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Sociologia Jurídica Aula 01

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Sociologia Jurídica e Judiciária-Aula Um
Conceito sociológico do Direito
Vamos considerar que:
-O Direito tem sua origem nos fatos sociais, que são mutáveis;
-O Direito é um fenômeno cultural – só existe nas sociedades humanas;
-A ideia de Direito relaciona-se às noções de conduta e de organização.
Sociedades Humanas x Sociedades Biológicas
Sociedades humanas
Organização sociocultural;
Raciocínio;
Criação cultural;
Evolução social.
Sociedades de animais
Natureza biológica;
Instintos
Nas sociedades humanas, há, ainda, atividades de:
Cooperação – convergência de interesses;
Concorrência – paralelismo de interesses.
Função social do Direito
Se, por um lado, o Direito está relacionado à ideia de conduta do indivíduo, por outro, também se relaciona com a organização social.
Do ponto de vista sociológico, são funções do Direito:
Prevenir conflitos
“O Direito previne conflitos através de um conveniente disciplinamento social, estabelecendo regras de conduta na sociedade [...]” (CAVALIERI FILHO, 2007, p. 15).
Compor conflitos
O Direito resolve conflitos de interesses, promovendo a justiça nos casos concretos.
Manter o controle social
O Direito assegura a conformidade de comportamento dos indivíduos a um conjunto de regras e princípios prescritos e sancionados.
Sustentar a regulação social
O Direito mantém um conjunto de pressões diretas ou indiretas exercidas sobre os membros individuais ou coletivos de um grupo ou de uma sociedade. O objetivo é corrigir seus desvios de comportamento, de expressão ou de atitude em relação a regras e normas adotadas pelo grupo social ou pela sociedade em questão.
Origem da Sociologia Jurídica
A Sociologia Jurídica nasceu como disciplina específica no início do século XX.
Os trabalhos na área partem da tese de que o Direito é um fato social ou uma função da sociedade. Os sociólogos do Direito, por sua vez, consideram que o Direito possui uma única fonte: a vontade do grupo social.
A Sociologia Jurídica deve pesquisar, portanto, o fato do Direito, cuja manifestação não depende da lei escrita, mas sim da sociedade, que produz esse fato e cria relações jurídicas.
Abordagem positivista = Sociologia DO Direito
De acordo com a abordagem positivista, a Sociologia Jurídica não pode ter uma participação ativa dentro do Direito. Se o Direito corresponde “à lei e às relações entre as leis”, tudo o que não representar a legislação fica fora da ciência jurídica.
A Sociologia Jurídica pode, sim, estudar e criticar o Direito, mas não pode ser parte integrante dessa ciência. Seu papel é de observador neutro do sistema jurídico.
Compor conflitos
De acordo com a abordagem pós-positivista, a Sociologia NO Direito adota uma perspectiva interna com relação ao sistema jurídico. Seus adeptos contestam a exclusividade de um método jurídico tradicional, afirmando que a Sociologia Jurídica deve interferir ativamente na elaboração, no estudo dogmático e, inclusive, na aplicação do Direito.
Não há uma ciência jurídica autônoma, porque, além dos métodos tradicionais, o Direito também emprega – ou deve empregar – métodos próprios das Ciências Sociais.
Essa perspectiva rompe com a ideia do estudioso Hans Kelsen de que o Direito “é uma norma e as relações entre as normas”, bem como com a ideia de imparcialidade ou neutralidade do jurista.
O Direito é produto da própria sociedade!
Somente a vida humana pode necessitar de normas que a antecipem e que a pretendam regular, buscando a prevenção da conduta antissocial por meio de sanção que a norma pressupõe.
Aspectos sociais do fenômeno jurídico: teoria tridimensional do Direito
Vamos aprofundar, agora, nosso estudo com relação à concepção do Direito como fato social – objeto de estudo da Sociologia Jurídica e Judiciária.
Essa ciência não tem o objetivo de estudar a justificação do Direito. O exame de seus fundamentos – razão, ideia de justiça, moral, vontade da classe dominante – é objeto da Filosofia do Direito.
Além disso, a Sociologia Jurídica não faz avaliações normativas, isto é, não se ocupa do problema da validade e da interpretação do Direito.
A validade é objeto de análise dos teóricos do Direito positivo – Ciência do Direito –, que elaboram os critérios da norma válida. Esses teóricos investigam, ainda, o tema da interpretação jurídica, que interessa, particularmente, aos chamados operadores do Direito – conhecidos, também, como atores jurídicos ou agentes do Direito.
 O fenômeno jurídico possui três dimensões, o que significa que pode ser estudado sob três pontos de vista: o da justiça, o da validade e o da eficácia.
Trata-se da teoria tridimensional do Direito, desenvolvida pelo jurista Miguel Reale (2003) e, depois, por muitos outros estudiosos. O esquema a seguir representa essa teoria:
Vamos analisar, aqui, os princípios da teoria tridimensional do sistema jurídico:
Justiça
A questão da justiça é objeto do estudo dos filósofos do Direito, que examinam a chamada idealidade do Direito, cujas bases são:
- A justificação do sistema jurídico atual;
- A busca dos melhores princípios de organização social;
- As relações entre Direito e moral;
- As relações entre normas positivas e ideais de justiça;
Validade
A análise das normas formalmente válidas – ou seja, o estudo interno do Direito positivo – interessa ao dogmático ou intérprete do Direito, que busca:
- Identificar as normas legais;
- Encontrar o sentido de cada elemento do ordenamento jurídico;
- Solucionar os problemas de conflito entre normas;
- Adaptar as normas aos problemas concretos.
Nesse caso, o objeto do conhecimento é a normatividade do Direito.
Eficácia
Esta terceira dimensão está relacionada à eficácia das normas jurídicas e corresponde ao campo de análise da Sociologia Jurídica. Trata-se do objeto de estudo dos sociólogos do Direito, cuja função é analisar a realidade social do Direito.
Seu referencial é o conhecimento da vida jurídica. Por isso, examina-se, aqui, a facticidade do Direito, isto é, o Direito como realidade social.
Nesse caso, a Sociologia Jurídica prepara uma teoria sociológica dos fenômenos jurídicos, sem interessar-se pelas questões técnicas da interpretação do Direito nem pelos ideais jurídicos, que são foco de atenção, respectivamente, da Filosofia e da Ciência do Direito – dogmática.
Não se esqueça de que as três dimensões do fenômeno jurídico apresentadas anteriormente estão relacionadas entre si. Por exemplo, se a sociedade avalia que uma lei é injusta, esta tende a ser revogada ou, na pior hipótese, tende a não produzir efeitos práticos, o que a tornará ineficaz.
Por isso, o intérprete do Direito não pode ignorar que a falta de legitimação de uma lei em vigor é um elemento importante do fenômeno jurídico, na medida em que é capaz de levar a sua revogação ou ineficácia.

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