Prévia do material em texto
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 2
PPLLAANNOO DDEE AAUULLAA AAPPOOSSTTIILLAADDOO
Escola de Teologia do Espírito Santo
TTTTTTTTeeeeeeeeoooooooollllllllooooooooggggggggiiiiiiiiaaaaaaaa ddddddddoooooooo AAAAAAAAnnnnnnnnttttttttiiiiiiiiggggggggoooooooo TTTTTTTTeeeeeeeessssssssttttttttaaaaaaaammmmmmmmeeeeeeeennnnnnnnttttttttoooooooo
Deus revelado no Antigo Testamento
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 3
© Copyright 2004, Escola de Teologia do ES
A Escola de do ES é amparada pelo disposto no parecer 241/99 da CES
– Câmara de Ensino Superior
O ensino à distância é regulamentado pela lei 9.394/96 – Artº 80 e é
considerado um dos mais avançados sistemas de ensino da atualidade
■
Todos os direitos em língua portuguesa reservados por
ESCOLA DE TEOLOGIA DO ES
Rua Cabo Ailson Simões, 560 - Centro – Vila Velha- ES
Edifício Antônio Saliba – Salas 802/803
CEP 29 100-325
Telefax (27) 3062-0773
www.esutes.com.br
■
PROIBIDA A REPRODUÇÃO POR QUAISQUER MEIOS, SALVO EM BREVES
CITAÇÕES, COM INDICAÇÃO DA FONTE.
Todas as citações bíblicas foram extraídas da Bíblia Versão Almeida
Corrigida e Fiel(ACF)
©2008, publicada pela Sociedade Bíblica Trinitariana.
O presente material é baseado nos principais tópicos e pontos salientes da matéria em questão.
A abordagem aqui contida trata-se da “espinha dorsal” da matéria. Anexo, no final da
apostila, segue a indicação de sites sérios e bem fundamentados sobre a matéria que o módulo
aborda, bem como bibliografia para maior aprofundamento dos assuntos e temas estudados.
TEOLOGIA DO ES, Escola de - Título original: Teologia do Antigo Testamento, Deus revelado
no Antigo Testamento – Espírito Santo: ESUTES, 2004.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 4
__________
SSSSSSSSUUUUUUUUMMMMMMMMÁÁÁÁÁÁÁÁRRRRRRRRIIIIIIIIOOOOOOOO
____________________________
UUUUUUUUNNNNNNNNIIIIIIIIDDDDDDDDAAAAAAAADDDDDDDDEEEEEEEE IIIIIIII
AAAAAAAA IIIIIIIIMMMMMMMMPPPPPPPPOOOOOOOORRRRRRRRTTTTTTTTÂÂÂÂÂÂÂÂNNNNNNNNCCCCCCCCIIIIIIIIAAAAAAAA DDDDDDDDAAAAAAAA DDDDDDDDEEEEEEEEFFFFFFFFIIIIIIIINNNNNNNNIIIIIIIIÇÇÇÇÇÇÇÇÃÃÃÃÃÃÃÃOOOOOOOO EEEEEEEE MMMMMMMMEEEEEEEETTTTTTTTOOOOOOOODDDDDDDDOOOOOOOOLLLLLLLLOOOOOOOOGGGGGGGGIIIIIIIIAAAAAAAA
Introdução.............................................................................................................................................................5
A Natureza da Teologia do Antigo Testamento....................................................................................................6
O Método da Teologia do Antigo Testamento......................................................................................................9
O Escopo da Teologia do Antigo Testamento....................................................................................................12
A Motivação para a Teologia do Antigo Testamento..........................................................................................13
UUUUUUUUNNNNNNNNIIIIIIIIDDDDDDDDAAAAAAAADDDDDDDDEEEEEEEE IIIIIIIIIIIIIIII
OOOOOOOO DDDDDDDDEEEEEEEESSSSSSSSEEEEEEEENNNNNNNNVVVVVVVVOOOOOOOOLLLLLLLLVVVVVVVVIIIIIIIIMMMMMMMMEEEEEEEENNNNNNNNTTTTTTTTOOOOOOOO DDDDDDDDEEEEEEEE UUUUUUUUMMMMMMMM EEEEEEEESSSSSSSSBBBBBBBBOOOOOOOOÇÇÇÇÇÇÇÇOOOOOOOO AAAAAAAA TTTTTTTTEEEEEEEEOOOOOOOOLLLLLLLLOOOOOOOOGGGGGGGGIIIIIIIIAAAAAAAA DDDDDDDDOOOOOOOO AAAAAAAANNNNNNNNTTTTTTTTIIIIIIIIGGGGGGGGOOOOOOOO TTTTTTTTEEEEEEEESSSSSSSSTTTTTTTTAAAAAAAAMMMMMMMMEEEEEEEENNNNNNNNTTTTTTTTOOOOOOOO
A Teologia na História........................................................................................................................................16
Os Períodos Históricos da Teologia do Antigo Testamento...............................................................................17
Os Itens-Chaves em cada Período Histórico......................................................................................................21
O Esboço Resultante..........................................................................................................................................22
UUUUUUUUNNNNNNNNIIIIIIIIDDDDDDDDAAAAAAAADDDDDDDDEEEEEEEE IIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII
AAAAAAAASSSSSSSS CCCCCCCCOOOOOOOONNNNNNNNEEEEEEEEXXXXXXXXÕÕÕÕÕÕÕÕEEEEEEEESSSSSSSS AAAAAAAATTTTTTTTRRRRRRRRAAAAAAAAVVVVVVVVÉÉÉÉÉÉÉÉSSSSSSSS DDDDDDDDAAAAAAAASSSSSSSS ÉÉÉÉÉÉÉÉPPPPPPPPOOOOOOOOCCCCCCCCAAAAAAAASSSSSSSS HHHHHHHHIIIIIIIISSSSSSSSTTTTTTTTÓÓÓÓÓÓÓÓRRRRRRRRIIIIIIIICCCCCCCCAAAAAAAASSSSSSSS DDDDDDDDEEEEEEEE TTTTTTTTEEEEEEEEMMMMMMMMAAAAAAAASSSSSSSS EEEEEEEEMMMMMMMMEEEEEEEERRRRRRRRGGGGGGGGEEEEEEEENNNNNNNNTTTTTTTTEEEEEEEESSSSSSSS
A Teologia..........................................................................................................................................................25
A “Benção” Pré-Patriarcal e a “Promessa” Patriarcal.........................................................................................25
A “Promessa” Patriarcal e a “Lei” Mosaica.........................................................................................................27
O “Deuteronomismo” Pré-Monarquico e a “Promessa” Davídica.......................................................................30
A “Teologia da Criação” Sapiencial e a “Promessa” Profética...........................................................................32
UUUUUUUUNNNNNNNNIIIIIIIIDDDDDDDDAAAAAAAADDDDDDDDEEEEEEEE IIIIIIIIVVVVVVVV
OOOOOOOO AAAAAAAANNNNNNNNTTTTTTTTIIIIIIIIGGGGGGGGOOOOOOOO TTTTTTTTEEEEEEEESSSSSSSSTTTTTTTTAAAAAAAAMMMMMMMMEEEEEEEENNNNNNNNTTTTTTTTOOOOOOOO EEEEEEEE OOOOOOOO NNNNNNNNOOOOOOOOVVVVVVVVOOOOOOOO TTTTTTTTEEEEEEEESSSSSSSSTTTTTTTTAAAAAAAAMMMMMMMMEEEEEEEENNNNNNNNTTTTTTTTOOOOOOOO
Uma Conexão.....................................................................................................................................................34
A Palavra-Chave Neotestamentária para o Antigo Testamento.........................................................................34
A unidade do Antigo Testamento e do Novo Testamento..................................................................................35
A Melhor Aliança................................................................................................................................................37AAAAAAAAPPPPPPPPÊÊÊÊÊÊÊÊNNNNNNNNDDDDDDDDIIIIIIIICCCCCCCCEEEEEEEE.........................................................................................................................................................38
BBBBBBBBIIIIIIIIBBBBBBBBLLLLLLLLIIIIIIIIOOOOOOOOGGGGGGGGRRRRRRRRAAAAAAAAFFFFFFFFIIIIIIIIAAAAAAAA..................................................................................................................................................50
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 5
UUNNIIDDAADDEE II
AA IIMMPPOORRTTÂÂNNCCIIAA DDAA DDEEFFIINNIIÇÇÃÃOO EE MMEETTOODDOOLLOOGGIIAA
...............................................................
“Profundo e fascinante, o Antigo Testamento narra a história da criação do mundo e de seus habitantes, as
conseqüências fatais da desobediência humana e os esforços de Deus para reconciliar-se com o homem”.
..............................................................
IINNTTRROODDUUÇÇÃÃOO
Desde 1933 a teologia bíblica tem ocupado o lugar de honra nos estudos teológicos. Especialmente
proeminente durante este período foi uma forma existencial da disciplina conhecida como O
Movimento de Teologia Bíblica. No entanto, com a publicação do artigo, agora merecidamente
famoso, de Langdon B. Gilkey chamado: "Cosmology, Ontology and the Travail of Biblical
Language", e o discurso inaugural de James Barr, "Revelation Through History in the Old
Testament and Modern Thought", começou o "rachar das paredes" do novo movimento. Estes dois
ensaios atacaram o coração do Movimento de Teologia Bíblica ao desmascarar sua posição
dividida de modernismo e Escrituras. Conforme a expressão de Gilkey, "Seu ponto de vista acerca
do mundo, ou cosmologia, é moderno, enquanto sua linguagem teológica é bíblica e ortodoxa".
Conseqüentemente, abria-se mão dos milagres bíblicos e dos discursos divinos, para não ofender as
realizações do modernismo enquanto a linguagem bíblica e referências freqüentes aos "poderosos
atos de Deus" (uma frase bíblica, mas que não deixa de ser conveniente por evitar a necessidade de
se crer em milagres) foram conservadas. Certas perguntas tinham que ser enfrentadas. Em que
sentido (s) Deus “agia” na história? E o que significam esses “atos”? A linguagem da teologia bíblica
era meramente uma ambigüidade de termos, ou deveria ser entendida analogicamente ou
univocalmente com as coisas que indicava? Gilkey e Barr concluíram que o movimento de Teologia
Bíblica, apesar dos seus trinta anos de atividade, permanecera dentro das categorias do liberalismo;
de fato, dificilmente ultrapassara o tipo de liberalismo de Schleiermacher. Mesmo assim, a busca de
uma terceira alternativa entre posição tradicional conservadora a agressiva posição liberal era uma
tentativa honesta no sentido de se reter o que geralmente se concordava entre todos menos os
conservadores, o resultado assegurado da crítica das fontes. Isto deveria ser feito sem degenerar-se
em intelectualismo tão estéril que deixaria o pastor local sem uma mensagem que pudesse pregar.
Em seu rasto pelo menos dois influentes jornais americanos foram estabelecidos para ajudar a
atravessar esta grande lacuna Theology Today em 1944 e Interpretation em 1947. A contribuição
destes jornais, e de outros semelhantes, juntamente com a enorme bibliografia e monografias
durante este período foi não semente impressionante como muitas vezes extremamente útil. Mesmo
assim, exatamente como a teologia do Antigo Testamento em alemão de Walther Eichrodt, em dois
volumes, dera inicio à “idade de ouro” em 1933, assim também a teologia do Antigo Testamento por
Gerhard von Rad, em dois volumes, parece destinada a marcar o seu auge e ser o portento da sua
ominosa reversão ao tipo de estudo que trata apenas da história da religião de Israel. A gênese desta
reversão poderia ser vista quando von Rad respondia à pergunta do objeto de uma teologia do AT
de modo direto: era aquilo que Israel professava a respeito de Javé. Estas profissões não eram
declarações de fé; eram atos através dos quais o povo expressava sua consciência do seu
relacionamento com Deus. Sendo assim, era impossível escrever uma teologia do AT; agora havia
teo-logias do AT. Além disto, a verdadeira história dos fatos deveria ser separada da história
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 6
interpretada que era a expressão da fé de Israel conforme se observa em credos tais como
Deuteronômio 255-10. Nesta interpretação mutável e falsificada da história, a teologia bíblica,
conforme a asseveração de von Rad, podia achar seu objeto! Como se fosse para demonstrar o fato
de que von Rad marcava uma linha divisória, Roland de Vaux perguntou: "É possível escrever uma
Teologia do Antigo Testamento'?"10 e Robert Martin-Achard fez um retrospecto de "La Theologie de
I'ancien testament après les travaux de G. von Rad. Todos concordaram, no entanto, que uma "crise"
de fato chegara. Alguns eram ainda mais dramáticos. Por exemplo, Horace Hummel anunciou com
coragem: "A 'Teologia Bíblica' morreu, e IOVC The interpreter's One-Volu¬me Commentary on the
Bible (Nashville: Abingdon, 1971) é sua testemunha." J. Christiaan Beker, Brevard S. Childs, B.W.
Anderson, e Hans-Joaquin Kraus meramente chamaram a situação de crise. Já estava ficando óbvio
que a era pós-von Rad estava se entregando a uma grande medida de auto-análise, e alguns
problemas reais de metodologia haviam ficado sem solução. O que não era tâo claro era se isto
sinalizava um novo início, pois a nova década trouxe consigo uma lista inteiramente nova de
contribuintes (ou será que alguns eram participantes atrasados da busca anterior?) Houve uma
contribuição evangélica do teólogo menonita Chester K. Lehman em 1971, chamada Biblical
Theology, vol. I, AT. No ano seguinte, Walther Zimmer-li, o teólogo alemão do cumprimento da
promessa, contribuiu com sua Grundriss der atttestamentlichen Theologie, enquanto Georg Fohrer,
após seu volume grande de History of Israelite Religion (edição alemã, 1969) e seus estudos sobre
Old Testa-ment Theology and History (alemão, 1969) contribuiu com Theologische
Grundstrukturen des alten Testaments (1972). O estudioso católico irlandês W. J. Har-rington
publicou The Path of Biblical Theology em 1973, e o Católico Americano John L. McKenzie
acrescentou sua A Theology of the Old Testament em 1974, A estas monografias de maior
importância devem ser acrescentadas as vintenas de artigos de jornais que continuaram a aparecer.
Sendo assim, é muito razoável perguntar: "Onde estamos agora?" E pode¬mos responder que, no
meio de toda confusão da década passada, algumas coisas se tornaram abundantemente claras. A
despeito das suas mais altas esperanças, a teologia bíblica não tem conseguido reformular e aplicar
de novo a autoridade da Bíblia. De fato, se houve mudança, é que a autoridade da Bíblia tem
diminuído durante este período ao invés de aumentar-se. De um lado, não se tem evitado
completamente a esterilidade da crítica das fontes, nem o historicismo da história das religiões, do
outro lado. Nem sequer ocorreu em cada caso que a força da teologia filosófica tem sido trocada por
uma metodologia que se recusou a colocar quaisquer grades "a priori" sobre o texto. Mais
recentemente, alguns experimentaram uma grade de "teologia de processo", mas sempre tem havido
uma longa lista de pretendentes em potencial esperando nos bastidores da teologia biblica. Se trinta
anos de história nos ensinaram alguma coisa, ressaltou a necessidade desesperada de uma solução
às questões não solucionadas da definição, método e objeto para a teologia do AT. Desde seu início,
estes problemas metodológicos e de definição seguiram os passos de cada teólogo bíblico. A solução
destas questões, mais do que qualquer outra coisa, libertaria a disciplinada sua periódica escravi-
dão às modas reinantes da filosofia e evitaria sua captura iminente por um historicismo revivificado.
AA NNAATTUURREEZZAA DDAA TTEEOOLLOOGGIIAA DDOO AANNTTIIGGOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO
Eichrodt iniciou a "idade de ouro" com um ataque bem merecido contra o historicismo que reinava
em seus dias. Afirmou que "a essencial coerência interior do Antigo e do Novo Testamento foi
reduzida, por assim dizer, a um tênue fio de conexão histórica e seqüência causal entre os dois, com
o resultado que uma causa externa foi substituída por uma homogeneidade que era real". Sendo
assim, o AT foi reduzido a uma coleção de períodos separados com pouca ou nenhuma unidade.
Depois de um quarto de século, porém, Gerhard von Rad veio completar quase um círculo completo
e adotou a própria posição que merecera originalmente a repreensão de Eichrodt. Ao separar a
intenção "querigmática", ou propósitos ho-miléticos, dos vários escritores do AT dos fatos da
história de Israel, von Rad não somente negou qualquer fundamento histórico genuíno para a
confissão da fé que Israel tinha em Javé, como também mudou o objeto do estudo teológico de uma
focalização sobre a Palavra de Deus e Sua obra, para os conceitos religiosos do povo de Deus. Para
von Rad, não havia a necessidade de fundamentar o querigma da crença em qualquer realidade
objetiva, ou qualquer história como evento. A Bíblia não é tanto a fonte da fé dos homens do AT
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 7
como uma expressão da sua fé. Além disto, conforme a opinião dele, cada época histórica tinha uma
teologia sem igual a ela, com tensões internas, diversidade e contradições à teologia das demais
épocas do AT. De fato, não havia, para ele, nenhuma síntese na mente dos autores bíblicos ou nos
textos, mas apenas a possibilidade de uma "tendência para a unificação". O historicismo voltara! O
AT não possuía qualquer eixo central ou continuidade de um plano divino; pelo contrário, continha
uma narrativa de como o povo lia reiigiosamente a sua própria história, sua tentativa de tornar reais
e apresentar eventos e narrativas mais antigos. O objeto e enfoque do estudo da disciplina foi
mudado da história como evento e da Palavra como revelação para uma abordagem tipo história-
da-religião. Entrementes, von Rad criticou a teologia de Eichrodt, com seu tipo estrutural, por ter
esta deixado de demonstrar que o conceito da aliança era de fato central para a totalidade do cânon
do AT. Quanto a isso, o tipo diacrónico de teologia de von Rad, que tratava cada época sucessiva no
cânon como um arcabouço organizacional para a teologia bíblica, estava mais perto do objetivo
originalmente estabelecido para esta disciplina. O problema não estava no emprego de uma
seqüência histórica de épocas, mas sim, em deixar o emprego legítimo da história engolir os
interesses totais da disciplina. Sempre que os interesses da história começavam a dominar, a
disciplina entrava na mesma esterilidade que procurara evitar em 1933. Ficou sem tocar na questão
da teologia normativa. Conforme argumentava James Barr, tal teologia deixara de providenciar
quaisquer razões ou critérios para decidir-se o que devia ser tomado como normativo ou
autoritativo no AT ou como esta nova norma poderia ser à base de todas as nossas decisões
teológicas. Se porem, von Rad estava no caminho certo da abordagem diacrônica e longitudinal que
prestava atenção à seqüência cronológica do AT e sua mensagem, Eichrodt também estava
parcialmente com a razão quando onservou que nenhuma teologia era possível se não houvesse
alguns conceitos constantes ou normativos no decurso daquela história. Onde se poderia achar
estes elementos constantes? Infelizmente, apesar das alegações ao contrário, a imposição de
conceitualidade teológicas e até de categorias teológicas derivadas de teologias asistemáticas ou
filosóficas se tornaram comuns. Quando o tipo histórico-descritivo da teologia bíblica (Gabler-
Stendahl) cedeu lugar a um tipo teológivo-normativo (Hoffmann-Eichrodt), um pilo ilegítimo na
prática exegética era sempre o resultado. Enquanto o tipo descritivo parou com aquilo que o texto
significa, aqueles insistiam em que o leitor das Escrituras avançasse para descobrir o que o texto
significa para nós hoje, faziam assim uma base de um salto tipo Kierkegaard em epistemologia e
exegese. As formulações da normatividade surgem da moderna estrutura do leitor, ou mesmo de
“leituras prontas, pressupostas” das formulações da Teologia Sistemática. O então do texto antigo
repetidamente se tornou no agora das necessidades do leitor atual, ninguém sabendo como ou por
qual processo. Em tais modelos, a fé moderna e a proclamação contemporânea (Geschichte e
querigma) facilmente tomavam o lugar da história (Historie) e exegese. E mesmo naqueles outros
modelos em que a exegese e a história eram envolvidas, elas tendiam a tornar-se uma finalidade em
si mesmas, cheias de detalhes arqueológicos e uma totalidade fragmentada. A maior necessidade,
naquele caso, era levar a efeito a exegese do texto individual à luz de uma teologia total do cânon.
Mas como era esta teologia total do cânon? Mais uma vez, tornou-se aparente a insistência
importunadora desta necessidade de identificar um padrão normativo. Esta pergunta não foi a
invenção da era moderna. Já havia muito, tinha ocorrido aos próprios escritores antigos. Esta busca
por um centro, uma conceitualidade unificante, estava no próprio coração da preocupação dos que
recebiam a Palavra divina e dos participantes originais na seqüência de eventos no AT. Para eles, a
questão de fatualismo não era tão importante como a questão do significado; afinal das contas, em
muitos casos eles até faziam parte ou eram participantes nos próprios eventos descritos no texto. O
significado e a correlação destes fatos com aquilo que conheceram ou deixaram de apreender de
eventos antecedentes, ou significados com os quais este novo evento pode agora se vincular eram
muito mais importantes. O testemunho e registro deles, portanto, de todas as interconexões e meios
através dos quais a atividade e a correspondente mensagem foram passadas de uma figura chave,
geração, região, crise e evento para outra deviam ser de suprema importância em estabelecer o
enfoque do nosso estudo. Se uma busca indutiva do registro do AT revelar um padrão constante de
eventos progressivos, com significados e ensinamentos em que os recipientes ficavam cônscios da
participação de cada evento selecionado num todo maior, então o caminho do progresso da
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 8
disciplina teria sido fixado. A questão seria esta: Será que o progresso da história incluía
relacionamentos em que cada avanço em palavra, evento e tempo era organicamente relacionado
com revelação anterior? A resposta, pelo menos em princípio, seria simples e direta. Tal progresso
não poderia excluir relacionamentos orgânicos, sendo que o próprio registro do AT freqüentemente
insistiria em fazer precisamente estas conexões. Muitos relutariam contra o factualismo ou
originalidade destes vinculadores dos textos, dizendo que os "resultados assegurados" da crítica das
fontes apagou a maioria deles ou desmascarou sua posição secundária ou terciária. Talvez o melhor
que podemos fazer em prol de tais leitores (enquanto os evangélicos permanecem alienados das
controvérsias teológicas) é insistirmos que esta desvantagem (com sua reivindicações de
objetividade "científica") seja (temporariamente) vencida ao escutar o cânon como testemunha
canónica de si mesma. Da nossa parte, cremos que todos os textos devam ser considerados inocentes
de todas as acusações de artificialidade até que sua culpa seja comprovada por testemunhas
externas claras. O texto deve ser tratado, primeiro, conforme seus próprios termos. Todas as
imposições editoriais designadaspelo modernismo (não derivadas de fontes reais às quais os
evangélicos não têm objeção mas, pelo contrário, deduzidas de imposições gerais filosóficas e
sociológicas feitas sobre o texto) que podem receber o crédito de atomizar o texto e de apagar os
vinculadores que se devem atribuir, alegadamente, a redatores piedosos e mal orientados, devem
ser excluídas da disciplina até comprovadas válidas pela evidência. A teologia bíblica sempre
permanecerá uma espécie em vias de extinção até que os modos brutos da crítica de fontes
imaginárias, da história da tradição e certos tipos de crítica de forma tenham sido detidos.
Semelhante protesto não pode ser facilmente interpretado como sendo o equivalente de um conceito
estático do desenvolvimento do registro. Pelo contrário, insistimos que se o registro bíblico tem
licença de falar sua própria intenção em primeiro lugar, claramente indica progresso, crescimento,
desenvolvimento, movimento, revelações irregulares e esporádicas de significado, e seleções de
eventos no pleno fluxo de correntes históricas. Concordamos com Père de Vaux que esta história
não era apenas homiletica mente útil; tinha que ser história real; senão, seria indigna de crédito
pessoal e propensa a colapso interno pelo próprio peso das suas próprias invenções. Emprestando
um antigo adágio, e pedindo desculpas por isto, algumas das gerações poderiam ter sido enganadas
por algum tempo, mas não todo o restante do povo o tempo todo. Houve, portanto, verdadeiro
progresso na revelação. Tal progresso, porém, não excluía nem um relacionamento orgânico nem a
possibilidade de se levar a efeito, de vez em quando, uma plena maturação de um ou mais pontos
de revelação ao longo desta admitida rota de crescimento. Nem a história nem a revelação
procediam a um ritmo uniforme de maturação previamente estabelecido. Mais freqüentemente do
que o contrário, o crescimento era lento, atrasado ou até dormente, que só depois de um longo
período deixava brotar um novo rebento irrompendo do tronco principal. Este crescimento, porém,
conforme os escritores das Escrituras nos contam, sempre era vinculado ao tronco principal: um
crescimento epigenético, havia um crescimento do registro de eventos, significados e ensinamentos
no decurso de tempo, em redor de um centro fixo que contribuía vida â massa total emergente. Se o
evento, significado ou ensinamento foi considerado como muda, tronco, galho, raiz, ou folha, tudo
participava da vitalidade do organismo inteiro. Como tal, cada parte do processo histórico era
qualitativamente perfeita como a totalidade, embora certas partes fossem severamente limitadas ou
na sua significância quantitativa para com o todo, ou na sua duração. Por exemplo, alguns
eventos, significados, ou ensinamentos foram deliberadamente dados com uma declaração
embutida de obsolescência que limitava o campo de sua aplicação a certos períodos históricos.
Assim era a legislação do tabernáculo como as cerimônias que a acompanhavam: foi uma cópia
feita segundo o padrão mostrado a Moisés no monte Sinai (Êx 25.9,40; 26.30; Nm 8.4). Daí a sua
limitação. De vez em quando, o progresso histórico também permitia uma plena maturação de
algum aspecto do registro, e, naqueles pontos, o texto nos deixa atônitos com o modo pelo qual o
significado e o ensinamento ultrapassam a experiência e os tempos. Os homens e os tempos não
tinham controle daquilo que era teologicamente significativo, nem eram a medida da capacidade
divina! Deve-se exercer, portanto, cuidado nesta área a fim de evitar que algum tipo de positivismo
teológico possa surgir para ditar aquilo que poderia ter acontecido, ou o que aconteceu mesmo, no
progresso da revelação. Deus permaneceu sendo o Senhor soberano mesmo neste aspecto.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 9
Conseqüentemente, a rapidez da descrição da Criação, da Queda do primeiro casal humano, a
extensão universal da promessa abraâmica, o sacerdócio de todo o Israel, ou a descrição que Isaías
deu do novo céu e da nova terra não devem nos surpreender e serem julgados como sendo
impossível. Somente o embaraço de um espírito de modernidade por demais refinado sentir-se-ia
obrigado por algum compromisso anterior a um princípio filosófico ou a uma sociologia do
conhecimento para julgar impossíveis tais reivindicações textuais ainda antes de serem achadas
culpadas na base de cânones aceitáveis de evidência. A natureza da teologia do AT, conforme aqui é
concebida, não é meramente uma teologia que está em conformidade com a Bíblia inteira, mas é
aquela teologia que se descreve e se contém na Bíblia (genitivo subjetivo) e conscientemente
vinculada de era em era enquanto todo o contexto antecedente e mais antigo se torna a base para a
teologia que se seguia em cada era. Sua estrutura é disposta historicamente, e seu conteúdo é
exegeticamente controlado. Seu centro e conceitualidade unificada se acham nas descrições,
explanações e conexões textuais.
OO MMÉÉTTOODDOO DDAA TTEEOOLLOOGGIIAA DDOO AANNTTIIGGOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO
Quatro tipos principais de teologias têm aparecido em anos recentes:
a.O tipo estrutural descreve o esboço básico do pensamento e da crença no AT em unidades tiradas
por empréstimo da teologia sistemática, da sociologia, ou de princípios teológicos seletos e depois
traça seu relacionamento para com conceitos secundários (Eichrodt, Vriezen, van Imschoot).
b. O tipo diacrônico expõe a teologia dos sucessivos períodos de tempo e das estratificações da
história de Israel. Infelizmente, a ênfase recaía sobre as tradições sucessivas da fé e da experiência
da comunidade religiosa (von Rad).
c. O tipo lexicográfico limita seu escopo de investigação a um grupo ou grupos de homens bíblicos
e seu vocabulário teológico especial, os sábios, o eloísta, o vocabulário sacerdotal, etc. Gerhard
Kittel, editor, e G. W. Bromiley, trad., Theological Dictionary of the New Testamento 10 vols.
(Grand Rapids: Eerdmans, 1964-74); Peter F. Ellis, The Yahwist: The Bible's First Theologian
(Notre Dame: Fides Publishers, 1968).
d. O tipo dos temas bíblicos leva sua busca além do vocabulário do único termo chave para
abranger toda uma constelação de palavras ao derredor de um tema chave (John Bright, The
Kingdom of God; Paul e Elizabeth Achtemeier, The Old Testament Roots of Our Faith).
A ambigüidade dos métodos é óbvia; porque enquanto o tipo estrutural ressalta que uma teologia
deve representar a formulação sistemática de idéias religiosas, o tipo diacrónico se desvia na
direção de uma abordagem tipo história das religiões na sua insistência de que a teologia bíblica é
uma disciplina puramente histórica que registra imparcialmente as crenças da comunidade
religiosa sem procurar avaliar a relação que estes eventos e pensamentos possam ter com respeito
à verdade religiosa normativa permanente. Os outros dois tipos geralmente lutavam com a mesma
questão básica, porém com um escopo muito mais limitado do cânon ou do alcance de idéias
bíblicas. Ambos os litigiantes principais no campo da teologia do AT, porém, tinham problemas
metodológicos de maior vulto para o tipo de teologia do AT aqui visado. O tipo estrutural delineia
um programa de estudos que é metodologicamente tão relacionado à teologia sistemática que
sentimos dificuldade em descobrir a verdadeira utilidade da sua missão a não ser o valor heurístico
de ver como pareceria uma teologia sistemática do Antigo Testamento. Mas como isto poderia
servir para as necessidades teológicas ou exegéticas da comunidade da fé? E para que fazer tanto
barulho em protesto contra a terrível imposição das categorias da filosofia ocidental ou das que
pertencem às grandes confissões eclesiásticas da igreja cristã, se a estrutura que se resulta é apenas
uma fracaconcatenação do relacionamento entre Deus e o homem? Neste caso, a teologia bíblica
não tem nenhuma missão independente e faz uma contribuição mínima, ou talvez nenhuma.
Semelhantemente, o modelo diacrónico se desvia na direção da abordagem da história-da-religião.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 10
Embora tenha suprido o arcabouço sem igual e novo do progresso de eventos e pensamentos
através dos acontecimentos históricos, sua tendência tem sido dar-se por satisfeito com uma
apresentação que tem sido puramente descritiva na sua natureza. Assim sendo, embora a teologia
bíblica tenha começado como uma reação contra a infertilidade da abordagem tipo história da
religião de lsrael, parece agora que, devido à pobreza da sua própria metodologia, tem sido
retomada por esta área da teologia. Esta, no entanto, não era necessariamente uma feição
concomitante do método, conforme esperamos demonstrar ma is tarde. Há, portanto, uma
metodologia distintiva para esta disciplina? Ou será que toda a labuta do último meio século tem
sido sem resultado real? Há, pois, um tema ou plano, interno, persistente, distintivo e característico
que demarcaria a preocupação central do AT? E será uma ajuda para o currículo teológico ou
mesmo para a apreciação do leitor em geral, ter este plano demonstrado nas suas sucessivas
contribuições? Tudo isto equivale a um sistema ou umalógica que se edifica dentro do Antigo
Testamento? E será que este padrão dá evidência que espere eventos e significados ainda além do
alcance dos seus escritos canónicos? Ainda mais crucial, pode ser demonstrado pelas alegações dos
participantes originais destes eventos e pelos pensamentos destes textos do AT que tinham
consciência de um fluxo contínuo de eventos, significados e idéias que precediam a eles e que se
sentiam obrigados a reconhecer algum tipo de exigências, permanentes e normativas, impostas
sobre suas crenças e ações? Estes são os problemas difíceis de metodologia que a geração passada,
bem como a nossa, tem tido dificuldade em achar uma resposta, mormente porque esta disciplina
foi considerada como sendo a síntese de todos os "resultados assegurados" dos estudos do AT no
decurso dos últimos dois séculos. Infelizmente, alguns destes resultados representavam uma
escravidão tão grande a grades, sistemas, e filosofias como aquelas que a disciplina originalmente
tentara evitar em 1933. Nosso propósito é fazer uma forte distinção entre o método da teologia
bíblica e o da sistemática e o da história das religiões. Há um centro ou plano interior ao qual cada
escritor conscientemente contribuía. Um princípio de seletividade já está evidente e divinamente
determinado pela revelação rudimentar do tema divino de bênção promessa para todos os homens
em todos os lugares, quando o cânon tem seu início em Gênesis, caps. 1-11 e continua em
Gênesis, caps. 12-50. Ao invés de selecionarmos os dados teológicos que achamos atraentes, ou que
suprem alguma necessidade corrente, o texto teria estabelecido suas próprias prioridades e
preferências. Estes pontos de união podem ser identificados, não na base de escolas eclesiásticas ou
teológicas, mas, sim, por critérios tais como: (1) a colocação crítica de declarações interpretativas na
seqüência textual; (2) a freqüência de repetição das idéias; (3) a recorrência de frases ou termos que
começam a assumir uma qualidade técnica; (4) o retornar a temas que um precursor já levantara,
muitas vezes com uma área de referência mais extensiva; (5) o emprego de categorias de asserções
previamente empregadas que facilmente se prestam a uma descrição de um novo estágio no
programa da história; e (6) o padrão organizacional por meio do qual as pessoas, lugares e idéias
eram marcados para aprovação, contraste, inclusão, e significado futuro e presente. Não somente a
tarefa da seletividade deve ser iniciada e guiada pelos controles textuais estabelecidos pelas
intenções quanto à verdade da parte dos escritores do AT, mas estes mesmos homens também
devem ser seguidos de perto na avaliação de todas as conclusões teológicas tiradas destes dados
teológicos "selecionados". Se estes juízos de valor, estas interpretações e estimativas que atribuíam a
estas pessoas e eventos chaves no texto fossem apagados, deixados de lado, negligenciados ou
substituídos pornossos próprios, não poderíamos culpar a ninguém a não ser nós mesmos se
parecer que a autoridade da Bíblia também evaporou sob nossos melhores esforços estudiosos. A
verdade do assunto, seja benéfica ou não, é que estes escritores alegam que receberam a revelação
divina na seleção e avaliação de tudo quanto foi registrado. Conseqüentemente, todas as teologias
sérias precisarão se entender com ambos os aspectos desta reivindicação, para não falar da própria
reivindicação de se ter recebido revelação. Para repetir, então, em nossa metodologia proposta, a
teologia bíblica tira sua própria estrutura de abordagem da progressão histórica do texto, e sua
seleção e conclusões teológicas a partir daquelas que se acham no enfoque canónico. Assim sendo,
concorda parcialmente com a ênfase histórica e seqüencial do tipo diacrónico da teologia do AT e da
ênfase normativa do tipo estrutural. No entanto, faz mais do que meramente sintetizar ou
ecleticamente aceitar uma nova combinação daquilo que até agora tem sido uma coletânea de
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 11
métodos antitéticos. Deliberadamente tenta derivar sua teologia de percepções exegéticas das
seções canónicas, seja um parágrafo ou capítulo que faz um resumo, uma passagem chave de
ensinamento, um evento estratégico conforme sua avaliação no contexto onde apareceu pela
primeira vez e em referências subseqüentes no cânon, ou um livro inteiro ou grupo de livros que se
vinculam tão estreitamente quanto ao tema, abordagem ou mensagem que produzem uma unidade
explícita. No meio de toda a multiplicidade e variedade de materiais, eventos e questões, é nosso
argumento que existe mesmo um centro para esta tempestade de atividade. Semelhante ponto de
partida é suprido textualmente e confirmado textualmente como esperança central do cânon,
preocupação sempre presente, e medida daquilo que era teologicamente significativo ou normativo.
Embora o NT finalmente se referisse a este ponto focal do ensino do AT como sendo a promessa, o
AT o conheceu sob uma constelação de palavras tais como promessa, juramento, bênção, descanso e
semente. Também era conhecido sob fórmulas em três partes tais como: "Eu serei vosso Deus, vós
sereis meu povo, e eu habitarei no meio de vós", ou a fórmula redentora auto-asseverativa
espalhada na forma parcial ou integral 125 vezes em todas as partes do AT: "Eu sou o SENHOR
vosso Deus que vos trouxe da terra do Egito". Também poderia ser visto como plano divino na
história que prometia trazer uma bênção universal pela agência de uma escolha divina, não por
merecimentos de uma descendência humana. "Em ti serão benditas todas as famílias da terra" (Gn
12.3). A interpretação passiva de Gênesis 12.3 (também 18.18; 28.14 em todos os casos o verbo está
na forma do nifal) é tão crucial que Bertil Albrektson reconhece que se a forma nifal é passiva aqui e
não reflexiva conforme a maioria das traduções modernas alegam, então uma clara referência a um
plano divino mediante o qual Abraão é escolhido para ser o instrumento de Deus para alcançar
todas as nações da terra é explicitamente ensinada no texto. Infelizmente, porém, ele se sente
constrangido a rejeitar esta referência, baseando-se no fato de que esta fórmula aparece na forma
hithpael (usualmente uma forma reflexiva) em Gênesis 22.18 e 26.4: "Abençoar-se". Neste ponto,
porém, um forte protesto deve ser levantado, por várias razões exegéticas. Em primeiro lugar, em
Gênesis 12.2 já se diz que a bênção divinaé vinculada à pessoa de Abraão: "E tu ou "ele", referindo-
se ao nome ou ao povo de Abraão serás uma bênção". Sendo assim, nem ele nem o seu povo hão
de ser uma mera fórmula de bênção; nem ele meramente se abençoará a si mesmo! Abraão, pelo
contrário, à parte do nifal controverso do versículo 3, seria o intermediário e fonte da bênção divina.
Esta era sua missão destinada na primeira coletânea de promessas do versículo 2 antes de se
avançar para uma declaração diferente e mais alta de propósito no versículo 3. Todas as cinco
passagens em Gênesis (tanto nas formas nifal e hithpael do verbo "abençoar") se tratam nos
Targuns samaritano, babilónico (Onkelos), Jerusalém (Pseudo-Jônatas) como sendo passivas. De
fato, a interpretação harmonística que insiste em interpretar três formas do nifal por duas formas do
hithpael também está mal informada quando insiste num sentido uniforme reflexivo do hithpael,
porque isto não é verdade. Não se pode afirmar assim tão facilmente que o sentido do hithpael é
claro, e portanto deve ser usado como a base da inter-pretação do sentido do "nifal disputado". O
sentido de ambas estas raízes se mudou sobre a pressão do interesse polêmico em Rashi, depois em
Clericus, e, agora, a maioria dos lingüistas e exegetas. Entretanto, o desafio lingüístico de O.T.
Allis tem ficado sem refutação e até sem reconhecimento por estudiosos contemporâneos o sentido é
claramente passivo e as implicações para a teologia bíblica do AT são maciças! O enfoque do
registro recaiu sobre o conteúdo da aliança de Deus, que permanece epigeneticamente constante,
o acúmulo de materiais enquanto o tempo se passava, foi crescendo em derredor de um centro fixo
que contribu ía com vida à totalidade da massa emergente. Este conteúdo era uma certa palavra
de bênção e promessa. Era uma declaração garantida por uma promessa divina de que Deus
livremente faria ou seria algo para certas pessoas em Israel naquele momento, e, depois, para
descendentes judaicos no futuro a fim de que Deus pudesse assim fazer ou ser algo para todos os
homens, nações, e a natureza, de modo geral. Os efeitos imediatos desta palavra eram bênçãos
divinas (acontecimentos ou a chegada de pessoas) usualmente acompanhadas por uma declaração
promissória de uma obra futura ou completação da série uma promessa divina. Sendo assim, os
homens recebiam a promessa e aguardavam a promessa, tudo num só plano. Na sua composição,
no entanto, o registro continha interesses tão variados que incluíam: (1) bênçãos materiais de todos
os homens e animais; (2) uma descendência especial para a humanidade; (3) uma terra para uma
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 12
nação escolhida; (4) bênçãos espirituais para todas as nações; (5) a libertação nacional da escravidão;
(6) uma dinastia e reino de eterna duração que um dia haveriam de abranger um domínio
universal; (7) o perdão dos pecados, e assim por diante, mais e mais. De nenhum princípio
empurrado como "vara de adivinhação abstrata" por cima do texto poderia se esperar como
resultado tantos valiosos frutos teológicos. Somente uma reivindicação que o próprio texto levantou
poderia ter chamado nossa atenção para semelhante constelação de termos e conteúdos interconexos
como se acha neste único plano de Deus – Sua promessa. O progresso dessa doutrina pode ser
medido e descrito historicamente. Alem disso, incluirá seu próprio padrão para uma norma
permanente por meio da qual se pode julgar aquele dia e todos os demais dias por uma vara de
medida que reivindica ter sido colocada pelo próprio Deus sobre o escritor das Escrituras e, ao
mesmo tempo, sobre todos os leitores subseqüentes.
OO EESSCCOOPPOO DDAA TTEEOOLLOOGGIIAA DDOO AANNTTIIGGOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO
Inevitavelmente surge a questão da limitação da disciplina. Deve incluir matérias fora do cânon
do AT? Deve tentar incluir todo o AT com todos os seus detalhes, ou pode desenvolver algum tipo
razoável de cobertura representativa que apresentará os interesses de uma teologia total do AT? A
primeira pergunta respondemos que o escopo do nosso estudo é correta- mente restringido aos
livros canónicos na coleção judaica. Acrescentar à nossa consideração os Apócrifos, matérias de
Qumram, textos de Nag Hammadi, e escritos rabínicos enfraqueceria seriamente o propósito
declarado de discutir a feição integral da teologia dentro de uma corrente de revelação em que os
escritores estavam contribuindo conscientemente, sob ordens divinas, para um registro existente de
revelação divina. A possibilidade de descobrir a unidade ou centro do AT ou sua correlação com
o NT seria perdida para sempre, pois a linha divisória temática perderia sua nitidez devido à
intrusão daquilo que basicamente pertenceria á história da religião de Israel. O julgamento do
próprio Cristo é ainda mais determinante quanto a isto, pois Ele decisivamente indicou a coleção
de livros judaicos conforme eram conhecidos nos Seus dias, e afirmou que eram aqueles que
falavam dEle. Este julgamento deve solucionar a questão para todos os que crêem, e deve ser uma
precaução para todos os demais estudantes da disciplina no sentido de restringirem o escopo dos
seus estudos "teológicos" àquele cânon. Entretanto, certamente, uma abordagem tipo história-da-
religião será necessária para alargar sua área de estudos para incluir no seu panorama toda a
literatura intertestamentária. O alvo de uma teologia do AT não é laboriosamente entrar numa
discussão de cada pedaço de informação que diz respeito à história ou prática da religião. Sendo
assim, todos os estudos meramente historiográficos, cúlticos, institucionais ou arqueológicos devem
ser relegados a outras partes do corpo da teologia. Isto não quer dizer que existe um "cânon dentro
do cânon", como se fosse a prerrogativa do teólogo dar a certas partes do cânon uma posição de
preferência enquanto denigre outras partes ao aplicar-lhes a etiqueta de posição secundária ou
inferior. É verdade que a Bíblia, ta Bíblia, é uma palavra plural que indica a natureza composta dos
livros que formam a totalidade. Esta nomenclatura externa não pode bastar como evidência para
uma canonicidade múltipla.A presença de um tema central ou de um centro material que leva
consigo a linha principal e significado da narrativa não pode, muito menos, ser empregada como
ferramenta divisória para segregar níveis de canonicidade, autoridade ou valor de revelação. Se,
ao invés disto, o centro pertence integralmente ao próprio texto, sua autenticação deve ser realizada
sendo que reúne em si todas as partes apoiadoras do cânon. O próprio desenvolvimento de
sistemas artificialmente planejados de bifurcar o texto mais uma vez implica em que o crivo do
leitor ou estudioso moderno, através do que são passados todos os textos bíblicos, é mais exato e
digno de confiança do que as reivindicações dos profetas ou apóstolos que estavam a par dos
planos do Senhor e que receberam aquilo que registraram. Noutras palavras, aquilo que os leitores
bíblicos modernos negaram aos escritores bíblicos, aqueles reivindicam para os seus próprios
crivos! Não, a totalidade do texto canónico deve ser recebida num nível de igualdade. Portanto, todo
o texto é igualmente importante e vem nos julgar, ao invés de ser julgado por nós. Mas isto não quer
dizer que tudo é importante pela mesma razão. Nem todo texto ensina doutrina. E não são todos
os textos que dão instrução ética; o agregado total, no entanto, se presta para uma só totalidade
unificada com momentos especiais de surpresa quando o fio da história ou o ensino que o
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 13
acompanha recebe um tremendo passo para a frente devido ao significado de uma novapalavra ou
obra da parte de Deus. Daí, é possível ter unidade sem uniformidade, solidariedade sem constância
estática. Havia pouca, ou nenhuma, uniformidade na forma, caráter, grau e regularidade de
ocorrência de interdependência que produziu uma harmonia de pensamento, propósito e vida.
Conseqüentemente, a teologia bíblica não precisa repetir cada detalhe do cânon a fim de ser
autêntica e exata. De fato, o que seria mais preferido por parte da teologia seria o método que
pudesse sintetizar os detalhes que muitos dizem ser "discrepantes", de tal modo que pudessem
participar da estrutura teológica central do cânon e ressaltar deles a validade representativa, o
aspecto distintivo, e a contribuição teológica ao centro material e formal da Bíblia. Também não se
nega que é possível escrever um tipo de teologia bíblica baseando-se em seções específicas de um
livro grande da Bíblia (Is caps. 40-66) ou em um grupo de livros que pertencem a uma etapa
específica histórica em comum da revelação. No entanto, tal abordagem seccional sempre
dependerá da totalidade teológica maior. Isto é: em última análise, precisará ser informada por toda
a teologia antecedente contra a qual esta seção pequena tenha sido projetada, e especialmente,
pelo tema total do cânon. O acúmulo da mensagem total nunca ficava longe das mentes da
maioria dos autores enquanto escolhiam as palavras ou vinculavam suas experiências àquilo que
até então tinha sido sua herança religiosa e revelacional até àquele ponto no tempo. Note-se que
este não é o procedimento usual da Analogia da Fé mediante a qual o NT ou teologia posterior tem
licença de marcar o compasso de passagens anteriores. Pelo contrário, é aquilo que chamaremos a
Analogia de Escrituras Antecedentes, mediante a qual a teologia canónica cronologicamente
antecedente deve ser averiguada para ver se prestava informações à teologia que está sendo
investigada. Mais um fato precisa ser ressaltado: a teologia do AT é uma disciplina legítima e
distinta da teologia do NT. Sem dúvida, a teologia do AT tem a obrigação de indicar as vinculações
com a teologia do NT, assim como a teologia do NT tem a obrigação de procurar suas raízes de
vinculação no AT. Por causa da enormidade de manejar sessenta e seis livros que cobrem um
período tão vasto de tempo, seria melhor embalar a teologia bíblica única sob as duas etiquetas dos
dois testamentos. Além disto, se, conforme cremos ser possível argumentar, a teologia bíblica é
em primeiro lugar uma ferramenta exegética e não primariamente uma ajuda na construção de uma
teologia sistemática, então mais uma vez será mais útil se a única teologia bíblica fosse publicada
em duas partes, uma para cada testamento. Assim, sem ficar desvinculado de um dos testamentos,
poderia ser argumentado que o impacto e a utilidade da teologia seria maior se fosse embalada
separadamente.
AA MMOOTTIIVVAAÇÇÃÃOO PPAARRAA AA TTEEOOLLOOGGIIAA DDOO AANNTTIIGGOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO
O impulso primário em construir qualquer teologia bíblica já não é um protesto contra a teologia
sistemática. Que certa alienação tenha existido no passado entre os representantes das duas
disciplinas embora não fosse necessariamente assim não se pode negar. Mas isto foi quando a
disciplina estava buscando um conjunto separado de categorias, ao invés das da sistemática, e
quando ambas as disciplinas estavam prontas a aceitar uma abordagem normativa à teologia.
Agora, com as fortunas subindo da abordagem puramente descritiva à teologia bíblica, e uma
aproximação maior, senão uma imitação aberta, aos métodos do estudo tipo história das religiões, a
necessidade de distinguir entre estas duas disciplinas é ainda mais urgente do que na luta anterior
com a teologia sistemática. Dado, porém, o interesse original da teologia bíblica nas raízes
históricas da mensagem, enquanto está em seu desenvolvimento e o julgamento equilibrador que
buscava identificar a coletânea de avaliações normativas do próprio texto, o propósito e papel
desta nova disciplina deve ser declarado em termos bem diferentes do que ocorre atualmente. Ao
invés de descobrir uma parte sobreposta nas áreas sistemáticas ou históricas, achamos que a
teologia bíblica é uma ferramenta dupla do exegeta. Sua aplicação mais imediata está na área da
hermenêutica. Aqui, sua contribuição não é nem competitiva nem meramente tolerada como
abordagem alternativa a um corpo de material semelhante. Seu papel é tão distintivo que, sem esta
teologia, a tarefa exegética semelhantemente cai num historicismo de uma descrição a.C. ou do
primeiro século d.C. Sua mensagem se prende ao tempo e fica trancada no então do evento com
muito pouca coisa para levar para o agora da proclamação ou da aplicação à situação do leitor ou
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 14
ouvinte. Mesmo se a exegese evitasse a arapuca historicista através de práticas tão abomináveis
quanto o apelar para a moralização, a alegorização, a psicologização, a reinterpretação ou a
espiritualização do texto, depois de ter cumprido suas obrigações profissionais de localizar o texto
precisamente na situação do tempo e espaço do escritor, também poderia entrar num beco sem
saída lingüístico em que o exegeta e o intérprete completam sua tarefa depois de analisar os
verbos, identificar as formas raras, e notar as conexões com formas cognatas importantes. Embora
este exercício seja importante, não poderá ultrapassar um resultado puramente analítico.
Entretanto, o texto pede para ser entendido e colocado num contexto de eventos e significados.
Estudos históricos colocarão o exegeta em contato com o fluxo de eventos no tempo e no espaço, e as
análises gramaticais e sintáticas identificarão a coleção de idéias na seção imediata do período sob
investigação. Qual disciplina, no entanto, colocará o exegeta em contato com aquilo que o escritor
deste texto avulso achou de valor duradouro e de especial relevância para seus dias por causa das
suas alusões explícitas ou implícitas aos grandes atos e avaliações teológicas da revelação anterior?
É precisamente neste ponto que a teologia bíblica fará sua contribuição mais distintiva e sem rival.
Em cada exegese bem sucedida, deve haver alguns meios de identificar o centro ou cerne do
cânon. Depois de localizar e colecionar este padrão distintivo e esta semelhança familiar como fruto
de uma miríade de esforços exegéticos cobrindo a totalidade do cânon do AT, o exegeta, intérprete,
pregador, leitor e ouvinte de partes individuais do texto estará capacitado a escutara Palavra
normativa de Deus. Naturalmente, seria necessário repetir as advertências contra todas as
imposições prematuras de generalizações variadas ou significados alegadamente enaltecidos e
contemporâneos do texto. Tal teologização inacabada não poderia, de modo algum, substituir
aquela busca diligente de um princípio de unidade internamente derivado. Semelhante
reivindicação deve levar consigo sua própria verificação e justificação. Se não puder demonstrar
que seus interesses são precisamente aqueles que são levantados no progresso do crescimento destas
"normas centralmente acreditadas", então estes interesses devem ser abandonados e a busca
iniciada de novo. Depois de localizado o centro certo, no entanto, a tarefa do exegeta deve ser
completada depois de ele trabalhar os passos da exegese gramatical histórica sintática cultural,
acrescentando o passo teológico. A exegese teológica, quando se emprega juntamente com os passos
gramática I histórico sintático cultural, empregará a Analogia das Escrituras Precedentes para
ajudar o intérprete a fazer a transferência autorizada do então do contexto a.C. do AT para o agora
do século vinte. Em contraste com o método empregado pelateologia sistemática chamado a
Analogia ou Regra da Fé (que é uma coletânea das doutrinas fundamentais da fé tiradas dos
capítulos principais e mais óbvios das Escrituras, sem notar especialmente o período de tempo em
que surgiram ou informações semelhantes), a Analogia das Escrituras limita severamente seu
emprego para aquela edificação do núcleo da fé que antecedeu no tempo e na história o texto sob
investigação. Enquanto a Analogia ou Regra da Fé é dedutiva e coleciona todos os materiais sem
levar em conta suas relativas datas, a Analogia das Escrituras é indutiva e coleciona apenas aqueles
contextos antecedentes que existiam na mente do escritor das Escrituras enquanto escrevia a
nova passagem, conforme se indica pela mesma terminologia, fórmulas ou eventos aos quais este
contexto acrescenta outros em série. Dependendo da parte do cânon onde o exegeta está
trabalhando, ele empregará a teologia dos períodos que precederam seu texto, na medida em que
ditos períodos ofereçam tópicos análogos ou idênticos, palavras-chave em comum, ou levantem
outros interesses teológicos semelhantes. É esta analogia que "informa" o texto suprindo o pano de
fundo e a mensagem disponível à luz da qual esta nova revelação foi dada. Ao invés de empregar
textos do NT ou textos e idéias subseqüentes do AT para interpretar (ou, ainda pior, reinterpretar)
o material antigo o que é um ato de descarada rebeldia contra o autor e sua reivindicação de ter
recebido autoridade divina para aquilo que relata e conta conclamamos o novo teólogo bíblico a
prover o exegeta com um conjunto de termos técnicos e teológicos que se acumulam, identificações
dos momentos-chaves interpretativos na história do plano divino para o homem, e uma
apreciação pela gama de conceitos agrupados em derredor de um núcleo unificante todos estes
de acordo com sua progressão histórica no tempo. Semelhantemente, seriam desnecessários
expedientes tais como a tentativa de cobrir a lacuna entre a.C. e d.C. com o emprego da analogia
da situação humana ou o método de reapresentar o texto em proclamação para contemporizar a
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 15
mensagem. O uso bem estudado dos resultados da teologia bíblica marcará a mensagem
permanente como estando fundamentada na especificidade histórica. Dessa forma, a exegese terá os
maiores benefícios dos esforços desta disciplina, enquanto, num modo menos direto, a sistemática
também desejará consultar seus resultados com aqueles da teologia exegética, da história do
dogma, e da filosofia da religião.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 16
UUNNIIDDAADDEE IIII
OO DDEESSEENNVVOOLLVVIIMMEENNTTOO DDEE UUMM EESSBBOOÇÇOO PPAARRAA AA TTEEOOLLOOGGIIAA DDOO AANNTTIIGGOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO
...............................................................
“O propósito da Teologia Bíblica, segundo Ladd é de expor a teologia encontrada na Bíblia em seu próprio
contexto histórico, com seus principais termos, categorias e formas de pensamentos”.
..............................................................
AA TTEEOOLLOOGGIIAA NNAA HHIISSTTÓÓRRIIAA
Um tratamento adequado dos agrupamentos conceptuais da teologia do AT exige que tenhamos
consciência da seqüência de eventos históricos na vida de Israel. A teologia de Israel — e a nossa —
está arraigada na história. Dessa forma, Hebreus 1.1-2 continuou essa seqüência quando afirmou
que "Havendo Deus, outrora, falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas,
nestes últimos dias nos falou pelo Filho". Contrariamente à opinião prestigiosa de Gerhard von Rad
e sua escola, o AT de fato fazia reflexões sobre a história de Israel de acordo com um princípio pré-
anunciado de seletividade. Esse princípio, mediante o qual incidentes históricos eram incluídos ou
rejeitados era a consistente declaração profética: "Assim diz o Senhor". Esta declaração estava longe
de ser mera assimiladora sincretista de tradições que, mecânica ou carismática mente colavam
tradições existentes e as interpretavam à luz do dia atual. Pelo contrário, havia um princípio único,
um entendimento único de toda a revelação, que solucionava a situação para os escritores. Era a
"Promessa" revelada de Deus, em que Ele seria a esperança de todos os homens e que levaria a efeito
uma obra divina de implicações universais. sta ênfase não é a de uma imposição fideística de uma fé
cristã posterior sobre o texto, nem o resultado dè um mínimo cientificamente assegurado tirado de
tipos destrutivos de crítica histórica e literária. Pelo contrário, é a reivindicação do próprio cânon
conforme agora existe. lém disto, uma ordem definida de eventos e significados centrais torna-se o
sujeito repetido de numerosas seções nos Salmos (136, 105, 78) e nos profetas (Jr 2; Ez 16, 20, 23).
Começando ou com a Criação ou com o chamado de Abraão, a narrativa usualmente seguia o
mesmo padrão de seletividade e ênfase. substância daqueles eventos, especialmente selecionados e
interpretados pelos escritores do AT, também poderia ser registrada em breves resumos, tais qual
aquele que Gerhard von Rad designou como um Credo israelita antigo Deuteronômio 26.5 9: “Ara
meu, prestes a perecer, foi meu pai, e desceu para o Egito, e ali viveu como estrangeiro com pouca
gente; e ali veio a ser nação grande, forte e numerosa. Mas os egípcios nos maltrataram e afligiram, e
nos impuseram dura servidão. Então, clamamos ao SENHOR, Deus de nossos pais; e Javé ouviu a
nossa voz, e atentou para a nossa angústia, para o nosso trabalho e para a nossa opressão; E Javé nos
tirou do Egito com poderosa mão, e com braço estendido, e com grande espanto, e com sinais, e com
milagres; e nos trouxe a este lugar, e nos deu esta terra, que mana leite e mel”. emelhantemente,
Josué 24.2-13 passou em revista mais ou menos a mesma narrativa histórica em uma forma que
assumiu um status legal enquanto os cidadãos de Israel juntamente serviam como "testemunhas
contra si mesmos" (v. 22) quanto à veracidade e significado desta seqüência histórica de eventos (v.
27). isto se acha a unidade interna da história de Israel e da sua teologia. Era mais do que uma forte
tendência para a unificação"; era um fato da vida, e vida dos fiéis. Foi enfileirada no varal da
história, mas continha motivos conceptuais acompanhantes que, segundo declaravam os escritores,
não eram invenção própria mas, sim, formados por Deus. Ele tinha o direito exclusivo de
interpretar, definir valores, ver significâncias, e indicar a interpretação para aquele tempo e para o
futuro. O que se diz, porém, da seqüência histórica? Como é que se devem agrupar os eventos? á
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 17
uma convenção conceptual que se pode tomar emprestada da sistemática para a organização da
teologia do AT? E, se houver um método de estudo que melhor se enquadre nas necessidades de um
novo tipo responsável de teologia exegética que toma cuidadosa nota do emprego feito pelo autor
quanto à linguagem, primeiramente à luz da coletânea que herdou de termos e conceitos tirados dos
antecedentes bíblicos até o dia dele, quais são os pontos divisivos disto, na história? A estas
perguntas procuramos responder.
OOSS PPEERRÍÍOODDOOSS HHIISSTTÓÓRRIICCOOSS DDAA TTEEOOLLOOGGIIAA DDOO AANNTTIIGGOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO
Assim como os apóstolos do NT com suas epístolas, eram, de muitas maneiras, os intérpretes dos
Atos e dos Evangelhos, assim também a teologia do AT poderia semelhantemente começar com os
profetas por um motivo bem semelhante. No entanto, mesmo para o fenômeno da profeciabíblica,
havia a realidade sempre presente da história de Israel. Toda a atividade salvífica de Deus em
tempos anteriores tinha que ser reconhecida e confessada antes de alguém poder ver mais firme e
holisticamente a revelação adicional de Deus. Devemos, portanto, começar onde Deus começou: na
história — história verdadeira e real — com a geografia, homens e eventos que a acompanharam.
Prolegômenos à Promessa: a Era Pré-patriarcal
A aliança abraâmica é citada pela primeira vez em Gênesis 12.1-3. Marca o início não somente da
eleição divina do homem através do qual salvaria o mundo inteiro se os homens apenas
acreditassem, como também da história e da teologia de Israel. Sem dúvida, Abraão ocupou um
lugar de destaque no auge da revelação. Nem por isto, porém, devemos menosprezar os momentos
que levaram a isto como tendo pouca significância ou até nenhuma existência. O texto avança da
extensão de toda a criação para o bairrismo e limitações que resultaram dos pecados sucessivos da
humanidade. Mas também avança da tríplice tragédia do homem como resultado da Queda, do
Dilúvio e da fundação de Babel para a universalidade da nova provisão da salvação da parte de
Deus para todos os homens, através da descendência de Abraão. Além disto, a palavra e conceito
principal é a "bênção" repetida da parte de Deus — uma "bênção" que, no início, existia apenas no
estado embrionário, mas que estava interligada com bênçãos e palavras de promessa subseqüentes
das mãos de um Deus gracioso e amoroso. No início, trata-se da "bênção" da ordem criada. Depois, é
a bênção da família e da nação, em Adão e Noé. O auge veio na quíntupla bênção para Abraão em
Gênesis 12.1-3, que incluía bênçãos materiais e espirituais. No sentido, portanto, de serem uma
palavra antes de uma palavra, de se adiantarem em forma germinativa, estas bênçãos da revelação
em Gênesis 1-11 poderiam ser chamadas prolegômenos à promessa. O espírito do modernismo tem
achado objeçoes sérias quanto ao tratar Gênesis 1-11 de modo direto. Nós, no entanto, acreditamos
haver pouca base para tais objeçoes, que são defendidas de modo inadequado. Nossa própria
posição tem sido tratar os registros â altura daquilo que alegam ser, até que o contrário seja provado
por artefatos, epígrafes, ou fatos evidenciais relacionados.
Provisões na Promessa: Era Patriarcal
Esta era foi tão significativa que Deus Se anunciava como "Deus dos patriarcas" ("pais"), ou "Deus de
Abraão, de Isaque e de Jacó". Além disto, os patriarcas eram considerados "profetas" (Gn 20.7; SI
105.15). Aparentemente era porque pessoalmente recebiam a palavra de Deus. Freqüentemente, a
palavra do Senhor "veio" a eles de modo direto (Gn 12.1; 13.14; 21.12; 22.1) ou o Senhor "apareceu" a
eles numa visão (12.7; 15.1; 17.1; 18.1) ou na personagem do Anjo do Senhor (22.11,15). Os períodos
de vida de Abraão, Isaque e Jacó formam outro tempo distintivo no fluxo da história. Estes três
recipientes privilegiados da revelação viram, experimentaram e ouviram tanto, ou mais, durante o
conjunto de dois séculos representado pelas vidas combinadas deles, do que todos aqueles que
viveram durante os milênios anteriores! Como conseqüência, podemos, com toda a segurança,
delinear Gênesis 12-50 como nosso segundo período histórico no desdobrar da teologia do AT,
exatamente como foi feito por gerações posteriores que tinham o registro escrito das Escrituras.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 18
O Povo da Promessa: a Era Mosaica
Um filho (Gn 3.15) nascido a um semita (Gn 11.10-27) chamado Abraão haveria de ser o instrumento
para formar um povo e, finalmente, uma nação separada. Este chamado para aceitar a condição de
nação significava que a "santidade" ou separação para Deus, não era um aspecto opcional. Portanto,
ambos o conceitos receberiam mais atenção durante esta era da revelação. Israel foi então chamado
"reino de sacerdotes e nação santa" (Êx 19.6). Deus, com todo o amor, delineava os meios morais,
cerimoniais e civis de se cumprir tão alta vocação. Viria no ato primário do Êxodo, com a graciosa
libertação de Israel do Egito, operada por Deus, a subseqüente obediência de Israel, em fé, aos Dez
Mandamentos, a teologia do tabernáculo e dos sacrifícios, e semelhantes detalhes do código da
aliança (Êx 21-23) para o governo civil. Toda a discussão quanto a ser um novo povo de Deus se
derivava de Êxodo 1-40; Levítico 1-27; e Números 1-36. Durante esta era inteira, o profeta de Deus
foi Moisés — um profeta sem igual entre os homens (Nm 12.6-8). De fato, Moisés foi o padrão para
aquele grande Profeta que estava para vir, o Messias (Dt 18.15-18).
O Lugar da Promessa: A Era Pré-Monárquica
Uma das partes da promessa de Deus que recebeu uma descrição detalhada nos eventos da história
e nas páginas das Escrituras foi a conquista da terra de Canaã. A promessa da terra como lugar onde
Deus faria descansar o Seu nome já tinha, a esta altura, seis séculos de idade. A antiga palavra dada
a Abraão agora receberia pelo menos um cumprimento seminal. Dessa forma, Deuteronômio, com
sua preocupação com respeito a este lugar de descanso (12.8-11) e o livro de Josué, com sua
descrição da conquista daquela terra, claramente se juntam em conceito e ato. Temos aqui, porém,
uma clara unidade de história que pode ser distinguida tão nitidamente como o foram as eras
patriarcal ou Mosaica pelas próprias declarações das Escrituras? E esta história deve se estender ao
longo do período dos juízes para incluir a teologia das narrativas da arca da aliança em 1 Samuel 4-
7? Estas perguntas não aceitam conclusões decisivas — os tempos se tornaram tão distorcidos é tudo
parecia estar em tantas mudanças subseqüentes devido ao declínio moral do homem e à falta da
revelação da parte de Deus. De fato, a palavra de Deus se tornara "rara" naqueles dias em que Deus
falou a Samuel (I Samuel 3.1). Conseqüentemente, as linhas de demarcação não se escrevem tão
nitidamente, embora os temas centrais da teologia e os eventos-chave sejam bem registrados
historicamente. No plano, portanto, é permitir uma parte sobreposta durante este período da
conquista e ocupação da terra. Esta parte sobreposta fica entre o tema do lugar de descanso e o
surgimento de exigência de um rei para reinar sobre uma nação que se cansou da sua experiência
em teocracia conforme ela era praticada por uma nação rebelde. O melhor que se pode dizer do
período pré-monárquico é que era um tempo de transição. A história de Josué, Juízes e até Samuel e
Reis, no entanto, era avaliada do Ponto de vista do padrão moral de Deuteronômio. E seus pontos
principais de conexão foram facilmente discernidos: Deuteronômio 28, 31; Josué 1, 12, 24; Juízes 2; I
Samuel 12; 2 Samuel 12; I Reis 8; e II Reis 17. Estes momentos significantes na História da revelação
deste período são usualmente reconhecidos pela maioria dos os bíblicos de hoje.
O Rei da Promessa — a Era Davídica
Aquilo que Gênesis 12.1-3 era para o período patriarcal, II Samuel 7 é para os tempos de Davi. Os
quarenta anos do reino de Davi se comparam, quanto à sua duração, com a era mosaica, mas sua
importância para as gerações futuras está além de toda a comparação. Como prelúdio à história
deste período, os sinais precoces de aspirações régias no filho de Gideão, Abimeleque, o pedido do
povo no sentido de lhe ser dado um rei, quando Samuel era juiz (I Sm 8-10), e até o reinado de Saul
nos preparam negativamente para o grandioso reinado de Davi (I Sm 11 — II Sm 24; I Rs 1-2; e
salmos davídicos reais tais como SI 2,110,132,145). A história e a teologia se combinavam para
enfatizar os temas de uma dinastia real continuada, e um reino perpétuo com um domínio e alcance
que se tornaria universal na sua extensão e influência. Mesmo assim, cada um destes motivos régios
foi cuidadosamente vinculado com idéias e palavras de tempos anteriores: uma "descendência",um
"nome" que "habitava" num lugar de "descanso", uma "bênção" para toda a humanidade, e um "rei"
que agora reinava sobre um reino que duraria para sempre.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 19
A Vida na Promessa: a Era SapiênciaI
Os quarenta anos de Salomão foram marcados pela edificação do templo e por outro derramamento
de revelação divina. Parcialmente, este período em muito se assemelha aos tempos pré-
monárquicos, sendo que ele, também, é parcialmente transicional em seu caráter. Mesmo assim,
também tinha seu próprio caráter distintivo. Nenhum período de tempo é mais difícil de se
relacionar com a totalidade de uma teologia do AT que sempre avançava, do que este da literatura
sapiênciaI desta era, achada em Provérbios, Eclesiastes, Cantares, e os Salmos Sapienciais. Mesmo
assim, da mesma forma como a lei mosaica pressupunha a promessa patriarcal e edificava sobre ela,
assim também a sabedoria salomônica presupunha tanto a promessa abraâmico-davídica como a lei
mosaica. O conceito-chave da era sapiênciaI era "o temor do Senhor" — uma idéia que já começou
na era patriarcal como a resposta da crença fiel (Gn 22.12; 42.18; Jó 1.1, 8-9; 2.3). Foi este vínculo de
conexão que fazia a promessa e a lei compartilharem da beleza e plenitude de toda a vivência
humana no aqui e agora. O temporal veio a ser mais do que mera existência; a vida podia agora ter
significado, prazer, e a unificação com valores e compromissos eternos.
O Dia da Promessa: Século Nono
O "Dia da Promessa" é o primeiro de cinco grandes eras proféticas, cada uma com sua própria
ênfase básica, estendendo-se da divisão do reino em 931 a.C. até a situação pós-exílica. Agora que a
"casa" de Davi e o templo de Salomão tinham sido estabelecidos, os objetos de cada uma das
promessas com facetas múltiplas chegaram a um planalto provisório no seu desenvolvimento. O
monarca futuro de Deus agora era visível na linhagem de Davi, e a presença pessoal de Deus no
meio dos Seus súditos que O adoravam era dramatizada no templo. Sendo assim, os profetas
poderiam agora focalizar sua atenção sobre o plano e reino de Deus no seu alcance mundial.
Infelizmente, porém, o pecado de Israel também exigiu boa parte da atenção dos profetas. Mesmo
assim, misturadas com estas palavras de julgamento havia, persistentemente enxertadas,
perspectivas brilhantes de outro dia quando o domínio e governo eterno de Deus, conforme fora
anunciado havia tanto tempo, receberia sua realização mais plena. Muitos colocam Joel e Obadias
no século nono como os mais antigos dos profetas escritores. Enquanto Obadias poderia ser
colocado em qualquer um dos três tempos diferentes na história de Judá, o melhor seria
provavelmente durante o reinado de Jeorão (853-841 a. C), quando Edom se revoltou contra Judá
juntamente com os árabes e filisteus (II Rs 8.20-22; II Cr 21.8-10, 16, 17). Da mesma forma, Joel
usualmente é colocado no reinado de Joás de Judá (835-796 a. C.) uma vez que não se menciona a
Assíria, a Babilônia ou a Pérsia na longa lista dos inimigos de Israel — presumivelmente porque
ainda não estavam no cenário histórico. Se este reinado for o período geral do tempo, então o livro
deve vir cedo no reinado, digamos de 835-820, enquanto o piedoso sumo sacerdote Joia-da agia
como conselheiro do jovem rei Joás. Independentemente da data final que se atribua a Joel e
Obadias, sua teologia é clara: é o dia do Senhor. Há de vir um dia em que Javé se vindicará por
obras da salvação e julgamento tão grandiosas que todos imediatamente reconhecerão estas obras
como sendo divinas na sua causa. Naquele período, Deus completará tudo Quanto os profetas
antecipavam, e tudo quanto o remanescente fiel esperança. A praga de gafanhotos em Joel e a
preocupação de Obadias quanto à falta de amor fraternal por parte de Edom eram oportunidades
para a renovação e expansão da antiga palavra de promessa da parte de Deus.
O Servo da Promessa: o Século Oitavo
A quinta-essência da teologia do AT atingiu seu auge durante o século oitavo. Incluía as obras de
profetas tais como Jonas, Oséias, Amós, Isaías e Miquéias. Graciosamente, cada um foi enviado mais
ou menos uma década antes do julgamento ameaçado contra Damasco, capital da Síria, que caiu em
732 a. C, e Samaria, capital das dez tribos nortistas de Israel, que caiu em 722 a. C. Nada pode
descrever adequadamente as alturas estonteantes que cada um destes profetas atingiu em seus
escritos. De fato, "Com quem comparareis a Deus? ou que coisa semelhante confrontareis com ele? "
perguntou Isaías aos de seus dias e dos nossos (Is 40.18). Miquéias perguntou: "Quem, ó Deus, é
semelhante a ti, que perdoas a iniqüidade? " (Mq 7.18). E Amós anunciou abertamente que Deus
voltaria a levantar "o tabernáculo caído de Davi" (Am 9.11). O que dominava a era inteira, porém,
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 20
era aquela teologia magnífica do AT, em forma pequena, de Isaías 40-66, com sua personagem-
chave, o Servo do Senhor, da descendência de Abraão e Davi.
A Renovação da Promessa: Século Sétimo
No fim do século sétimo chegou outra sucessão de profetas que escreviam: Sofonias, Habacuque,
Naum e Jeremias. Mais uma vez Naum advertiu (como Jonas fizera mais de um século antes) que a
destruição iminente cairia sobre a cidade assíria de Nínive (o que ocorreu de fato em 611 a.C). Os
outros três profetas, semelhantemente, deram advertências contra a capital de Judá, Jerusalém, que
foi atacada em 606, 598, e que caiu finalmente em 586 a.C. Se os homens somente se arrependessem,
poderiam se salvar dos horrores e da realidade da desolação que ameaçavam chegar.
Mesmo assim, a melancolia desolada não era a única palavra para Judá; havia a alegre perspectiva
de uma aliança renovada para um remanescente crente e fiel. Jeremias a entitulava a "Nova aliança"
e edificou ao derredor dela um programa para o rejuvenescimento de todos os homens, nações e
natureza no seu livrinho de consolo (Jeremias 30-33). E, para Sofonias, havia mais luz sobre aquele
dia do Senhor que haveria de vir. Entrementes, Habacuque trovejava sua solução a seus próprios
momentos de desespero e dúvida: o justo viveria pela fé. Mesmo assim, os temas estavam clara e
destacadamente presentes neste novo avanço. As linhas de continuidade se estendiam
especialmente para aqueles dias em que a fórmula em três partes, primeiramente ouvida pelos
patriarcas e por Moisés, seria uma realidade total: "Eu serei vosso Deus; vós sereis meu povo, e Eu
habitarei no meio de vós." Assim haveria de ser então e no futuro.
O Reino da Promessa: os Tempos Exílicos
Ezequiel e Daniel, enquanto viviam no Exílio Babilónico, continuavam a aguçar ainda mais
claramente como o "Bom Pastor" vindouro um dia reinaria sobre um Israel reunido, com doze
tribos, em Canaã. Sim, o Filho do homem viria com as nuvens do céu e a Ele seriam dados domínio,
glória e um reino dentro do qual todos os povos, nações e línguas serviriam a Ele. Seu domínio seria
um domínio eterno que não passaria, e Seu reino seria de qualidade indestrutível. Os reinos da terra
poderiam chegar e ir embora, mas o reino dEle nunca sucumbiria. Com esta nota régia, estes dois
profetas exilados levaram Israel para o século sexto e para um dia novo para toda a humanidade. O
escopo e a majestade daquilo que tão antigamente tinha sido prometido a Abraão e a Davi era
estonteante.
O Triunfo da Promessa: os Tempos Pós-Exílicos
Juntamente, as história de Esdras-Neemias, Ester, Crônicas, e as profecias de Ageu, Zacarias e
Malaquias formam a nota final da revelação do cânon do AT. Avançam das condições de desânimo
em Israel após o retorno dos setenta anos de cativeiro na Babilônia, para o triunfo completo da
pessoa, palavra e obra de Deus. O que parecia pequeno e insignificante para eles num dia como 520
a.C. estava diretamente vinculado, em glória e durabilidade,com o encerramento da história
humana, feito por Deus. O templo reedificado era pequeno e insignificante aos olhos deles? Mas era
aquele templo mesmo cuja glória seria ainda maior do que a do templo de Salomão. Nenhum
trabalho feito com a insistência dos profetas de Deus poderia ser julgado em bases somente
empíricas. Havia a conexão maior da parte à totalidade do final da história dirigido por Deus. Os
homens agora devem olhar para cima, crer, e trabalhar. Seu Rei estava para vir, montado num
jumento, e trazendo salvação (Zc 9.9). Ele ainda sairia para lutar contra todas as nações da terra, que,
num certo dia final, se reuniriam para batalhar contra Jerusalém (Zc 14). E, como se fosse para
restabelecer a validade das raízes desta visão messiânica do reino de Deus na terra, o cronista fez
uso da história passada de Israel para mostrar a normalidade desta visão conforme o padrão da
"casa" davídica e o templo e culto salomônicos. Assim se estendia a história de Israel no tempo, mas
as raízes seminais de sua teologia permaneciam intactas enquanto a planta crescia, desenvolvendo-
se em árvore formada, com cada crescimento novo.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 21
OOSS IITTEENNSS--CCHHAAVVEE EEMM CCAADDAA PPEERRÍÍOODDOO HHIISSTTÓÓRRIICCOO
A situação é exatamente aquela avaliada por Patrick Fairbairn: Neste esboço que apresentamos,
mormente porque vincula de modo feliz o começo com o fim, e exibe a analogia que subsiste entre o
modo de Deus operar na natureza e na graça, somente alguns dos vínculos mais óbvios são
notados. Quando se examina o assunto mais de perto, muito mais se descobre do desdobrar
progressivo da primeira promessa e a interconexâo entre ela e profecias subseqüentes e destas, por
sua vez, uma com a outra. Assim sendo, a primeira palavra de bênção promessa da parte de Deus
na Criação foi seguida por aquela palavra embrionária no Éden, dada à descendência da mulher:
sempre haveria uma Descendência vitoriosa contra os ataques da descendência de Satanás. Antes
de chegarmos aos tempos de Abraão, esta palavra é estendida no seu alcance, na bênção que Noé
pronunciou sobre Sem, para uma raça ou linhagem inteira, em cujos tabernáculos Deus habitaria.
Daí, os Itens-chave nesta época pré-patriarcal serem "bênção", "descendência" e uma raça no meio
da qual Deus "habitaria". Os patriarcas também receberam livremente a bênção de Deus num
herdeiro ("semente"), numa herança ("terra"), e numa tradição herdada ("todas as nações da terra
serão abençoadas" — o evangelho conforme Gl 3.8). A era mosaica em primeiro lugar ressaltava
Israel como "filho" de Deus, Seu "primogênito". Com o Êxodo, Deus chamou os israelitas
conjuntamente para serem "sacerdócio real e nação santa" para Ele. Havia, subordinada a esta alta
escolha para privilégio, uma eleição para serviço. Israel tinha que ser santo e limpo. "Santo" queria
dizer total e inteiramente separado para Deus, em corpo, alma, e vida. "Limpo" queria dizer que
Israel tinha que ser preparado e digno da adoração a Deus. No Êxodo, instrução adequada na
moralidade apropriada se vinculava com o caráter e obra permanentes de Deus. Semelhantemente,
havia provisão para a restauração ao favor divino no caso de qualquer fracasso humano quanto a
atingir aquele padrão moral, provisão esta que foi dada no sistema sacrificial. Os temas da era
pré-monárquica giram em torno do "descanso" de Deus, do Espírito de Deus, da arca da aliança, e
da injunção de se amar, temer e servir a Deus com todo o coração, alma, força e mente. Para Davi,
era uma dinastia ("uma casa"), um "trono" e um "reino". Para Salomão era o "temor a Deus" como
princípio da sabedoria, do viver, do saber, e do agir. Assim como o palácio era o símbolo da era
anterior da monarquia, especialmente sob os dias gloriosos de Davi, assim também o templo, e a
casa edificada peta sabedoria, eram as marcas da era salomônica. Os profetas então tomavam, em
seqüência, os temas do dia do Senhor, do Servo do Senhor, da Nova aliança, do reino de Deus, e do
triunfo do plano de Deus. Tudo pertencia, porém, a um só plano. Conforme o resumo de Carl Paul
Caspari: “Os profetas do antigo Testamento formam uma sucessão regular; são membros de uma
corrente contínua sem quebras. Quando, portanto, o Espírito de Deus vinha sobre um profeta e
irresistivelmente o impulsionava a profetizar (Amós 3.8), em primeiro lugar, isto ocorria
naturalmente aqui e ali, às vezes mais, às vezes menos, vestia-se daquilo que o Espírito transmitia a
ele em palavras de um ou outro dos profetas que ouvira ou lera — sendo que as palavras do seu
precursor profético se apegavam à sua memória, formando parte das matérias de expressão das
quais o Espírito fazia uso; e, em segundo lugar, que o profeta posterior se vinculava aos pontos de
vista proféticos do anterior, e, no poder do Espírito profético ou os confirmava de novo por nova
promulgação, ou os expandia e completava. E assim se poderia dizer com respeito ao cânon inteiro
do AT.
A Provisão Para Itens De Tipo Único
Nem tudo era amena repetição, nem um remoldar em novas situações as palavras de um ou mais
dos precursores do escritor. Havia, para empregar outra vez as palavras de Caspari, “uma nova
promulação” que desenvolvia áreas de pensamento quase completamente novas naquele plano
único da promessa de Deus. Enquanto cada uma dessas novas ramificações de ensinamento foram
freqüentemente vinculadas por antecedentes históricos ou como resposta ao cânon acumulado até
aquele ponto, muitas vezes eram tão surpreendentes na sua novidade que ameaçavam tentativas
posteriores de achar a pista da sua continuidade dentro do cânon existente. O melhor exemplo
disso, sem duvida, é a literatura sapiencial. Era tão diferente e diversa da revelação que dizia-se
anterior a ela, que muitos, até ao dia presente, não podem ver conexão alguma. Conseqüentemente,
pode-se sar isso como sinal seguro de um item único e inovador se há pessoas dispostas concluir
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 22
que se trata de uma coisa estranha, avulsa, uma novidade inconexa. Em segundo lugar depois da
literatura sapiêncial quanto às conexões, vem lei e sua colocação ao lado da promessa abraâmico-
davídica Mais uma vez, porém, texto insiste nos seus pontos de continuidade, especialmente com a
era patriarcal. A quantidade enorme da revelação original que desenvolve aquilo que significa ser
povo de Deus é estonteante. A lei também deve ser registrada como outro exemplo-chave de um
item novo de primeira grandeza na revelação do plano único de Deus. De fato, é tão novo que a
maioria, outra vez, duvida mais da sua continuidade de que das suas capacidades inovadoras. Há
mais, no entanto, que deve ser alistado aqui, além da sapiência e da lei. Havia, de um lado, o
constante estreitamento e o tornar mais específico daquilo que o cumprimento final haveria de ser.
Era um tipo de eleição dentro da eleição, o homem Davi de uma tribo de Judá, de uma nação Israel,
de uma raça de semitas, da descendência de uma mulher. Do outro lado, havia a expansão e
completação constantes das projeções nascentes, em eventos, pensamentos e expressão. Neste
processo, houve o constante erguer dos termos técnicos, esperanças e conceitos dos precursores do
escritor, enquanto continuava a corrente inteiriça e contínua dos detalhes emergentes do plano de
Deus: Sua promessa. Cada novo escritor, no entanto, acrescentava algo ao tema. Os escritores do
AT eram mais do que meros papagaios. Eram participantes numa longa linhagem de revelação,
sem dúvida, mas também eram, por excelência, recipientes de revelação adicional.
OO EESSBBOOÇÇOO RREESSUULLTTAANNTTEE
O formato que emerge como resultado para a teologia do AT, com sua base longitudinal
diacrônicae implicações normativas para teologia exegética ou para pregação expositiva, é o
seguinte:
Prolegômenos à Promessa: a Era Pré-patriarcal
A. A Palavra de Criação
B. A Palavra de Bênção
C. A Primeira Palavra de Promessa: Uma Descendência
D. A Segunda Palavra de Promessa: O Deus de Sem
E. A Terceira Palavra de Promessa: Uma Bênção para Todas as Nações
Provisões na Promessa: a Era Patriarcal
A. A Palavra de Revelação
B. A Palavra da Promessa
1. Um Herdeiro
2. Uma Herança
3. Uma Tradição Herdada
C. Uma Palavra de Segurança
D. O Soberano da Promessa
E. O Deus da Promessa
O Povo da Promessa: a Era Mosaica
A. Meu Filho, Meu Primogênito
B. Meu Povo, Minha Possessão
C. Sacerdotes Reais
D. Uma Nação Santa
E. A Lei de Deus
F. O Deus que Habita (O Deus "Tabernaculador")
O Lugar da Promessa: a Era Pré-Monárquica
A. A Herança da Terra
B. O Descanso na Terra
C. O Lugar Escolhido na Terra
D. O Nome Habitando na Terra
E. A Conquista da Terra
F. A História Profética na Terra
1. Arrependimento e Bênção
2. A Palavra Predita e o Evento Cumprido
3. Um Profeta como Moisés
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 23
O Rei da Promessa: a Era Davídica
A. Um Rei Prometido
1. Um Soberano Usurpador
2. Um Soberano Rejeitado
3. Um Soberano Ungido
B. Uma Dinastia prometida
1. Uma Casa
2. Uma Descendência
3. Um Reino
4. Um Filho de Deus
C. Uma Carta magna para a Humanidade
D. Um Reino Prometido
1. A Arca e o Reino
2. Os Salmos Reais e o Reino
3. A Narrativa da Sucessão e o Reino
A Vida na Promessa: a Era Sapiencial
A. O Temor do Senhor
B. Vida no Senhor
C. A Integração da Vida e da Verdade no Senhor
D. Sabedoria da parte do Senhor
E. Eudemonismo e o Senhor
O Dia da Promessa: Século Nono
A. Os Profetas e a Promessa
B. A Promessa no Século Nono
C. Edom e a Promessa: Obadias
D. O Dia do Senhor: Joel
O Servo da Promessa: Século Oitavo
A. Reedificando o Tabernáculo Caído de Davi: Amós
B. Livremente Amando a Israel: Oséias
C. A Missão aos Gentios: Jonas
D. O Soberano de Israel: Miquéias
E. O Teólogo da Promessa: Isaías
A Renovação da Promessa: Século Sétimo
A. Nova Visita à Missão aos Gentios: Naum
B. O Dia do Senhor: Sofonias
C. O Justo Viverá pela Fé: Habacuque
D. A Palavra do Senhor: Jeremias
O Reino da Promessa: o Período do Exílio
A. O Reinado do Bom Pastor: Ezequiel
B. O Sucesso do Reino Prometido: Daniel
O Triunfo da Promessa: os Tempos Pós-Exílicos
A. O Anel de Selar de Deus: Ageu
B. O Herói Conquistador de Deus: Zacarias
C. O Mensageiro de Deus da Aliança: Malaquias
D. O Reino é do Senhor: Crônicas, Esdras-Neemias, Ester
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 24
UUNNIIDDAADDEE IIIIII
AASS CCOONNEEXXÕÕEESS AATTRRAAVVÉÉSS DDAASS ÉÉPPOOCCAASS HHIISSTTÓÓRRIICCAASS DDEE TTEEMMAASS EEMMEERRGGEENNTTEESS
...............................................................
“A Teologia do Antigo Testamento esforça-se para expor, do modo mais ordenado possível, as
grandes declarações da verdade divina que ocorrem nesses escritos”.
..............................................................
AA TTEEOOLLOOGGIIAA
Cada vez que os teólogos bíblicos identificam alguns termos chaves, ou categorias, como centro
teólogico para organizar a teologia que se desenvolve, de um ou de outro dos testamentos, ou
ambos (como nós também aqui), imediantamente se veêm confrontados com a massa de ênfases
diversas nas Escrituras. Para alguns, é mais do que uma diversidade de matérias. A multiplicidade
de idéias é explicada por nada menos que contradições e mudanças de opinião entre os sucessivos
escritores das Escrituras. Mesmo quando o texto é tratado de modo justo na sua forma canõnica
final, a questão da diversidade ainda permanece; e o alvo de atingir uma teologia unificada parece
desesperadamente impossível. Mesmo assim, ainda depois das avaliações mais prejudiciais terem
sido removidas por um tipo objetivo de alta crítica, quatro pontos-chave de tensão permanecem
como símbolos do fato de que o AT parece conter uma variedade de pontos devista mais do que um
único tema integrado. Se fosse possível edificar pontes que atravessassem estas muralhas altas,
talvez houvesse esperança para o projeto inteiro de escrever uma teologia do AT com um enfoque
central. As quatro conexões cruciais são:
A "Bênção" pré-patriarcal e a “Promessa patriarcal”.
A "Promessa" patriarcal e a “Lei mosaica”.
O "Deuteronomismo" pré-monárquico e a “Promessa davidica”.
A "Teologia de Criação" Sapiencial e a "Promessa" Profética.
Seja o que mais for necessário como prolegômenos à teologia bíblica, as ênfases variadas destas
eras tomam a primazia sobre qualquer outra discussão. Uma solução plausível para estas conexões
reconhecidamente difíceis contribuiria significativamente ao tipo de teologia do AT que se procura
produzir aqui.
AA ""BBÊÊNNÇÇÃÃOO"" PPRRÉÉ--PPAATTRRIIAARRCCAALL EE AA ""PPRROOMMEESSSSAA"" PPAATTRRIIAARRCCAALL
Parece haver pouca dúvida de que o motivo-chave das narrativas da criação era a "bênção" de Deus
sobre as criaturas do mar e do ar (Gn 1.22) e sobre o homem e a mulher (v. 28). Não havia
dificuldade em explicar aquela bênção, tampouco; era uma capacidade e um resultado, para
resumir Pedersen. A criação de Deus tinha que ser prolífica e abundante na terra. Esta bênção
divina foi continuada em Gênesis 5.2 e depois do Dilúvio em Gênesis 9.1. A benção, porém, estava
presente mesmo à parte da palavra “abençoar” ou da fórmula: “E Deus os abençoou, dizendo: ‘Sede
fecundos, multiplicai-vos e enchei a terra’ “. Conforme Claus Westermann argumentou
corretamente, a benção é subentendida naquilo que ele chamou “Heilsschilderung” (representação
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 25
da salvação). É nosso argumento que tais “Heilsschilderung” também estão presentes em passagens
pré-patriarcais tais como Gênesis 3.15 e 9.27. Sendo assim, a benção se vê no conceito, na formula, e
nos atos divinos. O vínculo óbvio entre Gênesis 1-11 e a era patriarcal é um que o próprio texto faz
com suas cinco repetições da "Bênção" dada a Abraão em Gênesis 12.1-3. Tanto Zimmerli4 como
Blythin5 notaram esta associação de "bênção" com o tema de "promessa" no registro patriarcal. No
entanto, não levaram, como nós levamos, suas observações de volta para Gênesis 1-11, nem
notaram que esta ênfase recaía justamente onde as duas épocas se encontraram no cânon; Gênesis
12.1. A época anterior terminara com a pergunta: o que poderia ser feito erp prol das nações em
geral que estavam mais e mais alienadas de Deus que as fizera eas abençoara com tanta
proliferação? E a resposta veio na forma de outra bênção. Deus introduziu um semita tendo por
nome Abraão, Nele, todas as famílias da Terra achariam bênção. De fato, o verbo "abençoar"
aparece 82 vezes nas narrativas patriarcais. Assim sendo, a transição verbal e conceptual era suave,
contínua e deliberada. Mas há mais. A bênção foi expressamente continuada de pai para filho em
várias situações, Isaque foi abençoado por causa do pai dele (Gn 26.24). Mesmo a fórmula de
bênção observada nas narrativas da criação aparece de novo: "Eu sou o Deus Todo-poderoso; sê
fecundo, e multiplica-te; uma nação e multidão de nações sairão de ti" (Gn 35.11). Em conexão com
o conceito de "bênção" havia a idéia de ter sucesso numa atividade, ou de ser tornado próspero por
Deus. O verbo sãlah ("tornar próspero", "trazer sucesso", foi empregado em Gênesis 24.21, 40, 42, 56
em paralelismo com barak, "abençoar" (Gn 24.1, 27, 31). Era a indicação da parte de Deus de que
Seu favor estava sobre os patriarcas — tudo quanto tentaram fazer era bem sucedido. Em
conseqüência, sentimos confiança em associar estes doisconceitos de "bênção" e "promessa" através
das duas eras, Embora não exista nenhum verbo ou substantivo distintivo em hebraico para
"promessa", a raiz barak na forma intensiva do verbo hebraico servia admiravelmente bem por
enquanto. Deus, no ínterim, continuava a anunciar Seus atos de futura libertação assim como Ele
graciosamente supria a humanidade e toda a criação com a capacidade e os resultados do sucesso
ali e então. Tanto a promessa como a bênção se intervinculavam tão de perto que muitos estudiosos
se puseram a buscar meios de segregar suas origens e interesses, Nunca houve, porém, uma
demonstração segura de dicotomização deles, muito menos um consenso entre estudiosos, Na
base dos resultados da crítica histórico-tradicional, muitos estudiosos (começando com Albrecht
Alt) têm alegado que cada patriarca tinha originalmente o seu próprio deus de clã, separado: ''O
Escudo de Abraão", "O Temor ou 'Parente Próximo' conforme Albright queria de Isaque", e "O
Poderoso de Jacó". Conforme Alt, "a escolha de Abraão e seus descendentes originalmente não tinha
nada que ver com Javé e Sua escolha de Israel, e, sim, remontava-se à religião dos deuses do Pai".
Sendo assim, havia dois atos de escolha (os patriarcas e Israel) e vários deuses (os três "deuses de
clã" dos patriarcas e o Javé de Israel). Semelhantemente, vinculadas a estas escolhas divinas, havia
as promessas destes deuses que invariavelmente se focalizavam em dois assuntos: o aumento da
posteridade dos patriarcas e sua possessão da terra de Canaã. Mas, mais uma vez, Alt divide a
totalidade, e concede aos patriarcas a primeira promessa e declara que a segunda é uma
retroprojeção editorial de volta aos tempos patriarcais, feita subseqüentemente à entrada de Israel
na terra. Enquanto Martin Noth asseverava que tanto a promessa de terras como a promessa de
uma descendência eram muito antigas, atribuía a Jacó, e não a Abraão, a maior preeminência
nesta era. Von Rad9 concordou semelhantemente. Para ele, a promessa dupla era muito antiga,
remontando até ao tempo dos patriarcas. Só que o entendimento israelita posterior quanto à terra
prometida era muito diferente daquilo que os patriarcas entenderam. Para eles, explicou von Rad,
tinha um cumprimento imediato e direto enquanto se estabeleceram na terra; mas, mais tarde,
veio a significar um retorno final sob Josué depois de uma ausência do país. Mesmo assim, ainda
persistiu uma profunda tendência entre os estudiosos modernos no sentido de associar as
passagens de "bênção" exclusivamente com preocupações de riquezas e filhos — talvez este fosse
até um rudimento de vestígios da sociedade e religião cananita — enquanto as passagens de
"promessa" focalizavam a preocupação pela terra. Nem a promessa nem a bênção, porém, foram
sincretisticamente criadas para o propósito imediato, a partir de experiências culturais ou imitações
de outras religiões que cercavam a Israel. A repetida alegação dos patriarcas que as promessas
foram dadas por revelações divinas, revelações que geralmente começavam com ''amar YHWH ou
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 26
wayyo'mer YHWH (Gn 12.1; 13.14; 18.13; 31.3). Não é verdade, outrossim, que estas bênçãos,
conforme a alegação, eram individuais e imediatas, enquanto, em contradistinção, as promessas
eram corporativas e futuras na sua natureza. Pelo contrário, as bênçãos-promessas foram
endereçadas àqueles descendentes do presente e do futuro na linhagem inteira dos fiéis que
tinham um indivíduo histórico representativo (e.g. Abraão, Isaque, Jacó) como sinal, ou penhor,
daquilo que Deus faria no futuro imediato e distante. Ao mesmo tempo, todos os descendentes eram
coletivamente incluídos na bênção e promessa. Todas as tentativas de dividir bênção-promessa
desmascaram a artificialidade e subjetividade destes esquemas, porque o texto na sua atual forma
canónica grita "não" a cada artifício desta natureza. Daí concluirmos que a generosa palavra de
Deus foi realizada na Sua "bênção" à humanidade em ambas as eras: "Sede fecundos, mutiplicai-
vos e enchei a terra" (Gn 1.28; 9.1, 7; 12.1-3; 35.11) e na Sua promessa e nas várias representações
da salvação (Heilsschilderungen) em ambas as eras, também: um descendente, raça, terra, bênção
para todas as nações, reis, etc. (Gn 3.15; 9.27; 12.2-3; 15.17). Alguns protestos dos estudiosos, de
modo contrário, apenas servem para comprovar a confiabilidade geral desta ligação.
AA ""PPRROOMMEESSSSAA"" PPAATTRRIIAARRCCAALL EE AA ""LLEEII"" MMOOSSAAIICCAA
Ainda mais séria era a disjuntura que surgiu entre a lei e a promessa. Aqui, lguns acreditavam
que até o apóstolo Paulo e o escritor ao Hebreus poderiam ser citados entre os que desvinculavam
a unidade da lei e da promessa, se não duvidavam dos próprios fatos do texto do AT. As
conexões, no entanto, eram mais uma vez tão claras em vários pontos que suspeitava-se,
injustamente, que os materiais patriarcais tinham recebido retroprojeções de matéria tirada do
mais grandioso momento de todos — o momento da formação da nação na libertação do Egito.
Tomemos, por exemplo, a fórmula de auto-predição ou auto-revelação achada em Êxodo 20.2 (e
cerca de 125 vezes no restante do AT): "Eu sou o SENHOR teu Deus, que te tirei da terra do Egito".
Uma fórmula semelhante existia em Gênesis 15.7: "Eu sou o SENHOR que te tirei de Ur dos
caldeus". Eram por demais semelhantes quanto à forma, conforme se alegava, para serem
independentes uma da outra. Que tipo de dependência, portanto, era atribuído? A prioridade de
Êxodo 20.2! Mas por que não o padrão oposto — mormente porque o texto alegava semelhante
padrão? Um texto deve ser considerado inocente até que seja comprovado culpado? Ou devemos
sempre supor que, sendo que é religioso ou bem antigo cronologicamente, tem de estar sob
suspeita? Semelhantemente, as indicações de uma epifania divina e os aspectos de temor e medo
que cercavam o recebimento da aliança por Abraão em Gênesis 15.17 foram mostradas para Israel
quando a aliança foi entregue no Sinai em Êxodo 19.18. A fumaça, a tocha de fogo e o fogareiro de
Gênesis 15 formaram paralelos com a fumaça, fornalha e fogo de Êxodo 19. Os textos declaram:
E sucedeu que, posto o sol, houve densas trevas; e eis um fogareiro fumegante, e uma tocha de
fogo que passou entre aqueles pedaços.
— Gênesis 15.17
Todo o monte Sinai fumegava, porque o SENHOR descera sobre ele em fogo; a sua fumaça
subiu como fumaça de uma fornalha.
- Êxodo 19.18
Semelhantemente, a frase patriarcal "o Deus do meu teu pai" continuava para dentro da época
mosaica. Deus, ao chamar Moisés, disse:
Eu sou o Deus de teu pai, o Deus de Abraão, o Deus de Isaque, e o Deus de Jacó. Moisés
escondeu o rosto, porque temeu olhar para Deus.
- Êxodo 3.6
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 27
Quando Israel foi libertado de Faraó, o povo cantou:
Javé é a minha força e o meu cântico; ele me foi por salvação; este é o meu Deus, portanto eu o
louvarei; ele é o Deus de meu pai, por isso o exaltarei.
— Êxodo 15.2
E, antes de Moisés se encontrar com seu sogro, Jetro, o filho daquele, Eliézer, é mencionado com a
seguinte explicação acompanhando o seu nome:
O Deus de meu pai foi a minha ajuda, e me livrou da espada de Faraó.
- Êxodo 18.4
É só comparar as mesmas fórmulas em Gênesis 26.24; 28.13; e 32.10.
O que Deus fez no Êxodo foidiretamente relacionado - aceitando-se aquilo que declara o cânon que
temos - a um relembrar da parte de Deus da Sua aliança com Abraão, Isaque e Jacó (Êx 2.24; 3.13,
15-16; 4.5; 6.3, 5, 8). A promessa da terra tomou a primazia por um momento — Ele jurara que a
daria aos pais (Êx 6.4, 8; 13.5, 11; 32.13; 33.1; Nm 10.29; 11.12; 14.23; 32.11). Os outros elementos
da "bênção" antiga, porém, também estavam evidentes: Êxodo 1.7, 9 ressalta setuplamente
(contando-se as expressões) o espantoso e rápido aumento dos israelitas para o maior desgosto
dos egípcios. Além disto, havia o "primogênito", "filho" de Deus, em Êxodo 4.22, que também
continuava o tema da "descendência". Dessa forma, o escritor de Êxodo viu o cumprimento de
partes da promessa antiga de bênção dada aos patriarcas. A aliança não tinha sido esquecida. A
continuidade da própria narrativa, no entanto, não era o problema que perturbava a maioria dos
teólogos. Era a natureza dos materiais em ambas as alianças. Sinai impôs mandamentos,
exigências e obrigações, enquanto os materiais em Gênesis pareciam refletir os dons da bênção e da
promessa. Aquele era o contraste que perturbava. Como poderia haver relacionamento no
conteúdo das alianças? Num estudo bem-recebido da estrutura literária do Hexateuco, Gerhard
von Rad11 indicava o credo de Deuteronômio 26.5-9 — e credos semelhantes, tais como Josué
24.16-18 — com sua confissão restringida aos começos patriarcais, à opressão no Egito, à libertação
do Egito e às peregrinações no deserto e à entrada em Canaã como o coração dos seis primeiros
livros do cânon. O aspecto mais marcante é que os eventos do Sinai, de fato, o coração do
Pentateuco, não são incluídos no credo. Von Rad tirou a conclusão, portanto, que os eventos do
Sinai pertenciam a uma tradição que — por antiga que pudesse ter sido — era separada, e a uma
história separada, que não tinha vínculos com o Êxodo ou com a experiência no deserto. Somente
mais tarde, durante o Exílio, é que o assim chamado Javista ousou vincular a lei e o evangelho.
Senão, o Sinai seria uma lenda cúltica de historicidade duvidosa e uma intrusão que separava os
materiais de Cades em Êxodo 17 da sua continuação em Números 10. Houve, porém, fortes vozes
de dissidência.12 Mais significativa de tudo era a clara associação do Êxodo com o Sinai em Êxodo
19.3-8 e 20.2-17. De fato, se o contexto total de duas das passagens de credo fosse considerado (para
não falar do contexto total de Deuteronômio 26), elas, também, vinculariam a libertação do Egito
com um apelo no sentido de se aceitar as exigências da aliança sinaítica — Josué 24 e I Samuel
12.13 Como conseqüência, o Sinai não pode ser cortado da história ou teologia do Êxodo ou da
promessa. O problema, no entanto, ainda permanecia. Como integrar, se era para integrar, as
exigências de Êxodo 20 — Números 10 com as bênçãos das promessas de eras anteriores? Talvez a
melhor maneira de fazer uma abordagem seja através de anotar, na era patriarcal, a conexão entre o
mandamento, a promessa, e a bênção. A forma do mandamento veio tanto como imperativo
quanto como proibição. Segundo P. V. Premsagar,14 a lista em Gênesis seria como segue:
12.1 "Sai da tua terra"
13.14 "Ergue os olhos e olha"
15.1 "Não temas"
15.9 "Toma-me uma novilha"
17.1 "Anda na minha presença, e sê perfeito"
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 28
22.2 "Toma teu filho, teu único filho ... e vai-te"
26.2 "Não desças ao Egito. Fica na terra que eu te disser
26.24 "Nao temas"
31.3 "Torna á terra dos teus pais"
35.11 "Sê fecundo, e multiplica-te".
Aqui, no entanto, o mandamento precedia a promessa e a bênção. Sinai era uma implicação e uma
resposta natural à graça de Deus manifestada na promessa, especialmente na representação da
salvação nos próprios eventos do Êxodo. Para Abraão, a obediência não era uma condição da
aliança. Mesmo assim, o dever da obediência foi especialmente ressaltado em Gênesis 22.18 e 26.5:
"Porque obedeceste à minha voz ... porque Abraão obedeceu à minha palavra, e guardou os meus
mandamentos, os meus preceitos, os meus estatutos e as minhas leis". Foi assim que Hebreus 11.8
expressou o assunto: "Pela fé, Abraão ... obedeceu". A fé tinha de ser juntada às obras para
demonstrar sua eficácia e autenticidade. Também deve-se afirmar que, se a promessa era uma
dádiva da parte de Deus, a lei também era assim considerada. Os salmistas celebraram este ponto
de vista (SI 1.2; 19.7-11; 40.8; 119). Moisés também expressou isto, quando perguntou,
retoricamente: "Que grande nação há que tenha deuses tão chegados a si como o Senhor nosso
Deus?" ou Que grande nação há, que tenha estatutos e juízos tão justos como toda esta lei que eu
hoje vos proponho?" (Dt 4.7-8.) A resposta de Israel foi repetida três vezes: "Tudo que o SENHOR
falou, faremos" (Éx 19.8; 24.3, 7). Ao invés de repreender o povo por "temerariamente" ter aceitado
condições tão ásperas quando promessas e bênçãos já estavam disponíveis, o Senhor respondeu:
Em tudo falaram eles bem. Quem dera que eles tivessem tal coração que me temessem, e
guardassem em todo o tempo todos os meus mandamentos, para que bem lhes fosse a eles e a seus
filhos para sempre!
— Deuteronômio 5.28-29
Finalmente, a promessa não se opunha à lei de Deus pelas seguintes razões: (1) Tanto a promessa
como a lei foram outorgadas pelo mesmo Deus que faz alianças; (2) Longe de ser um código
legalístico ou um meio hipotético de merecer a salvação, a lei foi um meio de se manter comunhão
com Deus — não a base de estabelecer esta comunhão; (3) A mesma lei que exigia um padrão de
vida santo e igual ao caráter do próprio Deus, também tinha provisões para cobrir as faltas sob
aquela lei, através do perdão e da expiação pelo pecado; e (4) O contexto para toda e qualquer
exigência da lei era o ambiente da graça: "Eu sou o Senhor vosso Deus que vos trouxe da terra do
Egito" — Este é um evento de que até o patriarca Abraão tinha vaga consciência, conforme se vê em
Gênesis 15.13-14: "A tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e
será afligida por quatrocentos anos. .. e depois sairão com grandes riquezas". Naturalmente, alguns
desconsideram isto, dizendo que se trata de um detalhe harmonizador projetado para trás para
facilitar a transição, mas o texto deve permanecer inocente até que sua culpa seja comprovada
por critérios melhores do que a imposição subjetiva de julgamentos de valores. Tais objeções,
longe de oferecerem provas, meramente comprovam que a pedra de tropeço, achada não
somente na literatura profética como também noutros lugares, continua a ser a reivindicação
bíblica de poder predizer certos eventos antes de acontecerem.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 29
OO ""DDEEUUTTEERROONNOOMMIISSMMOO"" PPRRÉÉ--MMOONNÁÁRRQQUUIICCOO EE AA ""PPRROOMMEESSSSAA"" DDAAVVÍÍDDIICCAA
O texto central para o período davídico é II Samuel 7. Ao invés de entrar como uma interrupção
totalmente nova na história da revelação, cuidadosamente repete as antigas afirmações feitas na
promessa e no Sinai, dando-lhes significado continuado na administração de Davi. Alguns destes
aspectos em II Samuel 7 eram:
9: "Farei grande o teu nome" (Gn 12.2 et al.)
10: "Prepararei lugar para o meu povo, para Israel, e o plantarei" (Gn 15.18; Dt 11.24, 25)
12: "Farei levantar depois de ti o teu descendente" (Gn 17.7-10, 19)
14: "Ele me será por filho" (Êx 4.22)
23-24: "Estabeleceste a teu povo Israel por teu povo para sempre, e tu, ó SENHOR, te fizeste o seu
Deus" (Gn 17.7-8; 28.21; Ex 6.7; 29.45; Lv 11.45; 22.33; 25.38; 26.12, 44, 45; Nm 15.41; Dt4.20; 29.12-
13, et al. - duas partes da fórmula tríplice). esmo o peculiar verbo hebraico no plural em 2 Samuel
7.23 foi uma alusão clara à pergunta idêntica em Deuteronômio 4.7-8: "Quem há como o teu povo,
como Israel gente única na terra? a que tu, ó Deus, foste resgatar?" Assim, a aliança davídica tendia a
absorver as promessas mais antigas feitas a Israel. Como é, porém, que a bênção davídica de II
Samuel 7 se encaixa — se de algum modo se encaixa — na teologia do "historiador deutero no
mista"? O tipo deuteronomista de materiais usualmente incluía injunções com respeito a "guardar"
os "estatutos, mandamentos, e juízos" de Deus, andando "nos caminhos de Javé" e fazendo "aquilo
que é reto aos olhos de Javé", "com todo o teu coração e toda a tua alma". A maioria dos estudiosos
bíblicos agora concorda com a conclusão formulada em 1943 por Martin Noth:15 Os livros de
Deuteronômio, Josué, Juízes, Samuel e Reis, do AT, dão evidência de um desígnio
surpreendentemente unificado. O padrão ou norma para julgar a história de Israel durante a
conquista, a colonização da terra, os juízes, a monarquia e a monarquia dividida era Deuteronômio
5-30, trecho ao qual foi acrescentado Deuteronômio 1-4 como introdução posterior. A estrutura
desta história unificada respirava as esperanças e ameaças de Deuteronômio. Emergiu
especialmente nos comentários editoriais com respeito aos acontecimentos e personagens históricos
selecionados ou em discursos bem colocados pelos atores principais naquela história: Josué 1.11-
15; Josué 23; II Samuel 12; 1 Reis 8.14-61. Muitas vezes o escritor interpunha sua própria
avaliação quando não tinha disponível um discurso para resumir a teologia dos tempos, Josué 12;
Juízes 2.11-23; e II Rs 17.7-23. Surpreendentemente, Noth não selecionou II Samuel 7 como
articulação primária de pensamento deuteronômico. Até von Rad tendia a tratar a história de
Davi de modo separado, alegando que era “notavelmente livre de acréscimos deuteromísticos”. Ele
introduziu aquilo que poderá ter-se alargado em outro abismo. Sugeriu que havia originalmente
dois blocos separados de tradição que somente na sua incorporação nestes livros foram trabalhados
num tipo de fusão: a tradição Sinai/Moisés e a tradição Monte Sião/Davi. Nenhuma destas duas
cunhas refletia precisamente o balanço de enfoque desta seção. Dennis J. McCarthy19
adequadamente demonstrou que II Samuel 7 funcionou de fato com outro dos momentos-chave na
história de Israel conforme se reflete teologicamente em Deuteronômio até Reis, inclusive.
Deuteronômio fez mais do que meramente suprir a norma para a história, conforme o ponto de
vista dele; marcou um padrão para relacionamentos literários subseqüentes. Conforme a análise
excelente de McCarthy, três passagens-chave esquematicamente apresentavam declarações
programáticas (Dt 31; Js 23, II Sm 7) e seis passagens subseqüentes mostravam como ou
funcionavam ou fracassavam (havendo duas passagens para acompanharem cada um dos três
padrões programáticos): (Js 1, 12; Jz 2, II Sm 12; e I Rs 8, II Rs 17). Somente a atribuição da
centralidade de II Samuel 7 precisa ser acrescentada a este refinamento do ponto de vista de Noth.
Cremos que cada uma das ênfases separadas desta história — seja de cumprimento de palavra,20
arrependimento,21 e observância dos mandamentos e estatutos do Senhor como sendo a chave à
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 30
longa vida na terra — pode ser harmonizada na promessa única. Para acrescentar a esta
continuidade, há a clara identificação dos temas Sião/Davi e as matérias tipo Sinai/Moisés tanto
em Deuteronômio como na seqüência Josué-Reis por Ernest W. Nicholson. Ao repetir a evidência de
Nicholson, gostaríamos apenas de inverter a ordem do fluxo de influência: ia de Deuteronômio
para Davi e não conforme a tese oposta desenvolvida por ele. Nossa razão é ciara: o formato
canónico da mensagem assim exige, e tem a prioridade até que seja achada evidência substancial ao
contrário. Estes temas podem ser tabulados conforme se segue;
A obrigação de Davi e de todos os reis de seguirem a "lei de Moisés" (I Rs 2.1; 9.4, 5).
O apelo freqüente feito pelos reis davídicos à eleição de Israel, ao Êxodo, e à dádiva da terra
prometida (I Rs 8.16, 20-21, 34, 36, 53; Dt 17.17, 18).
O constante reconhecimento de Jerusalém como sendo o "lugar que Javé escolheu" (I Rs 8.16, 44,
48; 11.13, 32; 14.21; II Rs 21.7; 23.27; Dt 12).
A importância da "teologia do nome" ("Farei meu nome habitar ali") para a significância de
Jerusalém (I Rs 8.29; 14.21; II Rs 21.7; 23.27; Dt 12).
A confiança de que a palavra de Javé não "falharia" (Js 21.45; 23.14; II Rs 10.10; Dt 13.1-5 ou 18.15 ).
O constante surgimento de profetas ( Nata, Aías o silonita, Jeú filho de Hanani, Elias, Eliseu) que
falaram a infalível palavra do Senhor mas também ensinaram Israel e Judá a "guardar os meus
mandamentos e os meus estatutos, segundo toda a lei que prescrevi a vossos pais e que vos enviei
por intermédio dos meus servos os profetas" (II Rs 17.13).
A esta lista acrescentaríamos o que é o mais significante de tudo:
O "descanso" prometido em Deuteronômio e Josué e a parte que Davi teve na sua contribuição
àquele descanso (Js 21.43-45; II Sm 7.1, 11; I Rs 5.4; Dt 12.8-11).
É claro que tanto a lei quanto a promessa foram incluídas nesta história. De fato, um elemento de
condicionalidade foi levantado mesmo em II Samuel 7.11-16 e I Reis 2.4, conforme já acontecera
em Deuteronômio 17.18-19. A promessa era de fato segura, e a linhagem davídica através da qual a
promessa haveria de vir era garantida; mas, quanto a ser Davi e seus filhos apenas transmissores ou
também participantes pessoais nestes benefícios conforme foram realizados nos tempos deles, isto
não era tão certo; somente a própria vida deles, de fé e obediência, poderia determinar isto.
Concluímos, portanto, que não havia nem anomalia nem divergência de teologia nas
narrativas davídicas e históricas dos livros proféticos anteriores de Josué, Juízes, Samuel e Reis.
Tiveram sua origem no ambiente dos grandes discursos mosaicos de Deuteronômio, continuavam,
conforme Noth e outros indicaram, nos discursos-chave de Josué 1,12, 23; Juízes 2; I Samuel 12; e
atingiram um ponto alto em II Samuel 7 e suas respostas em I Reis 8 e 2 Reis 17.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 31
AA ""TTEEOOLLOOGGIIAA DDAA CCRRIIAAÇÇÃÃOO"" SSAAPPIIEENNCCIIAALL EE AA ""PPRROOMMEESSSSAA"" PPRROOFFÉÉTTIICCAA
Segundo alguns, a conexão a mais intransigente de todas é aquela entre a teologia sapiencial e o
restante da teologia do Antigo Testamento. É tão altamente individualista e com tão poucos
conceitos, termos ou fórmulas que formassem vínculos com a teologia antecedente ou subseqüente
de Israel que a maioria dos teólogos não tem esperança de unificá-la a qualquer tempo no restante
da teologia do AT. Cremos, não obstante, que a chave já surgiu em Gênesis 22.12 como a atitude de
uma vida de fé na pessoa de Abraão: "temia a Deus". Tal era também o estilo do viver manifestado
em José (Gn 42.18), Jó (1.1, 8-9; 2.3), e nas parteiras dos hebreus no cativeiro egípcio (Êx 1.15-21). A
expressão "temer ao Senhor Deus" ontinuou em Êxodo 14:31; 20.20; Levitico 19.14, 32; 25.17;
Deuteronômio 4.10; 5.26; 6:2, 13, 24; 8.6; 10.12, 20; 13.4; 14.23; 17.19; 28.58; 31.12-13. Num livro
sapiencial, "o temor do SENHOR" rapidamente assumiu a posição de lema: "O temor do SENHOR
é o princípio (rêls/t) do saber, mas os loucos desprezam a sabedoria e o ensino" (Pv 1.7). Este
temor sadio prolongava a vida e produzia a plenitude da vida (Pv 10.27; 14.27; 19.23; 22.4) assim
como a lei mosaica produzia, a partirda fé, o mesmo fruto, vida (Lv 18.5). Assim, era
providenciado um "caminho", ou, conforme se diz hoje, um estilo de vida, através desta atitude de
reverência e confiança (Pv 2.19; 5.6; 10.17; 13.14; 15.24). Veio a ser uma verdadeira "árvore de vida"
(Pv 3.18; 11.30; 13.12; 15.4). Temer a Deus era "desviar-se do mal". Anunciado positivamente, pois,
o temer ao Senhor era voltar-se para Deus numa vida de fé e confiança. Somente com tal
compromisso alguém poderia receber, da parte do Deus que criou o mundo, a capacidade de ter
prazer nas atividades, que de outra forma seriam mundanas, de comer, beber e ganhar a vida. A
plenitude da vida, seus padrões de significado, sua integração de fé, conhecimento e ações, e seu
significado eram então realizados (Ec 3.11, 14; 5.7; 8.12; 12;13). Senão, o homem permanecia em
falência, sem conseguir fazer com que tudo "se enquadrasse". O temor do Senhor também era
vinculado com a aquisição da sabedoria (Pv 1.7, 29; 2:5; 8.13; 15.33). Sendo que a sabedoria era
uma característica de Deus, era dEle o repartir com todos aqueles que entravam em relacionamento
especial com Ele. De fato, fora através da sabedoria que criara o mundo (Pv 3.19-20; 8:22-31); e
agora Ele daria uma participação naquela mesma sabedoria a todos aqueles que o temiam. O que
se diz, porém, do relacionamento entre a sabedoria e a teologia que a segue na era dos profetas
escritores? Se o tema do temor ao Senhor começou na teologia patriarcal e continuou até aos
tempos mosaicos, será que continuou ainda além? De fato, continuou! Supriu tantos dos
conceitos empregados por alguns dos profetas, e tinha um sabor tão fortemente profético que
alguns estudiosos, sem justificativa suficiente, deram ao conceito da sabedoria e do temor ao Senhor
uma etiqueta de reinterpretação profética da sabedoria. Muitas das técnicas, imagens ou padrões
dos profetas eram comuns entre os sábios: o padrão x + 1 de Amós: "por três .. . e por quatro"
(Amós 1.3, 6, 9, 11, 13 et al.); as perguntas retóricas baseadas em fenômenos naturais (6.12); a
seqüência de causa e efeito (3:3-8); os oráculos dos ais (5:18; 6:1); o emprego por Isaías da alegoria
da vinha (Is 5), e a parábola do lavrador (28.23-29); o emprego por Jeremias da frase "aceitar a
disciplina" (müsãr, Jr 2.30; 5.3; 7.28; 17.23; 32.33; 35.13); e a ênfase que Ezequiel deu à punição
individual (Ez 18.1; Jr 31.29-30). O lugar onde a doutrina da promessa seguida pelos profetas e a da
sapiência se vincularam mais diretamente, porém, foi na predição acerca do sétuplo espírito de
Emanuel em Isaías 11.1-2.27 Este "Rebento" (hòter) da "raiz" (gêza') de Jessé, pai de Davi, este
"Renovo" (nêser) teria: "o Espírito de sabedoria e de entendimento, o Espírito de conselho e de
fortaleza, o Espírito de conhecimento e de temor do SENHOR".
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 32
Já em II Samuel 14, 16 e 20, a sabedoria era apresentada como virtude política. Os reis e soberanos
precisavam dela para reger um povo ou uma cidade (Pv 8.14-16). A sabedoria, porém, também
pertencia ao caráter de Deus e teve sua origem no temor a Ele. Sendo assim, quando Isaías (Is 11.1-
10) profetizou que o governo futuro de um descendente davídico possuiria esta virtude política de
"sabedoria" (hokmâh) juntamente com os demais temas sapienciais de "entendimento" (btnâhj,
"conselho" fèsâh), "fortaleza" (fburâh), "conhecimento" (da 'atj, e o "temor do Senhor" (yir'at
YHWH) - "Ele se deleita no temor do Senhor" — a conexão é mais do que acidental. É deliberada!
Concluímos, portanto, que é possível discernir a atuação dos próprios escritores bíblicos em
fazerem as conexões entre os vários blocos de material e seções da história de Israel. Muitas vezes a
vinculação era feita num discurso-chave, pronunciamento, ou refrão repetido que forma a base de
uma seção inteira, Havia, portanto, itens,importantes de continuidade; havia, porém, itens novos
associados com referências familiares à repetição da bênção e promessa de um descendente, uma
terra, uma bênção de alcance mundial, um descanso, um rei, uma dinastia, e um Deus que
havitava com Seu povo. Tudo isto, no entanto, poderia ser abrangido sob a única bênção compre-
ensiva chamada a promessa. Esta categoria foi suficiente para abranger uma grande variedade de
livros, temas e conceitos bíblicos. A despeito de um coro quase universal ao contrário, a massa de
dados não é nem intratável nem impossível. Produz, de fato, uma única teologia com um plano
deliberado de Deus. Além disto, as Escrituras apresentam sua própria chave de organização- 0 AT
possui sua própria nidade interna canónica que vincula as várias ênfases e temas longitudinais,
Não se trata de uma unidade interior oculta. Está aberta e pronta para todos verem: é a Promessa
de Deus.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 33
UUNNIIDDAADDEE IIVV
OO AANNTTIIGGOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO EE OO NNOOVVOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO
...............................................................
“O pensamento dos escritores do Antigo Testamento não deve restringir-se aos interesses que
dizem respeito à religião ou à vida dos hebreus antigos. Deve considerar parte da revelação
contínua de Deus que chega ao seu ponto culminante na proclamação neotestamentária da Sua
graça redentora em Cristo”.
..............................................................
UUMMAA CCOONNEEXXÃÃOO
Não há nenhuma melhor súmula da conexão que existe entre o Antigo e o Novo Testamento do
que aquela que foi dada por Willis J. Beecher nas suas preleções Stone pronunciadas em Princeton
pouco após o início deste século:
“ proposição de que o Antigo Testamento contém grande número de predições com respeito ao
Messias vindouro, e de que estas são cumpridas em Cristo Jesus, pode ser bíblica na sua
substância, mas dificilmente o é quanto à sua forma. A Bíblia oferece muito poucas predições senão
na forma de promessas ou ameaças. É diferente das teologias sistematizadas sendo que se recusa a
desvincular a predição da promessa ou da ameaça ... [e] enfatiza uma promessa mais do que
muitas predições. Esta é a tônica que prevalece em ambos os testamentos — uma multidão de
especificações que desdobram uma única promessa, e a promessa serve como uma doutrina
religiosa central. Esta generalização bíblica do assunto pode ser formulada como segue: Deus deu
uma promessa a Abraão, e, através dele, à humanidade inteira; uma promessa eternamente cumprida e se
cumprindo na história de Israel; e principalmente cumprida em Jesus Cristo, sendo Ele aquilo que é principal
na história de Israel (grifos dele).
AA PPAALLAAVVRRAA--CCHHAAVVEE NNEEOOTTEESSTTAAMMEENNTTÁÁRRIIAA PPAARRAA OO AANNTTIIGGOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO
Os escritores do Novo Testamento deram a este plano ou desenvolvimento único o nome de
"promessa" (epangelia). Cerca de quarenta passagens podem ser citadas de quase todas as partes
do NT que contêm esta palavra "promessa" como a quinta-essência do ensino do AT. Além disto, há
apenas uma promessa; é um plano único. Paulo, diante da corte de justiça, afirmou.
E agora estou sendo julgado por causa da esperança da promessa que por Deus foi feita a nossos
pais, a qual as nossas tribos.. . almejam alcançar.
Atos 26.6-7
Sua confiança, portanto, dependia de uma única promessa, não de uma predição ou de certo
número de prognósticos espalhados. Era um plano único de Deus bem específico, para beneficiar a
um só homem, e, através deste, trazer benefícios ao mundo inteiro. Esta promessa única pode ser
identificada como sendoaquela que fora dada a Abraão e repetida a Isaque, Jacó, e Davi. 0 escritor
aos Hebreus disse que Deus "fez promessa a Abraão"; mas Abraão também, "depois de esperar
com paciência, obteve a promessa" (Hb 6.13-15, 17). Além disto, Isaque e Jacó eram "herdeiros com
ele “Abraão” da mesma promessa", "não obtiveram, contudo, a concretização da promessa, por
haver Deus provido cousa superior a nosso res- peito" (11.9, 39-40). O texto, longe de mostrar uma
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 34
contradição, distingue entre o receber a palavra da promessa, suas amostras parciais do
cumprimento total, e o receber o cumprimento culminante em todos os seus aspectos. Obviamente,
não receberam aquele último aspecto, tinham, porém, a promessa juntamente com uma prova da
mesma também; "obtiveram promessas", "não a concretização da promessa" (vv. 33, 39).
Semelhantemente, Paulo identificou a "promessa" feita "a Abraão e à sua descendência" como sendo
aquela que se firmava sobre a graça, e era firme a toda a descendência no sentido "de ser herdeiro
do mundo" (Rm 4.13, 16). A promessa única consistia de muitas especificações, sendo assim; foi
possível para os escritores do NT falarem de promessas, empregandp o plural: “As promessas feitas
aos pais" (Rm 15.8-9; cf. 9:4); "herdam as promessas" (Hb 6.12) ou Abraão que tinha "as promessas"
(Hb 7.6; 11.13, 17). O uso do plural, porém, não enfraqueceu o conceito de uma doutrina única da
promessa que a tudo englobava, que incluía as ameaças e as bênçãos, Israel e as nações, o
Messias e toda a comunidade dos fiéis de todos os tempos; peio contrário, indicava sua natureza de
múltiplas facetas e sua largueza de escopo. Para os escritores do NT, esta única promessa de Deus
sintetizava tudo quanto Deus começara a fazer e a dizer no AT, e que continuava fazendo na
própria nova era deles. Entre os aspectos de variedade abrangidos por esta única promessa estava a
palavra de bênção do evangelho para os gentios (Gl 3.8, 14, 29; Ef 1.13; 2.12; 3.6-7); a doutrina da
ressurreição dentre os mortos (At 26.6-8; II Tm 1:1; Hb 9.15; 10.36; II Pe 3.4, 9; I Jo 2.24-25); a
promessa do Espírito Santo numa nova plenitude (Lc 24.49; At 2.33-39; Gl 3.14); a doutrina da
redenção do pecado e das suas conseqüências {Rm 42-5, 9-10; Tg 2:21-23); e a maior de todas, a
promessa de Jesus, o Messias (Lc 1.-69-70, 72-73; At 2.38-39; 325-26; 7-2, 17-18; 13.23, 32-33; Gl 3.12).
A promessa era continuamente cumprida no AT; mesmo assim, aguardava alguns cumprimentos
culminantes em conexão com os dois adventos do Servo-Messias. Mesmo assim, a promessa ia
além destes dois adventos e ficou eternamente operativa e irrevogável (Gl 3.15-18; Hb 6.13, 17-18). À
geração dos crentes do primeiro século, conforme Hebreus 6.18 {notar o emprego de nós) foram
dados dois sinais inabaláveis e imutáveis de que a promessa era tão irrevogável e livre de
mudanças para eles (e daí para as gerações que se sucediam) como era para o patriarca. A palavra
de promessa divina (Gn 12.15) e o juramento divino (Gn 22). Deus assim Se obrigou de modo
eterno. A própria fraseologia adotada pelos escritores do NT semelhantemente demonstrava uma
forte predileção da parte deles no sentido de empregarem os mesmos termos técnicos e metáforas
empregados no AT. Há, por exemplo, numerosas referências a meu Filho, meu Santo, Servo, Eleito
ou Escolhido, Messias, Reino, Renovo, Lâmpada de Davi, Semente, Raiz de Jessé, Chifre, Leão,
Estrela, etc. No ponto de vista deles, estavam contribuindo para uma só doutrina contínua.
AA UUNNIIDDAADDEE DDOO AANNTTIIGGOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO EE DDOO NNOOVVOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO
Contrastes baratos e fáceis demais entre os dois testamentos são tão abundantes hoje como são de
idéia errada. A bem-conhecida tentativa de Márcion de extirpar o AT do cânon da igreja era
claramente um fracasso. Infelizmente, conforme o próprio Márciom reconheceu, bem demais, tal
iniciativa precisa também levar consigo o corolário necessário de extirpar boa parte do NT
semelhantemente, sendo que este por demais de vezes retratava Deus de modo bem semelhante e
empregava muitas partes da doutrina do AT e da cultura judaica. Em maior ou menor grau,
outros seguiram a liderança dada por Márciom. Para Schleiermacher, Harnack, Kierkegaard e o
mais jovem dos Delitzsch, o AT era apenas uma perda de tempo ou uma religião pagã. A solução
de Orígenes não era melhor. Sua saída do problema da quantidade e tipo de continuidade e
descontinuidade entre os dois testamentos era mudar o sentido óbvio de muitas passagens do AT,
transformando-as em alegorias. No seu livro, De Principus, 4.9, propôs este remédio:
“Ora, a razão para a apreensão errônea de todos estes pontos não é outra senão a seguinte: que as
Sagradas Escrituras não são entendidas por eles conforme o significado espiritual, e, sim, conforme
o seu significado literal. .. Todas as partes narrativas, referindo-se a casamentos, ou à geração de
filhos, ou a batalhas de vários tipos, ou a quaisquer outras histórias, não se pode supor que sejam
outra coisa senão a forma externa de coisas escondidas e sagradas.
Recentemente, David Leslie Baker tentou classificar as soluções recentes ao problema do
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 35
relacionamento entre os dois testamentos.4 Basicamente, Baker achou três soluções diferentes: (1)
Arnold A. van Ruler e Kornelis H. Miskotte representavam uma solução veterotestamentária em
que o AT era a Bíblia essencial e real, sendo que o NT era a sua seqüela ou meramente glossário de
terminologia. (2) Rudolf Bultmann e Friedrich Baumgartel tomavam, do outro lado, o NT como a
Bíblia essencial da igreja, e o AT era considerado seu testemunho preliminar ou pressuposição
não-cristã. (3) Há uma variedade de soluções que Baker agrupou sob a rubrica de "soluções
bíblicas". Estas incluíam a abordagem cristológica de Wilhelm Vischer, onde cada (!) texto do AT
apontava para algum aspecto da pessoa, obra ou ministério de Cristo; a abordagem tipológica, em
que o AT era investigado para procurar suas semelhanças ou correspondências históricas e
teológicas com o NT; e a abordagem da história da salvação, em que o AT era "atualizado" no NT.
Outros, dentro deste grupo de "soluções bíblicas" sugeriram uma tensão contínua no assunto da
continuidade e descontinuidade entre os testamentos, Th. C. Vriezen, H. H. Rowley, C. H. Dodd,
John Bright, e Brevard S. Childs. Nossa solução, segundo parece, não se enquadra em qualquer
uma destas três categorias, individualmente. A imposição de gráficos externos sobre as matérias
bíblicas sempre deve ser rejeitada. Sendo assim, a seleção de uma parte do cânon do testamento em
preferência a outra é tão arbitrária e deduzida por fora como a aplicação dalgum princípio tal
como uma abordagem cristológica, tipológica ou da história da salvação. Onde o texto, conforme
agora existe, não valida tal princípio organizacional, então deve ser deixado de lado a favor dalgum
que possa ser indutivamente validado. O objetivo da disciplina da teologia bíblica é discernir qual
fluxo de continuidade, se tal houver, os escritores revelavam nas suas obras. Tinham conhecimento
de contribuições antecedentes ao seu assunto ou a assuntos relacionados? E já indicaram que estes
poderiam ser agrupados, ou que tinham que ser diferenciados daquilo que foi dito a pessoas de
gerações prévias? As evidências já colhidas do cânon do AT na parte II da nossa obra argumentam
com clareza que estes homens do AT acreditavam fortemente que faziam parte de uma única
tradição. Mas, pelo mesmo argumento, as conexões com o NT eram mais do que continuidades
histórico-cronológicas, citações textuais de escritores anteriores,ou heranças étnicas e culturais em
comum. A conexão de matéria e terminologia era ainda mais óbvia e claramente deliberada do
que as conexões da história, da literatura e da cultura. Seria impossível descrever a mensagem de
um escritor do NT sem se referir à Semente, ao povo de Deus, ao reino de Deus, à bênção de Deus
para todas as nações, e ao dia do Senhor, etc. Além disto, estes assuntos em comum levavam um
vocabulário em comum que tendia a se tornar em termos técnicos por causa de seu freqüente
aparecimento em junturas críticas no argumento. Além disto, a história tinha uma certa força
compulsora dentro dela, porque, conforme a expressão freqüente dos escritores do evangelho, o
Messias "devia" devia sofrer e então ressuscitar gloriosamente. Semelhantemente, os apóstolos se
consolavam em tempos de perseguição contra a igreja primitiva, dizendo que isto nâo era mais
nem menos do que aquilo que fora profetizado pelos escritores do AT, e a esperada antipatia que
já ocorrera historicamente contra o Ungido de Deus (At 4.25-30), Tudo fora predestinado no "plano"
de Deus, para empregar a palavra de Pedro e de João. Este não era um emprego "casual" e "livre"
do AT. Em contradistinção com a maioria das avaliações modernas do emprego do AT pelo NT, os
escritores apelavam para o AT de modo bem sóbrio e comedido. Em raras ocasiões, se referiam ao
AT somente para propósitos ilustrativos (estas coisas “batina” podem ser colocadas de outro modo
“allègoroumena”, Gl 4.24). Quando, porém, citavam o AT como fonte de doutrina ou em
disquisições que visavam impressionar a parte judaica do seu auditório com as óbvias
continuidades nesta nova religião, não poderiam estar longe da intenção de transmitir a verdade
estabelecida pelos escritores do AT, e, em nossa opinião, não falharam quanto a este objetivo.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 36
AA MMEELLHHOORR AALLIIAANNÇÇAA
A chave para o entendimento da "melhor aliança" em Hebreus 8:6 é observar a equação feita entre a
promessa abraâmica (Hb 6.13; 7:19, 22) e a Nova Aliança (8.6-13). Sendo que a aliança mosaica era a
primeira a ser completamente atualizada e experimentada pela nação, a abraâmica não é a
primeira conforme a numeração do autor. A aliança mosaica tinha suas falhas (v. 7), mas isto não
por causa de qualquer aspecto inadequado da parte do Deus que fez a aliança; pelo contrário,
muitas das disposições tinham uma obsolescência embutida deliberada e planejada. Isto foi
indicado desde o início quando as instituições cerimoniais e civis eram expressamente chamadas
"cópias" ou "padrões" feitas segundo a realidade (Êx 25.9; Hb 9.23). Muitos eram ensinos
temporários até que chegasse o "fiador" da "superior aliança" (Hb 7.22). A superioridade veio do
progresso da revelação e não dos erros ou deliberada falsa informação das alianças anteriores.
Naturalmente, a aliança sinaítica ou mosaica era, conforme argumentamos acima, um
desenvolvimento da abraâmica; mesmo assim, muitas das suas disposições eram meramente
preparatórias. Assim, quando Deus renovou a antiga promessa patriarcal, que continuou nas
promessas Sinaítica e Davídica nada foi cortado, abrogado, lançado fora ou substituído a não ser
aquilo que era assim claramente limitado desde a sua primeira aparência. Assim, Jesus, mediante
a Sua morte, renovou a aliança, mas não instituiu uma aliança inteiramente "nova". Nosso
argumento não é apenas que a Nova Aliança cumpriu as promessas espirituais feitas à semente de
Abraão. É certo que a parede de separação foi quebrada entre judeus e gentios que criam (Ef 2.13-
18); mas isto mais uma vez não implicava nem explicitamente ensinava que as identidades ou
promessas nacionais foram removidas, assim como não significavam que as distinções entre
macho e fêmea foram abandonadas. O que Paulo está ensinando é que os crentes gentios foram
"enxertados" na oliveira judaica (Rtn 11.17-25}6 e feitos "co-herdeiros, membros do mesmo corpo e
co-participantes da promessa em Cristo Jesus por meio do evangelho" (Ef 3.6). Sendo que "a
salvação vem dos judeus" (João 4.22) e sendo que há apenas um aprisco, um Pastor, e, ainda, "outras
ovelhas, nâo deste aprisco" (Joáo 10.16) não seria muito surpreendente ver os escritores do NT
acrescentando à tese emergente do AT que havia apenas um povo de Deus e um programa de Deus
embora houvesse vários aspectos daquele povo único e programa único. Paulo fez com que os
crentes gentios fossem parte da "família de Deus" (Ef 2.19) e parte do "descendente de Abraão" (Gl
3.16-19). Além disto, chamou-os de "herdeiros" conforme a promessa (Gl 3:19), "herança" esta que
era parte da "esperança do seu chamamento" (Ef 1.18) e parte da "eterna aliança" dada a Abraão
(Hb 9.15). Assim, os gentios, que eram "separados da comunidade de Israel" (Ef 2.12) e
"estrangeiros e peregrinos" (v. 19) às "alianças da promessa" (v. 12), foram levados a co-participar
em parte das bênçãos do povo de Deus. No meio desta unidade do "povo de Deus" e da "família
da fé" no entanto, ainda permanece uma expectativa de uma herança futura que também concluirá a
promessa de Deus com uma nação de Israel revivif içada, o reino de Deus, e os novos céus e a
nova terra. Mais uma vez, é evidente que já participamos de alguns benefícios da época futura;
grande parte, porém, daquele mesmo plano unificado ainda aguarda um cumprimento futuro e
eterno.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 37
AAPPÊÊNNDDIICCEE
AASS MMAANNIIFFEESSTTAAÇÇÕÕEESS DDEE DDEEUUSS NNOO AANNTTIIGGOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO
Por diversas vezes Deus se manifestou no A.T. e essas manifestações vão desde aparições angelicais
e teofanias a sonhos e visões, passando também pelos nomes dados a Deus, que sem dúvida
revelam muito de seus caráter. Passamos a descrever essas manifestações e revelações sobre a
pessoa de Deus no Antigo Testamento.
Teofanias
São as manifestações visíveis da chegada de Deus que o Antigo Testamento assim descreve:
a) A Glória(Êxodo 33) - É a manifestação da glória de Deus.
b) A face de Deus (Salmo 42.2) - É também a manifestação da presença de Deus; provavelmente o
salmista está falando de um encontro pessoal com Deus no templo. A face de Deus representa a sua
personalidade. Panin, face, pode ser traduzida como presença, personalidade, natureza. Em
Deuteronômio 14.37 a palavra "presença" que aparece no texto hebraico é panin.
Quando Deus proibiu a Moisés de ver a sua face, estava proibindo-o de conhecer a essência da
personalidade divina (Êxodo 33.20).
c) O anjo do Senhor - Esta manifestação não é muito fácil de ser compreendida. As vezes o homem
é conhecido como "anjo do Senhor"(Ageu 1.13) - enviado – Malaquias, que significa meu anjo;
geralmente o termo "Anjo do Senhor" significa a real presença de Deus numa forma visível, que
mantém a santidade de Deus e preserva a vida do indivíduo. Em Êxodo 3.2 não há dúvida de que
neste contexto Moisés viu a Deus realmente numa forma visível e assim entendemos que aqui o
"anjo do Senhor" é o próprio Deus. Moisés escondeu o seu rosto porque temeu olhar a Deus. Há
outras referências que causam dúvidas quanto à manifestação visível de Deus. No pensamento dos
hebreus havia dúvidas quanto à possibilidade de Deus mostrar-se ao homem sem comprometer a
sua santidade. Vejamos dois casos específicos. Em Juízes 6, a princípio parece que seria um anjo
mesmo(v.11), mas no verso 16 o autor fala do próprio Javeh. Gênesis 18, o autor apresenta três
varões que apareceram a Abrãao e um deles é identificado como o "Anjo do Senhor"; dos três, dois
continuaram a missão até a casa de Ló em Sodoma. O "Anjo do Senhor" é uma forma encarnada de
Deus, que nãoera Jesus Cristo. Dizer que o anjo do Senhor é Jesus Cristo prejudica o Novo
Testamento. Se interpretarmos o "anjo do Senhor" como Jesus Cristo perdemos mais do que
ganhamos e o autor de Hebreus estaria mentindo.
O Nome de Deus
Deus só tem um nome. A Bíblia apresenta Deus como um ser escondido (Isaías 45.15; 55.9). Segundo
Êxodo 3.1-15 e 6.2-3 o “nome revelado” de Deus pode ser representado por quatro letras: IHWH. A
verdade é que esse tetragrama seria em tese impronunciável. Trazendo para o português
escrevemos: Javeh ou Yahveh.
Os hebreus para não profanarem esse nome o substituiram por adonai que traduzido é “meu
Senhor”.
Jeová é então o fruto da mistura de Adonai com Javé, e Jeová surgiu em 1520 d.C. O tetragrama
IHWH permite duas possibilidades de tradução: O verbo hebraico no perfeito ou no imperfeito, "Ele
será", "Ele foi". A tradução "Eu Sou" que temos em nossas Bíblias reflete o pensamento grego
implícito na Septuaginta e se coaduna bem menos com a fidelidade da tradução. O nome de Deus
sendo baseado num verbo tem um aspecto dinâmico.
O nome Yahweh indica a presença particular de Deus em seu relacionamento com os
homens(Gênesis 2.4,7), e especialmente com o seu povo". Existem algumas hipóteses para explicar a
origem do nome de Deus. E elas são as seguintes.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 38
a) Jah – Uma das hipóteses diz que este nome teria surgido em tempos antigos de inscrições
babilônicas.
b) A teoria Queneu – Segundo essa teoria, Jaweh foi cultuado pelos queneus antes de ser cultuado
pelos judeus. O nome teria sido levado pelo sogro de Moisés que era considerado sacerdote em
Midiã.
c) Êxodo 3 - Do ponto de vista bíblico a origem ou conhecimento do nome deu-se no encontro de
Êxodo 3 e 6.2-3. Nessa declaração e revelação de Deus a Moisés vemos uma revelação progressiva.
Pois Deus não havia sido conhecido ainda como Jaweh. Essa revelação seria paulatinamente
efetuada a partir de então através dos atos salvíficos a seu povo. Temos que considerar o nome
Jaweh não somente em termos etimológicos, mas situá-lo dentro do seu contexto. Para Moisés o
nome de Deus teve alguns significados. No contexto ativo do mundo hebreu o nome Jaweh significa
a sua presença atuante. A liberdade de Deus. Ele não foi obrigado a se revelar, portanto o fez porque
quis. Deus tem a liberdade de se revelar e a sua revelação neste ponto foi exatamente para conseguir
a libertação do seu povo. Ele permitiu que o povo o conhecesse melhor. Ele se revelou somente até o
ponto necessário. "Eu sou o que Sou". É necessário entender que o nome Jaweh é mais uma forma de
Deus atuar ou se manifestar, do que um nome próprio. Deus sempre é. Ele não morre, não tem fim.
Outros Títulos de Deus
Existem outros títulos e palavras que no Antigo Testamento são traduzidas por "Deus". Os
principais são:
a) El - Forma mais antiga usada para outros deuses. Vem do verbo hebraico ser forte, poderoso. Há
que diga que o nome El origina-se dos verbos ligar e alcançar. El é um Deus que as pessoas
alcançam. A palavra El quando se refere a Deus enfatiza o seu poder.
Mas nem sempre ela é usada para referir-se a Deus(Salmo 29.1). As vezes a palavra vem ligada a
outras como no caso de "filhos de El" (Gênesis 6) e significa homens fortes, valentes ou anjos.
A palavra “El” é usada para referir-se a outros deuses.
A palavra “El”, quando se refere a Deus no Antigo Testamento, geralmente aparece junto de outros
títulos e nomes. Uma importante orientação é que palavra El é um nome genérico mas o contexto é
que determina a sua tradução.
b) Elohim = Aparece mais de 2.500 vezes. Em termos históricos é impossível ligar Elohim a El. Há
sugestões de que esta palavra derivou de El. Outro ponto de vista é que a palavra Elohim é o plural
de Eloah. Essa é uma maneira de intensificar a palavra Eloah com a intenção de glorificar a Deus. A
pluralidade da palavra Elohim não significa nada em termos de número como sendo Deus
múltiplo. Não há uma sugestão do ponto de vista do Antigo Testamento que os judeus tinham a
idéia de Trindade. Você sabe dizer por que os judeus não pensavam em termos de Trindade?
Considerando que a Trindade é uma doutrina da era cristã então qual a função da pluralidade da
palavra Elohim dentro do processo de revelação? Podemos dizer que a pluralidade significa a
própria divindade e majestade de Deus. A palavra Elohim é usada com outros significados também
e mais uma vez é o contexto quem determinará sua função e tradução.
c) El Shaddai - Êxodo 6.3 - Foi assim que Ele foi conhecido antes da revelação do seu nome. A
tradução é "Todo-Poderoso". Há uma dificuldade para estabelecer a etimologia da palavra. É
possível que seja derivado de dois verbos. Sadar(destruir) e Sadu(montanha). Basicamente El
Shaddai refere-se ao seu poder.
d) El Elion - Vem do verbo Olah(subir) e significa o "Deus Altíssimo". Um dos tipos de sacrifícios é
o olah que é realizado sob a forma de fumaça que sobe. Deus que está nas alturas, que só pode ser
encontrado nas alturas. Deus está muito acima dos homens. Esta declaração demonstra, a separação
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 39
entre Deus e o ser humano que aqui é mais em termos de espaço do que de santidade.
e) Adon - Senhor, Adonai - "meu Senhor". A palavra adonai não significa necessariamente Senhor
Deus, pode significar, um homem, um dono de escravos, um profeta ou até mesmo um esposo. A
idéia de Adonai em termos do seu significado quando utilizado em relação a Deus, desenvolver a
noção de autoridade e superioridade. Ao mesmo tempo(El Elion) o Deus que mora nas alturas dos
céus pode ser conhecido como(Adonai) meu Senhor.
g) Javeh Tsebaoth - "O Senhor dos Exércitos". Essa frase aparece quase 300 vezes no Antigo
Testamento. O seu significado é uma tentativa de traduzir o verbo "Ir a guerra". O Senhor que vai
a guerra aponta para o poder de Deus. Surge então a questão de qual exército Javeh é o Senhor?
O exército de Israel (1 Samuel 17.45) = soldados israelitas.
Os exércitos dos céus (1 Reis 22.19) = "hostes e seres celestiais".
O exército do céu (Deuteronômio 4.19) = "as estrelas, sol, lua, etc".
À luz destas possibilidades nós temos que admitir que a única referência que liga Javeh Tsebaoth
aos exércitos é 1 Samuel 17.45 e à luz do nome percebemos: o poder, autoridade, superioridade, em
termos do contexto.
A Palavra
A eficácia da Palavra do ponto de vista bíblico decorre do fato de que ela exerce uma ação e
existência independente. Em 1 Samuel 3.19 você pode constatar que as palavras de Samuel não
caíram, isso indica a maneira pela qual os hebreus entendiam a eficácia da palavra e muito mais a
respeito da palavra de Deus. Em Gênesis 1 encontramos a palavra criadora de Deus. Já no Salmo
147.15-20 encontramos a palavra sustentadora de Deus. Do ponto de vista hebreu alguma coisa irá
acontecer depois de se pronunciar a Palavra. Há dois tipos de palavra: a profética e a escrita e ambas
foram comunicadas diretamente por Deus, por meio de um intermediário. No caso da escrita usou
Moisés para comunicar a sua vontade ao povo de Israel. Estas palavras falam muito da pessoa de
Deus e sua vontade. Na palavra profética a vontade de Deus é reconhecida. A palavra escrita tem a
capacidade de incentivar reformas(2 Reis 22.23; Neemias 8). A vida da comunidade foi baseada na
palavra escrita(A Lei), e esta forneceu uma orientação para a vida do povo(Deuteronômio 4.1-2). Foi
esta palavra escrita que se tornou a forma de preservar as tradições e transmitir os feitos de Deus de
gerações à gerações. Nós temos confiança de que o registro que lemos é fiel àquilo que realmente
aconteceu. Quando o leitor através da iluminação(7) lê os escritos ele entende a inspiração. A
revelação é a auto manifestação de Deus. A maneira pela qual conhecemos a Deus é por ummecanismo semelhante a este. O povo participou das revelações através das tradições ou recitações
dos acontecimentos. Portanto no A. T. Deus se revelou a seu povo através da “palavra”.
Os Eventos Históricos
O Salmo 103.7 nos ensina que Deus se mostrou(manifestou) por meio dos seus atos. Talvez o evento
mais importante do Antigo Testamento é o Êxodo quando se pensa na natureza de Deus. O que
podemos aprender de Deus em Êxodo 3.7-8?
"Então o Deus Eterno disse: Eu tenho visto como o meu povo está sendo maltratado no Egito; tenho ouvido o
seu pedido de socorro por causa dos seus feitores. Sei o que estão sofrendo. Por isso desci para libertá-los do
poder dos egípcios e para levá-los do Egito para uma terra grande e boa. É uma terra boa e rica, onde moram os
cananeus, os heteus, os amorreus, os perizeus, os heveus e os jebuseus"(Êxodo 3.7-8).
Já no trecho de Êxodo 14.31 podemos compreender o seu poder. O verso 4 deste mesmo capítulo
revela algo sobre a glória de Deus. Todos estes fatos podem ser englobados num único evento. O
ÊXODO. O texto de Ezequiel 10 nos ajuda a entender que no Julgamento de Deus é possível
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 40
conhecê-lo. O Dia do Senhor, como descrito em Joel 2.28-3.21, é também uma manifestação histórica
de Deus. Do ponto de vista do Antigo Testamento eventos históricos específicos podem ser veículos
através dos quais Deus pode ser conhecido também. Porém, Ele não se limita a estes eventos e
cremos que se revela dentro da História.
As Experiências Pessoais
Estas são algumas das maneiras que Deus se fez conhecido no Antigo Testamento.
a) Sonhos = As vezes são empregados como meio de revelação. Veja o exemplo de Gênesis 28. Jacó
teve um sonho e nele houve um encontro com Deus. Sonhos nem sempre foram focalizados como
experiência de revelação da presença de Deus. O que temos na narrativa de 1 Samuel 28.6?
b) Visões = No Antigo Testamento as visões são freqüentes e estão claramente associadas com a
presença de Deus numa experiência visionária. Em Isaías 6 o profeta viu o trono de Deus com os
serafins e toda a majestade do Senhor. Em Amós 9 o profeta diz que viu o SENHOR e por meio da
visão ele conheceu os propósitos divinos para Israel.
c) Experiências Casuais = Jeremias 18 nos ensina que o contexto desta comunicação é uma
experiência casual, não acontece sempre. O que o oleiro fazia não era diferente dos outros dias, mas
a comunicação que Jeremias teve foi única e casual, conhecendo a vontade de Deus. As vezes as
experiências casuais na vida do povo serviram para comunicar a vontade de Deus para o mesmo.
d) Urim e Tumim = Talvez de todos os meios este pode ser o mais difícil de entender nos nossos
dias. Este era um meio mecânico de conhecer a vontade de Deus. O Urim e o Tumim representam
somente duas coisas. Pedras? e Bastões?(Êxodo 28.30). Partes das vestes sacerdotais incluíam o Urim
e o Tumim. Se forem pedras as duas tem um lado claro e outro escuro. Não temos a mínima idéia
quanto à forma e o uso, que possuía a autoridade religiosa. O propósito deste jogo era observar a
soberania de Deus. Uma sugestão do uso do Urim e o Tumim é: se as duas pedras caíssem com o
lado claro para cima a resposta é sim. Se as duas pedras caíssem com o lado escuro para cima a
resposta é não. E se as duas pedras caíssem com lados invertidos(um claro e outro escuro)a questão
ficava sem resposta. O uso do Urim e Tumim no Antigo Testamento também é limitado, nós não
sabemos quantas vezes foi usado e temos poucas referências (I Samuel 14.41; 28.6).
OO DDEEUUSS QQUUEE AAMMAA
Na igreja primitiva os apóstolos usaram somente o Antigo Testamento como mensagem acerca do
amor de Deus. Por outro lado teólogos primitivos (Marcião) chegaram a conclusão de que o Deus do
Antigo Testamento não era o Pai de Jesus. Como então podemos compreender o Deus do Antigo
Testamento e sua manifestação de amor?
a) A terminologia da palavra amor:
‘Ahav = Amar, sentido genérico (o amor).
‘Ahav expressa a idéia de que Deus não tem que amar mas ele ama voluntariamente.
Hasheq = Ter afeição. No Antigo Testamento pode traduzir-se o amor de Deus por tomar prazer. O
amor de Deus é mais um amor que exige uma resposta e por isso ele não é uma sentimentalidade ou
indulgência. O amor de Deus por Israel se expressa dentro da Aliança e esta é mantida pela
fidelidade, obediência. O fato do amor de Deus exigir uma resposta não significa que Ele é
inconstante caso não venha uma resposta.
‘Emet = Ser firme, estável. Ele não faz aliança, acordos em vão. O ‘ahav de Deus se expressa em
ações práticas e apesar do amor exigir respostas que nem sempre vêm. Ele se mantém firme
eternamente (hesed). Segundo Isaías 54.7,8 e Oséias 3 o amor do Deus eterno, não depende da
resposta humana.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 41
A Natureza e o Significado do Amor de Deus
"Deus é amor, este é um dos pronunciamentos mais tremendos da Bíblia, e também um dos menos
entendidos. Idéias falsas cresceram à sua volta como uma cruz de espinhos, ocultando seu
significado real, e não é uma tarefa fácil atravessar esse aglomerado de vegetação mental.
Entretanto, quanto maior a dificuldade envolvida maior será a recompensa, quando o verdadeiro
sentido deste pronunciamento é captado pela alma cristã. Aqueles que sobem uma alta montanha
não reclamam de seu esforço ao contemplarem o cenário que se descortina do seu topo. O amor de
Deus é inteligente, visto que se tentarmos comparar este atributo moral de Deus com o sentimento
que dispensamos para com as pessoas, alvos de nossa inclinação ou de prazer, veremos que a
diferença é bem acentuada. Um é incondicional o outro é condicional. O amor de Deus é
benevolente. "É possível amar as pessoas das quais não gostamos, e na realidade às vezes gostamos
das pessoas quando na verdade não as amamos. Amar as pessoas não significa necessariamente que
nos agrademos delas e de suas maneiras. Deus não se agrada dos nossos maus caminhos, mas ele
nos ama e quer salvar-nos dos nossos maus caminhos, e o fará, se lho permitirmos. O benevolente e
eficiente amor de Deus faz bem a todos os homens tanto quanto eles o permitam"(21). O amor de
Deus é justo, pois condições morais são necessárias para que Deus desenvolva o seu amor nos
homens. "O amor de Deus é justiça. Este amor respeita os princípios da justiça em toda a sua
expressão e em tudo o que Ele faz por seu objeto"(22). O amor de Deus é sacrificial, pois, ao dar-nos
seu Filho para nossa salvação, Deus deu o melhor que tinha. Deu o que mais lhe custou. Leia I João
4.9-10 e registre sua declaração sobre o amor de Deus.
Amor, a Natureza de Deus
"Amor não é alguma coisa acidental ou incidental em Deus, mas pertence à própria natureza de
Deus. O amor não é consequentemente alguma coisa eterna em sua natureza. Porque Deus é amor e
o amor é eterno. Ele pôs o seu coração sobre nós desde os tempos eternos". O amor supremo de
Deus, sendo infinito não pode ser comparado com o amor humano. Deus é amor e isto nos auxilia a
entender que a própria criação é um ato de amor. Somos portanto, frutos do seu meigo amor e ele se
alegra quando cria seres morais e espirituais, que sejam capazes de se comunicarem com o seu
criador. Quando participamos da natureza divina através do amor, somos alcançados e tomados por
uma confiança inabalável que nos projeta no campo magnífico da fé, e passamos a conhecer bem de
perto, a sua bondade que transforma nossas derrotas em grandes vitórias.
OO DDEEUUSS QQUUEE JJUULLGGAA
A idéia do julgamento faz parte daquilo que encontramos no Antigo Testamento. Quando pensamos
nele temos a idéia de castigo. Falar do Deus que julga não é necessariamente falar do Deus que
castiga, mas sim falar do Deus que toma decisões por meio de sua justiça.
a) Terminologia da palavra justiça:O Deus que julga é o Deus que faz decisões.
Shafat = Julgar, decidir.
Mispat = A justiça, uma decisão.
Uma decisão com justiça visando fazer o que é reto.
Tsedeq = Justiça.
Tsadiq = Ser reto.
O sentido de justiça em Deus
É a absoluta pureza do caráter de Deus, sua total libertação de qualquer mal. Justiça é a própria
natureza do seu ser. A vontade de Deus é a expressão da energia da sua natureza. Sua vontade não é
nada à parte da sua natureza, nem é sua natureza algo à parte de sua vontade. Seu ser é da natureza
de uma vontade justa e moral.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 42
Aspectos do juízo de Deus
A justiça de Deus tem a ver com conformidade à norma
Aquilo que o próprio Deus estabelece, e o fato de que nós não conhecemos por completo esta norma
não significa que Deus não seja justo. Os indivíduos são justos quando agem segundo a norma(esta
é uma declaração do Antigo Testamento).
Deus sempre julga com justiça porque nele não há iniquidade
O critério que nós conhecemos está na Bíblia. Podemos definir a justiça humana a partir da divina
mas somos incapazes, como seres humanos, de exercer a justiça porque em nós há a
iniquidade(pecado).
Deus não julga com os olhos tapados
Ele conhece plenamente a situação. Por isso ele não pode ser influenciado a tomar uma decisão pois
sonda o coração de cada indivíduo. A sua justiça é reta pois Deus tem os recursos para conhecer
cada detalhe da vida do homem. Deus é consciente em seus julgamentos.
A justiça e o juízo de Deus estão intimamente ligados à ira e o furor de Deus
A ira de Deus não faz parte do seu caráter. Ela é algo que ele faz e não algo que ele é. Ela é um
evento e não uma natureza perpétua, tem um caráter temporário. O Antigo Testamento descreve
Deus como uma Deus zeloso. Quando o povo se desvia, Deus por seu zelo tem ciúmes e faz o povo
retornar. Mas parte do caráter de Deus é a misericórdia e ele pode derramar ou não a sua ira. É
perigoso tentar julgar pois é Deus quem faz o julgamento. A ira de Deus se expressa também no
impedimento do recebimento das bênçãos. Além da razões que você tem encontrado podemos dizer
que o critério utilizado é mais o das normas de comportamento humano(ódio, escravidão, soberba,
etc.) Ninguém está isento do juízo de Deus, não há desculpas.
OO CCOONNCCEEIITTOO DDEE SSHHAALLOOMM NNOO AANNTTIIGGOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO
O que é Shalom? E em que sentido é que este antigo conceito poderá inspirar e orientar os Cristãos
no início do século XXI? É no contexto desta fé e desta reflexão teológica ao longo dos séculos que
vai ganhando cada vez mais importância o fascinante conceito de Shalom, vulgarmente traduzido
por “paz”. Embora, visto de perto, as nossas Bíblias portuguesas precisem de pelo menos vinte
palavras diferentes para exprimir o seu vasto significado. É no contexto desta fé e desta reflexão
teológica ao longo dos séculos que vai ganhando cada vez mais importância o fascinante conceito
de Shalom, vulgarmente traduzido por “paz”. Embora, visto de perto, as nossas Bíblias portuguesas
precisem de pelo menos vinte palavras diferentes para exprimir o seu vasto significado. Para
aproximarmo-nos de Shalom, convém, antes de mais, distingui-la de outras idéias da paz que
influenciaram e ainda influenciam o nosso pensamento ocidental sobre o assunto. Assim, a palavra
Shalom nunca significa simplesmente a ausência de guerra ou conflitos violentos. Também não se
alcança nunca simplesmente pela subjugação sob uma ordem imutável e eterna (seja ela de origem
social, cósmica ou divina). Menos ainda Shalom se deve confundir com uma “ordem” imposta pelo
mais forte (militarmente ou economicamente), como sugere a ideia da “Pax Romana”, esse antigo
eufemismo pela exploração dos povos subjugados pelo Império Romano. E Shalom também nunca
se aplica a uma paz apenas interior, uma paz apenas do espírito. Posto isto, constatamos, em
primeiro lugar, que “Shalom” é um cumprimento, na Bíblia e ainda hoje no Médio Oriente, na
língua hebraica e também na língua árabe. Jacob, ao encontrar e cumprimentar os pastores do seu
sogro Labão, quer saber se Labão está bem, se está com saúde, etc. “Hashalom lo?”, pergunta Jacob
Gênesis 29.6. “Tudo bem?”, diríamos nós numa situação semelhante. Com estas palavras
estabelecemos ou exprimimos uma relação. Shalom, a paz, é eminentemente relacional. Nunca se
pode ter Shalom sozinho, é impensável eu ter paz enquanto o outro não a tem. Literalmente, Shalom
significa “inteiro”, “são”, “vivo”. No fim da viagem de regresso da Mesopotâmia, Jacob chega à
cidade de Siquém “são, salvo e inteiro” (em hebraico: shalem), Gênesis 33.18. “Que o nosso coração
esteja integralmente (shalem) com o Senhor”, afirmam os Israelitas, ao recusar-se à idolatria I Reis
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 43
8:61. E quando David quer saber se o seu filho Absalão continua vivo, pergunta: “o jovem Absalão
está com Shalom?” II Samuel 18.29-32. No Antigo Testamento, a vida caracteriza-se
fundamentalmente pela relação. Sem relação não há vida. A morte é a ruptura mais brutal de todas
as relações. Onde há violência, onde há morte, não há Shalom, não há relação, não há paz, não há
vida. “Exclamam ‘Paz! Paz!’. Mas não há paz.” Jeremias 6.14. A vida, a relação, Shalom, a paz é, no
AT, dom de Deus. Um dom que implica necessariamente um apelo à atividade humana. Com efeito,
cada um (e não apenas o rei, o governo, os poderosos, os políticos etc.) é responsável pela Shalom,
cada um pode e deve contribuir para ela. Incansavelmente o AT convida: “Desvia-te do mal e faz o
bem, procura a paz (shalom) e segue-a!” Salmos 34.15. (6) Como é que se segue e constrói a paz?
Fazendo justiça, respondem os profetas: “A paz será obra da justiça e o fruto da justiça será a
tranquilidade e a segurança para sempre” Isaías 32:17. Definitivamente, não basta a ausência da
guerra para que reine a Shalom! Não se pode superar a violência, não haverá paz enquanto não
houver justiça para todos. “Vão beijar-se a justiça e a paz”, formula poeticamente o Salmos 85.1-14.
O Antigo Testamento documenta a tentativa humana de seguir a paz e ao mesmo tempo a
incapacidade humana de manter a Shalom. Se falta Shalom, isto não se deve a obscuras “forças do
mal”, a vagas “estruturas” ou simplesmente à superioridade das nações vizinhas. Se falta Shalom, a
culpa é dos homens e das mulheres. Não é a lamúria sobre a violência, nem a sua aceitação apática e
resignada que se ouve na voz dos profetas, mas sim o apelo à responsabilidade humana e por isso à
conversão. “Buscai-me e vivereis!” Amós 5.4. Independentemente disto, a última garantia para a
Shalom não reside em instituições humanas (o rei, o templo, o monte Sião, etc., como se pensava
sobretudo durante a época monárquica), mas sim, em Deus. “Ainda que os montes sejam abalados e
tremam as colinas, o meu amor por ti nunca mais será abalado e a minha aliança de paz nunca mais
vacilará” Isaías 54:10. Inseparavelmente encontram-se ligados os aspectos social e político de
Shalom, por um lado, e o seu significado religioso, por outro. (7) Já se constatou que ao longo da
extensa história de Israel a fé e com ela também a idéiia de Shalom se desenvolveram. Desde o
simples cumprimento entre pastores numa sociedade tribal, até à esperança escatológica dos
profetas do exílio e depois. Apesar da vacilação que encontramos portanto no conceito de Shalom,
podemos resumir três aspectos característicos:
A universalidade de Shalom
Shalom engloba todos os âmbitos da vida, neste sentido ela tende a ser universal. Shalom aplica-se a
todas as relações de uma pessoa: a sua relação consigo própria, com a sua família, com a sociedade
mais ampla de que faz parte, com a natureza, com Deus.
A solidariedade de Shalom
É completamente impensável estabelecer a Shalom sozinho, menos ainda à custa dos outros.Por
isso, não há paz onde as viúvas e os órfãos, ou seja, os mais fracos da sociedade, não estejam bem.
A realidade de Shalom
Não se pode traçar uma linha clara que separe entre a Paz de Deus e a paz do mundo. A Shalom,
dom de Deus, capacita a humanidade para a realizar e construir neste mundo, realizando a vontade
de Deus. Longe de ser uma paz apenas interior, ela tem mão e pé, cabeça e coração. Ao mesmo
tempo aponta para além de si própria, na esperança do “príncipe da paz”.
Três idéias, enfim, muito simples. Com efeito, em vão se procura no Antigo Testamento uma
elaborada “teoria de Shalom”. Em vão se buscam receitas do gênero “Como superar a violência.
Aprenda em 5 dias”. Em vão se espera o “sucesso garantido”. Encontramos, sim, histórias antigas,
hinos e orações, oráculos proféticos. Todos eles enraizados em circunstâncias bem concretas da vida
real do antigo Israel. É nestes textos que transparece – se temos olhos para o ver e ouvidos para o
ouvir – algo como uma antiga e profunda sabedoria, alimentada pela fé no Deus da Vida e
amadurecida ao longo dos milênios de experiência histórica. Será esta antiga sabedoria da Shalom
de alguma utilidade para superar a violência na atualidade? Teimosamente insisto que sim!
Confesso que me lembro de Shalom sempre que fico desanimada com aquele discurso, tão comum e
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 44
ao mesmo tempo tão gasto, que espera resolver a violência atual – seja na família, na escola, na rua,
entre etnias e nações, seja a violência inerente à omnipresente globalização – simplesmente com
ainda mais violência (da polícia, dos educadores, da lei e ordem, das tropas de intervenção rápida
etc.). Lembro-me da Shalom pois sinto que com esta antiga sabedoria, com esta visão da paz
(universal, solidária e real), com este grande “sonho”, os cristãos têm um contributo deveras
inovador, precioso e válido para a tão urgente problemática da violência na sociedade atual. E mais,
acredito, não: sei por experiência própria, que a Igreja (as igrejas) pode(m) ser um espaço
privilegiado para experimentar, aprender e viver a Shalom. Ainda nesta Páscoa tive o privilégio de
fazer parte de um curso de liderança para jovens da IEPP onde conviveram jovens em quase tudo
diferentes (idade, origem social, cultura....). São raros, na nossa sociedade, lugares como este curso
onde todos podem aprender uns com os outros e onde crescem respeito mútuo e amizade. Para
mim, experiências como esta transformam-se em preciosos sinais de esperança. Esperança de que,
inspiradas pela Shalom bíblica, as igrejas possam de fato lançar muitas pequenas sementes que, ao
crescerem e desenvolverem-se, contribuem para superar a violência e para criar um mundo
mais humano.
CCOOMMOO OO AANNTTIIGGOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO DDEESSCCRREEVVEE DDEEUUSS
O Deus Vivo
A crença hebraica de que o Deus de Israel(e também o nosso Deus) é um Deus vivo é uma das
declarações mais fortes do Antigo Testamento. E à luz da situação cultural do Antigo Testamento
dizer que o Deus de Israel é vivo é fazer uma declaração muito importante. As religiões pagãs criam
em formas de vidas para seus deuses e as formas de visualizarem suas divindades sob forma de
imagens e esculturas, trouxe um confronto com o Deus invisível que ao contrário dos visíveis,
respira e age em favor do seu povo. "Nunca houve alguém que continuasse a viver depois de ter
ouvido, como nós ouvimos, o Deus vivo falando do meio do fogo"(Deuteronômio 5.26).
O Único Deus
Dizer que Javeh é o único Deus não está baseado numa especulação filosófica, e sim numa
experiência de observação e contato.
a) A História dos Patriarcas(Gênesis 12.1-3). Abraão era filho de pais que cultuavam outros deuses.
Abraão seguiu um Deus que ele não conhecia e marca então uma quebra definitiva no culto
politeísta e o início do culto monoteísta. Quando Abraão fez essa escolha, não temos condições de
saber se ele parou de pensar nos outros deuses. Sabemos que a partir da escolha de Abraão por
parte de Deus e de Deus por parte de Abraão, esse cenário se repetiria em Isaque, Jacó, etc.. Quando
Deus se manifestou a Isaque como ele se apresentou(Gênesis 26.24)? A Jacó Deus também se revela
como o Deus de seus pais e essa maneira de revelar-se formou o elo principal da revelação à Moisés.
Na revelação a Moisés (Êxodo 3.6; 6.2) o elo foi feito em termos do Deus dos pais, e como o Deus
Todo-Poderoso, os nomes são diferentes mais o contexto é o mesmo. Essa revelação representa
também um passo novo, a partir desse ponto Javeh se tornou o único Deus próprio para o culto.
"não terás outros deuses diante de mim", nós não podemos falar nos dez mandamentos em termos
de um monoteísmo absoluto e sim de um monoteísmo prático, baseado na necessidade de formar
uma definição radical do objeto do culto. O monoteísmo do Antigo Testamento é um evento
histórico. Esse monoteísmo é de maneira mais prática. Israel teve o seu conceito de monoteísmo de
maneira progressiva e a revelação foi registrada tendo IHWH como Deus Todo-Poderoso. O
monoteísmo é baseado nas experiências práticas de Deus com o povo e não em reflexões
filosóficas e teológicas do autor bíblico. Ele é absoluto mais também é descrito em termos práticos.
Os profetas clássicos(Isaías 44.6-8; 40.45). Os profetas fizeram declarações clássicas acerca do único
Deus, porém, contendo definições históricas, geográficas e teológicas. As declarações dos versos 6 a
8 são absolutas, os profetas chegaram a essas definições com base na história e não em especulações.
Através da praticidade do monoteísmo que ao mesmo tempo também é absoluto com base em uma
reflexão em tudo o que aconteceu. "Vós sois as minhas testemunhas, há algum outro Deus diante de
mim?"
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 45
O Deus Santo
Nos esquemas teológicos antigos a santidade é considerada um dos atributos de Deus. Porém, essa
santidade é uma qualidade que denota um dinamismo. E quando Ele age essa santidade faz com
que o povo se torne santo. Deus desde o princípio esforçou-se para que os homens compreendessem
que Ele é santo. "A santidade é a plenitude gloriosa da excelência moral de Deus, princípio básico de
suas ações e aferidor único e verdadeiro de suas criaturas"(11).
As Implicações desta santidade são as seguintes:
A santidade em relação a Deus
Podemos desenvolver esta idéia de santidade em relação a Deus quando percebemos estampada, a
própria santidade no caráter divino segundo declara o Salmo 22.3 e João 17.11. Suas obras também
revelam este aspecto de seu caráter como nos ensina o Salmo 145.17. E suas palavras corroboram
esta verdade(Jeremias 23.9).Deus é totalmente diferente(12) das suas criaturas em termos de
essência, há uma separação e nós não vamos nos tornar deuses. Deus é perfeitamente bom; Deus é
fiel em suas ações. Essa é uma diferença básica. E por causa dessa diferença há algumas
dificuldades. Apesar desta distinção o outro lado é que Ele permite que os seres humanos entrem na
sua presença e essa atitude é uma auto-limitação do Deus santo. Leia o texto de Êxodo 24.9-11, agora
compare-o com Êxodo 33. Estamos diante de uma contradição? Justifique a sua resposta.
Aparentemente estes textos se contradizem mas se olharmos o contexto e os objetivos de cada um
entenderemos que ver a face de Deus é ver a sua essência. Deus pode limitar-se sem haver prejuízo
algum para ambas as partes. A situação do capítulo 24 é única e só se repetiu quando Deus fez a sua
nova aliança(no Cenáculo).
A santidade de Deus em relação ao homem
A santidade determina o alvo de Deus. E este alvo é constituído da intenção de Deus em tornar o
homem a sua imagem e semelhança. Deus quer que o homem lhe seja semelhante em santidade. A
santidade de Deus exige a santidade no homem, e partindo do princípio que a santidade determina
o propósito dacriação, podemos dizer que Deus exige que todos os seres humanos sejam santos e
bons. Apesar da separação que existe entre Deus e o ser humano, às vezes a pessoa recebe
permissão de chegar perto de Deus(o caso de Êxodo 24.9-11).
O Deus que Cria
Basicamente a criação não é o grande assunto do Antigo Testamento(Gênesis 1-2; Isaías 40-46; Salmo
8; 19; 24). Não há uma descrição em Jó de Deus como Criador, porém fica subentendido. É
importante considerar a imagem hebraica do universo, faltando uma linguagem científica, eles
falavam numa linguagem fenomenológica, ou seja o ponto de vista do observador baseado nos fatos
e acontecimentos.
Os céus
O firmamento é uma espécie de cápsula ou cúpula que segura aquilo que está dentro e fora que são
águas. É algo sólido que segura e cria uma barreira que separa. As vezes o céu refere-se ao
espaço(Gênesis 1.6). O firmamento está sustentado por colunas que formam uma cúpula sobre a
terra(Salmo 104; Jó 26.11). Às vezes o céu é descrito como uma tenda estendida onde o sol e as
estrelas se movem(Salmo 19.4). Deus abriu as janelas do céu e fez chover(Gênesis 7.1). Neste
contexto as janelas do céu representam a chuva que sustentou o povo. Na linguagem científica há a
limitação dos cinco sentidos e tudo o se relata deve estar ligados a eles. Já na poética há um
dinamismo bem acentuado e nas narrativas baseadas nas experiências existenciais percebe-se os
aspectos teológicos que ficam bem ausentes na linguagem científica. E basicamente o ponto de
partida é Deus e esta é a nossa garantia. Já que na científica temos por base o humanismo; e esta se
torna inadequada para descrever o que a poética faz com maestria.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 46
A terra
A terra também é um tipo de superfície plana com quatro cantos, sustentadas por colunas(Jó 9.6;
Salmo 18.7). E a única pessoa capaz de mover a criação é Deus. Em termos de terra são as águas que
formam a ameaça principal e quando Deus a fez, Ele separou as águas da terra seca, dando espaço
para as criaturas que Ele faria mais tarde. No salmo 93 encontramos um contraste entre o poder de
Deus e o poder das águas que representam uma ameaça contra a terra.
O Deus que Abençoa
A terminologia aponta para uma certa conexão entre bênção e equilíbrio e quando somos
abençoados nossas vidas são equilibradas. "Bênção é a obra contínua de Deus pela qual ele sustenta
vida, concede poder a pessoas, e assegura bem estar".
A Bênção e a Criação
Todos os seres viventes participam da bênção(Gênesis 1.22,28). A bênção tem um caráter universal,
se realiza na criação principalmente no poder de se multiplicar. Desta maneira a bênção pode ser a
obra de continuidade(14). Na bênção há um elemento dinâmico estabelecendo as condições. Leia
Gênesis 5.2 e fale deste elemento dinâmico. A idéia de bênção aqui está ligada especificamente com
a continuidade da raça(confira o raciocínio em Gênesis 9.1), como também em termos universais a
fertilidade.
A Bênção no Livro de Deuteronômio
Aquilo que o livro de Deuteronômio introduz é que a bênção é garantida pela obediência, já que o
período patriarcal esta não era exigida. Você é capaz de explicar esta diferença? A diferença agora é
que a esta altura o povo fica do outro lado da aliança(15), pois este conhece a "aliança" ou as
"Escrituras"(7.12-14). Harbin é de opinião que "é de suma importância entender que a aliança iniciou
uma nova relação entre Deus e Israel, uma relação imposta por Deus mas exclusiva e íntima em seu
ideal. Os mandamentos e Leis, portanto, são poupados de uma conotação puramente exterior e
legalista"(16). A bênção ligada a terra, a produtividade, a descendentes, e tudo isto num contexto de
obediência. Agora há uma condição e a condição baseia-se no fato de que o povo tem a aliança.
Quanto mais conhecemos a Deus, mais as nossas responsabilidades aumentam. Veja em
Deuteronômio 28 que há um contraste entre as bênçãos das obediência e os castigos da
desobediência. Aqui observamos que a vitória sobre os inimigos também é adicionada a bênção. Em
cada contexto histórico a bênção é diferente.
AA SSAALLVVAAÇÇÃÃOO NNOO AANNTTIIGGOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO
O Deus que Salva
No Antigo Testamento a salvação é Teocêntrica. É Deus quem salva, por si próprio ou por
intermédio de seus instrumentos, ou seus servos. Uma expressão clássica da salvação no Antigo
Testamento está registrado em II Samuel 22.1-3: "Este é o hino que Davi cantou ao Deus Eterno
quando ele o salvou de Saul e de todos os seus inimigos: O Deus Eterno é a minha rocha, a minha
fortaleza e o meu libertador. O meu Deus é uma rocha em que me escondo. Ele me protege como
um escudo; ele é o meu abrigo, e com ele estou seguro. Deus é o meu Salvador; ele me protege e me
livra da violência" O que é descrito neste capítulo sobre salvação? Outros textos como Salmo 62 e
Isaías 43.1-12 tratam da salvação no tempo pós exílico. Deus era o único que podia salvar. Só ele era
capaz de iniciá-la e de cumpri-la. O Deus Salvador(18) toma a iniciativa no livramento do seu povo.
As expressões da Salvação no A. T. Nacionais
O evento principal era o Êxodo. Ele é definido como padrão para a salvação. Deus anunciou a
salvação do Êxodo. O anuncio da salvação também faz parte da mesma. No caso específico do povo
de Israel veja como isto se desenvolveu registrando ou descrevendo o que cada verso declara. "Certo
dia José disse aos irmãos: Eu vou morrer logo, mas estou certo de que Deus virá ajudá-los e os
levará deste país para a terra que ele jurou dar a Abraão, a Isaque e a Jacó"(Gênesis 50.24). "Por isso
desci para libertá-los do poder dos egípcios e para levá-los do Egito para uma terra grande e boa. É
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 47
uma terra boa e rica, onde moram os cananeus, os heteus, os amorreus, os perizeus, os heveus e os
jebuseus"(Êxodo 3.8). "Porém Moisés respondeu: Não tenham medo. Fiquem firmes e vocês verão
que o Deus Eterno vai salvá-los hoje. Nunca mais vocês vão ver esses egípcios. Naquele dia o Deus
Eterno salvou o povo de Israel dos egípcios, e os israelitas os viram mortos na praia"(Êxodo 14.13,
30). Este evento é contado várias vezes(Salmo 106.1-10). Ele é o elemento chave para descrever a
salvação. Ainda que a base da salvação tenha sido o êxodo o que Deus promete em Números 10.9-10
e Deuteronômio 20.2-4? "Quando vocês estiverem em guerra no seu próprio país, defendendo-se de
um inimigo que os atacou, toquem o sinal para a batalha com essas trombetas. Eu, o Eterno, o Deus
de vocês, os ajudarei e os livrarei dos seus inimigos. Também nas ocasiões de alegria, isto é, nas
Festas da Lua Nova e nas outras festas religiosas, vocês deverão tocar as trombetas quando
apresentarem os sacrifícios que serão completamente queimados e as ofertas de paz. Então eu os
ajudarei. Eu sou o Eterno, o Deus de vocês".
A salvação na época dos Juízes ocorre em termos de livrar o povo dos inimigos. Como Deus
operava tal livramento(Juízes 6.11-14)? "Então o Anjo do Deus Eterno veio e sentou-se debaixo de
um carvalho que havia perto do povoado de Ofra. Esse carvalho pertencia a Joás, que era da família
de Abiezer. O seu filho, Gideão, estava malhando trigo no tanque de pisar uvas, escondido, para
que os midianitas não o encontrassem. Então o Anjo do Deus Eterno apareceu a ele e disse: Você é
corajoso, e o Eterno está com você! Gideão respondeu: Se o Eterno está com o nosso povo, por que
está acontecendo tudo isso com a gente? Onde estão aquelas coisas maravilhosas que os nossos
antepassados nos contaram que o Eterno costumava fazer quando nos trouxe do Egito? Ele nos
abandonou e nos entregou aos midianitas. Então o Deus Eterno ordenou a Gideão: Vá com toda a
sua força e livre o povo de Israel dos midianitas. Sou eu quem está mandando que você vá". Em
termos de futuro a salvação baseia nas ações de livramentoanteriores. A salvação é sempre
garantida por ações específicas de Deus. A grande esperança para a salvação futura estava na
reunião das tribos do Norte e do Sul. A salvação aqui é vista como uma grande reunião. Leia os
seguintes textos e destaque as expressões que reflitam este conceito. "Naquele dia, o povo de Judá
cantará este hino: A nossa cidade é forte! Deus nos protege com altas muralhas"(Isaías 26.1).
"Descendentes do meu servo Jacó, não tenham medo! Povo de Israel, não fique assustado! Eu os
libertarei dessa terra distante, da terra onde vocês são prisioneiros. Os descendentes de Jacó voltarão
e viverão em paz; viverão em segurança, e ninguém fará que fiquem com medo. Sou eu, o Deus
Eterno, quem está falando. Estarei com vocês para salvá-los. Acabarei com todas as nações por onde
os espalhei, mas vocês não serão destruídos. Vocês não ficarão sem castigo; mas, quando eu os
castigar, não serei duro demais. Eu, o Deus Eterno, falei."(Jeremias 30.10,11). A salvação pode ser
interpretada por uma grande proteção de Deus ou pela vinda do Messias (Zacarias 9.9-16). O rei é
visto como aquele que salva.
Pessoais
A maioria encontra-se nos Salmos, a linguagem é sempre a mesma para a salvação de doenças,
inimigos ou situações difíceis. Veja por exemplo os seguintes salmos e descreva suas ênfases. "Ó
Deus Eterno, tenho tantos inimigos! São muitos os que se viram contra mim! Eles conversam a meu
respeito e dizem: "Deus não o ajudará!" Mas tu, ó Deus Eterno, me proteges como um escudo. Tu me
dás a vitória e renovas a minha coragem. Eu chamo o Eterno para me ajudar, e lá do seu santo
monte ele me responde. Eu me deito, e durmo tranqüilo, e depois acordo porque o Eterno me
protege. Não tenho medo dos milhares de inimigos que me ameaçam de todos os lados. Vem, ó
Deus Eterno! Salva-me, meu Deus! Tu atacas os meus inimigos; tu humilhas os maus e acabas com o
seu poder. És tu que dás a vitória. Ó Deus Eterno, abençoa o teu povo"(Salmo 3). A linguagem de
salvação usada no Antigo Testamento é mais rica do que temos encontrado no Novo Testamento.
Salvação é o livramento total em várias situações(Salmo 91).
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 48
Universal
Tentar entender a salvação universal no Antigo Testamento e usar a narrativa do Dilúvio(Gênesis 6-
9) para basear os argumentos é forçar um pouco a barra. Temos em Isaías 45.17-22 um trecho que
aponta para a promessa ou oferta de salvação universal.
EELLEEMMEENNTTOOSS DDAA SSAALLVVAAÇÇÃÃOO NNOO AANNTTIIGGOO TTEESSTTAAMMEENNTTOO
Os sinais e milagres
Êxodo 4.1 mostra que eles tinham o objetivo de atestar a veracidade das palavras de Moisés; porém,
era sempre Deus o autor das maravilhas. Uma das coisas que acontece sempre na salvação são os
sinais e que muitas vezes não são ostensivos. Os sinais e milagres eram a base para as confissões de
fé.
Mediador
Deus usa elementos humanos para efetuar o livramento do seu povo. Leia os textos a seguir e
perceba como o mediador é usado por Deus na salvação. "Agora venha, e eu o enviarei ao rei do
Egito para que você tire de lá o meu povo, os israelitas"(Êxodo 3.10). "Então os israelitas pediram
socorro ao Eterno, e ele mandou um homem para libertá-los. Esse homem foi Otoniel, filho de
Quenaz, o irmão mais novo de Calebe"(Juízes 3.9). A proclamação dos profetas também coloca o
processo salvífico em movimento. A proclamação profética evoca os milagres feitos por Deus ao seu
povo.
O papel do indivíduo
No Antigo Testamento a salvação é Teocêntrica, parte de Deus. Às vezes Deus espera o
arrependimento da pessoa(isto não indica que ele não possa salvar) Salmo 38. Até certo ponto o
hebreu tinha certeza da salvação de Deus, e o arrependimento dos pecados era condição essencial
para tal(Salmo 38.17-22; 51.1-12; Jeremias 3.4). A salvação é apresentada no Antigo Testamento e dá
margem para uma consideração mais ampla acerca deste conceito.
ESUTES – Escola de Teologia do Espírito Santo 49
BBIIBBLLIIOOGGRRAAFFIIAA
● HASEL, Gerhard - Teologia do Antigo e do Novo Testamento – São Paulo, Editora Academia
Cristã, 2007.
● KAISER, Walter C. Jr - Teologia do Antigo Testamento – Reimpressão da 2ª Edição de 1984, São
Paulo, Edições Vida Nova, 1999.
● FOHRER, Georg - Estruturas Teológicas Fundamentais do Antigo Testamento – São Paulo,
Editora Paulinas, 1982.
● SMITH, Ralph L. - Teologia do Antigo Testamento – 1ª Edição, São Paulo, Edições Vida Nova,
2001.
• CHAMPLIN, R. N., Ph. D. – O Antigo Testamento Interpretado – Versículo por Versículo – 1ª
Edição, São Paulo, Editora Candeia, 2000.
• CHAMPLIN, R.N., Ph. D. – Enciclopédia de Bíblia Teologia e Filosofia – 9ª Edição, Editora
Hagnos, São Paulo, 2008.
Todos os manuais de estudo (apostilas) da ESUTES encontram-se devidamente registrados na
Biblioteca Nacional – Escritório de Direitos Autorais, e estão protegidos pela Lei nº. 9.610, lei que
regula os direitos Autorais no Brasil. Sendo assim, é proibida sua reprodução por qualquer meio, sem
a autorização por escrito da ESUTES. Todas as citações bíblicas feitas nos manuais de estudo foram
extraídas da Bíblia Versão Almeida Corrigida e Fiel(ACF), publicada pela Sociedade Bíblica
Trinitariana,considerada a tradução em português mais fiel aos Manuscritos hebraicos e gregos.
Visite tambéVisite tambéVisite tambéVisite também os sites:m os sites:m os sites:m os sites:
www.jesussite.com.br – www.vivos.com.br
ESUTES ESUTES ESUTES ESUTES ---- ESCOLAESCOLAESCOLAESCOLA DE TEOLOGIA DO ESPÍRITO SANTODE TEOLOGIA DO ESPÍRITO SANTODE TEOLOGIA DO ESPÍRITO SANTODE TEOLOGIA DO ESPÍRITO SANTO
HOME PAGE: HOME PAGE: HOME PAGE: HOME PAGE: www.esutes.com.br
ORIENTAÇÕES PARA A AVALIAÇÃO ON LINE
Agora que terminou o estudo de sua apostila, é necessário que sua AVALIAÇÃO seja respondida. TODAS
AS AVALIAÇÕES do seu curso serão respondidas através do CAMPUS ON LINE.
Para resolver as questões, proceda da seguinte maneira:
a) Acesse o site da escola: www.esutes.com.br , vá até o CAMPUS ON LINE e entre usando seu LOGIN e
SENHA. O LOGIN é seu e-mail cadastrado conosco e sua SENHA inicial é seu primeiro nome. Após o
primeiro acesso ao campus on line, solicitamos que o(a) irmão(a) modifique sua senha de acesso.
b)Após entrar no CAMPUS ON LINE, clique no link AVALIAÇÃO ON LINE e resolva as questões.
A AVALIAÇÃO contém 10 (dez) questões objetivas e é feita sem limite de tempo. Resolvida a avaliação,
sua nota será informada no mesmo instante e irá direto para sua SITUAÇÃO ACADÊMICA.
Caso não atinja a média do curso (7.0), a avaliação poderá ser repetida após Sete (07) dias.