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3 SUMÁRIO APRESENTAÇÃO ................................................................................................................. 5 1. DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942 - Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro. .......................................................................................................... 6 2. DAS PESSOAS ................................................................................................................ 8 2.1 - Das pessoas naturais ................................................................................................ 9 2.1.1 - Dos Direitos da Personalidade............................................................................11 2.1.2 - Da Ausência ........................................................................................................11 2.2 - Das Pessoas Jurídicas ............................................................................................ 12 2.2.1 - Das associações e das sociedades ................................................................... 12 2.2.2 – Das Fundações ................................................................................................. 12 2.3 - O Domicílio .............................................................................................................. 13 3. DOS BENS ..................................................................................................................... 14 3.1 - Dos bens considerados em si mesmos .................................................................... 15 3.1.1 -Dos Bens Imóveis ............................................................................................... 15 3.1.2 - Dos Bens Móveis ............................................................................................... 15 3.1.3 - Dos Bens Fungíveis e Consumíveis .................................................................. 16 3.1.4 - Dos Bens Divisíveis ........................................................................................... 16 3.1.5 - Dos Bens Singulares e Coletivos ....................................................................... 16 3.2 - Dos Bens Reciprocamente Considerados ............................................................... 17 3.3 - Dos Bens Públicos ................................................................................................... 17 4. FATOS JURÍDICOS ........................................................................................................ 19 4.1 - Fatos, atos e negócios jurídicos. ............................................................................. 20 4.2 - Da Representação ................................................................................................... 21 4.3 - Da Condição, do Termo e do Encargo ..................................................................... 21 4.4 - Dos Defeitos do Negócio Jurídico ............................................................................ 23 4.4.1 - Do Erro ou Ignorância ........................................................................................ 23 4.4.2 - Do Dolo .............................................................................................................. 24 4.4.3 - Da Coação ......................................................................................................... 24 4.4.4 - Do Estado de Perigo .......................................................................................... 25 4.4.5 - Da Lesão ........................................................................................................... 25 4.4.6 - Da Fraude Contra Credores............................................................................... 25 4.5 - Da Invalidade do Negócio Jurídico .......................................................................... 25 4 4.6 - Dos Atos Ilícitos ....................................................................................................... 27 4.7 - Da Prescrição e da Decadência ............................................................................... 27 4.7-1 - Da Prescrição .................................................................................................... 27 4.7.2 - Da Decadência .................................................................................................. 28 5. DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES .................................................................................. 29 5.1 - Das Modalidades das Obrigações ........................................................................... 30 5.1.1 - Das Obrigações de Dar ..................................................................................... 30 5.1.1.1 - Das Obrigações de Dar Coisa Certa ............................................................ 30 5.1.1.2 - Das Obrigações de Dar Coisa Incerta.......................................................... 31 5.1.2 - Das Obrigações de Fazer .................................................................................. 32 5.1.3 - Das Obrigações de Não Fazer ........................................................................... 32 5.1.4 - Das Obrigações Alternativas .............................................................................. 33 5.1.5 - Das Obrigações Divisíveis e Indivisíveis ............................................................ 34 5.1.6 - Das Obrigações Solidárias ................................................................................ 34 5.1.6.1 - Da Solidariedade Ativa ................................................................................. 34 5.1.6.2 - Da Solidariedade Passiva ............................................................................ 35 5.2 - Da Transmissão das Obrigações ............................................................................. 36 5.2.1 - Da Cessão de Crédito ........................................................................................ 36 5.2.2 - Da Assunção de Dívida ...................................................................................... 36 5.3 - Do Adimplemento e Extinção das Obrigações ......................................................... 37 5.3.1 - Do Pagamento ................................................................................................... 37 5.3.1.1 - De Quem Deve Pagar .................................................................................. 37 5.3.1.2 - Daqueles a Quem se Deve Pagar................................................................ 38 5.3.1.3 - Do Objeto do Pagamento e Sua Prova ........................................................ 38 5.3.1.4 - Do Lugar do Pagamento .............................................................................. 39 5.3.1.5 - Do Tempo do Pagamento ............................................................................ 39 5.3.2 - Pagamento em Consignação ............................................................................. 40 5.3.3 - Do Pagamento com Sub-Rogação ..................................................................... 41 5.3.4 - Da imputação do Pagamento ............................................................................. 41 5.3.5 - Da Dação em Pagamento .................................................................................. 41 5.3.6 - Da Novação ....................................................................................................... 42 5.3.7 - Da Compensação .............................................................................................. 43 5.3.8 - Da Confusão ......................................................................................................43 5.3.9 - Da Remissão das Dívidas .................................................................................. 43 5.4 - Do Inadimplemento das Obrigações ........................................................................ 44 5.4.1 - Da Mora ............................................................................................................. 45 5.4.2 - Das Perdas e Danos .......................................................................................... 46 5 5.4.3 - Dos Juros Legais ............................................................................................... 46 5.4.4 - Da Cláusula Penal ............................................................................................. 47 5.4.5 - Das Arras ou Sinal ............................................................................................. 47 5.5 Dos Contratos em Geral ............................................................................................ 48 5.5.1 - Da Formação dos Contratos .............................................................................. 49 5.5.2 - Da Estipulação em Favor de Terceiro ................................................................ 50 5.5.3 - Da Promessa de Fato de Terceiro ..................................................................... 51 5.5.4 - Dos Vícios Redibitórios ...................................................................................... 51 5.5.5 - Da Evicção......................................................................................................... 52 5.5.6 - Dos Contratos Aleatórios ................................................................................... 53 5.5.7 - Do Contrato Preliminar ...................................................................................... 53 5.5.8 - Do Contrato com Pessoa a Declarar ................................................................. 54 5.5.9 - Da Extinção do Contrato .................................................................................... 54 5.5.9.1 - Do Distrato ................................................................................................... 54 5.5.9.2 - Da Cláusula Resolutiva ................................................................................ 55 5.5.9.3 - Da Exceção de Contrato não Cumprido ....................................................... 55 5.5.9.4 - Da Resolução por Onerosidade Excessiva .................................................. 56 5.6 - Das Várias Espécies de Contrato ............................................................................ 56 5.6.1 - Da Compra e Venda .......................................................................................... 56 5.6.1.1 - Da Retrovenda ............................................................................................. 59 5.6.1.2 - Da Venda a Contento e da Sujeita a Prova .................................................. 59 5.6.1.3 - Da Preempção ou Preferência ..................................................................... 59 5.6.1.4 - Da Venda com Reserva de Domínio ............................................................ 60 5.6.1.5 - Da Venda Sobre Documentos ...................................................................... 61 5.6.2 - Da Troca ou Permuta ......................................................................................... 61 5.6.3 -Do Contrato Estimatório ...................................................................................... 62 5.6.4 - Da Doação ......................................................................................................... 62 5.6.5 - Da Locação de Coisas ....................................................................................... 63 5.6.6 - Do Empréstimo .................................................................................................. 64 5.6.6.1 - Do Comodato ............................................................................................... 64 5.6.7.2 - Do Mútuo ..................................................................................................... 65 5.6.8 - Da Prestação de Serviço ................................................................................... 65 5.6.9 - Do Depósito ....................................................................................................... 66 5.6.9.1 - Do Depósito Voluntário ................................................................................ 66 5.6.9.2 - Do Depósito Necessário .............................................................................. 67 5.6.10 - Do Mandato .................................................................................................. 68 5.6.10.1 - Das Obrigações do Mandatário ................................................................. 69 5.6.10.2 - Das Obrigações do Mandante ................................................................... 69 6 5.6.10.3 - Da Extinção do Mandato ............................................................................ 69 5.6.11 - Da Comissão ................................................................................................... 70 5.6.12- Da Corretagem ................................................................................................. 71 5.6.13 - Da Fiança ........................................................................................................ 72 5.6.14. - Da Transação ................................................................................................. 73 5.6.15 - Do Compromisso ou Arbitragem ...................................................................... 73 5.7 - Dos Atos Unilaterais ................................................................................................ 74 5.7.1 - Da Promessa de Recompensa .......................................................................... 74 5.7.2 - Do Pagamento Indevido .................................................................................... 74 5.7.3 - Do Enriquecimento Sem Causa ......................................................................... 75 6. DIREITO DAS COISAS ................................................................................................... 76 6.1 - Da posse ................................................................................................................. 77 6.1.1 - Da Posse e sua Classificação ............................................................................ 77 6.1.2 - Da Aquisição da Posse ...................................................................................... 78 6.1.3 - Dos Efeitos da Posse......................................................................................... 79 6.1.4 - Da Perda da Posse ............................................................................................ 79 6.2 - Dos Direitos Reais .................................................................................................. 80 6.3 - Da Propriedade ........................................................................................................ 80 6.3.1 - Da Aquisição da Propriedade Imóvel ................................................................. 81 6.3.1.1 - Da Usucapião .............................................................................................. 81 6.3.1.2 - Da Aquisição pelo Registro do Título ........................................................... 82 6.3.1.3 - Da Aquisição por Acessão ...........................................................................83 6.3.1.3.1 - Das ilhas ................................................................................................... 83 6.3.1.3.2 - Da Aluvião ................................................................................................. 83 6.3.1.3.3 - Da Avulsão ................................................................................................ 84 6.3.1.3.4 - Do Álveo Abandonado .............................................................................. 84 6.3.1.3.5 - Das Construções e Plantações ................................................................. 84 6.3.2 - Da Perda da Propriedade .................................................................................. 85 6.3.3 - Dos Direitos de Vizinhança ................................................................................ 85 6.3.3.1 - Do Uso Anormal da Propriedade ................................................................. 85 6.3.3.2 - Das Árvores Limítrofes ................................................................................ 85 6.3.3.3 - Da Passagem Forçada ................................................................................ 86 6.3.3.4 - Da Passagem de Cabos e Tubulações ........................................................ 86 6.3.3.5 - Das Águas ................................................................................................... 86 6.3.3.6 - Dos Limites entre Prédios e do Direito de Tapagem .................................... 86 6.3.3.7 - Do Direito de Construir ................................................................................ 87 6.4 - Do Condomínio Geral .............................................................................................. 87 7 6.4.1 - Do Condomínio Voluntário ................................................................................. 87 6.4.2 - Do Condomínio Necessário ............................................................................... 88 6.5 - Do Condomínio Edilício ........................................................................................... 88 6.6 - Da Propriedade Resolúvel ....................................................................................... 89 6.7 - Direitos Reais de Gozo ou Fruição sobre Coisas Alheias ........................................ 90 6.8 - Da Superfície ........................................................................................................... 90 6.9 - Das Servidões ......................................................................................................... 91 6.10 - Do Usufruto............................................................................................................ 91 6.11 - Do Uso ................................................................................................................... 92 6.12 - Da Habitação ......................................................................................................... 93 6.13 - Do Direito do Promitente Comprador ..................................................................... 93 6.14 - Direitos Reais de Garantia sobre Coisas Alheias ................................................... 93 6.14.1 - Disposições gerais sobre o penhor, hipoteca e a anticrese. ............................ 93 6.14.2 - Do Penhor ........................................................................................................ 95 6.14.3 - Da Hipoteca ..................................................................................................... 95 6.15 -Da Anticrese ........................................................................................................ 97 7. LEI Nº 4.591, DE 16 DE DEZEMBRO DE 1964 .............................................................. 98 7.1 - Do Condomínio ........................................................................................................ 99 7.2 - Das Incorporações ................................................................................................... 99 7.2.1 - Da Construção de Edificação em Condomínio ................................................. 100 7.2.1.1 - Da Construção por Empreitada .................................................................. 101 7.2.1.2 - Da Construção por Administração ............................................................. 101 7.2.2 - Das Infrações ................................................................................................... 102 8.LEI No 6.766, DE 19 DE DEZEMBRO DE 1979 - Dispõe sobre o Parcelamento do Solo Urbano e dá outras Providências .............................................................................. 103 9.1 LEI Nº 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990 - Dispõe sobre a proteção do consumidor ....................................................................................................................... 109 9.1 – Definições e Conceitos ..........................................................................................110 9.2 - Da Responsabilidade pelo Fato do Produto e do Serviço .......................................110 9.3 - Da Responsabilidade por Vício do Produto e do Serviço ........................................111 9.4 - Da Decadência e da Prescrição ..............................................................................112 9.5 - Das Práticas Comerciais .........................................................................................113 9.5.1 – Da Oferta .........................................................................................................113 9.5.2 - Da Publicidade ..................................................................................................113 9.5.3 - Das Práticas Abusivas ......................................................................................114 8 9.5.4 - Da Cobrança de Dívidas ...................................................................................115 9.6 - Da Proteção Contratual ..........................................................................................115 9.6.1 - Das Cláusulas Abusivas ...................................................................................116 9.6.2 - Dos Contratos de Adesão .................................................................................116 10. LEI No 8.245, DE 18 DE OUTUBRO DE 1991 - Dispõe sobre as locações dos imóveis urbanos e os procedimentos a elas pertinentes. ...................................................118 10.1 - Da locação em geral .............................................................................................119 10.2 - Da locação residencial ......................................................................................... 121 10.3 - Da locação para temporada ................................................................................. 122 10.4 - Da locação não residencial .................................................................................. 122 11. LEI Nº 6.015, DE 31 DE DEZEMBRO DE 1973 - Dispõe sobre os registros públicos, e dá outras providências ........................................... 125 11.1 – Das atribuições ................................................................................................... 126 11.2 - Da Publicidade ..................................................................................................... 126 11.3 - Do Registro Civil das Pessoas Naturais ............................................................... 127 11.4 - Do Registro Civil de Pessoas Jurídicas................................................................ 127 11.5 - DoRegistro de Títulos e Documentos .................................................................. 128 11.6 - Do Registro de Imóveis ........................................................................................ 129 12. LEI Nº 6.530, DE 12 DE MAIO DE 1978 E SEU INSTRUMENTO. REGULAMENTADOR, 13. O DECRETO Nº 81.871, DE 29 DE JUNHO DE 1978. ............................................... 131 RESOLUÇÃO-COFECI Nº 146/82 - Aprova o Código de Processo Disciplinar. ................ 136 13.1 - Da jurisdição ........................................................................................................ 137 13.2 - Do Processo Disciplinar ....................................................................................... 137 13.2.1 - Do Auto de Infração ....................................................................................... 138 13.2.2 - Da Representação ......................................................................................... 139 13.3 – Dos Recursos ..................................................................................................... 139 Resolução-COFECI n.º 326/92 - Institui o Código de Ética Profissional .......................... 141 QUESTÕES ...................................................................................................................... 144 GABARITO ....................................................................................................................... 171 BIBLIOGRAFIA ................................................................................................................. 172 9 APRESENTAÇÃO Destina-se, o presente trabalho, a introduzir aquele estudante ou o Técnico em Transações Imobiliárias nos fundamentos dos atos e fatos jurídicos relacionados exclusivamente com o exercício da profissão de Corretor de Imóveis. Justamente pelo modesto objetivo, aqui não se aprofundou em discussões doutrinárias e teóricas que sobram no mundo do direito. Alguns temas da disciplina Direito de Legislação coincidem com os de outras disciplinas. Nesse caso procurou-se conceituar e discorrer sobre as conseqüências sob o ponto de vista estritamente jurídico, deixando o ensino da prática a essas outras disciplinas. Dado ao foco, procurou-se incluir os tópicos diretamente relacionados à profissão de Corretor de Imóveis, deixando de lado temas não menos importantes. Nesse sentido, certas disposições, direitos e obrigações não foram sequer analisadas, ou o foram superficialmente, considerando que o objeto profissional do Corretor é o imóvel. Deve-se, claro, recomendar a continuação dos estudos jurídicos, mesmo como forma de aperfeiçoamento pessoal. O autor. 10 1 DECRETO-LEI Nº 4.657, DE 4 DE SETEMBRO DE 1942 - Lei de Introdução ao Código Civil Brasileiro. 11 O tema central da Lei de Introdução do Código Civil é a própria lei, na medida em que versa sobre a vigência dela, sua revogação, da impossibilidade de alegar-se o seu desconhecimento, da aplicação da lei e de suas lacunas, da interpretação da lei e sua eficácia no tempo e no espaço. A publicação no Diário Oficial é a forma de tornar a lei pública e, portanto, de conhecimento geral. Ninguém se escusa de cumprir a lei, alegando que não a conhece. A presunção de que todos conhecem a lei não corresponde à realidade, dada a quantidade de leis existentes e à sanha legiferante do executivo. A lei, para ser imperativa, deve estar em vigor. A maioria delas costuma indicar a data da partir de quando entrará em vigor. Todavia, se uma lei nada dispuser a respeito, entrará ela em vigor 45 dias após a publicação oficial, no território nacional, e em 3 meses nos países estrangeiros onde se admite a legislação pátria. O intervalo de tempo compreendido entre a data da publicação da lei e sua entrada em vigor denomina-se vacatio legis. O instituto da vacância da lei objetiva a concessão de prazo para que todos se adaptem à nova lei. O novo Código Civil passou a vigorar após um período de vacatio legis. Via de regra a lei vigorará por tempo indeterminado, até que uma outra lei posterior a modifique ou revogue. Mas a lei nova deve ter hierarquia igual ou superior a da lei modificada ou revogada. Há casos em que a lei é de vigência temporária, principalmente para atender situações extremes, mas passageira. A lei não é capaz de prever todas as situações jurídicas, e sendo omissa deve o juiz decidir o caso de acordo com a analogia, os costumes e os princípios gerais de direito. A aplicação da lei ao caso concreto deve sempre atender aos fins sociais a que ela se dirige e às exigências do bem comum. Uma vez em vigor, a lei tem efeito imediato e geral, mas deve respeitar o ato jurídico perfeito, o direito adquirido e a coisa julgada. Ato jurídico perfeito é o já consumado segundo a lei vigente ao tempo em que se efetuou. Direito adquirido é aquele que o seu titular pode exercer, pessoalmente ou por terceiros, ou aquele cujo começo do exercício tenha termo pré- fixo, ou condição pré-estabelecida inalterável, a arbítrio de outrem. Chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não caiba recurso. 12 2 DAS PESSOAS 13 2.1 - Das pessoas naturais Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na vida civil, ou seja, tem personalidade que a autoriza a ser titular de deveres e direitos nas relações jurídicas entre os homens. A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida e termina com a morte. A respiração é considerada como sendo a prova mais eficaz do nascimento com vida. Todavia, desde a concepção a lei põe a salvo os direitos do nascituro, ser já concebido, mas que está por nascer. Nesse sentido, o nascituro pode herdar, receber doações e legados, ser adotado, figurar como sujeito ativo e passivo de diretos e obrigações. A capacidade civil é a aptidão da pessoa para ser titular, ou seja, exercer direitos e assumir obrigações na ordem civil. Apesar de toda pessoa ser titular de diretos e deveres, necessariamente não significa que ela possa exercê-los plenamente. Há casos em que a lei protege determinados grupos de pessoas, considerando a idade, saúde e o desenvolvimento intelectual, impedindo-os de exercer pessoalmente seus direitos. A esse grupo de pessoas dá-se a denominação de incapazes. Assim, a incapacidade pode ser entendida como a vedação imposta pela lei para a prática pessoal de direitos e obrigações, não obstante a pessoa ser titular desses direitos e deveres. Ela pode ser absoluta ou relativa. São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de dezesseis anos, os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos, e os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. A determinação da capacidade da pessoa é de suma importância para a validade do negócio jurídico, pois ele é nulo quando celebrado por pessoa absolutamente incapaz. E sendo nulo não gera nenhum efeito. No exercício de diretos e deveres os absolutamente incapazes são representados 14 pelo pai, tutor ou curador, que pratica ato jurídico em nome ou pelo absolutamente incapaz. São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer, os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos, os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido, os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo, os pródigos. O negócio jurídico celebrado por pessoa relativamente incapaz é anulável. A lei permite aos relativamente incapazes a prática de atos jurídicos, mas condiciona essa prática a assistência do pai, tutor ou curador, ou seja, de uma pessoa plenamentecapaz, que se posta ao lado do relativamente incapaz, auxiliando-o na prática do ato jurídico e integrando-lhe a capacidade. A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Todavia, cessará, para os menores, a incapacidade pela emancipação concedida pelos pais, pelo casamento, pelo exercício de emprego público efetivo, pela colação de grau em curso de ensino superior, pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego no qual, o menor, com dezesseis anos completos tenha economia própria. Uma vez ocorrida a emancipação ela se torna irrevogável e definitiva. Quem se emancipou pelo exercício do comércio e depois faliu, quem se casou e depois ficou viúvo ou se divorciou não retorna à condição de incapaz. A existência da pessoa natural termina com a morte. Pode-se presumir a assim declará-la, sem decretação de ausência, depois de esgotadas as buscas e averiguações, nos casos em que é extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida, se o desaparecido em campanha ou feito prisioneiro não for encontrado até dois anos após o término da guerra. A morte presumida tem como conseqüência a abertura da sucessão definitiva quanto aos bens e a dissolução da sociedade conjugal. Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. 15 2.1.1 - Dos Direitos da Personalidade Os direitos da personalidade são a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, o nome e o pseudônimo. Eles são intransmissíveis e irrenunciáveis, não podendo o seu exercício sofrer limitação voluntária. Isto significa que o titular de direitos de personalidade não pode, exceto em casos específicos previstos em lei, transmitir esses diretos a outrem, não pode renunciar ou deles dispor voluntariamente. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Toda pessoa tem direito ao nome, nele compreendidos o prenome e o sobrenome. O nome da pessoa não pode ser empregado por outrem em publicações ou representações que a exponham ao desprezo público, ainda quando não haja intenção difamatória, nem se pode usar o nome alheio em propaganda comercial. 2.1.2 - Da Ausência A ausência ocorre quando uma pessoa desaparece do seu domicílio e dela não se tem mais notícia ou não tenha deixado representante ou procurador. Ao ausente será nomeado curador, que procederá a arrecadação dos bens. Os interessados poderão requerer a declaração de ausência e a abertura as sucessão provisória depois de decorrido um ano da arrecadação dos bens do ausente, ou três anos se ele deixou representante ou procurador. São considerados interessados na declaração de ausência o cônjuge não separado judicialmente, os herdeiros presumidos, legítimos ou testamentários, os que tiverem sobre os bens do ausente direito dependente de sua morte, e os credores de obrigações vencidas e não pagas. Dez anos depois da abertura da sucessão provisória poderão os interessados requerer a sucessão definitiva. Pode-se requerer a sucessão definitiva, também, provando-se que o ausente conta oitenta anos de idade e que as últimas notícias dele remontam a cinco anos. 16 2.2 - Das Pessoas Jurídicas Pessoa jurídica é a entidade constituída de homens ou bens com vida, direitos, obrigações e patrimônio próprios. São de direito público, interno ou externo, e de direito privado. A existência legal das pessoas jurídicas de direito privado começa com a inscrição do ato constitutivo no respectivo registro. São pessoas jurídicas de direito público interno a União, os Estados, o Distrito Federal e os Territórios, os Municípios, as autarquias, e qualquer outra entidade de caráter público criada por lei. São pessoas jurídicas de direito público externo os Estados estrangeiros e todas as pessoas que forem regidas pelo direito internacional público. São pessoas jurídicas de direito privado as associações, as sociedades, e as fundações. Aplica-se às pessoas jurídicas, no que couber, a proteção dos direitos da personalidade. 2.2.1 - Das associações e das sociedades As associações são constituídas pela união de pessoas que se organizem para fins não econômicos, exercendo via de regra, atividades culturais, religiosas ou beneficentes. As sociedades são constituídas pela união de pessoas que se organizam visando fins econômicos, ou seja, visando o lucro. São exemplos a sociedade civil, a sociedade limitada, a sociedade anônima de economia mista. 2.2.2 – Das Fundações 17 Fundação é a pessoa jurídica composta pela organização de um patrimônio, destacado pelo seu instituidor para fins religiosos, morais, culturais ou de assistência. A fundação possui apenas patrimônio gerido por curadores e não tem proprietário, nem titular, nem sócios. 2.3 - O Domicílio O domicílio da pessoa natural é o lugar onde ela estabelece a sua residência com ânimo definitivo. Todavia, se a pessoa tiver diversas residências, vivendo nelas alternadamente, qualquer delas poderá ser considerada seu domicílio. O domicílio também pode ser o local de trabalho ou o lugar onde a pessoa mantém o centro de suas ocupações, ou, ainda, o lugar onde for encontrada, se não tiver residência fixa ou centro de ocupações habituais. O domicílio das pessoas jurídicas é o lugar onde funcionarem as respectivas diretorias e administrações, ou onde elegerem domicílio especial no seu estatuto ou atos constitutivos. Tendo a pessoa jurídica diversos estabelecimentos em lugares diferentes, cada um deles será considerado domicílio para os atos nele praticados. O domicílio pode ser classificado como voluntário, legal e de eleição. Voluntário é aquele estabelecido por critério exclusivo do indivíduo, sem qualquer interferência exceto sua manifestação de vontade. Legal ou necessário é aquele fixado por lei para determinadas pessoas. Domicílio de eleição é aquele especificado por comum acordo das partes contratantes. 18 3 DOS BENS 19 Bens são as coisas de quantidades limitadas com utilidade ao homem e que nele provoca o desejo de possuí-las. Conforme as suas características têm diversas classificações, a saber. 3.1 - Dos bens considerados em si mesmos 3.1.1 -Dos Bens Imóveis São bens imóveis o solo e tudo quanto se lhe incorporar natural ou artificialmente. Também são considerados imóveis, para efeitos legais, os direitos reais sobre imóveis e as ações que os asseguram e o direito à sucessão aberta. Não perdem o caráter de imóveis as edificações que, separadas do solo, mas conservando a sua unidade, forem removidas para outro local, e os materiais provisoriamente separados de um prédio, para nele se reempregarem. 3.1.2 - Dos Bens Móveis São móveis os bens suscetíveis de movimento próprio, ou de remoção por força alheia, sem alteração da substância ou da destinação econômico-social. Também são considerados móveis, para efeitos legais, as energias que tenham valor econômico, os direitos reais sobre objetos móveis e as ações correspondentes, e os direitos pessoais de caráter patrimonial e respectivas ações. Os materiais destinados a alguma construção, enquanto não forem empregados, conservam sua qualidade de móveis; readquirem essa qualidade os provenientes da 20 demolição de algum prédio. 3.1.3 - Dos Bens Fungíveis e Consumíveis São fungíveis os móveis que podem substituir-se por outros da mesma espécie, qualidade e quantidade. Infungíveis são os que não podem ser substituídos, valendo pela sua individualidade.São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação. Inconsumíveis, são os bens móveis de natureza durável. 3.1.4 - Dos Bens Divisíveis Bens divisíveis são os que se podem fracionar sem alteração na sua substância, diminuição considerável de valor, ou prejuízo do uso a que se destinam. É exemplo a gleba de lote rural, a barra de ouro. Indivisíveis são os bens que não admitem divisão. 3.1.5 - Dos Bens Singulares e Coletivos São singulares os bens que, embora reunidos, se consideram de per si, independentemente dos demais. São coletivos os bens singulares que, pertinentes à mesma pessoa, tenham destinação unitária. 21 3.2 - Dos Bens Reciprocamente Considerados Principal é o bem que existe sobre si, abstrata ou concretamente. Acessório é aquele cuja existência supõe a do principal. São pertenças os bens que, não constituindo partes integrantes, se destinam, de modo duradouro, ao uso, ao serviço ou ao aformoseamento de outro. Os negócios jurídicos que dizem respeito ao bem principal não abrangem as pertenças, salvo se o contrário resultar da lei, da manifestação de vontade, ou das circunstâncias do caso. Apesar de ainda não separados do bem principal, os frutos e produtos podem ser objeto de negócio jurídico. As benfeitorias podem ser voluptuárias, úteis ou necessárias. São voluptuárias as de mero deleite ou recreio, que não aumentam o uso habitual do bem, ainda que o tornem mais agradável ou sejam de elevado valor. São úteis as que aumentam ou facilitam o uso do bem. São necessárias as que têm por fim conservar o bem ou evitar que se deteriore. Não se consideram benfeitorias os melhoramentos ou acréscimos sobrevindos ao bem sem a intervenção do proprietário, possuidor ou detentor. 3.3 - Dos Bens Públicos São públicos os bens do domínio nacional pertencentes às pessoas jurídicas de direito público interno; todos os outros são particulares, seja qual for a pessoa a que pertencerem. Também são bens públicos os de uso comum do povo, tais como rios, mares, estradas, ruas e praças, os de uso especial, tais como edifícios ou terrenos destinados a serviço ou estabelecimento da administração federal, estadual, territorial ou municipal, inclusive os de suas autarquias, e os dominicais, que constituem o patrimônio das pessoas jurídicas de direito público, como objeto de direito pessoal, ou real, de cada uma dessas entidades. 22 Os bens públicos de uso comum do povo e os de uso especial são inalienáveis, enquanto conservarem a sua qualificação. Os bens públicos dominicais podem ser alienados desde que observadas as exigências da lei. Em qualquer hipótese os bens públicos não estão sujeitos a usucapião. 23 4 FATOS JURÍDICOS 24 4.1 - Fatos, atos e negócios jurídicos. Fato jurídico é o acontecimento que produz conseqüências jurídicas. O fato jurídico pode decorrer da natureza, como os efeitos de uma ventania, ou de uma ação humana, criando, transferindo, modificando, ou extinguindo direitos e obrigações. É importante diferenciar ato jurídico de negócio jurídico. O primeiro é o acontecimento que tem seus limites estabelecidos pela lei, tanto na forma, nos termos quanto nos efeitos. O segundo, o negócio jurídico, é o ato lícito que faculta às partes de estabelecerem a fixação dos termos e dos efeitos, de acordo com seus interesses particulares. A validade do negócio jurídico requer agente capaz, objeto lícito, possível, determinado ou determinável, e forma prescrita ou não defesa em lei. A realização de negócio jurídico tem como pressuposto uma declaração de vontade. Aquele que a emite deve ter capacidade, ou seja, estar consciente da declaração de vontade e das suas conseqüências. Havendo incapacidade absoluta ou relativa, deve o agente ser representando ou suprido. A liceidade do objeto visa garantir a obediência dos negócios ao ordenamento jurídico na medida em que não permite negócios jurídicos que vão encontro à lei, a moral ou aos bons costumes. Ressalta-se que a impossibilidade inicial do objeto não invalida o negócio jurídico se for relativa, ou se cessar antes de realizada a condição a que ele estiver subordinado. Por fim, na realização do negócio jurídico é imprescindível a obediência à forma, ou seja, o meio pelo qual se ele exterioriza. A regra geral é de que a validade da declaração de vontade dependerá de forma especial somente quando a lei expressamente a exigir, sendo livre a forma nos demais casos. No negócio jurídico celebrado com a cláusula de não valer sem instrumento público, a sua ausência o invalida. A manifestação de vontade, mesmo que o autor haja feito a reserva mental de não querer o que manifestou, têm validade, exceto de o destinatário da manifestação tinha 25 conhecimento do desejo do declarante. Quando as circunstâncias ou os usos o autorizarem, e não for necessária a declaração de vontade expressa, o silêncio importa anuência. Nas declarações de vontade se atenderá mais à intenção nelas consubstanciada do que ao sentido literal da linguagem. Os negócios jurídicos devem ser interpretados conforme a boa-fé e os usos do lugar de sua celebração. Os negócios jurídicos benéficos e a renúncia interpretam-se estritamente. 4.2 - Da Representação Os poderes de representação são conferidos pela lei ou pelo interessado. A manifestação de vontade do representante, nos limites de seus poderes, produz efeitos em relação ao representado. O representante é obrigado a provar às pessoas, com quem tratar em nome do representado, a sua qualidade e a extensão de seus poderes, sob pena de, não o fazendo, responder pelos atos que a estes excederem. É anulável o negócio concluído pelo representante em conflito de interesses com o representado, se tal fato era ou devia ser do conhecimento de quem com aquele tratou. Realizado o negócio, o prazo de decadência para pleitear sua anulação é de cento e oitenta dias, a contar da conclusão do negócio ou da cessação da incapacidade. 4.3 - Da Condição, do Termo e do Encargo Considera-se condição a cláusula que subordina o efeito do negócio jurídico a evento 26 futuro e incerto. Deriva exclusivamente da vontade das partes. São lícitas todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública ou aos bons costumes. São proibidas as condições que privarem o negócio jurídico de todo efeito o sujeitar ao puro arbítrio de uma das partes. Invalidam os negócios jurídicos que lhes são subordinados as condições impossíveis (quando suspensivas), as ilícitas, as de fazer coisa ilícita, e as condições incompreensíveis ou contraditórias. A condição impossível é aquele em que o acontecimento necessário para a eficácia do ato jurídico é inatingível, inalcançável ou legalmente proibida. Condições suspensivas são aquelas em que a aquisição do direito fica na dependência de um evento futuro e incerto; enquanto este se não verificar, não se terá adquirido o direito. Condições resolutivas são aquelas em que o direito adquirido se desfaz quando ocorrer determinado evento; enquanto este não se realizar, vigorará o negócio jurídico. Termo é a definição do momento, do dia em que começam ou terminam os efeitos do negócio jurídico. O termo inicial suspende o exercício, mas não a aquisição do direito. Para estabelecimento do termo, salvo disposição legal ou convencional em contrário, computam-se os prazos, excluído o dia do começo, e incluído o do vencimento. Se o dia do vencimento cair em feriado, considerar-se-á prorrogado o prazo até o seguinte dia útil. Meado é considerado, em qualquer mês, o seu décimo quinto dia. Os prazos de meses e anos expiram no dia de igual número do deinício, ou no imediato, se faltar exata correspondência. Os prazos fixados por hora contar-se-ão de minuto a minuto. Estabelecido um negócio jurídico entre vivos sem fixação de prazo, ele é exeqüível desde logo, exceto se a execução tiver de ser feita em lugar diverso ou depender de tempo. O encargo é cláusula acessória que impõe um a obrigação ao beneficiário do ato jurídico. Não suspende a aquisição nem o exercício do direito, salvo quando expressamente imposto no negócio jurídico, pelo disponente, como condição suspensiva. O encargo ilícito ou impossível será considerado não escrito, liberando o ato negocial 27 de qualquer restrição. Todavia, se constituir o motivo determinante da liberalidade será invalidado o negócio jurídico. 4.4 - Dos Defeitos do Negócio Jurídico O negócio jurídico tem como fundamento a livre e consciente manifestação de vontade com vistas a atingir os fins pretendidos. Se ela não é consciente ou o querer não se manifestou livremente, como nos casos de erro ou ignorância, dolo, coação, estado de perigo e lesão, o negócio jurídico pode ser anulado porque defeituoso. Há, também, manifestação de vontade que o agente quis e estava consciente, mas a fez em desacordo com as disposições legais ou do boa-fé, como no caso da fraude contra credores. 4.4.1 - Do Erro ou Ignorância Erro é a falsa noção sobre alguma coisa, enquanto a ignorância é o desconhecimento acerca de algo. Ambos viciam o consentimento do declarante, que teria se manifestado de outra maneira de conhecesse a realidade. São anuláveis os negócios jurídicos, quando as declarações de vontade emanarem de erro substancial que poderia ser percebido por pessoa de diligência normal, em face das circunstâncias do negócio. Erro substancial ou essencial é aquele que recai sobre a natureza do negócio, sobre o objeto principal da declaração, ou a alguma das qualidades a ele essenciais. Da mesma forma, erro substancial é aquele que recai sobre a identidade ou à qualidade essencial da pessoa a quem se refira a declaração de vontade, desde que tenha influído nesta de modo relevante. Ainda, erro substancial é aquele que ocorre quando for o motivo único ou principal do negócio jurídico, sendo de direito e não implicando recusa à aplicação da lei. 28 O ato jurídico somente é anulado por erro substancial ou essencial. Não acarreta nulidade o erro acidental ou secundário. O erro de indicação da pessoa ou da coisa, denominado erro acidental, a que se referir a declaração de vontade, não viciará o negócio quando, por seu contexto e pelas circunstâncias, se puder identificar a coisa ou pessoa cogitada. 4.4.2 - Do Dolo Dolo é o artifício ou expediente usado para enganar alguém. Os negócios jurídicos são anuláveis quando o dolo for a sua causa. Diferencia o dolo do erro porque a vontade neste é enganada espontaneamente, enquanto que naquele ela é provocada. O dolo é acidental quando, a seu despeito, o negócio seria realizado, embora por outro modo. Ele só obriga à satisfação das perdas e danos. Nos negócios jurídicos bilaterais, o silêncio intencional de uma das partes a respeito de fato ou qualidade que a outra parte haja ignorado, constitui omissão dolosa, provando-se que sem ela o negócio não se teria celebrado. Se ambas as partes procederem com dolo, nenhuma pode alegá-lo para anular o negócio, ou reclamar indenização. 4.4.3 - Da Coação Coação é a violência física ou moral que impede alguém de dispor livremente de sua vontade. A coação, para viciar a declaração da vontade, há de ser tal que incuta ao paciente fundado temor de dano iminente e considerável à sua pessoa, à sua família, ou aos seus bens. Não se considera coação a ameaça do exercício normal de um direito, nem o simples temor reverencial. 29 4.4.4 - Do Estado de Perigo Ocorre o estado de perigo quando alguém, premido da necessidade de salvar-se, ou a pessoa de sua família, de grave dano conhecido pela outra parte, assume obrigação excessivamente onerosa. 4.4.5 - Da Lesão Ocorre a lesão quando uma pessoa, sob premente necessidade, ou por inexperiência, se obriga a prestação manifestamente desproporcional ao valor da prestação oposta. 4.4.6 - Da Fraude Contra Credores Pratica fraude contra credores o devedor insolvente, ou na iminência de o ser, que onera ou aliena seus bens, desfalcando seu patrimônio em detrimento dos credores. Nesse caso, os credores poderão anular os negócios de transmissão gratuita de bens ou remissão de dívida. Serão igualmente anuláveis os contratos onerosos do devedor insolvente, quando a insolvência for notória, ou houver motivo para ser conhecida do outro contratante. 4.5 - Da Invalidade do Negócio Jurídico A desobediência quanto a forma prescrita em lei acarreta uma sanção que impede o negócio jurídico de produzir efeitos. Essa sanção é denominada nulidade, que pode ser 30 absoluta ou relativa. A nulidade absoluta caracteriza-se pela falta de algum elemento substancial do negócio jurídico, como, por exemplo, quando for celebrado por pessoa absolutamente incapaz, for ilícito, impossível ou indeterminável o seu objeto, quando o motivo determinante das partes for ilícito. Da mesma forma, nulo é o negócio jurídico quando não se reveste da forma prescrita em lei, tiver por objetivo fraudar lei imperativa, e quando a lei taxativamente o declarar nulo, ou proibir-lhe a prática, sem cominar sanção. Também é nulo negócio jurídico simulado, mas subsistirá o que se dissimulou, se válido for na substância e na forma. A simulação ocorre nos casos de declaração, confissão, condição ou cláusula não verdadeira, ao se antedatar ou pós-datar escritos particulares, ou, ainda, quando aparentarem conferir ou transmitir direitos a pessoas diversas daquelas às quais realmente se conferem, ou transmitem. A nulidade absoluta, por ser matéria de ordem pública, pode ser levantada a qualquer tempo, por qualquer pessoa; e não admite convalidação ou ratificação e não se sujeita a prescrição. A nulidade relativa caracteriza-se pela incapacidade relativa do agente ou por vício resultante de manifestação de vontade. A nulidade relativa só levantada pelo interessado direto. Pode ser convalidada com a ocorrência da prescrição, pela correção do vício, pela revogação da exigência legal ou pela ratificação. O prazo decadencial para anulação do negócio jurídico decorrente e vício de vontade é de quatro anos, contados conforme o vício. Quando a lei dispuser que determinado ato é anulável, sem estabelecer prazo para pleitear-se a anulação, será este de dois anos, a contar da data da conclusão do ato. Anulado o negócio jurídico, restituir-se-ão as partes ao estado em que antes dele se achavam, e, não sendo possível restituí-las, serão indenizadas com o equivalente. A invalidade do instrumento não induz a do negócio jurídico sempre que este puder provar-se por outro meio. Respeitada a intenção das partes, a invalidade parcial de um negócio jurídico não o prejudicará na parte válida, se esta for separável; a invalidade da 31 obrigação principal implica a das obrigações acessórias, mas a destas não induz a da obrigação principal. 4.6 - Dos Atos Ilícitos A distinção entre ato ilícito e negócio ilícito observa-se, sobretudo, quanto aos efeitos. O primeiro é punido com a ineficácia, enquanto o segundo gera a obrigação de reparar o dano. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Nãosão considerados atos ilícitos aqueles praticados em legítima defesa ou no exercício regular de direito ou a promoção da deterioração ou destruição da coisa alheia, ou a lesão a pessoa, a fim de remover perigo iminente, observados as circunstâncias e o limites. 4.7 - Da Prescrição e da Decadência O titular de direitos deve exercê-los no tempo e na forma estabelecida pela lei ou estabelecida particularmente, sob pena de caducidade e, de conseqüência, o perecimento do direito ou da possibilidade de cobrá-lo. 4.7-1 - Da Prescrição 32 A prescrição é a extinção de uma ação ajuizável em decorrência da inércia do seu titular, durante certo lapso de tempo. A prescrição extingue a pretensão e de conseqüência a possibilidade de se exigir um direito. A prescrição ocorre em dez anos, quando a lei não lhe haja fixado prazo menor. Especificamente afeta ao direito imobiliário, prescrevem em três anos a pretensão relativa a aluguéis de prédios urbanos ou rústicos, a pretensão para receber prestações vencidas de rendas temporárias ou vitalícias, a pretensão para haver juros, dividendos ou quaisquer prestações acessórias, a pretensão de ressarcimento de enriquecimento sem causa, a pretensão de reparação civil, a pretensão do beneficiário contra o segurador, e a do terceiro prejudicado, no caso de seguro de responsabilidade civil obrigatório. Prescrevem em cinco anos a pretensão de cobrança de dívidas líquidas constantes de instrumento público ou particular, a pretensão dos profissionais liberais, contado o prazo da conclusão dos serviços, da cessação dos respectivos contratos ou mandato, a pretensão do vencedor para haver do vencido o que despendeu em juízo. 4.7.2 - Da Decadência Decadência e extinção do direito em decorrência da inércia do seu titular, que deixa escoar o prazo legal ou convencionado, para o seu exercício. Enquanto a prescrição extingue a pretensão, pois o inerte perde a possibilidade de ajuizar ação para fazer valer um direito, na decadência ele perde o próprio direito e extingue-se não só a pretensão, mas o próprio direito pelo não exercício. 33 5 DO DIREITO DAS OBRIGAÇÕES 34 “Obrigação é a relação jurídica, de caráter transitório, estabelecida entre devedor e credor e cujo objeto consiste numa prestação pessoal econômica, positiva ou negativa, devida pelo primeiro ao segundo, garantindo-lhe o adimplemento através do seu patrimônio” (Washington de Barros Monteiro). A prestação ou contraprestação deve ser possível, licita, determinada ou determinável, e traduzível em dinheiro. 5.1 - Das Modalidades das Obrigações As obrigações dividem-se em obrigações de dar ou restituir, obrigações de fazer, ou de não fazer. 5.1.1 - Das Obrigações de Dar Essas obrigações relacionam-se a obrigatoriedade de entregar alguma coisa, que poderá ser certa, determinada e específica ou incerta, indeterminada ou genérica. Via de regra as obrigações incertas tratam sobre coisas fungíveis, e as obrigações certas sobre coisas infungíveis. 5.1.1.1 - Das Obrigações de Dar Coisa Certa A obrigação de dar coisa certa abrange os acessórios dela mesmo que não mencionados, salvo se o contrário resultar do título ou das circunstâncias do caso. O credor de coisa certa não está obrigado a receber outra, ainda que mais valiosa. 35 As obrigações de dar e de restituir se resolvem conforme averiguação da existência de culpa do devedor. Nas obrigações de dar coisa certa, se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá este pelo equivalente e mais perdas e danos. Se deteriorada, poderá o credor exigir o equivalente, ou aceitar a coisa no estado em que se acha, com direito a reclamar indenização das perdas e danos. Nas obrigações de dar coisa certa, se a coisa se perder, sem culpa do devedor, antes da tradição, ou pendente a condição suspensiva, fica resolvida a obrigação para ambas as partes. Se deteriorada a coisa, poderá o credor resolver a obrigação, ou aceitar a coisa, abatido de seu preço o valor que perdeu. Apenas para ilustrar, tradição é a entrega da coisa feita pelo devedor ao credor, e obrigação resolvida é a obrigação finda, extinta. Se a obrigação for de restituir coisa certa, e esta, sem culpa do devedor, se perder antes da tradição, sofrerá o credor a perda, e a obrigação se resolverá, ressalvados os seus direitos até o dia da perda. Se a coisa se perder por culpa do devedor, responderá, este, pelo equivalente, mais perdas e danos. Se a coisa restituível se deteriorar sem culpa do devedor, recebê-la-á o credor, tal qual se ache, sem direito a indenização; se a perda resultar de culpa do devedor, responderá, este, pelo equivalente e mais perdas e danos. 5.1.1.2 - Das Obrigações de Dar Coisa Incerta A coisa incerta será indicada, ao menos, pelo gênero e pela quantidade. Nas coisas determinadas pelo gênero e pela quantidade, a escolha pertence ao devedor, se o contrário não resultar do título da obrigação; mas não poderá dar a coisa pior, nem será obrigado a prestar a melhor. 36 Antes da escolha, não poderá o devedor alegar perda ou deterioração da coisa, ainda que por força maior ou caso fortuito. 5.1.2 - Das Obrigações de Fazer A obrigação de fazer relaciona-se com o encargo de prestar um serviço, um ato positivo, material ou imaterial, em benefício do credor ou terceiro. Bem exemplifica a obrigação de fazer o encargo aceito pelo pedreiro para construir um muro. O devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele exeqüível incorrerá na obrigação de indenizar perdas e danos. Se a prestação do fato tornar-se impossível sem culpa do devedor, resolver-se-á a obrigação; se por culpa dele, responderá por perdas e danos. Se o fato puder ser executado por terceiro, será livre ao credor mandá-lo executar as custas do devedor, havendo recusa ou mora deste, sem prejuízo da indenização cabível. Em caso de urgência, pode o credor, independentemente de autorização judicial, executar ou mandar executar o fato, sendo depois ressarcido. 5.1.3 - Das Obrigações de Não Fazer A obrigação de não fazer relaciona-se com o encargo de abster-se obrigatoriamente de um fato que poderia praticar, de tolerar, consentir ou não impedir. Extingue-se a obrigação de não fazer, desde que, sem culpa do devedor, se lhe torne impossível abster-se do ato, que se obrigou a não praticar. Se aquele que se obrigou a abster-se de praticar o ato o fizer, o credor pode exigir seu 37 desfazimento, sob pena de o próprio credor o desfazer a custa do devedor, que responderá também por perdas e danos. Em caso de urgência, poderá o credor desfazer ou mandar desfazer, sem prejuízo do ressarcimento devido. 5.1.4 - Das Obrigações Alternativas Obrigação alternativa é aquela que tem por objeto duas ou várias prestações que são devidas de tal maneira que o devedor se libere inteiramente executando uma “só dentre elas” (Planiol). Nas obrigações alternativas, a escolha cabe ao devedor, se outra coisa não se estipulou, mas ele não pode obrigar o credor a receber parte em uma prestação e parte em outra. Quando a obrigação for de prestações periódicas, a faculdade de opção poderá ser exercida em cada período. Se uma das duas prestações não puder ser objeto de obrigação ou se tornada inexeqüível, subsistirá o débito quanto à outra. Se, por culpa do devedor, não se puder cumprir nenhuma das prestações, não competindo ao credor a escolha, ficará aquele obrigado a pagar o valor da que por último se impossibilitou, mais as perdas e danos que o caso determinar. Quando a escolha couber ao credor e uma das prestações tornar-se impossível por culpa do devedor, o credor terá direito de exigir a prestação subsistente ou o valor daoutra, com perdas e danos; se, por culpa do devedor, ambas as prestações se tornarem inexeqüíveis, poderá o credor reclamar o valor de qualquer das duas, além da indenização por perdas e danos. Se todas as prestações se tornarem impossíveis sem culpa do devedor, extinguir-se-á a obrigação. 38 5.1.5 - Das Obrigações Divisíveis e Indivisíveis Obrigação divisível é aquela cuja prestação o devedor pode cumprir a obrigação por partes. Havendo mais de um devedor ou mais de um credor em obrigação divisível, esta presume-se dividida em tantas obrigações, iguais e distintas, quantos os credores ou devedores. A obrigação é indivisível quando a prestação tem por objeto uma coisa ou um fato não suscetíveis de divisão. Se, havendo dois ou mais devedores, a prestação não for divisível, cada um será obrigado pela dívida toda. O devedor, que paga a dívida, sub-roga-se no direito do credor em relação aos outros coobrigados. Perde a qualidade de indivisível a obrigação que se resolver em perdas e danos. 5.1.6 - Das Obrigações Solidárias Há solidariedade, quando na mesma obrigação concorre mais de um credor, ou mais de um devedor, cada um com direito, ou obrigado, à dívida toda. A solidariedade não se presume, resulta da lei ou da vontade das partes. A obrigação solidária pode ser pura e simples para um dos co-credores ou co- devedores, e condicional, ou a prazo, ou pagável em lugar diferente, para o outro. 5.1.6.1 - Da Solidariedade Ativa Cada um dos credores solidários tem direito a exigir do devedor o cumprimento da prestação por inteiro. 39 Enquanto alguns dos credores solidários não demandarem o devedor comum, a qualquer daqueles poderá este pagar. O pagamento feito a um dos credores solidários extingue a dívida até o montante do que foi pago. Convertendo-se a prestação em perdas e danos, subsiste, para todos os efeitos, a solidariedade. O credor que tiver remitido a dívida ou recebido o pagamento responderá aos outros pela parte que lhes caiba. 5.1.6.2 - Da Solidariedade Passiva O credor tem direito a exigir e receber de um ou de alguns dos devedores, parcialmente ou totalmente, a dívida comum; se o pagamento tiver sido parcial, todos os demais devedores continuam obrigados solidariamente pelo resto. O pagamento parcial feito por um dos devedores e a remissão por ele obtida não aproveitam aos outros devedores, senão até à concorrência da quantia paga ou relevada. A cláusula, condição ou obrigação adicional, qualquer que seja ela, estipulada entre um dos devedores solidários e o credor, não poderá agravar a posição dos outros sem consentimento destes. Impossibilitando-se a prestação por culpa de um dos devedores solidários, subsiste para todos o encargo de pagar o equivalente; mas pelas perdas e danos só responde o culpado. Todos os devedores respondem pelos juros da mora, ainda que a ação tenha sido proposta somente contra um; mas o culpado responde aos outros pela obrigação acrescida. O credor pode renunciar à solidariedade em favor de um, de alguns ou de todos os devedores. Se o credor exonerar da solidariedade um ou mais devedores, subsistirá a dos 40 demais. 5.2 - Da Transmissão das Obrigações 5.2.1 - Da Cessão de Crédito Na cessão de crédito, o credor (cedente) pode transferir a terceiro (cessionário) o direito que possui em relação ao devedor (cedido), se a isso não se opuser à natureza da obrigação, a lei, ou a convenção com o devedor. A cláusula proibitiva da cessão não poderá ser oposta ao cessionário de boa-fé, se não constar do instrumento da obrigação. A cessão do crédito não tem eficácia em relação ao devedor, senão quando a este notificada. Salvo estipulação em contrário, o cedente não responde pela solvência do devedor. O cedente, responsável ao cessionário pela solvência do devedor, não responde por mais do que daquele recebeu, com os respectivos juros; mas tem de ressarcir-lhe as despesas da cessão e as que o cessionário houver feito com a cobrança. O crédito, uma vez penhorado, não pode mais ser transferido pelo credor que tiver conhecimento da penhora; mas o devedor que o pagar, não tendo notificação dela, fica exonerado, subsistindo somente contra o credor os direitos de terceiro. 5.2.2 - Da Assunção de Dívida É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da assunção, era insolvente e o credor o ignorava. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor 41 para que consinta na assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa. Salvo assentimento expresso do devedor primitivo, consideram-se extintas, a partir da assunção da dívida, as garantias especiais por ele originariamente dadas ao credor. Se a substituição do devedor vier a ser anulada, restaura-se o débito, com todas as suas garantias, salvo as garantias prestadas por terceiros, exceto se este conhecia o vício que inquinava a obrigação. 5.3 - Do Adimplemento e Extinção das Obrigações O ato de cumprir a obrigação é denominado adimplemento. A obrigação pode ser extinta com o pagamento, com a dação em pagamento, com a novação, a compensação, a transação, confusão e a remissão de dívidas. 5.3.1 - Do Pagamento O pagamento é o cumprimento dado a uma obrigação, em dinheiro ou coisa. 5.3.1.1 - De Quem Deve Pagar Qualquer interessado na extinção da dívida pode pagá-la, usando, se o credor se opuser, dos meios conducentes à exoneração do devedor. Igual direito cabe ao terceiro não interessado, se o fizer em nome e à conta do devedor, salvo oposição deste. Só terá eficácia o pagamento que importar transmissão da propriedade, quando feito 42 por quem possa alienar o objeto em que ele consistiu. Se se der em pagamento coisa fungível, não se poderá mais reclamar do credor que, de boa-fé, a recebeu e consumiu, ainda que o solvente não tivesse o direito de aliená-la. 5.3.1.2 - Daqueles a Quem se Deve Pagar O pagamento deve ser feito ao credor ou a quem de direito o represente, sob pena de só valer depois de por ele ratificado, ou tanto quanto reverter em seu proveito. O pagamento feito de boa-fé ao credor putativo é válido, ainda provado depois que não era credor. Não tem validade o pagamento cientemente feito ao credor incapaz de quitar, se o devedor não provar que em benefício dele efetivamente reverteu. 5.3.1.3 - Do Objeto do Pagamento e Sua Prova O credor não é obrigado a receber prestação diversa da que lhe é devida, ainda que mais valiosa. Ainda que a obrigação tenha por objeto prestação divisível, não pode o credor ser obrigado a receber, nem o devedor a pagar, por partes, se assim não se ajustou. As dívidas em dinheiro deverão ser pagas no vencimento, em moeda corrente e pelo valor nominal. É lícito convencionar o aumento progressivo de prestações sucessivas. Quando, por motivos imprevisíveis, sobrevier desproporção manifesta entre o valor da prestação devida e o do momento de sua execução, poderá o juiz corrigi-lo, a pedido da parte, de modo que assegure, quanto possível, o valor real da prestação. São nulas as convenções de pagamento em ouro ou em moeda estrangeira, bem como para compensar a diferença entre o valor desta e o da moeda nacional, excetuados os casos previstos na legislação especial. 43 O devedor que paga tem direito a quitação regular, e pode reter o pagamento, enquanto não lhe seja dada. A quitação designará o valor e a espécie da dívida quitada, o nome do devedor, ou quem por este pagou, o tempo e o lugar do pagamento, com a assinatura do credor, ou do seu representante. Quando o pagamento for em quotas periódicas, a quitação da última estabelece, até prova em contrário,a presunção de estarem solvidas as anteriores. Se o pagamento se houver de fazer por medida, ou peso, entender-se-á, no silêncio das partes, que aceitaram os do lugar da execução. 5.3.1.4 - Do Lugar do Pagamento Efetuar-se-á o pagamento no domicílio do devedor, salvo se as partes convencionarem diversamente, ou se o contrário resultar da lei, da natureza da obrigação ou das circunstâncias. Designados dois ou mais lugares, cabe ao credor escolher entre eles. Dívida quérable é a pagável no domicílio do devedor. Dívida portable é a pagável no domicílio do credor. Sendo o contrato omisso prevalecerá o domicílio do devedor como lugar do pagamento. Se o pagamento consistir na tradição de um imóvel, ou em prestações relativas a imóvel, far-se-á no lugar onde situado o bem. Ocorrendo motivo grave para que se não efetue o pagamento no lugar determinado, poderá o devedor fazê-lo em outro, sem prejuízo para o credor. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao previsto no contrato. 5.3.1.5 - Do Tempo do Pagamento 44 Salvo disposição legal em contrário, não tendo sido ajustada época para o pagamento, pode o credor exigi-lo imediatamente. As obrigações condicionais cumprem-se na data do implemento da condição, cabendo ao credor a prova de que deste teve ciência o devedor. Ao credor assistirá o direito de cobrar a dívida antes de vencido o prazo estipulado no contrato ou definido no Código Civil, desde que no caso de falência do devedor, ou de concurso de credores; se os bens hipotecados ou empenhados forem penhorados em execução por outro credor; ou, ainda, se cessarem ou se tornarem insuficientes as garantias do débito e o devedor se negar a reforçá-las. 5.3.2 - Pagamento em Consignação Pode o devedor efetuar o depósito judicial ou em estabelecimento bancário da coisa devida, sendo o ato considerado pagamento, extinguindo-se a obrigação. Pode ocorrer nos casos em que o credor não puder ou recusar, sem justa causa, receber o pagamento dar quitação na devida forma. Da mesma forma, cabe o pagamento em consignação caso o não for ou não mandar receber a coisa no lugar, no tempo e condição devidos; se ele for incapaz de receber; for desconhecido, declarado ausente, ou residir em lugar incerto ou de acesso perigoso ou difícil; se ocorrer dúvida sobre quem deva legitimamente receber o objeto do pagamento ou, ainda, se pender litígio sobre o objeto do pagamento. Para que a consignação tenha força de pagamento é imprescindível a observância dos requisitos do pagamento, ou seja, feita observando a identidade do credor, a prestação deve ser integral e efetuada na época acordada, ou se feita com atraso, acompanhada dos encargos da mora. Por fim, deve ocorrer no lugar estipulado para o pagamento. Enquanto o credor não declarar que aceita o depósito, ou não o impugnar, poderá o devedor requerer o levantamento, pagando as respectivas despesas, e subsistindo a obrigação para todas as conseqüências de direito. 45 5.3.3 - Do Pagamento com Sub-Rogação Sub-rogar tem o significado de trocar, substituir, colocar uma coisa ou pessoa no lugar de outra. A sub-rogação deve ser declarada expressamente no contrato, não se presumindo. Ocorre quando o credor recebe o pagamento de terceiro e lhe transfere todos os seus direitos. Ela transfere ao novo credor todos os direitos, ações, privilégios e garantias do primitivo, em relação à dívida, contra o devedor principal e os fiadores. Ela pode ser pessoal ou real. Na sub-rogação pessoal a dívida é paga por um co- devedor ou terceiro interessado. Na sub-rogação real substitui-se a coisa devida. A sub- rogação também pode ser legal ou convencional. No primeiro caso decorre de imposição legal e se manifesta nos casos em que o credor paga a dívida do devedor comum; em que terceiro efetiva o pagamento para não ser privado de direito sobre imóvel, em que terceiro interessado paga a dívida pela qual era ou podia ser obrigado, no todo ou em parte. No segundo caso, a sub-rogação convencional, decorre de estipulação de vontades entre o credor e terceiro ou entre o devedor e terceiro. 5.3.4 - Da imputação do Pagamento Imputar o pagamento significa indicar o que se está pagando. Ocorre quando a pessoa obrigada por dois ou mais débitos da mesma natureza, a um só credor, indica a qual deles oferece pagamento, se todos forem líquidos e vencidos. São requisitos a dualidade ou pluralidade de dívidas, a identidade do credor e devedor, débitos de natureza igual e suficiência de pagamento para qualquer das dívidas. 5.3.5 - Da Dação em Pagamento 46 O credor de coisa certa não pode ser obrigado a receber outra coisa, ainda que mais valiosa. Todavia, a coisa dada em pagamento, mesmo que diversa do estipulado, pode extinguir a obrigação desde que o credor concorde com a substituição. Determinado o preço da coisa dada em pagamento, as relações entre as partes regular-se-ão pelas normas do contrato de compra e venda. Se for título de crédito a coisa dada em pagamento, a transferência importará em cessão. Se o credor for evicto da coisa recebida em pagamento, restabelecer-se-á a obrigação primitiva, ficando sem efeito a quitação dada, ressalvo os direitos de terceiros. 5.3.6 - Da Novação A novação é a substituição de uma obrigação por outra. Ocorre a novação pela substituição do sujeito ativo ou do sujeito passivo ou do objeto da obrigação, surgindo uma nova relação jurídica, que extingue e substitui a anterior. A novação por substituição do devedor pode ser efetuada independentemente de consentimento deste. Se o novo devedor for insolvente, não tem o credor direito de ação regressiva contra o primeiro, salvo se este obteve por má-fé a substituição. A novação extingue os acessórios e garantias da dívida, sempre que não houver estipulação em contrário. Não aproveitará, contudo, ao credor ressalvar o penhor, a hipoteca ou a anticrese, se os bens dados em garantia pertencerem a terceiro que não foi parte na novação. A novação feita sem o consentimento fiador o exonera com o devedor principal. Não podem ser objeto de novação obrigações nulas ou extintas, exceto as obrigações simplesmente anuláveis, 47 5.3.7 - Da Compensação A compensação é uma modalidade de extinção de obrigação recíproca. Se duas pessoas forem, ao mesmo tempo, credores e devedores uma da outra, as duas obrigações extinguem-se, até onde se compensarem. A compensação efetua-se entre dívidas líquidas, vencidas e de coisas fungíveis. A diferença de causa nas dívidas não impede a compensação, exceto se provier de esbulho, furto ou roubo, se uma se originar de comodato, depósito ou alimentos, ou se uma for de coisa não suscetível de penhora. As partes podem, de comum acordo, estipular a exclusão da compensação, ou, ainda, no caso de renúncia prévia de uma delas. 5.3.8 - Da Confusão Se na mesma pessoa se confundir as qualidades de credor e devedor a obrigação será extinta. A confusão pode verificar-se a respeito de toda a dívida, ou só de parte dela. Cessando a confusão, para logo se restabelece, com todos os seus acessórios, a obrigação anterior. 5.3.9 - Da Remissão das Dívidas A remissão é o ato pelo qual o credor dispensa graciosamente o devedor de pagar a dívida. É um ato de liberalidade do credor, e bilateral, pois depende da concordância do devedor. A remissão pode ser total ou parcial, e pode produzir os mesmos efeitos que a transação. 48 A remissão da dívida extingue a obrigação, mas não pode prejudicar terceiro. 5.4 - Do Inadimplemento das Obrigações Inadimplir significa descumprir uma obrigação assumida. Essa inexecução gera uma série de conseqüências jurídicas, conforme
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