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UERJ Civil I Aula 6 - Pessoa Natural - Carlos Affonso

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DIREITO	
  CIVIL	
  I	
  
	
  
Aula	
  6	
  
Pessoa	
  Natural	
  
	
  
	
   
	
  
 A pessoa natural é o ponto de partida e o fim de 
todas as construções jurídicas. 
 
 Com o advento da CRFB/88 opera-se uma 
ruptura da cultura jurídica dominante para 
encontrar na pessoa humana o seu centro 
referencial. 
 “Dessa forma, volta-se o ordenamento não mais 
para o indivíduo, abstratamente considerado, 
mas para a tutela da pessoa humana nas 
concretas e diferenciadas relações jurídicas em 
que se insere, como forma de assegurar os 
princípios constitucionais da solidariedade social 
e da igualdade substancial” 
 Gustavo Tepedino 
 TÍTULO I 
Dos Princípios Fundamentais 
 
 Art. 1 - A República Federativa do Brasil, formada pela união 
indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, 
constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como 
fundamentos: 
 
 III - a dignidade da pessoa humana; 
 
 TÍTULO I 
DAS PESSOAS NATURAIS 
 CAPÍTULO I 
DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE 
 
 Art. 1 - Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. 
 “O sentido de ‘toda’ pessoa é pessoa no aspecto 
físico, como todo ser humano dotado de inteligência, 
abrangendo homens e mulheres, independentemente de 
raça, cor, credo religioso, tendência política, 
nacionalidade e outras notas particularizadoras” 
 Arnaldo Rizzardo 
 
 “Pessoa física ou natural é o ser dotado de razão e 
portador de sociabilidade condição que o leva à 
convivência” 
 Paulo Nader 
 
 “As pessoas naturais ou físicas são os seres humanos” 
 Orlando Gomes 
 Nesse sentido, a idéia de personalidade está diretamente 
ligada à de pessoa, pois todo homem tem aptidão para 
desempenhar na sociedade um papel jurídico. 
 
 Percebe-se, ainda, que a ordem jurídica não confere 
personalidade a outros seres vivos. Animais não são 
pessoas e, portanto, não podem ser titulares de direito. 
 
 Lei 9.605/98 - Art. 32. Praticar ato de abuso, maus-
tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou 
domesticados, nativos ou exóticos: 
    Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. 
 
 Lei 6.638/79 – Estabelece normas para a prática 
didático-científica da vivissecção de animais e 
determina outras providências. 
 Tradicionalmente define-se personalidade como a 
como a possibilidade de um determinado 
indivíduo ser sujeito de direitos e obrigações. 
 
 Para Caio Mário da Silva Pereira é a “aptidão 
genérica para adquirir direitos e contrair 
deveres”. 
 
 “Aptidão genérica reconhecida a toda e qualquer 
pessoa que possa titularizar relações jurídicas e 
reclamar a proteção jurídica dedicada pelos 
direitos da personalidade” 
 Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald 
 Todavia, é preciso ter em mente que a legalidade 
constitucional alterou a sistemática do direito 
anterior para encontrar no ser humano o seu 
centro referencial. 
 
 Nesse sentido é necessária a superação da 
compreensão que esgota a personalidade 
unicamente nesta “aptidão”. 
 
 A personalidade não pode ser sinônimo de 
capacidade. 
 A rigor, há dois sentidos técnicos para o 
conceito de personalidade. O primeiro associa-se 
à qualidade para ser sujeito de direito, conceito 
aplicável às pessoas físicas quanto às jurídicas. O 
segundo traduz o conjunto de características e 
atributos da pessoa humana, considerada 
objeto de proteção privilegiada por parte do 
ordenamento, bem jurídico representado 
pela afirmação da dignidade humana, sendo 
peculiar, portanto, à pessoa natural”. 
 Gustavo Tepedino 
 O conceito de personalidade, então, tanto pode se 
entender como aplicável ao sujeito de direito (aquele 
apto a ser titular de uma situação jurídica subjetiva – 
art. 1º, CC), como também objeto de direitos (direitos 
da personalidade). 
 
 Assim, para evitar a perigosa mistura de conceitos, 
parte da doutrina vem denominando esta aptidão para 
exercer direitos e obrigações de subjetividade, cuja 
denominação pode ser perfeitamente estendida às 
pessoas jurídicas e aos entes despersonalizados 
(condomínio edilício, espólio, fundos de investimentos, 
entre outros), sem que se traga a estas categorias o 
conceito de personalidade (conjunto de atribuições da 
pessoa), intimamente relacionada à pessoa humana. 
 
 
 Personalidade à conjunto de atributos e 
características próprias do ser humano. 
 
 Subjetividade à aptidão genérica para ser 
sujeito de direitos e obrigações. 
 Início da Personalidade: 
 
 Art. 2 - A personalidade civil da pessoa começa 
do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, 
desde a concepção, os direitos do nascituro. 
 
 O Código Civil determina que a personalidade 
somente se inicia a partir do nascimento com 
vida. 
 Requisitos para aquisição da personalidade: 
 
 i) nascimento; 
 ii) Vida 
 
 Para que se inicie a personalidade, é preciso que 
o feto seja separado do ventre materno 
(nascimento) e que esteja vivo, ainda que por 
frações de segundo. 
 O nascimento com vida, atualmente, configura-
se com a troca oxicarbônica, isto é, com a 
primeira respiração. 
 
 Essa questão é resolvida através da perícia 
médico-legal, por intermédio do procedimento 
denominado docimasia pulmonar. 
 
 O natimorto não adquire personalidade 
(Orlando Gomes). 
 O nosso código não faz menção a outros 
requisitos, tais como viabilidade e forma 
humana. 
 
 Viabilidade é a aptidão para a vida e situa-se na 
compleição fisiológica para viver (Ex. acefalia). 
 
 A anencefalia consiste em malformação rara do 
tubo neural, caracterizada pela ausência total ou 
parcial do encéfalo. 
 
 “A personalidade jurídica é adquirida através do 
nascimento com vida, conferindo-se ao regular 
registro civil de nascimento, no cartório do 
Registro Civil de Pessoas Naturais, caráter 
meramente administrativo, de natureza 
declarativa e não constitutiva” 
 Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald 
 
 “Não se justifica, igualmente, que a aquisição de 
personalidade dependa do revestimento da forma 
humana e seja recusada aos seres malformados, às 
aberrações teratológicas, outrora abrangidas na 
designação genérica de monstros” 
 Caio Mário da Silva Pereira 
 
 O art. 30 do Código Espanhol exige forma humana e 
que tenha vivido 24 horas. O dispositivo, no entender 
da doutrina espanhola, no entanto, é tido como 
violador da Convenção da ONU sobre os Direitos da 
Criança de 1989 ratificada pela Espanha e pelo Brasil 
(25 de setembro de 1990 ). 
 Nascituro: 
 
 Se a personalidade se inicia com o nascimento 
com vida, o nascituro é pessoa natural? 
 
 Nascituro é o ser já concebido, mas que ainda se 
encontra no ventre materno. 
 
 A importância reside para fins sucessórios e de 
qualificação de nacionalidade. 
 Para resolver o problema de existência ou não da 
personalidade do nascituro surgem três principais 
correntes: 
 
 i) Natalista - somente é dotada de personalidade a 
pessoa que nasce com vida (Vicente Ráo, Caio Mário da 
Silva Pereira); 
 
 ii) Concepcionista – a personalidade é atributo que se 
adquire a partir da concepção (Maria Helena Diniz, 
Limongi França, Francisco Amaral, J. M. Leoni de 
Oliveira) 
 
 iii) Personalidade Condicional – a personalidade se 
inicia a partir da concepção, ficando condicionada ao 
nascimento com vida (Arnaldo Rizzardo, Washington 
de Barros). 
 
 “O nascituro não é ainda uma pessoa, não é um 
ser dotado de personalidade jurídica. Os direitos 
que se lhe reconhecem permanecem em estado 
potencial” 
 Caio Mário da Silva Pereira 
 
 “O nascituro não tem capacidade para exercer 
direitos, (...) unicamente a proteção da lei é que 
vinga desde a concepção” 
 Arnaldo Rizzardo 
 Art. 2 - A personalidadecivil da pessoa começa do nascimento com 
vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do 
nascituro. 
 
 Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu 
representante legal. 
 
 Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento 
é irrevogável e será feito: 
 Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do 
filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes. 
 
 Art. 1.779. Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando 
grávida a mulher, e não tendo o poder familiar. 
 
 Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a 
suceder: 
 I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo 
testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; 
 Por outro lado, defensores da teoria 
concepcionista defendem que a personalidade se 
inicia com a concepção e, portanto, o nascituro é 
pessoa. 
 
 O fundamento se encontra no valor da pessoa 
humana, que reveste todo o ordenamento. 
Vislumbram-se a tese defendida por essa teoria 
no Pacto de São José da Costa Rica e no 
Estatuto da Criança e do Adolescente. 
Lei 8.069/90 
Título II 
Dos Direitos Fundamentais 
Capítulo I 
Do Direito à Vida e à Saúde 
 
 Art. 7 - A criança e o adolescente têm direito a proteção 
à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas 
sociais públicas que permitam o nascimento e o 
desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições 
dignas de existência. 
 Pacto de São José da Costa Rica (Convenção 
Americana De Direitos Humanos ) 
 
 Artigo 4º - Direito à vida 
 1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite 
sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei 
e, em geral, desde o momento da concepção. 
Ninguém pode ser privado da vida 
arbitrariamente. 
 Afirma-se, ainda a existência de diversos 
dispositivos no código civil que determinam a 
proteção do nascituro, demonstrando que ele 
tem personalidade. 
 
 Ex: arts. 2º, 542, 1.609, 1.779 e 1.799, todos 
 do CC/02. 
 
 Para além das inúmeras controvérsias, a verdade é que o 
nascituro demanda uma proteção jurídica. 
 
 Processo Civil. Preliminar. Natureza. Nascituro. Gestante. 1. A 
preliminar e' um meio de defesa que visa terminar o processo, 
por ausencia do direito de acao ou de algum dos pressupostos 
para seu desenvolvimento valido e regular, sem que o Juizo 
decida sobre o merito do conflito de interesses. 2. E, 
considerando este aspecto, o pedido de que na peticao inicial 
conste o nome da farmacia que a agravada comprou o 
medicamento ineficaz nao tem a natureza de preliminar, porque 
tal indicacao exclui-se do rol legal dos requisitos da peticao inicial 
(art. 282 e 283 do CPC) e a sua falta nao resulta na extincao do 
processo sem o julgamento do merito. 3. O ordenamento 
positivo assegura a protecao de alguns direitos de que, ao nascer 
com vida e adquirir a personalidade civil, a pessoa 
provavelmente sera' titular (art. 4. do CC). E, diante da ausencia 
de personalidade civil que impede o nascituro de estar em 
Juizo, atribui-se `a gestante a legitimidade para, em nome 
proprio, perseguir a defesa desses direitos. (AC. 1999.002.12142) 
 
 Registre-se, por fim, que a proteção conferida ao 
nascituro alcança o natimorto no que diz 
respeito aos direitos da personalidade. 
 
 Enunciado 1, I Jornada de Direito Civil – a 
proteção que o Código defere ao nascituro 
alcança o natimorto no que concerne aos 
direitos da personalidade, tais como nome, 
imagem e sepultura. 
 O problema do embrião: 
 
 A questão do uso dos embriões também suscita 
inúmeras dúvidas e não pode ser resolvido à luz do art. 
2º do CC/02. 
 
 Enunciado 2, I Jornada de Direito Civil - sem 
prejuízo dos direitos da personalidade nele assegurados, 
o art. 2º do Código Civil não é sede adequada para 
questões emergentes da reprogenética humana, que 
deve ser objeto de um estatuto próprio. 
 
 O avanço da ciência e biologia tem levado os 
intérpretes a novas indagações. 
 
 É preciso determinar se o embrião é pessoa ou não. 
Obviamente não se pode tratar o estágio inicial da vida 
humana como coisa. 
 
 Não obstante posições contrárias, o embrião congelado 
não pode ser considerado nascituro, só o sendo no 
momento em que se encontre implantado no ventre 
materno (Fábio Ulhoa Coelho). 
 O problema é extremamente controverso e foi 
analisado no julgamento da ADI 3.510 – DF de 
relatoria do Min. Carlos Britto. 
 
 De um lado defendia-se que a idéia do zigoto ou 
óvulo feminino já fecundado como simples 
embrião de uma pessoa humana é reducionista, 
porque o certo mesmo é vê-lo como um ser 
humano embrionário. Uma pessoa no seu 
estádio de embrião, portanto, e não um embrião 
a caminho de ser pessoa. 
 
 Por outro lado, para a segunda corrente, o embrião in 
vitro é uma realidade do mundo do ser, algo vivo, sim, 
que se põe como o lógico início da vida humana, mas 
nem em tudo e por tudo igual ao embrião que irrompe 
e evolui nas entranhas de u’a mulher. Sendo que 
mesmo a evolução desse último tipo de embrião ou 
zigoto para o estado de feto somente alcança a 
dimensão das incipientes características físicas e neurais 
da pessoa humana com a meticulosa colaboração do 
útero e do tempo. 
 A discussão cingia-se ao julgamento do art. 5ºda Lei 
11.105/2005 que permite o uso de células-tronco 
embrionária para fins de pesquisa e terapia. 
 
 Art. 5 - É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a 
utilização de células-tronco embrionárias obtidas de 
embriões humanos produzidos por fertilização in vitro 
e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas 
as seguintes condições: 
 I – sejam embriões inviáveis; ou 
 II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou 
mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já 
congelados na data da publicação desta Lei, depois de 
completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de 
congelamento. 
 “a potencialidade de algo para se tornar pessoa 
humana já é meritória o bastante para acobertá-
lo, infraconstitucionalmente, contra tentativas 
esdrúxulas, levianas ou frívolas de obstar sua 
natural continuidade fisiológica. Mas as três 
realidades não se confundem: o embrião é o 
embrião, o feto é o feto e a pessoa humana é a 
pessoa humana. Esta não se antecipa à 
metamorfose dos outros dois organismos. É 
o produto final dessa metamorfose” 
 Min. Carlos Britto 
 “É assim ao influxo desse olhar pós-positivista sobre o 
Direito brasileiro, olhar conciliatório do nosso 
Ordenamento com os imperativos de ética humanista e 
justiça material, que chego à fase da definitiva prolação 
do meu voto. Fazendo-o, acresço às três sínteses 
anteriores estes dois outros fundamentos 
constitucionais do direito à saúde e à livre expressão da 
atividade científica para julgar, como de fato julgo, 
totalmente improcedente a presente ação direta de 
inconstitucionalidade. Não sem antes pedir todas as 
vênias deste mundo aos que pensam diferentemente, 
seja por convicção jurídica, ética, ou filosófica, seja por 
artigo de fé. É como voto.” 
 Min. Carlos Britto 
 Fim da Personalidade: 
 
 “A personalidade é um atributo do ser humano e o 
acompanha por toda a sua vida. Como a existência da 
pessoa natural termina com a morte, soment com esta 
cessa sua personalidade” 
 Caio Mário da Silva Pereira 
 
 - Mors omnia solvit 
 - Abolição da morte civil 
 Art. 6 - A existência da pessoa natural termina 
com a morte; presume-se esta, quanto aos 
ausentes, nos casos em que a lei autoriza a 
abertura de sucessão definitiva. 
 
 Mas qual o critério jurídico para fixar o 
momento da morte? 
 
 
 Juridicamente, considera-se terminada a vida com a 
morte encefálica ou morte cerebral, como se verifica do 
art. 3º da Lei 9.434/97.Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou 
partes do corpo humano destinados a transplante ou 
tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de 
morte encefálica, constatada e registrada por dois 
médicos não participantes das equipes de remoção e 
transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e 
tecnológicos definidos por resolução do Conselho 
Federal de Medicina. 
 
 - Trata-se da morte real. 
 Saliente-se, no entanto, que mesmo com a morte do 
sujeito, o ordenamento jurídico confere tutela aos 
direitos da personalidade do falecido. 
 
 Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a 
direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem 
prejuízo de outras sanções previstas em lei. 
 Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá 
legitimação para requerer a medida prevista neste artigo 
o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha 
reta, ou colateral até o quarto grau. 
 A morte, no entanto, pode ser presumida. 
 
 A primeira hipótese de presunção de morte é 
oriunda da decretação de ausência. 
 
 Ausência é o procedimento que se aplica à 
pessoa que desaparece e da qual não se tem 
notícia e nem haja deixado representante ou 
procurador com mandato de administração de 
seus bens. 
CAPÍTULO III 
DA AUSÊNCIA 
Seção I 
Da Curadoria dos Bens do Ausente 
 
 Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela 
haver notícia, se não houver deixado representante ou 
procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a 
requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, 
declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. 
 
 Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, 
quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa 
exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem 
insuficientes. 
 O Código Civil prevê, ainda, outras hipóteses de morte 
presumida em que se prescinde da declaração de ausência. 
 
 Art. 7 - Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação 
de ausência: 
 I - se for extremamente provável a morte de quem estava em 
perigo de vida; 
 II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, 
não for encontrado até dois anos após o término da guerra. 
 Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, 
somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e 
averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do 
falecimento. 
 
 Lei 6.015/73 - Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir 
justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em 
naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra 
catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do 
desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame. 
 Comoriência: 
 
 A comoriência é a morte simultânea de duas ou mais 
pessoas, sendo elas reciprocamente herdeiras umas das 
outras. 
 
 A conseqüência da comoriência é que não haverá 
transmissão de direitos entre os comorientes, isto é, os 
bens de ambos passarão diretamente aos seus 
respectivos herdeiros diretos. 
 
 
 Art. 8 - Se dois ou mais indivíduos falecerem na 
mesma ocasião, não se podendo averiguar se 
algum dos comorientes precedeu aos outros, 
presumir-se-ão simultaneamente mortos. 
 Regime das Capacidades e Incapacidades: 
 
 O termo capacidade é utilizado em dois sentidos. No 
primeiro tem o mesmo significado do conceito clássico 
de personalidade. No segundo é a aptidão para exercer 
os atos da vida civil. 
 
 “a personalidade jurídica é a potencialidade de adquirir 
direitos ou de contrair obrigações; a capacidade jurídica 
é o limite dessa potencialidade” 
 José Carlos Moreira Alves 
 “A capacidade surge, nessa ambientação, como a 
medida jurídica da personalidade” 
 Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald 
 
 A capacidade, por sua vez, se divide em 
capacidade de direito (ou de gozo) e capacidade 
de fato (ou de exercício). 
 
 
 Capacidade de direito é a faculdade abstrata de 
gozar os direitos. Todos os sujeitos têm 
capacidade de gozo. 
 
 “A capacidade de direito, de gozo ou de 
aquisição não pode ser recusada ao indivíduo, 
sob pena de despi-lo dos atributos da 
personalidade” 
 Caio Mário da Silva Pereira 
 
 A capacidade de fato é a aptidão genérica para o 
exercício dos direitos na vida civil. Daí dizer-se que a 
capacidade é a medida da personalidade, no sentido de 
subjetividade. 
 
 “Aos indivíduos, às vezes faltam requisitos materiais 
para dirigirem-se com autonomia no mundo civil. 
Embora não lhes negue a ordem jurídica a capacidade 
de gozo ou de aquisição, recusa-lhes a 
autodeterminação, interdizendo-lhes o exercício dos 
direitos, pessoal e diretamente, porém condicionado 
sempre à intervenção de um outra pessoa, que os 
representa ou assiste” 
 Caio Mário da Silva Pereira 
 Personalidade x Capacidade x Legitimação 
 
 Legitimação é a idoneidade para o exercício de um 
direito. Ela é a aptidão para a prática de ato específico, 
particular. 
 
 Enquanto a capacidade é abstrata, a legitimação é 
concreta. 
 
 Ela se verifica nas proibições legais em que a lei impede 
o exercício do direito em função de determinadas 
situações em que as partes se encontram. 
 Exemplos de falta de legitimação: 
 
 Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros 
descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. 
 Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se 
o regime de bens for o da separação obrigatória. 
 
 Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta 
pública: 
 I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados 
à sua guarda ou administração; 
 II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a 
que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta; 
 III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros 
serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em 
tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua 
autoridade; 
 IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados. 
 Parágrafo único. As proibições deste artigo estendem-se à cessão de crédito. 
 
 Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda 
suficiente para a subsistência do doador. 
 
 
 A regra geral no ordenamento é a capacidade e a 
incapacidade a exceção. Em princípio reconhece-
se a capacidade plena à generalidade de pessoas. 
 
 Existem certas causas, entretanto, que fazem 
suspender a possibilidade de exercitar os direitos. 
Somente por exceção, e expressamente 
decorrente de lei, pe que se recusa ao 
indivíduo a capacidade de fato (Caio Mário). 
 “É sempre a lei que estabelece, com caráter de 
ordem pública, os casos em que o indivíduo é 
privado, total ou parcialmente, do poder de ação 
pessoal” 
 Caio Mário da Silva Pereira 
 
 A incapacidade é o reconhecimento da 
inexistência, numa pessoa, daqueles requisitos 
que a lei acha indispensáveis para que ela exerça 
os seus direitos” 
 Silvio Rodrigues 
 A incapacidade pode ser absoluta ou relativa. 
 
 - A absoluta diz respeito à impossibilidade de os 
sujeitos exercerem os direitos que lhe são próprios, a 
qual gera a necessidade de sua representação para a 
prática do ato da vida civil. 
 
 - A relativa atinge certos atos ou a maneira de exercê-
los. Está ligada a pessoas qe têm a possibilidade de 
manifestar suas vontades, desde que estejam 
devidamente assistidas. 
 
 Verifica-se, portanto, uma diferença de grau entre os 
absolutamente incapazes e os relativamente incapazes.- Senilidade 
 Art. 3 - São absolutamente incapazes de exercer 
pessoalmente os atos da vida civil: 
 I - os menores de dezesseis anos; 
 II - os que, por enfermidade ou deficiência 
mental, não tiverem o necessário discernimento 
para a prática desses atos; 
 III - os que, mesmo por causa transitória, não 
puderem exprimir sua vontade. 
 
 - Ausentes 
 I - os menores de dezesseis anos; 
 Justifica-se tal subtração da capacidade de fato 
dos menores de 16 anos na medida em que 
devido à idade não atingiram o discernimento 
para distinguir o que podem ou não fazer, o que 
lhes é conveniente ou prejudicial. 
 
 
 II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não 
tiverem o necessário discernimento para a prática desses 
atos; 
 
 Trata-se da hipótese de sujeito que, em razão de 
distúrbio psíquico ou doença, carece de 
condições para compreender a natureza e o 
alcance do ato de forma permanente. 
 
 - Intervalos lúcidos. 
 O reconhecimento desta incapacidade depende do 
procedimento de interdição, previsto nos arts. 1.177 e 
seguintes do Código Civil. 
 
 A sentença que determinar a interdição, no entanto, é 
meramente declaratória. 
 
 É possível, ainda, a invalidação dos atos praticados 
anteriores à interdição desde que a insanidade já fosse 
existente no momento em que foi realizado o negócio 
jurídico. 
 
 Doutrina admite a proteção do terceiro de boa-fé que 
negocia com o interditado, desde que não seja visível a 
incapacidade e não cause prejuízo ao incapaz. 
 
 III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem 
exprimir sua vontade. 
 
 Também reputa-se absolutamente incapaz aquele 
que por qualquer motivo não possa manifestar 
sua vontade, ainda que temporariamente. 
 Ex.: Ébrios não-habituais. 
 Art. 4 - São incapazes, relativamente a certos atos, ou à 
maneira de os exercer: 
 I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
 II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os 
que, por deficiência mental, tenham o discernimento 
reduzido; 
 III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental 
completo; 
 IV - os pródigos. 
 Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada 
por legislação especial. 
 I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; 
 
 Os negócios praticados pelos relativamente 
incapazes são anuláveis, conforme determina o 
art. 171, CC/02. 
 
 No entanto é de ressaltar que a omissão dolosa 
da idade ou a declaração falsa de idade obriga o 
menor incapaz ao cumprimento da obrigação – 
art. 180. 
 II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência 
mental, tenham o discernimento reduzido; 
 III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; 
 
 Aqueles que desenvolvem o vício pela bebida ou por 
entorpecentes são considerados relativamente incapazes e não 
poderão praticar os atos isoladamente, necessitando de assitência 
para a validade. 
 
 Ao lado da deficiência mental que priva completamente o sujeito 
da prática dos atos da vida civil, existe, também, que apenas 
reduz a capacidade parcialmente, pois não há total falta de 
percepção da realidade. 
 
 “O elemento preponderante de definição haverá de ser a prova 
técnica desenvolvida por médico psiquiatra” 
 Paulo Nader 
 IV - os pródigos. 
 
 Pródigo é aquele que por impulso irreprimível 
desperdiça os seus bens, isto é, dilapida seu patrimônio. 
 
 O Código Civil mantém uma linha intermediária, 
inscrevendo o pródigo entre os relativamente incapazes, 
mas privando-o exclusivamente daqueles atos que 
possam compromenter a sua fortuna (emprestar, 
transigir, dar quitação, alienar, hipotecar etc). 
 V - Os índios. 
 
 Considerável parcela dos índios se localiza em 
arredores de alguns municípios, até mesmo 
desempenhando atividade econômica. 
 
 A lei 6.001/73 regula a capacidade dos índios. 
No art. 4º os índios são classificados em: 
 I – Isolados: quando vivem em grupos desconhecidos, 
ou de que se possuem poucos e vagos informes através 
de contatos eventuais com elementos da comunhão 
nacional; 
 
 II – Em vias de integração: quando, em contato 
intermitente ou permanente com grupos estranhos, 
conservam menor ou maior parte das condições de sua 
vida nativa, mas aceitam algumas práticas e modos de 
existência comuns aos demais setores da comunão 
nacional; 
 
 III – Integrados: quando incorporados à comunhão 
nacional e reconhecidos no pleno exercício dos direitos 
civis, ainda que conservem usos, costumes e tradições 
característicos de sua cultura. 
 Os índios não integrados (ítens I e II) estão sujeitos ao 
regime tutelar do direito comum, cabendo à União, por 
intermédio da FUNAI, o exercício da proteção. (O ato 
é anulável). 
 
 O art. 9ºda lei faculta ao índio não integrado a liberação 
do regime tutelar desde que tenha: 
 I – idade mínima de 21 anos; 
 II – conhecimento da língua portuguesa; 
 III – habilitação para o exercício da vida útil, na 
comunhão nacional; 
 IV – razoável compreensão dos usos e costume da 
comunhão nacional. 
 Crítica ao regime das incapacidades. 
 
 “É preciso privilegiar, sempre que for possível, as escolhas de 
vida que deficiente psíquico é capaz, concretamente, de 
exprimir , ou em relação às quais manidesta notável propensão” 
 Pietro Perlingieri 
 
 A interdição não pode ser traduzida numa morte civil. 
 
 Enunciado 138, III Jornada de Direito Civil - A vontade dos 
absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3º, é 
juridicamente relevante na concretização de situações existenciais 
a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento 
bastante para tanto. 
 Emancipação: 
 
 Emancipação representa “a aquisição da 
capacidade civil, antes da idade legal” 
 Clovis Bevilaqua 
 Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando 
a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. 
 Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: 
 I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, 
mediante instrumento público, independentemente de 
homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se 
o menor tiver dezesseis anos completos; 
 II - pelo casamento; 
 III - pelo exercício de emprego público efetivo; 
 IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; 
 V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de 
relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com 
dezesseis anos completos tenha economia própria 
 Tipos: 
 
 Emancipação Voluntária – é a concessão em virtude da qual se 
atribui ao filho a condição de maioridade. 
 
 A concessão neste caso é ato unilateral. A emancipação 
voluntária não afasta a possibilidade de responsabilizar os pais. 
 
 A emancipação voluntária independe de homologação judicial. 
 
 Enunciado 3, CJF – Art. 5º: a redução do limite etário para a 
definição da capacidade civil aos 18 anos não altera o disposto 
no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica situação 
de dependência econômica para fins previdenciários e outras 
situações similares de proteção, previstas em legislação 
especial. 
 Emancipação judicial – É a emancipação a que 
estão sujeitos os menores tutelados. Após 
ouvido o tutor e o MP, o juiz decidirá por 
sentença a emancipação. 
 Emancipação legal – A lei considera emancipado o 
menor, independemente da idade em 4 hipóteses: 
 
 II - pelo casamento; 
 III - pelo exercício de emprego público efetivo; 
 IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; 
 V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela 
existência de relação de emprego, desde que, em função 
deles, o menor com dezesseis anos completos tenha 
economia própria. 
 Lei 4.375/64, art. 73 
 
 Para finsde serviço militar, cessará a 
incapacidade do menor na data em que 
completar 17 (dezessete anos).

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