Buscar

FICHAMENTO ESTRUTURA DAS REVOLUÇÕES CIENTÍFICAS

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 3, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 6, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes
Você viu 9, do total de 18 páginas

Faça como milhares de estudantes: teste grátis o Passei Direto

Esse e outros conteúdos desbloqueados

16 milhões de materiais de várias disciplinas

Impressão de materiais

Agora você pode testar o

Passei Direto grátis

Você também pode ser Premium ajudando estudantes

Prévia do material em texto

UNIVERSIDADE FEDERAL DE ALAGOAS­ UFAL 
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO ­ FAU 
GRUPO DE PESQUISA: URBE­ ESTUDOS DA CIDADE 
ORIENTADOR: AUGUSTO ARAGÃO DE ALBUQUERQUE 
PESQUISADOR(A): INGRID PONTES VILLAR 
 
FICHAMENTO: ​KUHN, T. S; ​A Estrutura das Revoluções Científicas​; 5ª edição. 
São Paulo: Editora PERSPECTIVA S.A, 1998; 257p. 
 
Palavras­chave: Filosofia da Ciência; História da Epistemologia; Desenvolvimento Científico; 
 
O ensaio “A estrutura das Revoluções Científicas” é voltado para a filosofia da 
ciência. Ele causou grande repercusão por ter uma inovadora percepção da história da 
epistemologia. Esta é diferente da visão tradicional (proveniente das noções do positivismo 
lógico) pois ela procura entender uma teoria pelo seu contexto histórico, isto é, da época em 
que foi criada, e não pela referência de mundo atual.  
Além disso, a estrutura que Kuhn desenvolveu para explicar o progresso científico 
não é cumulativa e linear como a anterior, indo em direção a um objetivo pré estabelecido 
pela natureza. A acumulação acontece somente em certos momentos na ciência. O 
progresso ocorre sobretudo pela revolucionária substituição de paradigmas, visando o 
aprimoramento de cada novo estágio de desenvolvimento científico. 
O desenvolvimento cientifico é um processo complexo e longo que envolve algumas 
etapas (período pré paradigmático, ciência normal, crise, revolução científica e resolução) 
para ser plenamente sucedido. Tais etapas são ilustradas no esquema abaixo e serão 
abordadas ao longo fichamento, assim como o progresso científico por elas gerado: 
 
1. PARADIGMA 
“Considero ‘paradigmas’ as realizações científicas universalmente reconhecidas que, 
durante algum tempo, fornecem problemas e soluções modelares para uma comunidade de 
praticantes de uma ciência” (p.13).  
“Com a escolha do termo pretendo sugerir que alguns exemplos aceitos na prática 
cientí​fica real — exemplos que incluem, ao mesmo tempo, lei, teoria, aplicação e 
instrumentação — proporcionam modelos dos quais brotam as tradições coerentes e 
específicas da pesquisa científica” (p.30) 
“Por exemplo, na Gramática, “amo, amas, amat” é um paradigma porque apresenta 
um padrão a ser usado na conjugação de um grande número de outros verbos latinos” (p. 
44). 
Para Kuhn, as características imprescíndiveis para qualquer paradigma são a sua 
singularidade (comparada a predecessores) e sua abertura aos problemas do dado campo 
de estudo a serem solucionados. 
Segundo Kuhn, não é possível definir com precisão os elementos que formam um 
paradigma, porque o conhecimento do paradigma é, em parte, implícito, adquirido somente 
com a prática da ciência determinada pelo próprio paradigma. 
São os paradigmas que fornecem fundamentos para a prática das atividades 
científicas de seus seguidores e futuros seguidores (estudantes). Tais fundamentos estão 
contidos nos manuais científicos, documentos norteadores da metodologia a ser seguida e 
dos problemas a serem resolvidos no campo de estudo específico. 
Os paradigmas dão origem à ciência normal. Segundo Kuhn, “[...]ciência normal 
significa a pesquisa firmemente baseada em uma ou mais realizações científicas passadas” 
(p. 29). Para melhor compreender o significado de ciência normal, entenderemos 
primeiramente de onde ela surge. 
Para toda ciência normal baseada em um paradigma, existe uma pré­história dessa 
ciência, um ​período pré paradigmático​.  
2. PERÍODO PRÉ PARADIGMÁTICO 
Segundo Kuhn, neste período não há a existência de paradigmas, apenas uma 
disputa entre diversas escolas, cada qual com sua linha de pensamento. O 
comprometimento e o consenso da comunidade científica para com apenas uma teoria 
(fundamental para o estabelecimento de um paradigma) não existe. Parte disso se dá 
porque cada escola tem um conhecimento ​a priori​ diferente da outra. Consequentemente, 
cada uma irá interpretar fatos científicos comuns de maneira diferente, e até mesmo 
selecionar problemas diferentes, com base no seu contato anterior com outros eventos. 
O processo de escolha de paradigma é  longo e complexo, mas após a coleta de 
fatos científicos, as escolas os analisam a partir de seu conhecimento ​a priori​ (crenças, 
dogmas, etc.). Há um longo período de debate, avaliação e crítica para a seleção de um 
único pensamento, o qual proporcionará a um campo de estudo virar uma ciência, dando 
origem à etapa de ​ciência normal​. 
3. CIÊNCIA NORMAL 
“A ciência normal, atividade que consiste em solucionar quebra­cabeças, é um 
empreendimento altamente cumulativo, extremamente bem sucedido no que toca ao seu 
objetivo, a ampliação contínua do alcance e da precisão do conhecimento científico.” (p.77). 
Segundo Kuhn, existem três focos normais para a investigação científica dos fatos, 
nem sempre distintos: 
1. “[…] classe de fatos que o paradigma mostrou ser particularmente reveladora 
da natureza das coisas”. Ao empregá­los na resolução de problemas, o 
paradigma tornou­os merecedores de uma determinação mais precisa, numa 
variedade maior de situações.”(p.46). 
2. “[…] fatos que podem ser diretamente comparados com as predições da 
teoria do paradigma… Aperfeiçoar ou encontrar novas áreas nas quais a 
concordância possa ser demonstrada coloca um desafio constante à 
habilidade e as imaginações do observador e experimentador”.(p.47) 
3.  “[…] experiências e observações […] Consiste no trabalho empírico 
empreendido para articular a teoria do paradigma, resolvendo […] suas 
ambigüidades residuais e permitindo a solução de problemas que 
anteriormente apenas havia chamado a atenção” (p.48)” 
3.1. “[...] aos problemas teóricos da ciência normal, que pertencem 
aproximadamente à mesma classe que os da experimentação e da 
observação” (p.51) 
Segundo Kuhn, “Existem também problemas extraordinários [...] emergem apenas 
em ocasiões especiais, geradas pelo avanço da ciência normal”.(p.55)  
Com isso, entende­se que: a ciência normal não tem como principal interesse 
“[...]produzir grandes novidades, seja no domínio dos conceitos, seja no dos fenômenos.” 
(p.57) 
“[...] a gama de resultados esperados (e portanto assimiláveis) é sempre pequena se 
comparada com as alternativas que a imaginação pode conceber.”(p.58)  
O resultado da experiência na pesquisa científica que “[...]coincide com essa 
margem estreita de alternativas é considerado apenas uma pesquisa fracassada, fracasso 
que não se reflete sobre a natureza, mas sobre o cientista.” (p.58).  
Entende­se que mesmo que a prática dessa atividade gere muitas vezes fracassos, 
seu exercício é essencial. “Pelo menos para os cientistas, os resultados obtidos pela 
pesquisa normal são significativos porque contribuem para aumentar o alcance e a precisão 
com os quais o paradigma pode ser aplicado.” (p. 58). 
 “Resolver um problema da pesquisa normal é alcançar o antecipado de uma nova 
maneira: Isso requer a solução de todo o tipo de complexos quebra­cabeças instrumentais, 
conceituais e matemáticos.(p.59) 
“ A pesquisa normal [...]deve seu sucesso à habilidade dos cientistas para selecionar 
regularmente fenômenos que podem ser solucionados através de técnicas conceituais e 
instrumentais semelhantes às já existentes” (p.130) 
Segundo Kuhn, quebra­cabeças podem ser entendidos como: 
● “[...] categoria particular de problemas que servem para testar nossa 
engenhosidade ou habilidade na resolução de problemas.” (p.59) 
● “O valor intrínseco não é critério para um quebra­cabeça. Já a certeza de que 
este possui uma solução pode ser considerado como tal. “(p.60) 
“Uma das razões pelas quais a ciência normal parece progredir tão rapidamente é a 
de que seus praticantes concentram­se em problemas que somente a sua falta de engenho 
pode impedir de resolver.” (p.60) 
“Para ser classificado como quebra­cabeça, não basta a um problema possuir uma 
solução assegurada.Deve obedecer a regras que limitam ­ tanto a natureza das soluções 
aceitáveis como os passos necessários para obtê­las.”(p.61)  
Kuhn identifica “regra” como “ponto de vista estabelecido” ou “concepção prévia”. 
(p.62) 
Para Kuhn, o quebra­cabeças só sairá bem sucedido se conseguir comprovar uma 
teoria já existente, além disso, o cientista deve visar outras regras adicionais em sua 
resolução. “Tais regras proporcionam uma quantidade de informações adicionais a respeito 
dos compromissos que os cientistas derivam de seus paradigmas.”(p.63) 
O autor expõe quatro tipos de regras adicionais que “[...]auxiliam na formulação de 
quebra­cabeças e na limitação das soluções aceitáveis”(p.63): 
●  “[...]enunciados explícitos das leis, conceitos e teorias científicos.” (p.63) 
●  “[...]tipos de instrumentos preferidos e a maneiras adequadas para 
utilizá­los.” (p. 64) 
● Compromissos Metafísicos e Metodológicos 
● “[...]perscrutar com grande minúcia empírica algum aspecto da natureza.” 
(p.65) 
“A existência dessa sólida rede de compromissos ou adesões — conceituais, 
teóricas, metodológicas e instrumentais — é uma das fontes principais da metáfora que 
relaciona à ciência normal à resolução de quebra­cabeças” (p.65) .  
Contudo, Kuhn atenta­se para o fato de que: “As regras, segundo minha sugestão, 
derivam de paradigmas, mas os paradigmas podem dirigir a pesquisa mesmo na ausência 
de regras.” (p.66) 
“A ciência normal pode ser parcialmente determinada através da inspeção direta dos 
paradigmas. Esse processo é freqüentemente auxiliado pela formulação de regras e 
suposições, mas não depende dela. Na verdade, a existência de um paradigma nem 
mesmo precisa implicar a existência de qualquer conjunto completo de regras” (p.69) 
“A falta de uma interpretação padronizada ou de uma redução a regras que goze de 
unanimidade não impede que um paradigma oriente a pesquisa.”(p.69) 
“Os paradigmas podem ser anteriores, mais cogentes e mais completos que 
qualquer conjunto de regras para a pesquisa que deles possa ser claramente abstraído.” 
(p.71) 
Kuhn cita 4 razões do motivo pelo qual os paradigmas poderiam determinar a 
ciência normal sem a intervenção de regras que podem ser descobertas: 
1. Dificuldade para descobrir as regras que guiaram tradições específicas da 
ciência normal: A pesquisa científica não tem “de satisfazer as exigências de 
algum conjunto de regras, explícito ou passível de uma descoberta 
completa... em lugar disso, podem relacionar­se por semelhança ou 
modelando­se numa ou noutra parte do corpus científico que a comunidade 
em questão já reconhece como uma de suas realizações confirmadas.”(p.70) 
2. Natureza da educação científica: Os cientistas trabalham a partir de modelos 
adquiridos através da educação ou da literatura a que são expostos 
posteriormente, muitas vezes sem conhecer ou precisar conhecer quais as 
características que proporcionaram o status de paradigma comunitário a 
esses modelos.”(p.70) 
3. Avanço da ciência normal sem regras somente enquanto a comunidade 
científica relevante aceitar sem questões as soluções de problemas 
específicos já obtidas: Quando os cientistas não estão de acordo sobre a 
existência ou não de soluções para os problemas fundamentais de sua área 
de estudos, então a busca de regras adquire uma função que não possui 
normalmente. (p.73) 
4. A prioridade dos paradigmas, quando comparados com as regras e 
pressupostos partilhados por um grupo científico: Um paradigma “pode dar 
origem simultaneamente a diversas tradições da ciência normal que 
coincidem parcialmente, sem serem coexistentes.” (p.75).“Mesmo os que, 
trabalhando no mesmo campo de estudos ou em campos estreitamente 
relacionados, começam seus estudos por livros e realiza​ções científicas 
idênticos, podem adquirir paradigmas bastante diferentes no curso de sua 
especialização profissional.”(p.74) 
Segundo Kuhn, novos fatos científicos são descobertos com frequência, pondo em 
cheque a atividade central da ciência normal que é a solução de quebra­cabeças. 
Para o autor, tais novos fatos revelam uma peculiaridade oculta da ciência normal: 
“Se queremos conciliar essa característica da ciência normal com o que afirmamos 
anteriormente, é preciso que a pesquisa orientada por um paradigma seja um meio 
particularmente eficaz de induzir a mudanças nesses mesmos paradigmas que a orientam” 
(p.78) 
As mudanças advém , em parte, segundo Kuhn, das descobertas científicas 
(novidades relativas a fatos).(p.78)  
“A descoberta começa com a consciência da anomalia, isto é, com o 
reconhecimento de que, de alguma maneira, a natureza violou as expectativas 
paradigmáticas que governam a ciência normal.”(p.78) 
Para o autor, anomalia é “[...] um fenômeno para o qual o paradigma não preparara 
o investigador.” (p.84) 
“[...] anomalias que  conduzem a uma mudança de paradigma afetarão 
profundamente os conhecimentos existentes.”(p.92) Segundo Kuhn, elas podem vir a serem 
percursoras de ​crises ​da ciência nomal. 
“[...]a descoberta de um novo tipo de fenômeno é necessariamente um 
acontecimento complexo, que envolve o reconhecimento tanto da existência de algo, como 
de sua natureza” (p.81). Segundo Kuhn, o processo é longo, pois o cientista precisa 
primeiro estar atento ao fato, para que então, tanto ele como sua teoria passem por uma 
observação, seguida de uma conceituação, para que então o fenômeno seja assimilado 
pelas pesquisas científicas. 
Kuhn observa que por vezes a orientação para a descoberta de muitos desses 
fenômenos é traçada por outros cientistas, permitindo a percepção da novidade (a 
descoberta científica não pode estar ligada a uma pessoa ou tempo determinado). 
  “Quanto maiores forem a precisão e o alcance de um paradigma, tanto mais sensível 
este será como indicador de anomalias é, conseqüentemente de uma ocasião para a 
mudança de paradigma” (p.92)  
“Ao assegurar que o paradigma não será facilmente abandonado, a resistência 
garante que os cientistas não serão perturbados sem razão”. (p.92) 
4. CRISE 
Segundo Kuhn, a ciência normal “[...]é um empreendimento altamente cumulativo” 
(p.77), mas não o é em todas as situações. A explicação de um maior número de 
fenômenos e ou sua acuidade, somente foi possível com a assimilação da descoberta pelos 
cientistas e consequentemente pela rejeição e substituição de enunciados paradigmáticos 
que não se observavam mais como coerentes pela descoberta. 
 “Tal avanço somente foi possível porque algumas crenças ou procedimentos 
anteriormente aceitos foram descartados e, simultaneamente, substituídos por outros.” 
(p.93) 
Para o autor, existem transformações mais rigorosas na ciência normal quando 
comparadas a substituição de enunciados paradigmáticos, porporcionados pela 
descobertas científicas. Tais transformações envolvem a mudança do paradigma pela sua 
teoria, sendo muito impactante no seu campo de atuação, desde novas linhas de pesquisa 
a criação de novos campos de estudo. 
“A emergência de novas teorias é geralmente precedida por um período de 
insegurança profissional pronunciada, pois exige a destruição em larga escala de 
paradigmas e grandes alterações nos problemas e técnicas da ciência normal. Como seria 
de esperar, essa insegurança é gerada pelo fracasso constante dos quebra­cabeças da 
ciência normal em produzir os resultados esperados. O fracasso das regras existentes é o 
prelúdio para uma busca de novas regras.” (p.95) 
Kuhn demonstra que a ciência normal só considera admissível os resultados 
previstos pelo paradigma, mas há um ponto em que este não explica uma série de 
anomalias com a devida precisão de resultados, com isso as anomalias passam a ser 
sequentes e em diversas tradições do estudo científico. A crise da ciência normal surge 
exatamente pela falta de uma teoria que consiga prever e explicar tais anomalias. Os 
quebra­cabeçasfracassam em seu papel natural, de prever e gerar soluções para o 
paradigma. 
Segue­se então, segundo o autor, a fase de insegurança dos períodos pré 
paradigmáticos, onde várias teorias passam a concorrer para melhor tentar explicar tais 
anomalias. ​ ​A “[...]proliferação de versões de uma teoria é um sintoma muito usual de crise” 
(p.99)​. Os cientistas experimentais tentam explicar as anomalias através da articulação do 
paradigma vigente (natural, pois a ciência normal busca a atualização e comprovação do 
mesmo). Com isso o paradigma vigente passa a ficar cada vez mais complexo, sem no 
entanto ficar preciso. 
Percebe­se nesse processo, como a ciência normal é resistente à mudanças, ela o é 
para garantir que a comunidade se atente somente para um determinado conjunto de 
problemas pré­estabelecidos e para impedir o surgimento de teorias inconsistentes. 
“As crises são uma pré­condição necessária para a emergência de novas teorias” 
(p.107). Elas têm longa duração e muito acontece entre o declínio do antigo paradigma e a 
aceitação do novo. 
Segundo Kuhn, em tempos de crise os cientistas não renunciam ao paradigma 
(mesmo com sua fé abalada), “não tratam as anomalias como contra­exemplos do 
paradigma”.(p.107) Os cientistas ao se depararem com uma anomalia não rejeitarão de 
imediato o paradigma vigente por um novo, pois a ciência normal o reconhecerá apenas 
como um quebra cabeças do mesmo. Eles trabalharão incessantemente para solucionar o 
fenômeno com o paradigma vigente. 
Pelo fato da ciência normal procurar sempre estreitar a relação entre teoria e fatos, 
seu propósito é justamente solucionar os quebra­cabeças estabelecidos pelo paradigma 
(sua existência o comprova). Contudo quando o mesmo não é solucionado, a teoria não é 
prontamente derrubada, o cientista é que não é levado a sério. 
Segundo Kuhn, no momento inicial, os primeiros testes e questionamentos seguem 
as regras do paradigma vigente, mas se e a medida que a anomalia não é resolvida, mais 
articulações (que não entram em consenso) vão sendo criadas e as regras vão ficando cada 
vez mais “fracas”. 
Segue­se ,então, durante o período de crise (similar ao período pré paradigmático), 
a coexistêcia de várias versões do paradigma “enfraquece as regras de resolução dos 
quebra­cabeças da ciência normal, de tal modo que acaba permitindo a emergência de um 
novo paradigma” (p.110), surgindo desse conflito nenhum ou vários contra­exemplos.  
“A esta altura, embora ainda exista um paradigma, constata­se que poucos 
cientistas estarão de acordo sobre qual seja ele.” (p.114) Mesmo soluções de problemas 
que anteriormente eram aceitas passam a ser questionadas. 
“A transição de um paradigma em crise para um novo, do qual pode surgir uma nova 
tradição de ciência normal, está longe de ser um processo cumulativo obtido através de 
uma articulação do velho paradigma”.(p.116)Para Kuhn, implica em um processo de 
profundas transformações na percepção de um campo de estudo, em sua metodologia e 
seus objetivos. 
Segundo Kuhn, somente quando (por consenso) uma das teorias propostas for mais 
bem sucedida que as outras (todas são sucedidas) é que a comunidade a aceitará como um 
paradigma. 
 “O juízo que leva os cientistas a rejeitarem uma teoria previamente aceita, 
baseia­se sempre em algo mais do que essa comparação da teoria com o mundo. Decidir 
rejeitar um paradigma é sempre decidir simultaneamente aceitar outro e o juízo que conduz 
a essa decisão envolve a comparação de ambos os paradigmas com a natureza, bem como 
sua comparação mútua” (p.108) 
“A emergência de uma nova teoria rompe com uma tradição da prática científica e 
introduz uma nova dirigida por regras diferentes, situada no interior de um universo de 
discurso , também diferente, que tal emergência só tem probabilidades de ocorrer quando 
se percebe que a tradição anterior equivocou­se gravemente” (p.117) 
“A transição para um novo paradigma é uma revolução científica” (p.122) 
Kuhn fala que em tempos de crise, “Tal como os artistas, os cientistas criadores 
precisam, em determinadas ocasiões, ser capazes de viver em um mundo desordenado — 
descrevi em outro trabalho essa necessidade como “a tensão essencial” implícita na 
pesquisa científica.” (p.109)  
Um paradigma não é capaz de resolver todos os problemas que sua comunidade irá 
encontrar. “Os raros paradigmas que pareciam capazes disso [...] em pouco tempo 
deixaram de produzir quaisquer problemas relevantes para a pesquisa [...] Excetuando­se 
os que são exclusivamente instrumentais, cada problema que a ciência normal considera 
um quebra­cabeça pode ser visto de outro ângulo: como contra­exemplos e portanto como 
uma fonte de crise.”(p.110) 
Um quebra­cabeças pode ser considerado um contra­exemplo e vice­versa, tudo 
dependerá da interpretação e do tempo de exposição do cientista ao fenômeno. Kuhn 
atenta­se para o fato de que não existe uma linha divisória definida entre quebra­cabeças e 
contra exemplo, contudo, mesmo se a crise for instaurada ​ela não transformará o quebra 
cabeça em um contra­exemplo. 
Com isso, o aparecimento de anomalias na ciência normal não implica 
necessariamente uma crise. “Para uma anomalia originar uma crise, deve ser algo mais do 
que uma simples anomalia”(p.113). 
Segundo Kuhn, quando “[...] uma anomalia parece ser algo mais do que um novo 
quebra­cabeça da ciência normal, é sinal de que se iniciou a transição para a crise e para a 
ciência extraordiná​ria​. (p.113­114). Ela passa então a receber atenção e maior 
investigação por parte dos cientistas.  
A ​ciência extraordinária ​é voltada para regras flexíveis e beira o empirismo. Ela 
também é orientada para “a análise filosófica como um meio para resolver as charadas de 
sua área de estudos” (p.119). Através dela, “as crises fazem freqüentemente proliferar 
novas descobertas.”(p.120) 
“ A proliferação de articulações concorrentes, a disposição de tentar qualquer coisa, 
a expressão de descontentamento explícito, o recurso à Filosofia e ao debate sobre os 
fundamentos, são sintomas de uma transição da pesquisa normal para a extraordinária” 
(p.123) 
Segundo Kuhn, não há como um cientista concluir prontamente se a anomalia é um 
simples quebra­cabeças que a ciência normal pode resolver, ou se ela é um contra­exemplo 
que incitará uma crise no campo de estudo. Entretanto, ele cita alguns exemplos ao longo 
do ensaio: “Algumas vezes uma anomalia colocará claramente em questão as 
generalizações explícitas e fundamentais do paradigma [...] ou [...] uma anomalia sem 
importância fundamental aparente pode provocar uma crise, caso as aplicações que ela 
inibe possuam uma importância prática especial [...] ou [...] o desenvolvimento da ciência 
normal pode transformar em uma fonte de crise uma anomalia que anteriormente não 
passava de um incômodo” (p.113) 
Existem dois efeitos da crise que parecem universais segundo Kuhn: 
● “Todas as crises iniciam com o obscurecimento de um paradigma e o conseqüente 
relaxamento das regras que orientam a pesquisa normal” (p.115) 
● “As crises podem terminar de três maneiras” (p.115): 
○ “[...] a ciência normal acaba revelando­se capaz de tratar do problema que 
provoca crise” (p.115) 
○ “[...] nenhuma solução para o problema poderá surgir no estado atual da área 
de estudo” (p.116) 
○ “[...] uma crise pode terminar com a emergência de um novo candidato a 
paradigma” (p.116). Este pode emergir: 
■ “[...] antes que uma crise esteja bem desenvolvida ou tenha sido 
explicitamente reconhecida”(p.117) 
■ “[...] decorre um tempo considerável entre a primeira consciência do 
fracasso do paradigma e a emergência de um novo”(p.118) 
5. REVOLUÇÃO CIENTÍFICA 
Kuhn atesta que revoluções científicas são “[...] aqueles episódios de 
desenvolvimento não­cumulativo, nos quais um paradigma mais antigo é total ou 
parcialmente substituído porum novo, incompatível com o anterior.” (p.125) Seu caráter 
revolucionário, contudo, não  necessariamente significa que representa uma grande 
mudança. Só afeta aqueles paradigmas que foram mudados pelas novas teorias. 
Por que usar o termo revolução (palavra estreitamente ligada com o campo 
político)? “Tanto no desenvolvimento político como no científico, o sentimento de 
funcionamento defeituoso, que pode levar à crise, é um pré­requisito para a revolução.” 
(p.126) Além disso, segundo Kuhn, nos períodos em que ocorre competição entre 
paradigmas para a escolha de um só, há um envolvimento de critérios exteriores à própria 
ciência para a eleição de valores que determinarão o novo paradigma. 
“[...] a escolha entre paradigmas em competição demonstra ser uma escolha entre 
modos incompatíveis de vida comunitária” (p.127).  
“ Por ter esse caráter, ela não é e não pode ser determinada simplesmente pelos 
procedimentos de avaliação característicos da ciência normal, pois esses dependem 
parcialmente de um paradigma determinado e esse paradigma, por sua vez, está em 
questão.” (pág 127) 
Segundo Kuhn, o debate entre paradigmas visando a eleição de um único é “[...] 
necessariamente circular” (p.128). A argumentação proferida por cada escola para defesa 
de seu paradigima é feita através do mesmo, ela dá uma pequena mostra de como será 
cada campo de estudo (lógica, metodologia, normas, etc) se a mesma for aceita. Essa 
argumentação é necessariamente persuasiva. Através dela, da lógica e da natureza do 
problema em questão é que se convence a comunidade científica a adotá­la como novo 
paradigma. “[...] a circularidade resultante não torna esses argumentos errados ou mesmo 
ineficazes”(p.128) 
Logo, entende­se que: as escolhas de paradigmas em competição não podem ser 
determinadas pelos procedimentos de avaliação característicos da ciência normal porque 
“Nos argumentos parcialmente circulares que habitualmente resultam desses debates, cada 
paradigma revelar­se­á capaz de satisfazer mais ou menos os critérios que dita para si 
mesmo e incapaz de satisfazer alguns daqueles ditados por seu oponente” (p.144) e, além 
disso, “[...] visto que nenhum paradigma consegue resolver todos os problemas que define e 
posto que não existem dois paradigmas que deixem sem solução exatamente os mesmos 
problemas, os debates entre paradigmas sempre envolvem a seguinte questão: quais são 
os problemas que é mais significativo ter resolvido? Tal como a questão dos padrões em 
competição, essa questão de valores somente pode ser respondida em termos de critérios 
totalmente exteriores à ciência e é esse recurso a critérios externos que — mais obviamente 
que qualquer outra coisa — torna revolucionários os debates entre paradigmas.” (p.144) 
Segundo Kuhn, há diferentes percepções históricas da natureza do desenvolvimento 
da ciência, provenientes da mudança de um paradigma para outro. A linha tradicional de 
desenvolvimento sugeriria a cumulativa como a correta. 
O autor define cumulativa como :“[...] um novo fenômeno poderia emergir sem 
refletir­se destrutivamente sobre algum aspecto da prática científica passada [...] uma nova 
teoria não precisa entrar necessariamente em conflito com qualquer de suas predecessoras 
[...] a nova teoria poderia ser simplesmente de um nível mais elevado do que as 
anteriormente conhecidas, capaz de integrar todo um grupo de teorias de nível inferior, sem 
modificar substancialmente nenhuma delas [...] Na evolução da ciência, os novos 
conhecimentos substituiriam a ignorância, em vez de substituir outros conhecimentos de 
tipo distinto e incompatível.” (p.129) 
Segundo, Kuhn o processo cumulativo de fato ocorre em alguns casos onde o 
paradigma não apresenta relevância para outros. “A aquisição cumulativa de novidades, 
não antecipadas demonstra ser uma exceção quase inexistente à regra do desenvolvimento 
científico.”(p.130) Contudo, ele defende uma visão onde o paradigma anterior e seu 
sucessor são incompatíveis. Portanto, o processo não poderia ser cumulativo, aconteceria 
pela substituição de um pelo outro. 
“[...] a importância da descoberta resultante será ela mesma proporcional à extensão 
e à tenacidade da anomalia que a prenunciou.” (p.131) 
Segundo Kuhn:“Existem, em princípio, somente três tipos de fenômenos a propósito 
dos quais pode ser desenvolvida uma nova teoria” (p.131): 
● “[...] fenômenos já bem explicados pelos paradigmas existentes” (p.131): “Tais 
fenômenos raramente fornecem motivos ou um ponto de partida para a construção 
de uma teoria. Quando o fazem [...] as teorias resultantes raramente são aceitas, 
visto que a natureza não proporciona nenhuma base para uma discriminação entre 
as alternativas.”(p. 131) 
● “[...] fenômenos [...] cuja natureza é indicada pelos paradigmas existentes, mas cujos 
detalhes somente podem ser entendidos após uma maior articulação da teoria” 
(p.131):​ ​segundo Kuhn, é o​ ​mais comum entre o trabalho de cientistas, visa a 
articulação do paradigma, não a invenção de novos. 
● “[...] as anomalias reconhecidas, cujo traço característico é a sua recusa obstinada a 
serem assimiladas aos paradigmas existentes”(p.131)​: ​somente este, segundo 
Kuhn, é capaz de criar novas teorias 
Kuhn chama a atenção do leitor para o fato de que a comunidade científica (de seu 
tempo) ainda está focada numa percepção cumulativa. “Essa interpretação, estreitamente 
associada com as etapas iniciais do positivismo lógico e não rejeitada categoricamente 
pelos estágios posteriores da doutrina, restringiria o alcance e o sentido de uma teoria 
admitida, de tal modo que ela não poderia de modo algum conflitar com qualquer teoria 
posterior que realizasse predições sobre alguns dos mesmos fenômenos naturais por ela 
considerados” (p.132). Ou seja, através dessa interpretação, o paradigma nunca poderia 
entrar em conflito com seus fenômenos especiais e as aplicações do mesmo deveriam 
limitar­se àqueles fenômenos já determinados (pelo mesmo paradigma), buscando a 
articulação através de uma acuidade. Mas como explicar a descoberta de anomalias que 
levam a crise? 
Tal acumulação, segundo Kuhn, não acontece no desenvolvimento da ciência, pois 
a todo momento, a história registrou o aparecimento e estudo de fenômenos que fugiam ao 
paradigma e levaram a crises. Logo, mesmo possuindo um mecanismo de defesa 
(quebra­cabeças) contra a descoberta de anomalias, a ciência normal leva inevitavelmente 
e em algum momento a crise que tenta tanto evitar.  
Além disso, “[...] as diferenças entre paradigmas sucessivos são ao mesmo tempo 
necessárias e irreconciliáveis“ (p.137). “Embora uma teoria obsoleta sempre possa ser vista 
como um caso especial de sua sucessora mais atualizada, deve ser transformada para que 
isso possa ocorrer”(p.137).  
Segundo Kuhn, paradigmas não diferem somente em questões substantivas, “[...] a 
recepção de um novo paradigma requer com freqüência uma redefinição da ciência 
correspondente” (p.138). “Alguns problemas antigos podem ser transferidos para outra 
ciência ou declarados absolutamente ‘não­científicos’. Outros problemas anteriormente tidos 
como triviais ou não­existentes podem converter­se, com um novo paradigma, nos 
arquétipos das realizações científicas importantes” (p.138) 
Logo, “A tradição científica normal que emerge de uma revolução científica é não 
somente incompatível, mas muitas vezes verdadeiramente incomensurável com aquela que 
a precedeu.” (p.138) 
Segundo Kuhn, com a ascensão de um novo paradgima, os cientistas passam a ter 
uma percepção diferente de mundo. “Guiados por um novo paradigma, os cientistas adotam 
novos instrumentos e orientam seu olhar em novas direções” (p.145), mais importante que 
isso, passam a olhar para experimentos (feitos com instrumentos familiarizados) “em outro 
mundo”. 
Para Kuhn, o aluno leigo só passa a entrar no mundo dos cientistas apenasquando 
passa a enxergar o mundo como tal e a falar como tal. Este mundo “[...] é determinado 
conjuntamente pelo meio ambiente e pela tradição específica de ciência normal na qual o 
estudante foi treinado.” (p.146). É por isso que quando a tradição muda, muda também a 
maneira que o cientista tem sobre seu meio ambiente. “Depois de fazê­lo, o mundo de suas 
pesquisas parecerá, aqui e ali, incomensurável com o que habitava anteriormente.” (p.146) 
 “O que um homem vê depende tanto daquilo que ele olha como daquilo que sua 
experiência visual­conceitual prévia o ensinou a ver. Na ausência de tal treino, somente 
pode haver o que William James chamou de ‘confusão atordoante e intensa’ ” (p.148) 
“[...] nas ciências, se as alterações perceptivas acompanham as mudanças de 
paradigma, não podemos esperar que os cientistas confirmem essas mudanças 
diretamente.”( p.149). “Devemos antes buscar provas indiretas e comportamentais de que 
um cientista com um novo paradigma vê de maneira diferente do que via 
anteriormente.”(p.150) 
Que tipos de transformações no mundo do cientista podem ser descobertos pelo 
historiador que acredita em tais mudanças? 
Para Kuhn, a alteração do modo de ver um fenômeno científico provém tanto do 
gênio do cientista como pela exploração das possibilidades abertas provocadas por uma 
alteração do paradigma dominante. E esta mudança de percepção de mundo induzida por 
paradigma se torna importante para o desenvolvimento da ciência normal. Contudo essa 
alteração não necessita ser pela visão, pode manifestar­se de outras formas.  
Segundo Kuhn, o paradigma epistemológico tradicional apresenta uma concepção 
equivocada sobre o que acontece quando os cientistas mudam sua maneira de pensar a 
respeito de assuntos fundamentais. O dito paradigma sugere que: “ [...]o que muda com o 
paradigma é apenas a interpretação que os cientistas dão às observações que estão, elas 
mesmas, fixadas de uma vez por todas pela natureza do meio ambiente e pelo aparato 
perceptivo” (p.156) 
As diversas pesquisas que estão sendo realizadas em diversos campos do saber , 
citados por Kuhn, sugerem que o paradigma tradicional está equivocado. “Além disso, essa 
incapacidade para ajustar­se aos dados torna­se cada vez mais aparente através do estudo 
histórico da ciência” (p.156). 
“O que ocorre durante uma revolução científica não é totalmente redutível a uma 
reinterpretação de dados estáveis e individuais.” (p.157) Segundo Kuhn, primeiramente 
porque o dados não são estáveis , segundo porque o processo não é de simples 
interpretação, justamente pela instabilidade dos dados. O cientista que abraça um novo 
paradigma não é um interprete de anomalias. “Defrontado com a mesma constelação de 
objetos que antes e tendo consciência disso, ele os encontra, não obstante, totalmente 
transformados em muitos de seus detalhes” (p.157) 
Segundo Kuhn, o ato de interpretar, por ser característico da ciência normal, não 
pode corrigir o paradigma, só o articula. A ciência normal culmina, por fim, em anomalias e 
crises. “Essas terminam, não através da deliberação ou interpretação, mas por meio de um 
evento relativamente abrupto e não­estruturado semelhante a uma alteração da forma 
visual.”(p.158). Nenhum dos termos habituais de interpretação está ligado a essa 
iluminação ( semelhante alteração de forma visual), através da qual emerge um paradigma. 
Para o autor, embora essas iluminações dependam das experiências, “[...] tanto 
autônomas como congruentes, obtidas através do antigo paradigma, não estão ligadas, 
nem ló​gica, nem fragmentariamente a itens específicos dessas experiências, como seria o 
caso de uma interpretação. “ (p.158) Em lugar disso as iluminações “[...]reúnem grandes 
porções dessas experiências e as transformam em um bloco de experiências que, a partir 
daí, será gradativamente ligado ao novo paradigma e não ao velho.” (p.158) 
Segundo Kuhn, os paradigmas possuem traços perceptíveis que são notáveis 
(natureza e paradigma) e que revelam suas regularidades quase imediatamente 
(experiência imediata). Contudo, esses mesmos traços mudam por causa do compromisso 
do cientista ao paradigma (experimentos e debates para a comprovação e confirmação do 
mesmo). O paradigma epistemológico tradicional acredita que a experiência imediata não é 
a fonte principal de onde procede a pesquisa científica. Tais origens proveriam dos dados 
não­elaborados ou da experiência bruta. E , então, Kuhn faz os seguinte questionamentos: 
“Mas a experiência dos sentidos é fixa e neutra? Serão as teorias simples interpretações 
humanas de determinados dados?” (p.161) 
Segundo Kuhn, o paradigma epistemológico tradicional responde­as 
afirmativamente. Num primeiro momento o autor concebe impossível abandoná­la (a teoria 
tradicional). “Todavia ela já não funciona efetivamente e as tentativas para fazê­la funcionar 
por meio da introdução de uma linguagem de observação neutra parecem­me agora sem 
esperança.” (p.161) 
Sobre o empreendimento científico pela obtenção de operações e medições, Kuhn 
afirma que: “A ciência não se ocupa com todas as manifestações possíveis no laboratório. 
Ao invés disso, seleciona aquelas que são relevantes para a justaposição de um paradigma 
com a experiência imediata, a qual, por sua vez, foi parcialmente determinada por esse 
mesmo paradigma” (p.162). Ou seja, o cientista visa somente coletar informações que 
comprovem o estreitamento entre a teoria e a natureza. A interpretação que ele terá dessas 
informações será altamente influenciada pelo mesmo paradigma que está tentando 
comprovar. 
Kuhn afirma que na ciência não há uma linguagem de observação pura. 
Experimentos estão sendo feitos para ver se tal linguagem seria possível. O que se 
descobriu foi que o ser humano a partir de um mesmo paradigma pode “ver” coisas 
diferentes, também que pode ver a mesma coisa a partir de paradigmas diferentes. Mas 
ainda assim, “Nenhuma das tentativas atuais conseguiu até agora aproximar­se de uma 
linguagem de objetos de percepção puros, aplicável de maneira geral.” (p.162). As que mais 
são bem sucedidas partem do pressuposto de um paradigma e tentam purificá­lo “ [...]de 
todos os seus termos não­lógicos ou não­perceptivos (p.162­163)  
Nessas circunstâncias, Kuhn sugere que “[...] o cientista que olha para a oscilação 
de uma pedra não pode ter nenhuma experiência que seja, em princípio, mais elementar 
que a visão de um pêndulo. A alternativa não é uma hipotética visão ‘fixa’, mas a visão 
através de um paradigma que transforme a pedra oscilante em alguma outra coisa”(p.164), 
porque somente “ [...]quando todas as categorias conceituais e de manipulação estão 
preparadas de antemão”(p.164) é que se faz possível para o cientista “ver” aquilo com que 
“parece ver”. 
“Os paradigmas determinam ao mesmo tempo grandes áreas da experiência.” 
(p.165) 
“Contudo, é somente após a experiência ter sido determinada dessa maneira que 
pode começar a busca de uma definição operacional ou de uma linguagem de observação 
pura.”(p.165) 
“[...] embora elas sejam sempre legítimas e em determinadas ocasiões 
extraordinariamente frutíferas, as questões a respeito das impressões da retina ou sobre as 
conseqüências de determinadas manipulações de laboratório pressupõem um mundo já 
subdividido perceptual e conceitualmente de acordo com uma certa maneira. Num certo 
sentido, tais questões são partes da ciência normal, pois dependem da existência de um 
paradigma e recebem respostas diferentes quando ocorre uma mudança de paradigma.” 
(p.165) 
Logo, podemos concluir que o cientista que se encontra e um período 
pós­revolucinário está vendo o mesmo mundo, mas trabalha em outro. Tal fato se deve, 
como já foi dito, porque o novo paradigma inevitavelmente tem laços com o antigo. As 
experiências em laboratório após a substituição de teorias, obviamente, não será mais a 
mesma,as manipulações e medições de um determinado fato passam a ser descartadas, 
mas as mudanças desse tipo nunca são absolutas. “Não importa o que o cientista possa 
então ver, após a revolução o cientista ainda está olhando para o mesmo mundo. Além 
disso, grande parte de sua linguagem e a maior parte de seus instrumentos de laboratório 
continuam sendo os mesmos de antes, embora anteriormente ele os possa ter empregado 
de maneira diferente”(p.165) 
 “Em conseqüência disso, a ciência pós­revolucionária invariavelmente inclui muitas 
das mesmas manipulações, realizadas com os mesmos instrumentos e descritas nos 
mesmos termos empregados por sua predecessora pré­revolucionária. Se alguma mudança 
ocorreu com essas manipulações duradouras, esta deve estar nas suas rela​ções com o 
paradigma ou nos seus resultados concretos.” (p.165­166) 
Para Kuhn,as revoluções científicas são omitidas pelo modelo pedagógico adotado 
pelos manuais científicos (promovem a ideia de que o desenvolvimento científico é 
cumulativo). 
  Segundo o autor, os manuais científicos, juntamente com os textos de divulgação e 
obras filosóficas moldadas naquele, são fonte de autoridade da ciência normal. “Referem­se 
a um corpo já articulado de problemas, dados e teorias e muito freqüentemente ao conjunto 
particular de paradigmas aceitos pela comunidade científica na época em que esses textos 
foram escritos.”(p.174) 
Os manuais “ [...] pretendem comunicar o vocabulário e a sintaxe de uma linguagem 
científica contemporânea”(p.174). “As obras de divulgação tentam descrever essas mesmas 
aplicações numa linguagem mais próxima da utilizada na vida cotidiana. E a Filosofia da 
Ciência [...] analisa a estrutura lógica desse corpo completo de conhecimentos científicos” 
(p.174). “Todas elas registram o resultado estável das revoluções passadas e desse modo 
põem em evidência as bases da tradição corrente da ciência normal.”(p.174) 
Segundo Kuhn, os manuais são veiculos pedagogicos perpetuadores das tradições 
da ciência normal, logo, caso haja uma revolução científica, ele deve ser imediatamente 
mudado para aceitar o novo paradigma. Ao abraçar a revolução científica, os manuais 
dissimulam inevitavelmente o papel desempenhado e a existência da mesma. Esses 
manuais compactuam com a ideia linear e cumulativa de desenvolvimento científico.  
“[...] os cientistas são mais afetados pela tentação de reescrever a história, em parte 
porque os resultados da pesquisa científica não revelam nenhuma dependência óbvia com 
relação ao contexto histórico da pesquisa e em parte porque, exceto durante as crises e as 
revoluções, a posição contemporânea do cientista parece muito segura.” (pág 176) 
Segundo Kuhn, a mudança na reformulação de perguntas e repostas, para aproximar o 
paradigma velho ao novo (mesmo sendo incompatíveis) é a chave na construção da 
percepção de um desenvolvimento linear e cumulativo. 
Para o autor, a causa eminente dessa reformulação é a invisibilidade das revoluções 
científicas. “[...] existem grandes possibilidades de que essa técnica cause a seguinte 
impressão: a ciência alcançou seu estado atual através de uma série de descobertas e 
invenções individuais, as quais, uma vez reunidas, constituem a coleção moderna dos 
conhecimentos técnicos.” (p.178) 
“ Muitos dos quebra­cabeças da ciência normal contemporânea passaram a existir 
somente depois da revolução científica mais recente. Poucos deles remontam ao início 
histórico da disciplina na qual aparecem atualmente. As gerações anteriores ocuparam­se 
com seus próprios problemas, com seus próprios instrumentos e cânones de resolução. E 
não foram apenas os problemas que mudaram, mas toda a rede de fatos e teorias que o 
paradigma dos manuais adapta à natureza,” (p.179) 
 
 
6. RESOLUÇÃO 
As revoluções científicas, período onde ocorre a substituição de um paradigma por 
outro, segundo Kuhn, são comumente proporcionadas por cientistas que passaram a ter 
uma nova percepção de sua tradição científica e da natureza. Normalmente são jovens cujo 
pouco tempo dedicado ao exercício da ciência normal não os comprometeu tanto quanto 
seu colegas mais velhos às percepções de mundo e regras que o velho paradigma ditava. 
Kuhn atenta­se para o fato de que: na busca pela elucidação de quebra­cabeças, o 
cientista pode testar abordagens alternativas, elegendo­as ou descartando­as, visando o 
estreitamento entre enunciado e natureza. Ao fazer essas tentativas, não significam que 
cientista testou o paradigma, “[...] testam a si mesmas e não as regras do jogo” (p.184), pois 
elas partem do próprio paradigma. 
“Por isso, o teste de um paradigma ocorre somente depois que o fracasso 
persistente na resolução de um quebra­cabeça importante dá origem a uma crise. E, 
mesmo então, ocorre somente depois que o sentimento de crise evocar um candidato 
alternativo a paradigma” (p.184). Para o autor, o teste representa parte da competição entre 
dois paradigmas distintos pelo posto de paradigma dominante. 
Segundo Kuhn, essa competição de paradigmas evoca teorias contemporâneas 
sobre a verificação dos mesmos. A verificação não tem o objetivo de questionar se a teoria 
foi verificada, mas sim a sua probabilidade. Durante a competição, as escolas têm que 
testar a habilidade de suas teorias para explicar fenômenos que a elas são propostos. A 
teoria que consegue persuadir a comunidade é aceita, ela (a teoria) passa a ditar as 
diretrizes da então nova ciência normal e “[...] indica uma das dire​ções pelas quais deverão 
avançar as futuras discussões sobre o problema da verificação.”(p.185) 
“Entretanto, nas suas formas mais usuais, todas as teorias de verificação 
probabilísticas recorrem a uma ou outra das linguagens de observação puras ou neutras 
discutidas” (p.185) usualmente pela: 
● Comparação da teoria científica em exame com todas as outras teorias imagináveis 
que se adaptem ao mesmo conjunto de dados observados 
● Construção imaginária de todos os testes que possam ser concebidos para testar 
determinada teoria 
Contudo, para Kuhn, não existe uma linguagem de observaçao pura ou neutra, esse 
sistema de verificação é também pressuposto de um paradigma. “Conseqüentemente, as 
teorias probabilísticas dissimulam a situação de verificação tanto quanto a iluminam.”(pág 
185) 
Popper, um filósofo da ciência rejeita tais procedimentos de verificação. Ao invés 
disso ele propõe um teste a base da falsificação, “[...]isto é, do teste que, em vista de seu 
resultado negativo, torna inevitável a rejeição de uma teoria estabelecida”. (pág 185). 
Apesar desse enfoque lembrar muito o que Kuhn dá as anomalias, este duvida de tal 
procedimento por falsificação. Segundo Kuhn, todas as teorias tem problemas para resolver 
seus quebra­cabeças e mesmo aquelas que tem soluções, muitas não são bem resolvidas 
(razões da própria existência de quebra­cabeças). Logo, todas as teorias deveriam ser 
rejeitadas por fracassar, em algum momento, na tentativa de adequar uma teoria. 
Segundo Kuhn, tanto a verificação quanto a falsificação são etapas de um processo 
conjunto da escolha de novos paradigmas. “[...] é nesse processo que a comparação 
probabilística das teorias desempenha um papel central” (p.187). Quando analisada 
individualmente poucas questões podem ser postas se uma teoria se adequa aos fatos, 
mas quando analisamos duas teorias em competição parece muito mais lógico levantar a 
questão de qual das duas melhor se adequa aos fatos. 
Para Kuhn, tal questão, contudo, não é tão fácil como parece. Como já foi dito 
anteriormente, tais escolas iniciam um “debate circular”. As teorias diferem entre si tanto 
nos enunciados como no conjunto de problemas científicos que tais enunciados visam 
responder. “Embora cada um deles possa ter a esperança de converter o adversá​rio à sua 
maneira de ver a ciência e a seus problemas, nenhum dos dois pode ter a esperançade 
demonstrar sua posição. A competição entre paradigmas não é o tipo de batalha que possa 
ser resolvido por meio de provas” (p.188) 
“Coletivamente, essas razões foram descritas como a incomensurabilidade das 
tradições científicas normais, pré e pós­revolucionárias”(p.188). Vale­se lembrar, entretanto, 
que os novos paradigmas surgem dos antigos, “[...] incorporam comumente grande parte do 
vocabulário e dos aparatos, tanto conceituais como de manipulação, que o paradigma 
tradicional já empregara”(p.189). Contudo, os aplicam de uma maneira nada tradicional, 
fazendo surgir o que Kuhn chama de de “um mal­entendido entre as duas escolas 
competidoras”. São características da incomensurabilidade: 
● “[...] os proponentes de paradigmas competidores discordam seguidamente quanto à 
lista de problemas que qualquer candidato a paradigma deve resolver.”(p.188)  
● “Seus padrões científicos ou suas definições de ciência não são os mesmos”. 
(p.188) 
● “[...] os proponentes dos paradigmas competidores praticam seus ofícios em mundos 
diferentes” (p.188) 
Segundo Kuhn, para que o diálogo entre os grupos seja estabelecido um tem que 
experimentar a conversão para o outro paradigma. Se sucedida ela ocorre subitamente (não 
necessariamente num instante) ou nunca acontecerá. 
Contudo, “A transferência de adesão de um paradigma a outro é uma experiência de 
conversão que não pode ser for​çada”(p. 191). A resistência a mudança ,por parte de muitos 
cientistas, vem da convicção que a tradição da ciência normal pode solucionar todos os 
quebra­cabeças propostos pelo paradigma vigente. Logo, “[...] não é uma violação dos 
padrões científicos, mas um índice da própria natureza da pesquisa científica.” (p.191­192). 
Para Kuhn, só através da ciência normal é que a comunidade obtém sucesso. 
Segundo Kuhn, a conversão vem pela aceitação ou persuasão dos cientistas ao 
novo paradigma, mesmo levando pelo menos uma geração para que a mudança se 
concretize, na história a comunidade acaba abraçando a transição.Ela (a conversão de 
cientistas) provém de muitos tipos de motivos e até mesmo vários deles. O só releva , 
contudo, os motivos coletivos que levam a adesão do novo paradigma. As alegações mais 
comuns da comunidade científica são: 
● Capacidade de resolver os problemas que conduziram o antigo paradigma a 
uma crise​: segundo Kuhn,  é a mais eficaz de todas, quando legítima, se apresentar 
precisão quantitativa superior ao antigo paradigma, contudo muitas vezes não tem 
força suficiente ou não conseguem uma legitimação imediata (por vezes até mesmo 
nenhuma) . “Argumentos dessa natureza revelam­se particularmente persuasivos, 
devido a seu impacto e porque, evidentemente, não estavam ‘incluídos’ na teoria 
desde o início.” (p.195) 
 
 
● Argumentos, raras vezes completamente explicitados, que apelam, no 
indivíduo, ao sentimento do que é apropriado ou estético: ​segundo Kuhn é 
comum na matemática, muitas vezes leva tempo para que motivo de ser 
esteticamente apelativo seja desenvolvido. Provém de razões individuais de um 
grupo para que o paradigma se desenvolva 
“[...] os debates entre paradigmas não tratam realmente da habilidade relativa para 
resolver problemas [...] Ao invés disso, a questão é saber que paradigma deverá orientar no 
futuro as pesquisas sobre problemas.”(p. 198) A conversão para o paradigma, segundo 
Kuhn, é principalmente um ato de fé, porque nenhum paradigma pode resolver todos os 
problemas a que se propõem. A escolha de tentar alternativas diferentes para o teste de 
fenômenos da ciência normal é uma escolha do cientista que mais se baseia em promessas 
do futuro do que realizações passadas. 
Segundo Kuhn, para que um paradigma seja aceito deve conquistar alguns adeptos 
iniciais para o desenvolvimento do mesmo, até o ponto em que se produza argumentos 
objetivos. Não existe um único argumento que possa convencer todos os cientistas a 
adotarem­o, contudo alguns eventualmente serão capazes de tal feito. “Mais que uma 
conversão de um único grupo, o que ocorre é uma crescente alteração na distribuição de 
adesões profissionais.” (p. 199) 
“Embora o historiador sempre possa encontrar homens […] que não foram razoáveis 
ao resistirem por tanto tempo, não encontrará um ponto onde a resistência torna­se ilógica 
ou acientífica. Quando muito ele poderá querer dizer que o homem que continua a resistir 
após a conversão de toda a sua profissão deixou ipso jacto de ser um cientista.” (p. 200) 
7. O progresso através de revoluções 
Para Kuhn, o progresso tanto em comunidades das ciências da natureza quanto em 
outras áreas é o resultado de um trabalho bem sucedido. Na ciência natural é facilmente 
observado em períodos de ciência normal (não em períodos revolucionários ou 
pré­paradigmáticos, que colocam o progresso em dúvida), já nas não­científicas não. Isso 
ocorre não porque não há progesso em escolas individuais, mas porque escolas 
competidoras as criticam a todo momento.  
Segundo Kuhn, diferentemente de outras áreas, as ciências naturais, não 
necessitam reexaminar seus fundamentos a todo o momento pois são parte de uma 
comunidade científica regida por um ou mais paradigmas. A comunidade científica se isola 
da sociedade, como consequência, o cientista está preocupado somente em resolver os 
problemas que julga importante para ele  e sua comunidade. Visto que ela e o cientista tem 
crenças e valores semelhantes,a resolução de problemas se torna mais fácil porque ele não 
tem que se preocupar com o que outras escolas pensarão sobre seu trabalho. Já os 
cientistas sociais tendem a defender o objeto de estudo de seu trabalho, principalmente 
pelo valor do resultado para a sociedade. 
Segundo Kuhn, o isolamento da comunidade científica vem desde seu aprendizado. 
Os cientistas aprendem sua tradição científica através de manuais, livros escritos 
especialmente para estudantes. Já em outras áreas, o aprendizado se dá através da 
exposição à trabalhos de outros profissionais (literatura, música, artes gráfica), ou até 
mesmo da leitura de manuais, mas estes não são as únicas fontes de estudo, a leitura 
paralela é imprescindivel para o aprendizado (ciências sociais, história, filosofia). 
“Desse modo, no seu estado normal, a comunidade científica é um instrumento 
imensamente eficiente para resolver problemas ou quebra­cabeças definidos por seu 
paradigma. Além do mais, a resolução desses, problemas deve levar inevitavelmente ao 
progresso. ” (p.208) 
Além disso, segundo Kuhn, o progresso vem também pela revolução. Graças ao 
ponto de vista que o próprio cientista possui do desenvolvimento da ciência como algo 
evolutivo, cumulativo e linear. “Em suma, vê o passado da disciplina como orientado para o 
progresso. (pág 209) 
“A própria existência da ciência depende da delegação do poder de escolha entre 
paradigmas a membros de um tipo especial de comunidade” (pág 210) Kuhn afirmas que 
para ser membro de tal comunidade é necessário possuir algumas características: 
● “[...] estar preocupado com a resolução de problemas relativos ao comportamento da 
natureza.” (p.210) 
● “[...] os problemas nos quais trabalha devem ser problemas de detalhe.”(p.210) 
● As soluções que resolvem problemas devem satisfazer a comunidade científica: “Os 
membros do grupo, enquanto indivíduos e em virtude de seu treino e experiência 
comuns, devem ser vistos como os únicos conhecedores das regras do jogo ou de 
algum critério equivalente para julgamentos inequí​vocos.”(p. 211) 
Segundo Kuhn, o progresso científicos inclui ganhos, já amplamente discutidos, e 
perdas: A comunidade fará o possível para garantir o crescimento contínuo dos dados 
coletados que está em condições de examinar com acuidade. Com isso alguns problemas 
antigos precisarão ser abandonados.  
“Além disso, comumente a revolução diminui o âmbito dos interesses profissionais 
da comunidade,aumenta seu grau de especialização e atenua sua comunicação com 
outros grupos, tanto científicos como leigos. Embora certamente a ciência se desenvolva 
em termos de profundidade, pode não desenvolver­se em termos de amplitude. Quando o 
faz, essa amplitude manifesta­se principalmente através da proliferação de especialidades 
científicas e não através do âmbito de uma única especialidade”(pág 212) 
Kuhn afirma que apesar das perdas experimentadas por comunidades individuais, a 
natureza dos mesmos garantirá o aumento da relação de problemas a serem solucionados 
e da precisão das soluções individuais. 
“O processo de desenvolvimento descrito neste ensaio é um processo de evolução a 
partir de um início primitivo — processo cujos estágios sucessivos caracterizam­se por uma 
compreensão sempre mais refinada e detalhada da natureza. Mas nada do que foi ou será 
dito transforma­o num processo de evolução em direção a algo.Estamos muito 
acostumados a ver a ciência como um empreendimento que se aproxima cada vez mais de 
um objetivo estabelecido de antemão pela natureza.” (p.213) 
“O resultado final de uma seqüência de tais seleções revolucionárias, separadas por 
períodos de pesquisa normal, é o conjunto de instrumentos notavelmente ajustados que 
chamamos de conhecimento científico moderno. Estágios sucessivos desse processo de 
desenvolvimento são marcados por um aumento de articulação e especialização do saber 
científico. Todo esse processo pode ter ocorrido [...] sem o benefício de um objetivo 
preestabelecido, sem uma verdade científica permanentemente fixada, da qual cada estágio 
do desenvolvimento científico seria um exemplar mais aprimorado.” (pág 215­216)

Continue navegando