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O mundo da criança in Revista da Associação Brasileira de Daseinsanalyses

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REFERÊNCIA: CYTRYNOWICZ, M. B., O mundo da criança in Revista da Associação Brasileira de Daseinsanalyses. n. 9. 2000.
TEXTOS UTILIZADOS NA ABORDAGEM FENOMENOLÓGICA
	 
O artigo lido trata de demonstrar a figura da criança e seus processos dentro da Fenomenologia. A autora inicia o texto falando da etimologia da palavra infância, essa que pode significar sem fala, na luz ou na claridade. Utilizando dessa ideia podemos pensar que entendemos a infância como uma claridade sem fala, onde entendemos a criança como alguém a ser sempre cuidado. 
Uma crítica aparece no início a respeito do mau uso de metáforas nas teorias existentes na Psicologia, segundo Cytrynowicz(2000), algumas das metáforas utilizadas “são tomadas como os acontecimentos ou fatos reais, ou a própria realidade, e não mais como a melhor expressão do entendimento de algo importante no conjunto de acontecimentos”. O exemplo dado é o mito de Édipo, metáfora que consegue trabalhar bem a “descrição da condição humana, do ser livre e do ser mortal”, mas que hoje é utilizada como uma estrutura determinante com caráter aprisionador da realidade humana que influenciou e ainda influencia toda uma época. 
O método fenomenológico de Heidegger que foi desenvolvido a partir de ser e tempo, procura se aproximar de uma compreensão da infância e da criança de acordo com o que essa demonstra e expressa suas experiências. A compreensão do mundo da criança só é possível ser feito a partir de uma proximidade com ela. Pensando nesse sentindo é possível dizer que para a criança há um fascino em descobrir o mundo, desde do mais desconhecido para o mais familiar; aqui a autora fala do tempo da infância, esse que é um lugar do tempo do já, do imediato. Sendo assim a infância um mundo rico de novas possibilidades e de novos significados.
Por meio das brincadeiras que as crianças participam podemos observar o aspecto citado no parágrafo anterior. No desenrolar das histórias presentes nas brincadeiras, a criança acaba descobrindo o mundo em que vive e a si mesma, pois ao brincar ela está experimentando, relembrando, modificando, inventando, atualizando, o que bem entender. Um ponto que o texto ressalta é de que as vezes essa experimentação da criança pode acabar gerando angústia por ela perceber a imensidão de possibilidades de um futuro mais amplo, onde nem sempre as expectativas vão ser correspondidas; passam a experimentar então a impotência e ameaça de destruição daquilo que entendemos como finitude humana. É importante nessas situações a criança se sentir amparada e acolhida pela família para conseguir trabalhar melhor com suas angústias.
A relação criança e adulto se dá a partir de uma constante solicitação de cuidado por parte da criança. É nessa proximidade com a criança que o adulto pode vir a perceber a falta que lhe diz respeito como a que se refere a criança, podendo assim se tornar disposto a solicitação de um cuidado e concretizá-lo ou não. Porém é comum que a compreensão dessa falta seja dita como “fragilidade infantil”, que acabará sumindo com o amadurecimento da criança ou vai ser substituída por algo na fase adulta; essa é uma forma ruim de compreensão da criança e do adulto.
A criança ainda está em processo de desenvolver uma história própria a partir da experimentação e descobrimento do mundo em que vive e de quem é, esse descobrimento pode ter caráter misterioso tanto para criança quanto para o adulto que é constantemente solicitado, ao corresponder à solicitação de cuidar desse mistério, o adulto pode vir a se sentir responsável pela própria vida da criança. Então essa responsabilidade pode ser acolhida como um fardo, um peso, e às vezes é acolhida de bom grado, de qualquer maneira, o adulto é solicitado para cuidar do crescimento da criança, possibilitando um caminho mais saldável para a criança percorrer, afastando dessa o que pode lhe atrapalhar. 
A dependência da criança é um traço do relacionamento entre adultos e crianças. Quando é solicitado que o adulto olhe pela criança, ele consegue enxergar coisas que não são vistas por uma criança, podendo antecipar experiências que não foram descobertas ainda pela criança. Essa antecipação pode ter viés positivo, vista como reconhecimento das necessidades da criança e apontando um caminho que possa satisfazê-las, como também pode representar um apoio e encorajamento parara descobrir o novo. Podemos chamar essa antecipação de experiências ainda não descobertas de “representar”, a autora Cytrynowicz(2000), define esse conceito como “uma possibilidade de ser com o outro, de compartilhar, em que um torna presente algo para o outro”.
A representação na relação entre adulto e criança é mais frequentemente necessária, pois consegue aproximar da criança um melhor caminho a seguir, decisão que uma criança não consegue desempenhar sozinha. Não devemos pensar que a representação é um processo natural, obrigatório ou geral, ela é uma escolha que pode vir a ocorrer e vai depender de cada caso e de como se compreende esse caso; pensando nesse sentido, podemos dizer que o sucesso da representação está em descobrir quando, como e o que se antecipar, para assim bem representar a criança. 
Cuidar da criança vai além de poupar ela de experiências desagradáveis ou mostrar que siga um determinado caminho, esses são dois aspectos que o cuidar pode exibir. Os dois tem em comum a falta de paciência ou receio e acaba passando despercebido as necessidades, solicitações e possibilidades que a criança exiba. Também é perigoso tomar uma atitude onde tudo é relativo, onde tudo é permitido. A criança tem o adulto como referência, se esse não demonstra o que para ele é importante, a criança percebe essa confusão e acaba ficando confusa. Devemos lembrar que o adulto cuida da criança como consegue; ele não consegue prever ou determinar a vida da criança. No envolvimento entre criança e adulto, os dois se deparam com oportunidade de desenvolvimento, e se um deles se demonstrar prisioneiro de um processo o outro nunca estará livre para compartilhar possibilidades. 
O texto fala do mundo do brincar e da fantasia, onde o brincar é uma forma de atuação, por onde a criança interage com as coisas ao seu redor, com o mundo e com os outros. A fala pode ser elemento presente no brincar da criança, e pode ser entendida como expressão daquilo que compreendemos de si mesmo e do mundo. Esses dois termos são diferentes, mas se completam.
 As terapias psicológicas e práticas ludoterápicas podem compreender o brincar como um jogo de aparências, que segue regrar gerais anteriores. Entendemos que na ludoterapia os brinquedos aparentar ser algo que o terapeuta sabe que não são, pois, as crianças não sabem o significado que o terapeuta compreende do dado brinquedo. A autora então ilustra esse pensamento com o seguinte exemplo: 
“Um revólver é uma arma usada para agressão. O contexto de agressão da brincadeira surgiria com o uso do revólver. Ao contrário, compreendemos que é na situação de agressão que o revólver pode aparecer como uma arma de agressão, pois ele também pode ser usado como um martelo para prender algo ou como uma coisa para chamar alguém para brincar junto.” (CYTRYNOWICZ, M. B., O mundo da criança in Revista da Associação Brasileira de Daseinsanalyses. p. 85. n. 9. 2000.)
O brincar tem noções preestabelecidas parecidas com a da fantasia e dos sonhos, que seriam a de satisfação de desejos ilusórios e irrealizáveis. Pensando dentro desse contexto podemos compreender que toda brincadeira pode possuir um significado oculto; que sempre haveria um brincar organizado pré-determinado; e que as brincadeiras seriam uma repetição compulsiva.
É na brincadeira que a criança experimenta suas descobertas, também é nela que a fantasia se dá como um modo de atuação onde a realidade ganha maior proximidade, pois é a partir da fantasia que experimentamos a realidade a partir do possível e do impossível. A autora fala uma frase que define muito bem o que é fantasia e aqui cito: “a fantasia aproxima e familiariza a realidade eampara a criança”.

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