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A IMPORTÂNCIA DO PATRIMÓNIO NA ESCOLHA DO DESTINO TURÍSTICO Autor: Licenciado Artur Jorge Faria Quintal Orientador: Professora Doutora Maria Manuela M. S. Sarmento Coelho DISSERTAÇÃO SUBMETIDA COMO REQUISITO PARCIAL PARA OBTENÇÃO DO GRAU DE MESTRE EM GESTÃO ESTRATÉGICA E DESENVOLVIMENTO DO TURISMO Funchal, Outubro 2008 2 DEDICATÓRIA À Caty, pelo apoio e pelo conforto, pela energia e pela Luz 3 AGRADECIMENTOS São em momentos como este - que marcam o nosso percurso de vida, enriquecem o nosso património intelectual e, por consequência, a nossa essência humana – em que temos de exaltar a nossa gratidão e profundo reconhecimento a todos quantos, directa ou indirectamente, tornaram possível a realização deste trabalho de investigação académica. Cabe, por isso, uma primeira palavra de agradecimento à Professora Doutora Manuela Sarmento pela sabedoria transmitida, pelo acreditar no tema proposto, pelo empenho, estímulo e dedicação ao seu desenvolvimento, e pelo seu carinho à Madeira. À minha mãe, por Tudo, aos amigos, pela solidariedade e conforto, aos colegas de Mestrado, pelo companheirismo e troca de ideias. Ao João Carlos Abreu, ex-secretário regional do Turismo e Cultura, e ao Gilberto Teixeira, antigo Conselheiro Técnico do Gabinete do Secretário Regional do Turismo e Cultura, pela amizade, pelo saber e experiência, pelo apoio e compreensão. Aos colegas e amigos Dorita Mendonça, Elisabete Alves e Gil Camacho (SRTT) e Sara Camacho (DRAC), pela colaboração prestada ao longo do trabalho de pesquisa exploratória. À Márcia Baptista, pelas horas dedicadas aos números, ao amigo portosantense Artur Ferreira, pela inesgotável disponibilidade, aos jornalistas e amigos de sempre Emanuel Correia, João Carlos Silva e Lourenço Freitas, pela lealdade e bons conselhos. Aos directores hoteleiros Manuel Cid (Riu Palace Madeira), Vanda Rosado (Residencial Central), João Dias (Albergaria Dias), Daniel Serrão (Hotel Monumental Lido), Guida Silva (Hotel Girassol), Isaac Gomes (Monte Mar Palace Hotel) e Énio Encarnação (Quinta do Jardim da Serra), pelo tempo e cooperação dispensados à aplicação dos inquéritos. 4 A Sua Excelência o Presidente do Governo da Região Autónoma da Madeira, Dr. Alberto João Jardim, aos directores regionais do Turismo e dos Assuntos Culturais, respectivamente, Dr. Paulo Faria e Dr. João Henrique Silva, ao director executivo da Associação de Promoção da Madeira, Dr. Oto Oliveira, ao delegado da Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo, Sr. João Welsh, e à presidente da Associação de Arqueologia e Defesa do Património da Madeira, Dra. Isabel Gouveia pela gentileza e disponibilidade com que acederam às entrevistas. E a ti, meu Amor, muito obrigado! 5 RESUMO O turismo continua a ser o principal sector de actividade e motor da economia regional. Graças ao clima ameno e às belezas naturais, a imagem do destino Madeira esteve sempre associada ao factor Natureza, recurso turístico mais autêntico e vendável. Neste trabalho de investigação propôs-se avaliar se o património regional, nos seus componentes natural, cultural e histórico, condiciona ou favorece a escolha pelo destino e de que modo contribui para a sua promoção externa. Através de uma abordagem antropológica, procurou-se aferir se a cultura popular, transmitida de geração em geração, construída ou apreendida, se apresenta como um factor de atracção para o turista e veículo de captação de novos segmentos de mercado. Além da pesquisa bibliográfica e documental, os turistas foram convidados a revelar as motivações das suas escolhas e os responsáveis do Turismo e da Cultura a explicar que políticas preconizam para estes sectores. A Madeira conserva um perfil de turista de idade adulta, de nível económico médio-alto, que viaja em voos charter e prefere hotéis de quatro e cinco estrelas. A maioria viaja atraída pelos recursos naturais e culturais da Ilha, com as férias a terem correspondido às expectativas para 81,6% dos turistas. O regresso é admitido pela quase totalidade dos visitantes, que classificaram de bom o tempo passado na Madeira. A satisfação pela qualidade da oferta turística é o ponto mais evidenciado pelos turistas. Por sua vez, as entidades regionais do sector público e privado assumem que a cultura é efectivamente uma componente indissociável na promoção do destino. Palavras-chave: Património, Turismo Cultural, Destino Turístico, Marca, Promoção. 6 ABSTRACT Tourism is the main sector of activity and a driving force of our regional economy. Thanks to its mild climate and natural beauty, the Madeira’s image as a tourist destination has always been linked to Nature. In this research project the purpose is to analyse if regional heritage in its natural, cultural and historic components, encourages the choice of this destination and how this has contributed to its promotion abroad. Through an anthropological approach, we tried to ascertain if popular culture handed down from generation to generation, raised or apprehended, presents itself as an attraction factor for tourists and as of new form of conquering new market segments. In addition to literature and documentary research, tourists were invited to expose their motivations, while those responsible for tourism and culture had to explain why they recommend and pursue these policies for this sector. Madeira Island preserves a senior tourist profile with a medium-high economic level, which travels on charter flights and prefers four to five stars hotels. The great majority of travellers are attracted by the natural and cultural resources of the island, with the holidays coming up to the visitor’s expectations on 81.6%. Almost all visitors admit they will be returning to Madeira and rate their time spent in Madeira as being good. The satisfaction with the service quality provided is clearly the most pointed out factor by tourists. In return, local public and private sectors assume that culture is indeed a determinant component, when promoting Madeira as a tourism destination. Key words: Heritage, Cultural Tourism, Tourist Destination, Brand, Promotion 7 ÍNDICE DEDICATÓRIA……………………………………………………………...…………..2 AGRADECIMENTOS.......................................................................................................3 RESUMO............................................................................................................................5 ABSTRACT.......................................................................................................................6 ÍNDICE..............................................................................................................................7 ÍNDICE DE FÍGURAS....................................................................................................11 ÍNDICE DE GRÁFICOS.................................................................................................12 ÍNDICE DE QUADROS..................................................................................................14 SIGLAS............................................................................................................................16CAPÍTULO I: INTRODUÇÃO....................................................................................17 1.1 INTRODUÇÃO………………………………...……………………………….17 1.2 TEMA E OBJECTIVOS DA INVESTIGAÇÃO…………...………………......19 1.3 HIPÓTESE E JUSTIFICAÇÃO…………………………...……...……...……. 21 1.4 METODOLOGIA DE TRABALHO…………………………...….……………23 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO…………………………...…….…...…….….26 ´ CAPÍTULO II: REVISÃO DA LITERATURA……...…………………………. …28 2.1 INTRODUÇÃO………………………………..………………….……………28 2.2 PRESSUPOSTOS DO TURISMO..…...……………………...….….……. …. 29 2.2.1 O TURISMO CULTURAL……………………………..………..………...30 2.3 LUGARES DE INTERACÇÃO CULTURAL…………..……....…….……....32 2.3.1 A GESTÃO DA MARCA NOS DESTINOS TURÍSTICOS……...........…. 34 2.3.2 A MARCA………………………...………………………………....……. 35 2.3.3 PROMOÇÃO E MARKETING TURÍSTICO……………….……....……. 37 8 2.4 O TURISMO DE PORTUGAL……………..………………………….……....40 2.5 O TURISMO NA MADEIRA………………………….……….……..……….42 2.5.1 ESTATÍSTICAS DO TURISMO NA MADEIRA…………..……...……...46 2.6 NOÇÕES DE CULTURA……………………………………...……………....50 2.6.1 IDENTIDADE E ESPECIFICIDADE CULTURAL……………….………52 2.7 O PATRIMÓNIO COMO OPÇÃO TURÍSTICA...……………...…….…...….53 2.7.1 DO LEGADO À CONSTRUÇÃO SOCIAL……………........….…..…. …55 2.7.2 TURISMO E PATRIMÓNIO ANTROPOLÓGICO…………….....…...….56 2.8 PATRIMÓNIO E CULTURA NA MADEIRA……...…………....……...……58 2.8.1 PRESERVAÇÃO VERSUS UTILIZAÇÃO………...…………. …..……. 63 2.8.2 FÉRIAS E GASTO EM ACTIVIDADES CULTURAIS… …….……..…. 65 CAPÍTULO III: MADEIRA: RETRATO SOCIETÁRIO………………..…. ……67 3.1 INTRODUÇÃO……………………………..…………………….………...….67 3.2 BREVE RESENHA HISTÓRICA…………………...………….……….....…68 3.2.1 GEOGRAFIA DO ARQUIPÉLAGO…………………………..……..……69 3.2.1.1 Clima e Natureza……………………………..……...……………….71 3.3 CRESCIMENTO DEMOGRÁFICO…………………………...………………72 3.3.1 O SABER E O FAZER…………………...………..…. …...………..…. …77 3.4 ANIMAÇÃO, CULTURA E IMAGEM…………...…….…...……………. …80 3.5 ANÁLISE SWOT DO DESTINO MADEIRA…………….…......……………84 CAPÍTULO IV: PERFIL DO TURISTA E MODELO ECONÓMICO…..………87 4.1 INTRODUÇÃO………………………………………………………………...87 4.1.1 ASPECTOS METODOLÓGICOS…………………………..……....…88 4.2 CARACTERIZAÇÃO SÓCIO-DEMOGRÁFICA DO TURISTA……………89 4.2.1 FREQUÊNCIA E TIPOLOGIA DAS VIAGENS………………..…….93 4.3 DETERMINATES DAS ESCOLHAS……………………………………..….98 4.3.1 DESCOBERTA E IMPACTO DO DESTINO……………..….…...…101 4.3.2 PARÂMETROS DA SATISFAÇÃO…………………………………109 4.3.2.1 Motivações e Segmentos de Mercado……………...………………….114 9 CAPÍTULO V: VISÃO E ESTRATÉGIAS GLOBAIS...........................................120 5.1 INTRODUÇÃO……………………………………………………………….120 5.2 ENTREVISTAS………………………………………………………...…….121 5.3 ANÁLISE FUNCIONAL ÀS ENTREVISTAS…………………………...….135 5.4 CONCLUSÕES DAS ENTREVISTAS………………………………………141 CAPÍTULO VI: CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES………...…………..…143 6.1 INTRODUÇÃO………………………………………………………...……..143 6.2 CONCLUSÕES GERAIS…….………………………………….……………144 6.3 REFLEXÕES FINAIS…………………………………………………...……146 6.4 MODELO FINAL………………………………………………………….…147 6.5 RECOMENDAÇÕES……………………………………………………..…..148 6.6 LIMITAÇÕES DO TRABALHO.....................................................................149 6.7 INVESTIGAÇÕES FUTURAS………………………………………………150 BIBLIOGRAFIA…………………………………………………………...…………151 APÊNDICES………………………………………………………………………….160 APÊNDICE A - INQUÉRITO……………………………………………...………160 APÊNDICE B – GUIÃO DE ENTREVISTA………………………………..……..167 APÊNDICE C – PLANO OPERACIONAL DE VARIÁVEIS…………………….169 APÊNDICE D – MANANCIAL DE QUADROS………………………………….183 APÊNDICE E – LISTA DE ENTIDADES, ESPAÇOS, MONUMENTOS E EVENTOS CULTURAIS………………………………………..…………193 ANEXOS……………………………………………………………………………...202 ANEXO F – EMPREENDIMENTOS TURÍSTICOS E DE TURISMO NO ESPAÇO RURAL, POR CATEGORIA………………………………….202 ANEXO G – EMPRESAS DE ANIMAÇÃO TURÍSTICA LICENCIADAS NA RAM…………………………………………..………..203 ANEXO H – AGÊNCIAS DE VIAGEM EXISTENTES NA RAM………….……207 ANEXO I – RENT-A-CARS EXISTENTES NA RAM……………………..……..209 ANEXO J – ESTABELECIMENTOS HOTELEIROS COM REGIME DE DIREITOS REAIS DE HABITAÇÃO (TIME SHARING-TS)…….……211 ANEXO L - IMÓVEIS CLASSIFICADOS DA RAM, 10 POR CATEGORIA E CONCELHO……………………………………….…212 ANEXO M – ORÇAMENTO DO TURISMO E CULTURA-PIDDAR2008 E DA ASSOCIAÇÃO DE PROMOÇÃO…………………………………….216 11 ÍNDICE DE FIGURAS Figura 3.1: Mapa do Arquipélago da Madeira……………………………………………69 Figura 3.2: Divisão Administrativa da RAM……………………………….…………….70 Figura 3.3: Modelos de Pirâmides Etárias……………………………………...…………75 12 ÍNDICE DE GRÁFICOS Gráfico 3.1: Evolução da População Residente na RAM…………………………...…….72 Gráfico 3.2: Evolução da População Residente na RAM, por Concelhos………………..73 Gráfico 3.3: Pirâmide Etária da População Residente na RAM…………………………..76 Gráfico 4.1: Total de respostas, segundo o sexo dos inquiridos………………………….90 Gráfico 4.2: Total de indivíduos, segundo a situação face ao trabalho…………………...91 Gráfico 4.3: Total de indivíduos, segundo os grandes grupos etários ……………………91 Gráfico 4.4: Total de indivíduos, segundo a frequência que viaja para fora do seu país………………………………………………93 Gráfico 4.5: Total de indivíduos, segundo o motivo das viagens…………………..…….94 Gráfico 4.6: Total de indivíduos, segundo o período de gozo de férias…………………..94 Gráfico 4.7: Total de indivíduos, segundo viaja sozinho ou acompanhado…………...….95 Gráfico 4.8: Total de indivíduos, segundo o acompanhante em férias……………………95 Gráfico 4.9: Total de indivíduos, segundo já ter visitado a RAM…………………….…..96 Gráfico 4.10: Total de indivíduos, segundo o tipo de voo utilizado…………….………..97 Gráfico 4.11: Total de indivíduos, segundo o conhecimento que tinham da Madeira…....99 Gráfico 4.12: Total de indivíduos, segundo o conhecimento das grandes áreas turísticas da RAM………………………………………..99 Gráfico 4.13: Total de indivíduos, segundo o conhecimento de locais turísticos………..101 Gráfico 4.14: Total de indivíduos, segundo os elementos característicos 13 associados ao destino Madeira………………………………………….….103 Gráfico 4.15: Total de indivíduos, segundo os factores associados à Madeira antes de conhecer o destino………………………………………………...104 Gráfico 4.16: Total de indivíduos, segundo actividades de lazer realizadas…….……….105 Gráfico 4.17: Total de indivíduos, segundo actividades desportivas realizadas…………106 Gráfico 4.18: Total de indivíduos, segundo eventos culturais ou de animação a que assistiram……………………………………………107 Gráfico 4.19: Total de indivíduos segundo os factores associados à Madeira depois de conhecer o destino……………………………………..……...…108 Gráfico 4.20: Total de indivíduos, segundo o nível de satisfação sobre o destino e por diferentes categorias……………………………………………...………….110 Gráfico 4.21: Total de indivíduos, segundo o nível de satisfação………………...……..112 Gráfico 4.22: Total de indivíduos, segundo o grau de satisfação global…………...……112 Gráfico 4.23: Total de indivíduos, segundo as expectativas/objectivos de férias…...…..113 Gráfico 4.24: Total de indivíduos, segundo a melhor altura do ano para férias…………113 Gráfico 4.25: Total de indivíduos, segundo a intenção de voltar à Madeira….…...…….114 14 ÍNDICE DE QUADROS Quadro 2.1: Presidentes da Delegação de Turismo da Madeira ………………………….45 Quadro 2.2: Mapa dos Empreendimentos Turísticos na RAM,em 2007……………...….47 Quadro 2.3: Mapa das Entidades Turísticas Existentes na RAM…………………………48 Quadro 2.4: Imóveis Classificados por Concelho e Categoria…………………………... 59 Quadro 2.5: Monumentos e Espaços Culturais Existentes na RAM………………..…… 60 Quadro 2.6: Associações Culturais Existentes na RAM……………………………...…..61 Quadro 2.7: Centros Culturais Existentes na RAM……………………………...………..62 Quadro 3.1: População Residente na RAM, Sem Nenhum Nível de Ensino, a Frequentar o Ensino e Segundo a Taxa de Analfabetismo, Por Sexo, 2001………………………………………………..……………..78 Quadro 3.2: População Residente na RAM, Segundo o Nível de Escolaridade, Por Sexo, 2001………………………………………………………………78 Quadro 3.3: População Residente na RAM, Segundo a Actividade Económica e o Emprego, Por Sexo, 2001……………….………………………………79 Quadro 3.4: Famílias e Núcleos Familiares Residentes e Alojamentos Familiares Existentes na RAM, 2001…………………………...……………………………….……80 Quadro 3.5: Calendário de Eventos Culturais, Festas Religiosas e Festas Populares na RAM………………………………………………....81 Quadro 3.6: Calendário de Feiras e Eventos de Turismo com Participação da RAM……83 Quadro 3.7: Análise SWOT do Destino Madeira…………………………………...…….85 Quadro 4.1: Distribuição das respostas ao questionário, segundo local de aplicação…….88 Quadro 4.2: Distribuição das respostas ao questionário, segundo concelho de aplicação.......................................................................89 Quadro 4.3: Total de indivíduos, segundo o país de origem……...………………………90 15 Quadro 4.4: Total de indivíduos, segundo o nível de escolaridade……………………….92 Quadro 4.5: Total de indivíduos, segundo o rendimento mensal…………………………92 Quadro 4.6: Total de indivíduos, segundo as principais razões de escolha pelo destino Madeira………………………………………………………..96 Quadro 4.7: Total de indivíduos, segundo outros motivos de escolha do destino……..…97 Quadro 4.8: Total de indivíduos, segundo a tipologia do alojamento escolhido…...…….98 Quadro 4.9: Total de indivíduos, segundo o conhecimento de outras áreas turísticas...….100 Quadro 4.10: Total de indivíduos, segundo o conhecimento de outros locais turísticos…102 Quadro 4.11: Regressão Logística, segundo a variável dependente “tenciona voltar Madeira”……….……………………………………..….115 Quadro 4.12: Teste de Hosmer e Lemeshow…………………………………………….116 Quadro 4.13: Sumário do modelo…………………….…………………...…………….116 Quadro 4.14: Variáveis incluídas no modelo…………...……………………………….116 Quadro 4.15: Variáveis retiradas do modelo…………………………………………….117 Quadro 4.16: Agglomeration Schedule………………………………………………….118 Quadro 4.17: Descrição dos clusters…………………………………………………….119 16 SIGLAS AP-M – Associação de Promoção da Madeira APAVT – Associação Portuguesa de Agências de Viagens e Turismo ARCHAIS – Associação de Arqueologia e Defesa do Património da Madeira DRAC – Direcção Regional dos Assuntos Culturais DRT – Direcção Regional do Turismo INE – Instituto Nacional de Estatística IPDT – Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo PENT – Plano Estratégico Nacional do Turismo PIB – Produto Interno Bruto PIDDAR – Plano de Investimentos e Despesas de Desenvolvimento da Região Autónoma da Madeira POT – Plano de Ordenamento Turístico OMT – Organização Mundial do Turismo RAM – Região Autónoma da Madeira SRTT – Secretaria Regional do Turismo e Cultura SWOT - Strengths, Weaknesses, Opportunities, and Threats UMa – Universidade da Madeira UNESCO – United Nations Educational Scientific and Cultural Organization 17 CAPÍTULO I INTRODUÇÃO 1.1 INTRODUÇÃO Com o fim do modelo fordista1, criaram-se novos cenários onde se expressa a tensão em que vive actualmente o turismo; reconversão das áreas industriais em declínio para fins turísticos; estratégias de reconversão dos destinos turísticos consolidados; novos espaços turísticos de hiper-realidade; e crescente procura de estratégias turísticas de sustentabilidade (Campêlo, 2007). A partir deste enquadramento, em que se desenham novos modelos da teoria e prática turística, emerge a necessidade de se proceder a uma reflexão pertinente e aprofundada, já que o turismo actual se redefine em moldes que ultrapassam as estratégias tradicionais. De acordo com as teorizações de Donaire (1998), Harvey (1989), Urry (1995), a redescoberta do património introduz no turismo novos espaços e realidades, como zonas industriais reconvertidas, seja pelo aproveitamento dos “vazios” entretanto causados pelo fim do seu uso ou, num sentido por vezes definido como “pós-moderno”, fazer desses espaços industriais espaços de memória, introduzindo o espaço de produção na lógica turística. Embora se reconheça que questionar o turismo a partir da Antropologia possa parecer um pouco abusivo, a verdade é que é preciso aceitar-se que a Antropologia tem uma palavra 1 O turismo fordista tinha por base uma especialização sectorial, a partir de poucos recursos naturais (praia ou montanha), numa oferta caracterizada pela homogeneização. O destinatário é visto como uma massa uniforme, esquecendo-se da singularidade da procura e das novas exigências. Outra característica é a contradição que se verifica entre uma oferta rígida e homogénea e uma procura em mudança e diferenciada. Este modelo turístico teve uma rápida consolidação por se basear no avanço tecnológico dos transportes e das comunicações e teve como objectivo estrutural a maximização do número de visitantes. 18 pertinente a dizer no redimensionamento das estratégias relativas ao turismo, se se trata de assuntos como os da cultura, do património e do desenvolvimento sustentado. Os conceitos de património, autenticidade e identidade, emergentes nos modelos recentes da indústria turística devem sujeitar-se a uma abordagem antropológica crítica. O conceito de património inclui não apenas o conteúdo a que se refere mas também as relações sociais e culturais que lhes são inerentes. Campêlo lembra que só deve ser considerado património aquilo que possa ser compreendido e sentido, como algo de pertença, pelo grupo humano que o herda. Ressalva que a herança patrimonial tem uma utilidade que vai para além do mero acto de guardar ou conservar. Ela é algo que enriquece as comunidades, porque lhes dá sentido, identifica-as com a sua memória, fazendo com que se transforme num capital, a que podem recorrer sempre que é preciso investir na consciência de si mesmas e na transformação do mundo onde age. «O consumo do património insere-se no conceito de mercantilização da cultura: vende-se e compra-se para usufruto imediato» afirma Hewison (1987) considerando que se passou de um olhar reducionista e elitista do património2 para uma visão de produto de mercado. Não obstante as correntes filosóficas que se debruçaram sobre o turismo contemporâneo e do chamado pos-modernismo, com a assumpção de novos paradigmas e modelos turísticos, a Cimeira do Rio (1992) marcou uma nova etapa na abordagem do sector ao definir os princípios do um desenvolvimento sustentável como estratégia de acção futura. Por desenvolvimento sustentável entende-se assim a capacidade de responder às necessidades do presente sem comprometer as necessidades das gerações futuras; um processo de mudança que tem em conta a exploração dos recursos, a orientação dos benefícios, a aplicação das técnicas, a evolução das instituições e empresas, com o fim de reforçar o potencial socioeconómico, apto para responder às necessidades e aspirações da humanidade; os sistemaspolíticos e económicos, assim como as realidades ecológicas variam de lugar para lugar e por isso não existe nenhum modelo ideal de desenvolvimento sustentável. Admitindo que o turismo sustentável é um turismo aberto e flexível, tendo em conta a realidade económica, social e cultural de um determinado lugar, Donaire (1998) propõe sete princípios básicos que identificam este modelo de desenvolvimento turístico: 2 Umas vezes era visto como expressão do exótico, lugar do “outro”, outras vezes como expressões do raro e do belo, próprio do mundo ocidental, ou ainda como espaços do popular, visitado pela nostalgia de uma identidade perdida. 19 1. Turismo planificado. A planificação terá em conta um estudo detalhado das condições do presente e das perspectivas do futuro, a partir de determinadas variáveis: económicas; ambientais; sociais e culturais. 2. Turismo integrado. A oferta turística deve ser o resultado natural dos recursos locais: as formas arquitectónicas, os acontecimentos festivos, a gastronomia, a relação com o território. Não pode haver turismo alheio à identidade (mesmo tendo em conta o quanto difícil é definir este termo) do lugar onde ele se pratica. 3. Turismo aberto. O turismo sustentável está aberto ao seu território. A dimensão local do turismo assenta nas especificidades locais, na abertura às localidades vizinhas, propondo assim uma oferta baseada na diversidade. 4. Turismo dimensionado. Não pode haver um turismo sustentável sem estar dimensionado ao tempo em que se realiza e ao espaço onde se pratica. O fim do conceito de “estação” turística é importante para reduzir os impactos sobre o território, a despersonalização da experiência turística. A viabilidade de um projecto turístico depende de um dimensionamento onde a capacidade do território e a qualidade da experiência sejam acauteladas. 5. Turismo participativo. Deverão ser incluídos novos sistemas de gestão, através da participação de todos os agentes que intervêm no processo turístico. É importante referir que esses agentes não são meramente os profissionais do turismo, mas também as comunidades locais, as associações comunitárias e outros agentes económicos e políticos. 6. Turismo duradouro. O turismo sustentável não se baseia num crescimento a curto prazo, tendo em conta a procura. Ele deverá ter em conta o modelo que propõe e definir a partir dele as estratégias a longo prazo. Assim, o turismo sustentável deverá integrar o crescimento económico com a preservação do meio ambiente e da identidade local, os quais são os principais activos do desenvolvimento turístico. 1.2 TEMA E OBJECTIVOS DA INVESTIGAÇÃO O tema que intitula a presente dissertação de mestrado – “A importância do património na escolha do destino turístico” – surge da ousadia confessa de se analisar, com igual rigor 20 científico, um sector que até aqui tem sido matéria privilegiada de estudo para economistas, gestores e analistas de marketing, com base naquilo que se considera alicerçar, estar na base, da essência humana e da vida dos indivíduos em grupo: a Cultura. Tratando-se de uma ilha com fortes tradições na história do turismo, uma das primeiras cidades europeias no Atlântico e, por consequência, hoje um produto e destino perfeitamente amadurecidos, procura-se avaliar numa perspectiva antropológica se os diferentes géneros do património regional, tangível e intangível, condicionam ou motivam a escolha por um determinado destino turístico e, naturalmente, a que níveis contribuem para a sua promoção e divulgação externa. Especificamente, procura-se aferir se os elementos físicos, mas também simbólicos e imaginários de um destino como a Madeira, insular, Atlântico e europeu, dotado de microclimas e paisagens únicas, constituem de per si vantagens comparativas capazes de se tornarem vantagens competitivas num mercado tão concorrencial, globalizado e vulnerável como é o de hoje. Por outro lado, tentar compreender se a sua génese cultural, assente nos costumes, nos usos, nas tradições, nas lendas e na memória colectiva de um povo que é ilhéu, se afigura como condição real de atractividade do turista que alimenta expectativas e que aqui procura sonhos, experiências e novas sensações. Na verdade, queremos saber se a identidade própria dos lugares, isto é, a língua, os dialectos, as crenças religiosas, os aspectos arquitectónicos, morfológicos, geológicos e climáticos, as manifestações culturais nas suas mais variadas expressões artísticas, o sentimento de pertença das populações, as redes sociais de parentesco, de vizinhança e de amizade e as relações entre povos ilhéus e insulares vizinhos, com as suas influências de inter e multiculturalidade, podem ou não constituir motivos de promoção e captação turística nos mais diferentes mercados do sector. Dito de outra forma, conferir se não são essas pequenas partículas do nosso património natural, cultural e histórico, como as casas de colmo, as piscinas naturais do Porto Moniz, os carrinhos de cesto do Monte, os vimes, o bordado e o Vinho Madeira, o bolo do caco, a espetada e o filete de espada com banana, o milho frito, a poncha, as levadas, o “brinquinho”, o folclore, o clima ameno… os nossos recursos turísticos mais importantes, verdadeiros 21 símbolos regionais, diferenciadores e distintivos de uma marca, a marca Madeira3 que levam por esse Mundo fora, a verdadeira razão da nossa existência turística e, por consequência, da nossa atractividade, ao invés de produtos construídos e copiáveis como o golfe, os SPA’s, os resort’s, entre outros. 1.3 HIPÓTESE E JUSTIFICAÇÃO Uma vez definidos tema e objectivos do presente trabalho, partimos da hipótese central de que o destino Madeira – o terceiro principal destino turístico em Portugal, seguindo-se a Lisboa e Algarve - continuará a beneficiar de uma promoção fortemente sustentada e interligada nas características do património cultural da ilha. Os recursos naturais e físicos e a hospitalidade das suas gentes são factores ainda hoje distintos e potenciadores de serem transformados em vantagens competitivas. Neste contexto, foram várias as motivações que nos conduziram à produção desta dissertação de mestrado versando a temática do Turismo e Cultura. Em primeiro lugar, pela oportunidade que o exercício de funções no Gabinete do secretário regional do Turismo e Cultura, no período compreendido entre 2004 e 2007, proporcionou na familiarização com a gestão diária de ambos os sectores, daí surgindo uma apetência quase natural para a realização de uma análise científica colocando em confronto o turismo e a cultura. Em segundo lugar, tratando-se de uma região cuja principal fonte de receita económica advém da actividade turística, com forte peso no PIB regional e fomentando o emprego e o sustento de grande parte das famílias madeirenses, urge saber se a promoção deve ou não continuar a incidir naquilo que verdadeiramente nos diferencia e distingue enquanto portugueses ilhéus e um dos povos mais antigos da Europa. 3 Segundo a Associação de Promoção da Madeira, “a nova marca Madeira assenta num posicionamento inovador de bem-estar e de descoberta de nós próprios como um todo. Este posicionamento, com uma carga emocional muito forte, leva-nos ao conceito revelador da Madeira como uma ilha holística. (…) É nesta paisagem de contrastes da Madeira, em perfeita harmonia, que encontramos o equilíbrio tão desejado entre o nosso corpo e a nossa mente. O novo posicionamento da Marca Madeira reflecte-se numa imagem rejuvenescida e inspiradora e numa assinatura que falapor si”. 22 Honestamente, tendo por base formação académica em Antropologia Cultural e Urbana, procuraremos demonstrar até que ponto uma explicação antropológica pode ser importante para a definição de estratégias futuras de marketing e promoção turística. Pois, só a História e factores de natureza antropológica podem explicar por que é que a Madeira figura no mapa turístico mundial desde há mais de dois séculos. Trata-se de uma ilha com um dos principais portos europeus, que esteve no centro das Descobertas, na rota do comércio do açúcar, procurada pelos povos do norte da Europa pelas qualidades terapêuticas do seu clima, foi a primeira região do país onde se jogou futebol, foi Região Europeia da Cultura em 2004 e cuja capital – o Funchal – assinala neste ano de 2008 os 500 anos da sua fundação. A riqueza do património edificado e classificado, a beleza das suas representações geológicas, a variedade de emblemas culturais, a estética dos núcleos históricos, a conservação e restauro das localidades, por um lado, e a introdução de novos equipamentos e mobiliário urbano, por outro, para além da variedade de sonoridades musicais e da qualidade do seu vinho de mesa, fazem desta terra uma terra com características únicas. Pegando no tema “Património em Diálogo”, assunto que esteve em destaque nas Jornadas Europeias do Património, em 2007, iniciativa anual do Conselho da Europa e da União Europeia, é nosso propósito fomentar o diálogo e o debate crítico entre os cidadãos sobre os seus valores culturais, a sua herança histórica e sobre a consciencialização para a sua conservação e preservação. Ou seja, sensibilizar os madeirenses e porto-santenses e os agentes de cultura e de turismo, em particular, para a importância do património cultural, do seu usufruto e sua consequente promoção e divulgação externa. A promoção da cultura integrada na vida socioecnómica de uma cidade ou região constitui um elemento de grande atracção para o turismo, proporcionando alternativas aprazíveis aos visitantes. Por isso, acreditamos que ao se criar um produto novo ou a se preservar um produto de turismo cultural, fomentamos um ambiente cultural e a fidelização de um turismo de qualidade. 23 1.4 METODOLOGIA DE TRABALHO O termo metodologia designa o conjunto de métodos, técnicas e procedimentos, organizados e sistemáticos, a partir dos quais se constrói o conhecimento respeitante a determinada área do saber. O processo de investigação envolve uma série de passos distintos, indo desde a elaboração do projecto até à altura em que são publicadas as suas descobertas ou disponibilizadas sob a forma escrita (Moreira, 1994). A estratégica metodológica ao longo das várias fases do trabalho assentou fundamentalmente na triangulação de técnicas: na pesquisa bibliográfica e documental e pesquisa exploratória de terreno. A pesquisa bibliográfica implicou necessariamente, e em primeiro lugar, a recolha de publicações sobre metodologias de trabalho e de obras várias nos domínios da antropologia urbana e cultural e em marketing e economia do turismo. O recurso à fonte documental compreendeu a recolha de dados estatísticos, mapas e documentos oficiais que permitiram uma caracterização precisa do quadro cultural existente, assim como das movimentações turísticas na Região. A pesquisa de terreno propriamente dita, e já numa fase mais avançada do trabalho, consubstanciou-se na realização de questionários de administração directa (ou auto- administrados) aos turistas hospedados em algumas unidades de alojamento espalhadas pela ilha, de modo a aferir as suas preferências, razões de escolha pelo destino e aspectos que mais valorizam. Os inquéritos bilingue, construídos em português e inglês, com 28 pontos de análise (Apêndice A), foram aplicados entre os dias 10 de Março e 10 de Maio de 2008, propositadamente para abranger o período de mini-férias da Páscoa e o fim-de-semana da Festa da Flor, dois momentos altos no turismo da Madeira. Antes, foi feito um pré-teste ao questionário sobre um universo de 30 indivíduos, de modo a assegurar-se um tipo de linguagem acessível e aferir-se da sua clareza, objectividade científica e ordem nas perguntas. Foram escolhidos hotéis segundo critérios de proximidade com a administração (que se pressupõe sem relação directa com os turistas, mas que nos garante maior abertura e colaboração na aceitação deste tipo de trabalhos), da sua distribuição geográfica e das 24 diferentes categorias de alojamento. Foram então seleccionadas três unidades hoteleiras no centro do Funchal (Albergaria Dias, Hotel Girassol e Hotel Monumental Lido), uma na zona Este (Hotel Riu Palace), duas para Oeste (Quinta do Jardim da Serra e Monte Mar Palace) e uma no Porto Santo (Residencial Central). A amostragem e em particular os processos de amostragem aplicam-se em variadíssimas áreas do conhecimento e constituem, muitas vezes, a única forma de obter informações sobre uma determinada realidade que importa conhecer. A teoria da amostragem é assim um dos instrumentos que possibilita esse conhecimento científico da realidade, onde outros processos ou métodos alternativos, por razões diversas, não se mostram adequados ou até mesmo possíveis. A amostragem é o processo de determinação de uma amostra a ser pesquisada, onde a amostra é uma parte de elementos seleccionada de uma população estatística. Antes de se estabelecer o plano amostral, é fundamental identificar a população-alvo e a população do estudo. No caso concreto do nosso estudo, a população-alvo é constituída por todos os turistas que visitam a Ilha da Madeira. No entanto, e por questões de ordem operacional, foi necessário identificar a população do estudo constituída pelos turistas que visitaram a Ilha da Madeira entre Março e Maio de 2008 e sobre a qual foi retirada a amostra. O objectivo geral na extracção de uma amostra é obter uma representação fidedigna da população que conduza a estimativas das características da população com uma boa precisão relativamente aos custos de amostragem, isto é, obter uma amostra representativa da população. Não obstante a amostragem por conveniência não ter “garantia estatística” de que a amostra seleccionada seja representativa, estas técnicas de amostragem não aleatória são muito utilizadas e muito úteis quando não é possível usar amostras aleatórias, no âmbito de estudos preliminares ou exploratórios, para além de que garantem maior taxa de participação e fidedignidade nas respostas e baixa redução de custos e de tempo. Apesar da sua fragilidade científica, este tipo de amostragem pode ser usada com êxito em situações nas quais captar ideias gerais e identificar aspectos críticos pode ser mais importante do que a objectividade científica, como é o caso da realização de pré-testes de um questionário. Importa salientar que o questionário administrado é na sua generalidade constituído por variáveis qualitativas ordinais e nominais, pelo que se definiu um Plano Operacional de 25 Variáveis (Apêndice C) segundo a respectiva designação na base de dados, tipo e escala. As variáveis qualitativas categóricas são codificadas na base de dados de acordo com a categoria definida. Com o objectivo de simplificar a análise estatística e a interpretação de resultados foram criadas variáveis auxiliares e, ainda, uniformizadas respostas no conjunto de variáveis onde aparece subjacente uma descrição resultante da alternativa “Outro”. Os métodos estatísticos aplicados de acordo com os objectivos do estudo consistem basicamente em procedimentos descritivos dos dados, tais como frequências absolutas e relativas, tabelase gráficos, dado que as variáveis recolhidas são na maioria qualitativas. Numa fase posterior, surge a análise multivariada com Regressão Logística para indicar os factores determinantes na escolha do destino Madeira e a análise de Clusters para identificar segmentos de mercado. De salientar também o teste de independência do Qui-Quadrado, aplicado para testar a associação entre duas variáveis. A Regressão Logística consiste em determinar quais os factores, sob a forma de variáveis independentes, que podem influenciar um resultado (variável independente) e que pode ser apenas positivo ou negativo, ou seja, apenas dois valores possíveis: sim ou não. Neste estudo a variável independente encerra-se na escolha do destino Madeira. A análise de Clusters é um procedimento multivariado para detectar grupos homogéneos nos dados, de tal modo que os indivíduos pertencentes a um grupo são o mais semelhantes entre si e diferenciados dos restantes, podendo os grupos serem constituídos por variáveis ou casos. Podem ser utilizados métodos hierárquicos, que obrigam ao cálculo de uma matriz de semelhanças/distâncias ou os não hierárquicos que se aplicam directamente sobre os dados originais e que partem de uma repartição inicial dos indivíduos por um número de grupos definidos pelo investigador. O teste de independência do Qui-Quadrado é um teste estatístico com o objectivo de avaliar a associação entre duas variáveis qualitativas. Por último, e de acordo com o cronograma definido no projecto de investigação, foram ainda realizadas entrevistas semi-estruturadas a diversas entidades com responsabilidades nos sectores público e privado nos campos da Cultura e do Turismo (Apêndice B). A escolha pela realização de entrevistas semi-estruturadas prende-se com o facto do grau de estruturação deste tipo de entrevista permitir total liberdade de movimentos ao entrevistador 26 para alterar a ordem sequencial das perguntas, bem como introduzir novos elementos susceptíveis de obter mais informação. 1.5 ESTRUTURA DO TRABALHO Após a apresentação teórico e conceptual da temática de pesquisa e da operacionalização dos conceitos intrinsecamente ligados aos fenómenos do turismo e da cultura e da análise à complexidade de promoção e atracção dos turistas para mercados cada vez mais globalizados e concorrenciais, que se apresenta nos Capítulos I e II, o presente estudo discorre por mais quatro capítulos de trabalho prático, onde se processa a leitura dos censos à população e o tratamento e análise dos dados estatísticos resultantes dos questionários aplicados aos turistas, destinados a medir as suas preferências e razões de escolha pelo destino Madeira. Assim, o Capítulo III diz respeito à análise antroposociológica sobre o crescimento demográfico da população da Madeira ao longo dos últimos anos, com particular interesse para a sua estrutura etária, níveis de escolaridade, população activa e situação perante o emprego. Por outro lado, apresenta-se aqui o mapa dos principais eventos que fazem parte do calendário de actividades culturais e de animação, assim bem como das principais feiras de turismo onde a Madeira está assiduamente presente. Por fim, comentamos a percepção que se tem da Madeira em três dos seus principais mercados emissores (Reino Unido, Alemanha e Portugal) e esquematizamos a análise SWOT do destino Madeira. Já no Capítulo IV, a um nível etnográfico e mediante a colocação de inquéritos, validou-se o perfil sociográfico dos turistas que visitaram a Madeira e Porto Santo nos meses de Março e Abril de 2008, bem como a tipologia do alojamento escolhido, a distribuição dos locais visitados e de referência, as actividades desenvolvidas e os níveis de satisfação. No Capítulo V, apresenta-se a visão oficial das autoridades governamentais e associativas regionais para as problemáticas do turismo e da cultura, suas interpretações e formas de encarar os sectores, consequentes do conjunto de entrevistas efectuadas, designadamente ao Presidente do Governo da Região Autónoma da Madeira, directores regionais dos Assuntos Culturais e do Turismo, director executivo da Associação de Promoção da Madeira, presidente 27 da Associação de Arqueologia e Defesa do Património (ARCHAIS) e delegado na Madeira da Associação Portuguesa de Agências de Viagem e Turismo (APAVT). Finalmente, no Capítulo VI, à laia de conclusão, procuramos traduzir em notas finais aquilo que consideramos ter sido a nossa estratégia argumentativa que sustenta o discurso e sintetizamos as conclusões que permitem confirmar a hipótese, e levantamos a ponta do véu para estudos futuros. À medida que fomos investigando no terreno e recorrendo ao uso de fontes estatísticas, documentais e a suportes multimédia, obteve-se um grande volume de informação que embora relevante para a realização deste trabalho de pesquisa, remetemos para o domínio dos anexos. 28 CAPÍTULO II REVISÃO DA LITERATURA 2.1 INTRODUÇÃO O turismo é um sector altamente dinâmico e mutável, irremediavelmente sujeito às vicissitudes do mundo moderno e globalizado. O turista sonha, idealiza conjunturas e alimenta expectativas. Os destinos pouco maduros, que definam posicionamentos de mercado sobre preferências pouco consolidadas, cuja oferta oscile consoante as modas e que não fidelizem os seus segmentos de mercado pelos recursos turísticos de que dispõem, perderão para modelos turísticos inovadores, mas suportados por estudos mutidisciplinares sobre turismo, onde uma abordagem antropológica permite a introdução de novos elementos de investigação, como a cultura, o património e novos públicos e espaços de fruição, susceptíveis de contribuir para uma mais eficiente e eficaz promoção dos destinos. No caso concreto do destino Madeira, com dois séculos de história do turismo, trata-se de fortalecer uma marca e definir estratégias de marketing assentes em factores de atractividade que preencham ou, pelo menos, complementem as escolhas dos turistas e, em termos de rendibilidade económica, acompanhem a ainda crescente oferta hoteleira. Neste capítulo, tratou-se de analisar os pressupostos do turismo do ponto de vista teórico e conceptual, as cidades como lugares de interacção social, a gestão da marca nos destinos turísticos, a promoção e o markting turístico e, numa perspectiva macro económica, o turismo em Portugal e na Madeira. Abordou-se também algumas noções de cultura e questões de identidade e especificidade cultural, o património como opção turística e o espectro do património na Madeira, sua preservação e utilização e, finalmente, as escolhas de férias e gasto médio dos turistas em actividades culturais. 29 2.2 PRESSUPOSTOS DO TURISMO A Organização Mundial do Turismo (OMT) define o Turismo como «…o deslocamento para fora do local de residência por período superior a 24 horas e inferior a 60 dias motivado por razões não-económicas», mas em 1994 aperfeiçoou esta definição para «… o turismo engloba as actividades das pessoas que viajam e permanecem em lugares fora do seu ambiente usual durante não mais do que um ano consecutivo, por prazer, negócios e outros fins». Para uma compreensão mais abrangente deste fenómeno, importa ter em conta os quatro componentes que envolvem o turismo, na perspectiva de Ignarra (2003:11-12): · O turista, que busca diversas experiências e satisfações espirituais e físicas; · Os prestadores de serviços, que encaram o turismo como uma forma de obter lucros financeiros; · O governo, que considera o turismocomo um factor de riqueza para a região sobre a sua jurisdição; · A comunidade do destino turístico, que vê a actividade como geradora de empregos e promotora de intercâmbio cultural. Mas, não obstante a discussão continuada sobre o uso do termo, o turismo emerge nos tempos actuais com um conceito mais amplo, quer como actividade humana, quer como actividade económica, visto que em muitas regiões do país e do estrangeiro a indústria do turismo é a principal responsável pelo fomento do emprego e pela geração de riqueza. Porém, o turismo é na verdade uma actividade fundamentalmente humana e universal e só depois económica e numérica, conforme defendeu o antigo secretário regional do Turismo e Cultura do Governo Regional da Madeira, João Carlos Abreu, em sede da Comissão de Ética da OMT, reunida em 1978, em Nova Iorque. Com efeito, o turismo tem como móbil o motivo da viagem, as expectativas, escolhas e desejos do turista e a satisfação dessas emoções e desses sonhos por parte dos lugares e dos prestadores de serviços de produtos turísticos. É feito por pessoas e para as pessoas. 30 Assim, de uma visão estrita de que o turismo se resumia a uma viagem recreativa de lazer, passou-se a assumir uma visão mais abrangente na qual se passa a considerar uma multiplicidade de motivações possíveis na génese dos movimentos turísticos. Também assim, se aceita a definição de que o turismo envolve uma viagem e quase sempre se desenvolve a uma distância de casa. Ou seja, que as experiências oferecidas pelos destinos não se encontram disponíveis no ambiente de residência, daí constituir uma motivação turística o facto de as pessoas terem de se deslocar dos seus locais de origem. Entre as muitas definições possíveis, Henriques (2003:23) sublinha que o turismo pode estruturar-se segundo diferentes características tais como «as motivações», «os seus modos de exercício», «os seus espaços de prática» e ainda segundo o seu «conteúdo funcional». Com base nestes pressupostos, fala-se então de turismo de negócios e profissional, turismo religioso, desportivo, cultural, técnico, de saúde, de aventura, verde, litoral, urbano, rural, elitista, de elevada gama social, de massas, entre outros. O fenómeno turístico na percepção de Dantas (2005:12), começa por um pensamento, por um desejo de uma sociedade, de uma determinada região ou país, em criar novas condições de desenvolvimento económico, através da oferta dos seus recursos naturais, culturais e históricos. Daí que a questão seja «o que oferecer, como, onde e quando?». Até, porque, do outro lado de uma população desejosa de conhecer outros horizontes e de quebrar com a rotina do seu quotidiano, surge a pergunta «que lugares visitar?». 2.2.1 O TURISMO CULTURAL O turismo cultural começa a ser reconhecido como uma categoria de produto turístico distinta nos finais dos anos 70, com o reconhecimento de que algumas pessoas viajam especificamente com o objectivo de conhecer a cultura ou património de dado destino. No entanto, conforme destacam Mckercher e Cros (2002), é a partir da «fragmentação do mercado de massas nos anos 90 que o turismo cultural começa a ser reconhecido por aquilo que ele é: uma actividade de mercado, de elevado perfil». 31 A Carta de Turismo Cultural Internacional, revista e ratificada em 1999, no México, reafirma a importância da conservação assim como salienta a natureza dinâmica da relação turismo/património. Por sua vez, a OMT (1985) propõe uma definição ampla e outra mais restrita de turismo cultural. A mais ampla define cultura como toda a viagem que pela sua natureza satisfaz a necessidade de diversidade, de ampliação de conhecimento, que todo o ser humano traz em si. A mais restrita compreende a viagem por motivos unicamente culturais ou educativos. Já no entendimento de Richards (2000), turismo cultural abarca não só o consumo de produtos culturais do passado como também da cultura contemporânea ou modo de vida de um povo ou região. Assim, turismo cultural pode incluir tanto turismo do património (relacionado com artefactos do passado), como turismo artístico (relacionado com a produção cultural contemporânea) e turismo étnico. Numa visão mais abrangente, Henriques (2003:50) diz que esta ideia romântica de cultura e de intercomunicação cultural, deixa transparecer a importância da relação entre visitantes e visitados, encontro entre pessoas, lugares com memória e inspiração e deixam transparecer também a ideia do aumento das actividades de lazer e do consumo cultural. Gomes Domingues (2000) fala de uma «mercantilização da cultura» com o desejo cada vez maior de cultura, seja uma cultura socialmente mais codificada e mediática, seja uma cultura reservada a círculos mais restritos. Outros autores, como Talavera (2003) consideram que o turismo cultural é concebido como uma forma de turismo alternativo que encarna o consumo da comercialização da cultura. Elementos escolhidos de qualquer cultura passam a ser produtos oferecidos no mercado turístico, pelo que o processo de geração de produtos culturais conduzem a novas formas de interpretar a autenticidade e expressam o dinamismo e imaginação dos grupos locais para adaptar-se às exigências da procura. Fazendo referência a Villa (2001) acrescenta que a motivação do turismo cultural é multidimensional, de maneira que o turista cultural não procura uma única experiência na sua viagem, antes, no sentido estrito, o turista cultural está sobredimensionado, tratando-se de um pequeno número de viajantes individuais, mais do que um turismo de massas. Qualquer produto turístico (seja Sol e Praia, City Breaks, Touring ou Náutico, por exemplo) é sempre resultado de um conjunto de recursos existentes num determinado território. 32 Na sua reflexão sobre a necessidade do recurso cultural se converter em recurso turístico, Rodrigues (2007) defende que do ponto de vista de recursos culturais, cada território expressa uma relação permanente entre passado e presente cuja manifestação ocorre no legado cultural que vai deixando ao longo de sucessivas gerações. Desse legado fazem parte formas de cultura mais eruditas ou populares; mais de carácter material ou imaterial. Lembra então que as tradições, lendas, monumentos, arqueologia, artesanato ou simplesmente a gastronomia são apenas alguns exemplos dos vários recursos culturais que caracterizam um território. «Na cadeia de valor em turismo, a oferta cultural de um destino representa um factor de produção fundamental» sublinha Rodrigues, para logo acrescentar, porém, que «para que esse factor de produção seja utilizado na concepção de um produto, neste caso de um produto turístico, é necessário que se submeta a um processo de transformação e que de recurso cultural passe a recurso turístico». Em suma, independentemente do valor cultural, patrimonial, histórico que um recurso possa ter, somente adquire importância para o turismo se for de facto “consumido” pelo turista. 2.3 LUGARES DE INTERACÇÃO SOCIAL O estilo de vida urbano e a modernidade são faces do mesmo fenómeno de complexidade e de diferenciação da vida social, cujas principais características são o princípio da não-linearidade e a grande autonomia de mundos e domínios específicos. De acordo com Marc Augé (1998: 49-85), o urbano desenvolveu a coexistência e a articulação entre lugares antropológicos e não lugares, ou seja, os indivíduos e os grupos podem desenvolver relações individuais de natureza secundária, tais como relações de trabalho ou de face a face, de amizade, de vizinhança ou ainda relações fundadas em interesses comuns que se constituem nas ocupações de tempos livres. Assim,os lugares antropológicos são lugares carregados de símbolos e valores culturais comuns e de relações continuadas e de natureza variada. Os não-lugares são então espaços caracterizados pelo isolamento e pelo anonimato. Rémy e Voyé (1994), na sua teoria das escalas, entendem a urbanidade como a arte de comunicar à distância e o espaço urbano como o loucs de aculturação da modernidade. É, 33 pois, neste sentido que a cidade se torna numa forma de organização do espaço que favorece a mobilidade e a troca dentro de um amplo sistema de inter-dependências. A identidade dos indivíduos e dos grupos constrói-se num diálogo permanente entre dois tipos de espaços: o espaço de enraizamento; e o espaço móvel. Ao definir que a modernidade se organiza em torno de dois modelos espaciais, Rémy e Voyé (1994) consideram que o primeiro modelo, o dominante, que corresponde àqueles adaptados à vida em espaço urbano, permite a inclusão, enquanto que o segundo modelo, o de ambiguidade e distância, representa uma maior dominância do espaço de enraizamento, tornando o espaço aquilo a que Marc Augé (1998) chamou de lugar antropológico. Ou seja, ao mesmo tempo que afirma que o espaço urbano se caracteriza por um lugar em que predominam as relações secundárias, o isolamento e a impessoalidade, admite, por outro lado, a circunstância de nesse mesmo lugar poderem coexistir relações face a face, resultantes de um conjunto de estratégias comunitárias que unem os indivíduos e os grupos em torno de interesses comuns ou que partilham um passado comum, um presente ou um futuro. Analisando modalidades de ligação das áreas urbanas a um sistema internacional de relações económicas, entre as quais o turismo, Giddens (2000) distingue cinco tipos emergentes de cidade: o das cidade sede, onde as grandes empresas transnacionais estabelecem as suas actividades principais e são orientadas para interesses globais; o da cidade centro de inovação, que traduz uma área urbana onde se concentram indústrias de investigação e desenvolvimento, desenvolvendo processos técnicos e científicos para produzir bens noutros lugares; o da cidade local da produção modular, áreas urbanas que passaram a ser lugares de produção de componentes mas cuja montagem final é efectuada noutras regiões do país; o entreposto do Terceiro Mundo, centros fronteiriços com uma população substancial de imigrantes oriundos de países do Terceiro Mundo; e o de cidades como centros de retiro, áreas com condições climatéricas amenas para onde muitos reformados se mudam (casos de algumas colónias de residentes ingleses e alemãs na Ilha da Madeira), sendo em parte uma migração interna. Por conseguinte, a cidade tornou-se produtora de novas formas de cultura e de relações sociais, em que um dos seus traços essenciais, conforme sublinham Gottdniener e Hutchison (2000), é o da interacção intensa e permanente entre actores variados, circulando entre mundos e domínios, num espaço social e geograficamente delimitado4. 4 Podemos ilustrar esta visão conceptual com os exemplos de algumas cidades marca na Europa, como Roma, Amsterdão, Copenhaga, Londres, Paris, entre outras, onde sobressaem aspectos de diversidade cultural, de aculturação e de multiculturalidade. 34 Cada vez mais associados à pós-modernidade e aos efeitos da globalização, os espaços urbanos sofrem alterações por via de um novo turismo urbano, sobretudo ao nível da sua espacialidade e territorialidade e transformações culturais por força do impacte do visitante na dinâmica cultural das sociedades. Ao estudar espaços específicos de interacção social como o locus de análise – em concreto a taberna/mercearia de uma aldeia transmontana, enquanto espaço de circulação de bens, pessoas e ideias e de produção e reprodução de relações sociais – Pais de Brito (1991) pretendeu mostrar como nestes lugares se espelham e revelam estruturas e formas de organização local, homogeneidades e diferenciações ou desigualdades entre os habitantes que dela são clientes e se exprimem dimensões da temporalidade da aldeia no que esta tem de universo auto-centrado e na diversidade das suas ligações com o exterior. Isto para se compreender que são as particularidades comparativas e diferenciadoras dos destinos e dos seus recursos turísticos que atraem os turistas amantes de um turismo cultural e de natureza, que procura experiências relacionadas com o pulsar e o com quotidiano da terra, suas envolventes e populações. Já no entendimento de Urry (1995), os lugares estão cada vez mais a ser reestruturados como centros para o consumo, enquanto providenciam o contexto para os bens e serviços serem avaliados, comparados, comprados, utilizados. Depois, os lugares são em certa medida consumidos, numa vertente visual, por locais e/ou visitantes, e através do uso sistemático desses serviços. Mas, também, as localidades podem consumir a sua identidade de modo a que os lugares se tornem todos literalmente consumíveis, muitas vezes se descaracterizando devido a pressões económicas ou culturais externas e, com isso, diluindo-se na população o seu sentimento de identidade e pertença tão caro à Antropologia Cultural e Urbana. 2.3.1 A GESTÃO DA MARCA NOS DESTINOS TURÍSTICOS Ora, é nesta perspectiva que Litteljohn (2007) aponta para uma mudança de paradigma no interesse pela marca ou branding5 dos destinos turísticos. Inicialmente, o enfoque era dado à 5 O branding ou gestão de uma marca (construir imagens de marca), é um processo sistémico e pluridisciplinar, onde se integram disciplinas da gestão, do marketing, dos recursos humanos, da comunicação e do design entre outras. O objectivo da gestão da marca, é conferir-lhe valor e acentuar-lhe o carácter de perenidade. 35 imagem do destino, mas à medida que estes foram conhecendo níveis mais elevados e particulares de competição, surgiram sub-marcas de nicho que provocaram alterações no marketing de lugares. Com base nas definições de Kotler e Gertner (2004), Litteljohn sublinha que a marca de destinos auto-intitula-se como “marketing estratégico de lugares”, desenvolvendo-se com diferentes origens, como através da arte, da história, da educação, dos eventos contemporâneos, da cobertura dos media, do boca-a-boca e através das acções de promoção das empresas de turismo. Dito de outra forma, emergem sub-segmentos de produtos turísticos, em cidades ou sítios de interesse cultural e histórico, por exemplo, que têm na diferenciação o seu maior potencial e recurso comparativo, capaz de se tornar numa importante vantagem competitiva, o que, no entanto, obriga a acrescentar valor à experiência do visitante e a uma sincronização de marcas entre o destino e o lugar em si mesmo. Um exemplo de marca é o Reino Unido, que não sendo um destino barato viu-se obrigado a encontrar novas formas de se tornar atractivo, pelo que hoje é definido como uma “ilha de património tradicional e pouco convencional”, precisamente pela variedade de experiências multiculturais e benefícios emocionais que pode proporcionar ao visitante. 2.3.2 A MARCA A marca é a personalidade definida de um produto, uma experiência promissora, um compromisso em satisfazer as expectativas e a distribuição consistente dessa promessa de satisfação. Contudo, não se pode considerar uma marca, um nome ou logótipo, uma publicidade ou um website, uma surpresa. De acordo com Joana Neves (2006), uma marca é visível, funcional e emocional, sendo na sua essência última o elemento mais influenciador no processo de escolha e o activo económico intangível. 36 Naverdade, um produto ou serviço, além do seu conceito próprio, compõe-se por uma série de características tangíveis e intangíveis, como qualidade, opções, estilo, marca e embalagem, que satisfaçam efectivamente os desejos e as necessidades do consumidor. A individualização de um produto depende do investimento que se faça em seu nome, ou seja, na sua marca. Um nome, um símbolo, um design, qualquer que seja a sua forma, a marca contribui para o processo de decisão do consumidor, à medida que diferencia o produto em relação à concorrência. Segundo Kotler (1998), a criação e gestão da marca é o principal problema na estratégia do produto. Pois, desenvolver um produto de marca requer um grande investimento de longo prazo, especialmente em propaganda, promoção e embalagem. Embora adoptada em edições clássicas de marketing, a American Marketing Association acrescenta à definição jurídica: «A marca é um nome, um termo, um sinal, ou um desenho ou uma combinação destes elementos, com vista a identificar os produtos e serviços de um vendedor ou de um grupo de vendedores e a diferenciá-los dos concorrentes. Kotler acrescenta que «talvez a habilidade mais característica dos profissionais de marketing seja a capacidade de criar, manter, proteger e melhorar uma marca. Para os profissionais de marketing, o estabelecimento de uma marca é a arte e a essência do marketing». Concluindo, a marca é um signo distintivo, visualmente perceptível, utilizado para diferenciar produtos ou serviços de uma empresa das suas concorrentes, bem como atestar a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou especificações técnicas. As marcas surgiram com as primeiras trocas comerciais. De início eram sinais rudimentares, que tinham como função autenticar a origem dos produtos. Hoje certifica-se igualmente, mas por vezes não é um produto que tem uma marca, mas uma marca que tem, ou pode ter, um ou mais produtos, como a Coca-Cola, a Bic, a Mitsubishi, entre outras. Mas também pode ser uma marca de serviços, de acções sociais, políticas, ou religiosas, como a Cruz Vermelha, a Green Peace, entre muitas outras. Conforme salienta Pedro Sarmento (2006), a marca é em essência uma promessa da empresa em fornecer uma série específica de atributos, benefícios e serviços uniformes aos compradores. 37 Aliás, como o próprio Kotler frisa, a garantia de qualidade vem junto com as melhores marcas, mas um marca é um símbolo mais complexo, podendo trazer até seis níveis de significados: atributos; benefícios; valores; cultura; personalidade; e utilizador. Com muita propriedade e em tempo oportuno, João Welsh, delegado da APAVT na Madeira, escreveu o seguinte em artigo de opinião no Diário de Notícias do Funchal: «… Presidente da Câmara da Calheta não quer que esta passe a cidade, defendendo a manutenção do estatuto de Vila. Está de parabéns! Percebeu que ganham muito mais em ser uma Vila atractiva e autêntica do que uma suposta cidade… esta é, claramente, uma boa tendência de pensamento … só prejudicada pela praia de areia artificial que nada tem de Vila típica da Região, fere a autenticidade, descaracteriza o destino e em resultado penaliza-nos na diferenciação, maior valor da Marca Madeira». 2.3.3 PROMOÇÃO E MARKETING TURÍSTICO Nos tempos actuais, o turismo adopta um papel quase universal, e na verdade transversal a muitos sectores da economia, tornando-se o centro do interesse tanto dos governos como das pessoas, ao possibilitar diversas oportunidades de negócio e, sobretudo, de emprego. Face à tendência a que se assiste de globalização dos mercados, muitos sectores industriais, inclusive o do turismo, encetaram medidas de reestruturação e políticas de renovação na procura de uma especialização, visando a obtenção de melhores rendibilidades. As empresas de turismo passaram a dispor de um plano de marketing turístico, assumindo assim uma óptica de marketing na definição das suas actividades, numa perspectiva dinâmica e de futuro, passando a existir uma maior e melhor coordenação entre os departamentos e secções existentes na organização. Já no início da década, o Comité de Estudos de Mercado e Técnicas de Promoção da OMT, na definição do seu programa de trabalho para o biénio 2002-20036, aludia à convergência dos Estados membros em assinalar a importância para a conjuntura actual com base nos dados 6 Vide in http:// unwto.org/mkt/committees/dec_mipoc14-10_sp2.pdf 38 estatísticos e prospectivos, para o compartilhar de informação e de estudos sobre turismo e para a eficácia das campanhas de promoção e marketing, para a troca de informação e promoção em suporte electrónico, para os estudos da oferta e da procura, assim bem como para a necessidade de melhoria dos canais de distribuição e de sincronização dos meios de promoção para evitar a duplicação de esforços e o sobre emprego de recursos. O marketing entendido enquanto disciplina de gestão que implica em simultâneo um sistema de pensamento e um sistema de acção, torna-se uma ferramenta ou instrumento fundamental para todos aqueles que pretendam obter sucesso ao planearem estrategicamente a sua actuação. Sendo que o marketing turístico apresenta especificidades que decorrem muito das características particulares do produto turístico, da rigidez da oferta, da convivência com desequilíbrios sazonais em termos de procura e da elasticidade desta, Figueira (1997) afirma que o propósito da concepção de um plano de marketing turístico é, em consequência, o de reflectir de forma clara e sistemática sobre as opções da empresa, traduzidas em decisões e em planos de acção a fim de assegurar o seu sucesso e desenvolvimento. Já Cobra (1992) deixa bem claro que o marketing é mais do que uma forma de sentir o mercado e adaptar produtos e serviços. É, com efeito, um compromisso com a busca da melhoria da qualidade de vida das pessoas. De facto, com a introdução de novas técnicas de marketing, emerge primeiramente na Europa Ocidental o conceito de produto turístico, o qual atinge o seu auge no início da década de 70, período em que se deixa de olhar para dentro, ou seja, para o atractivo turístico, e se passa a olhar para fora, para o turista. O processo de comercialização do turismo passa então a ser sintetizado na obtenção da informação para a tomada de decisão, na preparação de um plano de marketing, na execução dos diferentes programas do plano e no controle da gestão. Fazendo referência a Lopes e Beltrón (1990) Margarida Aires Martins7 salienta que o plano de marketing é um instrumento que deve servir para estabelecer sequências de acções que a empresa deverá realizar dentro de um processo ordenado e coerente. Acrescenta que a razão principal que apoia a elaboração de planos de marketing é prever as acções da empresa frente à concorrência, com o objectivo de apresentar alternativas válidas a todo o momento. 7 Vide in http://tabula.weblog.com.pt/arquivo/2007/10/marketing_turis_25.html 39 Citando ainda Acerenza (1990), a autora reforça a ideia de que o plano de marketing é um documento no qual se encontram as decisões da empresa com relação ao mercado, ao tipo de produto, aos canais de distribuição, aos preços pelos quais se irá vender o produto turístico e as características gerais das actividades de promoção e venda. É, pois, com base neste pressuposto que o Governo Regional da Madeira no seu Programa de Actividades para o quadriénio 2007-2011 define um conjunto de orientações fundamentais em termos de promoção do destino e, para o efeito, o estabelecimento de parcerias público-privadas. A saber: · Na criação de interacções com os agentes e operadores turísticos para o estabelecimento de novas ligações aéreas; · Na execução de acções de promoção e divulgação do destino turístico Madeira nos mercados internacionais; · Na captação de novos segmentos e nichos de mercado. Visando: · A promoção, divulgação e consolidação de ofertas de alojamento alternativas de qualidade; · A consolidação de segmentos de mercado relacionados com o turismo activo; · A criação e requalificação dos locais e equipamentos de utilização ou de informação turística; · A promoção e divulgação do património natural, ambiental e edificado do destino Madeira; · A diversificação da oferta turística, valorizando destinos intra-regionais, no sentido de apoiar a conquista de novos mercados; · O rejuvenescimento da procura turística; · A descentralização da oferta. 40 O executivo madeirense determina também, como vectores estratégicos para o fortalecimento do sector do Turismo na Madeira, o desenvolvimento e a disseminação das novas tecnologias de informação, a medição e controlo das variáveis e indicadores afectos ao sector, a implementação de um sistema de informação turística que promova uma política eficaz e capaz de rentabilizar os investimentos públicos e privados, a consolidação e enriquecimento do calendário anual de eventos, a formação dos recursos humanos e dinamização do interesse pelas profissões turísticas junto dos mais jovens e na dignificação das carreiras profissionais ligadas ao sector e, por fim, no envolvimento de toda a população para a implementação de comportamentos e atitudes adequadas a um destino turístico de qualidade e excelência. Facilmente se observa que o turismo é uma indústria em constante desenvolvimento, num mercado em permanente evolução e com um grande público a alcançar. Daí que uma campanha bem estruturada, envolvendo organizações públicas e privadas, permitirá uma maior amplitude na divulgação do destino e na captação de um número cada vez maior de turistas. Pelo contrário, uma campanha de marketing que não incentive em simultâneo as campanhas de marketing a nível local, irá fazer com que os serviços locais não sejam conhecidos e que não haja um incentivo ao melhoramento dos serviços localmente, que mais cedo ou mais tarde iria resultar num falhanço da campanha por não apresentar um verdadeiro serviço de qualidade ao cliente. 2.4 O TURISMO DE PORTUGAL O turismo é um sector de actividade económica não apenas importante pelas vantagens directas que cria, mas também pelos efeitos multiplicadores e indutores que tende a provocar nos espaços onde se desenvolve. Considerando o turismo fundamental e decisiva a sua capacidade competitiva em relação a outros destinos, o Presidente da República Portuguesa, Aníbal Cavaco Silva, in “O Turismo em 2007”, uma publicação do IPDT8, deixa o alerta para que Portugal esteja atento às novas realidades competitivas que envolvem o sector, devendo voltar-se para o futuro na procura de 8 Instituto de Planeamento e Desenvolvimento do Turismo, presidido por António Jorge Costa. 41 novos enquadramentos de oferta e devendo procurar a inovação, a qualidade, a diferenciação e a modernização. Com efeito, tratando-se de um sector transversal e que por consequência assume uma importância capital no desenvolvimento económico das cidades, carece definir-se e fomentar- se políticas de desenvolvimento de um turismo sustentado9, que zelem pela preservação e qualidade ambiental, pelo ordenamento e valorização urbanística, pela defesa do património natural, cultural, histórico, linguístico e edificado. Não há duvida de que o turismo tem uma importância verdadeiramente estratégica para a economia portuguesa, em virtude da sua capacidade de criar riqueza e emprego, com o seu peso a crescer na economia nos últimos anos, chegando a representar 11% do PIB em 2004. Trata-se de um sector onde o país tem claras vantagens competitivas, mas a verdade é que Portugal perdeu quota de mercado a nível internacional e está muito dependente de quatro mercados emissores e do desempenho de três regiões, como sejam o Algarve, Lisboa e a Madeira, sendo ainda afectado por uma elevada sazonalidade e limitações nas ligações aéreas. Apesar disso, Manuel Pinho, ministro da Economia e Inovação, sustenta10 que o turismo em Portugal está a viver um bom momento, as receitas estão a aumentar, existe capacidade instalada e boa qualidade de infra-estruturas e recursos humanos. Em consequência – adiantou – estão a surgir novos destinos de grande qualidade, dando como exemplos o Litoral Alentejano, na zona Oeste, o Porto Santo e o Douro. Portugal assume-se como um dos destinos da Europa onde se irá verificar um maior crescimento do turismo, apostando fortemente na qualificação e competitividade da oferta, ou seja, preconizando a transformação do sector num dos motores de crescimento da economia nacional. Portugal vai apostar nos recursos turísticos e nos factores que mais o diferenciam de outros destinos concorrentes, como o “clima e luz”, “história, cultura e tradição”, “hospitalidade” e “diversidade concentrada”, e em elementos que qualificam o país para o leque de opções dos turistas, como “autenticidade moderna”, “segurança” e “qualidade competitiva”. 9 Depois da Cimeira do Rio (1992), o Conselho da Europa (1997) define desenvolvimento sustentável como “aquele que permite suprir as necessidades de hoje dos turistas e das regiões receptoras, enquanto protege e melhora as oportunidades para o futuro. É visualizado como conduzindo à gestão de todos os recursos, de forma a que as necessidades económicas, sociais e estéticas possam ser supridas, ao mesmo tempo que são mantidos a integridade cultural, os processos ecológicos essenciais e os sistemas de suporte da vida». 10 Na apresentação pública do PENT, a 19 de Janeiro de 2007, no âmbito da abertura da BTL – Bolsa de Turismo de Lisboa. 42 Estas são, aliás, as linhas de orientação que estão bem expressas no Plano Estratégico Nacional do Turismo (PENT), documento que define as estratégicas e modelos de desenvolvimento sustentado do sector do Turismo, visando entre muitas outras premissas, o fomento do reforço das acessibilidades aéreas que contribuam para a redução da sazonalidade, a melhoria da oferta e da imagem de marca e a realização de eventos que contribuam para a notoriedade do destino, o enriquecimento e desenvolvimento de elementos da oferta cultural, a qualificação e valorização urbana, ambiental e paisagística, a implementação de sistemas de qualidade turística e de formação e valorização dos recursos humanos e a implementação de uma forte campanha de comunicação e promoção do destino nacional. É certo que o turismo português já vem fazendo incidir a sua actuação nos sectores estratégico preço, condições climatéricas e belezas naturais, mas sendo que a procura de um destino é cada vez mais determinada pela qualidade, há que insistir na assumpção por todos os elementos da empresa turística desta cultura da qualidade. Aliás, qualidade e inovação são «dois factores estratégicos diferenciadores que o turismo português deve ter», sublinha Sarmento (2003: 62-63), frisando que essa deve ser uma estratégia bem presente e definida na política de turismo nacional, até porque Portugal tem perto de si mercados e infra-estruturas turísticas semelhantes que, por circunstâncias várias, podem atrair e fazer derivar os turistas para outros destinos. Enaltece por isso que a qualidade e profissionalismo devem ser o traço
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