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2009 TESE SMBMELO

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO 
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA CÍVICA: 
 as festas escolares espetáculos de civilidade no Piauí. 
 (1930-1945). 
 
 
SALÂNIA MARIA BARBOSA MELO 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fortaleza (CE), 2009 
 
 
 
 
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO 
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA CÍVICA: 
 as festas escolares espetáculos de civilidade no Piauí. 
 (1930-1945). 
 
 
SALÂNIA MARIA BARBOSA MELO 
 
 
 
 
Tese de Doutoramento em 
Educação Brasileira apresentada 
à Universidade Federal sob do 
Prof. Dr. José Gerardo 
Vasconcelos. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 Fortaleza (CE), 2009 
 
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ 
FACULDADE DE EDUCAÇÃO 
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
DOUTORADO EM EDUCAÇÃO BRASILEIRA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 A CONSTRUÇÃO DA MEMÓRIA CÍVICA: 
 as festas escolares espetáculos de civilidade no Piauí. 
 (1930-1945). 
 SALÂNIA MARIA BARBOSA MELO 
 
 
Tese de Doutoramento em Educação Brasileira apresentada à Universidade 
Federal do Ceará, foi julgada e aprovada, pelo orientador e os membros da 
banca examinadora, composta pelos seguintes professores: 
 
 
 
________________________________________________ 
Prof. Dr. José Gerardo Vasconcelos (orientador) – UFC 
 
 
 
________________________________________________ 
 
________________________________________________ 
 
________________________________________________ 
 
________________________________________________ 
 
Aprovada em ------------de --------------------------de 2009 
 
 
 
 
 
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FICHA CATALOGRÁFICA 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 M528c Melo, Salânia Maria Barbosa. 
 A construção da mémória cívica [manuscrito] : as festas 
escolares de civilidade no Piauí (1930-1945) / Salânia Maria 
Barbosa Melo. – 2009. 
 231 f. : il. 
 
Cópia de computador (printout). 
Tese (doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Educação 
Brasileira, Universidade Federal do Ceará, 2009. 
“Orientador: Prof. Dr. José Gerardo Vasconcelos”. 
 
 1. Educação – História – Piauí . 2. Festas Cívicas. 3. Memória 
Cívica . 4. Educação – História – Memória. I. Título. 
 
 CDD 370.981 22 
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DEDICATÓRIA 
 
À minha mãe, Dona Creusa, com a certeza de que essa jornada 
teve início pela dedicação de suas habilidosas mãos para ensinar 
tudo o que sabe. Lembrar de minha mãe é saber de sua maestria. 
A meu pai, Seu Sinhô Melo (in memorian), pela sua presença 
permanente em minha vida. 
À Dália, minha flor do dia, que me ajudou a escrever cada vez 
mais as páginas deste trabalho sempre que pediu minha presença 
em suas brincadeiras. 
Às minhas filhas Doroty e Bianca pelo imenso amor e, porque 
desde muito pequenas, foram capazes de aprender o significado 
de não se ter tudo que se quer ou precisa para superar a 
“ausência” da mãe. 
Ao Amaral, por tudo. 
 
 
6 
 
AGRADECIMENTOS 
 
 
As palavras, por mais apropriadas que sejam elas não são capazes de 
expressar os nossos verdadeiros sentimentos de gratidão, mesmo assim necessito das 
mais adequadas neste momento para manifestar meus agradecimentos a todos os que 
confiaram, acreditaram e auxiliaram-me para tornar possível este trabalho. 
Ao meu querido orientador, professor Doutor José Gerardo Vasconcelos, 
pela doçura, leveza e paz de espírito, pela fraterna acolhida desde o momento de minha 
chegada em Fortaleza e por todos os nossos encontros para entender o que na escrita era 
decifrável ou não, se o que estava dito era ou não lógico, em que os conceitos estavam 
ou não no lugar mais adequado, o seu carinho foi sempre muito grande para a lida 
delicada da orientação. 
À professora Doutora Maria Juraci Maia Cavalcante, pela grandeza humana, 
pelos permanentes ensinamentos, pelas excelentes aulas, leitura e observações que fez 
no meu trabalho. 
Ao meu sempre orientador, professor Doutor Antônio de Pádua Carvalho 
Lopes, da Universidade Federal do Piauí. Obrigada pelas várias leituras do meu trabalho 
e principalmente pela credibilidade na execução e viabilidade desta pesquisa, desde 
muito antes de pensá-lo como Tese. 
À Universidade Estadual do Maranhão, pelo apoio institucional do 
afastamento para os estudos e pesquisa e pelo apoio financeiro que me ajudou a 
viabilizá-lo. 
Ao Departamento de História da UEMA de Caxias, nas minhas amigas 
Dudu, Dalva e Arydimar e aos amigos da Geografia, Maria Teresa, Jorge e Assis. 
À Jordânia pela dedicação de amor e carinho. 
Ao Alcebíades, velho amigo, por todas as vezes que dedica parte de seu 
tempo para dividirmos o que possuímos. 
À Universidade Estadual do Piauí pela liberação para realização deste 
trabalho. 
Aos meus alunos da UEMA e da UESPI. 
À Francisco James, bolsista PIBIC, pela grande contribuição na coleta dos 
dados, sem os quais a pesquisa não existiria. 
7 
 
Aos senhores e senhoras colaboradoras, que gentilmente cederam suas 
histórias sobre o que vivenciaram em Teresina ou no restante do Piauí. Primeiramente 
foram os depoimentos utilizados na Dissertação de Mestrado em 2002, à Professora 
Enid Matos (in memoriam), Elza Paiva, Hilma Mendes dos Reis, Anita Barros, 
Francisca Almeida e Expedita Santos e para a elaboração da Tese, algumas entrevistas 
em 2008 e outras em 2009, ao senhor Expedito Rodrigues de Carvalho, dona Constância 
Nogueira Bastos e dona Maria do Socorro Almendra de Carvalho. 
Aos funcionários da Biblioteca Estadual Des. Cromwell de Carvalho, por 
todos os anos de uma convivência sadia e harmoniosa e, com certeza, pela torcida 
constante para que eu concluísse este Trabalho. 
À Samara e Cristiana pela imensa colaboração de dividir despesas e 
saudades nos lugares em que moramos em Fortaleza e depois a Marta Rocheli, Fauston, 
Felipe e todos com quem compartilhei a cidade cearense. 
Em especial à Simone Leão e ao Genivaldo Macário, amigos queridos de 
longa data, por todas as vezes que, em Fortaleza, me senti em casa. 
À professora Maria Cecília Nunes pela sabedoria. 
Á Cláudia Fontenele, Marcelo e Rosânia pela amizade de sempre. 
Ao Sérgio Brandim e Ana Cristina amigos e companheiros de trabalho. 
À Maura Rejane que sempre me socorre com o “seu” inglês infalível. 
À Maria da Penha Feitosa pela delicadeza da leitura e revisão do meu 
trabalho. 
Às minhas amigas de sempre, Hortência, Assunção, Dude, Chiquinha, Joara, 
Socorrinha e Tâmara pelo amor que nunca desbotou. 
Aos velhos amigos Rodolfo Pena, Evaldo e Antonio José Fontenele portodos os anos de alegrias divididas. 
Aos meus irmãos, que foram capazes de compreender a necessidade de 
tantos afastamentos e, mesmo assim, se orgulharem de mim, ao Salan (Viviane e Ana 
Marina), Vânia (José Maria, Diego e Débora), Arnon (Aurileide, Hudson, João Gabriel, 
Agenorzinho), Beatriz (Pândia, Samir, Pablo), Sandra (Paulo e Pedro), Chico Melo 
(Poliana e Miguel), Elizângela (Douglas, Lucas e João Vitor) e Olívia. 
A todos muito obrigada. 
 
 
 
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LISTA DE FOTOS 
 
Foto nº1 - Antigo Liceu Piauiense................................................................................p.32 
Foto nº2 – Hospital “Getúlio Vargas”..........................................................................p.38 
Foto nº3 – Antigo prédio da Biblioteca, Arquivo e Museu Histórico do Piauí........... p.38 
Foto nº4 – Escola Normal Oficial................................................................................ p.44 
Foto nº5 – Cartaz de Propaganda .................................................................................p.57 
Foto nº 6 – Cartaz de Propaganda............................................................................... p.57 
Foto nº 7 – Apresentação de ginástica dos alunos do Liceu Piauiense ..................... p.84 
Foto nº 8 – Inauguração da Ponte Metálica .................................................................p.96 
Foto nº 9 – Inauguração da Ponte Metálica ............................................................... p.96 
Foto nº 10 - Escola Reunidas Barão de Gurguéia .................................................... p.105 
Foto nº 11 – Modelo de grupo escolar construído no período................................... p.107 
Foto nº 12 – Inauguração Grupo Escolar de Regeneração ..................................... p.108 
Foto nº 13 – Inauguração de Escola em Valença ......................................................p.109 
Foto nº 14 – Grupo Escolar Agrônomo Parentes – Floriano –PI ..............................p.111 
Foto nº 15 – Festa de Inauguração do Grupo Escolar Agrônomo Parentes. ........... p. 111 
Foto nº 16 – Recepção do Interventor Leônidas de Castro Melo.............................. p.114 
Foto nº 17 - Recepção do Interventor Leônidas de Castro Melo...............................p.115 
Foto nº 18 – Festa em homenagem ao ex-interventor Landri Sales.......................... p.119 
Foto nº 19 – Festa em homenagem ao ex-interventor Landri Sales........................ ..p.120 
Foto nº 20 - Homenagem ao ex-interventor Landri Sales......................................... p.121 
Foto nº 21 – Festa cívica em comemoração ao Golpe de 1937..................................p.123 
Foto nº 22 – Comemoração do Aniversário de Getúlio Vargas............................... .p.129 
Foto nº 23 – Festa da Árvore .................................................................................. ..p.145 
Foto nº 24 – Festa da Juventude ................................................................................p.153 
Foto nº 25 – Festa da Juventude ................................................................................p.154 
Foto nº 26 – Desfile do Pan-americanismo................................................................p.155 
Foto nº 27 – Desfile do Pan-americanismo .............................................................. p.156 
Foto nº 28 – Desfile do Pan-americanismo ............................................................ . p.156 
Foto nº 29– Desfile do Pan-americanismo................................................................ p.157 
Foto nº 30 – Desfile de 7 de Setembro .................................................................... p.164 
 
 
9 
 
RESUMO 
 
 
 
A pesquisa diz respeito à construção da memória cívica piauiense e à invenção das 
tradições, inserindo-a no campo da História da Educação e tem como foco principal as 
comemorações cívicas, que são as festas que acontecem com a participação da escola, 
desde as festas de 7 de setembro, festa da árvore, desfile da juventude e do pan-
americanismo, as festas de inaugurações, festas de colação de grau, somando as 
homenagens às autoridades, aniversários de governantes, aniversários do Estado Novo 
constituindo-se o calendário cívico, cumprido e organizado pela escola. Esta 
investigação tem como intuito analisar esta memória, destacando principalmente, os 
aspectos relevantes para compreendê-la, tais sejam: o tempo escolar, o disciplinamento, 
as disciplinas escolares e as festas cívicas, elementos que constituem a memória cívica, 
evidenciando, a cidade e a rua como palco dos eventos onde ocorriam as festas cívicas. 
Este caminhar faz-se metodologicamente pela História Oral pelas lembranças de 
pessoas com setenta ou mais anos que vivenciaram estes momentos e têm alguma 
relação com a escola e com a cidade e, ainda, no manejo das fontes escritas como os 
periódicos locais O Piauhy, O Momento, Diário Oficial, o Almanaque da Parnaíba e as 
Mensagens Governamentais. Mergulho nas práticas cotidianas e nas lembranças para 
problematizá-las e, por fim, compreender como ocorreu a invenção das tradições cívicas 
e suas relações com o ensino primário durante a Era Vargas (1930-1945), cientes de que 
nossa investigação constatou que este ensino deu-se no sentido do que era considerado 
moderno neste período, formando sujeitos que construíram as instituições pesquisadas, 
tornando-os civilizados, nacionalistas e amantes da Pátria. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
10 
 
 
ABSTRACT 
 
 
 
The research concerns the construction of civic memory of Piauí and the invention of 
traditions, putting it into the area of History of Education and it has as its main focus the 
civic celebrations, which are the festivals that take place with the participation of 
school, since the parties on September 7th, the feast of the tree, the parade of youth and 
Americanism, the opening parties, graduation parties, and besides the tributes to the 
authorities, leaders’ birthdays, anniversaries of the New State constituting the civic 
calendar, carried out and organized by school. This research has the intention to analyze 
this memory, especially highlighting the aspects relevant to understand it, such as: 
school time, the discipline, the school subjects and civic events, elements that constitute 
the civic memory, highlighting the city and the street scene as the events which 
occurred the civic events. This route is done methodically through Oral History by 
memories of seventy-year-old people and over who have experienced these moments 
and have some relationship with the school and the city, and also in the management of 
written sources as local newspapers O Piauhy, O Momento, Diário Oficial, Almanaque 
da Parnaíba and the Mensagens Governamentais. The research in the daily practices 
and the memories to problematize them, and finally understand how the invention of 
civic traditions and their relation to primary education during the Vargas Era (1930-
1945), aware that our research found out that this teaching took place in the sense of 
what was considered modern at this period, educating subjects who built the institutions 
surveyed, making them civilized, nationalist and lovers of the Fatherland. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
11 
 
SUMÁRIO 
 
DEDICATÓRIA..............................................................................................................05 
 
AGRADECIMENTOS....................................................................................................06LISTA DE FOTOGRAFIAS...........................................................................................08 
 
RESUMO.........................................................................................................................09 
 
ABSTRACT....................................................................................................................10 
 
APRESENTAÇÃO..........................................................................................................13 
 
Capítulo 1 – UM CENÁRIO PIAUIENSE......................................................................25 
 
1.1. A MONTAGEM POLÍTICA DO CENÁRIO..........................................................25 
 
1.2. AS ARTESANIAS DO TEMPO..............................................................................58 
 
1.3. AS LIÇÕES DAS DISCIPLINAS ESCOLARES COMO FORTALECIMENTO 
DA MENTE PATRIÓTICA............................................................................................69 
 
1.4. ARTESANIA DOS CORPOS..................................................................................83 
 
Capítulo 2 – O DESCORTINAR DAS FESTAS PIAUIENSES OU A MONTAGEM 
DO CALENDÁRIO CÍVICO..........................................................................................93 
 
2.1. INAUGURAÇÃO DOS RETRATOS OU (A FESTA DOS RETRATOS) A 
SIMBOLOGIA DAS IMAGENS....................................................................................94 
 
2.2. FESTAS DE INAUGURAÇÃO DOS PRÉDIOS ESCOLARES..........................102 
 
2.3. FESTAS PARA HOMENAGEAR AUTORIDADES............................................114 
12 
 
2.4. FESTAS DE ANIVERSÁRIO DE GOVERNO....................................................121 
 
2.5. NOVAS FESTAS CRIADAS NA ERA VARGAS...............................................125 
 
2.5.1. AS COMEMORAÇÕES DO ANIVERSÁRIO DA REVOLUÇÃO 
BRASILEIRA DE 1930................................................................................................126 
2.5.2. O ANIVERSÁRIO DO PRESIDENTE DA REPÚBLICA................................127 
 
Capítulo 3 – AS FESTAS CÍVICAS ESCOLARES.....................................................131 
 
3.1 AS FESTAS QUE OCORRIAM NO INTERIOR DA ESCOLA..........................140 
 
3.2 AS FESTAS CÍVICAS QUE TINHAM A PARTICIPAÇÃO DIRETA DA 
ESCOLA ......................................................................................................................143 
 
 
3.2.1. FESTA DA ÁRVORE – OU O NASCIMENTO DA CONSCIÊNCIA 
ECOLÓGICA ..............................................................................................................143 
 
 
3.2.2 - A JUVENTUDE PIAUIENSE O PAN-AMERICANISMO E A CONSTRUÇÃO 
DOS SIGNOS DE UNIDADE NACIONAL................................................................148 
 
3.2.3 – AS FESTAS DO DIA GRANDE OU O DIA DA PÁTRIA.............................159 
 
4- ALGUMAS CONSIDERAÇÕES ACERCA DAS FINALIZAÇÕES.............. ....168 
 
5 – BIBLIOGRAFIA ....................................................................................................173 
5.1 - FONTES ORAIS...................................................................................................188 
5.2 - FONTES IMPRESSAS.........................................................................................189 
6 – ANEXOS ................................................................................................................192 
 
 
 
 
13 
 
INTRODUÇÃO 
 
 
 
Este trabalho apresenta-se como resultado de estudos sobre festas cívicas, 
onde analiso as relações entre estas e a educação, intitulado A CONSTRUÇÃO DA 
MEMÓRIA CÍVICA: as festas escolares espetáculos de civilidade no Piauí de 
1930-1945, abordando a identificação e análise do que eram e quais eram as festas 
cívicas comemoradas e celebradas pelos piauienses e procura compreender, a partir de 
vestígios documentais escritos e das lembranças de quem vivenciou o período estudado, 
os sentimentos que moveram a “invenção das tradições” cívicas no Piauí, para a defesa 
do doutorado em Educação da Universidade Federal do Ceará. 
A pesquisa sobre as festas cívicas no Piauí está inserida no campo da 
História da Educação em comunhão com a História Cultural, que tem contribuído para 
ampliar as possibilidades de análise e as interpretações do simbólico, emergindo daí 
novos objetos, trazendo aos nossos olhos a capacidade de perceber outros sujeitos e 
mostrar lugares para novas buscas, lugares de cultura e de memória, sendo que a escola 
nos aparece como esse lugar de história, cultura e de memória. 
Esta investigação tem como foco principal as comemorações cívicas, ou 
seja, todas as festas que foram promovidas pelo Estado no sentido da construção da 
memória cívica, compreendendo que, de uma forma ou de outra, todas envolviam a 
cidade e sempre aconteciam com a participação direta ou indireta da escola, desde as 
festas de sete de setembro, homenagens a autoridades, aniversários da cidade, 
inaugurações de prédios escolares, inauguração de obras públicas, festas de colação de 
grau, encerramento do ano letivo e outras, que foram ao longo do período surgindo, 
constituindo, assim, um calendário cívico. 
Situando esta pesquisa no campo da História da Educação, é necessário 
reconhecer que os pesquisadores-educadores que voltaram suas buscas para este campo 
têm feito um excelente trabalho preenchendo vazios teóricos, alargando seus 
conhecimentos historiográficos, focando melhor questões da História da Educação 
Brasileira, partindo do pressuposto de que se necessita de fontes, de temas e de 
desmitificar verdades tidas como absolutas, abrindo dessa maneira possibilidades, que 
vão da construção de fontes, quando toma como metodologia a História Oral, para 
ampliar o que e como se vê a História local. 
14 
 
A pesquisa está estruturada nos seguintes eixos de problematização, quais 
sejam: 
1- a constituição de civilidade a partir das festas cívicas; 
2- a expansão dos grupos escolares como propagadores da cultura e do ideal 
de modernidade; 
3 – a expansão das práticas do cotidiano escolar “inventando tradições” e 
voltadas para a construção da memória cívica. 
O estudo da memória cívica se faz no sentido de compreender como 
acontece a invenção das tradições cívicas no Piauí, procurando me situar não em uma 
origem, mas no sentido de compreendê-la exatamente neste momento de propagação 
que coincide com a reafirmação do sentimento de nacionalidade, com a maior 
urbanidade e com a expansão dos prédios escolares, com o controle e disciplinamento 
das populações, entendendo-a como um ritual de repetição que cria mentalidade e 
tradição cívica, imbricada na educação através do ensino da história pátria, de educação 
física e canto orfeônico, modificando assim a cultura escolar. 
Neste sentido, busquei apoio teórico em Julia (2001, p. 10), que vê cultura 
escolar: 
 
 [...] como um conjunto de normas que definem conhecimentos a ensinar e 
condutas a inculcar, e um conjunto de práticas que permitem a transmissão 
desses conhecimentos e a incorporação desses comportamentos; normas e 
práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas, 
normas e práticas não podem ser analisadas sem se levar em conta o ser 
analisado o corpo profissional dos agentes que chamados a obedecer a essas 
ordens e, portanto, a utilizar dispositivos pedagógicos [...] 
 
 
Para entender cultura escolar é preciso saber como as normas funcionavam 
dentro da escola no período estudado, a partirdaí, então, compreender como os 
conteúdos ensinados nos remetem às práticas escolares e culturais. Para tanto, será 
necessário, ainda, imbricar nestas práticas a compreensão de cultura e de “invenção das 
tradições”. 
Hobsbawm (1997) entende “invenção das tradições” como um conjunto de 
práticas, normalmente reguladas por regras tácitas ou abertamente aceitas; tais práticas, 
de natureza ritual ou simbólica, visam inculcar certos valores e normas de 
comportamentos através da repetição, o que implica, automaticamente, uma 
continuidade em relação ao passado. 
15 
 
Em análise sobre a temática da cultura escolar, Souza (2005) contribui no 
sentido de “um alargamento do campo da história da educação” e expõe suas cautelas ao 
afirmar que 
 
[...] é preciso estarmos atentos para explicitarmos o lugar de onde falamos e 
articulamos o mais pontual, por exemplo, o estudo dos manuais escolares, 
dos livros de leituras, das práticas escolares, com o movimento histórico mais 
geral [...] (p. 75). 
 
 
Levando adiante o projeto criador e construtor de uma memória oficial, o 
Estado “inventa tradições” quando, por exemplo, cria um calendário cívico específico 
para celebrações escolares, que altera o cotidiano escolar e da cidade, sacralizando o 
Estado. 
Cabe aqui conceituar cultura na perspectiva de Raymond Williams (1992), 
que traz para um mesmo recipiente a produção intelectual e as práticas educativas. 
Cultura somando, ainda, significados plurais no decorrer do vivido. Essa ideia nos leva 
a compreender cultura com múltiplas significações “[...] espaço para o estudo de 
instituições, práticas e obras manifestamente significativas, mas não apenas isso, 
também para, por meio dessa ênfase, estimular o estudo das relações entre essas e outras 
instituições, práticas e obras”. (p.207-208). 
 Passa-se no Brasil à prática comemoracionista (Catroga, 2005), uma espécie 
de “liturgia cívica”, de ritual cívico, uma prática de reunir pessoas, que muitas vezes 
eram multidões, apresentando a essas populações uma grande aula de história pátria, 
verdadeiros espetáculos públicos, cujo palco são as ruas da cidade, que têm seu 
cotidiano alterado numa sagração dos mitos que a escola ajuda a construir. 
O Brasil pode ter herdado essa prática de Portugal, que buscou, por sua vez, 
mirar-se na França. É uma tradição que remonta a tempos idos, que na Europa pode ter 
começado com a Revolução Francesa que, por ser ritualística, remete às práticas das 
antigas procissões católicas ainda da Idade Média. No entanto, as procissões têm sua 
origem nas celebrações pagãs de agradecimento pelas colheitas agrícolas, portanto, 
práticas de temporalidades híbridas. 
É minha intenção neste começo de trilha perceber como se dá a relação da 
escola com estas comemorações cívicas, como aconteciam estas festas, os ensaios, a 
montagem dos cenários, o treinamento das crianças, os dias de preparação e como a 
cidade muda nestes dias, o roteiro dos desfiles e, ainda, situar a cidade como palco 
16 
 
destas manifestações, que são organizadas para a formação da memória cívica, tentando 
visualizar alguns aspectos que rompem a rotina, alteram o cotidiano da cidade e como a 
escola é vista pelos seus habitantes. 
Esta pesquisa apoiou-se na História Cultural, “campo historiográfico que se 
torna mais preciso e evidente a partir das últimas décadas do século XX” (Barros, 2004, 
p.55), e no manejo das diversas fontes como jornais da época e Mensagens 
Governamentais e depoimentos de testemunhas que vivenciaram esse momento 
histórico. Adotei um recorte temporal que foca o olhar a partir da década de 1930 até 
1945, no Piauí, destacando a importância dada aos eventos oficiais de caráter 
comemorativo que ganhavam notoriedade no cenário local, em que as comemorações 
escolares, como inaugurações, desfiles, colações de grau, passavam a ser festas da 
cidade. 
As possibilidades de novos trabalhos no campo da História nos incentivam a 
buscar temáticas antes consideradas insignificantes aos historiadores, preocupados com 
temas até então tidos como de maior valor historiográfico. Com a multiplicidade de 
objetos as fontes também foram alargadas, expandindo inclusive o seu significado, para 
além do velho dito-escrito oficial, os jornais, os depoimentos orais, as fotografias vão 
mais adiante dos antigos manuais dos métodos da pesquisa histórica. 
Buscando construir fontes para além dos jornais locais, os dados serão 
também as lembranças de quem vivenciou o período estudado, de 1930 a 1945, através 
dos seus depoimentos, utilizados pelas técnicas da História Oral, para melhor 
compreender este tempo marcado pelas memórias da escola. Ciente de que estas 
lembranças vêm carregadas de presente, por isso, marcadas de subjetividades, buscou-se 
o passado com o olhar do presente e é este presente que alimenta as reminiscências do 
vivido. 
Se os objetos pesquisáveis e as fontes foram sacudidos pela famosa quebra 
dos paradigmas e pela História Cultural, a “festa”, enquanto objeto de pesquisa, veio se 
mostrar como sendo capaz de ser pesquisada e historiografada, em todas as suas 
dimensões – popular, religiosa, cívica e escolar, enfim, digna de ser buscada e analisada, 
apoiada tanto nos ditos-escritos quanto nos ditos-falados. 
 Preciso, neste momento, de uma metáfora para que este caminhar seja 
menos áspero. Adoto esta figura como bastião, como apoio para experimentar a beleza 
que possa me adoçar as trilhas. 
17 
 
O que se propõe a partir de então é dizer dos caminhos percorridos, 
entendendo que o pesquisador é um catador de pequenas coisas que, no primeiro 
momento, apanha caquinhos de todas as cores que encontra, não tem ainda clareza se 
prefere os pedaços azuis, vermelhos, pretos, amarelos ou lilases, apanha a todos 
indistintamente, necessita de tranquilidade e maestria para selecionar o que foi catado, 
juntar por tamanho, cor e formato para adotar critérios. Carece de coragem, para 
transformar o que antes não tinha nenhum sentido e agora deve ganhar beleza. 
Lembrando Portinari, que inicia seus trabalhos com a palheta em arco-íris e, 
com habilidade e criatividade, transforma uma multiplicidade de cores em magníficas 
telas, catando os passos deste itinerário metodológico, apanho os fragmentos de 
memórias que serão juntados e darão luz a esse caminhar. 
A trajetória deste percurso tornou-se mais rica graças ao conjunto de 
múltiplas fontes que foi utilizado, constituindo um corpus documental, entendendo 
corpus como “uma coleção finita de materiais, determinada de antemão pelo analista, 
com (inevitável) arbitrariedade, e com a qual irá trabalhar” (apud Barthes, 2007, p. 174), 
formado pelos dados buscados no Arquivo Público do Estado do Piauí - Casa Anísio 
Brito, nos jornais1 O Pyauí2, Diário Official3, O Tempo, O Momento, no Almanaque da 
Parnaíba, Mensagens Governamentais, Leis e Decretos, do período de 1930 a 1945, que 
me permitem lidar com as imagens e todo e qualquer vestígio veiculado através destes 
periódicos. 
Dos relatos dos periódicos locais procurei manter e respeitar o texto, 
deixando a mesma escrita da época, entendendo que a sua forma original reflete melhor 
o que se pensava naquele momento, o que de certo não dificultará e leitura e 
compreensão deste trabalho. Conservei também a transcrição das falas dos entrevistados 
o mais próximo possível da linguagem que cada um utilizou. 
 
1 Os jornais pesquisados no Arquivo Público do Piauí constituem-se como corpus documental, em 
formato impresso, com alguns números disponibilizados para pesquisa e outros lacrados. Um jornal traz 
nos seus comentários relatos sobre os váriosacontecimentos da cidade e do mundo, neste aspecto ele é 
local e ao mesmo tempo universal. O jornal não foca somente o específico, o que nos mostra inúmeras 
possibilidades como “lócus”, de fontes para a pesquisa histórica. As notícias a serem trabalhadas e 
analisadas devem ser previamente selecionadas, e ter pertinência com o seu objeto de estudo. 
2 Periódico local do Partido Republicano Piauiense, que circulou nas primeiras décadas do século XX. 
Características semelhantes possuíam os jornais O Pyauí e O Tempo. De guarda e acesso no Arquivo 
Público do Estado do Piauí. 
3 Periódico local oficial. Noticiava diariamente atos e ações dos governantes, e vários outros 
acontecimentos sociais. De guarda e acesso no Arquivo Público do Estado do Piauí. 
 
18 
 
A esta altura da caminhada, elaborei um inventário de fontes, que serviu 
como suporte, ou um roteiro, para a produção do conhecimento histórico, em seus 
diferentes níveis, desde uma perspectiva de investigação, tendo como base as 
referências teóricas com evidências empíricas e problematizações que auxiliam a análise 
pretendida. Levando, ainda, a estabelecer diálogo com a metodologia pretendida, 
organizar e levantar os vários elementos empíricos da investigação, mapear e inventariar 
os registros empíricos coletados e planejar o desenvolvimento da pesquisa. 
Privilegiei os jornais locais como fonte, por entender que são lócus de 
divulgação não só do pensamento escrito de uma determinada época, mas também das 
imagens, portanto, torna-se necessário refletir acerca das fotografias como fontes para a 
história e lembrando com Mauad (2004, p. 22), que “as imagens não foram aqui trazidas 
para análise como prova testemunhal de verdade, como resquício de um tempo passado, 
mas como representação que foi considerada válida para ser guardada para posteridade”, 
por serem as imagens uma forma de preservação da memória. 
A imagem eterniza o tempo vivido, legando ao historiador que a utiliza 
como documento a possibilidade de ampliar o campo de visão, juntamente com outras 
fontes, sobre o objeto analisado, como sugere Vidal e Abdala (2005, p.198): 
 
[...] a foto não esgota sua utilidade ou função pela simples contemplação 
estética. Exceto em algumas fotos artísticas, o que prende nossa atenção à 
imagem não é apenas a apreciação do belo, mas a possibilidade de 
reconhecer/ conhecer o real. Vemo-nos transportados no tempo e no espaço, 
tocando o passado, eternizado pela ação mecânica da máquina fotográfica. 
Nesse sentido, poderíamos afirmar que a importância da fotografia como 
fonte para a história e a história da educação residiria nesse seu dom de 
permitir visualizar o ontem e o outro em seus contornos de verdade. 
 
 
Depois da “revolução documental” o conceito de documento foi ampliado, 
trazendo para o campo da história a fotografia enquanto fonte-imagem de um tempo, 
ampliando as possibilidades de análise do historiador, porque é fonte que se permite ver 
quando sugere múltiplas versões para o mesmo acontecido. Neste sentido, cabe o que 
Cardoso e Mauad (1997, p. 402), tecem a este respeito: 
 
De lá para cá, tanto a noção de documento quanto a de texto continuam a 
ampliar-se. Agora, todos os vestígios do passado são considerados matéria 
para o historiador. Desta forma, novos textos, tais como a pintura, o cinema, 
19 
 
a fotografia etc., foram incluídos no elenco de fontes dignas de fazer parte da 
história e passíveis de leitura por parte do historiador. 
 
 
 
A imprensa local, fiel aliada na divulgação dos eventos cívicos, serviu 
também como educadora da sociedade piauiense, moldando através do que noticiava a 
memória cívica desta terra, auxiliando no sentido de que cada uma destas 
comemorações estivesse sempre de acordo com as maiores e melhores festas que 
aconteciam nas outras capitais do país. 
Dentre a grande variedade de fontes, a História Oral4 foi utilizada como uma 
metodologia qualitativa de busca, palmilhando o tempo e o espaço com o desejo de 
encontrar respostas aos questionamentos que norteiam este trabalho. Para tanto elegi o 
relato de pessoas com setenta ou mais anos, em função da relação com a temática 
pesquisada, atentando para o fato de que o sujeito entrevistado vive o passado naquele 
presente em que chego e remexo seus armazéns de lembranças e esquecimentos 
guardados, ciente de que, naquele instante de reviravolta no tempo, o que ele narra já 
não é mais o acontecido e sim o que seu achado temporal foi capaz de coar, lembrando 
que, através da História Oral, a palavra de quem viveu uma determinada história ganha 
importância ímpar, uma espécie de recuperação ou reinvenção do passado, no dizer de 
Catroga (2009, p. 7), “o homem conta histórias como protesto contra a sua finitude”. 
A História Oral me permite catar lembranças, como fontes historiográficas. 
Permite-me também burilar as experiências de pessoas ou de grupos, me aproxima dos 
“meus sujeitos” com afetividade metodológica, tempo em que me torna mais perto de 
fatos e situações, que muitas vezes deixaram cicatrizes, consciente de que os 
testemunhos orais dizem mais do que o simples questionamento foi capaz de perguntar. 
Eles dizem de um tempo vivido, dizem da cultura, das práticas culturais, das tradições, 
dos costumes, enfim, do mundo vivido, trazendo para este contexto a possibilidade de 
analisar outras histórias que ainda não foram registradas pela historiografia acadêmica. 
As lembranças catadas dos sujeitos da pesquisa foram submetidas à análise 
qualitativa, utilizando as técnicas da História Oral com o intuito de compreender as 
experiências vivenciadas no momento histórico aqui recortado e seguindo os passos de 
Portelli (1996, p.38): 
 
 
4 As proposições metodológicas da oralidade como fonte histórica são apoiadas em autores como Paul 
Thompson (1992), Ecléa Bosi (1994), Antônio Torres Montenegro (1994), Alessandro Portelli (1996, 
1997), Verena Alberti (2004) e vários outros que fazem desta técnica um recurso essencial. 
20 
 
Nossa tarefa é distinguir as regras e os procedimentos que nos permitam em 
alguma medida compreendê-la e utilizá-la. Se formos capazes, a 
subjetividade se revelará mais do que uma interferência; será a maior riqueza, 
a maior contribuição cognitiva que chega a nós das memórias é das fontes 
orais. [...] na narração, não temos, pois, a certeza de fato, mas apenas a 
certeza do texto: o que nossas fontes dizem pode não haver sucedido 
verdadeiramente, mas está contando de modo verdadeiro. [...] o tema da 
narração é a subjetividade. 
 
 
 
Busquei, como elementos constitutivos de uma época, as memórias de 
pessoas com setenta ou mais anos que tivessem alguma relação com as festas cívicas 
piauienses. Sem esquecer que as narrativas que utilizo foram repassadas por quem vive 
o seu passado no presente atual, atentando para que o narrado não é igual ao vivido ou 
acontecido, como diz Gabriel Garcia Marquez (2007, p.5): “A vida não é a que gente 
viveu, e sim a que a gente recorda, e como recorda para contá-la”. 
A memória buscada como fonte e viés interpretativo dos acontecimentos foi 
trazida ao presente pela variedade evocativa e como elucida Le Goff (1996) “o verbo 
memore significa fazer recordar, donde avisar, iluminar, instruir. [...] evocar o passado, 
perpetuar a recordação [...]”. 
Nesta pesquisa foram analisados os depoimentos dos sujeitos entrevistados, 
a princípio somente professoras e ex-alunas, no total de seis, da Escola Normal Oficial, 
porque foram entrevistadas em 2002, quando eu desenvolvia a Dissertação do Mestrado 
intitulada - Reminiscências do processo de escolarização: a formação da professora 
normalista piauiense e o ensino primário (1930-1945),e posteriormente mais seis 
sujeitos, levando em conta a sua relação com a escola e com as festas da cidade. 
A partir destas entrevistas e adentrando melhor o objeto escolhido, para 
maior aprofundamento teórico e analítico, novos sujeitos foram entrevistados, como um 
alfaiate – senhor Expedito Rodrigues de Carvalho; uma ex-diretora de escola primária e 
ex-aluna da Escola Normal - Constância Nogueira Bastos e uma professora aposentada 
que trabalhou em várias escolas de Teresina e do interior do estado – Maria do Socorro 
Almendra de Carvalho. 
Mapeados os sujeitos da pesquisa, procurei contatar antecipadamente com 
cada um deles. Conversei informalmente, com cada um deles, procurando inteirá-los das 
intenções da entrevista e o que seria tratado na mesma. Isto se deu no sentido de 
procurar construir uma familiaridade com estes colaboradores. 
21 
 
Ganhou lugar neste percurso a entrevista, que foi previamente elaborada, ou 
semi-estruturada, lembrando que, apesar de pensada com antecipação, esta deve ser 
maleável, alterando os questionamentos de acordo com o desenrolar de cada uma delas. 
A postura do entrevistador deve ser mais que a de um escutador, deixando o 
colaborador à vontade para falar, afinal é ele a testemunha, sabendo que o que pergunto 
pode dar o norte das respostas. 
Fiz a transcrição. Tenho consciência que o trabalho está apenas começando, 
estão coletados os dados, é hora de não me perder no contentamento provocado pelas 
histórias contadas e incorrer em atropelamentos e equívocos de achar que “o relato que 
resulta da entrevista de História Oral já é a própria ‘História’, levando à ilusão de se 
chegar à ‘verdade do povo’ graças ao levantamento do testemunho oral”. (Alberti, 2006, 
p.158). 
E como bem disse Certeau (1982, p.94), “Tudo começa com o gesto de 
separar, de reunir, de transformar em ‘documentos’ certos objetos distribuídos de outra 
maneira”. Neste sentido, como os dados já foram coletados, o passo seguinte é a análise, 
tentando decifrar as falas, às vezes pequenos pedaços soltos de lembranças, às vezes as 
respostas aos questionamentos estão cheias de reticências, geralmente aí estão presentes 
os vazios da memória que insiste em permanecer, burilar estes dados leva à elaboração 
do texto, num emaranhado de anotações, fichamentos, fotografias. Enfim, é hora de 
misturar com as teorias aprendidas ao longo deste caminhar, as falas dos sujeitos 
colaboradores com o que penso. 
As entrevistas afirmam a importância das fontes orais para a História Oral 
porque elas dizem da experiência dos sujeitos, como bem lembra Alberti (2004, p. 166): 
 
É a experiência de um sujeito que trata; sua narrativa acaba colorindo o 
passado com um valor que nos é caro: aquilo que faz do homem um 
indivíduo único e singular em nossa história, um sujeito que efetivamente 
viveu e, por isso dá a vida às conjunturas e estruturas que de outro modo 
parecem distantes. 
 
 
 
O pesquisador que utiliza as técnicas da História Oral e constrói suas fontes 
sabe que utiliza uma fonte viva e da mesma forma que tem cuidado e respeito pelos 
documentos de um arquivo, guardados muitas vezes há vários séculos ou décadas, deve 
ter o cuidado e respeito necessários, afinal são pessoas, com suas histórias. Remexer o 
22 
 
passado pode suscitar tanto boas quanto más lembranças, constituindo-se naquilo que 
para Portelli (1997, p. 86) é: 
 
[...] o principal paradoxo da História Oral e das memórias é que as fontes são 
pessoas, não documentos, nenhuma pessoa; quer decida escrever sua própria 
autobiografia, quer concorde em responder a uma entrevista, aceita reduzir 
sua própria vida a um conjunto de fatos que possam estar à disposição da 
filosofia dos outros. 
 
 
A História Oral auxilia a montagem da memória histórica, delineando o que 
precisamos saber de nós mesmos com o compromisso de repassarmos às outras 
gerações o máximo que se puder de nossa história e não somente parte dela como se fez 
ao longo de sua existência com as prioridades que foram escolhidas. 
O passado buscado através da História Oral, cuja maior preocupação é a 
produção de testemunhos históricos, evitando assim os apagamentos e os silêncios da 
História, tem como norte para seu guia a memória cuja metodologia requer um projeto 
anteriormente pensado e elaborado, para construção das fontes necessárias para análise, 
com sujeitos depoentes que auxiliam com suas narrativas a montagem “não tanto como 
um tabuleiro em que todos os quadrados são iguais, mas como uma colcha de retalhos, 
em que os pedaços são diferentes, porém formam um todo depois de reunidos” no dizer 
de Portelli (1997, p. 97), conhecendo as particularidades narradas por cada um em suas 
entrevistas, particularidades ricas de experiências, mesmo que às vezes arranhadas pelo 
tempo, ainda assim juntas formam a História da Educação ou as múltiplas visões de 
uma mesma História compartilhada, por isso, muito mais diversificada. 
As entrevistas constituem momentos singulares para o historiador que 
escolhe esta metodologia porque ele vive um tempo ímpar. Diante de sua fonte viva ele 
experimenta instantes em que presencia o documento sendo construído, onde há uma 
relação visível entre o passado e o presente, quando o entrevistado monta diante do 
entrevistador seu testemunho e constrói a consciência daquelas histórias narradas. 
Atentando para o fato de que o narrador vive e revive o passado no presente, 
o rememorar já não é mais o fato acontecido, mas sim a interpretação do narrador, os 
cacos de memórias de cada um dos lembradores me ajudaram a analisar o significado 
das festas cívicas, festas escolares, do tempo escolar para a construção da memória 
cívica piauiense. 
23 
 
Meticuloso, cauteloso trabalho, o de construir História da Educação no 
Piauí, utilizando a História Oral como fonte de busca, com a consciência de que os 
caminhos que me levam a todos os “meus entrevistados” foram traçados fora do 
conhecimento de cada um deles, como bem diz Bosi (2003, p. 63), “rememorar é um ato 
criativo”, tendo a sensibilidade para lembrar sempre que sou eu quem chega lá e remexo 
o passado, ciente de que “[...] ao rememorar, não há pessoa que não se encontre consigo 
mesma”. (BORGES, 2000, p. 183). 
O percurso percorrido não diz somente das fontes construídas pelas técnicas 
da História Oral, ele também apresenta a maravilhosa descoberta do cotidiano piauiense 
que os jornais pesquisados me mostraram, lembrando que só é possível enxergar e ouvir 
o que as fontes escritas me dizem se tenho clareza do que pergunto, como a faculdade 
do ofício permite, reinvento o lugar do vivido. 
Decifrar o emaranhado que os jornais apresentaram, dentro do recorte 
escolhido, me deu licença para flexibilizar a problematização do objeto antes desejado e 
perceber o quão elásticas são as temáticas quando o historiador admite que o documento 
tem características próprias e que apontam a cada momento para a sua materialidade. 
Adentrar por este canteiro da História da Educação requer quase sempre 
mais cuidados, como quem caminha sobre pedras e no escuro, trilhando por dentro de 
uma História considerada por muitos como maior. Sinto-me, ainda, olhando pela fresta. 
O mergulho na história local contribui para um deslocamento teórico-
metodológico, possibilitando esclarecimentos da multiplicidade não apenas da História 
da Educação, mas dos vários sentidos do projeto civilizador nacional em que a 
circulação de serviços como os de educação, saúde, estradas e comércio, construindo 
uma nova cultura local, retratando o cotidiano da cultura escolar, possibilitando 
esclarecimentos desta multiplicidade historiográfica educacional piauiense. 
Este trabalho se divideem três capítulos. 
O primeiro capítulo apresenta o cenário piauiense nas décadas de 1930 e 
1940, o que estava ocorrendo no estado do Piauí, quando se vivia os abalos políticos da 
Revolução de 1930, o que acontecia por aqui quando Vargas e seus homens tomaram o 
poder, e durante o Estado Novo, quais as tramas que os interventores teceram para 
expandir a rede pública de ensino através da construção dos grupos escolares e porque 
deram prioridade para a construção de tais grupos. Este mesmo capítulo traz como 
cenário também outras temáticas que compreendo como elementos essenciais nesta 
24 
 
preparação da memória cívica piauiense, como, por exemplo, do tempo em que se 
processam os fazeres da escola, o tempo de aula, o tempo sem aula, o tempo do recreio, 
o que se prepara dentro de sala de aula, como, por exemplo, as disciplinas que eram 
trabalhadas na escola e faziam parte do rol de conteúdos programáticos que foi 
nomeado de artesanias do tempo e das mentes, trata, ainda, do disciplinamento dos 
corpos. 
O segundo capítulo apresenta as festas inaugurais promovidas pelo Estado 
procurando elucidar quais eram e como aconteciam estas festas vividas no Piauí, motivo 
não faltava para inaugurar com festas, perpassam por todo o período analisado as festas 
inaugurais. No entanto, o foco maior nesta análise será para as inaugurações dos prédios 
escolares, por dois motivos: primeiro porque a construção de um prédio deste porte tem 
a simbologia de modernidade, no sentido da expansão da educação mudando a cultura 
local e na maioria das vezes criando uma cultura escolar; segundo porque a entrega 
festiva de uma obra pública altera consideravelmente o cotidiano local neste dia. 
O terceiro capítulo apresenta as festas cívicas escolares, as que aconteciam 
no interior da escola: colação de grau, escolha da rainha da escola, aniversário da escola 
e, as que tinham a participação direta da escola, como a festa da árvore, festa da 
juventude e a festa da independência do Brasil, focando mais especificamente a 
memória destas festas, dando ênfase para o que representou este período rico em 
comemorações por quem o vivenciou, trazendo para a História as lembranças destas 
pessoas, tanto na condição de alunos ou ex-alunos, pais de alunos, professores e 
espectadores destas festas. 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
25 
 
CAPÍTULO 1 – O LUGAR DO FESTEJAR PIAUIENSE 
1.1 A montagem política do cenário 
 
Neste início de trilha, cabe apresentar o cenário onde as festas ocorriam e 
que lugar era este, o que acontecia por aqui, como era o Piauí de então; mostrar a 
construção dos prédios escolares, que articulações foram feitas para tais realizações. 
Neste mesmo cenário cabe ainda apresentar o tempo histórico em que acontecia essa 
montagem, adequando todos os espaços, que tempo era este vivido nas salas de aulas, 
como era cronometrado, como era medido o tempo dos conteúdos escolares e como 
acontecia o disciplinamento dos corpos e das mentes, apresentando-o como ambiente 
propício para os espetáculos cívicos desenrolados no Piauí no período histórico 
analisado. 
O período estudado situa-se em torno da chamada Era Vargas – 1930-19455 
– no Piauí, importando aqui não somente por ser um momento histórico considerado 
rico pela historiografia que, por si só, justificaria a escolha, mas porque carece de 
caracterizá-lo historiograficamente, compreendendo que, a partir de 1930, é o Estado 
que tem como função principal construir a nação brasileira, assumindo o papel de 
construtor de uma nacionalidade modelada nos padrões de modernidade. 
O Estado assume poderes ditatoriais para tomar decisões que achasse 
necessárias, em uma clara substituição da nação pelo Estado e continuava ensinando 
suas lições de patriotismo. Portanto, o pensamento autoritário do Estado Novo já tinha 
aqui seu embrião, ou seja, este Estado manteve na sua estrutura política componentes 
tradicionais de poder e, neste sentido, para tornar mais claro, tomo referência Skidmore 
(1975), quando afirma: 
O nacionalismo poderia ser muito útil como meio de edificar um consenso 
popular. O nacionalismo era um sentimento que podia unir os brasileiros de 
diversas classes e setores, dar-lhes um senso de comunidade. Como 
argumentava os apologistas intelectuais do nacionalismo 
desenvolvimentista, a identificação com a nação em um esforço comum 
poderia ajudar a superar as tensões de classe produzidas por uma sociedade 
em desenvolvimento. (p.142). 
 
5 A concepção de Era Vargas aqui adotada segue a compreensão de historiadores que a vêem como um 
conjunto de mudanças ocorridas a partir do movimento de 1930 que provocou alterações significativas na 
sociedade brasileira em quase todos os seus aspectos sociais, econômicos, políticos e culturais, 
destacando ainda, a montagem e ordenações ocorridas no campo da educação, por exemplo, a criação do 
Ministério da Educação e Saúde e as várias reformas educacionais promovidas neste período. 
26 
 
Para o historiador Boris Fausto (2001), no início do século XX já se percebe 
o delineamento de um pensamento autoritário de direita no país, que parece ser a 
construção da defesa de uma ordem autoritária, com apego às tradições e ao papel 
relevante do Estado na organização da sociedade, passando necessariamente por uma 
sistematização da política educacional. 
A construção da memória nacional, memória esta pautada em uma cultura 
política autoritária e nacionalista, foi reacendida na sociedade brasileira como um 
movimento que envolveu a quase todos: modernistas, intelectuais que idealizavam o 
Estado, católicos, militares, professores e operários, com o interesse de dar um caráter 
nacional, de nacionalizar tudo, criando assim justificativas para reproduzir a cultura 
nacional e que o homem brasileiro assumisse o sentimento de brasilidade e de 
pertencimento ao Brasil. 
A nacionalização da sociedade é um dos principais objetivos do governo de 
Getúlio Vargas, que deveria ser alcançado utilizando vários elementos ou argumentos 
que auxiliassem o Estado nesta consolidação, como a educação e a cultura, para o 
fortalecimento da memória nacional. 
À medida que se evidenciava o caráter autoritário no governo pós-30, mais 
clara ficava a sua intenção para a viabilização de uma política educacional também 
autoritária, servindo, assim, a educação como lugar adequado para pôr em ação tais 
práticas políticas e cujo ancoradouro era o suporte dado por vários intelectuais 
brasileiros que comungavam do pensamento de que, através deste Estado, haveria uma 
melhora do nível de vida de todos os brasileiros e um amadurecimento da Nação. 
Os intelectuais, nas mais diversas sociedades e ao longo do tempo, 
ocuparam o papel de propagadores dos valores, quer sejam morais, políticos ou 
culturais e influenciaram, através da formulação de ideias, na construção do 
nacionalismo brasileiro, na construção da brasilidade, com uma rica produção 
intelectual voltada para este fim em conformidade com os mentores do Estado 
projetado para aquele momento, 
 
[...] vários daqueles ideólogos do Estado Brasileiro (Francisco Campos, 
Azevedo Amaral e Oliveira Viana) bebiam na fonte do pensamento 
autoritário, que subordinava os interesses individuais ao coletivo, pois a 
27 
 
mediação, Estado sociedade era pensada pela via estatal e não a partir de 
organizações autônomas. (AIRES, 1999, p.85).6 
 
 
 
 
Os abalos que o mundo ocidental sofreu com a crise de 1929 fomentaram, a 
partir de então, ideias de autoritarismo como forma de proteção do Estado e com 
políticas de controle das condutas, marcando toda a década de 1930, o Brasil pós-30 dá 
inícioas primeiras medidas neste sentido. 
Com a criação do Ministério da Educação e Saúde e com a Reforma de 
Francisco Campos, de 1931, passa a existir no país a sistematização, organização e 
controle da política educacional, substituindo os sistemas estaduais que não tinham 
nenhuma articulação com o sistema central, alheios à política nacional de educação. 
Viabilizando, dessa maneira, uma intervenção cada vez maior do Estado na educação, 
ampliando as esperanças na educação, colocando-a em um lugar de destaque, pelo 
menos no imaginário coletivo. 
Ao ser concebido logo no início da Era Vargas, o Ministério da Educação e 
Saúde foi pensado para executar a ideia de educação que auxiliasse na construção de 
uma cultura política que sustentasse e legitimasse o Estado Novo. 
O discurso homogeneizante da Educação reaparece com a Revolução de 
1930, justificando a educação como um instrumento do Estado, capaz de através de um 
discurso modernizante e da ação pedagógica, inculcar valores culturais e civilizatórios, 
vencendo a rudeza, sendo “entendida como espaço de mudança de hábitos, procurando 
 
6Francisco Campos – teórico do Estado Novo. Defendia um Estado forte e corporativo, baseando seu 
pensamento na visão da falência do liberalismo, criando meios que justificasse o seu modelo de Estado. 
Defendia ainda, um Estado que desse mais espaço para os valores católicos, dando indícios assim de seus 
ataques aos escolanovistas. Redigiu a Constituição de 1937. No campo educacional, seu nome está ligado 
a duas reformas: as do ensino primário e do ensino normal, com destaque para a organização e para o 
programa das disciplinas, Hygiene Escolar e Exercícios Physicos. Foi Secretário do Interior de Minas 
Gerais, Ministro da Educação do governo provisório de Getúlio Vargas e Ministro da Justiça do Estado 
Novo. Autor de “Educação e Cultura”, publicado em 1941 pela Livraria José Olympio Editora. 
Antonio José de Azevedo Amaral – um dos ideólogos do autoritarismo e defensor do Estado Novo, crítico 
ferrenho das ideologias estrangeiras. Autor de “O Estado Autoritário e a Realidade Nacional”, onde 
destaca as virtudes do autoritarismo e do Estado Novo. Defende que “o Estado autoritário baseia-se na 
demarcação nítida entre aquilo que a coletividade social tem o direito de impor ao indivíduo, pela pressão 
da maquinaria estatal, e o que forma a esfera intangível de prerrogativas inalienáveis de cada ser 
humano”. 
Francisco José de Oliveira Viana – autor de “O idealismo da Constituição” demarcou as esferas do 
totalitarismo e do autoritarismo, defendia que: “Do que precisamos é do Presidente único. Isto é, do 
Presidente que não divida com ninguém sua autoridade; do Presidente soberano, exercendo, em suma, seu 
poder em nome da Nação, só a ela subordinado e só dela dependente”. 
28 
 
assim familiarizar a criança com os aspectos da ciência, da cultura nacional e da 
democracia”. (CHAVES, 2002, p. 142). 
Neste contexto, caberia aqui a afirmação de Bomeny (2001), quando 
caracteriza a sociedade, momento em que as mudanças que ocorriam geralmente 
tornariam-se tão alardeadas que, na maioria das vezes encobriam o sentido maior 
daquilo que realmente não era facilmente visível para muitos: 
 
Os anos de 1930 e 1940 foram um período de grandes transformações em 
toda a sociedade brasileira, consideráveis repercussões na área educacional. 
O sentido das reformas educacionais era menos o da ampliação do sistema do 
ensino do que o de seu controle e regulamentação. (p. 34). 
 
 
Como no restante do país, o Piauí também expôs suas fraturas, diante das 
agitações políticas que se vivia no Brasil, nos momentos que antecedem a tomada do 
poder em 1930, pondo à mostra as divergências que se arrastaram por toda a Primeira 
República. 
Para Nascimento (1994): 
[...] no Piauí a situação revolucionária pode ser percebida através de notícia 
veiculada pelo jornal “Estado do Piauí”, do dia 19 de dezembro de 1930, que 
a Assembléia Legislativa e suas dependências estavam literalmente cheias 
de elementos de todas as classes e autoridades estaduais, municipais e 
federais. (p. 100). 
 
Permeando todo este período no Piauí, várias comemorações ocorreram, 
como a do aniversário de um ano da Revolução Brasileira, a exemplo de um jornal, 
aquela que tinha sido a grande obra dos brasileiros: 
 
Irmanados por um pensamento nobre e altruístico, coesos, cumpriram o dever 
que lhes assistia de integrar o Brasil no regime que nos legaram os 
legionários de 89. 
O Piauí que contribuiu valorosamente na Revolução de Outubro, lembrará 
com satisfação desmedida o Dia da Vitória, cônscio de haver cumprido o seu 
dever e orgulhoso por estar colaborando na grande obra de reconstrução 
nacional. 
E assim também, o Piauí marcha na fileira dos Estados que seguindo a 
fecunda orientação do Governo Provisório procuram integrar o Brasil na 
pureza do regime republicano. (Fonte: Diário Oficial, Nº 237, 
23/outubro/1931). 
 
29 
 
Logo após a Revolução de 1930, o Piauí ficou sob o comando do interventor 
federal Landri Sales Gonçalves, que através do Decreto de número 1.301, de 14 de 
setembro de 1931, reestruturou a Diretoria Geral da Instrução Pública e, paralelamente 
implementou um novo Regulamento Geral do Ensino, caracterizando-se como uma 
tentativa de dar unidade e sistematizar o projeto de educação no Estado a integrar-se aos 
ideais do Governo Federal. 
A Diretoria Geral da Instrução Pública, que a partir de 1935 torna-se 
Departamento de Ensino, tinha como função a “administração e fiscalização de todos os 
ramos do ensino no Estado”, tendo como atribuições, dentre outras: 
 
1. A administração, direção e inspeção imediata do ensino, quer nas escolas 
públicas primárias e profissionais, na Escola Normal Oficial e no Liceu 
Piauiense, quer nos estabelecimentos de qualquer grau reconhecidos ou 
subvencionados pelo Governo, e nas particulares no que lhe for aplicável, na 
forma do Regulamento; 
2. O estudo das questões relativas à Instrução Pública e sua aplicação no 
Estado. (PIAUÍ. Decreto nº 1.301, de 14 de setembro de 1931). 
 
 
Mirando o foco no cenário piauiense do pós-30, dos momentos 
imediatamente após a tomada do poder, nas promessas de mudanças políticas e 
econômicas, sente-se que há uma aceleração do tempo histórico, como que avançando 
para dar conta e acompanhar as grandes nações com seus progressos, criando o 
imaginário de um novo tempo, tempo este permeado de festas. 
Os setores políticos que assumem o Estado no pós-30 empenham-se em 
construir uma imagem do Chefe de Estado e do próprio Estado e mais ainda do Estado 
Novo, como sendo o momento fundador da nacionalidade. Neste sentido, a construção 
de uma nacionalidade deveria afirmar a unidade nacional sob todos os aspectos e a 
educação deveria trabalhar efetivamente auxiliando nesta construção. 
Fernando de Azevedo, quando se refere às políticas educacionais que seriam 
postas em prática pelos revolucionários que tomaram o poder e assumiram o comando 
do país, assim analisa este momento: 
 
[...] Trazer, não trazia a revolução, que desfraldou o estandarte liberal, um 
programa de política escolar nitidamente formulado ou mesmo implícito num 
plano de reorganização nacional que propusesse executar quando as armas 
vitoriosas concentrassem nas mãos de seus chefes os poderes da Nação. Nem 
prevalecia, a não ser em alguns grupos revolucionários, de tendências mais 
avançadas, a idéia de que a posse do poder formasse a condição suficiente 
para grandes transformações sociais, econômicas e pedagógicas [...]. (1996, 
p.664-665). 
30 
 
 
Com esta Revolução, Vargas pretendia reformular o sistema político vigente 
que para muitos significava a renovação das basesda sociedade brasileira, iniciando, 
assim, a construção de uma nova cultura cívica republicana com a criação de um 
calendário cívico, com ciclos de comemorações e festas, que teve um importante papel 
na construção de uma nova imagem da nação. 
As cerimônias cívicas reforçam o sentido de unidade nacional, criam uma 
aura de sacralidade à imagem da nação e do Chefe da Nação com o intuito de 
transformar o presidente do país em “pai dos pobres”. Para reafirmar tal propósito, todo 
evento ou oportunidade era motivo para homenageá-lo como, por exemplo, rara é a 
cidade brasileira que não possui uma rua, praça ou avenida designada de Getúlio 
Vargas, até mesmo seu aniversário, dia 19 de abril, passou a ser comemorado em todo o 
país, com montagem de grandioso espetáculo, conforme noticiou um periódico local: 
 
 
Transcorre, depois de amanhã, a data natalícia do benemérito brasileiro que 
para benefício do Brasil é, no momento atual, seu Supremo Magistrado. O 
Piauí deve ao Chefe da Nação, e à sua esclarecida obra administrativa os 
mais assinalados serviços e, por isso mesmo no elevado propósito de 
patentear sua gratidão celebrará a data de depois de amanhã com a realização 
de festas e solenidades cívicas. (Fonte: Jornal Diário Oficial, nº 87, 
17/abril/1940, p.1). 
 
 
 
A festa “natalícia do benemérito brasileiro” constava de vasta programação, 
iniciando geralmente pela manhã indo até a noite com o canto do hino nacional, 
demonstração de educação física, discurso de autoridades, efetiva participação de 
trabalhadores de todas as categorias organizadas e desfile das escolas de Teresina, que 
obedeciam à ordem de apresentação no referido desfile, conforme a programação 
previamente estabelecida, somando um total de dezenove escolas que formavam um 
todo coeso, numa sintonia que o Estado exigia, caracterizando assim o caráter patriótico 
do que era ensinado. 
As ideias de progresso que circulavam na sociedade brasileira estimulavam 
a criação de mais escolas no Brasil e, portanto, o Piauí se insere neste contexto, 
buscando expandir o ensino primário para a concretização do sonho da universalização 
da educação. Além das políticas públicas que institucionalizassem o ensino primário, 
obrigatoriamente gratuito e laico, o Piauí deveria montar-se ou aparelhar-se, construindo 
31 
 
e expandindo prédios escolares, capacitando e qualificando normalistas para este 
empreendimento. 
Esta dinâmica de expansão dos prédios escolares atendia a uma exigência do 
Estado do Piauí, que procurava incorporar desde 1912, ano de conclusão da primeira 
turma da Escola Normal Oficial, as normalistas em um processo de substituição dos 
professores leigos e pôr em ação as políticas de alfabetização de piauienses, como 
evidenciou Queiroz (1994): 
 
Com a saída da primeira turma da Escola Normal Oficial, em 1912, tem 
inicio a progressiva substituição dos professores primários do sexo masculino 
pelas normalistas, num movimento que vai culminar com a total destinação 
do ensino primário à ação da mulher. (1994, p.58). 
 
 
A investigação na História da Educação Piauiense contribui para 
esclarecimentos da diversidade tanto de fontes de pesquisa, quanto da multiplicidade de 
objetos analisáveis neste campo de pesquisa, assim como da análise do projeto 
civilizador nacionalista, que tinha a educação como seu sustentáculo. Permeando esse 
campo pode-se constatar que à cultura piauiense somaram-se outros valores, mesclando 
a cultura escolar com novas cores. 
Neste recorte temporal volto o foco para a Interventoria de Landri Sales, 
militar que governou o Piauí de 1931 a 1935, sem reduzir o olhar para as realizações 
deste governo, como faziam os positivistas. Compreendo, no entanto, que algumas de 
suas ações já apontam para o sentido de modernidade que busco localizar nesta 
pesquisa, não deixando de frisar que essa era uma modernidade-conservadora, como por 
exemplo, em 1932, quando iniciou-se a produção de álcool-motor pela Usina Santana e 
quando o governo empreendeu a construção de vários prédios escolares, que ao todo 
somavam 25 prédios concluídos ou por concluir, com destaque para o início da 
construção do belíssimo prédio do Liceu Piauiense, atual Colégio Estadual Zacarias de 
Góis. Tratando ainda dos grupos escolares, mereceu atenção especial o Grupo Escolar 
Domingos Jorge Velho, inaugurado em 1933, quando da visita do Presidente Vargas ao 
Piauí, ano que marca significativamente o Estado, considerado ano símbolo de 
modernidade com a chegada dos primeiros aviões em Teresina, pela expansão dos 
serviços de comunicação pelo Correio Aéreo Nacional, no mesmo ano em que, em 
32 
 
Teresina, foi exibido o cinema falado e da introdução de linotipo na Imprensa Oficial, 
inaugurando um novo tempo, na visão de muitos. 
O maior destaque nas obras públicas, do período analisado, em relação aos 
prédios escolares, foi o Liceu Piauiense7, atual Colégio Zacarias de Góis, escola que 
serviu por muito tempo, principalmente, aos mais abastados da sociedade piauiense. 
Iniciada em 1934 e concluída em 1935, no governo de Leônidas de Castro Melo, 
localizava-se em um terreno elevado de aproximadamente 8.820 metros quadrados, 
dispondo de sete salas de aulas, quatro gabinetes para laboratórios, instalações 
sanitárias, gabinete médico e dentário e um auditório com capacidade para 436 lugares e 
ainda de acordo com Sales, 
 
[...] O Liceu possui arquitetura em estilo moderno, resgata os traços 
arquitetônicos valorizados durante um período de intensas discussões sobre a 
forma que deveria assumir um prédio escolar. O prédio do Liceu é amplo, 
sem retórica decorativa e dá ênfase aos aspectos funcionais e espaciais. A sua 
arquitetura materializa a concepção de que a educação não se resume, apenas, 
à leitura e à escrita. (2000, p.137). (foto abaixo). 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Foto nº 01. Liceu Piauiense. Fonte: Teresina 150 anos. Jornal O Dia, 2002. 
 
 
7Instituído em 1845, pela lei provincial n.148, de outubro, sancionada por Zacarias de Góis e 
Vasconcelos. Caracteriza-se neste período a escola de Ensino Secundário no Piauí, ao longo de sua vida 
sofreu em alguns momentos, o fato de não ter prédio próprio, até sua inauguração em 1935, chegando a 
funcionar, “em velhos casarões do Estado, ou próprios de empréstimos, e hoje, afinal, instalada neste 
palácio, que é justo orgulho da política de construções escolares patrioticamente erguidas” (NAPOLEÃO, 
1939). Tendo sido mais tarde equiparado ao ginásio nacional padrão. 
33 
 
Os idos de 1930 e 1940, tempo de mais grupos escolares, de belos prédios 
construídos com a finalidade de pôr em ação os ideais republicanos e as lições 
aprendidas pelas normalistas na velha Escola Normal Oficial de Teresina, que formou 
as professoras encarregadas de desarnar meninos e meninas, era tempo de acreditar que 
a educação salvaria o homem da ignorância, que tiraria o homem do atraso e das trevas, 
que as cidades devem estar aptas para este novo tempo e para este novo homem, as 
cidades também devem ser belas, onde o padrão de estética e de urbanidade começa a 
exigir dos arquitetos e engenheiros traçados mais modernos, com linhas menos rijas, a 
arquitetura invade o tempo histórico adotando seus novos elementos que comporão a 
modernidade prometida. 
Falar em modernidade é pensar em uma possibilidade de igualar-se, 
partindo sempre de um referencial, como essencialmente aquele ou aquilo que faz 
referência, ou ao que se reverencia, transformando-o em maior e melhor, partindo do 
pressuposto de que uma cópia é sempre inferior, é incompleto, o que não é todo,o da 
incompletude, aquele que falta sempre algo, o não original. 
Marshal Berman diz que modernidade é “um tipo de experiência vital – 
experiência de tempo e espaço de si mesmo e dos outros, das possibilidades e perigos 
da vida – que é compartilhada por homens e mulheres em todo o mundo”. (1986, p.15). 
Caberia então a pergunta: o que seria modernidade no Piauí? 
A construção dos prédios escolares, na época dos Interventores no Piauí, 
leva a pensar numa dinâmica capaz de iniciar o processo de modernização, tanto na 
capital quanto nas várias cidades piauienses. Esta experiência de tempo e de espaço 
auxilia para uma compreensão de modernidade, entendendo que é a chegada destes 
prédios no interior do estado que instaura concepções de novos tempos e outras visões 
de mundo para estes homens. 
Ampliar os prédios escolares fazia parte de um movimento nacional, que 
foi capaz de gerar novas concepções para a educação, como sendo esta responsável 
pela formação humana, como afirma Veiga (2003, p. 403): 
 
Os desafios postos para a elite diziam respeito à expansão da escola e às 
formas dessa expansão para tornar a razão moderna parte integrante da 
formação humana, sem, contudo desestabilizar a nova ordem então 
conquistada. Entre outras coisas, as novas ações deveriam se voltar para as 
34 
 
formas de organização do ensino, para a hierarquização dos saberes na 
escola, para a difusão de conhecimentos voltados para redefinição do espaço 
e do tempo escolar, para as ênfases em determinados conteúdos, materiais e 
métodos e para a formação de professores. 
 
A expansão dos prédios escolares8 nas décadas de 30 e 40 do século XX 
pelo sertão piauiense enchia de esperanças de dias melhores homens e mulheres de cada 
lugar onde se construía uma escola. Os pais passavam a acreditar que seus filhos teriam 
um destino diferente dos seus, não seriam marcados pela estiagem, o ser-tão seco que 
forjou uma mentalidade pelas inconstâncias da natureza, que às vezes era mãe e enchia 
de alegria e cor todos os pratos e desejos, outras vezes era só penúria, melancolia, da 
terra-seca, da mata-seca, dos animais mortos de magros. Era a esperança de seus filhos 
seriam mais tarde homens letrados e poderiam pensar em futuro, tempos diferentes dos 
seus, sempre a depender das chuvas; seriam outras suas perspectivas de vida, com a 
escola encaminhando suas vidas para outros rumos; teriam outros horizontes, 
modificando o destino trágico. 
Seguindo os passos de Lopes (2006), para melhor compreender a expansão 
dos grupos escolares no Piauí que, mesmo tendo sido propostos em 1905, foram 
oficialmente criados pela reforma da educação em 1910 e que 
 
 
[...] por sua necessidade de instalações apropriadas e pelos recursos materiais 
que exigia e que o tornavam mais oneroso, foi concretizado somente em 
1922. [...] a implantação dos grupos escolares no Piauí, foi antecedida pela 
implantação das escolas reunidas, no período de 1905 a 1922. Em 1922, 
temos, como marco divisório, a criação do Grupo Escolar Miranda Osório, 
em Parnaíba, pelo que representou de diferenciação em relação às escolas 
reunidas situadas na capital, Teresina, fundadas em 1910. (p. 82) 
 
 
 
Esta dinâmica não acontece de forma homogênea nem mesmo linear, havia 
um claro interesse do governo em construir prédios escolares para atender essa demanda 
social e suprir a carência de escolas pelo interior do Estado. Por outro lado, o que filtrei 
da Mensagem Governamental de 1936, do então interventor, expõe que “o Piauí já 
carecia de uma reforma na Instrução, não só de regulamento, mas também de métodos 
 
8 A expansão dos prédios escolares, compreendendo prédios escolares como a aparelhagem da estrutura 
física, Antônio de Pádua Carvalho Lopes (2006) analisa em seu artigo intitulado “Das Escolas Reunidas 
ao Grupo Escolar: a escola como repartição pública”, desde a construção das chamadas casas-escola, as 
escolas reunidas até a concretização dos grupos escolares. 
35 
 
de ensino”, e manifesta suas preocupações com a qualidade do ensino primário 
piauiense, não assumindo essas deficiências, mas repassando-as para as normalistas: 
 
 
A normalista, inclusive, muitas vezes, aquelas mais entusiastas da profissão, 
dentro de pouco tempo de tirocínio escolar, no sertão distante, vai perdendo 
aquele fervor, a dedicação mesmo à causa a que, de inicio, emprestara tanta 
energia. Todas as qualidades exigidas para a mestra primária, lhe vão 
fugindo, pouco a pouco, reduzindo-a a uma completa indiferente ao ideal da 
profissão ardorosamente abraçada. (Fonte: Mensagem Governamental, 1936). 
 
 
 
 
Os jornais expõem as faces da sociedade, como interlocutores desta, 
indicando muitas vezes suas necessidades, como fez o redator de “O Momento”, de 
setembro de 1937, quando da inauguração de mais um grupo escolar, desta vez em Boa 
Esperança, atual Esperantina. Sobre as inaugurações dos Grupos Escolares analiso mais 
adiante (Segundo Capítulo), compreendendo tais inaugurações como festa nestas 
localidades. Evidente que os comentários do redator são elogiosos ao administrador, 
mas também deixam muito às claras as ansiedades dos piauienses em relação à situação 
educacional, tanto do material escolar como dos grupos escolares, ao afirmar que: 
 
Ao assumir as rédeas do governo o Dr. Leonidas de Castro Melo, teve as suas 
vistas voltadas para o ensino. Cercou-se de valiosos elementos conhecedores, 
nesse ramo da administração, das necessidades do Estado. Faltavam à 
organização do ensino oficial, prédios que prestassem efetivamente ao 
funcionamento das escolas. Em geral, o que se notava até há pouco em nosso 
Estado, era o mais completo desconforto nos estabelecimentos do interior, 
onde minguavam não só o material escolar, mas, também o ambiente que 
proporcionasse o desenvolvimento intelectual e moral das crianças. (Fonte: 
Jornal “O Momento”, nº 425, 09/09/1937, p.1). 
 
 
 
Durante o governo de Leônidas de Castro Melo, em 1937, acontece o golpe 
com a implantação do Estado Novo, com objetivos muito claros de utilização da 
educação para justificar a política autoritária do governo de Vargas, uma educação 
capaz de barrar, segundo eles, o perigo comunista que rondava o país. 
Por ocasião, das comemorações do quarto aniversário de governo de 
Leônidas de Castro Melo, em 1939, o senhor Osvaldo da Costa e Silva, à época 
presidente da Assembléia Legislativa, no seu discurso fez referências às realizações 
desta administração, enaltecendo com uma clara preocupação em carregar de nuances 
36 
 
de engrandecimento o Chefe do Poder Executivo piauiense, tornando-o acima dos 
demais homens, mais capaz, mais sensível, mas também com afirmações de um orador 
atento à situação política e social do Estado naquele momento, expõe o que muitos 
piauienses almejavam: mais educação e mais saúde, conforme o exposto abaixo: 
 
 
Maior e melhor não só no que respeita às realizações materiais imediatas, 
cujo acervo aí está, sob as vistas do público, como no que se relaciona com 
os benefícios futuros que ela proporcionará à terra piauiense. 
Sem descurar dos demais problemas que formam o complexo administrativo, 
como o da viação, que se nos apresenta com estradas novas, abertas em 
várias direções, para melhor intercâmbio entre municípios e Estados 
vizinhos, onde obras d’arte sólidas e custosas surpreendem o viandante, os 
problemas a que insigne chefe do Estado mais tem dedicado a sua atenção e 
os seus cuidados são o da instrução e o da saúde. Do início de seu Governo a 
esta data, criaram-se escolas por toda parte. Construíram-se e constroem-se 
prédios escolares nas sedes de todos os municípios onde não os havia; 
abriram-se postos médicos

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