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TP II 12A APOSTILA DA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA

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12ª. APOSTILA 
DOS CRIMES CONTRA A PAZ PÚBLICA
Guilene Ladvocat
DA ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA
PRECEDENTES:
O Código Penal de 1830 e o de 1890 já adotavam em seu ordenamento jurídico aquilo que constitui o embrião do crime de quadrilha ou bando.
 
Trata-se do crime policial (contravenção) de ajuntamento ilícito, previsto no Código Penal no Império de 1830 no capítulo quarto. Segundo o artigo 285 desse código, considerava-se ajuntamento ilícito a reunião de três ou mais pessoas com a intenção de se ajudarem mutuamente para, dentre outros fins, cometerem algum delito. A pena de multa só era imposta quando se praticasse algum dos atos declarados no artigo 285, ou seja, para que existisse o crime de ajuntamento ilícito era necessário que o grupo cometesse algum crime. O artigo 288 previa que aquele que se retirasse do ajuntamento ilícito antes do cometimento de algum ato de violência não incorreria em pena alguma.[4]
 
A Lei 12.850/2013 trouxe uma nova redação do artigo 288 do Código Penal
O crime de quadrilha ou Bando hoje passa a ser reconhecido como ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA.
Enquanto a redação do Art 288 previa associarem-se mais de 03 (três) pessoas, o novo dispositivo exige o número MÍNIMO de 03 (três), por certo podendo comportar mais pessoas com o fim específico de cometer crimes. 
A lei entrou em vigor no dia 16 de setembro de 2013.
Desta forma, as principais alterações trazidas pela Lei 12.850/13
	ANÁLISE DO ANTIGO E DO NOVO DISPOSITIVO
	Redação nova - Associação Criminosa
	Redação antiga - Quadrilha ou bando
	Art. 288.  Associarem-se três ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes:
	Art. 288 – Associarem-se mais de três pessoas, em quadrilha ou bando, para o fim de cometer crimes:
	Pena – reclusão, de um a três anos.
	Pena – reclusão, de um a três anos.
	Parágrafo único. A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente.
	Parágrafo único – A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado.
 
Principais alterações: 
Alteração do nome iuris de quadrilha ou bando” para “associação criminosa”.
A quantidade mínima de agentes para a configuração do crime mudou de “quatro” para “três. 
OBS.: Hipótese de novatio legis in pejus, não podendo retroagir para prejudicar o réu, aplicando-se tão somente aos crimes cometidos após a vigência da nova lei.
 A causa de aumento de pena referente à associação armada foi reduzida do “dobro” para “metade”. 
OBS.: Hipótse de novatio legis in mellius, ou seja, de norma mais benéfica. Aplica-se retroativamente.
Acrescentou-se a causa de aumento de pena (1/6 até 1/2) na hipótese de participação de criança ou adolescente. Trata-se, pois, de norma mais gravosa. Aplica-se somente aos crimes cometidos após a vigência da nova lei.
OBS.: Uma vez que o crime de ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA é considerado crime permanente, ainda que a conduta tenha sido iniciada antes da vigência da nova Lei, (19/09/2013), ao continuar sendo executada à partir de então, será possível aplicar-se ao fato as circunstâncias mais gravosas.
Ao criar o tipo previsto no crime de quadrilha ou bando o propósito do legislador foi impedir que pessoas com más intenções viessem a conjugar seus esforços com o objetivo de praticar crimes. O mesmo raciocínio se aplica a associação criminosa.
Desta forma, a lei Penal objetiva oferecer uma proteção à paz pública em relação à existência de grupos que tenham como finalidade o cometimento de delitos. 
Segundo a redação do art. 288 do CP
Art. 288 - “Associarem-se 3 (três) ou mais pessoas, para o fim específico de cometer crimes”. 
Associar – reunir-se, aliar-se, congregar-se.
Associar-se, em quadrilha ou bando – significaria, portanto, a reunião estável, permanente, para fins de praticar indeterminado número de crimes.
PERMANENTE NÃO SIGNIFICA EXIGIR QUE SEJA PERPÉTUO.
IMPORTANTE: A associação deve destinar-se à prática de ilícitos, posto que a comunhão de desígnios é essencial para a caracterização do tipo.
De toda forma, se o bando ou quadrilha sequer realiza qualquer ilícito, já estará caracterizado o tipo penal do Bando ou Quadrilha.
Vejamos como Rogério Greco dispõe: “Não há necessidade, para efeitos de configuração do delito, que seja praticada uma única infração penal sequer em função da qual a quadrilha foi formada. Se houver a prática dos delitos em razão dos quais a quadrilha ou bando foi formado, haverá concurso material de crimes entre eles.
Ex.: (não caracterização) Um determinado grupo de pessoas resolve, em concurso de agentes, unir-se para praticar um crime de roubo. Após este fato, um ou todos, resolvem permanecer na vida criminosa, mas não mais se encontram para a realização de juntos praticarem novas empreitadas, agindo em concurso com pessoas diversas.
Ex.: (caracterização) Grupo que É CRIADO PARA O FIM DE PRATICAR CRIMES – com o desejo de reiterar se une para, por exemplo, assaltar a bancos. Assim, ainda que o assalto ao banco não se efetive, o crime previsto no art. 288 CP já restará configurado. Caso o assalto ocorra, haverá concurso de crimes entre o ilícito praticado e a quadrilha ou bando.
Jurisprudência: parei aqui 29/10/2015 
Quadrilha ou bando. Caracterização. Conceito. CP, art. 288.
«Para reconhecimento do crime de formação de quadrilha, basta que se prove a associação estável de mais de três pessoas, com o propósito de praticarem delitos diversos, da mesma natureza ou não, pouco importando que algum membro do bando não tenha sido identificado, desde que suficiente a demonstração de «concursus delinquentium» entre todos eles.»
PENAL. PROCESSUAL PENAL. ART. 288 DO CP. ESTABILIDADE E PERMANÊNCIA DO ÂNIMO ASSOCIATIVO. NÃO COMPROVAÇÃO. CONTINUIDADE DELITIVA. ART. 71 DO CP. CONFIGURAÇÃO. APELO MINISTERIAL PARCIALMENTE PROVIDO. APELO DE UM DOS ACUSADOS IMPROVIDO. EXTINÇÃO DA PUNIBILIDADE. PRESCRIÇÃO RETROATIVA.
1. Se no decorrer da instrução criminal não ficarem demonstradas a estabilidade e a permanência do ânimo associativo, para a prática de crimes, entre os réus, a absolvição é medida que se impõe, em face da não caracterização do crime previsto no artigo 288 do CP. PAREI AQUI URMA MANHA 05/05
DO PARÁGRAFO ÚNICO – 
CAUSA DE AUMENTO DE PENA
PARÁGRAFO ÚNICO - A pena aumenta-se até a metade se a associação é armada ou se houver a participação de criança ou adolescente.
A nova lei tornou mais benéfica à aplicação da pena, tendo em visa que o parágrafo único dispõe que a pena aumenta-se até a metade, embora tenha previsto a inserção de aumento para o caso de envolver criança ou adolescente, o que demonstra a preocupação do legislador com o número muito alto de envolvimento de menores e até mesmo de crianças nos crimes de associação criminosa.
se a associação estiver armada 
houver participação de criança ou adolescente.  
A antiga redação dizia: “A pena aplica-se em dobro, se a quadrilha ou bando é armado”
Quanto a arma, esta pode ser própria ou imprópria. Para Cleber Masson, a distinção entre arma própria e imprópria é:
 
Um instrumento concebido com a finalidade precípua de ataque ou defesa, como no caso de arma imprópria, é dizer, objetivo criado com finalidade diversa, mas que pode ser utilizado para ataque ou defesa. A arma branca, compreendida como instrumento dotado de ponta ou gume (faca, espada, machado etc) igualmente enseja o aumento da reprimenda (MASSON, C. p.978).
 
Assim, basta um dos integrantes da Associação Criminosa estar armado, para todos sofrerem o aumento da sanção penal, independente de porte ostensivo ou efetivo da utilização da arma, basta a sua posse.
 
TJMG. Quadrilha ou bando. Porte de arma por um deles. Comunicação aos demais. Viabilidade. CP, art. 288, parágrafo único.
«Não pode prosperar a alegação de que o porte de arma não se comunicaria a todos os integrantes da quadrilha, por somente um deles estar armado, uma vez que o parágrafo único do art. 288 do Código Penal não exige que,para a incidência desta causa de aumento, estejam todos os componentes do bando armados, bastando que um deles esteja, para a configuração do delito de quadrilha armada.»
Questão: Imaginemos a hipótese em que a associação é armada e, a associação dos agentes se dá para o fim de praticar roubo a mão armada (assalto a bancos). Imaginemos, ainda, que as armas utilizadas pelo grupo sejam de uso proibido. A aplicação do parágrafo único do art. 288 em concurso com o art. 157 § 2º. I, em concurso com o art. 16 da Lei 10.826/03 seria hipótese de bis in idem?
Art. 157 - Subtrair coisa móvel alheia, para si ou para outrem, mediante grave ameaça ou violência a pessoa, ou depois de havê-la, por qualquer meio, reduzido à impossibilidade de resistência: 
Pena - reclusão, de 4 (quatro) a 10 (dez) anos, e multa.
§ 2º - A pena aumenta-se de um terço até metade:
I - se a violência ou ameaça é exercida com emprego de arma;
Art. 16. Possuir, deter, portar, adquirir, fornecer, receber, ter em depósito, transportar, ceder, ainda que gratuitamente, emprestar, remeter, empregar, manter sob sua guarda ou ocultar arma de fogo, acessório ou munição de uso proibido ou restrito, sem autorização e em desacordo com determinação legal ou regulamentar:
Pena – reclusão, de 3 (três) a 6 (seis) anos, e multa.
Resposta: Embora o entendimento não seja pacífico, a maioria entende que Não! Nessa hipótese, os agentes responderão pelo crime de porte de arma, na forma do art. 16 da Lei nº 10.826/03, bem como pelos crimes de quadrilha ou bando armado, roubo, com a causa especial de aumento de pena, na forma prevista no art. 157, § 2º, inciso I, do CP, além do crime de contrabando, na forma do art. 344, caput, também do CP, todos em concurso material, sem que haja violação da regra nom bis in idem, quando a arma de fogo ou seus acessórios forem de uso proibido ou restrito, e ainda, porque o crime de quadrilha ou bando qualificado pelo emprego de arma se aperfeiçoa com a exposição do bem jurídico, paz pública, a perigo, sequer havendo a necessidade de efetiva prática de crimes, daí perigo abstrato. Já no caso de roubo, com pena especialmente aumentada pelo emprego de arma, é necessário para a sua consumação que, efetivamente, a grave ameaça, a violência ou a redução da capacidade de resistência da vítima tenha decorrido do emprego de arma.
Note-se, porém, que não sendo utilizada arma de fogo de uso proibido, não há que se falar na aplicação da norma inserta no art. 16 do Estatuto do Desarmamento, assim como não haverá o concurso do crime, com os crimes de quadrilha ou bando e roubo qualificado, pelo emprego de arma, quando a finalidade do agente for a associação para a prática de crimes, dentre eles o de roubo, vez que o emprego de arma é o meio de execução escolhido pelo agente para a perpetração dos crimes. Todavia, persistirá o concurso do crime de quadrilha ou bando armado (art. 288, parágrafo único) e outros crimes praticados, inclusive o roubo qualificado pelo emprego de arma (art. 157, § 2º, inciso I). 
Nesse sentido o STF já se manifestou, no RE Crim. nº 107.773, ementário 1.536-2 — DJ 07.04.1989, quando o ministro Otávio Gallotti esposou o entendimento de “que são susceptíveis, em tese, de acumulação, a qualificadora do roubo, pelo emprego de armas (art. 157, § 2º, I, do CP), com a figura qualificada da quadrilha armada (art. 288, par. único).”
Questão interessante:
Configura o crime de Associação Criminosa quando maiores se valem de um menor?
Se dois agentes, valendo-se de um menor de 09 anos praticam um crime, não há que se falar em Associação Criminosa, uma vez que este menor não tem consciência do que está praticando e tampouco de que está se associando. Para a caracterização do delito previsto no art. 288 CP é necessário liame subjetivo, domínio do fato. Nesta hipótese, seria CO-AUTORIA MEDIATA, ou seja, os agentes (maiores) seriam mandantes.
Entretanto, na hipótese de valerem-se de um adolescente que já possui entendimento, caracterizaria o ilícito, ainda que este não possa ser responsabilizado penalmente (inimputável)
POSICIONAMENTO CONTRÁRIO - Marcelo Fortes Barbosa: “Ora, a característica fundamental da inimputabilidade é a ausência de capacidade de entender e de querer ,e de autodeterminação e, conseqüentemente, do livre arbítrio, e, assim sendo, o menor não pode ser considerado pessoa para os fins de integralizar, com a sua participação associativa, o crime do art. 288 do Código Penal.”
Qual a diferença entre o concurso de agentes e a associação?
O crime de quadrilha ou bando distingue-se do concurso de agentes pelo vínculo entre os integrantes. Enquanto no concurso de agentes há somente um vínculo ocasional (mera reunião) para a prática de um ou até mesmo alguns crimes, na associação este vínculo é estável e tem duração indeterminada, ou seja, trata-se de uma forma de organização constituída para a prática de crimes em número indefinido. Outra diferença é que o concurso de agentes somente é verificado com a prática de um delito, o que não necessariamente deve ocorrer no caso de crime de associação.
 CONCURSO DE AGENTES CRIME DE ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA
Caráter provisório. Os participantes se 		 Caráter duradouro. Na ASSOCIAÇÃO CRIMINOSA 
associam para a prática de determinado os seus membros associam-se de forma estável e 
crime. 						 permanente
RESUMINDO – Uma vez ausente o vínculo associativo na união de três ou mais indivíduos para prática de um ou mais crimes, caracterizado está tão somente o concurso de pessoas (coautoria ou participação – art. 29 do CP. 
Na associação criminosa pouco importa se os crimes, para os quais foram constituídos, foram ou não praticados. Entretanto, para que se constitua a associação criminosa, é prescindível a existência de uma organização detalhadamente definida, com uma hierarquia entre seus membros e repartição prevista de funções entre cada um deles.
Classificação - O crime é plurissubjetivo, ou seja, de concurso necessário, uma vez que exige mais de três agentes para sua concretização. É um crime autônomo, ou seja, os participantes poderão ser processados por este crime, mesmo sem terem tido cometido nenhum outro delito. É um crime de perigo abstrato, pois se presume que o fato por si só já representa um risco para a paz social. É, ainda, um crime permanente, uma vez que a conduta se prolonga no tempo.
OBJETO JURÍDICO – paz pública.
Para Rogério Greco, significa: “A necessária sensação da tranquilidade, de segurança, de paz, de confiança que a nossa sociedade deve ter em relação à continuidade normal da ordem jurídico-social
SUJEITO ATIVO – qualquer pessoa (em concurso necessários)
OBS.: O agente responderá por este crime mesmo que os outros integrantes não tenham sido identificados ou ainda, que sejam inimputáveis.
Vejamos decisão proferida no HC 145765/RJ, J. 10/11/2009 pelo Superior Tribunal de Justiça quanto a existência de pessoas não identificadas:
 
Consoante jurisprudência desta Corte, para caracterização do crime quadrilha ou bando não é imprescindível que todos os coautores sejam identificados, bastando elementos que demonstrem a estabilidade da associação para a prática de crime.
 
Da mesma forma, não descaracteriza a Associação Criminosa fato de os integrantes não se conhecerem, senão vejamos a posição do Supremo Tribunal Federal no julgamento da AP 481/PA, j. 08/09/2011   
06/05
No crime de quadrilha ou bando pouco importa que seus componentes não se conheçam reciprocamente, que haja um chefe ou líder, que todos participem de cada ação delituosa ou que cada um desempenhe uma tarefa especifica, bastando que o fim almejado seja o cometimento de crimes pelo grupo.
 
Da mesma forma, se um dos agentes alcançar a extinção da sua punibilidade, isso não interfere no crime. A extinção é da pena, e não do crime.
Se um dos sujeitos ativos for absolvido e não estiver relatado nos autos a sua participação, o crime deAssociação Criminosa será descaracterizado, a não ser que existam ainda outras três pessoas.
 
SUJEITO PASSIVO – a sociedade
ELEMENTO SUBJETIVO – dolo
CONSUMAÇÃO – com a associação para fins de praticar crimes de forma reiterada, ainda que não se exija que os demais crimes sejam consumados.
TENTATIVA – em se tratando de crime permanente, comungo do entendimento de que não seria admitida, uma vez que a permanência exige a continuidade. Assim, como admitir a tentativa se para a caracterização do ilícito se requer o estado de permanência para a sua concretização? 
Presente a permanência, o crime está consumado. 
Não presente o estado de permanência, o fato é atípico.
Aplica-se o mesmo raciocínio dos crimes de curandeirismo, exercício ilegal da profissão, exploração à prostituição etc.
MODALIDADE QUALIFICADA – Art. 8º. Da Lei 8.072/90.
Art. 8º - Será de 3 (três) a 6 (seis) anos de reclusão a pena prevista no Art. 288 do Código Penal, quando se tratar de crimes hediondos, prática da tortura, tráfico ilícito de entorpecentes e drogas afins ou terrorismo.
Parágrafo único - O participante e o associado que denunciar à autoridade o bando ou quadrilha, possibilitando seu desmantelamento, terá a pena reduzida de 1 (um) a 2-3 (dois terços).
O Parágrafo único trata da delação, sendo admitida a diminuição de pena. Uma vez que esta causa de diminuição se encontra prevista no parágrafo único do art. 8º. da Lei, só seria aplicável aos crimes do art. 288 considerados hediondos. Este é o posicionamento de Guilherme Nucci.
Questão: O crime de associação criminosa é multitudinário?
Resposta - Não, o crime de quadrilha ou bando não é multitudinário. Crime multitudinário é aquele que se configura quando alguém, sob a influência de uma multidão vem a cometer um crime.
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