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INSTITUTO EDUCACIONAL DO NORTE DE MATO GROSSO (IENOMAT) FACULDADE DE DIREITO DE ALTA FLORESTA (FADAF) CURSO DE DIREITO EDUARDA ARAÚJO DEMITE A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FILHOS MAIORES EM RELAÇÃO AOS PAIS IDOSOS POR ABANDONO AFETIVO E MATERIAL Alta Floresta-MT 2020 EDUARDA ARAÚJO DEMITE A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FILHOS MAIORES EM RELAÇÃO AOS PAIS IDOSOS POR ABANDONO AFETIVO E MATERIAL Monografia apresentada ao Curso de Graduação em Direito, da Faculdade de Direito de Alta Floresta (FADAF), como requisito a obtenção do título de Bacharel em Direito, sob orientação da Profª. Esp. Nilce Delha Oliveira da Silva. Alta Floresta - MT 2020 EDUARDA ARAÚJO DEMITE A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FILHOS MAIORES EM RELAÇÃO AOS PAIS IDOSOS POR ABANDONO AFETIVO E MATERIAL Monografia apresentada ao Curso Direito, da Faculdade de Direito de Alta Floresta - FADAF, como requisito parcial para a obtenção do título de Bacharel em Direito, aprovado com nota _____. Alta Floresta, Mato Grosso, / / . ___________________________________________ Professora Orientadora: Profª. Esp. Nilce Delha Oliveira da Silva. Faculdade de Direito de Alta Floresta - FADAF _____________________________________________ Coordenador do Curso de Direito: Esp. Dakari Fernandes Tessmann. Faculdade de Direito de Alta Floresta - FADAF EDUARDA ARAÚJO DEMITE A RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FILHOS MAIORES EM RELAÇÃO AOS PAIS IDOSOS POR ABANDONO AFETIVO E MATERIAL Esta Monografia foi julgada adequada para obtenção do título de Bacharel em Direito e aprovada, em sua forma final, pela Coordenação do Núcleo de Pesquisa e Extensão (NUPE), da Faculdade de Direito de Alta Floresta (FADAF). Banca Examinadora: ___________________________________________ Presidente: Profª. Esp. Nilce Delha Oliveira da Silva. Faculdade de Direito de Alta Floresta - FADAF ___________________________________________ Membro da Banca Examinadora: [ título, nome e IES ] ___________________________________________ Membro da Banca Examinadora: [ título, nome e IES ] ___________________________________________ Coordenador do Curso de Direito: Esp. Dakari Fernandes Tessmann, Faculdade de Direito de Alta Floresta - FADAF Alta Floresta, Mato Grosso / / . TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE Declaro, para os fins de direito e que se fazem necessários, que isento completamente a Faculdade de Direito de Alta Floresta (FADAF) e os professores indicados para compor o ato de defesa presencial, de toda e qualquer responsabilidade pelo conteúdo e ideia expressa na presente monografia. Estou ciente de que poderei responder administrativa, civil e criminalmente em caso de plágio comprovado. Alta Floresta/MT, ____ de _______________ 2020. EDUARDA ARAÚJO DEMITE RESUMO O idoso assim como a criança e o adolescente, necessita de um amparo legislativo, dessa forma, entrou em vigor a Lei n. 10.741/2003 trazendo em seu bojo maior defesa nos direitos dos idosos, garantindo-lhes qualidade de vida e a dignidade da pessoa humana. O objetivo dessa Lei oferece maior proteção a pessoa idosa e prevenir a exclusão social dos maiores de sessenta anos, o estatuto do idoso é um microssistema legislativo, pois trata de assuntos materiais e processuais, em matéria civil, penal e administrativa, o que garante os direitos e a proteção dos idosos. O presente estudo bibliográfico utilizou-se do método dedutivo com o objetivo de analisar a responsabilidade civil dos filhos perante os pais idosos por abandono material e afetivo, e a importância de os filhos maiores terem a responsabilidade de amparar e zelar de seus pais idosos. Ao final do estudo percebeu-se que o Direito de Família, como regulador das relações familiares, acompanhando a tendência do sistema jurídico, através da legislação e reiteradas decisões, tem privilegiado a valorização do indivíduo dentro da instituição familiar , colocando- o m primeiro lugar em face de qualquer outra posição dos filhos em consonância com o princípio da dignidade. Assim, a obrigação dos filhos em relação aos pais vai além do valor monetário, este é relevante, porém não é suficiente para asseverar a saudade e a dignidade dos pais. Os filhos, quando maiores, em caso de necessidade dos pais, tem o dever de prover a subsistência deles, amparando-os no que for preciso, sob pena de responder por crime previsto no Estatuto do Idoso. Palavras-chave: Abandono afetivo. Direito dos idosos. Responsabilidade civil. ABSTRACT The elderly, as well as children and adolescents, need legislative support, so Law n. 10.741 / 2003 bringing in its core greater defense of the rights of the elderly, guaranteeing them quality of life and the dignity of the human person. The objective of this Law offers greater protection to the elderly and to prevent social exclusion for those over sixty years of age, the statute of the elderly is a legislative microsystem, since it deals with material and procedural matters, in civil, criminal and administrative matters, which rights and protection of the elderly. The present bibliographic study used the deductive method in order to analyze the civil liability of children towards elderly parents for material and emotional abandonment, and the importance of older children having the responsibility to support and care for their elderly parents. At the end of the study, it was noticed that Family Law, as a regulator of family relationships, following the trend of the legal system, through legislation and repeated decisions, has privileged the valorization of the individual within the family institution, placing it in the first place in the face of any other position of the children in line with the principle of dignity. Thus, the obligation of children towards their parents goes beyond the monetary value, this is relevant, but it is not enough to assert the parents' nostalgia and dignity. Children, when they are older, in case of need by their parents, have the duty to provide for their subsistence, supporting them in whatever is necessary, under penalty of responding for a crime provided for in the Elderly Statute. Keywords: Affective abandonment. Elderly law. Civil responsability. SUMÁRIO INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 9 1 NOÇÃO GERAL DE RESPONSABILIDADE CIVIL .................................................... 10 1.1 Resenha Histórica da Responsabilidade Civil................................................................ 11 1.2 Pressupostos da Responsabilidade Civil no Direito de Família ................................... 13 1.2.1 Ato ilícito e conduta do agente ....................................................................................... 14 1.2.2 Considerações gerais do dano ........................................................................................ 16 1.2.3 Considerações prévias de culpa e risco .......................................................................... 17 1.2.4 Considerações prévias do nexo de causalidade ............................................................. 20 1.2.5 Violação de dever preexistente ....................................................................................... 21 1.3 Excludentes de Responsabilidade.................................................................................... 22 2 NOÇÃO GERAL DEFAMÍLIA ........................................................................................ 25 2.1 Historicidade e Conceito de Família ............................................................................... 26 2.2 O Direito de Família nas Legislações .............................................................................. 29 2.2.1 As Relações Familiares Sob a Visão da Constituição Federal de 1988 ....................... 31 2.3 Princípios Norteadores do Direito de Família ............................................................... 32 2.3.1 O princípio da dignidade da pessoa humana................................................................. 33 2.3.2 O princípio da solidariedade .......................................................................................... 35 2.4 O afeto como elemento nuclear da família ..................................................................... 37 3 RESPONSABILIDADE CIVIL DOS FILHOS EM DECORRÊNCIA AO ABANDONO AFETIVO DE SEUS PAIS IDOSOS .................................................................................... 40 3.1 Conceito de Abandono Afetivo ........................................................................................ 42 3.1.1 Abando afetivo inverso ................................................................................................... 44 3.2 O Dano Moral nas Relações de Família.......................................................................... 46 3.3 Direitos dos idosos à assistência familiar ........................................................................ 48 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................................. 50 REFERÊNCIAS...................................................................................................................... 51 9 INTRODUÇÃO O idoso assim como a criança e o adolescente, necessita de um amparo legislativo, dessa forma, entrou em vigor a Lei n. 10.741/2003 trazendo em seu bojo maior defesa nos direitos dos idosos, garantindo-lhes qualidade de vida e a dignidade da pessoa humana. O objetivo dessa Lei oferece maior proteção a pessoa idosa e prevenir a exclusão social dos maiores de sessenta anos, o estatuto do idoso é um microssistema legislativo, pois trata de assuntos materiais e processuais, em matéria civil, penal e administrativa, o que garante os direitos e a proteção dos idosos. Sendo assim, questiona-se: É possível os pais idosos pleitear indenização por dano moram em decorrência do abandono afetivo? O objetivo geral é analisar por meio de entendimentos doutrinários a existência do dever de repara os danos morais em decorrência do abandono afetivo e material, dos filhos para com seus pais idosos. O presente estudo bibliográfico utilizou-se do método dedutivo com o objetivo de analisar a responsabilidade civil dos filhos perante os pais idosos por abandono material e afetivo, e a importância de os filhos maiores terem a responsabilidade de amparar e zelar de seus pais idosos. Tem como escopo à abordagem da responsabilidade civil em relação ao abandono afetivo inverso, sujeitando quais os subsídios que se fazem imperiosos para que seja configurado abandono afetivo inverso. Destarte, que o Direito de Família, como regulador das relações familiares, acompanhando a tendência do sistema jurídico, através da legislação e reiteradas decisões, tem privilegiado a valorização do indivíduo dentro da instituição familiar, colocando-o m primeiro lugar em face de qualquer outra posição dos filhos em consonância com o princípio da dignidade. Assim, a obrigação dos filhos em relação aos pais vai além do valor monetário, este é relevante, porém não é suficiente para asseverar a saudade e a dignidade dos pais. Os filhos, quando maiores, em caso de necessidade dos pais, tem o dever de prover a subsistência deles, amparando-os no que for preciso, sob pena de responder por crime previsto no Estatuto do Idoso. 10 1 NOÇÃO GERAL DE RESPONSABILIDADE CIVIL Um dos temas jurídicos de importância crescente, no limiar do atual século, é a responsabilidade civil, segundo Nader (2016) que atrai, cada vez mais, a atenção dos juristas, induzindo-os à intensa produção científica. Os tribunais, a cada dia, reconhecem diferentes modalidades de danos patrimoniais e morais, enquanto as pessoas se conscientizam de seus direitos, criando o hábito de postulação em juízo. A responsabilidade civil está regulamentada no Título IX, Capítulo I, nos artigos 927 e seguintes do Código Civil de 2002 (CC/02), bem como nos artigos 186 e 187 do referido Código. De acordo com Venosa (2012), a responsabilidade civil chama atenção dos juristas, induzindo-os a realizar produções científicas, e abrange um conjunto de princípios e normas que regem as obrigações de indenizar, portanto, visando garantir o direito do lesado à segurança, mediante o ressarcimento dos danos que sofreu a vítima, reestabelecendo na medida do possível a reparação do dano e, assim punindo o lesante pela prática dos atos lesivos. Atualmente, nos vários ramos do Direito, tratam das modalidades de danos morais e patrimoniais, fazendo com que os indivíduos se conscientize de seus direitos e procure o poder jurídico para promover uma ação devida, ou seja, mas, às vezes, em alguns casos pode haver excludentes que impedem a indenização, dessa forma, responsabiliza o causador do dano independente da culpa, e a ele é cobrada a reparação do dano. Já, ao causador do dano só é permitida a não responsabilidade nos casos em que estiverem presentes as excludentes de responsabilidade. Por exemplo, culpa exclusiva da vítima ou caso fortuito. Conforme preleciona Diniz (2020, p. 33), a palavra responsabilidade surgiu do latim respondere, que significa uma obrigação de responder por atos próprios ou alheios, ou seja, o termo responsabilidade é um vínculo obrigacional e, é utilizado em uma situação quando a pessoa, seja ela natural ou jurídica, violar direito ou causar dano à outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito, responsabilizando por seus atos danosos. Os conceitos de responsabilidade civil foram aparecendo cada vez mais com a finalidade de disciplinar a conduta dos causadores dos danos. Para melhor compreender o instituto da responsabilidade civil, é indispensável abordar o seu conceito visto por vários doutrinadores. Passa-se à análise de alguns dos conceitos de responsabilidade civil, que demonstram a efetiva aplicação do instituto em comento, na visão de diferentes doutrinadores. Nessa oportunidade, cumpre ressaltar o entendimento de Stoco (2014, p.119): Responsabilidade é conceituada como a situação de quem, tendo violado uma norma qualquer se ver exposto a consequências desagradáveis decorrentes dessa violação, 11 traduzidas em medidas que autoridades encarregadas de velar pela observação do preceito lhe imponha, providências essas que podem, ou não, estar previstas. No mesmo sentido, Nader (2016, p. 8) conceitua responsabilidade civil em: Parte integrante do direito obrigacional posto que consiste na obrigação que tem o autor de um ato ilícito de indenizar a vítima pelos prejuízos a ela causados. A situação amolda-se ao conceito genérico de obrigação, qual seja, o direito de que é titular o credor em face do devedor, tendo por objetivo determinada prestação. No caso, assume a vítima de um ato ilícito a posição de credora, podendo, então, exigir do autor determinada prestação, cujo conteúdo consiste na reparação dos danos causados. Ainda, nas lições de Diniz (2020, p. 35), o conceito de responsabilidade civil está pautado em: A responsabilidade civil cinge-se, portanto, à reparação do dano causado a outrem, desfazendo tanto possível seus efeitos, restituindo o prejudicado ao “status quo ante”. A responsabilidade civil constituiuma relação obrigacional que tem por objetivo a prestação de ressarcimento. Tal obrigação de ressarcir o prejuízo causado pode originar-se: a) da inexecução de contrato; e b) da lesão a direito subjetivo, sem que preexista entre lesado e lesante qualquer relação jurídica que a possibilidade. A responsabilidade civil é a aplicação de medidas que obriguem uma pessoa a reparar dano moral ou patrimonial causado a terceiros, em razão de ato por ela mesma praticado, por pessoa por quem ela responde, por alguma coisa a ela pertencente ou de simples imposição legal. Ante o exposto, diante da amplitude dos conceitos da responsabilidade civil, fez-se necessário especificar os referidos conceitos, assim obrigando o agente causador do prejuízo a outrem reparar os danos causados, sendo pessoa física ou jurídica. Portanto, o direito do idoso, tema central deste trabalho, está amplamente assegurado em cabendo a família, o Estado e a sociedade zelarem para que sejam cumpridos totalmente seus direitos. Sendo assim, qualquer violação desses direitos legais poderá o sujeito ser punido penalmente ou civilmente, como também nos casos de abandono dos idosos por seus filhos sendo ele material ou afetivo, o filho responderá por essa responsabilidade civilmente. 1.1 Resenha Histórica da Responsabilidade Civil Primeiramente, de acordo com Nader (2016) embora antiga a noção de responsabilidade, remontando à Jurisprudentia romana, a palavra tornou-se de uso corrente somente no século XIX. Na literatura francesa, não chegou a ser empregada por Domat, enquanto Pothier dela se valeu apenas excepcionalmente, como anotam Mazeaud e Tunc. O vocábulo responsabilidade provém do verbo latino respondere, de spondeo, que significa garantir, responder por alguém, prometer. No Direito Quiritário, o devedor se obrigava perante o credor, nos contratos verbais, respondendo à sua indagação com a palavra spondeo (prometo). 12 Historicamente, apontam o surgimento da responsabilidade civil aos tempos remotos da Lei de Talião e do Código de Hamurabi, em 1780 a.C., no reino da Babilônia, contudo, é inegável que o surgimento deste instituto aparece com maior evidência e relevância no direito romano, eis que na velha República Romana nasceram codificações importantes como a Lei das XII Tábuas e principalmente a Lei Aquiliana, a qual diga-se de passagem, trata-se da primeira legislação da humanidade a prever a reparação pecuniária de danos. Com o advento da Lei de Talião, impedia-se que as pessoas fizessem justiça pelas próprias mãos e de forma desapropriada em crimes e delitos. Dessa forma, aplicava-se um castigo rigoroso proporcional ao dano causado a outrem, ou seja, ‘olho por olho e dente por dente, quem com ferro fere, com ferro será ferido’, denominado o princípio de Talião. Conforme as lições de Diniz (2020, p.10): Historicamente, os primórdios da civilização humana, denominava vingança coletiva, que se caracterizava pela reação conjunta do grupo contra o agressor pela ofensa a um de seus componentes. Posteriormente evoluiu para uma reação individual, isto é, vingança, privada em que os homens faziam justiça com as próprias mãos, sob a égide da Lei de Talião, ou seja, da reparação do mal pelo mal, sintetizava nas fórmulas “olho por olho, dente por dente”, “quem com ferro fere, com ferro será ferido”. Neste limiar, sobre a evolução histórica do instituto jurídico da responsabilidade civil, há que se transcrever, primoroso estudo do ilustríssimo doutrinador Venosa (2012, p.14): “O conceito de reparar o dano injustamente causado somente surge em época relativamente recente da história do Direito. O famoso princípio da Lei do Talião, da retribuição do mal pelo mal, olho por olho”, já denota uma maneira de reparação do dano. Na sequência, surgiu à responsabilidade civil ‘Lex Aquilia’, que estabeleceu uma forma de responsabilidade extracontratual, que permite uma possibilidade a quem tem finanças de pagar os danos causados, por seus atos ilícitos, em pecúnia, indenizando o prejuízo com base no seu valor causado ao bem alheio. Esse pagamento era realizado conforme os critérios das autoridades públicas. No mesmo sentido, Venosa (2012, p. 17), explica: A Lex Aquilia é o divisor de águas da responsabilidade civil esse diploma, de uso restrito a princípio, atinge dimensão ampla na época de Justiniano, como remédio jurídico de caráter geral como considera o ato ilícito uma figura autônoma, surge, desse modo, a moderna concepção da responsabilidade extracontratual. O sistema romano da responsabilidade extrai a interpretação da Lex Aquilia o principio pelo qual se pune a culpa por danos injustamente provocados, independentemente de ralação preexistente. Funda-se aí a origem da responsabilidade extracontratual fundada na culpa. Por essa razão, denomina-se também responsabilidade Aquiliana essa modalidade. Como fora afirmado anteriormente, as primeiras noções sobre responsabilidade civil como sinônimo de reparação pecuniária de danos estão assentadas nos manuscritos da ‘Lex 13 Aquilia de Damno’, a qual remonta ao século II a.C., tendo sido surgida num momento de instabilidade social, no qual a plebe tentava se proteger dos prejuízos causados pelos patrícios em suas propriedades. Venosa (2012, p. 17) menciona que a Lei Aquilia trouxe a lume naquela oportunidade, o conhecimento sobre o que é o delito civil, considerando, pois, que a mais leve culpa deveria ser analisada para efeitos de reparação de danos, bem como estabeleceu verdadeira relação de devedor e credor, para os sujeitos ativo e passivo da reparação de danos. Deve-se ressaltar ainda que, como bem observa o doutrinador Camargo (2009, p. 20), a Lei Aquilia trouxe em seu bojo, substratos iniciais para o estudo da responsabilidade civil do Juiz. Surgiu na Antiga República a obrigação do juiz ser diretamente responsabilizado pelos prejuízos inerentes a atividade jurisdicional, sendo que se sujeitava ao ressarcimento de danos toda vez que sentenciasse de má-fé ou com dolo. Como base nas linhas traçadas, é inegável, portanto, que o início da construção legal sobre o instituto da responsabilidade civil é jus-romanista, contudo, Camargo (2009, p. 22) afirma que não há que se negar também, que os conceitos introduzidos pelo direito romano sofreram fortes modificações pelo direito Francês, notadamente pelo Código Napoleônico de 1804, o qual influenciou todos os códigos modernos. O Código Napoleão definiu como elemento caracterizador da responsabilidade civil a culpa, sendo irrelevante para os civilistas que a comprovação da manifestação humana tivesse sido gerada por um ato voluntário. De fato, destaca Camargo (2009, p. 24) que a construção francesa de responsabilidade civil influenciou as codificações do mundo, inclusive a brasileira, eis que já consagrava o Código Civil de 1916, no art. 159, a inspiração dos franceses, pois foi admitida a culpa, elemento subjetivo, em todas as suas espécies, ou seja, negligência, imperícia, omissão, culpa in vigilando e in iligendo, como elemento para apuração da responsabilidade civil. Destarte, o novel Código Civil, ao revogar o Código de 1916, repetiu a fórmula subjetivista da responsabilidade civil no art. 186, contudo, não podemos negar a evolução do direito moderno. Desta forma, é notório que o estudo da responsabilidade civil decorre das noções preliminares do Direito Romano, e da própria influência do monumental Código Napoleônico de 1804 no Direito Moderno. 1.2 Pressupostos da Responsabilidade Civil no Direito de Família A responsabilidade civil é tratada nos arts. 927 a 954 do CC, e para caracterizar e ocorrer à reparação do dano se faz necessário à existência de alguns elementos que são indispensáveis 14 para a configuração o dano, a culpa ou dolo e o nexo causal. Dessa forma, aduz o “Art. 927. Aquele que, porato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a repará-lo” (BRASIL, 2002). Segundo Nader (2016) a nomenclatura responsabilidade civil possui significado técnico específico: refere-se à situação jurídica de quem descumpriu determinado dever jurídico, causando dano material ou moral a ser reparado. Sendo assim, assevera Gonçalves (2017) coloca-se, assim, o responsável na situação de quem, por ter violado determinada norma, vê-se exposto às consequências não desejadas decorrentes de sua conduta danosa, podendo ser compelido a restaurar o statu quo ante. Portanto para caracterizar a responsabilidade civil faz-se necessário compreender alguns pressupostos fundamentais, baseados a seguir em doutrinas referenciadas: 1.2.1 Ato ilícito e conduta do agente Primeiramente, de acordo com Nader (2016) o ato ilícito pode ser praticado mediante ação ou omissão do responsável pela reparação. Em outras palavras, o ilícito pressupõe uma conduta do agente, violadora da lei ou de ato negocial e causadora de lesão ao direito alheio.9 Como o ato ilícito é modalidade de ato jurídico, deve ser manifestação da vontade. Dentro do gênero ato jurídico se contrapõe aos atos lícitos, uma vez que necessariamente deve contrariar a ordem jurídica. Adiante, o ato ilícito é contemplado no art. 186 do CC, ou seja, a caracterização do ilícito decorre inarredavelmente de ação voluntária. Os artigos 186 e 187, do CC de 2002, definem o ato ilícito como: Art. 186. Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Segundo a redação dos artigos mencionados acima, os elementos do ato ilícito são: ou omissão voluntária, a culpa, a violação do direito, e o dano além de necessariamente, a conexão objetiva entre a ação e o dano denominada o nexo causal. A responsabilidade civil no direito de família decorre de uma lesão extrapatrimonial, devendo assim o ato ilícito atingir os direitos da personalidade do ofendido, violando sua intimidade, igualmente contemplado no art. 186 do CC, ainda mais, consiste em ofensa ao princípio da dignidade da pessoa humana encerrado no artigo 1º, III, da Constituição Federal de 1988 (CF). 15 A doutrinária Diniz (2020, p. 40), conceitua ação: A ação, elemento constitutivo da responsabilidade, vem a ser o ato humano, comissivo ou omissivo, ilícito ou lícito, voluntário e objetivamente imputável, do próprio agente ou de terceiro, ou o fato de animal ou coisa inanimada, que cause dano a outrem, gerando o dever de satisfazer os direitos do lesado. Entende-se a ação voluntária como a realização da vontade por meio da prática de uma ação positiva, ou seja, diz que a vontade determina a ação; se o gesto ou o movimento resulta de um ato reflexivo ou de uma coação física entende-se como ação involuntária. Portanto ao se dizer ação voluntária não se confunde com o dolo, quando a ação está direcionada ao resultado. Já a omissão consiste na exteriorização da vontade pelo não agir, ou seja, a ausência de ação externa decorre de uma deliberação da pessoa, ou seja, um não agir consciente. Para Silvio Rodrigues, “a ação ou omissão do agente, que dá origem à indenização, geralmente decorre da infração de um dever, que pode ser legal (disparo de arma em local proibido), contratual (venda de mercadoria defeituosa, no prazo da garantia) e social (com abuso de direito: denunciação caluniosa) ”. (GONÇALVES, 2017, p. 58). Nesta oportunidade, seguindo o entendimento de Nader (2016) o conceito de ato ilícito pode ser examinado sob duas perspectivas principais: doutrinária ou legal. O Direito Romano não chegou a elaborar o conceito de ato ilícito; daí a sua casuística em torno da responsabilidade civil. Este instituto se formou, em Roma, pela contribuição dos pretores, constituições imperiais e com as responsa prudentium – pareceres da lavra de eminentes jurisconsultos, que detinham o jus publice respondendi. Para que se configure a responsabilidade por omissão, assevera Gonçalves (2017) que é necessário que exista o dever jurídico de praticar determinado fato (de não se omitir) e que se demonstre que, com a sua prática, o dano poderia ter sido evitado. O dever jurídico de agir (de não se omitir) pode ser imposto por lei ou resultar de convenção (dever de guarda, de vigilância, de custódia) e até da criação de alguma situação especial de perigo. Assim se ausente à ação ou omissão, própria ou de terceiros, imputável à pessoa, sequer se falará em responsabilidade civil. Em reforço, aduz Tartuce (2018) para a omissão é necessária ainda a demonstração de que, caso a conduta fosse praticada, o dano poderia ter sido evitado. A ilustrar a aplicação dessas premissas a respeito da omissão, a jurisprudência nacional tem entendido que o condomínio, em regra, não responde pelo roubo ou furto do veículo no seu interior, uma vez que não há por parte deste, ou de seus prepostos, o dever legal de impedir o ilícito. Neste sentido, preleciona Nader (2016, p. 245) “para que a omissão, diante de um dever jurídico-comissivo, seja considerada causa de dano, é preciso uma certa segurança na 16 inferência; há de haver pelo menos a máxima probabilidade de que o prejuízo seria afastado com a conduta positiva do agente”. Por fim, anote-se que além de responder por ato próprio, o que acaba sendo a regra da responsabilidade civil, “a pessoa pode responder por ato de terceiros”, como nos casos previstos no art. 932 do CC. Pode ainda responder por fato de animal (art. 936 do CC), “por fato de uma coisa inanimada” (arts. 937 e 938 do CC) ou mesmo por um “produto colocado no mercado de consumo” (arts. 12, 13, 14, 18 e 19 da Lei 8.078/1990). Todas essas hipóteses legais, geradoras de responsabilidade objetiva ou sem culpa, ainda serão abordadas na presente obra. 1.2.2 Considerações gerais do dano De acordo com Nader (2016) nos termos da Lei Civil, somente haverá ato ilícito em caso de dano material ou moral. Daí poder-se afirmar que o elemento dano é essencial à caracterização do ato ilícito. O vocábulo dano provém do latim damnum e significa lesão de natureza patrimonial ou moral. Na linguagem jurídica, dano e prejuízo são termos equivalentes, mas em Roma entendia-se por damnum apenas o fato material de destruição total ou parcial da coisa, enquanto o termo praeiudicium possuía sentido jurídico. O dano a violação do direito alheio, negativo, que atinge a pessoa ou o seu patrimônio e que se encontra insculpida na redação do artigo 186 do CC: “causar dano a outrem”. Se, embora verificada a violação do dever jurídico, e configurada a culpa ou o dolo, não surgir qualquer prejuízo, nenhuma indenização é devida, ou seja, o dano é elemento essencial e indispensável à responsabilidade do agente. Em uma visão subjetiva que ainda persiste na atual codificação civil, a culpa é relacionada com os seguintes modelos jurídicos, retirados também do art. 18 do Código Penal (quadro 1): Imprudência Falta de cuidado + ação (prevista no art. 186 do CC) Negligência Falta de cuidado + omissão (também constante no art. 186 do CC) Imperícia Falta de qualificação ou treinamento para desempenhar uma determinada função, própria dos profissionais libeirais Fonte: Tartuce, 2018, p. 486. Neste aspecto, para Agostinho Alvim, o termo dano, em sentido amplo, vem a ser a lesão de qualquer bem jurídico, e aí se inclui o dano moral. Mas, em sentido estrito, dano é, a lesão 17 do patrimônio; e patrimônio é o conjunto das relações jurídicas de uma pessoa, apreciáveis em dinheiro. Aprecia-se o dano tendo em vista a diminuição sofrida no patrimônio.Logo, a matéria do dano prende-se à da indenização, de modo que só interessa o estudo do dano indenizável (GONÇALVES, 2017) O dano pode ser de ordem patrimonial, também dito material, ou de ordem moral, traduzindo-se aquele em danos emergentes, ou seja, aquilo que efetivamente se perdeu, em seus lucros cessantes, quer dizer, aquilo que se deixou de ganhar, o reflexo futuro do ato sobre o patrimônio da vítima, ou seja, o dano é a lesão a um bem jurídico afetado, que é reflexo de um ato ilícito. Nas lições de Venosa (2012, p. 33), verifica-se: Dano consiste no prejuízo sofrido pelo agente. Pode ser individual ou coletivo, moral ou material, ou melhor, econômico ou não econômico. A noção de dano sempre foi objeto de muita controvérsia. Na noção de dano está sempre presente a noção de prejuízo. Nem sempre a transgressão de uma norma ocasiona dano. Somente haverá possibilidade de indenização, como regra, se o ato ilícito ocasionar dano. Cuida-se, portanto, do dano injusto, aplicação do princípio pelo qual a ninguém e dado prejudicar outrem. Por fim, para esclarecer a questão da responsabilidade objetiva, o artigo 927, do CC, assim determina que: “aquele que, por ato ilícito causar dano a outro fica obrigado a repará-lo”. Mais ainda, o dano, como elemento da responsabilidade civil, é necessário para que possa gerar a necessidade de reparar o dano, entenda-se ainda que não seja qualquer dano, pois, se esse dano estiver sob a excludente de ilicitude, não é passível de indenização. 1.2.3 Considerações prévias de culpa e risco Segundo premissas do ilustre doutrinário Nader (2016) em sentido amplo, culpa é o elemento subjetivo da conduta, compreensivo tanto da culpa stricto sensu quanto da ação ou omissão dolosa. Na responsabilidade civil, diz-se que a conduta é dolosa ou voluntária, quando o agente pratica o fato determinadamente, visando a causar dano a alguém. A conduta dolosa é chamada por alguns culpa delitual. Nesse diapasão, cabe ressaltar que: O elemento objetivo da culpa é o dever violado. Para Savatier, “culpa é a inexecução de um dever que o agente podia conhecer e observar”. A imputabilidade do agente representa o elemento subjetivo da culpa. Clóvis Beviláqua, ao conceituar a culpa, põe em relevo o seu elemento objetivo: “Culpa, em sentido lato, é toda violação de um dever jurídico”. Para RABUT, “o estudo da jurisprudência não permite dúvida alguma sobre a existência de um primeiro elemento da culpa: ela supõe a violação de um dever anterior”. Segundo MARTON 59, a responsabilidade é necessariamente uma reação provocada pela infração a um dever preexistente. A obrigação preexistente 18 é a verdadeira fonte da responsabilidade, e deriva, por sua vez, de qualquer fator social capaz de criar normas de conduta. (GONÇALVES, 2017, p. 57-58). No ordenamento jurídico, a culpa decorre da prática de atos ilícitos, como da reprovabilidade ou censurabilidade conforme a conduta do agente. Conforme mencionado acima, o ato ilícito está descrito no art. 186, do CC: “Aquele que por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. Consiste, pois, a culpa em um desvelo, na prática de um ato sem a observância do dever de cuidado que a todos é imposta. Importante anotar que, segundo Diniz (2020, p.41), em sede de responsabilidade civil a culpa é tomada em seu sentido amplo, ou seja, além da culpa em sentido estrito que compreende a negligência e a imperícia, contém igualmente o dolo, bem como os estágios intermediários como o dolo eventual e a culpa consciente. Destarte, que a culpa, tem uma previsão sob os princípios consagrados da negligência, imprudência e imperícia, de uma conduta voluntária, mas com o resultado involuntário, como a previsão ou a previsibilidade e a falta de cuidado devido, denominando cautela e atenção. Venosa (2012, p. 27) afirma que na negligência, o agente não age com a atenção devida em determinada conduta, pois há um desajuste psíquico traduzida no procedimento antijurídico, ou uma omissão de certa atividade que teria evitado o resultado danoso, dessa forma a negligência é caracterizada pela não observância de regras que direcionam a agir com atenção. Na mesma linha de raciocínio, Venosa (2012, p. 27) realça que na imprudência o agente é intrépido, açodado, precipitado e age sem prever consequências nefastas ou prejudiciais, ou seja, a imprudência é a falta de cautela, é o ato precipitado. Portanto, na culpa sempre existe o aspecto do defeito da previsibilidade, como na imperícia, é a inabilidade ou a falta de aptidão para se praticar certo, essa não vem destacada no artigo 186 do CC, mas de certa forma compõe o conceito de culpa. Para Stoco (2014, p.133): Quando existe a intenção deliberada de ofender o direito, ou de ocasionar prejuízo a outrem, há o dolo, isto é, o pleno conhecimento do mal e o direto propósito de o praticar. Se não houvesse esse intento deliberado, proposital, mas o prejuízo veio a surgir, por imprudência ou negligencia, existe a culpa (stricto sensu). Já para Diniz (2020, p. 45), ao avaliar a culpa sob a ótica da imprudência ou da negligência, tem-se a culpa in concreto, já ao analisar fazendo comparação entre a conduta do agente e a do homem médio, tem-se a culpa in abstrato. No mesmo sentido, a doutrina destaca algumas modalidades de culpa que foram adotadas pelo ordenamento jurídico brasileiro, como a culpa in eligendo, que é aquela onde ocorre a má escolha de uma pessoa em quem se deposita a confiança, como o representante ou preposto, entendimento sumulado pelo Supremo Tribunal 19 Federal (STF), Súmula 341: “É presumida a culpa do patrão ou comitente pelo ato culposo do empregado ou preposto”. Nas definições de Diniz (2020, p. 45) a culpa in vigilando é quando não há a devida fiscalização em relação ao procedimento de outrem. Entende-se por culpa in commitendo ou in faciendo se a conduta praticada pelo agente for positiva, agir com imprudência. A culpa in omittendo é o cometimento de uma abstenção, geralmente caracterizada pela negligência, mas apenas será considerada como dano jurídico se havia o dever de praticar a conduta omissa e se não houvesse ocorrido à omissão o evento danoso não existiria. O detentor de animal ou coisa que está sob sua guarda e que age com falta de cautela comete culpa in custodiendo. Conforme exemplifica Venosa (2012, p. 36), da seguinte forma: “quando uma pessoa infringe um dever decorrente da lei ou de regulamento, está agindo na modalidade de culpa contra a legalidade”, ou seja, quando não cumpre as advertências impostas, “não pare na pista”, “utilize equipamentos de segurança”. Outro exemplo de culpa concorrente está elencado no bojo do art. 945, do CC: “Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada, tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano”. De acordo com a teoria objetiva, consagrada pelo Código Civil de 2002 nos termos do parágrafo único do art. 927, desde que um dano decorra de uma atividade normalmente geradora de riscos torna-se dispensável a culpa, pois o agente será responsável pelo único fato de possuir o controle da fonte geradora. Em sua defesa, segundo Nader (2017) o agente poderá apenas sustentar a falta de causalidade entre a atividade geradora de risco e o dano. Em nada o beneficia a prova de que envidou todos os esforços para que o dano não se verificasse. Tal prova é relevante apenas em se tratando de responsabilidade subjetiva. Assim, ressalta que em uma determinada situação, se considera a ideia de um dever violado, observando sempre o aspecto da previsibilidade. E, quando a culpa for mencionada, não se deve esquecer que o ato ilícito, na maioria das vezes decorre de uma conduta culposa e não unicamentepor um ato isolado. Segundo o estudo sistematizado de Diniz (2020, p.43), quanto a esta espécie de classificação da culpa, feita através de uma graduação ou intensidade da culpa do agente, a doutrina costuma classificá-la como grave, leve e levíssima. A doutrinadora Diniz (2020, p. 44), define que a culpa grave é aquela que, no caso concreto, o agente, sem possuir a intenção de produzir evento danoso, comporta-se de tal forma que o resultado parece ter sido doloso, com negligência extrema do agente. 20 A culpa leve é a culpa onde se demonstra a falta de diligência do homem médio, enquanto que culpa levíssima o resultado danoso é praticamente imperceptível, pois, foge ao senso comum do homem, mas na hipótese não deveria escapar da arguta diligência. Todavia, o art. 944 do CC menciona que consequentemente se o agente agiu com culpa leve ou levíssima, causando danos a outrem, o magistrado pode decidir, em caso de responsabilidade civil subjetiva, e poderá reduzir o valor indenizatório no que entender mais justo. 1.2.4 Considerações prévias do nexo de causalidade O nexo causal constitui um dos elementos essenciais para a responsabilidade civil, que consiste na relação de causa e efeito, entre a conduta praticada pelo agente e o resultado danoso, revelando assim a relação entre a violação da norma e o dano, muitas vezes, torna-se uma tarefa difícil buscar a origem do dano. Segundo Venosa (2012, p. 55), a responsabilidade é o resultado negativo, não decorre daquela violação específica da norma, ou seja, não basta a violação da norma para ensejar a responsabilidade, é necessário averiguar se ação foi a causa do resultado. Ainda que o agente atue de maneira diametralmente oposta à norma, seja ela de direito, seja norma geral de conduta, porém se de sua ação não advier resultado danoso ao patrimônio material ou moral de outrem, não se dirá tratar-se de ato ilícito. Segundo o magistério de Sérgio Cavalieri Filho, por exemplo, “o nexo causal “decorre das leis naturais. É o vínculo, a ligação ou relação de causa e efeito entre a conduta e o resultado”. Agostinho Alvim destaca a importância da causalidade também à luz da responsabilidade objetiva: “Pela teoria do risco, o nexo causal é suficiente, para o fim de atribuição de responsabilidade, independentemente de haver culpa do agente.” (NADER, 2017). Depreende Gonçalves (2017) um dos pressupostos da responsabilidade civil é a existência de um nexo causal entre o fato ilícito e o dano produzido. Sem essa relação de causalidade não se admite a obrigação de indenizar. O art. 186 do Código Civil a exige expressamente, ao atribuir a obrigação de reparar o dano àquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem. No dizer de Caio Mário da Silva Pereira, “para que se concretize a responsabilidade é indispensável se estabeleça uma interligação entre a ofensa à norma e o prejuízo sofrido, de tal 21 modo que se possa afirmar ter havido o dano ‘porque’ o agente procedeu contra o direito”. (TARTUCE, 2018, p. 494). Nesta perspectiva de pensamento, Carlos Alberto Bittar: Considera dispensável a prova do nexo de causalidade em determinadas matérias, como em acidentes nucleares. Dadas as peculiaridades de seus efeitos nocivos à saúde, a vítima ficaria dispensada de demonstrar a relação de causa e efeito, bastando-lhe a comprovação dos danos sofridos. Todavia, a Lei nº 6.453, de 17.10.1977, que dispõe sobre a responsabilidade civil por danos nucleares, e a responsabilidade criminal por atos relacionados com atividades nucleares, não contém normas implícitas ou explícitas no sentido apontado. (NADER, 2016). Sendo assim, a teoria do nexo causal encerra dificuldades porque, em razão do aparecimento de concausas, a pesquisa da verdadeira causa do dano nem sempre é fácil. Essas concausas podem ser sucessivas ou simultâneas. Nas últimas, há um só dano, ocasionado por mais de uma causa. É a hipótese de um dano que pode ser atribuído a várias pessoas. O Código Civil, em matéria de responsabilidade extracontratual, dispõe que, neste caso, ela é solidária (art. 942, parágrafo único). Contudo, é necessário verificar que o nexo de causalidade, é diferente na responsabilidade objetiva, e daquela definida nos estritos limites da responsabilidade subjetiva. Para distinguir, leciona Fiuza (2005, p. 302). Conforme ensinamento de Leonardo Macedo Poli, na responsabilidade objetiva o nexo causal diz respeito à atividade, ao passo que na responsabilidade subjetiva tal elemento refere-se à conduta. Nesse sentido, o referido jurista define nexo causal como “a relação de causa e efeito entre o fato gerador e o dano. Fato gerador que pode ser um ato ou uma atividade” (apud SILVA, 2013, p. 47). Portanto, o vínculo entre o prejuízo e a ação decorre do nexo causal, de tal modo que o fato lesivo deve ser oriundo da ação, como sua consequência direta, apresentando uma relação necessária entre o evento danoso e a ação que produziu, considerando como sua causa. 1.2.5 Violação de dever preexistente Ainda, na conformidade com a redação do art. 186 do CC a caracterização do ato ilícito reclama a violação de direito, verbis: “Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito”. De acordo com a lição de Theodoro Júnior (2016, p. 2), no âmbito de responsabilidade civil, está o sujeito subordinado a um duplo grau de obrigações, em primeiro grau o dever de não causar dano a outrem, em segundo grau o dever de reparar o dano. Segundo Theodoro Júnior (2016, p. 3): 22 É ato ilícito, por conseguinte, todo ato praticado por terceiro que venha refletir, danosamente, sobre o patrimônio da vítima ou sobre o aspecto peculiar do homem como ser moral. Materiais, em suma, são prejuízos de natureza econômica, e morais, os danos de natureza não-econômica, e que “se traduzem em turbações de ânimo, em reações desagradáveis, desconfortáveis, ou constrangedoras, ou outras desse nível, produzida no lesado”(Carlos Alberto Bittar, 1993, n.5, p.31). Assim o dano moral quando a vítima suporta, por exemplo, a desonra e a dor provocadas por atitudes injuriosas de terceiro, configurando lesões nas esferas interna e valorativa do ser como entidade individualizada. Portanto, toda responsabilidade civil exige a existência de uma norma, seja ela de ordem pública (extracontratual) ou de origem intersubjetiva (contratual). Visto sob a ótica reversa, se o agente embora tenha lesionado o patrimônio alheio, agia em conformidade com a norma jurídica ou por ela estivesse amparado, não há que se falar em responsabilidade civil. 1.3 Excludentes de Responsabilidade Nem todo dano causado a outrem impõe o dever de ressarcimento. Conforme a doutrina de Nader (2016) nas hipóteses apresentadas pelo art. 188 do Código Civil o agente causou efetivamente o dano a outrem, mas encontrava-se acobertado por um dos motivos descaracterizadores de ato ilícito: a) legítima defesa; b) exercício regular de direito; c) estado de necessidade. Relativamente à responsabilidade objetiva, há excludentes específicas, como as aplicáveis às relações de consumo, aos acidentes nucleares, analisadas em capítulos próprios desta obra. Para Tartuce (2018) trata-se de importante excludente do dever de indenizar, da ilicitude, com relevância prática indiscutível. O conceito de legítima defesa pode ser retirado do art. 25 do Código Penal, in verbis: “Entende-se em legítima defesa quem, usando moderadamente dos meios necessários, repele injusta agressão, atual ou iminente, a direito seu ou de outrem”. A legítima defesa e exercício regular de direito para Pinto (2013, p. 83), “tem o condão de eximir de responsabilidade o individuo que, com base nela, reagiu ao comportamentoinjusto do agressor, causando-lhe dano, nos termos do que dispõe o art. 188, inciso I, do CC/2002”: Vide in verbis: “Art. 188. Não constituem atos ilícitos: I - os praticados em legítima defesa ou no exercício regular de um direito reconhecido”. Sob outro prisma, é fundamental salientar a doutrina de Tartuce (2018, p. 561): A legítima defesa putativa não exclui o dever de indenizar, conforme comenta Flávio Augusto Monteiro de Barros. Na legítima defesa putativa o agente imagina que está defendendo um direito seu, o que não ocorre realmente no plano fático. A pessoa pressente um perigo que, na realidade, não existe e, por isso, age imoderadamente, o que não exclui o dever de indenizar. Segundo a jurisprudência superior, em casos tais, não há que se falar em exclusão de responsabilidade (nesse sentido, ver: STJ, STJ, REsp. 1.433.566/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, 23 julgado em 23/05/2017, DJe 31/05/2017 e REsp 513.891/RJ, Processo 2003/0032562- 7, 3.ª Turma, Rel. Min. Ari Pargendler, j. 20.03.2007, DJU 4.4.2 16.04.2007, p. 181). O exercício regular de direito, conforme ensinamentos de Rodrigues (2001, p. 30), “aquele que usa de um direito seu não causa dano a ninguém. Desta forma, caso haja lesão a direito alheio causado por ato realizado no exercício regular de um direito reconhecido, não haverá imputabilidade, excluindo qualquer responsabilidade do agente”. No entanto, para Nader (2016) a forma ordinária de se lutar em defesa dos direitos subjetivos é a solicitação da interferência do Estado, seja rogando a proteção da polícia preventiva, seja mediante ingresso em juízo. Nem sempre, porém, as circunstâncias comportam um compasso de espera; quando a agressão injusta é atual ou iminente, a lei autoriza o titular do direito, ou qualquer outra pessoa, a repelir a prática antijurídica. Acerca do estado de necessidade, de acordo com o art. 188, inciso II, do CC/2002 dispõe que “a deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente”. Ante o exposto, percebe-se um “conflito de interesses ou direitos”, pois, o indivíduo ante a probabilidade de ter direito seu lesionado, ofende direito alheio. Nesse sentido, “deve ser indispensável o ato para afastar o dano, do qual seria impossível que seu autor ou um terceiro agissem de outra maneira. Ocorre, na verdade um dilema: ou se sofre mal iminente e inevitável, ou se escapa dele sacrificando um bem alheio” (RODRIGUES, 2001, p. 32). Conceitua Nader (2016, p. 193) o estado de necessidade: Age em estado de necessidade o agente que, a fim de evitar um perigo iminente, criado por terceiro ou pelo ofendido, com moderação valese, necessariamente, da alternativa de violar direito alheio, destruindo bens ou ferindo a pessoa. A Lei Civil não enumera os bens passíveis de proteção, mas estes são os patrimoniais e os morais: a vida, a honra, a liberdade, enfim, os direitos da personalidade. De acordo com o ordenamento jurídico: Art. 929. Se a pessoa lesada, ou o dono da coisa, no caso do inciso II do art. 188, não forem culpados do perigo, assistir-lhes-á direito à indenização do prejuízo que sofreram. Art. 930. No caso do inciso II do art. 188, se o perigo ocorrer por culpa de terceiro, contra este terá o autor do dano ação regressiva para haver a importância que tiver ressarcido ao lesado (BRASIL, LEI N o 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002). Em complemento, elucida Tartuce (2018, p. 562) “que o ato será legítimo somente quando as circunstâncias o tornarem absolutamente necessário, não excedendo os limites do indispensável à remoção do perigo”. Em havendo excesso, mais uma vez, tanto poderá estar “configurado o abuso de direito” (art. 187 do CC) “quanto o ato ilícito propriamente dito” (art. 186 do CC). Nas precisas palavras de Sérgio Botrel (2005, p. 105 apud Pinto, 2013, p. 85), o estado de necessidade configura-se quando o indivíduo “se depara com situação em que, para preservar 24 um direito maior ou mais valioso, torna-se necessário ofender direito de outrem, de menor valia, do ponto de vista ético e humano”. Quando se tratar de força maior: Art. 393. O devedor não responde pelos prejuízos resultantes de caso fortuito ou força maior, se expressamente não se houver por eles responsabilizado. Parágrafo único. O caso fortuito ou de força maior verifica-se no fato necessário, cujo efeito não era possível evitar ou impedir. (BRASIL, LEI N o 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002). Sendo assim, assevera Araújo (2018, p. 9) caso fortuito provém, “do latim fortuitus, de fors, quer dizer casual, acidental, ao azar. É, no sentido exato de sua derivação, o caso que não se poderia prever e se mostra superior às forças ou vontade do homem para que pudesse evitá- lo”. Por outro lado, “a força maior é o fato que se prevê ou é previsível, mas não se pode, igualmente, evitar, haja vista ser mais forte do que a vontade ou ação do homem”. Nesse diapasão, para Gonçalves (2017, p. 194) “há casos em que o dano resulta de força maior, de fatos inevitáveis da natureza, e não de qualquer atividade ou omissão do Poder Público, não se configurando a responsabilidade objetiva do Estado” No casso em que o dano ocorre exclusivamente por culpa da vítima, o Código Civil faz menção: “Art. 945. Se a vítima tiver concorrido culposamente para o evento danoso, a sua indenização será fixada tendo-se em conta a gravidade de sua culpa em confronto com a do autor do dano”. “A culpa exclusiva da vítima refere-se ao comportamento de um indivíduo que causa a si próprio um dano, de modo que a sua conduta se revela como o único fator a ensejar a lesão por ele sofrida” (PINTO, 2001, p. 86). Nesse sentido, para Gonçalves (2017, p. 196) “outras vezes o dano não se qualifica, também, como injusto porque encontra sua causa exclusiva no procedimento doloso ou culposo do próprio lesado. Pode ser atenuada a responsabilidade do Estado, provada a culpa parcial e concorrente da vítima, bem como pode até ser excluída, provada a sua culpa exclusiva”. O exercício regular de direito é excludente tanto de responsabilidade criminal quanto civil. Para Nader (2016, p. 197) “a absolvição, no juízo criminal, sob este fundamento, faz coisa julgada no cível. Qualquer dano praticado no exercício regular de direito não configura ato ilícito; daí não sujeitar o agente a qualquer tipo de reparação civil, consoante a previsão do art. 188, inciso I, do Código Civil”. Portanto, conforme Tartuce (2018, p.563) “ o mesmo art. 188, em seu inciso I, segunda parte, do CC/2002, enuncia que não constitui ato ilícito o praticado no exercício regular de um direito reconhecido. Trata-se de uma das excludentes do dever de indenizar mais discutidas no âmbito da jurisprudência”. 25 2 NOÇÃO GERAL DE FAMÍLIA No direito brasileiro, a legitimidade de certos aspectos das relações de família deslocou- se da norma para o âmbito das decisões judiciais. Tal fato fez com que a questão social, antes enraizada nos textos legais referentes à família, ganhasse novos contornos em face da procura e da oferta de serviços na Justiça. Dada a complexidade que envolve a noção de família, especialmente diante da evolução dos costumes, em vão os autores tentam defini-la, reconhecendo alguns que tal objetivo é inalcançável de um modo inconteste, a ponto de André-Jean Arnaud declarar: “... não se consegue dar uma definição de família...”.Todavia, como o jurista não deve trabalhar, em qualquer setor do conhecimento, sem a prévia noção do objeto, impõe-se a busca do conceito. É que o objeto a ser delineado constitui o núcleo fundamental do Direito de Família. (NADER, 2016). Em suma, relata Soares e Ferreira (2015) que a família, no antigo Código de 1916, era fundada sob o aspecto matrimonializado, patriarcal, hierarquizado, heteroparental, biológico, como função de produção e reprodução e caráterinstitucional; esse quadro reverteu-se com a Lex Fundamentallis de 1988, refletindo também no Código Civil de 2002, tornando-se pluralizada, democrática, igualitária substancialmente, hétero ou homoparental, biológica ou socioafetiva, com unidade socioafetiva e caráter instrumental. O Código Civil de 2002 não confere à família um conceito unitário. Os arts. 1.829 e 1.839, por exemplo, que dispõem sobre a linha sucessória, atribuem à família um sentido amplo, que abrange os parentes em linha reta (pais, filhos, netos) e os em linha colateral até o quarto grau (irmãos, tios e sobrinhos, primos). Em sentido estrito, tem-se a chamada família nuclear, constituída por pais e filhos, considerada na disposição do art. 1.568. (NADER, 2016). Seguindo o exposto, Gonçalves (2017) elucida A Constituição Federal e o Código Civil a ela se reportam e estabelecem a sua estrutura, sem, no entanto, defini-la, uma vez que não há identidade de conceitos tanto no direito como na sociologia. Dentro do próprio direito a sua natureza e a sua extensão variam, conforme o ramo. Em sua estrutura e finalidade, assevera Nader (2017) a família é um grupo social sui generis, que encerra interesses morais, afetivos e econômicos. Antes de jurídica é uma instituição de conteúdo moral, sociológico e biológico, que centraliza interesses sociais da maior importância. O seu papel é relevante para a criação da prole, equilíbrio emocional de seus membros e para a formação da sociedade. 26 Podem os direitos de família, todavia, ter um conteúdo patrimonial, ora assemelhando-se às obrigações, como nos alimentos (CC, art. 1.694), ora tendo o tipo dos direitos reais, como no usufruto dos bens dos filhos (art. 1.689). Na realidade, tal acontece apenas indiretamente, como nos exemplos citados e ainda no tocante ao regime de bens entre cônjuges ou conviventes e à administração dos bens dos incapazes, em que apenas aparentemente assumem a fisionomia de direito real ou obrigacional. (Gonçalves, 2017). De acordo com Tartuce (2018) Tendo como parâmetro os institutos tratados pelo CC/2002, o Direito de Família pode ser conceituado como sendo o ramo do Direito Civil que tem como conteúdo o estudo dos seguintes institutos: a) casamento; b) união estável; c) relações de parentesco; d) filiação; e) alimentos; f) bem de família; g) tutela, curatela e guarda. Além desse conteúdo, acrescente-se a investigação das novas manifestações familiares. 2.1 Historicidade e Conceito de Família Conforme Nader (2016) na família greco-romana, indaga-se, no âmbito das especulações, se nos tempos préhistóricos a origem do ser humano era familiar ou social, ou seja, a vida seria em grupo de pessoas ligadas por consanguinidade ou, a exemplo dos animais, se desenvolveria em grupos mais amplos. A resposta não é apresentada pela Etnologia, História ou qualquer outra ciência. Na antiga Roma, para Vasconcelolos (2018) a presente a organização social formada pelos patrícios, considerada como a aristocracia romana, definida também como nobreza hereditária; pelos plebeus, ou a plebe e era composta de pessoas que não descendiam do pater familias. Por fim faziam também parte da sociedade romana os clientes e os escravos, que poucos direitos possuíam. Era proibido o casamento entre patrícios e plebeus, assim como a admissão de novas famílias patrícias, percebe-se a pouca mobilidade social. “Na Grécia, segundo Aristóteles, a função do chefe de família se desmembrava em partes correspondentes aos elementos dos quais a família por sua vez se compunha, sendo que a família, em sua forma perfeita, era ―composta de escravos e pessoas livres” (ARISTÓTELES, 1985, p.23 apud MACHADO, 2012, p. 18). Perante o exposto, evidente registrar que: A família é uma entidade histórica, sempre esteve presente na evolução da humanidade e sempre revelou, por meio de sua estrutura, os valores e princípios que permeiam as relações sociais, políticas, culturais e religiosas de cada sociedade, em determinado período de tempo e espaço. O desenvolvimento da sociedade e o gradual reconhecimento de direitos e garantias dos indivíduos que a compõem são 27 responsáveis pela evolução da família, enquanto entidade, e das relações pessoais e patrimoniais de seus membros (PRADO, 2012, p. 12). Ainda, Maluf (2010, p. 22) anota que: Durante a Idade Média, sobrevieram três formas de matrimônio, sendo elas: a romana, a germânica e a eclesiástica. A fusão delas, sobretudo, resultou no regime matrimonial hodierno. A mesma autora também aponta que, desde o século XIII, já ocorria a separação de pessoas a pedido indiferenciado das partes, apesar de não ser dissolvida a união, mesmo sem a previsão de divórcio por parte do direito canônico, exceto no caso de casamento não consumado. Por fim, a autora apontou a irrefutável autoridade do direito canônico no que tange ao casamento, situação que permaneceu da Idade Média até o fim do século XIX, momento em que a regulamentação do casamento passou ao encargo do Estado. (apud MACHADO, 2012, p. 21). Necessário e fundamental não perder de vista, conforme doutrina de Gonçalves (2017) a evolução do conhecimento científico, os movimentos políticos e sociais do século XX e o fenômeno da globalização provocaram mudanças profundas na estrutura da família e nos ordenamentos jurídicos de todo o mundo, acrescenta o mencionado autor, que ainda enfatiza: “Todas essas mudanças trouxeram novos ideais, provocaram um ‘declínio do patriarcalismo’ e lançaram as bases de sustentação e compreensão dos Direitos Humanos, a partir da noção da dignidade da pessoa humana, hoje insculpida em quase todas as constituições democráticas”. Nesse mesmo diapasão, o citado autor esclarece as modificações pelas quais a família patriarcal passou: A família sofreu profundas mudanças de função, natureza, composição e, consequentemente, de concepção, sobretudo após o advento do Estado social, ao longo do século XX. [...] A família patriarcal, que a legislação civil brasileira tomou como modelo, desde a Colônia, o Império e durante boa parte do século XX, entrou em crise, culminando sua derrocada, no plano jurídico pelos valores introduzidos na constituição de 1988. (LÔBO, 2011, p. 17). Sendo assim, preleciona Dias (2016) o antigo Código Civil, que datava de 1916, regulava a família do início do século passado. Em sua versão original, trazia estreita e discriminatória visão da família, limitando-a ao casamento. Impedia sua dissolução, fazia distinções entre seus membros e trazia qualificações discriminatórias às pessoas unidas sem casamento e aos filhos havidos dessas relações. As referências feitas aos vínculos extramatrimoniais e aos filhos ilegítimos eram punitivas e serviam exclusivamente para excluir direitos, na vã tentativa da preservação da família constituída pelo casamento. O surgimento da palavra família conforme Oliveira e Soares (2015) se deu na Roma Antiga, conhecida em latim como famulus, que significava “o conjunto de empregados de um senhor”, isso era atribuído pelo fato de que a exploração dos escravos já era legalizada, ou seja, o termo família não pertencia somente ao casal e consequentemente a seus filhos, mas sim aos 28 vários escravos que laboravam para a subsistência de seus parentes que se sentiam sob autoridade sobre eles. Nem tudo é contingente na formação do Direito de Família. As coordenadas fundamentais advêm da ordem natural das coisas, cabendo ao legislador desdobrar os ensinamentos básicos da mãe natureza, corporificando-os em esquemas legais. (NADER, 2016, P. 42). Insta mencionar as palavras de: Lato sensu, o vocábulo família abrange todas as pessoas ligadas por vínculo de sangue e que procedem, portanto, de um tronco ancestral comum, bem como as unidas pela afinidade e pela adoção. Compreende os cônjuges e companheiros, os parentes e os afins. Segundo Josserand,este primeiro sentido é, em princípio, “o único verdadeiramente jurídico, em que a família deve ser entendida: tem o valor de um grupo étnico, intermédio entre o indivíduo e o Estado”. Para determinados fins, especialmente sucessórios, o conceito de família limita-se aos parentes consanguíneos em linha reta e aos colaterais até o quarto grau. (GONÇALVES, 2017, p. 16). Com o brilhantismo que lhe é peculiar, a Constituição Federal conceitua família em seu art. 226, a saber: “A família, base da sociedade, tem especial proteção do Estado”. A conceituação de família oferece, de plano, um paradoxo para sua compreensão, pois: O Código Civil não a define. Por outro lado, não existe identidade de conceitos para o Direito, para a Sociologia e para a Antropologia. Não bastasse ainda a flutuação de seu conceito, como todo fenômeno social, no tempo e no espaço, a extensão dessa compreensão difere nos diversos ramos do direito. Assim, sua extensão não é coincidente no direito penal e fiscal, por exemplo. Nos diversos direitos positivos dos povos e mesmo em diferentes ramos de direito de um mesmo ordenamento, podem coexistir diversos significados de família. Por vezes, no mesmo sistema, a noção de família sofre um alargamento de natureza econômica, como ocorre na Lei do Inquilinato (Lei nº 8.245/91), ao proteger como sucessores do locatário as pessoas residentes no imóvel que viviam na dependência econômica do falecido (art. 11, I); em outras oportunidades, a lei restringe o alcance do conceito familiar apenas a pais e filhos (art. 47, III). (VENOSA, 2017, p. 17). A interpretação do conceito de família pelo Ministro Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, sob o ângulo constitucional: Tem no afeto, na solidariedade e cooperação os princípios basilares desse conceito atual de família, chame-se essa nova concepção de Eudemonista, isso significa que, não é mais o indivíduo que existe para a família e para o casamento, mas, ao contrário disso, é a família e o casamento que existem para o indivíduo, ou seja, em busca do desenvolvimento pessoal do ser humano e a busca pela sua felicidade. (KONG SIU, 2015, p. 9). Desse modo, importa considerar a família em conceito amplo, como parentesco, ou seja: O conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar. Nesse sentido, compreende os ascendentes, descendentes e colaterais de uma linhagem, incluindo-se os ascendentes, descendentes e colaterais do cônjuge, que se denominam parentes por afinidade ou afins. Nessa compreensão, incluise o cônjuge, que não é considerado parente. Em conceito restrito, família compreende somente o núcleo formado por pais e filhos que vivem sob o pátrio poder ou poder familiar. Nesse particular, a Constituição Federal estendeu sua tutela inclusive para a entidade familiar formada por apenas um dos pais e seus descendentes, a denominada família monoparental, conforme disposto no § 4º do art. 226: “Entende-se, também, como entidade familiar 29 a comunidade formada por qualquer dos pais e seus descendentes”. (VENOSA, 2017, p. 17-18). Dispondo a família de formatações das mais diversas, também o direito das famílias precisa ter espectro cada vez mais abrangente. Portanto, a família Célula vital da sociedade e ambiente natural onde o ser humano nasce e encontra as condições essenciais ao seu desenvolvimento físico e moral, a família não apenas é objeto de legislação específica, mas fundamentalmente de proteção do Estado, dentro da compreensão de que a pessoa somente desenvolve a saúde física e mental, o potencial de inteligência, criatividade e espírito solidário se devidamente amparada e estimulada no lar. 2.2 O Direito de Família nas Legislações A primeira lei de direito de família foi conhecida como Lei do pai, e foi caracterizada pela inserção do ser humano no mundo cultural, e, assim, com a passagem do homem do estado de natureza para o estado da cultura, foi possível conceder uma estruturação de uma família. Segundo Dias (2019, p. 56), a família era conhecida como uma célula do Estado, depois passou a ser uma célula da sociedade, pois a família é a base da sociedade e é considerado o primeiro agente socializador do ser humano. A própria Declaração Universal dos Direitos do homem estabeleceu que a família fosse o núcleo natural e fundamental da sociedade e tem direito à proteção da sociedade e do Estado. O direito de família, com o advento da CF sofreu profundas mudanças, a ponto de ser defendida a prevalência de um direito de família constitucional. Dessa forma, Madaleno (2019, p. 11), afirma que no caminho inverso do código de 1916, formou um espírito da patrimonialização e matrimonialização das relações familiares, o novo texto civil está relacionado ao desenvolvimento da pessoa humana, um princípio basilar da carta política vigente, explicando-se, portanto a pontual assertiva de Chaves (1978, p. 22 apud FARIAS, 2004, p. 15), quando expõe que: A entidade familiar deve ser entendida, hoje, como grupo social, fundado essencialmente, em laços de afetividade, pois a outra conclusão não se pode chegar à luz do texto constitucional, especialmente do art.1º, III, que preconiza a dignidade da pessoa humana como princípio vetor da República Federativa do Brasil. A formação hierárquica da família deixou lugar para sua democratização, trazendo as relações com muito mais igualdade, respeito mútuo, e sendo fundamental a lealdade. Dias (2019, p. 58), conceitua direito de família como um conjunto de normas que regulam as relações jurídicas familiares, que surgiu para melhor atender as necessidades das famílias 30 com a finalidade de proteção, pois a família é a base da sociedade e contribui para a formação de uma personalidade. No mesmo sentido, pode-se descrever família como sendo um grupo social fundado essencialmente nos laços afetivos logo após o desaparecimento da família patriarcal, que desempenhava as funções religiosas, econômicas e políticas, dentro das entidades familiares. Beviláqua (1950, p. 32, apud VENOSA, 2020, p. 23) definiu de uma forma mais ampla direito de família, conceituando-o da seguinte forma: Direito de família é o complexo das normas, que regulam a celebração do casamento, sua validade e os efeitos que dele resultam, as relações pessoais e econômicas da sociedade conjugal, a dissolução desta, a relação entre pais e filhos o vínculo do parentesco e os institutos complementares da tutela e curatela. Deste modo, verifica-se que a ampliação da família é fundamental para formalizar o grau de parentesco, tutela e curatela, tornando-se a relação familiar mais harmoniosa, em busca da felicidade e vencendo aos obstáculos e desafios a cada dia. O CC de 1916 dizia que a família era constituída pelo matrimônio com discriminação, pois, apenas o esposo tinha o poder familiar, até se dissolver esta relação. Após, surgiu a CF, que instaurou a igualdade entre o homem e a mulher, que passou a proteger de forma igualitária todos os membros da família, tornando o casamento religioso equiparado ao casamento Civil. A partir dessa evolução, começaram a surgir diversos dispositivos legais que entraram em vigor e emendas constitucionais retificativas, que foram adequando-se às novas perspectivas da família e da sociedade, tais como a união estável, adoção, investigação da filiação, guarda e o direito de visitas. O CC de 2002 procurou atualizar os aspectos essenciais no direito de família, mesmo preservando a estrutura do código anterior, ocorreram algumas mudanças legislativas por meio de legislação esparsa. Deste modo, alguns avanços foram importantes para a sociedade como um todo como, excluir a obrigatoriedade do sobrenome do esposo do nome da esposa, o direito aos alimentos, mesmo ao cônjuge culpado da separação, bem como o dever dos filhos de amparar seus pais na velhice, prestando toda atenção,afeto, garantindo-lhes o direito aos alimentos, à saúde, à moradia, e seu bem-estar. No decorrer dos anos, o CC perdeu o papel de lei fundamental do direito de família, porque, após o século XX, houve alterações, como excluir expressões e conceitos que se tornaram constrangedores e não mais poderiam compor a nova estrutura jurídica, nem a moderna conformação da sociedade. Contudo, atualmente, encontram-se várias formas de 31 constituir e representar as famílias, com o surgimento das famílias naturais, extensivas ou ampliadas, as homoafetivas, as monoparentais, substitutas e reconstituídas todas amparadas pelas legislações vigentes. 2.2.1 As Relações Familiares Sob a Visão da Constituição Federal de 1988 O Direito de Família Brasileiro, de acordo com Tartuce (2018, p. 1158) “passou por profundas alterações estruturais e funcionais nos últimos anos. Essas transformações podem ser sentidas pelo estudo de seus princípios, muitos deles com previsão na CF/1988, tema que será abordado a partir deste momento.” Grande parte do Direito Civil, segundo Dias (2019, p. 36) está na Constituição, que acabou enlaçando os temas sociais juridicamente relevantes para garantir a efetividade. A intervenção do Estado nas relações de direito privado permite o revigoramento das instituições do Direito Civil, diante do novo texto constitucional, fazendo com que o intérprete redesenhe o tecido do direito civil diante à luz da nova Constituição. Foi dedicado um capítulo direcionado à família, à criança, ao adolescente e ao idoso (Capítulo VII, do Título VIII, artigos 226 aos 230), contudo, os princípios constitucionais passaram a orientar as relações familiares bem como constitucionalizando o direito de família. Esse amparo dos filhos para com os pais idosos, também vem defendido no art. 229, da CF, diz que: “[...] os filhos maiores têm o dever de ajudar e amparar os pais na velhice, carência ou enfermidade”. A partir desse artigo, ressalta que esse dever familiar são princípios assegurados pela Carta Magna e Estatuto do Idoso, incluindo a dignidade da pessoa humana, após surge os direitos necessários ao ser humano, como o direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, esporte e lazer, cidadania entre outros. No mesmo sentido, o art.1696 do CC de 2002, ressalta a obrigação da prestação de alimentos que é recíproca entre pais e filhos, e extensivo para todos os ascendentes, recaindo a obrigação nos mais próximos em grau, uns em falta dos outros, ou seja, substituindo uns pelos outros na falta. Destarte, que os arts. 3º e 10°, do Estatuto do idoso, Lei 10.741/03, dispõem acerca das obrigações que cabem a respeito da dignidade da pessoa idosa, veja-se a seguir: Art. 3º; É obrigação da família, da comunidade, da sociedade e do Poder Público assegurar ao idoso, com absoluta prioridade, a efetivação do direito à vida, à saúde, à alimentação, à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer, ao trabalho, à cidadania, à liberdade, à dignidade, ao respeito e à convivência familiar e comunitária. Art. 10º; É obrigação do Estado e da sociedade, assegurar à pessoa idosa a liberdade, o respeito e a dignidade, como pessoa humana e sujeito de direitos civis, políticos, 32 individuais e sociais, garantidos na Constituição e nas leis. § 3º É dever de todos zelar pela dignidade do idoso, colocando-o a salvo de qualquer tratamento desumano, violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor. O art. 2º da Lei 8.842/94 (Política Nacional do Idoso), além de assegurar os direitos sociais, criando mecanismos que promovem autonomia, integração e participação do idoso na sociedade brasileira, adotou o novo critério cronológico, conceituando como idoso para os efeitos legais as pessoas maiores de sessenta anos de idade. Assim, destaca-se o dever de amparar as pessoas idosas, previsto no art. 230, da Carta Magna a seguinte redação: A família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem-estar e garantindo-lhes o direito à vida.§ 1º - Os programas de amparo aos idosos serão executados preferencialmente em seus lares.§ 2º - Aos maiores de sessenta e cinco anos é garantida a gratuidade dos transportes coletivos urbanos. Desta forma, os filhos devem prestar todo amor e afeto devido aos pais idosos, apoiando- os em tudo que for preciso, garantindo-lhes os direitos fundamentais a eles inerentes, tratando- os de forma digna e merecedora, não deixando faltar nada necessário para seu bem-estar, pois são seres humanos frágeis que necessitam de um cuidado especial. Dias (2019, p. 38), menciona o caráter obrigacional destinado à família, com a seguinte redação do art. 230, da CF, que a família, a sociedade e o Estado têm o dever de amparar as pessoas idosas, assegurando sua participação na comunidade, defendendo sua dignidade e bem- estar, garantindo-lhes o direito à vida. Contudo, formou um sistema de proteção, tanto na legislação pertinente, quanto à família, com o fim de garantir a efetividade dos direitos de cada um, concedendo uma vida digna com garantia de qualquer outro direito para os seres humanos em geral sem distinções. 2.3 Princípios Norteadores do Direito de Família Os princípios, enquanto se traduzem em mandados de otimização, apresentam um caráter deontológico do dever ser. São verdades objetivas, na característica de normas jurídicas, dotadas de vigência, validez e obrigatoriedade. Todos os ramos do direito se baseiam em princípios e regras, nesse diapasão, preleciona que “os princípios constitucionais transcendem a esfera constitucional e servem de embasamento para os diversos ramos jurídicos, assim, não se pode estudar o Direito de Família, sem conhecer os princípios constitucionais referentes a ele.” (VILAS-BOAS, 2012). 33 Em suma, não há dúvida de que conforme Silva (2017) a principal diferença entre os princípios e as regras no ordenamento jurídico brasileiro está no grau de importância e na abrangência de cada um. Os princípios são mais gerais, a sua carga valorativa está ligada com os anseios sociais e reflete ideais de justiça e ética. Ao contrário dos princípios, as regras são mais específicas e devem estar de acordo com eles, o caráter das regras é mais limitado, elas advêm dos princípios. As regras incidem de forma direta sobre os fatos na forma do 'é ou não é'. 2.3.1 O princípio da dignidade da pessoa humana Averiguar o significado da palavra dignidade não é tarefa simples. Em um primeiro olhar, para Kappler e Konrad (2016) com base no dicionário Houaiss (2008, p. 250-251), a palavra quer dizer “consciência do próprio valor”; em uma segunda acepção, o dicionário estabelece que dignidade é um “modo de proceder que inspira respeito”; em uma terceira acepção, significaria “amor-próprio”. Princípio do respeito à dignidade da pessoa humana, como decorrência do disposto no art. 1º, III, da Constituição Federal. Verifica-se, com efeito, do exame do texto constitucional, como assinala Gustavo Tepedino, que “a milenar proteção da família como instituição, unidade de produção e reprodução dos valores culturais, éticos, religiosos e econômicos, dá lugar à tutela essencialmente funcionalizada à dignidade de seus membros, em particular no que concerne ao desenvolvimento da personalidade dos filhos”. De outra forma, aduz, “não se consegue explicar a proteção constitucional às entidades familiares não fundadas no casamento (art. 226, § 3º) e às famílias monoparentais (art. 226, § 4º); a igualdade de direitos entre homem e mulher na sociedade conjugal (art. 226, § 5º); a garantia da possibilidade de dissolução da sociedade conjugal independentemente de culpa (art. 226, § 6º); o planejamento familiar voltado para os princípios da dignidade da pessoa humana e da paternidade responsável (art. 226, § 7º)
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