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Relatório Minha vida de menina

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Relatório: Minha vida de menina – Helena Morley
O livro Minha vida de menina, da autora Helena Morley, foi publicado em 1942, em forma de diário, contendo várias histórias cotidianas sobre a vida de Helena. Helena, inclusive, é um pseudônimo da autora Alice Dayrell, que preferiu ser chamada de Helena. O livro foi originalmente escrito por volta de 1893, e relata a vida de Helena quando esta tinha entre 12 e 14 anos. A obra se passe em Minas Gerais, na cidade de Diamantina.
Quando a autora decide publicar o livro, já está no auge dos seus 60 anos, o que causa certo questionamento sobre a veracidade e fidelidade dos escritos para o conteúdo publicado. A linguagem utilizada na obra não permite muitas dúvidas de que foi escrito por uma criança/jovem, porém alguns aspectos gramaticais, e até mesmo a coerência apresentada durante toda a obra, sugerem que algumas alterações foram feitas antes da publicação do livro. 
A autora publica este livro quando já é avó, e este motivo nos permite uma reflexão de que o livro possui uma narrativa que perpassa gerações, pois no decorrer da história, Helena fala muito sobre sua avó, e a própria avó fala em alguns momentos como a criação de Helena e a dela foram diferentes, quantas coisas Helena era livre para fazer que sua avó não foi, e ao publicar este livro, existe mais uma relação entre a criação que Helena teve, e a criação que suas netas estão tendo, em uma vida mais moderna e tecnológica, com permissões, direitos e deveres diferentes da época em que Helena escreveu sua obra.
A obra aborda alguns assuntos da época, como a mineração e a abolição da escravatura, como se davam as relações da sociedade da época, com enfoque na visão de Helena sobre tudo que acontecia ao seu redor. Helena é uma personagem questionadora e incômoda, fora do padrão sempre questiona assuntos como a religião, a criação dos filhos, a cultura familiar, dentre outras indagações. 
A obra apresenta o retrato de um Brasil problemático, com uma sociedade que se pretende moderna e livre, mas não é. A obra mostra um período pós escravatura que ainda enxerga o negro como inferior, descrevendo-os negativamente e discriminatória. A relação da família de Helena com os “ex-escravos” é problemática, em alguns pontos apresenta um preconceito aberto, onde é declarado e explicito a discriminação em relação aos negros, e em outros pontos é apresentado um preconceito fechado, onde por exemplo, personagens dizem não terem preconceito com os negros, já que são bons para com eles, ou então, que tem amigos negros. Mas a verdade é que esses dois tipos de relação são de preconceito, porém uma delas é um pouco mais disfarçada e mascarada.
Após a abolição da escravatura, em 1888, os negros eram livres, mas não tinham condições de viver como tais, pois não tinham para onde ir, não tinham moradia, portanto, eles se submetiam a continuar trabalhando em troca de moradia e alimento. Dessa forma a relação entre empregador e empregado não foi alterada, o negro continuava a ser explorado, subalterno, sem dignidade e visto como ser inferior. 
Esta obra parte do mesmo contexto histórico que a obra Dom Casmurro, de Machado de Assis. Machado retrata de forma mais irônica e mais elaborada a questão escravocrata no país, Helena o faz de forma mais simples, já que seu discurso é de uma garota entre 12 e 14 anos. A obra também apresenta relação com a obra A Cidade e as Serras, de Eça de Queiroz, onde existe uma idealização do campo. O apego ao rural, ao simples, em detrimento do urbano e moderno. 
A relação com o trabalho também faz parte dos assuntos retratados na obra de Helena, o pai de Helena é de origem inglesa, onde acreditam que o trabalho enobrece o homem, sendo assim, eles cria seus filhos desse modo, desde cedo seus filhos já são habituados a trabalhar, já a visão do Brasil é que o trabalho braçal deve ser feito pelos escravos, portanto, o fato do pai de Helena colocar seus filhos no mundo do trabalho não é bem visto pela sociedade brasileira. 
Esta obra é de extrema importância por mostrar um Brasil não idealizado, com várias problemáticas, algumas delas infelizmente persistem até hoje. O Brasil se vende na virada do século XIX para o século XX, como um país em transição, que está em um processo de urbanização, modificação e modernização, quando na verdade suas relações sociais permanecem de forma arcaica, ou seja, toda essa propaganda não passa de uma máscara, e por isso esta obra tem grande importância, pois a narrativa de Helena critica e desmascara todo esse Brasil que se diz em processo de progresso. 
Mesmo contendo uma narrativa mais leve e simples, e apesar de não ter sido escrito com o intuito de documento histórico, a obra apresenta o processo pelo qual passa o país, abordando assuntos importantes através de uma visão que permite uma análise das relações sociais existentes em determinadas épocas. Esta obra faz parte da formação da literatura brasileira, ela permite um acesso ao passado, contendo muitos aspectos de uma sociedade em determinado período, além de fazer uma crítica as relações sociais que eram mantidas naquela época. 
A obra traz de uma forma mais simples, por meio de histórias cotidianas, fatos importantes da nossa sociedade brasileira, e permite ao leitor analisar de uma forma mais profunda e crítica o que aconteceu após a abolição da escravatura, como se deram as relações na sociedade após os negros serem considerados livres, como o resto da população reagiu a isso e como os negros lidaram com esta liberdade. Ela nos permite entender que as relações sociais são de grande importância para o progresso de um país, explorando ainda os papéis do homem e da mulher na sociedade e em como os empregadores são vistos com bons olhos em detrimento dos empregados, agora negros, “ex-escravos” considerados livres, mas sem nenhuma condição de serem inseridos de forma justa na sociedade. Por fim, o livro nos proporciona uma grande análise de todo o processo vivido pelo país, de forma crítica, apesar das anedotas durante a narrativa das histórias contadas por Helena.

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