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All the world was America.

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BIANCA SILVA DE ABREU
“ALL THE WORLD WAS AMERICA”. John Locke, liberalismo e propriedade como conceito antropológico.
Fichamento do ensaio “All the world was America”, de Maria Sylvia Carvalho Franco, apresentado para a disciplina de Introdução à Sociologia, ministrada pela Profª Dra. Maria Ribeiro Ribeiro do Valle.
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
Faculdade de Ciências e Letras de Araraquara
Curso de Ciências Sociais
Abril de 2018
FRANCO, M. S. C. “All the world was America” - John Locke, liberalismo e propriedade como conceito antropológico. Revista da USP, n. 17, São Paulo, Mar./Abr. 1998.
	
INTRODUÇÃO
TEMA: ANÁLISE DO ENSAIO “ALL THE WORLD WAS AMERICA”, DE MARIA SYLVIA CARVALHO FRANCO. Serão apresentados os pontos cruciais da análise a partir das leituras do Segundo Tratado sobre o Governo, de Locke, por Macpherson e Maria Sylvia. A ruína dos regimes socialistas coincidiu com a expansão das práticas batizadas como “neoliberais”, e é a partir daí que se fundamenta a reflexão exposta no texto de Carvalho Franco.
OBJETIVO. Neste estudo, baseando-se no trabalho de Macpherson acerca do Segundo Tratado sobre o Governo, de Locke e também fazendo um analise do texto de John por ele mesmo, Maria Sylvia busca captar os nexos entre o liberalismo, os novos conhecimentos então em progresso na época do escrito e a trama de poder que também se estabelecia.
MÉTODO. A princípio, Carvalho Franco assinala alguns estudos que procuram resolver as dificuldades na exposição de Locke, distinguindo níveis ou combinando representações vindas de diversas fontes. Entre essas, o trabalh9o de Macpherson, que é modelar de um pensamento que se prende à abordagens dualistas. Depois, a leitura de trechos estratégicos do Segundo Tratado é proposta para ressaltar sua estrutura interna e suas relações com o patrimônio cultural que na época se enriquecia, tomando cuidado para não fugir ao contextualismo imediato onde o pensador se espelha diretamente às tendências dominantes.
HIPÓTESES
ESTADO DE NATUREZA, A UNIVERSALIZAÇÃO DA RAZÃO E A IGUALDADE ORIGINÁRIA, SEGUNDO LOCKE. John Locke descreve o estado de natureza como um lugar onde não há exercício de qualquer poder sobre as pessoas. Cada um está livre para decidir suas ações e colocar à disposição tudo que possui da forma que achar correto ou conveniente. Assim, como não há um poder concentrado nem regras definidas que possam dar poder a um indivíduo sobre os outros, esta condição sem sujeição e nem subordinação pressupõe a perfeita liberdade e igualdade. Segundo ele, todos os homens são livres entre si e subordinados apenas a Deus; já que possuem faculdades iguais, não seria possível uma subordinação entre os próprios homens. Deus teria feito os homens para viver em sociedade, dotando-os de razão. Segundo Locke, quando os homens vivem juntos conforme a razão, sem um superior na Terra que possua autoridade para julgar entre eles, verifica-se propriamente o estado de natureza. Daí o conceito da universalização da razão, bem como da igualdade originária: todos os homens, em tese, são racionais e livres para fazer bom uso dessa razão, e não podem interferir uns nos direitos naturais dos outros.
 
UTILIZAÇÃO DA RAZÃO, A NATUREZA E O TRABALHO, SEGUNDO LOCKE. A partir do pressuposto da liberdade originária e da razão universal entende-se que todo homem é livre para pôr em ação o bom uso de sua razão e, para Locke, o “bom uso da razão” remete ao trabalho. O homem se apropria da própria natureza para trabalhar e, tudo o que resultar de tal uso da razão torna-se propriedade privada desse individuo racional. Assim, a extensão de terra que tal homem lavra, planta, melhora e cultiva constitui sua propriedade. Para Locke, só é bem sucedido em seu uso da razão o homem que trabalha e, assim, se faz proprietário a partir de seus resultados próprios.
A PROPRIEDADE PRIVADA E O USO DA RAZÃO, SEGUNDO LOCKE. Visto que a razão é uma lei natural e universal e o trabalho é o bom uso desta, a propriedade privada resultante deste lhe é garantida por seu direito natural. Para Locke, devido a igualdade originária, todos os homens, em tese, são capazes de trabalhar e garantir seu direito à propriedade privada. Porém, nem todos fazem bom uso da razão, não se apropriam da natureza e, por isso, não tem tal propriedade em seu poder.
Para Locke, há diferentes usos da razão que dividem os homens em duas categorias: os proprietários e os não-proprietários. A primeira refere-se aos homens que, utilizando-se da razão de boa maneira, garantem sua propriedade a partir de seu trabalho; estes são os homens livres, perfeitos, iguais e racionais, tal como Deus fez. A segunda categoria refere-se aos homens que não fazem bom uso da razão, ou seja, não se apropriam da natureza afim de trabalhar e garantir sua propriedade. Visto que se caracteriza como homem livre e racional quem se vale de seus direitos naturais, esses homens improdutivos são desarrazoados, imperfeitos e degenerados. Em hipótese alguma podem ser considerados seres racionais.
A partir dos diferentes usos da razão (ou seja, da lógica do trabalho) que se origina a desigualdade e a divisão da sociedade entre proprietários e não-proprietários. Para Locke, tal desigualdade é natural, pois é consequência das leis da natureza; a desigualdade é legitimada.
Dentro da perspectiva do estado de natureza, Locke reconhece o direito de qualquer um castigar a transgressão e perturbação de sua tranquilidade 
Caso o proprietário tenha seu direito natural à propriedade transgredido por outrem (um não-proprietário), é legitimo que essa transgressão seja devidamente punida na medida em que foi realizada. O mal uso da razão em tal ato rompe com a lei natural que garante a liberdade e a propriedade ao indivíduo proprietário. Transgredir esse direito leva a justificativa da dominação e da repressão, para que se possa garantir o estado natural novamente.
CONCLUSÕES ACERCA DO SEGUNDO TRATADO SOBRE O GOVERNO, POR MARIA SYLVIA E MACPHERSON. Macpherson acredita que Locke é contraditório em suas afirmações acerca dos direitos naturais e coloca como fio condutor de sua investigação a seguinte pergunta: “’por que afirmou Locke, e o que pretendia dizer ao afirma-lo, que os homens são em conjunto racionais e que, ao mesmo tempo, a maior parte deles não o são? [pág.33]’”. Ele questiona o fato de os mesmo homens que são ditos racionais serem e não o serem ao mesmo tempo. Para Carvalho Franco, Macpherson separa, nitidamente, o mundo objetivo e subjetivo; para ele, o próprio Locke havia dividido essa sociedade em duas classes. Maria Sylvia se contrapõe a Macpherson e diz que foi o mesmo quem enxergou, na sociedade, essas duas classes e que, para Locke, isso correspondia a duas ordens de racionalidades de direitos, admitidas em justaposição. Não há, então, contradição. Carvalho Franco afirma que, visto a igualdade originária, a desigualdade é legitimada na sociedade civil e é exatamente a partir disto que se fundamenta a teoria de Locke. Ela afirma ser a lógica da identidade a responsável por reger o raciocínio acerca da teoria de Locke, e não a lógica da contradição, como afirma Macpherson.
CONCLUSÕES. “All the world was America” visa esclarecer e refletir acerca dos principais pontos da obra Segundo Tratado Sobre O Governo, de Locke, a partir da leitura de Macpherson e de si mesma. 
Para Maria Sylvia “não há como tornar o chamado ‘neoliberalismo’ distinto e menos agressivo que a doutrina clássica: os princípios que sustentam seu desenvolvimento são os mesmos: propriedade seletiva, mercado soberano, liberdade como prerrogativa de alguns, diferenças cada vez maiores, atribuídas aos que sucumbem nos processos competitivos [pág. 53]”.

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