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1UNIDADE 1O que é Filosofia do Direito?
 
 
Objetivos de aprendizagem
 „ Identificar o conceito, o objeto de estudo e a concepção 
de método da Filosofia do Direito.
 „ Compreender conexões da Filosofia do Direito com 
ciências afins.
 
Seções de estudo
Seção 1 Filosofia, Direito, Filosofia do Direito e áreas afins
Seção 2 Reflexões sobre a Metodologia e a Epistemologia 
da Filosofia do Direito
Carlos Euclides Marques
filosofia_do_direito.indb 15 12/07/12 13:31
____________________ 
Pacheco, Leandro Kingeski. O que é Filosofia do Direito? In: Filosofia do Direito: livro didático – 1. ed. rev. – 
Palhoça: UnisulVirtual, 2011.
16
Universidade do Sul de Santa Catarina
Para início de estudo
Você deve estar perguntando-se: por que mais uma disciplina 
de Filosofia? Eis uma pergunta importante, pois ela deve 
produzir reflexão sobre o sentido de sua formação acadêmica e 
do seu agir profissional, seja hoje ou no futuro. Tal reflexão é, 
particularmente, para aqueles que visualizam o exercício de sua 
profissão como algo meramente técnico, no sentido de que este é 
um paradigma a ser quebrado. 
Como você verá em vários momentos deste livro, o exercício 
profissional no âmbito do Direito envolve uma série de 
questionamentos sobre princípios, deveres, normativas, assim 
como, a valoração de ações e a argumentação nos processos. Dito 
isto, você já pode perceber que uma reflexão mais apurada acerca 
destas e outras noções (ou conceitos) e definições é importante 
para seu exercício profissional. O estudo de conceitos, suas 
definições e fundamentos últimos e mecanismos mentais do agir 
humano — e teorizar é um modo do agir humano — é tema, por 
excelência, do exercício filosófico.
Nesta unidade, você terá algumas noções de Filosofia e de 
Direito, recuperando, talvez, parte do que tenha estudado na 
disciplina Filosofia da primeira fase. A partir deste estudo, você 
verá configurar-se a noção de Filosofia do Direito. 
Então, pronto(a) para começar? 
Seção 1 – Filosofia, Direito, Filosofia do Direito e áreas 
afins
Você está lembrado(a) dos conteúdos de Filosofia vistos 
anteriormente? Antes de iniciar seus estudos sobre Filosofia do 
Direito, proponho-lhe o seguinte exercício: 
Embora haja diferenças 
entre os termos conceitos 
e noções, para evitar, aqui, 
grandes digressões, tome-os 
como sinônimos. Tais termos 
têm, filosoficamente, uma 
carga mais absoluta, trata-se 
da essência de algo, de seu 
interior. O termo definição se 
refere ao preenchimento dado 
a certo conceito (ou noção), ou 
seja, é a exteriorização deste. 
Nesta medida, o conceito 
não passa, necessariamente, 
por uma verbalização; já a 
definição, sim. Pode-se dizer 
que a definição recorta, 
delimita, determina algo.
filosofia_do_direito.indb 16 12/07/12 13:31
17
Filosofia do Direito
Unidade 1
Tente recuperar possíveis definições de Filosofia que 
você já tenha estudado. Agora, elabore uma definição.
Atente, na sequência, para alguns aspectos que envolvem a 
definição de filosofia.
1. A etimologia, ou seja, a origem da palavra: já pensou 
de onde ela vem? Provavelmente, você já deve ter lido 
ou ouvido falar que a filosofia é grega. Por que isto? Tal 
afirmação não deve levar a pensar que a filosofia é algo 
difícil, incompreensível para o homem comum, como 
verificado na expressão popular: “Para mim, você está 
falando grego.” Tal compreensão acerca da Filosofia 
é um equívoco. Ela pode exigir um pouco mais de 
nosso raciocínio, mas não é algo inalcançável. Se fosse 
assim, não estaríamos aqui, certo? Descartada esta 
possibilidade, voltemos à razão de ela ser grega. Primeiro, 
é importante você saber que a Filosofia nasceu na Grécia 
Antiga, por volta do século VI a.C. Logo, trata-se de 
um tipo de conhecimento datado em termos de origem. 
filosofia_do_direito.indb 17 12/07/12 13:31
18
Universidade do Sul de Santa Catarina
Atribui-se a Pitágoras de Samos — conhecido por seu 
Teorema de Pitágoras — a cunhagem, ou seja, criação 
da palavra. Ela é formada por dois radicais gregos: philos – 
amante, amigo; e sophia — sabedoria. Então, em oposição 
ao sophés — sábio — que caracterizava uma tradição anterior 
ao aparecimento da Filosofia — a tradição mítica, Pitágoras 
se diz philosofos, quer dizer, amigo da sabedoria, e não sábio. 
Contudo este sentido, tomado em sua plenitude, não resolve 
nosso problema, pois qualquer ser humano preocupado 
com a busca do conhecimento de forma apaixonada seria 
um filósofo. Tal sentido retrata mais uma propensão para 
o filosofar, comum a todo ser humano. O que indica, em 
princípio, sermos todos filósofos. 
2. Há também a noção de que filosofia é uma reflexão. 
Mas, o que é refletir? Tal palavra vem do latim re-flectere, 
que significa dobrar-se novamente sobre algo, curvar-se 
novamente. Esta palavra indica um movimento de olhar 
algo posto a nossa frente, de forma a vê-lo com mais 
atenção, detalhadamente, digredindo. Ora, você dirá, 
mas isto eu também faço, quando analiso um processo! 
Correto, então, temos mais uma noção que, por si só, não 
dá conta do que seja filosofia.
3. Acompanhando a reflexão, não raramente aparece a 
expressão rigoroso, ou seja, ao conceito de Filosofia está 
associada a ideia de uma reflexão rigorosa. Você pode 
estar perguntando-se: “Mas ser rigoroso não é uma 
atributo do conhecimento científico? Filosofia e Ciência 
são similares, então?” Esta sua inquietação está correta, 
uma vez que o rigor é algo próprio também da ciência e, 
mesmo, de outros tipos de conhecimento. Entretanto não 
quer dizer que Filosofia e Ciência sejam a mesma coisa.
4. Também é comum ouvirmos que a Filosofia trata-se de 
uma reflexão radical. Mas o que significa radical? Você 
já pensou nisso? Radical está empregado aqui no sentido 
de que vai à raiz do problema. Mas você ainda poderia 
dizer que a investigação policial que dá elementos para 
o processo de julgamento, é, ou deveria ser, radical e 
rigorosa. E você está certo(a)!
filosofia_do_direito.indb 18 12/07/12 13:31
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Filosofia do Direito
Unidade 1
5. Há quem diga que aquilo que diferencia a Filosofia de 
outras formas de conhecimento é trabalhar com conceitos 
e definições, construindo-os e fundamentando-os. Eis 
algo mais próprio da Filosofia e que envolve todos os 
aspectos apresentados anteriormente. Ainda assim, 
você dirá, por exemplo: mas, ao tomar uma decisão, o 
juiz utiliza-se de conceitos e fundamenta-os. Correto, 
contudo a fundamentação deste ou daquele conceito, não 
raramente, é tomada desta ou daquela corrente filosófica.
Porém, quando dizemos Filosofia do Direito, temos outro termo 
implicado: o Direito. Então o que é Direito? Eis uma questão de 
caráter filosófico-ontológico. Você deve estar perguntando-se: 
mas o que é isso? Calma, vamos à explicação!
Ontologia é a parte da filosofia que estuda o Ser. Ontos, 
em grego, quer dizer ser. Logos quer dizer discurso, 
tratado. 
 
Então, a pergunta ontológica, aqui, é: “O que é isto, Direito?” 
Certamente, você pode encontrar em algumas doutrinas jurídicas 
a resposta a estas perguntas, mas uma discussão rigorosa e 
profunda sobre a natureza e os fundamentos do Direito é própria 
da Filosofia do Direito. 
filosofia_do_direito.indb 19 12/07/12 13:31
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Neste sentido, faça uma pesquisa (pode ser na 
internet), e liste algumas definições de Direito, antes 
de continuar. Você pode usar o espaço abaixo para 
fazer suas anotações. 
Veja no quadro algumas definições de Direito:
Emmanuel Kant Direito é o conjunto de condições pelas quais o arbítrio de um pode conciliar-se com o arbítrio do outro, segundo uma lei geral de liberdade.
Eugen Ehrlich O direito é ordenador e o suporte de qualquer associação humana e, em todos os lugares, encontramoscomunidades porque organizadas.
Hans Kelsen
[...]o direito se constitui primordialmente como um sistema de normas 
coativas, permeado por uma lógica interna de validade que legitima, 
a partir de uma norma fundamental, todas as outras normas que a 
integram[...]
Quadro 1.1 – Definições de Direito
Fonte: Penha (2001). 
Fazendo um pequeno desvio quanto à definição, mas não saindo 
do dilema que ela envolve, é importante destacar que, no geral, 
você verá nos manuais que procuram dar conta da definição 
de direito a oposição entre duas vertentes, as quais, em dados 
momentos da história, são opostas, mas nem sempre. Trata-se do 
debate entre o Direito Natural e Direito Positivo. 
filosofia_do_direito.indb 20 12/07/12 13:31
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Filosofia do Direito
Unidade 1
 „ Direito Natural - esta primeira abordagem toma algo 
que está para além ou acima da norma escrita. 
 „ Direito Positivo - pauta-se somente pela norma escrita e 
procura caracterizar o Direito como uma ciência. 
Há diferentes matizes tanto para o Direito Natural 
ou Jusnaturalismo como para o Direito Positivo 
ou Juspositivismo. Não entraremos, aqui, nestas 
diferenças, que serão apresentadas, direta ou 
indiretamente, em outros estudos.
Então, em que bases podemos propor tal debate? Quando se 
tenta estabelecer um critério de cientificidade para determinada 
área de conhecimento, particularmente para as tendências 
positivistas e neopositivistas, procura-se retirar do conhecimento 
científico os juízos de valor, ficando-se apenas com os juízos de 
fato e o aspecto descritivo e experimental do fenômeno. 
Você pode perguntar: qual a distinção entre esses conceitos? 
Face ao mundo em que está, o ser humano produz juízos de 
realidade. Estes podem ser tanto juízos de fato como juízos de 
valor: 
 „ Juízos de fato – têm caráter descritivo, objetivo; 
 „ Juízos de valor – a subjetividade é a principal 
característica. 
Leia o texto no quadro a seguir e procure compreender como esta 
questão é “resolvida” do ponto de vista do Direito Positivo.
Podemos tomar, como será 
trabalhado mais a frente, 
respeito irrestrito à norma 
escrita como correlata de 
legalidade. Assim, o Direito 
natural busca, muito 
mais, a legitimidade, a 
justiça, para além da mera 
aplicação da lei.
filosofia_do_direito.indb 21 12/07/12 13:31
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Juízo de fato e juízo de valor 
Segundo Norberto Bobbio, o Positivismo Jurídico é resultado do 
esforço de se transformar o estudo do direito numa verdadeira 
ciência, que tivesse as mesmas características das ciências 
matemáticas. Sua característica fundamental deveria ser então 
a avaloratividade, isto é, a separação entre juízos de fato e juízos 
de valor, sendo que a ciência trabalha somente com juízos de 
fato, excluindo do seu âmbito tudo que se relacione com juízos 
de valor. Esta exclusão se deve à natureza distinta destes dois 
tipos de juízos. O juízo de fato é uma ponderação sobre algo 
real. Ele representa uma tomada de conhecimento da realidade. 
Sua formulação tem como finalidade apenas informar, pois se 
trata de uma constatação objetiva. O juízo de valor, ao contrário, 
é subjetivo, pois os valores são pessoais. A definição de valores, 
como o belo, o bom, o justo, difere de pessoa para pessoa, pois 
representam uma tomada de posição frente à realidade. Assim, 
a formulação de um juízo de valor possui a finalidade não da 
informação, mas sim da persuasão. A ciência do direito, então, 
na busca pelo conhecimento puro e objetivo, deve afastar 
de seu estudo os juízos de valor, pois estes são subjetivos e 
pessoais. Segundo Austin, o positivista jurídico estuda o direito 
tal qual é, e não tal qual deveria ser. É o direito como fato, e não 
como valor, devendo se excluir de suas definições qualquer 
tipo de qualificação, do tipo: este direito é justo ou injusto. O 
juspositivista estuda o direito real, sem se perguntar se, além 
deste, há um direito ideal, e esta atitude é o que caracteriza a 
diferença entre o positivismo e o jusnaturalismo. Para que se 
torne clara essa distinção, é preciso compreender os conceitos 
de validade do direito e de valor do direito. A validade de uma 
norma jurídica qualifica esta norma como pertencente ao 
ordenamento jurídico, isto é, uma norma válida é aquela que 
existe no mundo jurídico. Já o valor de uma norma indica sua 
qualidade de ser compatível com o direito ideal, isto é, o valor de 
uma norma somente existe, se ela for justa. Para o jusnaturalista, 
uma norma somente é válida se for justa. Já, para o juspositivista, 
uma norma é justa pelo único fato de ser válida. Porém Norberto 
Bobbio afirma que esse tipo de positivista extremo é raro, sendo 
que a grande maioria dos positivistas típicos apenas separa 
conceito de validade de valor, não negando a existência deste 
desvinculada da validade, mas apenas sustentando que tal 
questão não deve ser tratada pelo direito, e sim pela filosofia.
Fonte: Santos (2008).
filosofia_do_direito.indb 22 12/07/12 13:31
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Filosofia do Direito
Unidade 1
Importante! Muitas das correntes não positivistas, no 
entanto, defendem que esta separação entre juízos de 
fato e juízos de valor não é tão simples. Isso acontece 
porque, de acordo com essa vertente, o Direito não é 
uma ciência do ser, mas do ‘dever ser’. 
Leia com atenção a tirinha a seguir: 
Figura 1.1 – Tirinha Mafalda
Fonte: Quino (1991).
Depois desta digressão, voltemos às definições de direito. No 
“Dicionário de Filosofia”, Nicolas Abbagnano (1982, p. 260) 
define: 
DIREITO (gr. Δίκαιο lat. Jus; ingl. Law; franc. Droit; 
al. Recht). Em sentido geral e fundamental, a técnica da 
coexistência humana, isto é, a técnica voltada a tornar 
possível a coexistência dos homens. Como técnica, o 
D. se concretiza em um conjunto de regras (que nesse 
caso são leis, ou normas); e tais regras têm por objeto o 
comportamento intersubjetivo, isto é, o comportamento 
recíproco dos ho mens entre si. Na história do pensamento 
filosófico e jurídico sucederam-se ou entrecruzaram-se 
quatro concepções fundamentais quanto à validade do 
D.: 1.ª a que considera o D. posi tivo (isto é, o conjunto 
dos D. que as várias sociedades humanas reconhecem) 
como fundado em um D. natural eterno, imutável e 
necessário; 2.ª a que julga o D. fundado na moral e o 
con sidera, portanto, uma forma diminuída ou imperfeita 
de moralidade; 3.ª a que reduz o D. à força, isto é, a uma 
realidade histórica poli ticamente organizada; 4.ª a que 
considera o D. como uma técnica social. 
filosofia_do_direito.indb 23 12/07/12 13:31
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Assim sendo, tomando algo já dito por Demerval Saviani (1996, 
p. 16-21) e complementando, “a filosofia é uma reflexão radical, 
rigorosa de conjunto e conceitual sobre os problemas que a 
realidade apresenta”. Com isto poderemos definir: 
Filosofia do Direito é uma reflexão radical, rigorosa 
de conjunto e conceitual sobre os problemas que a 
realidade do Direito apresenta. Que tipos de problemas 
são estes, veremos mais a frente.
Para ilustrar e complementar o que foi dito acima, leia a 
passagem do livro “Filosofia do Direito”, de Paulo Nader (2006, 
p. 6) e reflita sobre ela:
2.3 Conhecimento Filosófico. O conhecimento 
filosófico representa um grau a mais em abstração e em 
generalidade. O espírito humano não se satisfaz, em um 
plano de existência, com as explicações parciais dadas 
pelas diversas ciências isoladas. Os fenômenos científicos 
não se dispõem em compartimentos incomunicáveis, 
estranhos entre si, e, por isso, o homem quer descobrir a 
harmonia, a concatenação lógica, os nexos de adaptação 
e de complementação que governam toda a trama do 
real. Visando a estabelecer princípios e conclusões, ele 
toma por base de análise a universalidade dos fatos edos 
fenômenos e, com fundamental importância, a própria 
vida humana. Esse objetivo é alcançado através do saber 
filosófico. Spencer, ao comparar este conhecimento 
com os de segundo e primeiro graus, considera-o “um 
saber totalmente unificado, em contraposição ao saber 
parcialmente unificado (científico), e ao saber não 
unificado (vulgar).” Na Jurisprudência, o conhecimento 
filosófico tem por objeto de reflexão o conceito do 
Direito, os elementos constitutivos deste, seus postulados 
básicos, métodos de cognição, teleologia e o estudo 
crítico-valorativo de suas leis e institutos fundamentais. 
Por hora, podemos dizer, resumidamente e parafraseando Nader, 
que Filosofia do Direito é uma pesquisa conceito acerca do 
que é próprio do âmbito jurídico e de suas implicações lógicas, 
buscando seus princípios mais elevados, que se pauta numa 
reflexão crítico-valorativa das instituições jurídicas.
filosofia_do_direito.indb 24 12/07/12 13:31
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Filosofia do Direito
Unidade 1
O estudo da definição do Direito, de sua origem, fundamento 
e desenvolvimento é o tema da filosofia do Direito, concebida 
às vezes como um dos ramos da filosofia e às vezes como a 
parte básica de uma ciência autônoma do Direito. (MORA, 
2000, p. 750).
Embora seja possível encontrar várias definições prontas, você viu 
que definir Direito é uma tarefa complicada. Ao tentar dar conta 
de tal definição, o estudioso toma diferentes recortes em conjunto 
ou prioriza um em detrimento de outro: 
1. Quando o Direito é entendido como ciência, temos 
que recorrer à Epistemologia para entendê-lo, pois esta 
discute o que fundamenta uma ciência, seus critérios e 
avalia seus métodos e resultados. 
2. Definindo Direito como conjunto de normas coercitivas 
dadas pelo Estado, estabelecemos interseções com a 
Filosofia Política, pois temos que dar conta de questões 
como: qual a origem do Estado? ; qual a melhor forma de 
governo? ; qual a relação entre leis e justiça? Etc.
3. Ao pensar o Direito como algo que implica honestidade, 
dever, consciência e liberdade, estamos, também, no 
campo da Ética ou Filosofia Moral. 
4. Estudando as regras de validade de um raciocínio 
jurídico, estamos no campo da Lógica. 
Como você pode ver, as contribuições de certas áreas da Filosofia 
para o estudo do Direito são de extrema importância. Porém 
existem contribuições de outras áreas claramente ligadas ao 
estudo do Direito: 
5. Para ter uma visão mais ampla do Direito, temos que 
compreender que este se trata de um fenômeno histórico 
e, como tal, sofreu (e sofre) alterações temporais, 
portando, nesta medida, valores ideológicos. Para dar 
conta das modificações e aplicações do Direito ao longo 
do tempo e das diferentes sociedades, temos que recorrer 
à História.
filosofia_do_direito.indb 25 12/07/12 13:31
26
Universidade do Sul de Santa Catarina
6. Se a noção de Direito implica a noção de Estado, 
precisamos, também, da Ciência Política, da 
Antropologia Social. 
7. A Psicologia também contribui com o entendimento 
do fenômeno jurídico, na medida em que lida com os 
comportamentos humanos. 
Para melhor ilustrar tais interseções, de forma breve, apontemos 
dois temas centrais neste estudo: 
 „ a relação Ética e Direito; 
 „ a relação Direito e Justiça.
Veja a seguir a explicação de cada uma dessas relações. 
Ética e Direito
Como indica Vázquez (1975, p. 80-84), há entre o Direito e a 
Moral muitos aspectos em comum. São eles:
1. ambos constituem normas que regulamentam a vida 
humana, postulando, assim, condutas obrigatórias e 
devidas;
2. são imperativas, “[...] têm a forma de imperati vos; 
por conseguinte, acarretam a exigência de que se 
cumpram, isto é, de que os indivíduos se comportem 
necessariamente de uma certa maneira”;
3. respondem a uma mesma necessidade social, a saber, 
“regulamentar as relações dos homens visando a garantir 
certa coesão social”;
4. mudam historicamente.
Vázquez também aponta algumas diferenças. Acompanhe.
filosofia_do_direito.indb 26 12/07/12 13:31
27
Filosofia do Direito
Unidade 1
1. Enquanto as normas morais implicam uma adesão 
íntima do indivíduo, no sentido de agir conforme sua 
consciência e razão, a norma jurídica é exterior ao agente. 
Ilustrativamente, quando o indivíduo respeita uma dada 
regra por, conscientemente, considerá-la válida, tomando-a 
para si como um imperativo de sua ação, dizemos ser esta 
uma atitude moralmente boa; já, para o Direito, o que 
importa é o cumprimento da norma, não implicando, 
necessariamente, a consciência da norma. Assim, se um 
indivíduo, mesmo a contragosto, por coação, respeitar as 
regras jurídicas postas, age corretamente do ponto de vista 
do Direito; “a interiori zação da norma, essencial no ato 
moral, não o é, pelo contrá rio, no âmbito do direito”.
2. Correlatamente à diferença supracitada, tem-se o papel 
da coação: no caso da Moral, trata-se de uma coação 
interior; já, no Direito, ela é exterior. “Nada e ninguém 
nos pode obrigar internamen te a cumprir a norma moral. 
Isso quer dizer que o cumprimento das normas morais 
não é garantido por um dispositivo exterior coercitivo 
que possa prescindir da vontade.” Diferente do Direito 
que dispõe de um organismo estatal para impor tais 
normas.
3. Enquanto as normas jurídicas se encontram, em sua 
maioria, codificadas, as normas morais, no geral, não.
4. A moral é mais ampla que o Direito, pois abarca uma 
infinidade de relações humanas, enquanto o Direito 
se restringe àquelas “mais vitais para o Estado, para as 
classes dominantes ou para a sociedade em seu conjunto”.
5. A Moral é anterior ao Direito, pois ela se constitui 
antes do advento do Estado, quanto o Direito está 
ligado ao aparecimento do Estado. Podemos falar de 
sociedades moralmente regradas, mas sem Estado, mas, 
dificilmente, podemos falar de Direito sem Estado.
Particularmente nas sociedades contemporâneas, podemos falar 
da convivência de múltiplas morais numa mesma sociedade; algo 
difícil no campo do Direito, pois: 
filosofia_do_direito.indb 27 12/07/12 13:31
28
Universidade do Sul de Santa Catarina
[...] como depende necessariamente do Estado, existe 
somente um direito ou sistema jurídico único para toda a 
sociedade, ainda que este direito não conte com o apoio 
moral de todos os seus membros. Conclui-se, portanto, 
que na sociedade dividida em classes anta gônicas existe 
somente um direito – porque existe somente um Estado 
–, ao passo que coexistem duas ou mais morais diver sas 
ou opostas. (VÁZQUEZ, 1975, p. 83).
Isto não quer dizer, no entanto, que o Direito não prescreva o 
respeito às diferentes morais: 
O campo do direito e da moral [...] possuem um caráter 
histórico. A es fera da moral se amplia às custas do 
direito, à medida que os homens observam as regras 
fundamentais da convivência voluntariamente, sem 
necessidade de coação. Esta ampliação da esfera da 
moral com a conseqüente redução da do direito é, por 
sua vez, índice de um progresso social. A passagem para 
uma organização social superior acarreta a substituição 
de certo com portamento jurídico por outro, moral. De 
fato, quando o indi víduo regula as suas relações com os 
demais não sob a ameaça de uma pena ou pela pressão da 
coação externa, mas pela íntima convicção de que deve 
agir assim, pode-se afirmar que nos encontramos diante 
de uma forma de comportamento moral mais elevada. 
Vê-se, assim, que as relações entre o direito e a moral, 
historicamente mutáveis, revelam num certo momento 
tanto o nível alcançado pelo progresso espiritual da 
humani dade, quanto o progresso político-social que o 
torna possível. (VÁZQUEZ, 1975, p. 83-84).
Particularmente as semelhanças levaram alguns pensadores a 
considerar o Direito como fundado na Moral, sendo uma forma 
diminuta da moralidade.Tal tese pode ser fundamentada, 
também, na história do Direito ou da constituição de códigos 
escritos. Geralmente, os primeiros códigos normativos escritos 
carregam consigo preceitos morais. 
Algumas constituições de cidades gregas na 
Antiguidade, por exemplo, prescreviam o respeito aos 
mais velhos e cortar os cabelos de determinada forma, 
ou seja, prescrições do âmbito moral ou do trato social, 
não jurídicas no sentido mais estrito da palavra. 
Para entender melhor, 
consulte: Art. 5°, Inciso 
VI - “É inviolável a liberdade 
de consciência e de crença, 
sendo assegurado o livre 
exercício dos cultos religiosos 
e garantida, na forma da 
lei, a proteção aos locais 
de culto e a suas liturgias”. 
(Constituição Brasileira de 
1988). Consulte também: 
Art. 20 - “Praticar, induzir 
ou incitar a iscriminação 
ou preconceito de raça, 
cor, etnia, religião ou 
procedência nacional”. Pena: 
reclusão de um a três anos e 
multa. (Lei Nº 9.459, de 13 de 
Maio de 1997.)
filosofia_do_direito.indb 28 12/07/12 13:31
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Filosofia do Direito
Unidade 1
Evidentemente, esta é apenas uma das perspectivas filosóficas 
acerca do Direito. Mais à frente, você se dará conta de outras. 
Justiça, Lei e Direito
Outro debate bastante instigante que tomaremos aqui para ilustração 
de temas filosófico-jurídicos, os quais envolvem a interseção de várias 
áreas da Filosofia, é o da relação entre Lei e Justiça. 
Na antiguidade grega, a Justiça é vista como medida ou ordem 
natural das coisas. Partindo desta concepção, podemos entender a 
definição de justiça encontrada no diálogo A República, quando 
Platão afirma: quando “[...] cada pessoa fizer uma só coisa, de 
acordo com a sua natureza e na ocasião propícia deixando em paz 
as outras” (PLATAO, 2002, 370e, p. 57), temos a justiça. Ou, mais 
claramente, noutra passagem: “[...] a justiça será que cada um exerça 
uma só função na sociedade, aquela para a qual, por natureza, foi 
mais dotado” (PLATAO, 2002, 433a, p. 128-129). Velhas máximas 
da mitologia grega que foram tomadas pelos filósofos desta época 
também marcam esta noção. É o caso da seguinte ideia: “Nada 
em demasia.” Em certa medida, ainda pensamos assim quando 
estabelecemos proximidades entre lei e ordem, ou quando dizemos 
que certa ação é justa por ter restabelecido a ordem das coisas. 
Você já deve ter ouvido alguém dizer que está devendo um favor 
a outro, ou que não pode ir a uma festa de aniversário sem levar 
um presente, pois o aniversariante lhe deu um no seu aniversário. 
Este costume de retribuir remonta a velhas práticas, que remetem 
à recomposição da ordem com justiça natural. Há antigas questões, 
retomadas no Direito contemporâneo, que se pautam pela justiça 
distributiva e reparatória (retomando Aristóteles), pretendendo 
repor diretos a cidadãos que historicamente têm seus direitos 
negados e, assim, impossibilitados de ascensão social. É o caso do 
debate sobre as cotas e as normas contra os preconceitos étnicos. 
Nestas antigas concepções, entretanto, se está pensando a Lei 
como modelo universal e, como tal, trata-se de uma idealização 
da lei. Tal postura pode facilmente considerar como correlatas Lei 
e Justiça, Direito e Justiça, Ordem e Justiça. Contudo, no âmbito 
do mundo prático, constata-se que nem toda lei é justa e nem 
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Universidade do Sul de Santa Catarina
todo ato justo é legal. Assim sendo, ao se tomar o Direito como 
prescrição coercitiva do Estado, podemos debater a relação entre 
leis, estabelecimento da ordem e justiça, legalidade e legitimidade. 
Você já pensou sobre isto: será que tudo que é legal é 
legítimo? 
Pense na seguinte situação: dado Estado totalitário, para 
estabelecer a ordem social, impõe leis que proíbem a livre 
associação de trabalhadores ou classes sociais, e dispõem prender 
e torturar com o objetivo de desmontar os movimentos contrários 
à ordem estabelecida. O cumprimento de tais leis por parte dos 
funcionários do Estado pode ser legal, ou seja, estar dentro das 
leis estabelecidas. Mas você acha que isso seria justo? Como 
juridicamente condenar ou absolver um tirano que usou de 
tortura e mandou matar muitos cidadãos, se este agia dentro da 
ordem legal (jurídica) estabelecida? Eis um debate que envolve a 
questão dos Direitos humanos e internacionais.
Outro dilema: é justo que uma assembleia constituinte estabeleça 
nas normativas maiores de uma nação cláusulas que proíbam a 
gerações futuras reformular ou revogar determinadas cláusulas 
constitucionais? Este é o caso do debate sobre a legitimidade das 
cláusulas pétreas na constituição brasileira. 
É importante você compreender que legitimidade 
remete a consenso, a uma aceitação pública. Nesta 
medida, a imposição de leis não é legítima, pelo menos 
num regime democrático, se não passa pela aceitação 
e justificação da vontade geral.
Para ilustrar tal debate, leia o artigo 
Reflexões acerca da legitimidade das 
cláusulas pétreas, de Frederico 
Augusto Leopoldino Koehler, 
professor e Juiz Federal do Tribunal 
Regional Federal da 5ª Região, em 
Recife-PE, do qual transcrevemos 
o Resumo: “O presente ensaio tem 
o intuito de desenvolver reflexões 
críticas sobre a legitimidade das 
cláusulas pétreas nos regimes 
democráticos. Para tanto, o autor 
inicia o artigo com um breve histórico 
das cláusulas pétreas no direito 
estrangeiro. Após, são averiguadas 
as razões que comumente motivam 
a sua criação. O texto analisa o 
instituto no ordenamento jurídico 
brasileiro e, mais adiante, destaca 
os pontos positivos e negativos 
das limitações materiais ao poder 
de reforma. Aborda então a teoria 
da dupla revisão e o paradoxo das 
cláusulas pétreas. Por fim, questiona 
a legitimidade dessa figura jurídica 
no regime democrático e o papel 
do Supremo Tribunal Federal como 
intérprete central do instituto e 
definidor do seu sentido e alcance, 
apontando as conclusões atingidas.” 
Fonte: Koehler (2009).
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Filosofia do Direito
Unidade 1
A passagem abaixo, é bastante esclarecedora: 
1. Introdução
“Nem tudo que é ilegal é ilegítimo”. Esta frase, 
difundida no senso comum, é de grande importância nos 
estudos filosófico-jurídicos. A partir dela, insere-se na 
doutrina jurídica um termo bem menos conhecido que a 
legalidade: a legitimidade.
A história das instituições jurídicas brasileiras consolidou 
a ideologia positivista, sobre a qual a legalidade é o 
principal fundamento de validade das condutas dos 
indivíduos na sociedade.
O positivismo deu origem à ideologia legalista, ideologia 
falsificadora da realidade, estratégia autoritária, que passa 
longe dos marcos de justiça. A noção de legitimidade 
virá, portanto, para romper com essa ideologia.
2. Definições de legalidade e legitimidade
Wolkmer (1994, p. 180) assinala que “a legalidade 
reflete fundamentalmente o acatamento a uma estrutura 
normativa posta, vigente e positiva”, e que a legitimidade 
“incide na esfera da consensualidade dos ideais, dos 
fundamentos, das crenças, dos valores e dos princípios 
ideológicos”. Sua aplicação envolve, como concepção do 
direito, “a transposição da simples detenção do poder e a 
conformidade do justo advogados pela coletividade”.
A legalidade está relacionada à forma, enquanto a 
legitimidade está relacionada ao conteúdo da norma.
A legalidade, como acatamento a uma ordem normativa 
oficial, não possui uma qualidade de justa ou injusta. 
A ideologia legalista, por sua vez, parte da noção 
de legalidade para distorcê-la e, aí sim, servir como 
instrumento de injustiça. (MOREIRA, 2008).
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Nas palavras finais, o mesmo artigo indica uma tendência. Veja:
10. Conclusão
À guisade conclusão, procurou-se abordar dois 
termos essenciais à filosofia jurídica, a legalidade e a 
legitimidade, chegando até as distorções de cada um.
Demonstrou-se que não há neutralidade na aplicação do 
direito, e que a ideologia legalista está impregnada na 
formação do pensamento jurídico brasileiro.
Conclui-se que é preciso verificar a legitimidade do 
direito, em vez olhar apenas para sua legalidade. Assim, 
encontra-se plenamente aplicável a máxima “nem tudo 
que é ilegal, é ilegítimo”.
A ruptura com o legalismo e com a legitimação leva à 
afirmação de uma nova legitimidade, como parâmetro 
de aplicação do direito, a legitimidade conforme 
os interesses e necessidades das classes populares.
(MOREIRA, 2008).
Veja no quadro abaixo uma resposta a respeito deste debate que é 
bem esclarecedora:
O Princípio da Legitimidade
A legitimidade tem exigências mais delicadas, visto que levanta 
o problema de fundo, questionando acerca da justificação e dos 
valores do poder legal. A legitimidade é a legalidade acrescida 
de sua valorização. É o critério que se busca menos para 
compreender e aplicar do que para aceitar ou negar a adequação 
do poder às situações da vida social que ele é chamado a 
disciplinar.
No conceito de legitimidade entram as crenças de determinada 
época, que presidem à manifestação do consentimento e da 
obediência.
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33
Filosofia do Direito
Unidade 1
A legalidade de um regime democrático, por exemplo, é o seu 
enquadramento nos moldes de uma constituição observada e 
praticada; sua legitimidade será sempre o poder contido naquela 
constituição, exercendo-se de conformidade com as crenças, 
os valores e os princípios da ideologia dominante, no caso a 
ideologia democrática.
Do ponto de vista filosófico, a legitimidade repousa no plano das 
crenças pessoais, no terreno das convicções individuais de sabor 
ideológico, das valorações subjetivas, dos critérios axiológicos 
variáveis segundo as pessoas, tomando os contornos de uma 
máxima de caráter absoluto, de princípio inabalável, fundado em 
noção puramente metafísica que se venha a eleger por base do 
poder.
A legitimidade inquire acerca dos preceitos fundamentais que 
justificam ou invalidam a existência do título e do exercício do 
poder, da regra moral, mediante a qual se há de mover o poder 
dos governantes para receber e merecer o assentimento dos 
governados.
Vale ressaltar a importância que tem o entendimento sociológico 
da legitimidade, a qual implica sempre uma teoria dominante do 
poder.
A legitimidade abrange, por último, duas categorias de 
problemas:
1) A necessidade e a finalidade mesma do poder político 
que se exerce na sociedade através principalmente 
de uma obediência consentida e espontânea, e não 
apenas em virtude da compulsão efetiva ou potencial 
de que dispõe o Estado (instrumento máximo de 
institucionalização de todo o poder político). Vista 
debaixo desse aspecto, a legitimidade do poder 
só aparece contestada nas doutrinas anárquicas, 
nomeadamente no marxismo.
2) Saber se todo poder é legal e legítimo ao mesmo tempo 
e quais as hipóteses configurativas de desencontro 
desses dois elementos: legalidade e legitimidade.
Fonte: Oliveira (2011).
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Seção 2 – Reflexões sobre a Metodologia e a 
Epistemologia da Filosofia do Direito
Como todo tipo de conhecimento, a Filosofia do Direito 
também tem seus métodos. O que a diferencia de outras 
formas de conhecimento são, em parte, as características destes 
procedimentos metodológicos. Preste atenção no exemplo a seguir: 
Um homem comum, ao fazer seu trabalho, que, 
no caso, é capinar o quintal, também tem um 
procedimento metódico, aprendido por observação 
e prática. Desta forma, esse homem sabe que seu 
intento terá maior resultado, caso segure a enxada 
de determinada forma, se começar por determinado 
ponto e não outro, se medir os gestos e a força dos 
movimentos, embora, evidentemente, possa apreender 
e executar isto de forma aleatória. Como muitos tipos 
de conhecimento, tal processo não se aprende de 
imediato, mas, depois de um tempo, dão-se por hábito 
e são tomados por naturais. 
Algo semelhante poderia ser dito de seu processo de 
aprendizagem para exercer certas funções que lhe serão 
pertinentes com o título de bacharel em Direito. No começo, 
você terá que observar outros profissionais com maior 
experiência; com muita frequência, terá de consultar os códigos 
e as normativas jurídicos, os pareceres e súmulas de outros 
processos para fundamentar suas tratativas. Com o passar do 
tempo, suas respostas serão mais rápidas e gastará menos tempo 
em pesquisas, pois, na prática, foi adquirindo um repertório 
básico necessário para o exercício de sua função. Evidentemente, 
isto não quer dizer que, com o tempo, você possa vir a dispensar 
a pesquisa, a consulta aos códigos e normativas, mesmo porque, 
como já foi dito, o Direito é mutável. 
Talvez você esteja a se perguntar: 
Então, os métodos do senso comum são similares aos 
da Filosofia do Direito ou da Ciência do Direito?
Cabe lembrar que estes 
esquemas mentais e 
metodológicos podem 
ser criticados. Você verá 
isto mais adiante. Por 
enquanto, fique com ideias 
básicas, que você deve 
ter visto na disciplina de 
Ciência e Pesquisa.
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35
Filosofia do Direito
Unidade 1
Não, o que temos são alguns procedimentos iniciais que 
aproximam, ou seja, dão margem a estabelecermos certas 
semelhanças entre estes tipos de conhecimento. Os procedimentos 
filosóficos e científicos utilizados pelas Ciências Jurídicas são 
mais sistemáticos, exigindo outras estratégias que não aparecem, 
ao menos sistematicamente, no senso comum. Por outro lado, 
a Filosofia trabalha mais com critérios racionais e menos com 
procedimentos empírico-experimentais, como é o caso da Ciência. 
Para avançarmos nesta questão sobre a metodologia da Filosofia 
do Direito, tomemos Nader (2006, p.11):
Como estudo reflexivo, que aspira à compreensão do 
Direito dentro de uma visão harmônica da realidade, a 
Filosofia Jurídica dispõe de um amplo temário de análise 
que se divide em dois grandes planos de reflexão: um de 
natureza epistemológica, onde se pesquisa o conceito do 
Direito e assuntos afins, e outro de caráter axiológico, no 
qual se submetem as instituições jurídicas a um exame 
crítico-valorativo. 
Nader (2006) indica que a primeira tarefa da Filosofia do Direito 
é mais geral e procura esclarecer uma definição de Direito 
e seus correlatos. Tal tarefa, evidentemente, não é simples e 
depende, também, de posicionamentos e inclinações de natureza 
ideológica. Esta posição se contrapõe à noção de neutralidade 
defendida por um positivismo jurídico. No dizer do autor, “[...] o 
exercício dessa liberdade cultural pressupõe a experiência jurídica 
e o conhecimento das alternativas filosóficas.” (NADER, 2006, 
p.12). Assim, podemos dizer que: 
Uma cultura geral, aliada a um grande conhecimento 
da especificidade do saber jurídico, é importante para 
formular definições de Direito, em si determinantes, 
por vezes, para a fundamentação da tomada de 
decisões no campo jurídico.
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36
Universidade do Sul de Santa Catarina
O segundo caráter da Filosofia do Direito é apresentado como 
sendo de natureza mais prática, consistindo em valorizar leis e 
instituições jurídicas. Aqui, julgamos os valores das leis partindo 
de parâmetros maiores: humanos e sociais. 
Lembre-se do exemplo hipotético apresentado 
anteriormente, quanto à possibilidade de julgar um 
ditador que, mesmo diante a legalidade vigente, 
poderia ser condenado por certos crimes. Tal 
alternativaapenas seria possível, se avaliássemos 
a conduta deste governante à luz de princípios 
humanísticos, os quais estariam acima da legalidade 
circunscrita a determinada constituição. 
A investigação epistemológica, por ser mais geral, conceitual e 
abstrata, é de maior interesse dos jurisprudentes e dos filósofos 
do direito. Já a axiológica “[...] que se concentra em torno do 
Direito como regulamentação concreta de fatos sociais, no 
propósito de ajustá-lo à natureza positiva das coisas, é matéria 
de interesse também do homem simples do povo, na qualidade 
de destinatário do Direito Positivo e como ente capaz de se 
posicionar valorativamente.”(NADER, 2006, p.13).
Como lembra Nader (2006, p.16), não devemos confundir o 
método com a busca da verdade, pois este, geralmente, é um 
procedimento que visa “[...] indicar o caminho mais apropriado 
para a obtenção de resultados positivos.” Nesta medida, o 
procedimento a ser adotado deve levar em conta o objeto de 
estudo e inclinações do pesquisador. 
Quando o procedimento adotado é mais empirista, 
ou seja, considera que a base do conhecimento vem 
da experiência, atentará mais para um procedimento 
indutivo. Quando for mais racionalista, atentará mais 
para um procedimento dedutivo ou aqueles que usam 
mais a razão.
Axiologia é a parte da 
Filosofia que discute 
a questão do valor. É 
sinônimo de Filosofia dos 
Valores. 
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Filosofia do Direito
Unidade 1
Nader (2006) ainda caracteriza os métodos em discursivos e 
intuitivos, dividindo o discursivo em dedutivo e indutivo. Veja 
isto com mais atenção a seguir.
 „ Os métodos discursivos se caracterizam, particularmente, 
por serem produtores de discursos e, para tanto, passar 
por etapas que vão de um estágio inicial, que consiste 
em sair de uma inércia quanto ao assunto ou temática, 
passando para um desenvolvimento, onde se dá conta do 
objeto em questão e levantam-se as hipóteses de trabalho, 
aplicando-se regras e métodos, gerando a conclusão, “[...]
momento culminante do processo, quando se forma o 
juízo, afirmando-se ou negando-se algo sobre o objeto 
(final).” (NADER, 2006, p. 16). 
 „ O procedimento intuitivo se caracteriza por ser 
imediato, ou seja, chegamos ao objeto de conhecimento 
sem uma mediação - captamos, obtemos conhecimento 
do objeto instantaneamente, de modo direto e acrítico:
a) sensível: neste caso, a possibilidade dá-se, 
quando o conhecimento é estimulado pela 
realidade exterior, material, a partir dos sentidos;
b) espiritual: neste caso, o conhecimento é fruto 
do próprio espírito. O conhecimento, por 
sua vez, pode ser subdividido em intelectual, 
emocional e volitivo, ou seja, conforme sua origem, 
respectivamente, a razão, emoção ou vontade. 
Basicamente, o 
procedimento descrito já 
deve ser seu conhecido, se 
já trabalhou com algum 
tipo de pesquisa científica, 
mesmo as mais básicas. 
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38
Universidade do Sul de Santa Catarina
A seguinte passagem de Rodrigues (2005) salienta a importância 
deste procedimento: 
Talvez seja menos comum falar-se em conhecimento 
intuitivo, em especial em um trabalho construído na 
e para a academia. Mas não se pode omiti -lo. Estudos 
contemporâneos reforçam a existência desse sexto sentido 
do ser humano. A intuição faz sentir, perceber que algo 
existe ou não existe, é ou não é de uma determinada 
forma. Essa percepção não se dá através dos cinco 
sentidos; ela aparece como uma sensação. É importante 
que se aprenda e escutar essas sensações, pois podem 
levar a grandes descobertas. A intuição pode ser o ponto 
de partida para a pesquisa, inclusive a científica. Ou 
seja, a intuição oferece um determinado caminho; mas a 
comprovação da sua autenticidade tem que ser buscada 
através de instrumentos técnicos ou científicos. 
Para reforçar, no âmbito da prática você pode ter certa intuição 
sobre qual o sentido de determinado conjunto de normas legais, 
mas, de início, não tem como provar tal intuição-hipotética. Para 
efeito de prova, deverá usar os outros procedimentos. Mas, note, 
você começou com uma intuição.
Passemos para a diferenciação entre o procedimento dedutivo e o 
procedimento indutivo. 
1. Procedimento dedutivo - trata-se, basicamente, de um 
raciocínio que vai de um enunciado, regra ou princípio 
geral ou universal para um particular ou singular, 
seguindo o critério da coerência. Para a coerência 
deste tipo de procedimento, é importante tomarmos 
o enunciado geral, universal como verdadeiro. Caso 
contrário, toda a possibilidade de validade lógica fica 
anulada. Tomemos um exemplo: partindo do princípio de 
que “A justiça se pauta pela igualdade”, podemos verificar 
se dada situação é justa ou injusta. Assim, se a igualdade 
se estabelece, dando condições mínimas de sobrevivência 
e dignidade, o fato de alguns seres humanos passarem 
fome é uma injustiça, pois uma desigualdade. Nader 
apresenta outro exemplo e esclarece as inferências do 
raciocínio. Vejamos:
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Filosofia do Direito
Unidade 1
Se afirmamos que a liberdade é um bem do homem, 
por inferência, extensão lógica, devemos reconhecer 
que a ele deve ser garantido o poder de ir e vir, de 
manifestar o seu pensamento. Estes são princípios mais 
específicos, revelados dedutivamente de um princípio 
geral. Entre o suposto racional e a conseqüência, mais do 
que uma relação, deve haver um nexo de subordinação e 
dependência, em razão do qual os princípios deduzidos 
apresentam o mesmo grau de virtudes e de defeitos que 
a máxima geral. A importância da conseqüência decorre 
não apenas da coerência que deve haver entre os dois 
termos, mas também do valor do suposto. Assim, se 
a regra geral for uma conjetura, a conclusão derivada 
somente terá valor conjetural. (NADER, 2006, p. 16-17).
No exercício profissional,você se deparará, por diversas 
vezes, com tal procedimento, tendo que derivar de 
princípios gerais princípios específicos.
2. Procedimento indutivo – opera de forma inversa do 
dedutivo, pois parte de enunciados particulares, que 
dão conta de situações, fatos, experiências específicas, 
e produz conclusões gerais, universais. Quando um 
promotor procura na vida do réu outras atitudes 
que indiquem índole criminosa, está a juntar fatos 
particulares que poderão produzir um juízo geral. 
Por exemplo: se o réu é um criminoso compulsivo, só 
lhe cabe a exclusão social permanente, ou um atento 
tratamento psicológico em instituições prisionais 
próprias para tal situação.
Ambos os procedimentos apresentam problemas. No caso do 
procedimento dedutivo, o problema já foi indicado: tomar a 
premissa — o enunciado geral — como verdadeira. Poderíamos 
perguntar: que garantias temos disto? No caso do procedimento 
indutivo, temos um problema lógico, a saber, não podemos inferir 
verdade de um conjunto de proposições particulares, no máximo 
temos uma probabilidade. Mas probabilidade não é verdade. 
Assim, por determinados elementos de um dado conjunto terem 
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Universidade do Sul de Santa Catarina
certas características, não significa que todos os elementos 
tenham as mesmas características. Exemplificando rasteiramente: 
se o réu costuma frequentar lugares onde se praticam crimes de 
exploração sexual, isto não significa, necessariamente, que ele 
seja um criminoso sexual. Em primeira instância, ele é apenas 
suspeito. Há mesmo a ideia de que se existem dúvidas quanto ao 
fato de ser ou não o réu um criminoso, que ele deva ser absolvido.
É importante salientar que, seja no processo judicial, 
seja no estudo teórico do Direito, ambos os raciocínios 
são utilizados, pois nossa mente não trabalha apenas 
com um ou outro somente. Eles sãocomplementares 
na elaboração de conhecimento.
Para ilustrar as etapas de uma pesquisa, tomemos o esquema do 
professor Horácio Wanderlei Rodrigues, a seguir:
MOMENTO PREPARATÓRIO
(Planejamento da pesquisa)
MOMENTO OPERACIONAL
(Execução da pesquisa e estruturação
das idéias)
MOMENTO REDACIONAL E 
COMUNICATIVO
(Apresentação dos resultados 
da pesquisa)
Escolha do tema
Especiÿcação e delimitação do tema
Formulação do problema, das hipóteses e das 
variáveis (quando for o caso)
Levantamento inicial de dados, documentos e 
bibliograÿa
Elaboração do projeto de pesquisa
Levantamento complementar de dados, 
informações, documentos e bibliograÿa
Análise de dados e documentos e leitura da 
bibliograÿa
Crítica dos dados, documentos e bibliograÿa; 
re°exão pessoal
Redação inicial do relatório/trabalho
Revisão do relatório/trabalho
Redação deÿnitiva do relatório/trabalho
Defesa pública do relatório/trabalho, 
quando for o caso
Publicação dos resultados da pesquisa
MOMENTO PREPARATÓRIO
(Planejamento da pesquisa)
MOMENTO OPERACIONAL
(Execução da pesquisa e estruturação
das idéias)
MOMENTO REDACIONAL E 
COMUNICATIVO
(Apresentação dos resultados 
da pesquisa)
Escolha do tema
Especiÿcação e delimitação do tema
Formulação do problema, das hipóteses e das 
variáveis (quando for o caso)
Levantamento inicial de dados, documentos e 
bibliograÿa
Elaboração do projeto de pesquisa
Levantamento complementar de dados, 
informações, documentos e bibliograÿa
Análise de dados e documentos e leitura da 
bibliograÿa
Crítica dos dados, documentos e bibliograÿa; 
re°exão pessoal
Redação inicial do relatório/trabalho
Revisão do relatório/trabalho
Redação deÿnitiva do relatório/trabalho
Defesa pública do relatório/trabalho, 
quando for o caso
Publicação dos resultados da pesquisa
Quadro 1.2 – Etapas da pesquisa 
Fonte: Rodrigues (2005).
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Filosofia do Direito
Unidade 1
Como salienta o professor Wanderlei Rodrigues, há uma prática 
formalista dentro do sistema acadêmico contemporâneo, que 
privilegia os momentos inicial e final da metodologia da pesquisa, 
descaracterizando aquilo que é de mais importante: a pesquisa 
em si. Evidentemente, a produção material e formal — aqui, 
principalmente os relatórios de pesquisa, os artigos, os pareceres 
publicados, etc. — são importantes para o conhecimento e 
difusão da pesquisa científica. Entretanto isto não é o essencial 
para entendermos o procedimento científico.
Tal alerta do professor Rodrigues serve para chacoalhar nossa 
acomodação acadêmica, nossa ideia de que as coisas já estão 
prontas e dadas, que as leis e o Direito são imutáveis e seguros. 
Muito pelo contrário, tudo isto envolve constante reflexão. 
Os procedimentos apresentados acima estão inseridos no debate 
epistemológico e remetem ao problema da verdade científica.
Epistemologia e Direito
Ainda é muito comum pensar o conhecimento científico como 
verdadeiro em termos absolutos. Poderíamos discutir o que é 
verdade e suas diferentes vertentes. Entretanto, para o momento, 
vamos pensar nos sentidos contemporâneos de ciência. Tal 
investigação é importante para desfazermos certa compreensão, 
ainda muito forte, de que o Direito, como Ciência, é um 
conhecimento verdadeiro acerca de um objeto, aprendido a partir 
de um determinado método. Esta compreensão é derivada de uma 
forte influência positivista que persiste. 
Hoje falamos mais de ‘testabilidade’ como uma das características 
principais do conhecimento científico. Assim, como diz 
Rodrigues (2005), o conhecimento científico “[...] tem que 
ser público quanto aos resultados, às hipóteses testadas e aos 
métodos utilizados para sua obtenção, de forma que sua produção 
possa ser produzida em qualquer outro lugar por qualquer outro 
cientista, sendo então confirmado ou refutado.” Este pensamento, 
diz o autor, fundamenta-se na visão de Popper. Acompanhe: 
Para esta temática, leia o 
capítulo 3. A verdade, do livro 
de Marilena Chaui, Convite à 
filosofia. 
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42
Universidade do Sul de Santa Catarina
Ora, eu sustento que as teorias científicas nunca são 
inteiramente justificáveis, mas que, não obstante, são 
suscetíveis de se verem submetidas a prova. Direi, 
consequentemente, que a objetividade dos enunciados 
científicos reside na circunstância de eles poderem ser 
intersubjetivamente submetidos a teste. (POPPER, 2002, p. 46).
Popper quer significar que a ciência é essencialmente teoria, e as 
teorias científicas são construções lógicas que, com maior ou menor 
grau, se adéquam àquilo que chamamos realidade. Nesta medida, 
se uma teoria resiste às críticas mantém-se como plausível, aceitável. 
Mais ainda, para Popper, uma teoria que não pode ser refutada não 
é científica, mas dogmática. O que vemos é uma provisoriedade 
das teorias científicas e uma crítica severa ao positivismo.
Assim, tomar a Ciência do Direito ou mesmo as Leis 
como um conjunto de verdades irrefutáveis não seria, 
do ponto de vista popperiano, agir cientificamente, 
mas dogmaticamente.
Outro pensador contemporâneo que faz crítica severa à posição 
positivista é Thomas S. Kuhn. Ele trabalha com a noção de 
paradigma científico. Cada época teria seu paradigma o qual 
sustentaria uma determinada concepção científica. Este paradigma 
tem aceitabilidade social, o que garante, durante certo tempo, 
o desenvolvimento da ciência. Ao longo da história, há certos 
momentos em que o paradigma entra em crise: aqui, temos a 
ciência revolucionária. Desta forma, um dado modelo científico 
é posto em xeque. Isto acontece, porque certas observações não 
se encaixam mais no modelo (paradigma) estabelecido. Elas 
produzem anomalias. Num primeiro momento, estas anomalias 
são adaptadas aos paradigmas vigentes, mantendo-os. Contudo, 
em certo momento — o revolucionário — o número de anomalias 
é tão grande que se passa a desconfiar do paradigma, aparecendo, 
assim, outras teorias, modelos explicativos. 
Estes modelos explicativos vão, aos poucos, tendo uma 
aceitabilidade coletiva, passando um deles a se tornar um novo 
paradigma, o qual desenvolverá um novo caminhar da ciência. 
Veja com Thomas S. 
Kuhn (1975, p.13) define 
paradigma: “Considero 
‘paradigmas’ as realizações 
científicas universalmente 
reconhecidas que, 
durante algum tempo, 
fornecem problemas 
e soluções modelares 
para uma comunidade 
de participantes de uma 
ciência.” (1975, p. 13).
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Filosofia do Direito
Unidade 1
Por meio desta perspectiva, visualiza-se o 
desenvolvimento científico como descontínuo e não 
cumulativo, diferente da visão popperiana que pensa 
a ciência como eliminação contínua dos erros do 
passado.
Outro aspecto importante refere-se ao fato de Kuhn conceber 
a ciência como a tentativa de resolver um quebra-cabeça. Além 
disso, ele se questiona sobre o como e o porquê de determinados 
cientistas passarem a ver certos fenômenos investigados a partir 
de outra perspectiva. Acompanhe: 
Cientistas individuais abraçam um novo pa radigma 
por toda uma sorte de razões e normalmente por várias 
delas ao mesmo tempo. Algumas dessas razões — por 
exemplo, a adoração do Sol que ajudou a fazer de Kepler 
um copernicano — encontram-se intei ramente fora da 
esfera aparente da ciência. Outros cien tistas dependem 
de idiossincrasias de natureza autobio gráfica ou relativas 
a sua personalidade. Mesmo a na cionalidade ou a 
reputação prévia do inovador e seus mestres podem 
desempenhar algumas vezes um papel significativo. Em 
última instância, portanto, precisa mos aprender a colocar 
essa questão de maneira dife rente. Nossa preocupação 
não será com os argumentos que realmente convertemum ou outro indivíduo, mas com o tipo de comunidade 
que cedo ou tarde se re-for ma como um único grupo. 
(KUHN, 1975, p. 193).
Observe que isto implica dizer que há fatores subjetivos ‒ 
psicológicos e sociológicos ‒ no desenvolvimento da ciência.
Outra concepção contemporânea que serve para desfazer a 
noção de que a ciência é algo que produz verdades absolutas é 
a Teoria Crítica de base marxista. Para a Teoria Crítica, há um 
movimento histórico-dialético entre as “acomodações” do debate 
entre Direito Natural ou Jusnaturalismo e Direito Positivo ou 
Juspositivismo. Assim sendo, não se trata de dizer que esta ou 
aquela estejam erradas, mas sim que são incompletas. 
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Universidade do Sul de Santa Catarina
A Teoria Crítica propõe que o estudo do Direito não 
fique apenas na análise interpretativa de enunciados 
jurídicos, mas que incorpore os juízos de valores 
constitutivos da ideologia social, procurando não, 
simplesmente, mantê-la, como também servir-se 
destes estudos para fazer uma crítica do sistema, e, 
com isto, alargar os horizontes da prática jurídica em 
direção à justiça.
Tal perspectiva aborda, também, um pluralismo jurídico e 
um Direito que deve ser reconhecido para além das instâncias 
jurídicas do Estado. De acordo com Bray (2005): 
A Teoria Crítica no Direito, analisada sob este aspecto, 
assume a forma de uma Teoria Jurídica Crítica, pois 
questiona e rompe com o que está disciplinarmente 
ordenado e oficialmente consagrado, opondo-se tanto 
em relação ao positivismo jurídico, como em relação ao 
jusnaturalismo. No campo das propostas, a teoria jurídica 
crítica oferece novos paradigmas, propondo formas 
diferenciadas, não repressivas e emancipadoras de prática 
jurídica, a exemplo das práticas de natureza comunitário-
participativa-informal, que assumem a forma de 
negociação, mediação, conciliação, arbitragem, conselhos 
e tribunais populares, e que se desenvolvem em ambiente 
plurais e conflitantes. (BRAY, 2005).
Como você pode ver, essas perspectivas teóricas contemporânea 
têm aspectos comuns — são contrárias à visão dogmática — e 
complementares em certos aspectos, embora possam se contrapor 
em outros. Há outras vertentes ou especificidades na tonalidade 
desta ou daquelas perspectivas apresentadas. Mas, por hora, 
esta introdução cumpre o papel de deixá-lo(a) alerta para a 
caminhada que tem a frente, apontando-lhe problemáticas que 
despertam para a riqueza e a importância do estudo filosófico-
jurídico que tem pela frente.
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Filosofia do Direito
Unidade 1
Síntese
Nesta unidade, você pôde acompanhar uma introdução a noções 
de Filosofia, Direito e Filosofia do Direito. Neste sentido, teve 
a oportunidade de estudar algumas relações entre a Filosofia 
do Direito e outras áreas de conhecimento, particularmente as 
filosóficas. As exemplificações são as discussões temáticas em 
torno da relação Ética e Direito; Justiça, Lei e Direito, passando 
pelas noções de Legalidade e Legitimidade.
Você vislumbrou alguns aspectos metodológicos da Filosofia 
do Direito e da pesquisa científica, no geral. Tal apresentação 
teve o objetivo de levá-lo(a) a pensar sobre certas correntes 
epistemológicas contemporâneas e sobre o debate a respeito dos 
fundamentos da Ciência do Direito.
Atividades de autoavaliação
Você realizará atividades de autoavaliação ao final de cada unidade, com o 
objetivo de desenvolver a sua aprendizagem. No final do livro didático, há 
um gabarito, mas esforce-se para resolver as atividades sem a ajuda deste.
1) Leia atentamente o fragmento abaixo:
“Não há, em suma, um direito justo no céu dos conceitos platônico, e 
um direito imperfeito e injusto no nosso pobre e imperfeito mundo 
sublunar. O problema do Direito Natural não é descobrir esse celestial 
livro de mármore onde, gravadas a caracteres de puro ouro, as 
verdadeiras leis estariam escritas, e que, ao longo dos séculos, sábios 
legisladores terrenos não conseguiram vislumbrar.”
(CUNHA, Paulo Ferreira da. O ponto de Arquimedes: natureza humana, 
direito natural, direitos humanos. Coimbra: Almedina, 2001. p. 94)
Considerando as reflexões contidas no texto, assinale com um “X” a 
afirmação correta sobre os direitos humanos na atualidade:
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Universidade do Sul de Santa Catarina
a) ( ) a afirmação histórica dos direitos humanos, desde o 
jusnaturalismo, se iniciou apenas muito recentemente, no final 
do século XX, por isso ainda são desconhecidos dos juristas.
b) ( ) o grande problema dos direitos humanos é que não estão 
positivados, por isso não são efetivados.
c) ( ) o problema atual dos direitos humanos é o de que, apesar de 
positivados e constitucionalizados, carecem de ser efetivados.
d) ( ) o problema atual dos direitos humanos é o de sua 
fundamentação lógica, na medida em que ainda 
são considerados deduções teológicas ou frutos de 
conjunturas econômicas.
e) ( ) os direitos humanos são, em todas as suas manifestações, 
garantias negativas da cidadania, por isso não carecem 
nenhum tipo de prestação econômica por parte do Estado. 
Fonte: Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (2006, p. 10). 
2) Do trecho abaixo retiramos algumas palavras e as substituímos por 
números. Leia o texto e depois enumere a coluna seguinte de acordo 
com o texto.
Se dissermos: “Está chovendo”, estaremos enunciando um 
acontecimento constatado por nós e o juízo proferido é um (1). Se, 
porém, falarmos: “A chuva é boa para as plantas” ou “A chuva é bela”, 
estaremos interpretando e avaliando o acontecimento. Nesse caso, 
proferimos um (2).
(1) são aqueles que dizem o que as coisas são, como são e por 
que são. Em nossa vida cotidiana, mas também na metafísica 
e nas ciências, os (1) estão presentes. Diferentemente deles, os 
(2), avaliações sobre coisas, pessoas, situações, são proferidos na 
moral, nas artes, na política, na religião.
(2) avaliam coisas, pessoas, ações, experiências, acontecimentos, 
sentimentos, estados de espírito, intenções e decisões como bons 
ou maus, desejáveis ou indesejáveis.
Os juízos éticos de valor são também (3), isto é, enunciam normas que 
determinam o dever ser de nossos sentimentos, nossos atos, nossos 
comportamentos. São juízos que enunciam obrigações e avaliam 
intenções e ações segundo o critério do correto e incorreto do (4).
Os juízos éticos de valor nos dizem o que são o bem, o mal, a felicidade. 
Os juízos éticos normativos nos dizem que sentimentos, intenções, atos 
e comportamentos devemos ter ou fazer, para alcançarmos o bem e 
a felicidade... Enunciam também que atos, sentimentos, intenções e 
comportamentos são condenáveis ou incorretos. 
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Filosofia do Direito
Unidade 1
Como se pode observar, (5) e consciência moral são inseparáveis da 
vida cultural, uma vez que esta define para seus membros os valores 
positivos e negativos que devem respeitar ou detestar.
a) ( ) normativos
b) ( ) senso moral
c) ( ) juízo de fato 
d) ( ) ponto de vista moral
e) ( ) juízos de valor
Fonte: Adaptado de Chauí (2000, p. 431-432).
3) Pautando-se naquilo que você estudou sobre a diferença entre Moral e 
Direito, leia atentamente as afirmações abaixo:
I – A Moral é anterior ao Direito.
II – A Moral visa à abstenção do mal e a prática do bem. O Direito visa 
evitar que se lese ou prejudique a outrem.
III – Na Moral a coerção é dada por regras exteriores; no Direito, por 
regras interiores.
IV – Ambas regulam atos dos seres livres e têm por finalidade o bem-
estar do ser humano em sociedade.
V – A Moral não comporta sanções internas (arrependimento, remorso) 
e externas (isolamentodo grupo social).
Agora, assinale a alternativa correta.
a) ( ) Apenas a alternativa I está incorreta.
b) ( ) As alternativas II e V estão corretas.
c) ( ) Apenas a alternativa II é correta.
d) ( ) As alternativas I, II e IV estão corretas.
e) ( ) As alternativas I, II e V são corretas. 
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Universidade do Sul de Santa Catarina
Saiba mais
Você quer saber mais sobre os assuntos tratados nesta unidade? 
Então consulte as seguintes referências:
BOBBIO, Norberto. Dicionário de política. 4. ed. Brasília: 
Edunb, 1992.
DUTRA, Delamar José Volpato. Manual de filosofia do direito. 
Caxias do Sul, RS: Educs, 2008.
FAGÚNDES, Paulo Roney Ávila. (org.) A crise do 
conhecimento jurídico: perspectivas e tendências do direito 
contemporâneo. Brasilia: OAB editora, 2004.
LYRA FILHO, Roberto. O que é direito. 17. ed. São Paulo: 
Brasiliense, 1995.
MARQUES NETO, Agostinho Ramalho. A ciência do direito: 
conceito, objeto, método. 2. ed. Rio de Janeiro: Renovar, 2001.
MORA, José Ferrater. Dicionário de filosofia. São Paulo: 
Martins Fontes, 1994.
NADER, Paulo. Filosofia do Direito. 15. ed. Rio de Janeiro: 
Florense, 2006.
VÁZQUEZ, Adolfo Sanches. Ética. 2. ed. Rio de Janeiro: 
Civilização Brasileira, 1975. 
Dicionário de Ciências Sociais. Rio de Janeiro: Fundação 
Getulio Vargas, 1986.
Você pode complementar os estudos desta unidade assistindo o 
seguinte filme: 
A Busca pela Justiça (Heavens Fall). Ano 2006 (EUA). Direção: 
Terry Green 
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Filosofia do Direito
Unidade 1
Análise do Filme A Busca Pela Justiça
RESUMO
O filme “A busca pela justiça” se passa na década de 30 e é baseado na 
história verídica de nove jovens afro-descendentes, com idade entre 12 
e 20 anos, que costumavam viajar clandestinamente em um trem de 
carga.
Em uma dessas viagens, também se encontravam a bordo do trem 
duas moças brancas e um rapaz. Ao irromper uma briga, o trem para 
e os nove jovens afro-descendentes são retirados, presos e acusados 
de terem estuprado as duas mulheres brancas. O julgamento dá-se 
de forma rápida, e os jovens são condenados à cadeira elétrica. A 
notícia dessa condenação gera grande polêmica e faz com que a Corte 
Suprema dos Estados Unidos faça um novo julgamento. Um advogado 
nova-iorquino, jovem e idealista, acostumado com as vitórias nos 
tribunais, é convidado a defender os acusados nesse novo julgamento. 
Alguns colegas, amigos e familiares tentam dissuadi-lo da ideia, pois 
seu trabalho seria dificultado, dadas as circunstâncias e o local onde 
supostamente acontecera o crime.
Nesse intermédio, um jornalista afro-descendente de Chicago, também 
decide cobrir o novo julgamento.
O advogado passa a reunir provas que inocentam os acusados, e o 
promotor, que dependendo do resultado do julgamento pode ser 
indicado a concorrer às eleições para o governo do estado, decide 
manter as mesmas testemunhas e provas do julgamento anterior.
O veredicto é dado, e o principal acusado é novamente condenado. O 
juiz, achando injusta a condenação em vista das provas apresentadas 
pela defesa, resolve anular o julgamento. Um novo julgamento acontece, 
e o jovem é novamente condenado. 
Aguardando o dia da sua execução em uma penitenciária, o jovem 
arquiteta sua fuga e consegue escapar do seu cruel destino.
ANÁLISE
A intolerância racial no sul dos EUA remonta ao período da Guerra de 
Secessão ou Guerra Civil Americana, quando os estados do norte obtiveram 
sua vitória, resultando na libertação dos escravos afro-descendentes 
que trabalhavam na lavoura. Um dos maiores ícones dessa intolerância 
foi (ou ainda é) uma organização chamada Ku Klux Klan. Esse grupo foi 
formado, inicialmente, por veteranos do exército confederado sulista, os 
Em seguida veja a análise do filme e sua relação com o conteúdo 
desta unidade: 
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Universidade do Sul de Santa Catarina
quais pretendiam impedir a integração social dos afro-americanos recém-
libertados, desejavam não permitir que estes pudessem adquirir suas 
próprias terras e trabalhar nelas, ou mesmo que tivessem os mesmos direitos 
básicos de outros cidadãos, como votar, por exemplo.
Essa intolerância racial no sul dos Estados Unidos pode ser apontada como o 
principal fator na condenação dos nove jovens. 
A história contada no filme nos mostra de uma maneira bem clara, as 
dificuldades enfrentadas pelo advogado de defesa em conseguir o mínimo 
de cooperação que assegurasse a realização do seu trabalho e ainda 
algumas represálias a que é submetido por estar em defesa de réus afro-
descendentes. Até mesmo um jornalista que pleiteia um lugar no tribunal, 
para que possa cobrir a história nos dias do julgamento, tem dificuldades em 
colher as assinaturas necessárias: os cidadãos de sua mesma etnia, a quem 
recorre num primeiro momento, demonstram certo receio em fornecer tais 
assinaturas.
Outro aspecto demonstrado pelo filme e que também pode ser apontado 
como responsável pela acusação e consequentemente a condenação 
dos jovens, diz respeito à ética e à moral. Duas jovens brancas, viajando 
clandestinamente em um trem de carga, acompanhadas de um jovem era 
algo considerado amoral naqueles dias. No intuito de não ser acusada de um 
crime menor (Vadiagem nos EUA é crime e pode levar o indivíduo a pagar 
multa ou à prisão), acusa outros de um crime maior, e tanto as jovens como 
seus companheiros sustentam essa versão mesmo em um novo julgamento. 
Por parte da acusação, aparentemente, temos a mesma questão ética e 
moral. Cabe aqui deixar uma interrogação com relação ao verdadeiro intuito 
por trás do ferrenho empenho em acusar os jovens. Seria o verdadeiro 
objetivo a intenção de se alcançar a justiça? Seria o objetivo alcançar essa 
justiça por questões raciais? Seria o objetivo levar os jovens à mesma 
condenação do julgamento anterior, visando assim ser visto com bons 
olhos pelo poder político local, e obter a indicação do seu nome para as 
eleições estaduais? Mas ambas as questões ética e moral também se fazem 
presente de outra maneira nessa triste história. O magistrado que, durante 
todo o julgamento, se mostra um homem que faz bom juízo de ponderação, 
após um veredicto um tanto obscuro diante das provas e testemunhas 
apresentadas decide anular o julgamento, mesmo sabendo que sofreria 
sanções tanto por parte do poder da sociedade como do poder judiciário.
“A busca pela justiça” é um título sugestivo que nos leva a ponderar sobre as 
condições onde o suposto crime aconteceu, sobre seus supostos envolvidos, 
sobre as características da sociedade envolvida nesse julgamento e na busca 
por essa justiça. Poderia essa sociedade tão atrelada aos costumes locais, 
com raízes fincadas na intolerância racial -- e, como sabemos, o costume 
é uma importante fonte do Direito, poderia ela produzir e alcançar a 
verdadeira justiça? 
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Filosofia do Direito
Unidade 1
A verdadeira justiça não poderia ser alcançada, pois, como apresentado 
pela defesa:, segundo a legislação norte-americana, qualquer pessoa que 
tenha pelo menos 18 anos de idade, tenha uma reputação idônea, seja 
alfabetizada e não tenha sido condenado por nenhum crime, pode ser 
membro de um júri, mas um tribunal que, aparentemente, por discriminação 
racial, nunca permitiu que cidadãos afro-descendentes ocupassem um lugar 
no corpo de jurados, jamais poderia alcançar tal escopo. 
Levando em consideração todas as condições mencionadas acima, e que 
a credibilidade na sua palavra em relação à palavra dos nove jovens seria 
maior, essa jovem, no intuito de não ser acusada de um crime menor acusa 
outros de um crime maior. 
Uma jovem que, podemos dizer, possui um espíritolivre e que está à frente 
de seu tempo, sai de casa à procura de trabalho e, como apresentado pela 
defesa, vive uma vida liberta e sem preconceitos sexuais, mas que esconde 
isso da sociedade em questão e utiliza-se do poder judiciário como uma 
espécie de cortina de fumaça para que isso não ganhe relevância em 
detrimento da vida e dignidade de jovens trabalhadores. Temos ainda a 
condição da sua companheira de viagem que, na mesma situação, corrobora 
a versão, mas que decide voltar atrás e revelar a verdadeira versão da 
história.
Seria suficiente para a absolvição dos acusados, no que diz respeito ao 
crime de estupro, trazer à luz fatos duvidosos e provas forjadas inclusive 
por meio de tortura no julgamento anterior, somando-se a isso as provas 
apresentadas pela defesa, Mas o veredicto é unânime, e o primeiro réu é 
condenado à pena de morte. No ultimo esforço, buscando o último fio de
esperança para que a justiça seja alcançada, o magistrado, fazendo uso de 
um incrível e corajoso juízo de ponderação, que leva em consideração os 
princípios fundamentais da sociologia jurídica, anula o julgamento, a fim 
de conceder uma outra chance ao jovem condenado injustamente pela 
segunda vez.
Isso nos leva a refletir como estudantes do Direito, sobre tudo o que está 
em jogo quando se trata de vida, dignidade, destino, tanto dos envolvidos 
diretamente num caso como esse, quanto dos familiares, amigos e da 
sociedade em geral. A sociedade produz muitas vezes homens de caráter 
idôneo, cultos, cumpridores de seus deveres cívicos, mas alguns desses 
ainda continuam com suas ideias enraizadas em costumes que desfocam 
seu discernimento e julgamento, levando assim a uma falsa ideia de justiça.
O jovem condenado à pena de morte acabou por fazer sua própria justiça, 
fugindo da prisão, mas como terá sido sua vida, sua sobrevivência depois 
de um trauma como esse e sendo fugitivo da justiça. Mesmo livre terá 
contribuído para sociedade? E terá a sociedade contribuído com ele? 
Fonte: Adaptado de Fredson (2009).
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