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TEXTO 5 MILTON SANTOS GLOBALIZAÇÃO

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TEXTO 5 – MILTON SANTOS
	A GLOBALIZAÇÃO COMO FÁBULA
 "[...] A máquina ideológica que sustenta as ações preponderantes da atualidade é feita de peças que se alimentam mutuamente e põe em movimento os elementos essenciais à continuidade do sistema. Damos aqui alguns exemplos. Fala-se, por exemplo, em aldeia global para fazer crer que a difusão instantânea de notícias realmente informa as pessoas. A partir desse mito e do encurtamento das distâncias - para aqueles que realmente podem viajar - também se difunde a noção de tempo e espaço contraídos. É como se o mundo houvesse tornado, para todos, ao alcance da mão. Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas.  Há uma busca de uniformidade, ao serviço dos atores hegemônicos, mas o mundo se torna menos unido, tornando mais distante o sonho de uma cidadania verdadeiramente universal. Enquanto isso, o culto ao consumo é estimulado. [...]
O mundo que percebemos: a globalização como fábula
Esse mundo globalizado, visto com fábula, exige um certo número de fantasias. A máquina ideológica faz crer que a difusão instantânea de notícias realmente informa as pessoas. Um mercado avassalador dito global é apresentado como capaz de homogeneizar o planeta através da disposição, cada vez maior, de mercadoria para o consumo quando, na verdade, as diferenças locais são aprofundadas. Podemos indagar se não estamos diante de uma ideologização maciça, segundo a qual a realização do mundo atual exige como condição essencial o exercício de fabulações.
A principal característica da globalização como fábula é a ideologia mascarada pela intenção de compartilhar os meios de comunicação, avanços medicinais e produtos que proporcionam o “puro prazer humano”, como se todos tivessem acesso aos benefícios da globalização, sem explicitar que, para suprir a necessidade tecnológica, ignora-se a sociologia e a preocupação com os Direitos Humanos.
A GLOBALIZAÇÃO COMO PERVERSIDADE
  De fato, para a grande maior parte da humanidade a globalização está se impondo como uma fábrica de perversidades. O desemprego crescente torna-se crônico. A pobreza aumenta e as classes médias perdem em qualidade de vida. O salário médio tende a baixar. A fome e o desabrigo se generalizam em todos os continentes. Novas enfermidades, como a Aids, se instalam e velhas doenças, supostamente extirpadas, fazem seu retorno triunfal. A mortalidade infantil permanece, a despeito dos progressos médicos e da informação. A educação de qualidade é cada vez mais inacessível. Alastram-se e aprofundam-se males espirituais e morais, como os egoísmos, os cinismos, a corrupção.
  A perversidade que está na raiz dessa evolução negativa da humanidade tem relação com a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas. Todas essas mazelas são direta ou indiretamente imputáveis ao presente processo de globalização.
O mundo real: a globalização como perversidade
Para a maior parte da humanidade a globalização está se impondo como uma fábrica de perversidades. o desemprego se torna crônico, a pobreza aumenta, novas enfermidades se instalam, a mortalidade infantil permanece, a educação de qualidade é cada vez mais inacessível e o consumo é cada vez mais representado como fonte de felicidade. A perversidade sistêmica está relacionada a adesão desenfreada aos comportamentos competitivos que atualmente caracterizam as ações hegemônicas.
A globalização como perversidade é tal como ela é: o estímulo à competitividade, ao egoísmo e status. Utilizando a Ciência a favor dos lucros a partir de suas descobertas, formando desta forma uma sociedade doente, que alimenta “...uma filosofia de vida que privilegia os meios materiais e se despreocupa com os aspectos finalistas da existência e entroniza o egoísmo como lei superior, porque é instrumento da buscada ascensão social. Em lugar do cidadão formou-se um consumidor, que aceita ser chamado de usuário” 
Para Santos a globalização é o resultado das ações de um mercado dito global, baseado na tirania do dinheiro, aliado a existência dos novos sistemas de tecnologia, como por exemplo, o da informação. “Um mercado global utilizando esse sistema de técnicas avançadas resulta em uma globalização perversa”.
UMA OUTRA GLOBALIZAÇÃO
Todavia, podemos pensar na construção de um mundo, mediante uma globalização mais humana. As bases matérias do período atual são, entre outras, a unicidade da técnica. São nessas bases técnicas que o grande capital se apoia para construir a globalização perversa. Mas, essas mesmas bases técnicas poderão servir a outros objetivos, se forem postas ao serviço de outros fundamentos sociais e políticos. Parece que as condições históricas do fim do século XX apontavam para esta última possibilidade. 
O mundo como possibilidade: uma outra globalização
As bases materiais do período atual são, entre outras, a unicidade da técnica, a convergência dos momentos e o conhecimento do planeta. É nessas bases técnicas que o grande capital se apoia para construir a globalização perversa. No entanto, essas mesmas bases poderão servir a outros objetivos, se forem postas ao serviço de outros objetivos, se forem postas ao serviço de outros fundamentos sociais e políticos.

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