Baixe o app para aproveitar ainda mais
Prévia do material em texto
DIREITO CIVIL I Aula 6 Pessoa Natural A pessoa natural é o ponto de partida e o fim de todas as construções jurídicas. Com o advento da CRFB/88 opera-se uma ruptura da cultura jurídica dominante para encontrar na pessoa humana o seu centro referencial. “Dessa forma, volta-se o ordenamento não mais para o indivíduo, abstratamente considerado, mas para a tutela da pessoa humana nas concretas e diferenciadas relações jurídicas em que se insere, como forma de assegurar os princípios constitucionais da solidariedade social e da igualdade substancial” Gustavo Tepedino TÍTULO I Dos Princípios Fundamentais Art. 1 - A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: III - a dignidade da pessoa humana; TÍTULO I DAS PESSOAS NATURAIS CAPÍTULO I DA PERSONALIDADE E DA CAPACIDADE Art. 1 - Toda pessoa é capaz de direitos e deveres na ordem civil. “O sentido de ‘toda’ pessoa é pessoa no aspecto físico, como todo ser humano dotado de inteligência, abrangendo homens e mulheres, independentemente de raça, cor, credo religioso, tendência política, nacionalidade e outras notas particularizadoras” Arnaldo Rizzardo “Pessoa física ou natural é o ser dotado de razão e portador de sociabilidade condição que o leva à convivência” Paulo Nader “As pessoas naturais ou físicas são os seres humanos” Orlando Gomes Nesse sentido, a idéia de personalidade está diretamente ligada à de pessoa, pois todo homem tem aptidão para desempenhar na sociedade um papel jurídico. Percebe-se, ainda, que a ordem jurídica não confere personalidade a outros seres vivos. Animais não são pessoas e, portanto, não podem ser titulares de direito. Lei 9.605/98 - Art. 32. Praticar ato de abuso, maus- tratos, ferir ou mutilar animais silvestres, domésticos ou domesticados, nativos ou exóticos: Pena - detenção, de três meses a um ano, e multa. Lei 6.638/79 – Estabelece normas para a prática didático-científica da vivissecção de animais e determina outras providências. Tradicionalmente define-se personalidade como a como a possibilidade de um determinado indivíduo ser sujeito de direitos e obrigações. Para Caio Mário da Silva Pereira é a “aptidão genérica para adquirir direitos e contrair deveres”. “Aptidão genérica reconhecida a toda e qualquer pessoa que possa titularizar relações jurídicas e reclamar a proteção jurídica dedicada pelos direitos da personalidade” Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald Todavia, é preciso ter em mente que a legalidade constitucional alterou a sistemática do direito anterior para encontrar no ser humano o seu centro referencial. Nesse sentido é necessária a superação da compreensão que esgota a personalidade unicamente nesta “aptidão”. A personalidade não pode ser sinônimo de capacidade. A rigor, há dois sentidos técnicos para o conceito de personalidade. O primeiro associa-se à qualidade para ser sujeito de direito, conceito aplicável às pessoas físicas quanto às jurídicas. O segundo traduz o conjunto de características e atributos da pessoa humana, considerada objeto de proteção privilegiada por parte do ordenamento, bem jurídico representado pela afirmação da dignidade humana, sendo peculiar, portanto, à pessoa natural”. Gustavo Tepedino O conceito de personalidade, então, tanto pode se entender como aplicável ao sujeito de direito (aquele apto a ser titular de uma situação jurídica subjetiva – art. 1º, CC), como também objeto de direitos (direitos da personalidade). Assim, para evitar a perigosa mistura de conceitos, parte da doutrina vem denominando esta aptidão para exercer direitos e obrigações de subjetividade, cuja denominação pode ser perfeitamente estendida às pessoas jurídicas e aos entes despersonalizados (condomínio edilício, espólio, fundos de investimentos, entre outros), sem que se traga a estas categorias o conceito de personalidade (conjunto de atribuições da pessoa), intimamente relacionada à pessoa humana. Personalidade à conjunto de atributos e características próprias do ser humano. Subjetividade à aptidão genérica para ser sujeito de direitos e obrigações. Início da Personalidade: Art. 2 - A personalidade civil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. O Código Civil determina que a personalidade somente se inicia a partir do nascimento com vida. Requisitos para aquisição da personalidade: i) nascimento; ii) Vida Para que se inicie a personalidade, é preciso que o feto seja separado do ventre materno (nascimento) e que esteja vivo, ainda que por frações de segundo. O nascimento com vida, atualmente, configura- se com a troca oxicarbônica, isto é, com a primeira respiração. Essa questão é resolvida através da perícia médico-legal, por intermédio do procedimento denominado docimasia pulmonar. O natimorto não adquire personalidade (Orlando Gomes). O nosso código não faz menção a outros requisitos, tais como viabilidade e forma humana. Viabilidade é a aptidão para a vida e situa-se na compleição fisiológica para viver (Ex. acefalia). A anencefalia consiste em malformação rara do tubo neural, caracterizada pela ausência total ou parcial do encéfalo. “A personalidade jurídica é adquirida através do nascimento com vida, conferindo-se ao regular registro civil de nascimento, no cartório do Registro Civil de Pessoas Naturais, caráter meramente administrativo, de natureza declarativa e não constitutiva” Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald “Não se justifica, igualmente, que a aquisição de personalidade dependa do revestimento da forma humana e seja recusada aos seres malformados, às aberrações teratológicas, outrora abrangidas na designação genérica de monstros” Caio Mário da Silva Pereira O art. 30 do Código Espanhol exige forma humana e que tenha vivido 24 horas. O dispositivo, no entender da doutrina espanhola, no entanto, é tido como violador da Convenção da ONU sobre os Direitos da Criança de 1989 ratificada pela Espanha e pelo Brasil (25 de setembro de 1990 ). Nascituro: Se a personalidade se inicia com o nascimento com vida, o nascituro é pessoa natural? Nascituro é o ser já concebido, mas que ainda se encontra no ventre materno. A importância reside para fins sucessórios e de qualificação de nacionalidade. Para resolver o problema de existência ou não da personalidade do nascituro surgem três principais correntes: i) Natalista - somente é dotada de personalidade a pessoa que nasce com vida (Vicente Ráo, Caio Mário da Silva Pereira); ii) Concepcionista – a personalidade é atributo que se adquire a partir da concepção (Maria Helena Diniz, Limongi França, Francisco Amaral, J. M. Leoni de Oliveira) iii) Personalidade Condicional – a personalidade se inicia a partir da concepção, ficando condicionada ao nascimento com vida (Arnaldo Rizzardo, Washington de Barros). “O nascituro não é ainda uma pessoa, não é um ser dotado de personalidade jurídica. Os direitos que se lhe reconhecem permanecem em estado potencial” Caio Mário da Silva Pereira “O nascituro não tem capacidade para exercer direitos, (...) unicamente a proteção da lei é que vinga desde a concepção” Arnaldo Rizzardo Art. 2 - A personalidadecivil da pessoa começa do nascimento com vida; mas a lei põe a salvo, desde a concepção, os direitos do nascituro. Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal. Art. 1.609. O reconhecimento dos filhos havidos fora do casamento é irrevogável e será feito: Parágrafo único. O reconhecimento pode preceder o nascimento do filho ou ser posterior ao seu falecimento, se ele deixar descendentes. Art. 1.779. Dar-se-á curador ao nascituro, se o pai falecer estando grávida a mulher, e não tendo o poder familiar. Art. 1.799. Na sucessão testamentária podem ainda ser chamados a suceder: I - os filhos, ainda não concebidos, de pessoas indicadas pelo testador, desde que vivas estas ao abrir-se a sucessão; Por outro lado, defensores da teoria concepcionista defendem que a personalidade se inicia com a concepção e, portanto, o nascituro é pessoa. O fundamento se encontra no valor da pessoa humana, que reveste todo o ordenamento. Vislumbram-se a tese defendida por essa teoria no Pacto de São José da Costa Rica e no Estatuto da Criança e do Adolescente. Lei 8.069/90 Título II Dos Direitos Fundamentais Capítulo I Do Direito à Vida e à Saúde Art. 7 - A criança e o adolescente têm direito a proteção à vida e à saúde, mediante a efetivação de políticas sociais públicas que permitam o nascimento e o desenvolvimento sadio e harmonioso, em condições dignas de existência. Pacto de São José da Costa Rica (Convenção Americana De Direitos Humanos ) Artigo 4º - Direito à vida 1. Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida arbitrariamente. Afirma-se, ainda a existência de diversos dispositivos no código civil que determinam a proteção do nascituro, demonstrando que ele tem personalidade. Ex: arts. 2º, 542, 1.609, 1.779 e 1.799, todos do CC/02. Para além das inúmeras controvérsias, a verdade é que o nascituro demanda uma proteção jurídica. Processo Civil. Preliminar. Natureza. Nascituro. Gestante. 1. A preliminar e' um meio de defesa que visa terminar o processo, por ausencia do direito de acao ou de algum dos pressupostos para seu desenvolvimento valido e regular, sem que o Juizo decida sobre o merito do conflito de interesses. 2. E, considerando este aspecto, o pedido de que na peticao inicial conste o nome da farmacia que a agravada comprou o medicamento ineficaz nao tem a natureza de preliminar, porque tal indicacao exclui-se do rol legal dos requisitos da peticao inicial (art. 282 e 283 do CPC) e a sua falta nao resulta na extincao do processo sem o julgamento do merito. 3. O ordenamento positivo assegura a protecao de alguns direitos de que, ao nascer com vida e adquirir a personalidade civil, a pessoa provavelmente sera' titular (art. 4. do CC). E, diante da ausencia de personalidade civil que impede o nascituro de estar em Juizo, atribui-se `a gestante a legitimidade para, em nome proprio, perseguir a defesa desses direitos. (AC. 1999.002.12142) Registre-se, por fim, que a proteção conferida ao nascituro alcança o natimorto no que diz respeito aos direitos da personalidade. Enunciado 1, I Jornada de Direito Civil – a proteção que o Código defere ao nascituro alcança o natimorto no que concerne aos direitos da personalidade, tais como nome, imagem e sepultura. O problema do embrião: A questão do uso dos embriões também suscita inúmeras dúvidas e não pode ser resolvido à luz do art. 2º do CC/02. Enunciado 2, I Jornada de Direito Civil - sem prejuízo dos direitos da personalidade nele assegurados, o art. 2º do Código Civil não é sede adequada para questões emergentes da reprogenética humana, que deve ser objeto de um estatuto próprio. O avanço da ciência e biologia tem levado os intérpretes a novas indagações. É preciso determinar se o embrião é pessoa ou não. Obviamente não se pode tratar o estágio inicial da vida humana como coisa. Não obstante posições contrárias, o embrião congelado não pode ser considerado nascituro, só o sendo no momento em que se encontre implantado no ventre materno (Fábio Ulhoa Coelho). O problema é extremamente controverso e foi analisado no julgamento da ADI 3.510 – DF de relatoria do Min. Carlos Britto. De um lado defendia-se que a idéia do zigoto ou óvulo feminino já fecundado como simples embrião de uma pessoa humana é reducionista, porque o certo mesmo é vê-lo como um ser humano embrionário. Uma pessoa no seu estádio de embrião, portanto, e não um embrião a caminho de ser pessoa. Por outro lado, para a segunda corrente, o embrião in vitro é uma realidade do mundo do ser, algo vivo, sim, que se põe como o lógico início da vida humana, mas nem em tudo e por tudo igual ao embrião que irrompe e evolui nas entranhas de u’a mulher. Sendo que mesmo a evolução desse último tipo de embrião ou zigoto para o estado de feto somente alcança a dimensão das incipientes características físicas e neurais da pessoa humana com a meticulosa colaboração do útero e do tempo. A discussão cingia-se ao julgamento do art. 5ºda Lei 11.105/2005 que permite o uso de células-tronco embrionária para fins de pesquisa e terapia. Art. 5 - É permitida, para fins de pesquisa e terapia, a utilização de células-tronco embrionárias obtidas de embriões humanos produzidos por fertilização in vitro e não utilizados no respectivo procedimento, atendidas as seguintes condições: I – sejam embriões inviáveis; ou II – sejam embriões congelados há 3 (três) anos ou mais, na data da publicação desta Lei, ou que, já congelados na data da publicação desta Lei, depois de completarem 3 (três) anos, contados a partir da data de congelamento. “a potencialidade de algo para se tornar pessoa humana já é meritória o bastante para acobertá- lo, infraconstitucionalmente, contra tentativas esdrúxulas, levianas ou frívolas de obstar sua natural continuidade fisiológica. Mas as três realidades não se confundem: o embrião é o embrião, o feto é o feto e a pessoa humana é a pessoa humana. Esta não se antecipa à metamorfose dos outros dois organismos. É o produto final dessa metamorfose” Min. Carlos Britto “É assim ao influxo desse olhar pós-positivista sobre o Direito brasileiro, olhar conciliatório do nosso Ordenamento com os imperativos de ética humanista e justiça material, que chego à fase da definitiva prolação do meu voto. Fazendo-o, acresço às três sínteses anteriores estes dois outros fundamentos constitucionais do direito à saúde e à livre expressão da atividade científica para julgar, como de fato julgo, totalmente improcedente a presente ação direta de inconstitucionalidade. Não sem antes pedir todas as vênias deste mundo aos que pensam diferentemente, seja por convicção jurídica, ética, ou filosófica, seja por artigo de fé. É como voto.” Min. Carlos Britto Fim da Personalidade: “A personalidade é um atributo do ser humano e o acompanha por toda a sua vida. Como a existência da pessoa natural termina com a morte, soment com esta cessa sua personalidade” Caio Mário da Silva Pereira - Mors omnia solvit - Abolição da morte civil Art. 6 - A existência da pessoa natural termina com a morte; presume-se esta, quanto aos ausentes, nos casos em que a lei autoriza a abertura de sucessão definitiva. Mas qual o critério jurídico para fixar o momento da morte? Juridicamente, considera-se terminada a vida com a morte encefálica ou morte cerebral, como se verifica do art. 3º da Lei 9.434/97.Art. 3º A retirada post mortem de tecidos, órgãos ou partes do corpo humano destinados a transplante ou tratamento deverá ser precedida de diagnóstico de morte encefálica, constatada e registrada por dois médicos não participantes das equipes de remoção e transplante, mediante a utilização de critérios clínicos e tecnológicos definidos por resolução do Conselho Federal de Medicina. - Trata-se da morte real. Saliente-se, no entanto, que mesmo com a morte do sujeito, o ordenamento jurídico confere tutela aos direitos da personalidade do falecido. Art. 12. Pode-se exigir que cesse a ameaça, ou a lesão, a direito da personalidade, e reclamar perdas e danos, sem prejuízo de outras sanções previstas em lei. Parágrafo único. Em se tratando de morto, terá legitimação para requerer a medida prevista neste artigo o cônjuge sobrevivente, ou qualquer parente em linha reta, ou colateral até o quarto grau. A morte, no entanto, pode ser presumida. A primeira hipótese de presunção de morte é oriunda da decretação de ausência. Ausência é o procedimento que se aplica à pessoa que desaparece e da qual não se tem notícia e nem haja deixado representante ou procurador com mandato de administração de seus bens. CAPÍTULO III DA AUSÊNCIA Seção I Da Curadoria dos Bens do Ausente Art. 22. Desaparecendo uma pessoa do seu domicílio sem dela haver notícia, se não houver deixado representante ou procurador a quem caiba administrar-lhe os bens, o juiz, a requerimento de qualquer interessado ou do Ministério Público, declarará a ausência, e nomear-lhe-á curador. Art. 23. Também se declarará a ausência, e se nomeará curador, quando o ausente deixar mandatário que não queira ou não possa exercer ou continuar o mandato, ou se os seus poderes forem insuficientes. O Código Civil prevê, ainda, outras hipóteses de morte presumida em que se prescinde da declaração de ausência. Art. 7 - Pode ser declarada a morte presumida, sem decretação de ausência: I - se for extremamente provável a morte de quem estava em perigo de vida; II - se alguém, desaparecido em campanha ou feito prisioneiro, não for encontrado até dois anos após o término da guerra. Parágrafo único. A declaração da morte presumida, nesses casos, somente poderá ser requerida depois de esgotadas as buscas e averiguações, devendo a sentença fixar a data provável do falecimento. Lei 6.015/73 - Art. 88. Poderão os Juízes togados admitir justificação para o assento de óbito de pessoas desaparecidas em naufrágio, inundação, incêndio, terremoto ou qualquer outra catástrofe, quando estiver provada a sua presença no local do desastre e não for possível encontrar-se o cadáver para exame. Comoriência: A comoriência é a morte simultânea de duas ou mais pessoas, sendo elas reciprocamente herdeiras umas das outras. A conseqüência da comoriência é que não haverá transmissão de direitos entre os comorientes, isto é, os bens de ambos passarão diretamente aos seus respectivos herdeiros diretos. Art. 8 - Se dois ou mais indivíduos falecerem na mesma ocasião, não se podendo averiguar se algum dos comorientes precedeu aos outros, presumir-se-ão simultaneamente mortos. Regime das Capacidades e Incapacidades: O termo capacidade é utilizado em dois sentidos. No primeiro tem o mesmo significado do conceito clássico de personalidade. No segundo é a aptidão para exercer os atos da vida civil. “a personalidade jurídica é a potencialidade de adquirir direitos ou de contrair obrigações; a capacidade jurídica é o limite dessa potencialidade” José Carlos Moreira Alves “A capacidade surge, nessa ambientação, como a medida jurídica da personalidade” Cristiano Chaves e Nelson Rosenvald A capacidade, por sua vez, se divide em capacidade de direito (ou de gozo) e capacidade de fato (ou de exercício). Capacidade de direito é a faculdade abstrata de gozar os direitos. Todos os sujeitos têm capacidade de gozo. “A capacidade de direito, de gozo ou de aquisição não pode ser recusada ao indivíduo, sob pena de despi-lo dos atributos da personalidade” Caio Mário da Silva Pereira A capacidade de fato é a aptidão genérica para o exercício dos direitos na vida civil. Daí dizer-se que a capacidade é a medida da personalidade, no sentido de subjetividade. “Aos indivíduos, às vezes faltam requisitos materiais para dirigirem-se com autonomia no mundo civil. Embora não lhes negue a ordem jurídica a capacidade de gozo ou de aquisição, recusa-lhes a autodeterminação, interdizendo-lhes o exercício dos direitos, pessoal e diretamente, porém condicionado sempre à intervenção de um outra pessoa, que os representa ou assiste” Caio Mário da Silva Pereira Personalidade x Capacidade x Legitimação Legitimação é a idoneidade para o exercício de um direito. Ela é a aptidão para a prática de ato específico, particular. Enquanto a capacidade é abstrata, a legitimação é concreta. Ela se verifica nas proibições legais em que a lei impede o exercício do direito em função de determinadas situações em que as partes se encontram. Exemplos de falta de legitimação: Art. 496. É anulável a venda de ascendente a descendente, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem consentido. Parágrafo único. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime de bens for o da separação obrigatória. Art. 497. Sob pena de nulidade, não podem ser comprados, ainda que em hasta pública: I - pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens confiados à sua guarda ou administração; II - pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta; III - pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros serventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se litigar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se estender a sua autoridade; IV - pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encarregados. Parágrafo único. As proibições deste artigo estendem-se à cessão de crédito. Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda suficiente para a subsistência do doador. A regra geral no ordenamento é a capacidade e a incapacidade a exceção. Em princípio reconhece- se a capacidade plena à generalidade de pessoas. Existem certas causas, entretanto, que fazem suspender a possibilidade de exercitar os direitos. Somente por exceção, e expressamente decorrente de lei, pe que se recusa ao indivíduo a capacidade de fato (Caio Mário). “É sempre a lei que estabelece, com caráter de ordem pública, os casos em que o indivíduo é privado, total ou parcialmente, do poder de ação pessoal” Caio Mário da Silva Pereira A incapacidade é o reconhecimento da inexistência, numa pessoa, daqueles requisitos que a lei acha indispensáveis para que ela exerça os seus direitos” Silvio Rodrigues A incapacidade pode ser absoluta ou relativa. - A absoluta diz respeito à impossibilidade de os sujeitos exercerem os direitos que lhe são próprios, a qual gera a necessidade de sua representação para a prática do ato da vida civil. - A relativa atinge certos atos ou a maneira de exercê- los. Está ligada a pessoas qe têm a possibilidade de manifestar suas vontades, desde que estejam devidamente assistidas. Verifica-se, portanto, uma diferença de grau entre os absolutamente incapazes e os relativamente incapazes.- Senilidade Art. 3 - São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil: I - os menores de dezesseis anos; II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. - Ausentes I - os menores de dezesseis anos; Justifica-se tal subtração da capacidade de fato dos menores de 16 anos na medida em que devido à idade não atingiram o discernimento para distinguir o que podem ou não fazer, o que lhes é conveniente ou prejudicial. II - os que, por enfermidade ou deficiência mental, não tiverem o necessário discernimento para a prática desses atos; Trata-se da hipótese de sujeito que, em razão de distúrbio psíquico ou doença, carece de condições para compreender a natureza e o alcance do ato de forma permanente. - Intervalos lúcidos. O reconhecimento desta incapacidade depende do procedimento de interdição, previsto nos arts. 1.177 e seguintes do Código Civil. A sentença que determinar a interdição, no entanto, é meramente declaratória. É possível, ainda, a invalidação dos atos praticados anteriores à interdição desde que a insanidade já fosse existente no momento em que foi realizado o negócio jurídico. Doutrina admite a proteção do terceiro de boa-fé que negocia com o interditado, desde que não seja visível a incapacidade e não cause prejuízo ao incapaz. III - os que, mesmo por causa transitória, não puderem exprimir sua vontade. Também reputa-se absolutamente incapaz aquele que por qualquer motivo não possa manifestar sua vontade, ainda que temporariamente. Ex.: Ébrios não-habituais. Art. 4 - São incapazes, relativamente a certos atos, ou à maneira de os exercer: I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; IV - os pródigos. Parágrafo único. A capacidade dos índios será regulada por legislação especial. I - os maiores de dezesseis e menores de dezoito anos; Os negócios praticados pelos relativamente incapazes são anuláveis, conforme determina o art. 171, CC/02. No entanto é de ressaltar que a omissão dolosa da idade ou a declaração falsa de idade obriga o menor incapaz ao cumprimento da obrigação – art. 180. II - os ébrios habituais, os viciados em tóxicos, e os que, por deficiência mental, tenham o discernimento reduzido; III - os excepcionais, sem desenvolvimento mental completo; Aqueles que desenvolvem o vício pela bebida ou por entorpecentes são considerados relativamente incapazes e não poderão praticar os atos isoladamente, necessitando de assitência para a validade. Ao lado da deficiência mental que priva completamente o sujeito da prática dos atos da vida civil, existe, também, que apenas reduz a capacidade parcialmente, pois não há total falta de percepção da realidade. “O elemento preponderante de definição haverá de ser a prova técnica desenvolvida por médico psiquiatra” Paulo Nader IV - os pródigos. Pródigo é aquele que por impulso irreprimível desperdiça os seus bens, isto é, dilapida seu patrimônio. O Código Civil mantém uma linha intermediária, inscrevendo o pródigo entre os relativamente incapazes, mas privando-o exclusivamente daqueles atos que possam compromenter a sua fortuna (emprestar, transigir, dar quitação, alienar, hipotecar etc). V - Os índios. Considerável parcela dos índios se localiza em arredores de alguns municípios, até mesmo desempenhando atividade econômica. A lei 6.001/73 regula a capacidade dos índios. No art. 4º os índios são classificados em: I – Isolados: quando vivem em grupos desconhecidos, ou de que se possuem poucos e vagos informes através de contatos eventuais com elementos da comunhão nacional; II – Em vias de integração: quando, em contato intermitente ou permanente com grupos estranhos, conservam menor ou maior parte das condições de sua vida nativa, mas aceitam algumas práticas e modos de existência comuns aos demais setores da comunão nacional; III – Integrados: quando incorporados à comunhão nacional e reconhecidos no pleno exercício dos direitos civis, ainda que conservem usos, costumes e tradições característicos de sua cultura. Os índios não integrados (ítens I e II) estão sujeitos ao regime tutelar do direito comum, cabendo à União, por intermédio da FUNAI, o exercício da proteção. (O ato é anulável). O art. 9ºda lei faculta ao índio não integrado a liberação do regime tutelar desde que tenha: I – idade mínima de 21 anos; II – conhecimento da língua portuguesa; III – habilitação para o exercício da vida útil, na comunhão nacional; IV – razoável compreensão dos usos e costume da comunhão nacional. Crítica ao regime das incapacidades. “É preciso privilegiar, sempre que for possível, as escolhas de vida que deficiente psíquico é capaz, concretamente, de exprimir , ou em relação às quais manidesta notável propensão” Pietro Perlingieri A interdição não pode ser traduzida numa morte civil. Enunciado 138, III Jornada de Direito Civil - A vontade dos absolutamente incapazes, na hipótese do inc. I do art. 3º, é juridicamente relevante na concretização de situações existenciais a eles concernentes, desde que demonstrem discernimento bastante para tanto. Emancipação: Emancipação representa “a aquisição da capacidade civil, antes da idade legal” Clovis Bevilaqua Art. 5o A menoridade cessa aos dezoito anos completos, quando a pessoa fica habilitada à prática de todos os atos da vida civil. Parágrafo único. Cessará, para os menores, a incapacidade: I - pela concessão dos pais, ou de um deles na falta do outro, mediante instrumento público, independentemente de homologação judicial, ou por sentença do juiz, ouvido o tutor, se o menor tiver dezesseis anos completos; II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria Tipos: Emancipação Voluntária – é a concessão em virtude da qual se atribui ao filho a condição de maioridade. A concessão neste caso é ato unilateral. A emancipação voluntária não afasta a possibilidade de responsabilizar os pais. A emancipação voluntária independe de homologação judicial. Enunciado 3, CJF – Art. 5º: a redução do limite etário para a definição da capacidade civil aos 18 anos não altera o disposto no art. 16, I, da Lei n. 8.213/91, que regula específica situação de dependência econômica para fins previdenciários e outras situações similares de proteção, previstas em legislação especial. Emancipação judicial – É a emancipação a que estão sujeitos os menores tutelados. Após ouvido o tutor e o MP, o juiz decidirá por sentença a emancipação. Emancipação legal – A lei considera emancipado o menor, independemente da idade em 4 hipóteses: II - pelo casamento; III - pelo exercício de emprego público efetivo; IV - pela colação de grau em curso de ensino superior; V - pelo estabelecimento civil ou comercial, ou pela existência de relação de emprego, desde que, em função deles, o menor com dezesseis anos completos tenha economia própria. Lei 4.375/64, art. 73 Para finsde serviço militar, cessará a incapacidade do menor na data em que completar 17 (dezessete anos).
Compartilhar