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Prof. Dr. Doglas Cesar Lucas O Jusnaturalismo e o Positivismo Jurídico e suas Implicações na Formação da Educação Jurídica Nacional Quais as diferenças entre jusnaturalismo e positivismo jurídico? Em termos gerais, pode se dizer que o jusnaturalismo defende a existência de um direito que pode ser racionalmente encontrado na natureza cosmológica, divina ou humana. Este direito é imutável, anterior e superior ao direito feito pelo homem, razão pela qual as normas humanas devem ser orientadas por ele. O natural indicaria uma ideia de ordem, de normalidade, de virtude e de justiça que os homens devem respeitar ao fazer suas leis. Em palavras bem objetivas: existe uma permanente tensão entre direito natural e direito positivo. Para o positivismo o único direito válido é o direito estatal, que muda de lugar para lugar. Jusnaturalismo cosmológico: direito oriundo da própria essência do universo. Várias são as correntes de pensamento neste período. Fases do jusnaturalismo Jusnaturalismo teológico: nesta fase, de enormes influências teológicas, a fonte reveladora agora, ainda que por intermédio de uma ratio filosófica, é Deus; e o direito que não fosse conforme esse jusnaturalismo ou não seria direito ou seria nulo. Jusnaturalismo antropológico: com a queda de Constantinopla nas mãos dos Turcos, em 1453, e o início das grandes navegações (descoberta da América, em 1492), inicia-se a Era Moderna, marcada pelo Humanismo, pela Reforma, pelo renascimento da cultura greco-romana e pela Revolução Científica, movimentos que, entrelaçados reciprocamente, irão moldar o mundo, especialmente nos três séculos seguintes. Substituição do Jusnaturalismo pelo Positivismo Jurídico Cresce em importância a ideia de que o direito deve ser encontrado na legislação produzida pelo Estado, que encontra seu fundamento de legitimação no poder popular. O jusnaturalismo humanista, que defendia a existência de direitos presentes na natureza humana, é deixado de lado. O direito passa a ser entendido separado da ideia de justiça e moralidade. O direito é visto como uma tecnologia social que deve ser estudado e aplicado de modo neutro. Com o processo de racionalização moderna, a lei estatal passa a vigorar como a principal fonte do direito, eliminando-se a importância do direito natural. Para o positivismo jurídico, o único direito válido é o direito produzido pelo Estado, o direito positivo. Devemos portanto encontrar os direitos nas leis, nos códigos, e não na natureza ou na justiça. Com a modernidade e a afirmação dos Estados-nação, a lei assume um protagonismo. O modo de ser elaborada (abstrata e genérica) e aplicada (solução a priori e não a posteriori) muda também. A lei passa a ser considerada a expressão máxima da soberania popular, soberania essa que é considerada o fundamento central para a criação dos Estados modernos (Escola da Exegese). O positivismo jurídico se desenvolve no século XIX e defende uma objetividade do direito enquanto tecnologia. Desconsidera a importância da moral e da justiça para a validade do direito. Ao separar direito de moral e direito de justiça, o positivismo defende que o jurista deve estar objetivamente as normas jurídicas válidas, independentemente de serem justas ou não. Preocupado em produzir segurança jurídica que eliminasse as incertezas e arbitrariedades dos períodos absolutistas, os positivistas apostam na validade objetiva da lei como manifestação máxima do direito. O Direito é separado da justiça e da moral. O direito tem uma validade OBJETIVA. Se para o jusnaturalismo vige a máximo que o direito só é direito se for justo, para o positivismo a qualidade valorativa da norma não importa. Interesse apenas se a norma é válida. O positivismo elabora uma metodologia da pureza que separa o direito da moral e da justiça. O direito dever ser conhecido e aplicado de maneira que os valores não interfiram no resultado da compreensão e da aplicação das normas jurídicas. O direito é valido independentemente dos valores que ele carregue, eis que a validade do direito não pode estar condicionada a nenhum tipo de valor, pois estes são relativos. Nisso se separa rigorosamente do jusnaturalismo. Este positivismo que defende a neutralidade total do estudo e aplicação do direito de modo objetivo, neutro, sem levar em conta valores, foi mais atuante no século XIX e início do século XX. Protótipo da Bandeira NacionalAcervo Igreja Positivista do Brasil O lema de nossa bandeira é uma referência direta a máxima comteana: “o amor por princípio e a ordem por base; o progresso por meta”. Se para o positivismo exegeta o juiz é neutro, para Kelsen, o juiz é um político do direito e não julga de maneira neutra. Veremos que ao longo do século XX o positivismo radical do século XIX começa a perder influência e em seu lugar um positismo jurídico crítico, includente, débil, mais aberto, começa a aceitar algumas pequenas aproximações com a moral, em situações bem excepcionais. O positivismo normativista de Kelsen, por exemplo, deve ser entendido como uma metodologia pura de estudo do direito que não se aplica ao processo legislativo e nem a aplicação do direito. De qualquer modo, para o positivismo, em suas mais variadas vertentes, a justiça e a moral não são condições de validade para o direito. Formação jurídica nacional: o nascimento dos cursos de Direito no Brasil Formação eclesiástica/eletista no período colonial. É importante destacar aqui o protagonismo da pedagogia Jesuítica que dominou o cenário. Influência jusnaturalista no período imperial. Os dois primeiros cursos de direito, em Olinda e São Paulo, foram criados no ano de 1827, apenas. Sua função era formar quadros administrativos para o governo que estava se constituindo após a independência. Até então a elite brasileira ia estudar em Coimbra, especialmente. Formação positivista na Velha República. Estudo exclusivo dos códigos, de modo acrítico. Ensino jurídico nos dias atuais. O modelo positivista ainda continua dominante nas faculdades e concursos públicos, mas algumas modificações na estrutura conteudística dos cursos foram implementadas, especialmente pela inclusão de disciplinas humanistas. Uma posição mais pós-positivista no Brasil tem ocupada a agenda dos Tribunais Constitucionais. Por que debater disciplinas humanistas nos cursos de Direito?
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