Buscar

René Descartes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 24 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

RENÉ DESCARTES
RIO DE JANEIRO
2015
Introdução
A filosofia de Descartes inaugura de forma mais acabada o pensamento moderno propriamente dito, é claro, pelo humanismo do séc.XVI, pelas novas concepções cientificas da época e pelo ceticismo de Montaigne. Entender as linhas mestras do pensamento de Descartes é, portanto, entender o sentido mesmo dessa modernidade, que ele tão bem caracteriza e da qual somos herdeiros até hoje, ainda que sob muitos aspectos vivamos precisamente a sua crise.
O tempo de Descartes é também um tempo de profunda crise na sociedade e da cultura européia, um tempo de transição entre uma tradição que ainda sobrevive muito forte e uma nova visão de mundo que se anuncia. O sec.XVI, ao final do qual nasce Descartes (1596), é um período de grandes transformações, de ruptura com o mundo anterior, como vimos. As grandes navegações, iniciadas já no sec. XV, e principalmente a descoberta da América vão alterar radicalmente a própria imagem que os homens faziam da terra. As teorias cientificas de Nicolau Copérnico, Giordano Bruno, Galileu Galilei e Johannes Kepler vão revolucionar a maneira de se considerar o mundo físico, dando origem uma nova concepção de universo. A reforma de Lutero vai abalar a autoridade universal da Igreja católica no Ocidente, valorizando a interpretação da Bíblia pelo próprio individuo. A decadência do sistema feudal e o surgimento do mercantilismo trazem uma nova ordem econômica baseada no comércio, com a defesa da livre iniciativa, e no individualismo. Na arte, o movimento renascentista, ao retomar os valores da Antiguidade clássica, vai opor uma cultura leiga, secular e mesmo de inspiração paga à arte sacra, religiosa, predominante na Idade Média.
 o francês René Descartes  é considerado o pai da matemática e da filosofia moderna. Nasceu em La Haye (em 1802, a cidade passou a ser chamada de La Haye-Descartes), província de Touraine, no dia 31 de março de 1596. Seu pai era advogado, juiz, conselheiro do parlamento da província de Rennes. Possuía título de primeiro grau de nobreza(escudeiro). A mãe de Descartes morreu quando ele tinha apenas 1 ano (vítima de complicações pós-parto). René foi criado por uma babá e por sua avó, embora sempre tenha tido contato com o pai.
Aos 9 anos começou seus estudos no colégio jesuíta La Flèche, no qual estudou gramática, poética,retórica (Humanidades), Filosofia e Matemática (escolástica), até 1614. Sua saúde, nessa época era frágil, o que fez com que ele adquirisse um hábito que manteve por quase toda a vida: permanecia deitado em sua cama até tarde, meditando.
Atendendo a vontade de seu pai, ainda em 1614 entrou para a Universidade de Pointier, onde cursos direito (curso com duração de 2 anos). Formou-se em 1616, mas não exerceu a profissão.
Em 1618 Descartes viajou à Holanda, onde se alistou para combater os espanhóis ao lado das tropas holandesas de Maurício de Nassau. Nessa ocasião, conheceu e ficou amigo do médico Isaac Beckman, que o influenciou a estudar matemática e física. Em 1619, após assistir a coroação do Imperador Maximiliano da Baviera, em Frankfurt (Alemanha), alista-se no exército do novo Imperador. Retira-se em seguida, assim que Maximiliano declara guerra ao Rei Frederico da Boêmia.
Na noite entre os dias 10 e 11 de novembro de 1619, Descartes tem três sonhos que ele próprio interpreta como uma premunição de seu destino: inventar uma "ciência admirável", na qual estariam unificados todos os conhecimentos humanos.
Em 1621, Descartes renuncia à carreira militar de forma definitiva, com o objetivo de dedicar-se exclusivamente às ciências e a filosofia. Para tanto, em 1623 retornou a sua cidade natal, onde vendeu as terras e a propriedade que herdara. Com isso, pôde manter seu conforto, embora sem luxos. Após a venda, viajou para a Itália (estabeleceu-se em Veneza), onde permaneceu até 1625.
Voltando da Itália, passa a viver em Paris, onde se ocupa da Óptica, Astronomia e Matemática.
A partir de então, passa a redigir vários esboços e mesmo obras que não chegou a publicar em vida. Algumas se perderam. Em 1629, se instala na Holanda, onde permanece até 1649.
Entre 1629 e 1633, Descartes redige o Tratado do Mundo, mas não o publica por receio da Inquisição, que acabara de condenar Galileu. A primeira obra de Descartes teve como título “Essays Philosophiques”. A introdução ficou mais famosa que a própria obra: O discurso do método, onde, na quarta seção, encontra-se sua frase mais famosa - "Penso, logo existo".
Em 1649 Descartes deixa a Holanda e passa a viver em Estocolmo, a convite da rainha Cristina da Suécia (para ser seu preceptor e conselheiro).
No frio da Suécia, Descartes passou a sair da cama cedo (ao contrário do que fez a vida toda), pois ministrava aulas para a Rainha às 5 horas da manhã. Fragilizado pela mudança de hábitos e pelo frio intenso, uma gripe acabou se transformando em pneumonia, doença que causou sua morte em 11 de fevereiro de 1650.
Obras
A sua filosofia vai-se elaborando ao longo de alguma obras decisivas, tais como: Regras para a Direção do Espírito ((incompletas. Escritas por volta de 1628 e publicadas em 1701); Ensaios de Filosofia (1637), obra que reúne três importantes ensaios sobre Dioptrica, Meteoros e Geometria, precedidos de uma introdução sob o título de Discurso do Método; Meditações Metafísicas (1641), Princípios de Filosofia (1644), As Paixões da Alma (1649), O Mundo e Tratado do Homem (1664, obras póstumas).
1628 - Regras para orientação do Espírito;
1637 - Dióptrica;
1637 - Discurso sobre o Método; 
1637 - Geometria;
1637 – Os Meteoros;
1641 - Meditações sobre a Filosofia Primeira; Objeções e Respostas (ou Meditações Metafísicas);
1644 - Princípios da Filosofia.
1647/48 - Descrição do Corpo Humano.
1649 - As Paixões da Alma.
O Racionalismo
Um dos pensadores que mais exerceu influência sobre o racionalismo foi René Descartes. Filósofo racionalista, que atribuiu um poder superior à razão no conhecimento, defendendo que este não depende da existência ou dos sentidos. 
Para Descartes, os pensamentos verdadeiros só podem ser derivados de verdades absolutas, que não dão qualquer margem para a dúvida ou a contestação.
Tais verdades só podem ser fruto da razão; pois os sentidos são uma fonte de erros e confusões sobre a realidade. No entanto, os sentidos captam o real, mas nem por isso, a razão fica excluída, pois ela organiza as informações diversas que nos chegam pelos sentidos e sem ela não haveria o conhecimento de fato.
O racionalismo é baseado nos princípios da busca da certeza e da demonstração, sustentados por um conhecimento a priori, ou seja, conhecimentos que não vêm da experiência como acreditam os empiristas, são antes elaborados somente pela razão.
Os racionalistas afirmam que somente a razão humana, trabalhando com os princípios lógicos, pode atingir o conhecimento verdadeiro, capaz de ser universalmente aceito. Para o racionalismo, os princípios lógicos seriam inatos na mente do homem, Daí o porquê a razão deve ser considerada a fonte básica do conhecimento.
Descartes em exercício da subjetividade e confiança na razão, revolucionou o pensamento filosófico científico, até então subordinado pelo poder da igreja, escolástica e líderes políticos. Sua principal tese era propor que cada um pensasse por si mesmo.
Descartes questiona todos os seus conhecimentos, inclusive o de sua própria existência, mas em toda dúvida existe algo que não podemos duvidar: a própria dúvida. A dúvida então, é um pensamento e não há como pensar sem existir, desse modo, Descartes afirma a tão célebre das suas frases: “Penso, logo existo”.
Descartes e o ceticismo
O ceticismo
A corrente cética defende a impossibilidade do conhecimento de qualquer verdade, eles rejeitam qualquer tipo de dogma (afirmação verdadeira sem confirmação). Para os céticos o conhecimento é relativo, depende da realidade da pessoa que o possui e das condições do objeto.
Ceticismo metodológico de Descartes
O CeticismoMetodológico consiste, basicamente, em não aceitar como verdadeiras e incontestáveis as conhecidas "verdades prontas", ou seja: aquelas que nos foram transmitidas como certas mas que não foram testadas como tal e portanto, passíveis de dúvidas. Em suma, o que Descartes dizia era que não devemos simplesmente aceitar as coisas como verdades incontestáveis, sem que antes as submetamos a prova e obtenhamos nossos resultados próprios. Não adianta que todos digam que é verdade, que é assim que as coisas funcionam, eu preciso testar, ter certeza por si mesmo, e só então poderei dar aquilo como certo também. 
Em suas meditações metafísicas, esta foi a primeira verdade que ele teve como certa através do raciocínio próprio: penso, logo existo. Seguido de outras conclusões as quais chegou através do seu método.
A Dúvida Metódica de René Descartes
A dúvida metódica de Descarte é um instrumento metodológico com que esse filósofo francês procurou à prova da existência de verdades absolutas, logicamente necessárias e de reconhecimento universal.
Esse método consistia da filtragem de todas as suas ideias, eliminando aquelas que não se afigurassem como verdadeiras e fossem dúbias, e apenas retendo as ideias que não suscitavam qualquer tipo de dúvida. Para ele o conhecimento deveria se assentar sobre uma base solida, para que assim possa ele se desenvolver plenamente.
A dúvida metódica de René Descartes é um ceticismo?
Descartes era um ser dogmático, ou seja, acreditava na possibilidade de conhecer a realidade e aprender mentalmente suas características, apenas usando o processo da dúvida enquanto método pra descobrir o fim da descoberta de verdades absolutas, não se podendo associar-lhe a conceder-lhe o estudo de cético, ou seja, a corrente aposta que nega a possibilidade de conhecer qualquer parte integrante da realidade.
Mais do que a verdade, Descartes queria uma certeza, por meio do método; trilhava pelo caminho da dúvida não para ser cético, mas para ter certeza.
Regras para Orientação do Espírito
Este trabalho delineou a base para seus trabalhos posteriores sobre problemas complexos de matemática, ciência e filosofia. 36 regras foram planejadas no total, mas apenas 21 foram realmente escritas, e o livro foi publicado somente após sua morte.
Não iremos discursar sobre todas as regras. Selecionamos apenas 5 das mais interessantes.
REGRA I 
A finalidade dos estudos deve ser a orientação do espírito para emitir juízos sólidos e verdadeiros sobre tudo o que se lhe depara. 
Os homens costumam, sempre que reconhecem alguma semelhança entre duas coisas, avaliar ambas, mesmo naquilo em que são diversas, mediante o que reconheceram numa delas como verdadeiro. Realizam assim falsas aproximações entre as ciências, que consistem exclusivamente no conhecimento intelectual, e as artes, que exigem algum exercício e hábito corporal; e vêem que nem todas as artes devem ser aprendidas simultaneamente pelo mesmo homem e que só aquele que exerce uma única se transforma mais facilmente num artista consumado; as mesmas mãos que se dedicam a cultivar os campos e a tocar cítara, ou que se entregam a vários ofícios diferentes, não os podem executar com tanto desafogo como se a um só se dedicassem.
 Nem o conhecimento de uma só verdade, como se fora a prática de uma única arte, nos desvia da descoberta de outra; pelo contrário, ajuda-nos. Sem dúvida, parece-me de espantar que a maior parte indague, com o maior empenho, os costumes dos homens, as propriedades das plantas, os movimentos dos astros, as transmutações dos metais e os objetos de semelhantes disciplinas e que, entretanto, quase ninguém pense no bom senso ou nesta Sabedoria universal, quando tudo o mais deve ser apreciado, não tanto por si mesmo quanto pelo contributo que a esta traz. É preciso acreditar que todas as ciências estão de tal modo conexas entre si que é muitíssimo mais fácil aprendê-las todas ao mesmo tempo do que separar uma só que seja das outras. Portanto, se alguém quiser investigar a sério a verdade das coisas, não deve escolher uma ciência particular: estão todas unidas entre si e dependentes umas das outras; mas pense apenas em aumentar a luz natural da razão, não para resolver esta ou aquela dificuldade de escola, mas para que, em cada circunstância da vida, o intelecto mostre à vontade o que deve escolher. Em breve ficará espantado de ter feito progressos muito superiores aos de quantos se dedicam a estudos particulares, e de ter obtido não só tudo o que os outros desejam, mas ainda coisas mais elevadas do que as que podem esperar. 
REGRA III 
No que respeita aos objetos considerados, há que procurar não o que os outros pensaram ou o que nós próprios suspeitamos, mas aquilo de que podemos ter uma intuição clara e evidente ou que podemos deduzir com certeza; de nenhum outro modo se adquire a ciência. 
Devem ler-se os livros dos Antigos, pois é uma grande vantagem podermos aproveitar os trabalhos de um tão elevado número de homens, quer para conhecer as descobertas já feitas no passado com êxito, quer também para nos informarmos do que ainda falta descobrir em todas as disciplinas. Há, contudo, um grande perigo de se contraírem talvez algumas manchas de erro na leitura demasiado atenta desses livros, manchas que a nós se agarram sejam quais forem as nossas resistências e precauções. Com efeito, os escritores costumam ter um espírito tal que, todas as vezes que se embrenham por uma credulidade irrefletida na crítica de uma opinião controversa, se esforçam sempre por nos atrair mediante os mais subtis argumentos. Pelo contrário, sempre que tiveram a felicidade de encontrar algo de certo e evidente, nunca o expõem senão com rodeios, receando aparentemente diminuir pela simplicidade das razões o mérito da invenção, ou então porque nos invejam a verdade às claras. 
Ainda que todos fossem de boa índole e francos, impedindo-nos de tomar coisas duvidosas por verdadeiras e expondo-nos tudo de boa fé, porque dificilmente um afirma algo cujo contrário não seja proposto por outro, nunca sabemos em qual deles acreditar. E não valeria de nada contar os votos para aderir à opinião partilhada por mais Autores; porque, se trata de uma questão difícil, é mais credível que a sua verdade tenha sido descoberta por um reduzido número do que por muitos. Mesmo se todos estivessem de acordo, o seu ensino não nos bastaria: nunca nos tornaremos matemáticos, por exemplo, embora saibamos de cor todas as demonstrações feitas pelos outros, se com o espírito não formos capazes de resolver todo e qualquer problema; nem nos tornaremos filósofos se, tendo lido todos os raciocínios de Platão e Aristóteles, não pudermos formar um juízo sólido sobre quanto nos é proposto. Com efeito, daríamos a impressão de termos aprendido não ciências, mas histórias. 
REGRA V
Todo o método consiste na ordem e na disposição dos objetos para os quais é necessário dirigir a penetração da mente, a fim de descobrirmos alguma verdade. E observá-lo-emos fielmente, se reduzirmos gradualmente as proposições complicadas e obscuras a proposições mais simples e se, em seguida, a partir da intuição das mais simples de todas, tentarmos elevar-nos pelos mesmos degraus ao conhecimento de todas as outras. 
É nisto apenas que se contém o resumo de toda a humana indústria. Mas, há muitos que não refletem no que ela prescreve, ou a ignoram totalmente, ou presumem dela não ter necessidade, e muitas vezes examinam questões dificílimas de um modo tão desordenado que parecem proceder como se tentassem chegar, com um só salto, da parte mais baixa ao fastígio de um edifício, descurando as escadas destinadas a este uso, ou não notando até que existem umas escadas. Assim fazem todos os astrólogos que, sem conhecer a natureza dos céus e mesmo sem ter observado perfeitamente Os seus movimentos, esperam poder assinalar os seus efeitos. Assim faz a maioria dos que estudam a mecânica sem a física e que fabricam temerariamente instrumentos novos para produzir movimentos. Assim procedem tambémos filósofos que, descurando as experiências, julgam que a verdade nascerá do seu cérebro, como Minerva nasceu de Júpiter. 
REGRA VII
 Para completar a ciência, é preciso analisar, uma por uma, todas as coisas que se relacionam com o nosso objetivo, por um movimento contínuo e jamais interrompido do pensamento, abarcando-as numa enumeração suficiente e metódica.
A observação do que aqui se propõe é necessária para admitir como certas as verdades que, dissemo-lo mais acima, se deduzem dos princípios primeiros e conhecidos em si mesmos, mas não de um modo imediato. Com efeito, isto faz-se por vezes por um encadeamento tão longo de conseqüências que, após termos alcançado estas verdades, não é fácil lembrar-nos de todo o caminho que até aí nos levou; por isso dizemos que é preciso remediar a fraqueza da memória por uma espécie de movimento contínuo do pensamento. Por exemplo, se diversas operações me levaram primeiramente ao conhecimento da relação entre as grandezas A e B, depois entre B e C, em seguida entre C e D e, por fim, entre D e E, nem por isso vejo qual é a que existe entre A e E, e não posso fazer uma idéia precisa a partir das relações já conhecidas, a não ser que me recorde de todas. Por isso, percorrê-las-ei várias vezes por uma espécie de movimento contínuo da imaginação que vê intuitivamente cada objeto em particular enquanto vai passando aos outros, até ter aprendido a transitar da primeira relação para a última com tal rapidez que, sem deixar quase nenhum papel à memória, me pareça ver simultaneamente o todo por intuição. Assim, ao ajudar a memória, corrigese também a lentidão do espírito e aumenta-se de certo modo a sua capacidade. 
Além disso, dizemos aqui que a enumeração é exigida para completar a ciência; pois, se os outros preceitos nos servem, certamente, para resolver a maioria das questões, só a enumeração nos pode ajudar a aplicar o nosso espírito a qualquer uma delas, a fazer sempre sobre ela um juízo seguro e certo e, por consequência, a não deixar escapar absolutamente nada, parecendo assim que de todas sabemos alguma coisa. 
Acrescentei também que a enumeração deve ser metódica, não só porque não há remédio mais eficaz contra os defeitos já enumerados do que aprofundar tudo com ordem, mas também porque acontece frequentemente que, se fosse preciso percorrer separadamente cada uma das coisas em particular que se relacionam com o objeto proposto, nenhuma vida humana bastaria para tal, quer por causa do seu número excessivo, quer em virtude das repetições demasiado freqüentes que se apresentariam dos mesmos objetos. Mas, se dispusermos todas estas coisas na melhor ordem, reduzir-se-ão tanto quanto possível a determinadas classes, das quais bastará examinar cuidadosamente ou uma única, ou algum pormenor de cada uma em particular, ou então, algumas mais do que outras ou, pelo menos, nada alguma vez percorreremos em vão duas vezes; esta maneira de proceder é tão útil que, muitas vezes, por causa de uma ordem bem estabelecida, se levam a cabo, ao fim de pouco tempo – e graças a um trabalho fácil – numerosas tarefas que, à primeira vista, pareciam enormes. 
REGRA VIII
Se, na série de objetos a procurar, depararmos com alguma coisa que o nosso entendimento não possa intuir suficientemente bem, há que deter-se aí, sem examinar o que segue e evitando um trabalho supérfluo. 
Pois, quem quer que tenha observado cuidadosamente as regras precedentes para resolver alguma dificuldade e seja, no entanto, obrigado por esta última regra a deter-se em alguma parte, saberá então certamente que, apesar de toda a sua aplicação, nunca poderá encontrar a ciência que procura, e isso não por culpa do seu espírito, mas pelo impedimento procedente da natureza da própria dificuldade, ou pela sua condição de homem. Este conhecimento não é uma ciência menor do que a que manifesta a natureza da própria coisa; e quem levasse mais longe a sua curiosidade não pareceria ter bom senso. 
Por outro lado, nada pode haver aqui de mais útil do que investigar o que é o conhecimento humano e até onde se estende. Eis porque trataremos agora este assunto numa só questão e pensamos que é preciso examiná-la como a primeira de todas, segundo as regras já anteriormente estabelecidas. É o que deve fazer uma vez na vida quem quer que ame um pouco a verdade, pois a investigação aprofundada deste ponto contém os verdadeiros instrumentos do saber e todo o método. E nada me parece mais inadequado do que disputar audazmente sobre os segredos da natureza, a influência dos céus no nosso mundo inferior, a predição do futuro e coisas semelhantes, como muitos fazem, sem, no entanto, jamais terem inquirido se a razão humana pode fazer tais descobertas. E não deve considerar-se tarefa árdua ou difícil determinar os limites deste espírito, que em nós próprios sentimos, quando, muitas vezes, não hesitamos em formular um juízo sobre o que existe fora de nós e que nos é completamente estranho. E não é um trabalho imenso querer abarcar pelo pensamento todas as coisas contidas neste universo, para reconhecer como cada uma em particular se sujeita ao exame da nossa mente. Nada há, com efeito, tão múltiplo ou tão disperso que não se possa, mediante a enumeração, de que tratamos, incluir em limites determinados e reduzir a alguns pontos essenciais. Para disso fazer a experiência na questão proposta, dividimos primeiro tudo o que lhe diz respeito em duas partes: pois, há que relacioná-lo, quer conosco que somos capazes de conhecimentos, quer com as próprias coisas que se podem conhecer. Vamos discutir separadamente estes dois pontos
Na verdade, advertimos que em nós só o entendimento é capaz de ciência: mas também que três outras faculdades o podem ajudar ou criar-lhe impedimentos: são a imaginação, os sentidos e a memória. É, pois, necessário ver por ordem em que é que cada uma destas faculdades em particular pode constituir um obstáculo, a fim de nos precavermos; ou então, em que é que elas nos podem ser úteis, de modo a lançarmos mão de todos os recursos. Assim, esta parte será discutida mediante uma enumeração suficiente, sujeita à discussão, como se mostrará na proposição seguinte. 
Em seguida, importa vir às próprias coisas e considerá-las só enquanto o entendimento as atinge. Neste sentido, dividimo-las em naturezas inteiramente simples e em complexas ou compostas. Entre as naturezas simples, só pode haver naturezas espirituais, ou corporais, ou pertencentes a ambas ao mesmo tempo; por fim, entre as naturezas compostas, umas são de fato captadas como tais pelo entendimento, antes de ele as determinar por um juízo, enquanto as outras são por ele compostas. Far-se-á uma exposição mais pormenorizada de tudo isto na duodécima proposição, com a demonstração de que só pode haver erro nestas últimas naturezas compostas pela inteligência. Eis porque distinguimos, nas naturezas compostas, as que se deduzem das naturezas mais simples e são conhecidas por si mesmas, das quais trataremos em todo o livro seguinte, e as que pressupõem outras, cuja experiência nos mostra a composição na realidade, e a cuja explicação destinamos todo o terceiro livro. Em todo este Tratado, esforçar-nos-emos por procurar com tanto cuidado e tornar tão fáceis todas as vias abertas aos homens para o conhecimento da verdade, que quem quer que tenha perfeitamente aprendido todo o nosso método — ainda que seja o mais medíocre dos espíritos — verá que nenhuma destas vias lhe está mais vedada do que aos outros e que já nada ignora por falta de espírito ou de arte. Mas, sempre que aplicar a sua mente ao conhecimento de alguma coisa, ou a encontrará completamente, ou aperceber-se-á, pelo menos, de que ela depende de uma experiência que não está em seu poder, e é por isso que não se queixará do seu espírito, se bem que seja forçado a deter-se; ou, por fim, demonstrará que a coisa procurada ultrapassa totalmente a apreensão do espírito humano e, por conseguinte, não se julgará por isso como mais ignorante, porque não há menos ciência neste conhecimento doque em qualquer outro. 
Discurso sobre o método
O Discurso propõe um modelo quase matemático para conduzir o pensamento humano, uma vez que a matemática tem por característica a certeza, a ausência de dúvidas. Parte da inspiração de seu método deveu-se a três sonhos ocorridos na noite de 10 para 11 de novembro de 1619: nestes sonhos lhe havia ocorrido "a ideia de um método universal para encontrar a verdade".
Da necessidade de um método
A razão é igual em todos os homens, a diversidade de nossas opiniões não decorre de uns serem mais capazes de conhecerem a verdade do que outros, mas de conduzirem bem seus raciocínios, ao passo que outros os conduzem mal.
Consideração sobre as ciências
Ao terminar seus estudos, Descartes se vê repleto de dúvidas. Renuncia a procura da verdade nos livros e viaja para observar o mundo, o livro da vida. Mas, verifica uma grande diversidade e contradições nos costumes dos homens. Por fim, decide procurar a verdade em si mesmo.
Do método matemático à reflexão filosófica
Apenas os matemáticos encontrara algumas demonstrações, razões certas e evidentes, mas não possuíam um verdadeiro emprego a essas demonstrações, além dos utilizados na mecânica. Então, Descartes, corrigindo a lógica, a análise geométrica e a álgebra, uma pela outra, e reduzindo o número de preceitos, chega a um método composto por quatro regras que serão explicadas mais adiante. 
Regras da moral provisória
Para estabelecer a dúvida a todos os conhecimentos (a aplicação da primeira regra do método) Descartes determina provisoriamente quatro regras a garantir-lhe uma vida tranquila e sua felicidade enquanto duvidava em busca do indubitável:
1 – Obedecer às leis e os costumes de seu país, conservando a religião de sua infância e seguindo as opiniões mais moderadas, dos homens mais sensatos com quem tinha de viver;
2 – Ser firme e resoluto em suas ações, seguindo as opiniões duvidosas determinadamente quando escolhidas;
3 – Vencer primeiramente a si mesmo, modificando os próprios desejos ao invés de buscar modificar a ordem do mundo;
4 – Cultivar a razão e o conhecimento da verdade, segundo o método, a melhor atividade dentre as que os homens se ocupam.
Aplicação do método à filosofia
Quanto aos costumes é preciso seguir opiniões duvidosas, mas quanto à busca da verdade, para Descartes, deve-se rejeitar tudo que supõe dúvida, em busca do indubitável, o claro e distinto – primeira regra do método.
O Cogito
Para duvidar, pensar que tudo é falso, é necessário pensar, sendo imprescindível que quem pense seja algo – Penso Logo Existo (primeiro princípio da filosofia), indubitável, claro e distinto, atendendo o critério pelo qual se reconhece uma verdade, a clareza e a distinção.
Analisando o que existe, o pensamento, Descartes examina o que ele é, um pensamento independente do corpo, que para existir não necessita de lugar, nem de alguma coisa material, uma substância pensante.
Da existência de Deus
A forma de evidenciar o eu (pensamento) é a dúvida; a dúvida é uma imperfeição; portanto reconheço-me imperfeito; para saber-se imperfeito é preciso ter a ideia de perfeição; qual a origem desta ideia de perfeição? Deve haver na causa tanta realidade quanto no efeito; portanto a causa de uma ideia de perfeição não pode ser senão um ser perfeito; logo, o Ser Perfeito existe.
Prova das coisas externas
Com a certeza da existência do Ser Perfeito, a existência do mundo exterior não sofre nenhuma dificuldade. O Deus cuja existência foi demonstrada é perfeito, logo verídico, e ele nos enganaria se nossas ideias claras e distintas fossem falsas; Portanto cabe a nós nos precaver sobre as sensações confusas e obscuras ou ilusões. Estamos seguros de não cometermos erro afirmando que a extensão geométrica existe, a única coisa do mundo exterior que percebemos clara e distintamente.
Segunda prova da existência de Deus
Procurando o que se apresenta de forma distinta e clara nas coisas exteriores, pensando na extensão geométrica e nos teoremas que dela demonstramos, toda certeza destas demonstrações dependem de serem concebidas evidentemente – por mais que não se reconheça a existência do triangulo, quando penso nele é necessário que seus três ângulos somados sejam iguais à soma de dois ângulos retos. Por conseguinte é certo que Deus existe como as demonstrações geométricas. Um ser perfeito necessariamente deve existir. Perfeição implica em existência.
Ordem das questões físicas
Descartes desenvolve a cadeia das verdades físicas que ele deduz de sua metafísica. Portanto tudo se explica na natureza pelos princípios da extensão geométrica e das leis do movimento deduzida da perfeição de Deus.
Dos animais
Os animais não têm alma, prova disto é que eles são desprovidos de razão, se eles tivessem razão, por mais pouca que fosse eles falariam, e o mais inteligente dos animais não fala, ao passo que o menos inteligente entre os homens fala. O que difere o ser humano dos animais é a capacidade do homem de responder ao meio criativamente, racionalmente, principalmente por meio da linguagem. Os animais são máquinas orgânicas complexas, como o corpo humano e o mundo (mecanicismo).
Das coisas requeridas às pesquisas da natureza
As experiências são tanto mais necessárias quanto mais estiverem avançados os conhecimentos. Pois, no início, mais vale servir-se apenas das que se apresentam por si mesmas aos nossos sentidos, as que não podemos ignorar desde que nos dediquemos a elas refletidamente, em vez de procurar as mais raras e complicadas. A razão disso é que as mais raras muitas vezes nos enganam, quando não conhecemos ainda as causas das mais comuns, e que as circunstancias das quais dependem são quase sempre tão específicas e tão pequenas que é muito penoso notá-las.
Método Cartesiano
O Método cartesiano, criado por René Descartes, consiste no Ceticismo Metodológico — duvida-se de cada ideia que pode ser duvidada. Descartes institui a dúvida: só se pode dizer que existe aquilo que possa ser provado. 
Também consiste o método na realização de quatro tarefas básicas: 
A primeira consistia em não aceitar nunca como verdadeiro qualquer coisa sem a conhecer evidentemente como tal: isto é, evitar cuidadosamente a precipitação e a prevenção; não incluir nos meus juízos de valor nada que se não apresentasse tão clara e distintamente à minha inteligência de modo a excluir toda a possibilidade de dúvida.
A segunda era dividir o problema em tantas partes quantas fossem necessárias para melhor o poder resolver.
A terceira, conduzir por ordem os meus pensamentos, começando pelos objetos mais simples e mais fáceis de conhecer, para subir pouco a pouco, gradualmente, até o conhecimentos mais compostos; e admitindo uma ordem mesmo entre aqueles que não se prendem naturalmente uns com os outros.
Por último, fazer sempre enumerações tão completas e revisões tão gerais que tivesse a certeza de nada ter omitido.
Descartes aplicou o método à geometria, resolvendo problemas, até o momento, insolúveis, então, certo de sua funcionalidade, o aplica a filosofia, que não possuía princípios que fossem certos.
Plano Cartesiano
Criado por René Descartes, o plano cartesiano consiste em dois eixos perpendiculares, sendo o horizontal chamado de eixo das abscissas e o vertical de eixo das ordenadas. O plano cartesiano foi desenvolvido por Descartes no intuito de localizar pontos num determinado espaço. As disposições dos eixos no plano formam quatro quadrantes.
O encontro dos eixos é chamado de origem. Cada ponto do plano cartesiano é formado por um par ordenado (x , y ), onde x: abscissa e y: ordenada. Em razão dessa ordem, devemos localizar o ponto observando primeiramente o eixo x e posteriormente o eixo y. Qualquer ponto que não se encontrar sobre os eixos, estará localizado nos quadrantes.
A criação do Sistema de Coordenadas Cartesianas é considerada uma ferramenta muito importante na Matemática, facilitando a observação do comportamento de funções em algunspontos considerados críticos.
Podemos associar o Plano Cartesiano com a latitude e a longitude, temas relacionados aos estudos geográficos e à criação do atual sistema de posicionamento, o GPS. O Sistema de Posicionamento Global permite que saibamos nossa localização exata na terra, desde que tenhamos em mão um receptor de sinais GPS, informando a latitude, a longitude e a altitude com o auxilio de satélites em órbita da Terra. Um exemplo de utilização do GPS são os aviões, que para não se colidirem são monitorados e informados em qual rota devem seguir viagem.
A Física de Descartes e o Universo
Na Renascença começavam a surgir as primeiras máquinas, inclusive os relógios. Para Descartes, a harmonia, a ordem do universo e as relações de causalidade — objetos que poderiam ser explicados pela física e pela química — passaram a ser comparadas a de um grande relógio, e Deus era o "relojoeiro" deste universo.
Entre os princípios básicos de sua física, Descartes situou o princípio da inércia, tal como o concebemos hoje. Em Princípios da Filosofia, Descartes estabelece os princípios básicos de sua física, entre os quais: 
"Como Deus não está sujeito a mudanças, agindo sempre da mesma maneira, podemos chegar ao conhecimento de certas regras a que chamo as leis da natureza, e que são as causas segundas, particulares, dos diversos movimentos que observamos em todos os corpos, e daí a importância dessas leis. A primeira é que cada coisa particular, enquanto simples e indivisa, se conserva o mais possível e nunca muda a não ser por causas externas. Por conseguinte, se uma parte da matéria é quadrada, ela permanecerá assim se nada vier a alterar a sua figura; e se estiver em repouso, nunca se moverá por si mesma. Mas, uma vez posta em andamento, também não podemos pensar que ela possa deixar de se mover com a mesma força enquanto não encontrar nada que atrase ou detenha o seu movimento. De modo que, se um corpo começou a mover-se, devemos concluir que continuará sempre em movimento, e que nunca parará por si próprio."
e, continuando, 
"A segunda lei que observo na natureza é que cada parte da matéria, considerada em si mesma, nunca tende a continuar o seu movimento em linha curva mas sim em linha reta, embora muitas dessas partes sejam muitas vezes obrigadas a desviar-se porque encontram outras no caminho, (...) Embora seja verdade que o movimento não acontece num instante, todavia é evidente que todo o corpo que se move está determinado a mover-se em linha reta e não circularmente."
Neste ponto o princípio da inércia está definitivamente elaborado e enunciado.
Descartes fornece também os alicerces filosóficos para este novo princípio físico, reformulando o conceito de movimento. Para Aristóteles, como vimos, o movimento, quando natural, é um processo, levando de uma certa situação a um fim previamente determinado, e que se extingue tão logo este fim seja atingido. Já o movimento violento, ou seja, não natural, só se prolongará enquanto houver algum agente atuando para que ele ocorra. Com Descartes, o quadro se modifica completamente. Ele utiliza a palavra status para caracterizar o movimento. O termo estado, por si só, já traduz a idéia de permanência. 
"Cada coisa permanece no seu estado, se nada o alterar; assim, aquilo que uma vez foi posto em movimento continuará sempre a mover-se." 
Aquilo que para o sistema aristotélico era absurdo, a continuidade indefinida do movimento, desprovida de qualquer fim pré-determinado, se torna uma realidade no pensamento cartesiano. O desenvolvimento da física nascente exigiu como seu correlato a completa superação da filosofia aristotélica.
Descartes também acreditava que o universo era pleno e que não havia vácuo no espaço. Ele refutava a hipótese de gravitação, pois a ideia de que os planetas se atraem à distância, sem uma conexão material entre eles, era inaceitável.
 Desenvolveu a idéia de William Gilbert (Físico inglês) de que um ímã teria ao redor de si um fluxo de uma matéria sutil formando um vórtice. Isso explicaria a atração de pólos opostos e a repulsão de pólos iguais. O ferro e aço seriam atraídos pelo ímã pela resistência que estes materiais oferecem a tal fluido.
O sistema de fluidos do magnetismo foi também utilizado por Descartes para explicar a dinâmica do sistema solar, na qual os vórtices (ou turbilhões) eram elementos essenciais. Conceitos básicos foram emprestados da teoria atomista grega, segundo a qual o universo seria composto por turbilhões de um gás rarefeito de átomos. Os astros não seriam mais que regiões de maior condensação da matéria. Para Descartes, o sistema solar seria um vasto vórtice de matéria rarefeita, arrastando os planetas. Além do vórtice do sistema solar, haveria outros, contíguos, preenchendo todo o espaço do universo. Em um turbilhão de fluido, as regiões mais centrais possuiriam maior velocidade angular, o que de fato ocorre com os planetas mais próximos do Sol.
Ou seja, os planetas se moviam em torno do sol porque eram carregados por um agregado de vórtices contíguos de matéria, e não porque estivessem orbitando em um vácuo. 
As crenças de Descartes sobre o universo tiveram importância por algum tempo, até que a física newtoniana se estabelecesse.
Descartes acreditava que:
O Universo é ilimitado (opondo-se à teoria Aristotélica);
 O universo é pleno, sem vácuos;
 A matéria é divisível até ao infinito;
O universo é homogêneo (ou seja, a distribuição de matéria é uniforme).
 
Meditações Metafísicas
As “Meditações Metafísicas” é uma das obras mais notáveis de René Descartes no campo da Filosofia. Ela praticamente inaugura um período no âmbito do conhecimento, da ciência, e até mesmo da história mundial. Esta não é uma obra com o mesmo caráter que era vigente em tempos anteriores. Para ser mais específico, ela possui um conteúdo distinto do que era produzido nos períodos que antecederam tal obra, neste caso, a Idade Média e Idade Antiga. Ela vem para trazer algo novo, que revolucionaria o mundo científico. 
O objetivo de Descartes é restabelecer as bases da Metafísica que se encontravam corroídas pelos avanços da ciência no mundo, para assim torná-la compatível com estes avanços, ou seja, Descartes pretende atualizar a Metafísica ao seu tempo, pois ela tinha ficado ultrapassada e não dava mais conta de certas questões que eram fundamentais para a própria Metafísica.
Especificamente, os preceitos Metafísicos que estavam sendo postos em cheque pela ciência vigente eram os Aristotélicos. A Física de Aristóteles começou a ser questionada, pois o avanço tecnológico permitiu aos novos pensadores ter melhores condições de realizar seus estudos acerca do universo. Foi o caso de Galileu, pode-se dizer que ele foi um dos principais agentes deste abalo na credibilidade da Metafísica ao formular a teoria do heliocentrismo.
É neste contexto que Descartes vem fazer a tentativa de reencontrar as bases da Metafísica, adequando-a às novas descobertas científicas para assim devolver a credibilidade à mesma e acabar com a crise do pensamento. Para isto, ele não passa por cima dos princípios já existentes, pois a sua intenção não é criar uma nova Metafísica, mas sim dar-lhe um novo sentido, ou seja, fazer uma espécie de reciclagem. Ele utilizou argumentos e concepções de grandes filósofos que o antecedeu como dos pré-socráticos, o mais conhecido, de Santo Agostinho.
Um dos fatores que favoreceu Descartes neste sentido foi o fato de ele estar por dentro do mundo científico em várias áreas como a matemática e também a física.
Descartes tornou públicas as suas contribuições e aproveitou-se da situação para mostrar que, para chegar às suas conclusões científicas ele demandou de uma metodologia, de seguir princípios, de partir de uma especulação anterior à verificação, e isso é possibilitado pela Metafísica. Neste sentido, o que ele quer deixar claro é que a metafísica é essencial para as demais ciências, pois ela fornece princípios fundamentais para se fazer qualquer tipo de ciência.
O Argumento dos SonhosNo argumento dos sonhos Descartes nos mostra que é necessário que o filósofo autêntico coloque em questão todo o seu conhecimento, e encontrando um principio metodológico seguro reconstrua seu conhecimento com uma base sólida.
"Se tivésseis um cesto de maçãs dentre as quais várias estivessem podres, contaminando assim as restantes, o que fazer senão esvaziá-lo todo e, tomando cada maçã uma a uma, recolocar as boas no cesto e jogar fora as más?"
Devemos portanto esvaziar-nos de todos os nossos conhecimentos e crenças, já que entre eles há alguns que não são confiáveis; mas não sabemos quais até examiná-los.
Descartes chega a esta conclusão através de um argumento em três níveis de intensidade crescente, sendo os dois primeiros característicos do ceticismo antigo. A primeira meditação onde esses argumentos são formulados, intitula-se "Sobre as coisas que se podem colocar em dúvida".
O primeiro argumento diz respeito ao nossos sentidos, pois para Descartes são nossa forma de conhecimento. Descartes afirma que os sentidos nos enganam e facilmente podem nos equivocar em qualquer experiência de percepção. Descartes dá o exemplo da percepção imediata de si mesmo (o Solipsismo): “que eu estou aqui sentado junto ao fogo, vestido com um roupão, tendo um papel nas mãos...” (primeira meditação).
O segundo argumento representa uma nova etapa na erradicação da duvida. “É possível que, na verdade, eu esteja dormindo e sonhando, e que tudo isso que creio perceber, o fogo, meu roupão, o papel, esteja apenas ocorrendo em meu sonho". Tudo o que acreditamos perceber, claramente pode estar ocorrendo apenas em sonho, sem ter nenhuma relação com a realidade externa. Essa questão da relação entre aquilo que se passa na nossa mente e o mundo externo é um dos problemas mais cruciais levantados pela filosofia cartesiana. Isso quer dizer que o argumento dos sonhos não é ainda suficientemente forte, já que o que é ilusório é o caráter do tipo de percepção e não propriamente aquilo (objeto) que percebemos. Mesmo as imagens fantásticas feitas por um pintor surrealista têm por base a realidade natural.
O terceiro argumento levará a dúvida as suas ultimas consequências e representa uma inovação de Descartes em relação aos argumentos céticos tradicionais. Descartes parte da hipótese de que exista um Deus que "tudo pode e que me criou como tal como sou" ou “Eu poderia, em princípio, ter sido criado de tal forma que acreditasse no céu, na terra, em todas as coisas, sem que estas existissem. Poderia supor ter sido criado não por Deus, mas por um ‘gênio maligno’ que me enganasse sobre a existência de todas as coisas, incluindo aí as verdades da matemática.” 
Por esse motivo, o filósofo deve suspeitar de tudo, permanecer sempre na dúvida.
Corpo x Mente.
Em Meditações Metafísicas, Descartes discute o dualismo entre alma e corpo. 
Descartes era bastante influenciado pela filosofia agostiniana e pela escolástica, então, apesar de seu ceticismo e sua crítica à repressão e a violência da igreja, ele acreditava que Deus deu a alma ao homem para que ele pudesse fazer uso da razão. 
Ele afirmava que o corpo (material) é uma máquina, capaz de se movimentar e realizar os processos químicos necessários para se manter, pois isto eram funções do corpo; enquanto que a alma/mente (imaterial) tinha somente a capacidade de abrigar o pensamento e a consciência, e, em conseqüência, nos proporcionar conhecimento sobre o mundo exterior.
Antigamente, desde Platão, a teoria dualista já era discutida, porém era dito que a relação entre mente e corpo era como de uma marionete e seu manipulador: a mente manipulava o corpo enquanto este não exercia nenhum impacto sobre ela.
Para Descartes, ambos (Corpo e Alma) estão em constante interação mútua, mesmo sendo completamente distintos e separados um do outro.
Essa teoria trouxe críticas e dúvidas, porque ele nunca conseguiu de fato explicar como que duas substâncias tão diferentes poderiam ter ligação entre si. Afirmava que está para além da nossa capacidade compreender essa interação e que não podia ser estudada com métodos reconhecidamente científicos. 
A era Renascentista, apesar de ser o tempo das ciências e do antropocentrismo, os dogmas da igreja ainda existiam e tinham influência muito grande. Descartes quebra esses dogmas ao aplicar a ideia de mecanicismo, chegando a ser acusado de ser ateu e libertino, quando na verdade era católico devoto. 
Funções atribuídas à mente na Idade Média passaram a ser consideradas pertencentes apenas ao material (corpo), e este, como uma máquina, era regido pelas leis da física e da mecânica, o que explicaria o movimento e a ação no mundo físico. Seguindo essa linha de raciocínio, Descartes passou à explicação do funcionamento fisiológico em termos de física. Isso possibilitou uma série de estudos sobre o organismo humano. 
A dualidade física/mental possibilitou também o estudo da mente e suas operações, deixando de lado o conceito abstrato que se tinha sobre ela. Como resultado, os métodos de pesquisa deixaram a análise metafísica e se preocuparam com a observação objetiva. Enquanto antes só se podia especular sobre a existência da alma, passou a ser possível observar a mente e os seus processos.
Portanto, o estudo aprofundado do corpo humano e da mente trouxeram grandes avanços para a ciência moderna e para a psicologia científica como a conhecemos. 
Descartes sugeriu que a mente dá origem a três espécies de ideias: ideias derivadas, ideias inatas e ideias fictícias. 
Ideias Derivadas são as produzidas pela aplicação direta de um estimulo externo, ou seja, são produto das experiências sensoriais. Assim, juízos que são baseados nestas ideias, segundo Descartes, são fontes do erro, pois nos dizem como a coisa aparece e não o que ela é.
As Ideias Inatas não são produzidas por objetos do mundo exterior que entram em contato com os sentidos, mas da própria mente, como a ideia do eu, de Deus, do infinito, da perfeição e da matemática. São ideias intuitivas com as quais já nascemos. 
Ideia Fictícia: ficção é o nome dado para o que não existe. Significa dizer que nossa imaginação pode, a partir de ideias derivadas, criar seres inexistentes. Isto será melhor explicado logo em seguida.
O Princípio da Correspondência
Descartes identifica 3 tipos de ideias: Inatas, Adventícias e as ideias da Imaginação (ou Fictícias). As idéias da imaginação são formadas em nossa mente a partir de elementos de nossa experiência, como por exemplo a idéia de um unicórnio, que resulta na junção da chifre à imagem de um cavalo.
A ideia é verdadeira em razão de sua adequação, e sua adequação é caracterizada por propriedades intrínsecas à própria ideia, isto é, às ideias como modos das da substância pensante. Contudo, para explicar a possibilidade de conhecimento real, é necessário, como dissemos, que as idéias tenham um conteúdo representacional, que possa ser como "imagem das coisas", e que cada conteúdo representacional corresponda um objeto. É preciso então introduzir o princípio clássico da correspondência para garantir a correlação entre ideia da mente e a coisa a ser conhecida no mundo externo. Só assim o saber poderá vir a ser a representação do real como mundo empírico ou como mundo possível.
Bibliografia
DESCARTES, René. Ermantina, Maria Galvão, Discurso do método. São Paulo: Martins Fontes. 2001
DESCARTES, René: Discurso do método, Meditações, Objeções e respostas, As paixões da alma, Cartas. Victor Civita: abril cultural
Ximenes, Liana, Descartes e o racionalismo moderno,”Aula 09 Descartes da Universidade Estácio de Sá, Psicologia. 2013”
Cesar, Jamile, Descartes e o ceticismo metodológico. Disponível em: <http://www.muralfilosofico.com/2014/01/descartes-e-o-ceticismo-metodologico.html> acesso em 27 de maio 2015
Pereira, Rafael Barbosa, A dúvida metódica de René Descartes e o Ceticismo, Disponível em: <http://trabalhoscomexito.blogspot.com.br/2012/03/duvida-metodica-de-rene-descartes-e-o.html > acesso em 27de maio 2015
René Descartes (1596-1650), Disponível em: < http://plato.if.usp.br/1-2003/fmt0405d/apostila/renasc7/node10.html > Acesso em 25/05/2015
DESCARTES, René. João Gama, Regras para Direção do Espírito: Edição 70
Gui de Franco, Aula 17 - Filosofia - René Descartes, Disponível em: < https://www.youtube.com/watch?v=We3WMDmr8SY&feature=youtu.be > acesso em 30 de maio 2015
SCHULTZ, Duane P. ; SCHULTZ, Sydney Ellen. História da psicologia moderna. 9 ed. Gengage Learning. p 36-43

Outros materiais