idoso: ―O dever de indenizar decorrente do abandono afetivo encontra, por isso, os seus elementos constitutivos na funcionalização das entidades familiares, que devem tender à realização da personalidade de seus membros (...)‖ (SILVA, 2014, p.02)
Nessa linha, para ser um instituto valido em nossa norma jurídica vigente, é necessário a união do valor que se encontra no afeto em caso concreto e nos demais danos, junto ao valor pecuniário que pode ser anexado ao dano moral. Julgados recentes, que serão citados posteriormente, expõem valores altos no que se refere ao Abandono Afetivo comum, para que se impeça o uso descontrolado do instituto, a verificação deve ser cautelosa, para que se evite um valor financeiro ao sentimento.
3 TEORIA DO DESAMOR: ABANDONO AFETIVO NO DIREITO BRASILEIRO
Com relação ao abandono afetivo de idosos, ação ou omissão se faz na conduta dos filhos que propositadamente deixam de exercer a obrigação de amparo aos pais idosos, seja por negligencia nos cuidados, seja por descumprir a obrigação de conviver na relação familiar, o qual deve ser analisado caso a caso.
Alguns julgados têm acolhido a pretensão de filhos que se dizem abandonados ou rejeitados pelos pais, sofrendo transtornos psíquicos em razão da falta de carinho e de afeto na infância e na juventude. Não basta pagar a pensão alimentícia e fornecer os meios de subsistência dos filhos. Queixam-se estes do descaso, da indiferença e da rejeição dos pais, tendo alguns obtido o reconhecimento judicial do direito à indenização como compensação pelos danos morais, ao fundamento de que a educação abrange não somente a escolaridade, mas também a convivência familiar, o afeto, o amor, o carinho, devendo o descaso entre pais e filhos ser punido severamente por constituir abandono moral grave. (GONÇALVEZ, 2012:347)
O abandono imaterial está previsto no Estatuto do Idoso, sendo mais um mecanismo de defesa para os pais idosos, que observa na indenização monetária uma condição de proteção para tal abuso e abandono, no qual mesmo que não tenha o direito de cobrar o amor de outrem, que seja ao menos assegurado o dever de cuidado. Enriquecimento repentino ou prosperidade financeira não são coisas desejadas em tal idade, o que se pretende apenas é um envelhecimento saudável, com todo cuidado necessário.
Se tratando da responsabilização dos filhos no abandono afetivo, é assunto deixado claro nas palavras de HIRONAKA (2006:133):
A ideia central das relações de direito de família não é a patrimonialização, e, por isso, é fundamental que se imponham certos limites e pressupostos específicos ao dever de indenizar decorrente do abandono afetivo.
O assusto que é discutido nesse contexto, está na situação em que os idosos vivem, no abandono e nos danos que é causado com a separação de seus familiares. Para tal, a precaução na utilização da ação de indenização por danos morais por abandono afetivo é fundamento indispensável.
É compreensível que existam obstáculos na aplicação do instituto, tal como em qualquer ação de dano moral, o qual se evidencia o sentimento envolvido, no abandono não é diferente, a dificuldade para a valoração aumenta, quando o principal é o amor.
Outra questão importante, realizada pelo RELATOR DESEMBARGADOR MAZONI FERREIRA (SANTA CATARINA, 2009), sobre o tema consistir na afirmação de que não se obriga ninguém amar outra pessoa.
 O abandono afetivo do pai em relação ao filho não dá direito à indenização por dano moral, eis que não há no ordenamento jurídico obrigação legal de amar ou de dedicar amor, até porque, o laço sentimental é algo profundo que vai se desenvolvendo com o passar do tempo, e não será uma decisão judicial que irá mudar uma situação ou sanar eventuais deficiências.
De acordo com (NAGEL e MARCUS, 2013:37), esse argumento não deve servir de respaldo para que o responsável se exonere pelo abandono afetivo cometido, pois vai de encontro aos direitos básicos da criança, adolescentes e dos idosos, os quais merecem uma atenção especial por parte da família, da sociedade e do Estado. 
Ocorre que ao elaborar jurisprudência para o abandono afetivo, o judiciaria brasileiro criou referencias para a utilização do abandono afetivo inverso, abrangendo os idosos e fortificando direitos que já haviam conquistado por meio da Constituição, Estatuto do Idoso e futuramente, com o advento do Projeto de Lei n.º 2462/2008.
3.1 ABANDONO AFETIVO E O PROJETO DE LEI Nº 2.464 DE 2008
O projeto de Lei mencionado, tem como objetivo acrescentar um parágrafo ao artigo 1.632 do Código Civil e ao artigo 3º do Estatuto do Idoso (Lei nº 10.741/2003), dispondo que “o abandono afetivo sujeita os filhos ao pagamento de indenização por dano moral”.
Em 16 de setembro de 2010, a relatora da Comissão de Seguridade Social e Família – Deputada Jô Moraes – votou pela aprovação do projeto, a qual ressaltou o comprometimento psicológico ocasionado pelo abandono afetivo. Ainda, a relatora evidenciou a extrema conveniência de incluir na Lei a obrigação presumida de indenização por dano moral originaria do abandono afetivo por familiares. 
Observou também, a importância de conscientizar e de dissuadir outras pessoas, para que se evite a mesma conduta, a qual é considerada grave moral e socialmente.
O projeto foi aprovado pela Comissão de Seguridade Social e Família, em 13 de abril de 2011, nos termos do parecer da relatora.
O projeto foi encaminhado posteriormente para a Comissão de Constituição e Justiça, e encontra-se aguardando a apreciação do voto do relator Deputado Antônio Bulhões. O qual, publicou voto favorável a aprovação do projeto, em 7 de março de 2012:
Embora seja verdade que não se possa obrigar alguém a amar ou a manter relacionamento afetivo, ocorrem casos em que o abandono ultrapassa os limites do desinteresse e, efetivamente, causa lesões no direito da personalidade do filho, com atos de humilhações e discriminações. Nessescasos, estaria configurado o abandono afetivo gerador do direito à indenização moral.
(...)
Portanto, haverá hipóteses em que o abandono afetivo advirá a obrigação pela reparação pelo dano moral causado ao filho ou ao idoso (Relator Deputado Antonio Bulhões; 2012).
Desde então, aguarda-se pronunciamento da Comissão de Constituição e Justiça.
De fato, almeja-se mudanças com o projeto, ainda que existam mecanismos de tutela aos idosos, é difícil alcança a tamanha eficácia necessária para abraçar todos os casos. Haverá, é claro, um aumento significativo das demandas que buscarão a indenização, mas o que não se pode negar às vitimas que sofrem pelo abandono, é a legalização do instituto.
3.2 ABANDONO AFETIVO X ABANDONO IMATERIAL
Considera-se abandono afetivo a falta de amor, de carinho e de afeto. Entretanto, não existe obrigação jurídica de amar. O amor é um sentimento conquistado, e não imposto. Assim, o fato de não sentir afeto por outrem não constitui ato ilícito. Nas palavras de (NASSRALLA, 2010, online), assim continua:
O amor e o afeto, ao contrário, são sentimentos humanos, que não podem ser exigidos, de forma que seu inadimplemento gere direito à indenização. Na verdade, ontologicamente, não são obrigações, mas deveres morais e éticos a que a lei comina pelo descumprimento também da mesma reprimenda, qual seja o afastamento do vínculo jurídico parental. Na verdade, o abandono afetivo não pode ser indenizado por não ter cunho obrigacional, por constituir o afeto, um sentimento humano. (NASSRALLA, 2010, online)
Entretanto, é amparado juridicamente o dever obrigacional de prestar auxílio imaterial (obrigações jurídicas imateriais). Estes, sim, englobam a convivência familiar e o amparo, sendo punível o seu descumprimento. O conviver que é basicamente afetivo, enriquecido com uma convivência mútua, alimenta o corpo, mas também cuidar da alma, da moral, do psíquico. Essas são as prerrogativas do poder familiar. (SILVA, 2000, online)
Conforme exposto anteriormente, o Estatuto, em seu artigo 3º, paragrafo único, inciso V, garante o direito à convivência familiar, sendo um dever de assistência imaterial que os filhos possuem para com os pais. Os pais idosos, após serem abandonados em asilos e excluído do convívio com seus familiares, são afetados por vários sentimentos negativos como tristeza, angustia, rejeição, saudade, causando doenças e diminuindo os anos de vida. 
Como já citado, no artigo 229 da Carta Magna, trás a seguinte redação: “os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”.
Esse artigo ressalta a responsabilidade mútua na relação entre pais e filhos, enaltecendo as relações afetivas. Desse modo, o principio da dignidade da pessoa humana e da solidariedade entre os familiares estão presentes e estabelecem o cuidado, a atenção e o apoio moral e físico, sendo, esses, os deveres de assistência imaterial.
O abandono imaterial de idosos também é combatido no artigo 4º do Estatuto do Idoso, conforme segue: “Art. 4º: Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligência, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei”. (BRASIL, 2003).
O Estatuto do Idoso, em seu artigo 2º, também tutela a dignidade dos idosos, inibindo os atos que podem prejudicar a sua mental e física:
Art. 2º O idoso goza de todos os direitos fundamentais inerentes à pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta lei, assegurando-se-lhe, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades para a preservação de sua saúde física e mental e seu aperfeiçoamento moral, intelectual, espiritual e social, em condições de liberdade e dignidade.
As obrigações jurídicas imateriais, anteriormente mencionadas, são deveres de ordem moral e, quando descumpridas, ocasionam danos emocionais incalculáveis. Somente aqueles idosos que passaram por essa situação de abandono é que podem expressar toda a dor sofrida com a rejeição dos familiares mais próximos, e porque não dizer, os filhos, logo os que deveriam proteger seus pais como se fossem suas próprias vidas. Esse sentimento de rejeição, consequentemente, poderá causar danos de ordem moral devastadores, causando doenças que ocasionarão, certamente, a diminuição dos anos de vida e a sensação de perda da dignidade humana, amplamente protegidos no Ordenamento jurídico. Assim, o filho que deixar de amparar seu pai na velhice deixará de cumprir uma obrigação imaterial, cometendo, assim, um ato ilícito, gerando danos morais. (KARAM, 2011).
É claro que não há a obrigação de afeto, pois é um sentimento que deve ser conquistado e não imposto. O que é obrigação filial são os deveres jurídicos, imateriais, como o amparo, convívio. Estes são amparados pelo direito.
No que diz respeito às penalidades, o abandono de idosos pelos filhos é algo que requer punição grave pelo poder judiciário, sendo rigorosamente punido, tanto no Código penal como no Estatuto do Idosos.
O descaso entre pais e filhos é algo que merece punição, é abandono moral grave, que precisa merecer severa atuação do Poder Judiciário, para que se preserve não o amor ou a obrigação de amar, o que seria impossível, mas a responsabilidade ante o descumprimento do dever de cuidar, que causa o trauma moral da rejeição e da indiferença. (AZEVEDO; VENOSA, 2004, p. 14)
A lei no 10.741, de 1º de outubro de 2003, que dispõe sobre o Estatuto do Idoso, explicita, em seu capítulo II, dos crimes em espécie, sendo estes de ação penal pública incondicionada. Foram implementados pelo legislador tipos penais autônomos, todos destinados à tutela da vida, da integridade corporal, da saúde, da liberdade, da honra, da imagem e do patrimônio do idoso, assim considerada a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos. (ANDREUCCI, online).
A omissão de socorro ao idoso é tipificado como crime no artigo 97, sujeito a pena de detenção de 6 (seis) meses a 1 (um) ano e multa àquele que deixar de prestar assistência ao idoso, quando possível fazê-lo sem risco pessoal, em situação de iminente perigo, ou recusar, retardar ou dificultar sua assistência à saúde, sem justa causa, ou não pedir, nesses casos, o socorro de autoridade pública. (BRASIL, 2003).
O artigo 98 da referida lei trata como crime o abandono imaterial, sendo punível com detenção de 6 (seis) meses a 3 (três) anos e multa. “Art. 98: Abandonar o idoso em hospitais, casas de saúde, entidades de longa permanência, ou congêneres, ou não prover suas necessidades básicas, quando obrigado por lei ou mandado. (BRASIL, 2003).
A exposição a perigo da integridade e da saúde, física ou psíquica, do idoso, é tipificada no artigo 99, sendo punível com detenção de 2 (dois) meses a 1 (um) ano e multa.” Art. 99. Expor a perigo a integridade e a saúde, física ou psíquica, do idoso, submetendo-o a condições desumanas ou degradantes ou privando-o de alimentos e cuidados indispensáveis, quando obrigado a fazê-lo, ou sujeitando-o a trabalho excessivo ou inadequado”.(BRASIL, 2003).
Deste modo, a indenização por abandono imaterial dos idosos retrata um caráter punitivo, pedagógico e compensatório, assim como os outros casos de responsabilidade civil por dano moral.
Com a pretensão de uma tutela maior e ampla aos idosos, o Estatuto do Idoso alterou alguns artigos do Código Penal e da Legislação especial, tais como:
No Código Penal:
a) No art. 61, II, “h”, que trata das circunstâncias agravantes genéricas, a expressão
velho foi substituída pela expressão maior de 60 (sessenta) anos;
b) Tornou-se causa de aumento de pena no crime de homicídio doloso, ser ele
praticado contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos (art. 121, § 4º, in fine, CP);
c) No crime de abandono de incapaz, foi incluída causa de aumento de pena de um
terço se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (art. 133, § 3º, III, CP);
d) No crimede injúria (art. 140, CP), a utilização de elementos referentes à
condição de pessoa idosa ou portadora de deficiência, trouxe nova redação ao
parágrafo terceiro (injúria por preconceito);
e) Nos crimes contra a honra de calúnia e difamação, foi introduzida causa de
aumento quando forem praticados contra pessoa maior de 60 (sessenta) anos ou
portadora de deficiência (art. 141, IV, CP);
f) Nos crimes de seqüestro ou cárcere privado, foi incluída qualificadora
consistente em ser a vítima maior de 60 (sessenta) anos (art. 148, § 1º, I, CP);
g) Também no crime de extorsão mediante seqüestro, foi incluída qualificadora
consistente em ser a vítima maior de 60 (sessenta) anos (art. 159, § 1º, CP);
h) Foi vedado expressamente o reconhecimento das imunidades penais (absolutas e relativas) nos crimes contra o patrimônio, se o crime é praticado contra pessoa
com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos (art. 183, III, CP);
i) Por fim, no crime de abandono material, a expressão valetudinária (pessoa de
compleição física muito fraca, pessoa enfermiça, achacadiça) foi substituída pela
expressão maior de 60 (sessenta) anos (art. 244, “caput”, CP).
Na legislação especial:
a) Foi introduzida causa de aumento de pena, de um terço até a metade, na
contravenção de vias de fato, se a vítima é maior de 60 (sessenta) anos (art. 21,
parágrafo único, do Decreto-lei nº 3.688/41 – LCP);
b) No crime de tortura, foi acrescentada causa de aumento de pena, se o crime é
cometido contra maior de 60 (sessenta) anos (art. 1º, § 4º, II, da Lei nº 9.455/97);
c) Nos crimes da Lei de Entorpecentes, foi incluída causa de aumento de pena
quando qualquer deles visar a pessoa com idade igual ou superior a 60
(sessenta) anos (art. 18, III, da Lei nº 6.368/76). (ANDREUCCI, online).
Desta maneira, em crimes praticados contra pessoas com idade acima de sessenta anos, a pena deve ser aumentada, inclusive, se existir o abandono de incapaz, cárcere privado, sequestro e outros que em caso de crime praticado contra pessoas com idade acima de sessenta anos, atentar contra a dignidade humana.
3.3 INDENIZAÇÃO POR DANO MORAL NO DIREITO DE FAMÍLIA
O dano moral é conceituado como aquele que não possui carácter patrimonial, caracterizando- se Danos Imateriais. No âmbito do Direito de Família, é nessa classificação que o Abandono Afetivo se inclui, visto que tal dano está intimamente relacionado ao valor essencial da dignidade.
É certo que, o que desafia o Judiciário e o Legislativo em tal situação, é a ligação da indenização na matéria de família, o que ressalta em sua obra:
O que é imprescindível salientar é que no âmbito do Direito de Família
Responsabilidade Civil ganha outras dimensões além das clássicas já esposadas pela doutrina mais selecionada, pois em matéria de família as questões a serem dirimidas são muito específicas e inestimáveis. (SILVA, 2014, p. 02)
A grande dificuldade de reparação de dano moral nos relacionamentos afetivos e de família encontra-se no reconhecimento de que são muitos obstáculos diante da responsabilidade civil no âmbito das relações de família, mas que está diminuindo, devido a dignidade da pessoa humana que se encontra na essência da personalidade, a qual deve ser preservada em diversas esferas das relações entre as pessoas e principalmente da família.
Ainda, existe casos em que a doutrina aborda inclusive problemas que estenderiam as relações familiares ao cenário exclusivamente financeiro, o que limitaria a obrigação de cuidado apenas à pecúnia. 
Acredita-se que o valor arbitrado possivelmente pelo juiz nas indenizações motivadas pelas relações familiares, são em sua maioria de carácter preventivo e punitivo pela ausência e pelos anos em que o indivíduo não participou efetivamente da vida do sujeito passivo, onde sequer o contato com eles foi ofertado.
(...) A prática da responsabilidade civil nas relações de direito de família não busca a obtenção de vantagens econômicas por parte da vítima, pois isso somente contribuiria para a desagregação desta instituição, sendo inadmissível que a família se resumisse a vínculos monetários. Ao contrário disso, o que se procura é uma profunda análise, dentro da lei vigente em nosso país, da utilização de mecanismos que vedem os abusos praticados por aqueles que, acreditando não existir qualquer sanção, violam os direitos mais fundamentais de pessoas que deles deveriam receber amparo. (NAGEL e MAGNUS, 2013, p. 36)
Ocorre que nas relações familiares há uma ligação direta ao aspecto da dignidade de seus membros, especialmente no que se diz respeito ao crescimento das crianças em condições dignas e ao envelhecimento de maneira sadia e amparada seja afetivamente ou psicologicamente, devido a isso, os papéis exercidos nessas ligações devem estar na lista da responsabilidade e da solidariedade, e os genitores e descendentes ao assumir estes compromissos devem não só assumir a responsabilidade, bem como atrelar suas vidas às de seus descendentes ou ascendentes. (BRITO, 2011, p.06)
Encontra-se mais desafios ainda no caso da indenização, para a proteção dos pais idosos para com os filhos, o envelhecimento já é um desafio constante, enfrentado dia após dia por milhares de idosos na sociedade, a falta, seja material ou imaterial, daqueles os quais os pais se dedicaram toda a vida para cuidar e proteger, não é uma condição positiva nesse desafio diário. 
Os filhos têm o dever de proteger, amparar seus pais na velhice, seja material ou imaterial. Mesmo que os pais possuam condições financeiras de sobreviverem, permanece a obrigação dos filhos nas prestações de ordem afetiva, moral, psíquica.
No caso dos idosos, o abandono gera um sentimento de tristeza e solidão, que se reflete basicamente em deficiências funcionais, são demasiados os prejuízos que os anciões apresentam nessa fase, e o agravamento dessa situação de isolamento social ocorrer comumente nessa fase da vida. A falta de intimidade compartilhada e a pobreza de afetos e de comunicação dos jovens para com os idosos tendem a mudar estímulos de interação social do idoso e de seu interesse com a própria vida. De fato, é evidente que não se pode obrigar filhos e pais a se amar, o que busca o instituto da indenização por Abandono Afetivo nesse ponto é o de ao menos permitir ao prejudicado o recebimento de indenização pelo dano causado. (NAGEL e MAGNUS, 2013, p. 38).
Assim, conclui-se que obrigar os descendentes que tenham a tutela do idoso a amar os pais, é inviável. As pessoas têm como um de seus defeitos, bem como virtude, a ambição de se superar, e às vezes, a família é abandonada para tais objetivos serem alcançados. O abandono afetivo dos idosos, tem como objetivo jurídico de prevenir o abandono, que lamentavelmente se faz necessário tal alerta.
3.4 OBRIGAÇÕES DOS FILHOS PARA COM OS PAIS IDOSOS
Após analisar o mecanismo jurídico referente à defesa dos direitos dos idosos, em especial aos cuidados imprescindíveis ao envelhecimento digno, resta pontuar as normas que fundamentam a obrigação de afeto dos filhos aos pais idosos.
A Constituição Federal estabelece em seu artigo 229, o dever dos filhos de ajudar e amparar os pais na velhice:
Art. 229. Os pais têm o dever de assistir, criar e educar os filhos menores, e os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade.
Sobre o artigo, discorre VILAS BOAS (2005:31):
Infelizmente precisou que tal dispositivo ficasse assim escrito. É vergonhoso que a obrigação alimentar, mais moral que material, ficasse registrada na Lei Maior. Esse dever é anterior a qualquer lei. É uma obrigação de cunho afetivo e moral. Qualquer filho que tenha caráter e dignidade terá que cumprir fielmente este dever de consciência.
De qualquer forma, além da obrigação alimentar, o artigo mencionado envolve os cuidados de natureza afetiva, essenciais às relações entre pais e filhos.
Tese interessante sobre o assunto, apresentada pelo DESEMBARGADOR JONES FIGUEIRÊDOALVES (2006,482) em artigo intitulado “Abuso de direito no Direito de Família”. Ao iniciar a temática, elege a valoração do afeto nas relações familiares como solução preponderante e imprescindível ao cotejo do problema do abuso.
Sobretudo, ao se referir à definição de abuso de direito desenvolvida por Gustavo Tepedino – “uma conduta que, embora ilícita mostra-se desconforme com a finalidade que o ordenamento pretende naquela circunstância fática alcançar e promover” - indica a não afetividade do que deveria ser afetivo, como dispositivo condutor do abuso de direito na família.
Nas palavras de ALVES (idem,482):
A indagar-se, então, qual seria o maior abuso de direito familiar, não apenas no plano jurídico, mas, na contextura do sentimento palpitante da realidade, ao qual deve se espelhar o direito posto, todas as respostas dirão que se terá aquele que atende contra o significado fundante e coexistencial do afeto na elaboração do casal e das famílias, não somente enquanto sujeitos de direitos, sobremodo como pessoas titulares de dignidade 
(...)
O estelionato do afeto representa a mais severa forma abusiva de direito, em afronta aos princípios da boa-fé, da lealdade e da confiança, da assistência mútua e do respeito recíproco, e a todos os valores de ordem moral e jurídica que compreendam as relações familiares.
Outro artigo da Constituição Federal ressalta o caráter obrigacional da família:
Art. 230 A família, a sociedade e o Estado tem o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem estar e garantindo-lhes o direito a vida.
Assim como, o Estatuto do Idoso também traz disposições em seu art. 3º, parágrafo único, V, art. 4º e art. 10, parágrafo primeiro:
Art.3º É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do poder publico assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito a vida, a saúde, a alimentação, a educação, a cultura, ao esporte, ao laser, ao trabalho, a cidadania, a liberdade, a dignidade, ao respeito e a convivência familiar e comunitária.
Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende:
V – priorização do atendimento ao idoso por sua própria família, em detrimento do atendimento asilar exceto dos que não a possuam, ou careçam de condições de manutenção da própria sobrevivência.
(...)
Art. 4º Nenhum idoso será objeto de qualquer tipo de negligencia, discriminação, violência, crueldade ou opressão, e todo atentado aos seus direitos, por ação ou omissão, será punido na forma da lei.
(...)
Art. 10 É obrigação do estado e da sociedade assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, individuais e sociais, garantidos na constituição e nas leis.
§ 1o O direito à liberdade compreende, entre outros, os seguintes aspectos:
V – participação na vida familiar e comunitária;
Ressalta-se para o fato de que a família é a primeira requisitada a proteger e cuidar para que os direitos dos idosos sejam cumpridos. Subsequentemente, a comunidade, também assume essa obrigação, bem como a sociedade e o Poder Público. Assim, é atribuído à família lugar de destaque, obtenho a responsabilidade fundamental de cuidar de seus idosos.
Desta maneira, a família terá de proporcionar um ambiente apropriado a um envelhecimento tranquilo, com dedicação e compreensão entre seus familiares, possibilitando participação, e livre de exclusões, seja familiar, seja na sociedade.
Com relação a relevância do convívio familiar para a preservação da integridade psíquica CLÁUDIA MARIA SILVA (2000:123) declara que “(...) o conviver que é basicamente afetivo enriquecido com uma convivência mútua alimenta o corpo, mas também cuidar da alma, da moral, do psíquico”. 
Como visto, o principio da solidariedade familiar, só confirma a obrigação de garantir a assistência aos entes familiares, o principio da afetividade ensina que as famílias contemporâneas são compostas justamente por laços de afeto. Portanto, não haveria como os filhos abandonarem os pais idosos depois dos cuidados por estes concedidos durante toda a sua vida.
Já a dignidade humana, entra no assunto do porque o abandono afetivo ao idoso, pode interferir no psicológico e moral, e implicar no enfrentamento na fase do envelhecimento humano, afetando assim, seus direitos da personalidade.
Posto isto, verifica-se que é direito do idoso ao convívio familiar e na sociedade, do mesmo modo que é obrigação dos filhos prestarem assistência material e imaterial aos pais. As determinações do Estatuto do Idoso em concordância com as normas da Constituição Federal iniciam um entendimento no sentido de proteger o relacionamento entre pais e filhos, de forma a fortalecer o afeto nas relações entre seus entes familiares.
Não restam dúvidas de que o abandono por parte de alguns dos filhos deve ser reconhecido como descumprimento de todos os conceitos e normas apresentadas nesse trabalho. 
Dispositivos e princípios que devem ser executados pelo aplicador da lei de maneira sistemática e, no mais, não há o que falar em conduta não prevista como ato ilícito, quando se fala em abandono afetivo.
4 ANÁLISES ACERCA DO TEMA
Ainda que haja crescimento no número de ações ocasionada pelo abandono afetivo, o nosso judiciário ainda não possui uma posição definitiva no acolhimento ou anulação das ações das quais o objetivo da demanda é a indenização pelo abandono. Tanto nos casos aos idosos quanto às crianças, o caso é o mesmo, motivando também o Projeto de Lei n.º 4294/2008 mencionado anteriormente, onde o Deputado Carlos Bezerra trata da necessidade do auxilio moral, constituído na obrigação de prestar apoio, afeto e atenções fundamentais ao avançar da idade.
Hoje, as opiniões se dividem. Há os que defendem o aspecto punitivo pecuniário, preventivo e educacional do abandono afetivo. Por outro lado, há os que receiam por uma desvalorização do sentido real do afeto e uma extrema valoração pecuniária do mesmo. Existe uma preocupação real dos dois lados que seja aprovado ou não o Projeto mencionado, ou até mesmo utilizado nos tribunais brasileiros.
4.1 POSICIONAMENTOS CONTRÁRIOS AO DEVER DE INDENIZAR
A primeira corrente reitera que não há reparação pecuniária por abandono afetivo, se fundamentando que ninguém é obrigado a amar outra pessoa, no qual o carinho e afeto deveriam ser conquistados diariamente com o convívio, e não por uma exigência legal. Conforme consta na ação de indenização por abandono afetivo ajuizada pela filha Luciane Nunes de Oliveira Sousa em desfavor de seu pai Antonio Carlos Jamas dos Santos, RECURSO ESPECIAL N.º 1.159.242, foi julgada improcedente pelo Juiz sob o embasamento de que a distancia entre pai e filha se deu, sobretudo, a conduta agressiva da mãe em relação ao pai, quando havia contato entre eles, posteriormente a interrupção do relacionamento ocorrido entre o casal. Após a decisão, o recurso sentenciado pelo STJ favoravelmente a autora, o qual garantiu a compensação por danos morais em R$415.000,000, conforme a Ementa.
AÇÃO DE INDENIZAÇÃO. DANOS MORAIS E MATERIAIS. FILHA HAVIDA DE RELAÇÃO AMOROSA ANTERIOR. ABANDONO MORAL E MATERIAL. PATERNIDADE RECONHECIDA JUDICIALMENTE. PAGAMENTO DA PENSÃO 
ARBITRADA EM DOIS SALÁRIOS MÍNIMOS ATÉ A MAIORIDADE. ALIMENTANTE ABASTADO E PRÓSPERO. IMPROCEDÊNCIA. APELAÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. (STJ, RECURSO ESPECIAL Nº 1.159.242-SP)
Na Comarca de Dracena, também no Estado de São Paulo, decorreu a apelação cível n.º 0003535-74.2007.8.26.0168, a qual ainda que admitindo a dor do abandono não acredita que tal dano seja indenizável pecuniariamente.
[...] não há valor no mundo capaz de reparar a dor íntima do abandono, especialmente da figura do pai, que deveria ser provedor não apenas material, mas de carinho e atenção. Contudo, respeitados os sentimentos dos recorrentes, não há como imputar ao apelado a responsabilidade que lhe foi atribuída. Isso porque embora, ao contrário do afirmado pelo

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