Baixe o app para aproveitar ainda mais
Esta é uma pré-visualização de arquivo. Entre para ver o arquivo original
INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAÇÃO, CIÊNCIA E TECNOLOGIA DO RIO GRANDE DO NORTE DIMAS LEOCÁDIO DA SILVA FILHO EIDSA BRENDA DA COSTA FERREIRA HOSANA DANTAS JÁCOME JOSICLEYTON AZEVEDO DOS SANTOS MALU LEHMANN A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DE UMA HERANÇA CONSTRUÍDA: Análise das manifestações patológicas da Igreja Matriz de Areia Branca- RN MOSSORÓ – RN 2017 DIMAS LEOCÁDIO DA SILVA FILHO EIDSA BRENDA DA COSTA FERREIRA HOSANA DANTAS JÁCOME JOSICLEYTON AZEVEDO DOS SANTOS MALU LEHMANN A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DE UMA HERANÇA CONSTRUÍDA: Análise das manifestações patológicas da Igreja Matriz de Areia Branca- RN Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso Técnico Integrado em Edificações do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências legais como requisito parcial à obtenção do título de Técnico em Edificações Orientador: Sandra Renúzia MOSSORÓ – RN 2017 DIMAS LEOCÁDIO DA SILVA FILHO EIDSA BRENDA DA COSTA FERREIRA HOSANA DANTAS JÁCOME JOSICLEYTON AZEVEDO DOS SANTOS MALU LEHMANN A IMPORTÂNCIA DA PRESERVAÇÃO DE UMA HERANÇA CONSTRUÍDA: Análise das manifestações patológicas da Igreja Matriz de Areia Branca- RN Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso Técnico Integrado em Edificações do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte, em cumprimento às exigências legais como requisito parcial à obtenção do título de Técnico em Edificações Trabalho de Conclusão de Curso apresentado e aprovado em ___/___/____, pela seguinte Banca Examinadora: ______________________________________________________________ Nome do Prof Orientador - Presidente Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte ______________________________________________________________ Nome do Prof convidado, Membro da banca - Examinadora Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte ______________________________________________________________ Nome do Prof convidado, Membro da banca - Examinadora Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Rio Grande do Norte RESUMO A preservação dos traços arquitetônicos originais de um edifício histórico deve ser considerada fundamentalmente como um cuidado primordial e imprescindível. Tendo em vista que muitas vezes se trata de um registro que faz parte do contexto de desenvolvimento da identidade de um povo, deve existir sempre o interesse de se preservar essas construções que foram deixadas como herança cultural através de gerações. Nesse sentido, o trabalho empreendido consiste no estudo do patrimônio mais antigo de um centro urbano, a igreja. A partir desse objeto de estudo, objetiva- se identificar as manifestações patológicas que acometem o templo e com base nos resultados dessa análise desses problemas, sugere-se a realização de estudos específicos para a elaboração de um sistema de manutenção adequado para tratá- los. Dentro dos procedimentos metodológicos utilizados, foi realizada uma pesquisa exploratória com abordagem qualitativa. Os dados foram obtidos a partir de documentos, bibliográficas e vistorias no edifício clerical. A partir do trabalho realizado, foi possível identificar diversos problemas de ordem patológica e não patológica, muitos deles indicando deficiências nas atividades de manutenção realizadas no edifício. Desse modo, concluiu-se que as construções antigas requerem um cuidadoso planejamento de manutenção preventiva, que por sua vez pode evitar futuras complicações e dessa forma previne prováveis intervenções dispendiosas, que ferem a originalidade do patrimônio. Palavras-chave: Manutenção. Igreja. Preservação. Manifestações patológicas. ABSTRACT The conservation of the original architectural details of a historical building must be considered fundamentally as an indispensable and primordial caution. In view of the several times, it is a register that is part of the development context of people’s identity, there must always be an interest in preserving the building that was left as a cultural heritage between generations. In this respect, the undertaken research consists in the study of the oldest patrimony on an urban center, a church. From this object of study, the goal is to identify the pathological manifestations that affects the temple and based on the results of the analysis of these problems, it is suggested the achievement of specific studies to develop an appropriate maintenance system to treat them. Among the methodological procedures used, was conducted an explanatory research with qualitative approach. The obtained data were extracted from documents, bibliographic sources and an inspection in the clerical building. Based on the work done, it was possible to identify a few pathological and non-pathological problems, many of them indicating deficiencies in maintenance activities performed in the building. Therefore, it was concluded that old constructions need a careful planning of preventive maintenance, which can avoid future complications and this way preventing likely expensive interventions, that hurt the heritage’s originality. Keywords: Maintenance. Church. Preservation. Pathological manifestations. LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 1 - Esboço da planta baixa da igreja matriz 17 Figura 2 - Vitrais norte e sul 18 Figura 3 - Vista do teto e arcadas da nave central da igreja 18 Figura 4 - Fachada ocidental da igreja 19 Figura 5 - Fachada oriental da igreja 20 Figura 6 - Marquise com trincas e manchas de umidade 22 Figura 7 - Armadura aparente na parte superior da marquise 22 Figura 8 - Marquises com trincas na parte inferior 23 Figura 9 - Trincas nos elementos estruturais da torre da igreja 23 Figura 10 – Revestimento sendo impelido e ferragem aparente 24 Figura 11 - Descolamento de revestimento argamassado com pulverulência 25 Figura 12 - Descolamento de tinta junto a partes do reboco 26 Figura 13 - Descolamento de revestimento texturado 27 Figura 14 - Descolamento de piso cerâmico 27 Figura 15 - Placas de concreto trincadas 28 Figura 16 - Vitrais quebrados 29 Figura 17 - Grades de proteção corroídas e manchas esverdeadas 29 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO 8 2 REFERENCIAL TEÓRICO 10 2.1 PATRIMÔNIO E PRESERVAÇÃO 10 2.2 PATOLOGIA E MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS 10 2.2.1 Diagnóstico 11 2.2.2 Prognóstico e terapia 12 2.3 MANUTENÇÃO E REFORMA 12 3 CONTEXTUALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA IGREJA MATRIZ 14 3.1 DADOS GERAIS DA CIDADE DE AREIA BRANCA 14 3.2 O LEGADO DA ARQUITETURA NA RELIGIÃO 14 3.3 CARACTERIZAÇÃO DA IGREJA MATRIZ 16 3.3.1 Área interna 16 3.3.2 Área externa 19 3.3.3 Alvenaria 20 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS 21 4.1 ANÁLISE PATOLÓGICA DA IGREJA 21 4.1.1 Trincas 21 4.1.1.1 Trincas e manchas de umidade em marquises 21 4.1.1.2 Trincas em elementos estruturais 23 4.1.2 Descolamento de revestimento 24 4.1.2.1 Revestimentos de argamassa 24 4.1.2.2 Pintura 25 4.1.3 Falhas em revestimento de piso 27 4.2 A MANUTENÇÃO PREDIAL 28 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS 30 REFERÊNCIAS 31 8 1 INTRODUÇÃO A interação entre passado e presente é permitida por diversos meios, seja por crenças e costumes conservados, seja por artefatos preservados ao longo do tempo. Dentre esses elementos estão as construções, as quais carregam suas características arquitetônicas e possibilitam o conhecimento dos métodos construtivos usados no passado, representando assim, o contexto histórico em que foi construída. Desse modo, fica clara a importância de transmitir essa herança para as futuras gerações. Os bens de importância histórico-cultural recebem inúmeras significações, é possível defini-los como um registro, tangível ou não, da cultura produzida por grupos sociais. Dessa forma, a igreja Nossa Senhora da Imaculada Conceição, objeto de estudo deste trabalho, pode ser definida como um patrimônio cultural. Sendo entendido que lhe é atribuído, pela população areia branquense, um valor especial - de cunho arquitetônico, histórico e turístico - como símbolo da religiosidade acentuada do povo da região. No entanto, é sabido que construções de longa existência tendem a apresentar marcas de degradação por envelhecimento natural e problemas patológicos ocasionados, muitas vezes, por falta de manutenção ou manutenção inadequada. Essa conjuntura desenrola na degradação do patrimônio e, consequentemente, na necessidade de reformas para a recuperação de sua estrutura. Devido às circunstâncias emergenciais, essas reformas acabam por ignorar a importância das características arquitetônicas da construção. Nesse sentido, objetiva-se com este trabalho analisar as manifestações patológicas presentes na edificação, considerando possíveis intervenções de modo a tratar problemas patológicos sem descaracterizar tal patrimônio. Bem como, esclarecer a importância da organização de um sistema de manutenção, de forma que se evite mudanças arquitetônicas significativas. A concretização dos objetivos deste projeto poderá reavivar o interesse por uma história que está presente no dia a dia das pessoas e, muitas vezes, se torna banal. Além de demonstrar que as construções não devem ser tratadas como descartáveis, mas sim, como produtos do trabalho e dos valores presentes na sociedade e na época em que foram construídas. E que, por meio da realização de atividades de manutenção em edificações, é possível evitar que os bens percam suas características arquitetônicas originais. 9 Para o desenvolvimento deste trabalho, fez-se uma pesquisa exploratória utilizando uma abordagem qualitativa. A coleta de dados foi realizada a partir de pesquisas documentais, sobre a história da igreja e da cidade de Areia Branca, e bibliográficas, acerca do tema manifestações patológicas em edificações históricas. Além disso, através de pesquisas de campo, para a coleta de dados e fotografias, são ilustradas as manifestações patologias e as características da edificação. Com a finalidade de dar progressão ao trabalho, este foi dividido em cinco seções. Esta seção tratou de uma exposição geral sobre o tema, os objetivos do trabalho e a importância de estudar o assunto. Já na segunda seção, estão listadas as definições importantes para a compreensão da questão abordada. A terceira, apresenta a contextualização e caracterização do objeto estudado. Em seguida, a seção quatro traz as análises dos resultados da pesquisa, tendo como enfoque as manifestações patológicas presentes na igreja. Por fim, a quinta seção analisa o atendimento aos objetivos, fazendo as considerações finais do trabalho. 10 2 REFERENCIAL TEÓRICO A partir dessa seção, serão abordados conceitos e termos essenciais para o entendimento global acerca do conteúdo abordado no trabalho. PATRIMÔNIO E PRESERVAÇÃO Com o passar do tempo, o modo de vida das pessoas se transforma, e junto a isso, está a transformação do modo de construir e dos padrões estéticos. Essa alteração traz consigo a necessidade de se preservar elementos de épocas passadas. De acordo com CREA-SP (2008, p. 15), uma corrente de conhecimento é passada através desses bens, de forma que sua destruição pode romper a transmissão dessa herança. Além disso, a utilização e preservação do que já está construído concorda com as ideias de sustentabilidade, termo frequente no mundo atual. Definir o que é importante preservar parte do significado que a propriedade possui no meio em que ela está inserida, seja ele histórico, cultural ou sentimental. Assim sendo, o patrimônio cultural é definido como qualquer elemento que carregue a memória e a identidade do grupo que o produziu. Sendo parte importante para a ampliação do bem-estar e da participação cidadã na sociedade. (CREA-SP, 2008, p. 13) PATOLOGIA E MANIFESTAÇÕES PATOLÓGICAS A patologia das construções, Segundo Oliveira (2013, p. 24), “pode ser entendida como a parte da engenharia que estuda os sintomas, os mecanismos, as causas e origens dos defeitos das construções, ou seja, é o estudo das partes que compõem o diagnóstico do problema”. Dessa forma, para que seja possível estudar os problemas patológicos existentes, a patologia busca alterações estruturais e/ou funcionais na edificação afetada. Acresce que, a maioria dos problemas patológicos em construções apresentam sintomas com padrões característicos, as manifestações patológicas. São esses sintomas que possibilitam o estudo e o entendimento da natureza, da origem e os mecanismos que desencadearam a falha. (OLIVEIRA, 2013, p. 22). De acordo com Lund e Lamego (2009, p. 1) “as manifestações patológicas mais significativas podem ser classificadas, para fins de identificação, em três grandes grupos: umidade, fissuras e descolamento de revestimentos”. Em se tratando da 11 umidade, de acordo com Bauer (2008, p.924), as manifestações mais comuns referentes a esse problema são manchas de umidade, corrosão, bolor, fissuras e mudança de coloração dos revestimentos. No que diz respeito aos descolamentos de revestimento, Bauer (2008, p. 903) afirma que estes ocorrem de modo a separar uma ou mais camadas do revestimento. Desse modo, os descolamentos podem apresentar diversas manifestações patológicas que prejudicam tanto os aspectos estéticos, quanto as funções de proteção e isolamento. Quando se trata do revestimento cerâmico, Bauer (2008, p. 906) relata que o descolamento das placas ocorre devido à inexistência de juntas de movimentação, ineficiência do assentamento ou mesmo a falta de rejuntamento. A fissuração, por sua vez, é um problema patológico que desperta interesse em diversas áreas da engenharia por estar, dentre outros motivos, relacionado diretamente com a resistência dos materiais. De acordo com Moraes apud Lordsleem (1997, p. 31), entende-se por trinca: “um fenômeno, patológico às construções, caracterizado pela ruptura entre as partes de um mesmo elemento ou entre dois elementos acoplados, causando danos de ordem estética ou estrutural a uma edificação”. Essa manifestação patológica é concebida como produto de solicitações maiores que a capacidade de resistência da edificação, de acordo com Eldridge apud Lordsleem (1997, p. 31). A fissura é conhecida também como trinca ou rachadura de acordo com o espaçamento de sua abertura. De acordo com a NBR 9575:2003, as aberturas com até 0,5 mm são chamadas de fissuras, por sua vez as maiores de 0,5 mm e menores de 1,0 mm são denominadas trincas. Enquanto as rachaduras apresentam aberturas mais ressaltadas da ordem de 5 mm de largura. 2.2.1 Diagnóstico Segundo Lichtenstein (1986, p. 05), “O diagnóstico da situação é o entendimento dos fenômenos em termos da identificação das múltiplas relações de causa e efeito que normalmente caracterizam um problema patológico”. Uma das etapas importantes no processo de diagnóstico, é identificar onde o problema foi originado. Os problemas patológicos têm suas origens motivadas por falhas que ocorrem durante a realização de uma ou mais das atividades inerentes ao processo genérico a que se denomina de construção civil, processo este que 12 pode ser dividido, em três etapas básicas: concepção (planejamento / projeto / materiais), execução e utilização. (OLIVEIRA; DANIEL, 2013, p.24). Em prédios antigos, os problemas patológicos são originados por falta de manutenção e uso inadequado. Desse modo, torna-se necessário a, considerar a ação de agentes de degradação que atuam normalmente no edifício no decorrer do tempo e aqueles que, de modo anormal, resultem em alterações patogênicas. (LUND; LAMEGO, 2009, p. 1) 2.2.2 Prognóstico e terapia Após o diagnóstico, faz-se necessário definir a conduta a ser tomada. Inicialmente, é feito o prognóstico, hipóteses da tendência de evolução futura do problema e as alternativas de intervenção. Depois de estabelecido o prognóstico, decide-se por uma das alternativas existentes. Podendo ser decidido pela não intervenção ou pelo tratamento do problema, a terapia. (LICHTENSTEIN, 1986, p. 05) MANUTENÇÃO E REFORMA Realizar atividades de manutenção e reformar são duas maneiras de atuar nas edificações de modo a recuperar as condições destas. É demasiado importante entender a diferença entre esses termos, principalmente quando se trata da atuação em edifícios que exigem a preservação de suas características originais, isso porque, ocasionalmente, a reforma está associada às modificações do elemento. A NBR 16280:2015 define reforma em edificação como sendo a “Alteração nas condições da edificação existente com ou sem mudança de função, visando recuperar, melhorar ou ampliar suas condições de habitabilidade, uso ou segurança, e que não seja manutenção”. Já a Manutenção é determinada pela NBR 5674:2012 como um “conjunto de atividades a serem realizadas para conservar ou recuperar a capacidade funcional da edificação e de suas partes constituintes de modo a atender as necessidades e segurança dos seus usuários”. Para a realização de atividades de manutenção, se faz necessário a organizar um sistema de manutenção. A NBR 5674:2012 define sistema de manutenção como sendo: “conjunto de procedimentos organizados para gerenciar os serviços de manutenção”. Como parte integrante do sistema, existe o programa/plano de manutenção. 13 “O programa consiste na determinação das atividades essenciais de manutenção, sua periodicidade, responsáveis pela execução, documentos de referência, referências normativas e recursos necessários, todos referidos individualmente aos sistemas e, quando aplicável, aos elementos, componentes e equipamentos. O programa de manutenção deve ser atualizado periodicamente. ” (NBR 5674:2012) A NBR 5674:2012 define três tipos de manutenção necessárias: manutenção rotineira, manutenção corretiva e manutenção preventiva. De acordo com a mesma norma, “a manutenção preventiva é caracterizada por serviços cuja realização seja programada com antecedência”. Cremonini apud Villanueva (2015, p. 88) afirma que um sistema de manutenção está diretamente ligado à manutenção preventiva, pois as intervenções são realizadas antes que ocorram os possíveis defeitos dos componentes. 14 3 CONTEXTUALIZAÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DA IGREJA MATRIZ Nesse segmento do estudo, são explanados elementos que constituem a conjuntura em que está inserida a Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, ademais da realização de uma descrição das características do edifício clerical. DADOS GERAIS DA CIDADE DE AREIA BRANCA O munícipio costeiro de Areia Branca está situado no litoral norte do estado do Rio Grande do Norte, a cidade é conhecida pelas suas exuberantes praias, dunas e falésias e pela sua significativa produção de sal, a qual lhe rendeu o título de “Terra do Sal”. O território que hoje equivale à cidade de Areia Branca, ao longo de sua história, recebeu a intitulação de povoado, distrito e vila. Somente no ano de 1892, tal localidade obteve sua emancipação política do município de Mossoró, conquistando sua autonomia político-administrativa e apenas em 1927 a região foi elevada à categoria de cidade. A sustentação econômica da cidade está baseada na atividade de extração do petróleo, na pesca, no turismo e na extração de sal. Esta última atividade inclusive possui grande destaque, o município possui um famoso porto-ilha com a finalidade de regular a grande demanda de sal produzido na região, que tem como destino abastecer o mercado interno e externo. O LEGADO DA ARQUITETURA NA RELIGIÃO A tradição religiosa municipal, assim como a economia da cidade, está fortemente vinculada ao ambiente marítimo. Nos dias 05 a 15 de agosto, anualmente, é celebrada uma grande festa e uma procissão marítima em devoção a co-padroeira da cidade, a Nossa Senhora dos Navegantes. Tal festa contribui de forma significativa para a atividade turística da cidade, atraindo todos os anos fiéis e devotos que veneram a Padroeira dos Marítimos. Menos famosa, a padroeira oficial da cidade é a Nossa Senhora da Conceição. Em homenagem a essa padroeira, foi erguida a primeira igreja do município, este templo é atualmente encarado como um marco na história de Areia Branca e que se faz presente na cultura municipal até os dias atuais, sendo 15 considerado um patrimônio cultural da cidade. O desenvolvimento da Igreja de Nossa Senhora da Conceição reflete a trajetória de Areia Branca ao longo de sua história. Em seus primórdios, em 1885, quando edificada, a igreja era somente uma pequena capela. Nessa época, Areia Branca ainda era considerada somente um povoado pertencente ao município de Mossoró. Essa capela veio a se desenvolver no decorrer dos anos e em 1909 teve sua construção finalizada, quando tornou-se a Igreja Matriz da então considerada Vila de Areia Branca, território este que já era independente de Mossoró. Somente a partir de 1919, a Igreja Matriz de Areia Branca veio a se tornar a Sede Paroquial da Paróquia de Nossa Senhora da Imaculada Conceição, desmembrando-se da Paróquia de Mossoró e criando seu próprio território eclesial, abrangendo sedes de cidades vizinhas como Grossos e Serra do Mel. A paróquia tem sua relevância melhor compreendida e dimensionada ao analisarmos a religiosidade no contexto municipal. Segundo o censo do IBGE de 2010, uma parcela superior a 70% da população de Areia Branca professa crença católica. A partir de um índice expressivo como esse é possível mensurar a proporção, a importância e a representatividade que essa igreja tem para a cidade e para os seus habitantes. Levando em conta todo o legado cultural e a tradição que essa Igreja possui, possíveis intervenções na estrutura do edifício clerical são tratadas com bastante precaução e devem ser executadas sob a garantia de manter os traços que conferem originalidade à construção. Recentemente, entre os anos de 2008 e 2009 a Igreja Matriz se encontrava em condições precárias de conservação e teve de ser interditada e submetida a um processo interventor. O pároco na época, o padre Luís Sampaio justificou a intervenção: “É bom e oportuno dizer para os desinformados que o templo que tem uma história tão bonita, já às portas do seu centenário, em 2007, ameaçava ruir. Informado por engenheiros e mestres locais da situação de risco, o Pároco, no caso é 1º e maior responsável, junto ao seu conselho administrativo resolve interdita-la para a restauração”. (2010) Esse tratamento realizado foi responsável por alterar o aspecto estético do interior da Igreja, assim como do seu lado externo. Ademais da restauração estrutural, foram inseridos no edifício clerical alguns elementos culturais locais que fazem referência ao ambiente marítimo da região, como o desenvolvimento de uma calçada em formato de barco, a colocação de uma âncora e um timão acompanhado de uma grande bússola. 16 CARACTERIZAÇÃO DA IGREJA MATRIZ Com base nas pesquisas feitas, a arquitetura das igrejas é caracterizada principalmente pelo grande tamanho do edifício e segue uma entre várias tradições derivadas, em última instância, das tradições arquitetônicas do cristianismo primitivo. O Revivalismo é a tendência arquitetônica predominante na edificação estudada. Frequente na época em que a igreja matriz foi construída, a tendência tem como principal característica recuperar e ressignificar os estilos anteriores. A igreja que, no início se tratava de uma simples capela, dedicada à Nossa Senhora da Conceição, se tornou Matriz de Areia Branca e hoje é um dos maiores centros de peregrinação da região. Resultado das modificações que ocorreram nos seus mais de 100 anos de história. Nela, podemos ver como a arquitetura simples se manifestou na história da região e atualmente é motivo de orgulho da população local. 3.3.1 Área interna Com base nos textos estudados, a maioria das catedrais e grandes igrejas tem uma planta baixa cruciforme, própria para abrigar um número grande de pessoas. Nas igrejas de tradição europeia ocidental, como evidencia a figura 1, o plano é geralmente longitudinal, na forma da chamada cruz latina1, com uma longa nave2 atravessada por um transepto3. A nave é o espaço onde são distribuídos os bancos e os genuflexórios4, começa da entrada indo até o cruzeiro5. O ambiente é constituído de uma nave principal e outras duas, chamadas colaterais ou naves laterais. As colaterais são separadas da principal por arcadas, uma sequência de arcos, formando dois corredores abertos para a nave central. Os seis pares de colunas e os arcos formados a partir delas, são a característica que mais chama atenção nas naves. Os dois últimos pares formam quatro grandes arcos, demarcando o cruzeiro. A nave central, sustentada pelas colunas, é um pouco mais alta que as colaterais e 1A cruz latina é uma cruz formada por dois segmentos de medidas diferentes que se intersectam em um ângulo reto, onde o segmento menor tem uma proporção de três quartos do maior. 2O termo arquitetônico nave é originário do grego naos, referente à ala central de uma igreja. 3O transepto é a parte de um edifício de uma ou mais naves que atravessa perpendicularmente o seu corpo principal e dá ao edifício a sua planta em cruz. 4 Nas capelas e oratórios, móvel para rezar, em forma de cadeira. 5 Cruzeiro é o espaço situado na intersecção da nave central com o transepto nas igrejas ou catedrais cristãs que apresentam planta em cruz. 17 contém um piso a mais, o antigo coro6. O acesso a ele é feito por uma escada ao redor da primeira coluna do lado sul, que tem como função importante dar acesso à torre principal da Igreja. Na parte do fundo, voltado para o oriente, fica o altar principal, que tem o piso elevado em relação ao resto da igreja. Atrás do altar encontra-se a abside, parte do edifício que se projeta fora de forma semicilíndrica ou poliédrica. Também há uma espécie de deambulatório simples, uma passagem que circunda a abside. Do lado norte há uma sacristia7, destinada aos paramentos litúrgicos, enquanto do outro ficam os banheiros e uma dispensa. Estas últimas duas partes, deambulatório e sacristia, não são vistas por quem está na nave da igreja, suas entradas encontra-se atrás das capelas. Figura 1 - Esboço da planta baixa da igreja matriz Fonte: Elaborado pelo autor. A forma da igreja, seguindo um eixo pré-determinado, geralmente na direção Leste-Oeste, tem papel importante na sua iluminação. Sendo essa a direção do sol nascente, as características arquitetônicas aproveitam a luz natural. Nos lados norte, sul e leste da planta encontram-se três grandes vitrais cruciformes. O posicionamento desses vitrais, perpendiculares uns aos outros, proporcionam o encontro dos raios 6 O termo arquitetônico coro, originário do grego choros, designa uma área do templo cristão, onde ficam os músicos e instrumentos. 7 Termo arquitetônico que designa a casa anexa a uma igreja, onde são guardados os paramentos e outros objetos de culto, e onde os padres tomam as vestes do culto. 18 solares no centro da Igreja. Existe também, acima de cada arcada da nave central, um conjunto de janelas circulares, vitrais em mosaico, denominados de clerestório. Figura 2 - Vitrais norte e sul Fonte: Elaborado pelo autor. O piso da Igreja é feito por peças quadrangulares cerâmicas de cor branca. O teto é constituído por peças retangulares de madeira. A porta principal é mais alta e espaçosa que as outras, todas de madeira, distribuídas no perímetro da igreja. Além das portas, a ventilação também é realçada por sete pares de janelas de madeira. As paredes são coloridas por dois tons de azul e o branco está presente nas colunas e arcos, cores que representam a padroeira da cidade, datada do final de 2016. Figura 3 - Vista do teto e arcadas da nave central da igreja Fonte: Elaborado pelo autor. 19 3.3.2 Área externa A decoração externa de uma catedral ou uma grande igreja é, geralmente, pictórica, apresentando esculturas, pinturas e mosaicos. Entre os elementos arquitetônicos decorativos estão colunas, pilastras, arcadas, cornijas8, molduras, florões9 e tracerias10. O formato final destas várias características é uma das mais claras indicações do estilo e da época de um edifício. Sendo a "fachada ocidental" a parte mais adornada do exterior de uma igreja. Em catedrais ou grandes igrejas existe, geralmente, uma característica externa que direciona os olhos do observador em direção ao céu. No caso da Igreja Matriz, a sua principal característica externa é a torre principal, que foi construída na década de 40 para 50 e tem cerca de 25 metros de altura. A torre é decorada por colunas em seus vértices, um relógio, quatros pináculos11 que ficam na parte superior de cada lado, duas sacadas utilizadas para os sinos e a última janela. As duas torres laterais são bem mais simples, de altura estimada de 10 a 15 metros, tem formato de um prisma octogonal. Jutas, as três torres formam os principais elementos da fachada ocidental. Figura 4 - Fachada ocidental da igreja Fonte: Elaborado pelo autor. 8 Cornija é um termo usado em arquitetura que se refere a uma faixa horizontal que se destaca da parede. 9 Florão, também designado crista, é a designação de um pequeno elemento arquitetônico decorativo em pedra difundido em edifícios da Idade Média, presente, sobretudo, no estilo gótico. 10 O termo traceria, ou arrendado, refere-se ao trabalho decorativo em pedra (também por vezes madeira) composto por elementos geométricos e utilizado na arquitetura. 11 Pináculo é o ponto mais alto de um determinado lugar, um edifício ou uma torre, por exemplo. 20 Na fachada oriental, o que mais chama atenção é a parte externa do vitral principal, localizado entre duas janelas. É possível ainda, identificar a parte externa da abside e duas portas simples que dão acesso à Sacristia. Já os lados norte e sul possuem estruturas e elementos simples. Além das portas laterais, é possível notar uma parte saliente das capelas das naves laterais. Também é possível notar os extremos exteriores do transepto, contendo os vitrais laterais. A solução de cobertura em toda a igreja é em platibanda. A pintura externa é constituída de basicamente três cores: branco, azul atlântico e vermelho. Figura 5 - Fachada oriental da igreja Fonte: Elaborado pelo autor. 3.3.3 Alvenaria Na Igreja Matriz de Areia Branca, o método construtivo utilizado consistiu no emprego de alvenaria estrutural e de vedação. A alvenaria de vedação caracteriza-se por ser autoportante, já que possui a capacidade de sustentar o seu próprio peso. Por sua vez, a alvenaria estrutural desempenha o papel de resistir ao seu respectivo peso e a outras cargas exercidas sobre ela. No erguimento das paredes e na edificação dos arcos existentes na paróquia, foram utilizados tijolos maciços de barro cozido. Os arcos ainda apresentam um acabamento em gesso. Blocos maciços são elementos que possuem distintas finalidades, podendo desempenhar uma função portante nas alvenarias estruturais ou de preenchimento nas alvenarias de vedação, de acordo com a exigência do ambiente. 21 4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS Nesta seção são demonstradas as manifestações patológicas identificados na Igreja Matriz durante a vistoria efetuada, realizando a análise dessas de acordo com conhecimento extraído de bibliografias estudadas. ANÁLISE PATOLÓGICA DA IGREJA Na etapa de vistoria da Igreja da Nossa Senhora da Imaculada Conceição foram encontradas manifestações patológicas e alguns defeitos em esquadrias, que interferem diretamente na parte estética do edifício e podem vir a afetar a sua estrutura. Dessa forma, é de fundamental importância que os problemas patológicos que provocaram tais sintomas sejam tratados. A seguir, serão apresentadas as manifestações patológicas observadas no edifício, a indicação das causas mais prováveis e possíveis formas de recuperação. 4.1.1 Trincas Foi possível identificar na Igreja diversas manifestações patológicas decorrentes do processo de fissuração. As fissuras e trincas se fazem presentes em diversos lugares no templo, principalmente, em marquises e nos elementos estruturais da paróquia areia-branquense. Segundo Chand apud Thomaz (1989, p. 151), a identificação das causas dessa manifestação patológica é bastante difícil e pouco precisa, pois não raras vezes observa-se que as trincas são originadas por um somatório de causas distintas. 4.1.1.1 Trincas e manchas de umidade em marquises As marquises são elementos comuns na igreja estudada, que se apresentam como um traço marcante de sua arquitetura. Porém, identificou-se, na maioria delas, a existência de trincas e fissuras. Múltiplas são as causas para o aparecimento dessas manifestações em marquises, segundo Braguim (2006, p. 14) as principais são: O detalhamento incorreto da armadura principal, a consideração de cargas menores que as necessárias para o uso da estrutura e a não consideração da agressividade do ambiente. Na parte inferior e lateral das marquises foi possível visualizar manchas de umidade. Tal manifestação é, possivelmente, decorrente da existência de trincas na 22 parte superior da estrutura em balanço. Já que a precipitação pluviométrica que entra nas brechas, pode provocar uma infiltração passível de observação no lado oposto, como foi encontrado na vistoria. Figura 6 - Marquise com trincas e manchas de umidade Fonte: Elaborado pelo autor. Outra manifestação identificada foi a corrosão da armadura, a qual se torna aparente em alguns lugares e admite às manchas de umidade supracitadas um aspecto alaranjado. Esse fenômeno pode ter a mesma causa das manchas, a infiltração de aguas pluviais. Além disso, a condensação da água proveniente do oceano traz junto de si cloretos que intensificam a corrosão. A expansão das ferragens, provocada pelo processo corrosivo, pode ter colaborado para a existência de trincas que podem ser observadas nas figuras 6, 7 e 8. Figura 7 - Armadura aparente na parte superior da marquise Fonte: Elaborado pelo autor. 23 Figura 8 - Marquises com trincas na parte inferior Fonte: Elaborado pelo autor. É recomendada para essas marquises que possuem manifestações patológicas, a execução de rigorosos procedimentos de inspeção, de forma a avaliar as cargas e sobrecargas e vistoriar o processo de impermeabilização, com a finalidade de obtenção de um diagnóstico fidedigno que norteará a terapia adotada. 4.1.1.2 Trincas em elementos estruturais Certos pilares e vigas que formam a estrutura do edifício exibem trincas ao longo de seu comprimento. Em alguns desses elementos estruturais, foi possível identificar que as trincas foram provocadas pelo aumento de volume das ferragens, pois apresentam um aspecto de que o revestimento foi empurrado da estrutura. Quanto a expansão da armação, sua provável causa é a umidade, já que, como no caso das marquises, é possível identificar manchas de umidade. Em outros casos não foi possível fazer a mesma análise. Figura 9 - Trincas nos elementos estruturais da torre da igreja Fonte: Elaborado pelo autor. 24 Figura 10 – Revestimento sendo impelido e ferragem aparente Fonte: Elaborado pelo autor. Desse modo, de acordo com Thomaz (1989, p. 167), é de suma importância a execução de uma análise minuciosa para averiguar se tal fissuração compromete a edificação como um todo ou somente provoca um problema de caráter estético. Caso certifique-se que a trinca é ativa, isto implica que a manifestação patológica está aumentando, a utilização de um selador flexível é recomendada como uma possível terapia. No entanto, se a conclusão da análise for de que a trinca não é ativa e encontra-se em um estágio que apenas prejudica a estética do prédio, somente se faz necessário o preenchimento e a cobertura em seu revestimento final de acabamento. 4.1.2 Descolamento de revestimento Dentre as manifestações patológicas mais encontradas em toda área da igreja, está o descolamento de revestimento. Esta manifestação patológica se faz presente tanto na fachada, quanto nas áreas internas do edifício. Nas vedações verticais, foram encontrados os descolamentos do revestimento de argamassa e de tinta. 4.1.2.1 Revestimentos de argamassa Durante a vistoria, foram detectados diversos pontos do edifício que apresentaram descolamento do revestimento argamassado. Os descolamentos, segundo Bauer (2008, p. 904), “podem se manifestar com empolamento em placas, ou com pulverulência”, nos casos da edificação estudada, a argamassa se encontrava pulverulenta. Ainda de acordo com Bauer (2008, p. 905), é possível observar o esfarelamento do revestimento e, quando recebem pintura, a película de tinta se destaca com facilidade carregando partículas de reboco no seu verso. 25 As principais causas dos descolamentos com pulverulência, conforme Bauer (2008, p. 905), são: o tempo insuficiente de carbonatação da cal presente na argamassa, a proporção água/massa semi-pronta utilizada ser superior a recomendada pelo fabricante, o uso do material depois do prazo máximo de estocagem. Outros autores ainda destacam que as seguintes causas intensificam a desagregação do revestimento: o excesso de finos no traço, altas concentrações de cloretos e a presença de umidade. Esta última causa, por sua vez, está atrelada à formação de bolor. Em se tratando da igreja, junto aos descolamentos de revestimentos são visíveis algumas manchas de umidade ocasionadas pela água da chuva, já que se trata de uma área sem cobertura. Portanto, o fator umidade somado às complicações relacionadas à presença de cloreto e as causas prováveis citadas por Bauer, culminaram no problema patológico existente. Como solução para esse caso, seria necessário o refazimento do reboco com os materiais e as proporções adequados à situação. Figura 11 - Descolamento de revestimento argamassado com pulverulência Fonte: Elaborado pelo autor. 4.1.2.2 Pintura Além do descolamento de argamassa, foram encontrados locais em que o destacamento de pintura se deu tanto concomitante ao dos revestimentos de argamassa, quanto de forma isolada. Diante desse tipo de manifestação fica claro que existe problema de aderência no sistema substrato-pintura, sendo inúmeras as causas desse tipo de defeito. Manifestações como essa podem tanto prejudicar a estética da 26 edificação, quanto sua capacidade de proteção e isolamento do substrato. Diante disso, entende-se por destacamento o desprendimento de partes da pintura, provocado por falta de aderência ao substrato. De acordo com Marques (2013, p. 91), condições de aplicação desfavoráveis, deficiência na preparação da superfície e tipo de tinta inadequada para a situação e envelhecimento natural do revestimento são algumas das principais causas da perda de aderência. No caso da edificação em estudo, a preparação incorreta da base para repintura é a causa mais provável do descolamento, visto que nos locais da manifestação é possível identificar a superfície completamente lisa e/ou com resquícios da tinta anterior. Ainda é observável que, em alguns locais, a tinta foi aplicada diretamente no reboco. Figura 12 - Descolamento de tinta junto a partes do reboco Fonte: Elaborado pelo autor Diante do que foi desenvolvido, a solução mais adequada a esse tipo de situação é refazer a pintura e, em concordância com Marques (2013, p. 92) devem ser usadas as metodologias adequadas de preparação de superfície, considerando as características da base. Em seguida, realizar a repintura, aplicando métodos adequados e produtos quimicamente compatíveis seguindo as indicações dos fabricantes, respeitando o tempo de secagem entre as demãos. No caso de texturas, para corrigir o problema é preciso raspar ou escovar a superfície até a remoção total da textura, aplicar fundo preparador, seguido da textura de revestimento. 27 Figura 13 - Descolamento de revestimento texturado Fonte: Elaborado pelo autor. 4.1.3 Falhas em revestimento de piso As falhas em revestimento de piso foram encontradas com menor frequência. Na parte externa da edificação, identificou-se apenas um desplacamento de algumas placas cerâmicas isoladas, as causas possíveis dessa falha são a deficiência na execução do revestimento e a falta de rejuntamento. Nas áreas internas, foram detectadas algumas placas de concreto pré-moldado trincadas, podendo ser resultado do emprego de concreto de baixa qualidade, subdimensionamento da placa ou a progressão de fissuras perpendiculares ou paralelas à base. Figura 14 - Descolamento de piso cerâmico Fonte: Elaborado pelo autor. 28 Figura 15 - Placas de concreto trincadas Fonte: Elaborado pelo autor. A MANUTENÇÃO PREDIAL A ocorrência de problemas patológicos na fase de uso e operação, depende diretamente da inexistência de um sistema de manutenção. Villanueva (2015, p. 50) lembra que mesmo as edificações mais antigas devem desenvolver um programa de manutenção de acordo com a norma NBR 5674, constituído de medidas preventivas simples. Assim, para o desenvolvimento de um plano de manutenção: [...] deve-se analisar criteriosamente a função do edifício, determinando todos os sistemas que o compõem: estrutura, paredes, cobertura, pisos, instalações elétricas, instalações hidráulicas, telefonia e informática, caixilharia e outros sistemas e equipamentos. A partir daí, é necessário recolher-se o maior número possível de informações a respeito desse sistema [...]. A partir da montagem de um quadro onde todos esses elementos estejam dispostos e organizados, é possível organizar os trabalhos de forma sistemática, determinando-se assim a periodicidade de cada inspeção e os custos globais dos serviços. (FACULDADES DE ALTA FLORESTA; 2010, p. 5) A NBR 5674:2012 normatiza o desenvolvimento de um plano de manutenção, que deve ser elaborado e executado por profissionais qualificados. Desse modo, com o desenvolvimento estruturado dos serviços, é possível reduzir/evitar intervenções emergenciais para reparar problemas da edificação, diminuindo a ocorrência de mudanças arquitetônicas nesta. A exemplo dos problemas que podem ser prevenidos com atividades de periódicas simples, tem-se os vitrais, que apresentam algumas partes quebradas e grades de proteção corroídas. O processo de corrosão por oxidação, intensificado pela proximidade como mar, desencadeou no aparecimento de uma mancha de coloração esverdeada nas paredes. Tal fator, poderia ser evitado com a limpeza 29 frequente e pintura das peças com material adequado. A situação desse elemento inspira preocupação, pois os vitrais são componentes da edificação que caracterizam a arquitetura de uma Igreja. Figura 16 - Vitrais quebrados Fonte: Elaborado pelo autor. Figura 17 - Grades de proteção corroídas e manchas esverdeadas Fonte: Elaborado pelo autor. Tendo em vista as questões apresentadas, é possível perceber que o fato de a edificação estar próxima ao mar, requer o maior cuidado para a manutenção desta. Concomitantemente, foi constatada a importância da manutenção predial, conforme destaca a NBR 5674:2012, a edificação é um espaço onde se abriga, direta ou indiretamente, todas as atividades produtivas. Desse modo, cumprem um papel social fundamental, e é a existência do sistema de manutenção que possibilita o prolongamento da sua função na sociedade. 30 5 CONSIDERAÇÕES FINAIS O processo de elaboração desta pesquisa permitiu a exibição da dimensão que possui a Igreja de Nossa Senhora da Imaculada Conceição no contexto municipal de Areia Branca. Ademais, possibilitou a execução de uma análise das manifestações patológicas que a degradam atualmente, visando a conservação desse patrimônio histórico. Em consonância, o estudo conduziu a uma reflexão sobre a preservação de um patrimônio e a manutenção de sua originalidade que o caracteriza. Partindo da perspectiva inicial do estudo, foi possível identificar sinais que evidenciam o envelhecimento da Igreja. O templo apresenta trincas e fissuras, manchas de umidade, descolamento de revestimento e de piso, dentre outros problemas. A análise realizada acerca de tais manifestações patológicas confirmou a importância da confecção de um programa efetivo de manutenção, que contribui para a preservação da edificação, sem descaracterizá-la. A vistoria realizada no local proporcionou a compreensão do real estado em que se apresenta a Igreja, possibilitando o registro fotográfico da conjuntura em que os problemas patológicos se manifestam. Além disso, a leitura de obras que tratam de manifestações patológicas auxiliou no entendimento destes problemas, pois com esse recurso foi possível execução de um paralelo comparativo entre os casos da Igreja e os abordados nos textos estudados. Diante de um tema relevante e da apresentação sobre a importância da manutenção em edificações históricas, é interessante o desenvolvimento de estudos futuros com a finalidade de aprofundar o entendimento sobre os métodos de organização de um sistema de manutenção. Podendo assim, contribuir para a preservação de edificações que possuem valor histórico, como a igreja matriz de Areia Branca. A partir do que foi exposto, é perceptível que as construções históricas têm uma significação importante para a sociedade em geral e é preciso preservá-las. Dessa forma, a manutenção nas edificações cumpre o papel de prolongar o tempo de uso de uma edificação, independentemente da idade desta. Assim, as construções mais antigas continuam erguidas garantindo que o estilo arquitetônico transcenda épocas e seja sempre um referencial, já que, a identidade de um povo é refletida naquilo que foi socialmente edificado. 31 REFERÊNCIAS ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 9575: Impermeabilização - Seleção e projeto. Rio de Janeiro: ABNT, 2003. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 5674: Manutenção de edificações - Requisitos para o sistema de gestão de manutenção. Rio de Janeiro: ABNT, 2012. ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS - ABNT. NBR 16280: Reforma em edificações - Sistema de gestão de reformas - Requisitos. Rio de Janeiro: ABNT, 2015. ALBERTO, C. Reforma da igreja: palavras do pároco. Disponível em < https://areiabranca.wordpress.com/tag/igreja/ >. Acesso em: 20 jan, 2017. BAUER, L. A. Materiais de construção. Rio de Janeiro: LTC, v. 2, 2008. p. 903-941. BRAGUIM, J. R. Perigo suspenso: Queda de marquises alerta para o risco de projetos. Revista Techne, São Paulo, v. 1, n. 3, p. 14-17, Junho 2006. COSTA, A. C. A linguagem das trincas. Revista Techne, v. 1, n. 3, p. 14-16, Março/Abril 1993. CREA-SP - CONSELHO REGIONAL DE ENGENHARIA, ARQUITETURA E AGRONOMIA DO ESTADO DE SÃO PAULO. Patrimônio histórico: Como e por que preservar? CREA, 2008. ISSN 3. Disponivel em: <http://www.creasp.org.br/arquivos/publicacoes/patrimonio_historico.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2017. FACULDADE DE ALTA FLORESTA. Plano de manutenção e conservação de edificações, Alta Floresta, 2014. Disponivel em: <http://www.faflor.com.br/faf/pdf_faf/regulamentos/Plano%20de%20Manuten%C3%A 7%C3%A3o%20FAF.pdf>. Acesso em: 10 mar. 2017. IBGE. IBGE Cidades. Rio Grande do Norte; Areia Branca,síntese das informações. Disponivel em: <http://cidades.ibge.gov.br/xtras/temas.php?lang=&codmun=240110&idtema=16&se arch=||s%EDntese-das-informa%E7%F5es>. Acesso em: 10 mar. 2017. LICHTENSTEIN, N. B. Boletin técnico: Patologia das Construções. Escola Politécnica da Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 05. 1986. LORDSLEEM JUNIOR, A. C. Sistemas de recuperação da alvenaria de vedação: Avaliação da capacidade de deformação. Escola Politécnica - Universidade de São Paulo. São Paulo, p. 31. 1997. LUND, S.; LAMEGO, F. Considerações sobre patologias e restauração de edifícios. Revista Techne, Pelotas, n. 144, p. 1, Março 2009. 32 MARQUES, F. P. Tecnologias de aplicação de pinturas e patologias em paredes de alvenaria e elementos de Betão. Instituto Superior Técnico - Universidade de Lisboa. Lisboa, p. 91-92. 2013. OLIVEIRA, D. F. O Conceito de Qualidade Aliado às Patologias na Construção. Escola Politécnica da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, p. 24. 2013. THOMAZ, E. Trincas em edíficios: Causas, prevenção e recuperação. São Paulo: PINI-Epusp-IPT, 1989. p. 151-167. VILLANUEVA, M. M. A importância da manutenção preventiva para o bom desempenho da edificação. Escola Politécnica - Universidade Federal do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, p. 50-88. 2015.
Compartilhar