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ROUSSEAU E O CONTRATO SOCIAL - Livro Texto

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Autor: Prof. Marco Antonio Loschiavo Leme de Barros
Colaboradores: Prof. Renato Bulcão de Moraes
 Profa. Tânia Sandroni
Rousseau e o 
Contrato Social
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Professor conteudista: Marco Antonio Loschiavo Leme de Barros
Doutor em Filosofia e Teoria Geral do Direito pela Universidade de São Paulo (USP), com apoio da bolsa de 
doutorado da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). Mestre em Direito e Desenvolvimento 
pela Fundação Getulio Vargas de São Paulo (FGV‑SP), é bacharel em Filosofia pela Universidade de São Paulo (USP) e 
em Direito pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC‑SP). É professor titular da Faculdade de Direito da 
Universidade Paulista (UNIP). Pesquisa nas áreas de Filosofia Política e do Direito, Direito Público, Sociologia e Teoria do 
Direito, Pesquisa Empírica e Metodologia em Direito.
© Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou 
quaisquer meios (eletrônico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em qualquer sistema ou banco de dados sem 
permissão escrita da Universidade Paulista.
Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)
M361r Marros, Marco Antonio Loschiavo Leme de.
Rousseau e o Contrato Social / Marco Antonio Loschiavo Leme 
de Marros. ‑ São Paulo: Editora Sol, 2019.
132 p., il.
Nota: este volume está publicado nos Cadernos de Estudos e 
Pesquisas da UNIP, Série Didática, ano XXV, n. 2.061/19, ISSN 1517‑9230.
1. Direitos civis. 2. Rousseau. 3. Contrato social. I. Título.
CDU 32
U501.71– 19
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Prof. Dr. João Carlos Di Genio
Reitor
Prof. Fábio Romeu de Carvalho
Vice-Reitor de Planejamento, Administração e Finanças
Profa. Melânia Dalla Torre
Vice-Reitora de Unidades Universitárias
Prof. Dr. Yugo Okida
Vice-Reitor de Pós-Graduação e Pesquisa
Profa. Dra. Marília Ancona‑Lopez
Vice-Reitora de Graduação
Unip Interativa – EaD
Profa. Elisabete Brihy 
Prof. Marcelo Souza
Prof. Dr. Luiz Felipe Scabar
Prof. Ivan Daliberto Frugoli
 Material Didático – EaD
 Comissão editorial: 
 Dra. Angélica L. Carlini (UNIP)
 Dra. Divane Alves da Silva (UNIP)
 Dr. Ivan Dias da Motta (CESUMAR)
 Dra. Kátia Mosorov Alonso (UFMT)
 Dra. Valéria de Carvalho (UNIP)
 Apoio:
 Profa. Cláudia Regina Baptista – EaD
 Profa. Betisa Malaman – Comissão de Qualificação e Avaliação de Cursos
 Projeto gráfico:
 Prof. Alexandre Ponzetto
 Revisão:
 Talita Ló Ré
 Ricardo Duarte
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Sumário
Rousseau e o Contrato Social
APRESENTAÇÃO ......................................................................................................................................................7
INTRODUÇÃO ...........................................................................................................................................................8
Unidade I
1 BASES DA POLÍTICA MODERNA ................................................................................................................. 13
2 RENASCIMENTO ............................................................................................................................................... 13
3 TEORIA DO CONTRATO SOCIAL .................................................................................................................. 17
3.1 Hugo Grotius (1583‑1645) ............................................................................................................... 18
3.2 Thomas Hobbes (1588‑1679) .......................................................................................................... 19
3.3 John Locke (1632‑1704) .................................................................................................................... 25
3.4 Samuel Pufendorf (1632‑1694) ..................................................................................................... 29
4 DIREITOS CIVIS ................................................................................................................................................. 31
Unidade II
5 DISCURSO SOBRE A ORIGEM E OS FUNDAMENTOS DA DESIGUALDADE 
ENTRE OS HOMENS: PRIMEIRA PARTE ....................................................................................................... 36
5.1 Prefácio do Discurso sobre a Desigualdade ............................................................................... 39
5.2 Descrição do homem no estado de natureza ........................................................................... 41
5.3 Aspecto físico ......................................................................................................................................... 43
5.4 Aspecto metafísico .............................................................................................................................. 46
5.5 Aspecto moral ........................................................................................................................................ 48
6 DISCURSO SOBRE A ORIGEM E OS FUNDAMENTOS DA DESIGUALDADE 
ENTRE OS HOMENS: SEGUNDA PARTE ..................................................................................................... 51
6.1 Estado de natureza histórico ........................................................................................................... 52
6.2 Idade de Ouro ........................................................................................................................................ 54
6.3 Propriedade ............................................................................................................................................. 55
6.4 Estado de guerra ................................................................................................................................... 57
7 CONTRATO SOCIAL .......................................................................................................................................... 61
7.1 Visão geral ............................................................................................................................................... 61
7.2 Livro I do Contrato Social ................................................................................................................. 62
7.2.1 Família e Estado ....................................................................................................................................... 63
7.2.2 Força e Direito .......................................................................................................................................... 65
7.2.3 Escravidão .................................................................................................................................................. 67
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7.2.4 Primeira convenção ............................................................................................................................... 68
7.2.5 Pacto social................................................................................................................................................ 69
7.2.6 Soberano .................................................................................................................................................... 73
7.2.7 Estado civil ................................................................................................................................................. 74
7.3 Livro II do Contrato Social ................................................................................................................ 76
7.3.1 A vontade geral pode errar? ...............................................................................................................78
7.3.2 Direito de vida e de morte .................................................................................................................. 80
7.3.3 Lei .................................................................................................................................................................. 81
7.3.4 Legislador ................................................................................................................................................... 83
7.3.5 Povo .............................................................................................................................................................. 84
7.3.6 Divisão das leis ......................................................................................................................................... 87
7.4 Livro III do Contrato Social ............................................................................................................... 88
7.4.1 Divisão e tipos de governos ................................................................................................................ 90
7.4.2 Abuso do governo e a tendência a degenerar ............................................................................ 96
7.4.3 A morte do corpo político ................................................................................................................... 97
7.4.4 Como se mantém a autoridade soberana? .................................................................................. 98
7.4.5 Instituição do governo .......................................................................................................................101
7.5 Livro IV do Contrato Social .............................................................................................................103
8 REPERCUSSÕES DO CONTRATO SOCIAL ...............................................................................................105
8.1 A crítica de Gérard Lebrun ..............................................................................................................105
8.2 A obra de Luiz Roberto Salinas Fortes .......................................................................................107
8.3 A dimensão histórica em Rousseau ............................................................................................108
8.4 Trama institucional no Contrato Social ....................................................................................111
8.5 Governo, Judiciário e responsividade após o Contrato Social .........................................115
8.6 Modernidade e Rousseau ................................................................................................................118
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APRESENTAÇÃO
Jean‑Jacques Rousseau (1712‑1778) é considerado o principal pensador político da Revolução 
Francesa, período que marcou a queda do poder absolutista de Luís XVI e o surgimento do Estado de 
Direito, caracterizado pelo império da lei e pela proteção das liberdades civis na França. A influência 
desse filósofo não se circunscreveu apenas ao continente europeu, no século XVIII: seus escritos também 
foram base para diferentes movimentos de independência, tal como o estadunidense, em 1776, e o 
movimento de democratização ao longo do século XX.
Esse filósofo genebrino é lembrado por muitos defensores do Estado Democrático de Direito e 
por seus ensinamentos em prol da educação cívica. Importante ideia na filosofia rousseauniana é a 
formação de um pacto de associação capaz de proteger cada pessoa com toda a força comum. Tal ideia 
se aproxima à figura jurídica das constituições soberanas, que, historicamente, marcaram o surgimento 
dos Estados modernos e da afirmação dos direitos civis ou individuais.
Inegável, então, reconhecer a importância das teses republicanas e igualitárias inauguradas por esse 
filósofo, fundamentando a instituição de um Estado capaz de limitar e punir os abusos praticado pelo 
Estado via a imposição da letra da lei; além de ter sido um defensor das liberdades básicas do homem 
– como os direitos de circulação, de manifestação de pensamento, de propriedade privada, de defesa, 
de resistência e de petição –, sempre orientado para a redução das desigualdades sociais em prol das 
necessidades do povo. Diante dessas teses, Rousseau se consagrou na história como um dos principais 
expoentes da Filosofia Moderna e da Filosofia Política, além de influente pensador em outras áreas, 
como Ciência Política, Antropologia, Sociologia e Direito.
É nesse contexto que nossa disciplina se insere com o principal objetivo de apresentar ao(à) aluno(a) 
de graduação o pensamento de Rousseau, de forma sistemática e objetiva, com base, sobretudo, no 
exame dos principais argumentos das obras Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade 
entre os Homens, publicada em 1754, e o Contrato Social, publicada em 1762 na França. Essas obras se 
completam e podem ser lidas em sequência, dada a continuidade do pensamento que as caracteriza. 
Na primeira obra, Rousseau explicará o fundamento da desigualdade e a decadência da vida social dos 
homens. Na segunda obra, o autor mostrará a importância do pacto social para a proteção da liberdade 
e da igualdade em uma ordem civil, resgatando, assim, a vida social degenerada.
No plano de ensino, esta disciplina contempla como objetivos gerais: entender o significado, para 
Rousseau, do surgimento das primeiras sociedades e do aparecimento da propriedade como principal 
instrumento de diferenciação e de produção de desigualdade entre os homens, além, é claro, de entender 
o Contrato Social e sua importância para a sociedade republicana moderna. Como objetivos específicos, 
destacam‑se ainda: a liberdade natural do ser humano; o questionamento da vida em sociedade como 
privação da liberdade; a convenção formada pelos homens como forma de defesa contra o mal; o pacto 
social e a discussão do papel do soberano; a soberania do povo; a passagem do estado natural para o civil, a 
liberdade moral e o sentimento de autonomia do homem; a soberania indivisível do povo, a vontade geral; 
a vontade geral como o limite do poder do governante; a lei como condição essencial para a associação 
civil; o abuso dos governos que degeneram o Estado e a preservação e prosperidade dos seus membros.
Desejamos a todas e todos uma boa leitura e bons estudos!
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INTRODUÇÃO
O enciclopedismo foi um movimento filosófico‑cultural do Iluminismo que se propôs a catalogar 
todo o conhecimento humano disponível na época. A Enciclopédia, ou Dicionário Razoado das Ciências, 
das Artes e dos Ofícios, foi editada por Denis Diderot e Jean Le Rond d’Alembert em 17 volumes de textos 
e 11 volumes de ilustrações, publicados entre 1751 e 1765. Importantes filósofos da época contribuíram 
com as edições, como Voltaire, Montesquieu e Rousseau.
O início da carreira de Jean‑Jacques Rousseau, principal filósofo da Revolução Francesa, decorreu 
de certo sucesso em um concurso da Academia de Dijon, ao responder à questão “O restabelecimento 
das ciências e das artes contribuiu para aperfeiçoar os costumes?”, em 1750. Até então Rousseau era 
um músico que tentava a sorte em Paris, sobrevivendo por meio de seu trabalho como professor e de 
suas produções artísticas. Nesse meio cultural, o filósofo conheceu os principais intelectuais franceses, 
envolvendo‑se, assim, no projeto do enciclopedismo.
Rousseau participou do concurso de Dijon com o texto Discurso sobre as Ciências e as Artes (também 
chamado de Primeiro Discurso). Nesse texto inaugural, que o próprio autor rejeita diante de sua imprecisão 
lógica, Rousseau já antecipa alguns traços de sua filosofia e diz “antes que a arte houvesse moldado 
nossas maneiras e ensinado nossas paixões a falar uma linguagem rebuscada, nossos costumeseram 
rústicos, mais naturais” (1999, p. 13). Para esse filósofo as ciências e as artes corrompem a vida social, 
indicando que suas origens decorrem justamente do enaltecimento e do exame dos vícios humanos. 
Tal ideia irá ecoar em toda a sua filosofia, afinal a civilização desregrada justifica a desigualdade, origem 
de todo mal entre os homens.
Rousseau ficou conhecido como o autor do elogio do homem primitivo e da crítica da civilização 
degenerada. Não obstante, ele também contribuiu para a defesa de um modelo de sociedade civil capaz 
de retomar um ideal de paz e prosperidade, mesmo que tal modelo fosse artificial.
Em sua filosofia, prevalece a articulação de uma série de opostos: natureza e sociedade, liberdade e 
igualdade, soberano e súdito, força e direito, entre outros. Dessa forma, o filósofo inaugura uma maneira 
paradoxal de analisar a sociedade, indicando a dificuldade de reduzir o exame a apenas um dos lados da 
diferença da observação. Sempre existem pontos cegos e limitações parciais, que refletem a própria sociedade.
Importante comentador de sua obra, o professor Luiz Roberto Salinas Fortes indica a importância de 
seu método paradoxal:
Dada a importância da reflexão sobre a constituição do social e de sua 
gênese histórica na obra de Rousseau, é possível afirmar que ele não apenas 
está nas origens do pensamento sociológico como fornece elementos para 
a grande revolução teórica realizada por Hegel (1770‑1831) e por Karl 
Marx (1818‑1882), que colocam em bases inteiramente novas o estudo da 
história social dos homens. Já Friedrich Engels (1820‑1895), em sua obra 
Anti‑Dühring, via elementos do método dialético – que fora sistematizado 
por Hegel – já na genealogia exposta no Discurso sobre a Origem e os 
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Fundamentos da Desigualdade entre os Homens. Segundo Rousseau, a 
evolução da humanidade caminha na base da contradição entre termos 
opostos (SALINAS FORTES, 1989, p. 116).
No plano político, ainda que tenha falecido antes da Revolução Francesa, de 1789, seus escritos 
ganharam extremo prestígio entre os grandes líderes, como Robespierre (1758‑1794). Vale lembrar 
que esse movimento revolucionário resultou na derrota do absolutismo monárquico, na libertação dos 
camponeses e na proteção dos interesses dos burgueses ao consagrar os direitos individuais. O filósofo 
também contribuiu diretamente para a estruturação de alguns Estados, como seu projeto político para 
a ilha de Córsega e uma reforma das leis da Polônia.
No plano da Filosofia, Rousseau entrou em diálogo com os autores do contratualismo – corrente 
com distintos filósofos que explicavam a formação do Estado com base na teoria dos contratos sociais, 
capaz de superar um estado de natureza que colocava em risco a sobrevivência humana. As principais 
referências são Hugo Grotius, Thomas Hobbes, Samuel Pufendorf e John Locke. Além disso, Rousseau 
também foi amigo do filósofo David Hume, que, inclusive, o abrigou durante o período de exílio.
No plano das artes, Rousseau também contribuiu com a produção de algumas óperas, como 
As Musas Galantes e O Adivinho da Aldeia, além de peças teatrais e romances, como Júlia: ou A 
Nova Heloísa e Devaneios de um Caminhante Solitário.
Figura 1 – Retrato de Jean‑Jacques Rousseau
Jean Starobinski, importante comentador da obra do filósofo, assim descreve sua trajetória: 
“aventureiro, sonhador, filósofo, antifilósofo, teórico político, músico, perseguido: Jean‑Jacques foi tudo 
isso” (1991, p. 9).
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Vale registrar que Rousseau nasceu em 28 de junho de 1712, em Genebra, Suíça. Na juventude 
mudou‑se para uma pensão em Annecy, na França, onde dedicou seu tempo à música e ao estudo 
religioso. Na maturidade foi para Paris, onde trabalhou como professor de música, escrevendo suas 
principais obras entre 1741 e 1754. Durante o regime absolutista sofreu perseguições, refugiando‑se na 
Suíça e na Inglaterra. Nos últimos anos de sua vida, conseguiu retornar a Paris e viveu ao lado de sua 
esposa até morrer, isolado da sociedade.
Não à toa, esse filósofo é descrito como um sujeito solitário e em conflito com a sociedade, o que 
justifica seu distanciamento e sua reflexão sobre as contradições observadas da época.
Jean‑Jacques não é um “sujeito” filosófico que analisa o espetáculo do 
mundo exterior e que o põe em dúvida como uma aparência formada pela 
mediação enganadora dos sentidos. Jean‑Jacques descobre que os outros 
não vão ao encontro de sua verdade, de sua inocência, de sua boa‑fé, e é 
apenas em seguida que o campo se obscurece e se vela. Antes que ele se 
experimente distante do mundo, o eu sofre a experiência de sua distância 
em relação aos outros (STAROBINSKI, 1991, p. 21).
Na sua última obra, Devaneios de um Caminhante Solitário, fica em evidência a construção 
conflituosa e ensimesmada de Rousseau. Diante de um acidente que dificulta suas caminhadas diárias, 
afirma: “sou cem vezes mais feliz em minha solidão do que poderia ser vivendo com eles. Arrancaram de 
meu coração todas as doçuras da vida em sociedade” (ROUSSEAU, 2008, p. 10).
Aliás, historicamente, a solitude é uma marca constante nos filósofos modernos, que preferem a 
reclusão para o desenvolvimento de suas ideias – ainda que defendam a prática do debate e a projeção 
da discussão na cidade, característica oriunda da tradição socrática.
Sobre o ponto, explica Marilena Chaui com base em um comentário do método cartesiano: “separado 
do mundo, isolado com suas percepções, opiniões, ideias, sua solidão torna indispensável um método 
que possa guiar o pensamento em direção aos conhecimentos verdadeiros e distingui‑los dos falsos” 
(CHAUI, 2000, p. 200).
Rousseau foi casado com Thérèse Levasseur, com quem teve cinco filhos, os quais, diante das 
dificuldades financeiras, foram abandonados em um orfanato. Além das Artes e da Filosofia, Rousseau 
também se dedicou à Botânica. Morreu em 2 de julho de 1789, por causas não esclarecidas, e, diante 
da sua influência na Revolução Francesa, seus restos mortais foram guardados no Panteão de Paris, 
dedicado aos heróis da pátria.
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Figura 2 – A impressão mostra uma visão do nível da rua do Panthéon, em Paris (França), 
com pedestres na rua em primeiro plano
Segue uma relação cronológica de suas principais obras.
• Dissertação sobre a Música Moderna, 1736.
• Discurso sobre as Ciências e as Artes, 1750.
• Narciso ou o Autoadmirador: uma Comédia, 1752.
• O Adivinho da Aldeia, 1752.
• Discurso sobre a Origem e os Fundamentos da Desigualdade entre os Homens, 1754.
• Discurso sobre Economia Política, 1755.
• Carta a M. D’Alembert sobre Espetáculos, 1758.
• Júlia: ou A Nova Heloísa, 1761.
• Emílio: ou A Educação, 1762.
• Contrato Social: ou Princípios do Direito Político, 1762.
• Quatro Cartas para M. de Malesherbes, 1762.
• Pygmalion: uma Cena Lírica, 1762.
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• Cartas Escritas da Montanha, 1764.
• Confissões de Jean‑Jacques Rousseau, 1770.
• Projeto Constitucional para a Córsega, 1772.
• Considerações sobre o Governo da Polônia, 1772.
• Ensaio sobre a Origem das Línguas, 1781.
• Diálogos: Rousseau, Juiz de Jean‑Jacques, 1782.
• Devaneios de um Caminhante Solitário, 1782.
 Saiba mais
Os filmes a seguir podem propiciar uma perspectiva histórica sobre a 
Revolução Francesa.
CASANOVA e a revolução. Dir. Ettore Scola. França: Opera Film 
Produzione, 1982. 150 minutos.
DANTON: o processo da revolução. Dir. Andrzej Wajda. França: Gaumont, 
1983. 136 minutos.
MARIA Antonieta. Dir. Sofia Coppola. Estados Unidos: Columbia Pictures 
Corporation, 2006. 122 minutos.
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ROUSSEAU E O CONTRATO SOCIALUnidade I
1 BASES DA POLÍTICA MODERNA
Incialmente, é preciso estudar a obra de Rousseau tendo‑se em vista a contextualização dos 
movimentos do Renascimento político, da teoria social do contrato e da criação e defesa dos direitos 
civis, movimentos teóricos que antecederam sua obra e formaram as bases da atual política moderna 
na sociedade.
Assim sendo, vale esclarecer para o leitor o sentido mobilizado do conceito de sociedade política, 
pois, considerando sua relevância para a disciplina, é possível sustentar três orientações.
No sentido teórico do termo, a expressão sociedade é compreendida como uma conquista em face 
do estado de natureza, seja em razão de uma necessária natureza de o homem viver em conjunto 
(Aristóteles), seja por um acordo de vontades (como será apresentado na sequência por Hobbes, Locke e 
Rousseau). No sentido teórico, a sociedade é um resultado de uma necessidade natural do homem, sem 
excluir a participação das distintas vontades humanas.
No sentido prático, a sociedade é compreendida como um fato histórico diante da impossibilidade 
da solução dos problemas privados pelo homem, isoladamente considerado. A sociedade permite 
transformar a pluralidade dos interesses privados em um interesse geral e público, e a solução se coloca 
por meio do consenso, da cooperação ou da coerção (poder).
Juridicamente, sociedade é aquela pessoa jurídica de direito público dotada de capacidade de direito, 
podendo figurar em relações jurídicas e proteger seus próprios interesses públicos. A sociedade pode 
ser titular e destinatária de direitos e obrigações. Tecnicamente, sociedade é uma forma específica 
de pessoas jurídicas, correspondendo estas a sujeitos detentores de direitos e obrigações que não se 
confundem com seus membros (pessoas físicas) e possuem patrimônios distintos.
Ressalta‑se que a seguir são mobilizados os conceitos teórico e prático de sociedade política.
2 RENASCIMENTO
Desde o início do século XIV, em várias regiões da Europa, prevaleceu um resgate das tradições 
culturais e políticas do Império Romano, período que ficou conhecido como Renascimento. É nesse 
ambiente que surge o pensamento político moderno, abordando os problemas da política por meio de 
critérios próprios e autônomos em relação às demais ciências e religiões.
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Unidade I
 Saiba mais
A Filosofia da Renascença compreende o período do século XIV ao 
século XVI e teve como centro os pensadores florentinos, que defendiam 
a participação política e republicana, além da autonomia das cidades 
italianas contra o poder imperial e papal. Tal período também foi marcado 
por grandes descobertas e pelo desenvolvimento do conhecimento 
científico, destacando‑se Nicolau Copérnico, Galileu Galilei, Johannes 
Kepler, Nicolau de Cusa e Leonardo da Vinci. O principal traço em comum 
entre os cientistas era a compreensão idealizada do homem como centro 
de todo o pensamento da época. Uma importante referência na história do 
Renascimento é a obra indicada a seguir.
BURCKHARDT, J. A Cultura do Renascimento na Itália. São Paulo: 
Companhia do Bolso, 2009.
O surgimento desse conceito moderno depende de uma visão humanística da vida. Sobre o ponto, 
explica o professor Newton Bignotto que é preciso definir o humanismo do Renascimento como uma 
orientação cultural.
O humanismo italiano do Renascimento foi um humanismo que não era nem 
verdadeiro, nem integral, nem cristão, nem científico no sentido corrente da 
palavra. Ele era simplesmente (o que não é pouco) uma orientação cultural 
em direção ao estudo das línguas, da literatura, da história e da filosofia da 
Antiguidade grega e latina e uma renovação da poesia e da prosa oratória, 
da historiografia e do pensamento moral – tudo isso buscando inspiração, 
tanto na forma quanto no conteúdo, nos modelos fornecidos pelos autores 
antigos (BIGNOTTO, 2001, p. 21).
Para a política, a retomada do valor dos discursos e a atividade da vida pública significavam 
uma nova relação entre o homem e a cidade. Tratava‑se de discutir, por exemplo, a capacidade 
do homem, como integrante e participante, de agir e propor a defesa de um conjunto de valores 
vinculados à cidade.
É por isso que nos textos políticos do humanismo cívico a questão política se apresenta 
sempre como a pergunta sobre a melhor forma de governo, já que, nesse sentido, não haveria 
possibilidade de pensar o problema da fundação dos regimes separadamente da dificuldade da 
realização do homem no interior da cidade – a preocupação era pensar a relação do homem com 
seu meio.
O fato é que essa produção teórica do humanismo abandonou a sistematização em torno 
dos eixos da ética medieval dos grandes modelos neoplatônicos para ater‑se ao ressurgimento 
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de uma preocupação voltada para a prática, isto é, para os problemas da cidade e para um 
conjunto de valores ligados à ação dos homens nos domínios públicos a partir da retomada da 
Antiguidade clássica.
Destacavam‑se no cenário florentino os autores contemporâneos Nicolau Maquiavel (1469‑1527) 
e Francesco Guicciardini (1483‑1540), que compartilhavam os mesmos propósitos. Ambos políticos e 
pensadores, pretendiam definir novos procedimentos a fim de promover uma reforma política, sobretudo 
da cidade de Florença, diante da necessidade de atenuar ou reverter os processos de corrupção dos 
costumes e de degradação dos valores republicanos.
 Observação
A originalidade do pensamento político de Maquiavel está na capacidade 
de analisar os eventos levando em conta certa vivência imediata do mundo 
político, naquilo que chamou a verità effetuale della cosa. Tal perspectiva 
é uma constante nas obras do autor florentino e revela o importante lugar 
reservado ao saber histórico no interior do seu pensamento.
Nessa posição, o fato é que o conhecimento histórico proporciona acesso 
a dois níveis de compreensão: o imediato do acontecimento particular e o 
mediato com base no conhecimento dos movimentos e das paixões que 
precedem as circunstâncias.
Em Maquiavel o grande tema é a tomada e manutenção do poder, afinal o príncipe precisa 
saber agir politicamente. Dessa forma, é preciso perceber a virtú (e a ação humana) como 
circunscrita a uma determinada situação, exigindo do agente a definição para agir visando 
à produção de bons efeitos naquele momento ou de acordo com um objetivo claro e preciso. 
A proposta da teoria da ação política em Maquiavel se direciona para os fatos e vivências 
concretos em razão da necessidade das cidades italianas em cada época. Caberia, então, aos 
homens voltar ao conhecimento do que foi feito e que mostrou bons resultados em relação ao 
governo para manter uma boa ordenação do Estado.
A grande República para Maquiavel é Roma. Em seus Discursos, por meio de exemplos e razões, 
ressalta‑se o fato de que os romanos não só foram menos ingratos que outras repúblicas, mas também 
mais piedosos e cautelosos na punição de seus comandantes.
Tal movimento, que valoriza a ação humana e a avaliação da história, influenciou e confirmou o 
surgimento de um campo autônomo da Filosofia Política, que foi aperfeiçoada com o contratualismo.
Para alguns autores, os pensadores do Renascimento foram responsáveis por inaugurar o sentido 
moderno de política, em especial Maquiavel. Nesse sentido, a filósofa brasileira Marilena Chaui afirma a 
existência de uma verdadeira “revolução maquiavelista”.
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Sua obra funda o pensamento político moderno porque busca oferecer 
respostas novas a uma situação histórica nova, que seus contemporâneos 
tentavam compreender lendo os autores antigos, deixando escapar 
a observação dos acontecimentos que ocorriam diante de seus olhos 
(CHAUI, 2000, p. 512).
Seguindo o exame da professora Chaui,é possível afirmar que Maquiavel consegue romper 
com a tradição e inaugurar a política moderna baseando‑se em quatro pontos principais, 
destacados a seguir.
• Maquiavel admite a compreensão histórica do sistema político, marcado por uma série de lutas e 
conquistas. Esse filósofo político não admite nenhuma justificativa anterior e exterior à política.
• A grande questão política é a tomada e a manutenção do poder, relativizando narrativas que 
justifiquem o exercício do poder político em prol do bem comum ou da justiça. Em alguma medida, 
é possível dizer que Maquiavel defendeu uma racionalidade política autônoma e diversa da moral.
• O dirigente deve cultivar determinadas qualidades para o sucesso do poder político, deve ser 
respeitado e temido ao mesmo tempo que deve dispor do conhecimento necessário e suficiente 
para saber agir diante das oportunidades.
• O regime político adequado é o republicano, aquele que articula a atuação de dirigentes e 
instituições tendo em vista um determinado projeto – o que não se relaciona com os desejos 
e interesses particulares.
Há uma evidente revolução maquiavelista que contribuiu para a autonomia do pensamento político. 
Diz Marilena Chaui:
[...] diferentemente dos teólogos, que partiam da Bíblia e do Direito Romano 
para formular teorias políticas, e diferentemente dos contemporâneos 
renascentistas, que partiam das obras dos filósofos clássicos para construir 
suas teorias políticas, Maquiavel parte da experiência real de seu tempo 
(CHAUI, 2000, p. 511).
As obras de Maquiavel narram sua experiência como diplomata e conselheiro da cidade de Florença. 
Essa revolução orientada para o exame real da política marcou o desdobramento da Filosofia Política nos 
séculos seguintes e influenciou Rousseau por meio da compreensão da autonomia da política.
 Lembrete
Maquiavel é considerado um dos expoentes do pensamento político, 
pois admite a autonomia do sistema político.
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Figura 3 – Vista do Priorado de Florença e do Palácio do Magistrado Chefe, 
registrada da praça da Igreja dos Padres do Oratório, em Florença
3 TEORIA DO CONTRATO SOCIAL
A compreensão moderna da política foi complementada pela teoria do contrato social, ou contratualismo, 
que pode ser caracterizada como um movimento da Filosofia Política, durante o período da Idade Moderna, 
que se propôs a discutir a fundamentação legítima do Estado, a natureza do poder soberano, a dimensão 
da liberdade presente na condição civil e as formas do seu devido exercício. Em especial, essa corrente 
é tributária de uma tradição racionalista e baseada exclusivamente na vontade individual diante da 
preservação de direito naturais, como o direito à sobrevivência e à liberdade.
A política, nesse sentido, refere‑se ao surgimento e à constituição de um Estado civil, capaz de 
organizar e dirigir os distintos interesses particulares de uma coletividade. Para tanto, é preciso a 
instituição de um artifício como o Direito, que é capaz de definir a estrutura e a organização estatal.
A organização política é desejável diante do interesse da manutenção da paz e da sobrevivência 
entre os homens, além, é claro, de facilitar o desenvolvimento de uma série de atividades econômicas e 
sociais. Sem um Estado é difícil regular conflitos, determinar os limites da atuação individual, proteger a 
propriedade privada, distribuir e fornecer serviços aos mais necessitados, entre tantas outras atividades.
Nesse movimento, ainda que o homem, em sua condição natural, seja criado à imagem e 
semelhança de Deus, a instituição do Estado civil se origina na natureza humana racional baseada 
em um pacto social.
Os contratualistas herdaram, por assim dizer, certa tradição do jusnaturalismo. Sem embargo, 
esses filósofos destacaram a necessidade da construção de um artifício capaz de superar na prática 
os problemas práticos da proteção dos direitos, que acabaram tendo aplicações deturpadas por várias 
circunstâncias da existência humana no estado de natureza.
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 Observação
O jusnaturalismo é uma corrente teórica que defende a existência 
de um direito natural, universal e imutável, fundado em normas que 
independem da vontade dos homens. Nesse sentido, o jusnaturalismo retira 
seus fundamentos de fontes sagradas e anteriores ao ser humano, além de 
defender uma relação necessária entre Direito e Moral.
O estado de natureza é um elemento metodológico capaz de explicar e descrever a vida humana em 
uma situação anterior à constituição do Estado civil. Para alguns autores, trata‑se do estado primitivo 
da vida humana, quando os homens viviam isolados e em constante disputa pela sobrevivência.
A passagem do estado de natureza à sociedade civil se dá por meio de um 
contrato social, pelo qual os indivíduos renunciam à liberdade natural e à posse 
natural de bens, riquezas e armas e concordam em transferir a um terceiro – o 
soberano – o poder para criar e aplicar as leis, tornando‑se autoridade política. 
O contrato social funda a soberania (CHAUI, 2000, p. 517).
Pelo exposto, o contratualismo se difundiu como corrente teórica entre os séculos XVI e XVIII para 
justificar a consolidação da formação do Estado moderno, apoiando‑se em leis preestabelecidas por 
um poder legítimo baseado em um pacto ou convenção entre os homens. Nesse sentido, para esses 
filósofos o poder do monarca não poderia derivar de uma fonte sagrada, como pela graça divina, mas 
de um pacto de submissão dos súditos em relação ao soberano. Nessa linha, diferentes teorias foram 
consolidadas, sendo importante destacar os trabalhos de Hugo Grotius, Thomas Hobbes, John Locke e 
Samuel Pufendorf.
3.1 Hugo Grotius (1583‑1645)
Jurista holandês, foi um dos primeiros autores contratualistas, pois defendeu a existência de um 
direito natural com base na formação de um pacto ainda no final do período medieval. Grotius ficou 
conhecido por seu extenso e importante trabalho na área do Direito Internacional e Marítimo, decorrente 
das relações comerciais, além de pela abordagem do direito de guerra e da ideia da guerra justa.
Esse pensador defendia o humanismo tolerante e buscou o consenso entre o culto calvinista e o 
católico nas Províncias Unidas (Holanda e Países Baixos). Diante de sua posição teológica e política, 
fugiu para a França, no reinado de Luís XIII.
Sobre sua obra, comenta o professor José Reinaldo de Lima Lopes:
Seu método, seu estilo e sua obra são ainda devedores de pressupostos 
aristotélicos e tomistas. No De Iure Belli ac Pacis, reconhece que a 
sociabilidade é um traço intrínseco dos homens, um desejo não de qualquer 
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convivência, mas pacífica e organizada, na medida de sua inteligência, com 
os seus semelhantes. Não o medo ou a própria segurança fazem o Estado, 
mas o appetitus socialis, a sociabilidade. Aristóteles ocupa a primeira 
posição entre os filósofos, diz Grotius, e sua preeminência é merecida, 
embora tenha sido transformado em uma autoridade e tirania e não em 
verdade. Aceita ainda que o direito é objetivo, uma regra de conduta. 
E que o direito natural não se confunde com a vontade de Deus e nem 
com o direito positivo (LOPES, 2008, p. 180).
Importante obra do jurista holandês é Direito da Guerra e da Paz, publicada em 1625, que analisa 
uma série de casos históricos à luz da sua posição jusnaturalista mitigada pela perspectiva racionalista do 
pacto comunitário. Portanto, ainda que a instituição do Estado civil seja criada à imagem e semelhança 
da lei divina, tal instituição depende de um pacto racional entre os homens.
Nessa obra, Grotius sustenta a existência de um direito natural de guerra capaz de conduzir à paz, 
admitindo a legalidade das disputas entre as nações. Importantecaso analisado foi a Guerra dos Trinta 
Anos, que opôs a França e a Espanha. Ainda, também reflete sobre a compreensão de capacidade jurídica 
ao distinguir acepções da palavra direito.
Há outra acepção da palavra direito, diferente dessa, ainda que surja dela, 
que está diretamente relacionada à pessoa. Nesse sentido, direito é uma 
qualidade moral anexada à pessoa, habilitando‑a justamente a possuir algum 
privilégio particular, ou a desempenhar algum ato particular. Esse direito 
está agregado ao indivíduo, embora por vezes acompanhe as coisas, como 
os títulos de propriedade, que são chamados “direitos reais”, em oposição 
àqueles meramente “pessoais”. Não porque não estejam anexados às pessoas, 
mas a distinção é feita porque eles pertencem somente àquelas que possuem 
algumas coisas particulares. Tal qualidade moral, quando perfeita, é chamada 
“capacidade”; quando imperfeita, “aptidão”. A primeira responde ao ato, e a 
segunda ao poder quando falamos de coisas naturais (GROTIUS, 2004, p. 103).
3.2 Thomas Hobbes (1588‑1679)
Thomas Hobbes, nascido em 5 de abril de 1588 em Westport, Inglaterra, foi também cientista e 
historiador, reconhecido por sua obra sobre Filosofia Política. Dedicou‑se também a estudos sobre Física, 
especialmente em relação à teoria dos gases.
Em razão do trabalho do seu pai, que era um vigário, encarregado de uma pequena igreja 
paroquial de Wiltshire, Hobbes recebeu seus primeiros ensinamentos na igreja. Durante a juventude, 
o pequeno Hobbes foi para Magdalen Hall, em Oxford, local onde anos mais tarde cursaria Artes 
Tradicionais na Universidade.
Em 1608, depois de se formar em Oxford, ele foi contratado como tutor de William Cavendish, 
importante duque da região. Ao longo de décadas, Hobbes trabalhou para a família Cavendish enquanto 
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tradutor, companheiro de viagem, conselheiro político e colaborador científico. Foi nesse período que 
Hobbes, em suas viagens pela Europa, pôde observar a influência das ideias de pensadores modernos, 
como Galileu Galilei e Kepler.
Hobbes ficou fascinado com o problema da percepção sensorial e toda essa imersão influenciou 
suas obras: Uma Curta Abordagem a Respeito dos Primeiros Princípios, acerca da diversidade do 
momento; De Corpore, acerca dos fenômenos físicos; De Homine, sobre movimento; De Cive, que trata 
da organização social. Essas obras têm interesse direto sobre os corpos físicos e suas propriedades, 
tratam do entendimento da Filosofia e da Ciência enquanto uma busca por conhecimento da origem 
das coisas e também dos fenômenos observados como efeitos da matéria em movimento.
Na visão de Hobbes, a Filosofia não deveria ater‑se às questões espirituais ou não corpóreas, assunto 
de responsabilidade da teologia e da fé individual, visto que o objeto de estudo é Deus, cuja origem não 
se pode descobrir. Além disso, em seus estudos, ele objetivava entender como se daria a vida humana 
em uma condição apolítica, o estado de natureza.
Em 1637, agora na Inglaterra, Hobbes publicou Elementos da Lei Natural e Política, influenciado pelo 
prelúdio do que seria a Guerra Civil Inglesa. Poucos anos depois, morando em Paris, publicou Objeções 
às Ideias de Descartes. Já em 1650, publicou Os Elementos da Lei, Natureza Humana e Do Corpo Político. 
No ano seguinte, publicou a obra que seria o marco de sua carreira como filósofo: Leviatã, obra 
influenciada pela Guerra Civil, especialmente pela execução de Carlos I e pelo exílio de Carlos II.
Hobbes, um admirador da História Antiga, aos 80 anos de idade realiza a tradução de obras de 
Homero. Por fim, em 4 de dezembro de 1679, aos 91 anos de idade, em Hardwick Hall, Derbyshire, morre.
Fato é que Hobbes foi um racionalista, desenvolveu um sistema em que, partindo‑se de noções 
fundamentais, se procede de maneira a derivar delas todas as demais noções que compõem o conhecimento 
– trata‑se de uma explicação da gênese das coisas. A razão é, então, um artifício que permite aos homens 
realizarem as suas necessidades. Não à toa, Hobbes era também um matemático, trazendo o raciocínio 
matemático para o campo político ao defender a importância de afirmar situações críveis.
 Observação
Hobbes sustenta que os homens são capazes de realizar um cálculo 
mental de prudência, forma de conhecimento que leva em consideração os 
resultados da experiência passada e é determinante para as novas relações 
que pretendem estabelecer.
Na sua teoria, Hobbes (2008) defende a ideia de que a condição natural do homem é uma 
condição de guerra de todos contra todos. Ele resgata um provérbio em latim, no capítulo XLII 
do Leviatã, para descrever a situação: o homem é o lobo do homem (homo homini lupus). Para 
Hobbes, tal condição decorre das próprias paixões humanas, sendo o caso de observar certa lógica 
do comportamento.
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O que determina e explica o nosso modo de agir e tal condição perversa? Segundo o pensador, a 
circunstância que explica é a igualdade entre os homens: possuímos as mesmas capacidades físicas 
e espirituais para agir e buscar a preservação. Porém, sempre que os homens desejarem um bem que 
não possa ser compartilhado e usufruído em conjunto, eles se tornarão inimigos, disputando tal 
bem. Essa situação é caracterizada por Hobbes, no capítulo XIII de Leviatã, como uma situação de 
desconfiança, capaz de gerar a guerra diante do comportamento de antecipação dos homens para 
subjugar pela força os outros homens.
Desta igualdade quanto à capacidade deriva a igualdade quanto à esperança 
de atingirmos nossos fins. Portanto, se dois homens desejam a mesma coisa, 
ao mesmo tempo que é impossível ela ser gozada por ambos, eles tornam‑se 
inimigos. E no caminho para seu fim (que é principalmente sua própria 
conservação, e às vezes apenas seu deleite) esforçam‑se por se destruir ou 
subjugar um ao outro e disto se segue que, quando um invasor nada mais 
tem a recear do que o poder de um único outro homem, se alguém planta, 
semeia, constrói ou possui um lugar conveniente, é provavelmente de esperar 
que outros venham preparados com forças conjugadas, para desapossá‑lo e 
privá‑lo, não apenas do fruto de seu trabalho, mas também de sua vida e de 
sua liberdade. Por sua vez, o invasor ficará no mesmo perigo em relação aos 
outros. E contra esta desconfiança de uns em relação aos outros, nenhuma 
maneira de se garantir é tão razoável como a antecipação; isto é, pela força 
ou pela astúcia, subjugar as pessoas de todos os homens que puder, durante o 
tempo necessário para chegar ao momento em que não veja qualquer outro 
poder suficientemente grande para ameaçá‑lo (HOBBES, 2008, p. 107).
É preciso ter acuidade para fazer uma distinção importante em Hobbes: esse filósofo não afirma que 
estamos sempre em guerra no estado de natureza, mas que existe uma predisposição diante da condição 
da igualdade pressuposta. Logo, não existe uma natureza perversa do homem, mas uma condição que 
determina a situação de discórdia entre os homens – tal ponto reforça sua tese de que todo comportamento 
tem por causa uma paixão, e toda a paixão se explica por uma circunstância que a determina.
Não à toa, Hobbes afirma que as paixões que fazem os homens tenderem para a paz são o medo da 
morte, o desejo de uma vida confortável e segura e a esperança de conseguir tranquilidade por meio do 
trabalho. Dessa forma, a razão orienta os homens para as condutas de paz, sendo possível alcançarem 
um acordo – o que Hobbes designará como leis da natureza.
Leis da natureza são preceitos gerais estabelecidos pela razão, imutáveis e eternos, mediante os quais 
se proíbe a um homem fazer tudo o que possa destruir a sua vida ou privá‑lo dos meios necessários para 
a sua sobrevivência. No Leviatã, capítulos XIV e XV, Hobbes enumera uma série de leis da natureza, em 
ordem de importância e derivação.• Primeira lei da natureza: buscar a paz. Em sua obra, diz “que todo homem deve esforçar‑se pela 
paz, na medida em que tenha esperança de consegui‑la, e caso não a consiga pode procurar e usar 
todas as ajudas e vantagens da guerra” (2008, p. 113).
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• Segunda lei da natureza: contratar para obter a paz. No Leviatã está escrito:
[...] que um homem concorde, quando outros também o façam, e na medida 
em que tal considere necessário para a paz e para a defesa de si mesmo, em 
renunciar a seu direito a todas as coisas, contentando‑se, em relação aos 
outros homens, com a mesma liberdade que aos outros homens permite em 
relação a si mesmo (p. 113).
• Terceira lei da natureza: a justiça. Diz Hobbes: “Que os homens cumpram os pactos que 
celebrarem” (p. 124).
• Quarta lei da natureza: a gratidão. Segundo o pensador, “Que quem recebeu benefício de outro 
homem, por simples graça, se esforce para que o doador não venha a ter motivo razoável para 
arrepender‑se de sua boa vontade” (p. 130).
• Quinta lei da natureza: a complacência. Lê‑se na obra: “que cada um se esforce por acomodar‑se 
com os outros” (p. 130).
• Sexta lei da natureza: a facilidade de perdoar. Nas palavras do autor, “que como garantia do 
tempo futuro se perdoem as ofensas passadas àqueles que se arrependam e o desejem” (p. 131).
• Sétima lei da natureza: na vingança só se olhe ao bem futuro. Diz o filósofo: “Que na vingança 
(isto é, a retribuição do mal com o mal) os homens não olhem à importância do mal passado, mas 
só à importância do bem futuro” (p. 131).
• Oitava lei da natureza: contra a contumélia. Nas palavras de Hobbes, “que ninguém, por atos, 
palavras, atitude ou gesto, declare ódio ou desprezo pelo outro” (p. 132).
• Nona lei da natureza: contra o orgulho. Lê‑se no Leviatã: “que cada homem reconheça os outros 
como seus iguais por natureza” (p. 132).
• Décima lei da natureza: contra a arrogância. No Leviatã está escrito: “que ao iniciarem‑se as 
condições de paz ninguém pretenda reservar para si qualquer direito que não aceite seja também 
reservado para qualquer dos outros” (p.133).
• Décima primeira lei da natureza: a equidade. Segundo o filósofo, “se a alguém for confiado 
servir de juiz entre dois homens, é um preceito da lei de natureza que trate a ambos 
equitativamente” (p.133).
• Décima segunda lei da natureza: o uso equitativo das coisas comuns. São palavras de Hobbes: 
“que as coisas que não podem ser divididas sejam gozadas em comum, se assim puder ser; e, 
se a quantidade da coisa o permitir, sem limite; caso contrário, proporcionalmente ao número 
daqueles que a ela têm direito” (p. 133).
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• Décima terceira lei da natureza: o sorteio. Na obra é dito “que o direito absoluto, ou então (se o 
uso for alternado) a primeira posse, sejam determinados por sorteio” (p.134).
• Décima quarta lei da natureza: da primogenitura e primeira posse. Com relação a tal tema, 
posiciona‑se o pensador:
[...] há duas espécies de sorteio, o arbitrário e o natural. O arbitrário é aquele 
com o qual os competidores concordaram; o natural ou é a primogenitura 
(que os gregos chamavam kleronomía, o que significa dado por sorteio) ou 
é a primeira apropriação (p.134).
• Décima quinta lei da natureza: dos mediadores. Para Hobbes, “que a todos aqueles que servem de 
mediadores para a paz seja concedido salvo‑conduto” (p. 134).
• Décima sexta lei da natureza: da submissão à arbitragem. No Leviatã podemos ler: “que aqueles 
entre os quais há controvérsia submetam seu direito ao julgamento de um árbitro” (p. 134).
• Décima sétima lei da natureza: ninguém é seu próprio juiz. Na obra, diz o autor “ninguém pode 
ser um árbitro adequado em causa própria” (p. 134).
• Décima oitava lei da natureza: não seja juiz quem tem em si causa natural de parcialidade. 
Segundo o pensador, “em nenhuma causa alguém pode ser aceite como árbitro, se 
aparentemente para ela resultar mais proveito, honra ou prazer da vitória de uma das partes 
do que da outra” (p. 135).
• Décima nona lei da natureza: das testemunhas. Hobbes afirma que “numa controvérsia de fato, 
dado que o juiz não pode dar mais crédito a um do que a outro (na ausência de outros argumentos), 
precisa dar crédito a um terceiro, ou a um terceiro e a um quarto, ou mais” (p. 135).
Diante da situação de guerra, é razoável supor que os homens não queiram ficar em um estado de 
disputa infinita para assegurar as leis naturais. Logo, o desejo de paz prevalece como primeira lei da 
natureza, o que justifica a reunião dos homens em um contrato social.
O contrato social em Hobbes é uma criação artificial e jurídica, baseada em três ideias. Primeiro, a 
ideia de soberania: o poder do Estado é o maior de todos os poderes que os homens podem constituir 
para assegurar a paz. Uma importante questão é saber se a soberania é o poder da multidão reunida. Para 
Hobbes, trata‑se de um conceito diverso, já que dela decorre uma abdicação voluntária e que supera a mera 
reunião em prol de um bem maior. Trata‑se, em verdade, de um ato racional para assegurar a sobrevivência, 
cabendo apenas ao Estado o poder punitivo – condição material do contrato, cuja finalidade é a segurança.
Vale destacar que a soberania pode ser apresentada em uma dupla perspectiva. Externamente, a 
soberania é sinônimo de independência e assim tem sido invocada pelos dirigentes dos Estados que 
desejam afirmar, sobretudo ao seu próprio povo, não serem mais submissos a qualquer potência 
estrangeira. Internamente, trata‑se da expressão de poder jurídico mais alto, significando que, dentro 
dos limites da jurisdição do Estado, este é que tem o poder de decisão em última instância.
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Exemplo de aplicação
A soberania é a configuração de um poder supremo e absoluto pelo Direito; logo, sem Direito não 
há soberania.
Reflita sobre a diferença do exercício do poder soberano em um Estado totalitário e em um Estado 
constitucional, quando direitos que limitam esse poder estão preestabelecidos e são controlados pelo povo.
A segunda ideia que justifica o contrato é que ele permite a sociabilidade, regulamentando a 
vida econômica e social. Certamente, no estado de natureza o homem vivia isolado, sem estabelecer 
interações com outros, sobretudo diante da sua dificuldade de confiar e evitar se antecipar em relação 
às atitudes de seus semelhantes. Vale lembrar que Hobbes descreve esse estado baseando‑se em um 
modelo de competição pela sobrevivência. A instituição de um Estado civil rompe com esta dinâmica, 
assegurando a sociabilidade entre os indivíduos.
Por fim, os atos estatais representam a vontade de seus cidadãos e dos servidores que atuam em 
nome dela. Daí Hobbes deriva e discute o conceito da obediência, fixado por um direito e determinando 
uma série de sanções diante de suas violações.
O momento do pacto é assim descrito por Hobbes:
Cedo e transfiro meu direito de governar‑me a mim mesmo a este homem, 
ou a esta assembleia de homens, com a condição de transferires a ele teu 
direito, autorizando de maneira semelhante todas as suas ações. Feito isto, 
à multidão assim unida numa só pessoa se chama Estado, em latim civitas. 
É esta a geração daquele grande Leviatã, ou antes (para falar em termos mais 
reverentes) daquele Deus Mortal, ao qual devemos, abaixo do Deus Imortal, 
nossa paz e defesa. Pois, graças a esta autoridade que lhe é dada por cada 
indivíduo no Estado, é‑lhe conferido o uso de tamanho poder e força que o 
terror assim inspirado o torna capaz de conformar as vontades de todos eles, 
no sentido da paz em seu próprio país, e da ajuda mútua contra os inimigos 
estrangeiros. É nele que consiste a essência do Estado, a qual pode ser assim 
definida: uma pessoa de cujos atos uma grandemultidão, mediante pactos 
recíprocos uns com os outros, foi instituída por cada um como autora, de modo 
a ela poder usar a força e os recursos de todos, da maneira que considerar 
conveniente, para assegurar a paz e a defesa comum (HOBBES, 2008, p. 148).
Por fim, cumpre destacar que Hobbes também diferencia Estado, conceito jurídico e baseado na 
ideia de contrato, de governo, modo como a soberania é exercida. Para esse filósofo, a questão do 
bom governo não é um problema relacionado à instituição do Estado civil – questão relacionada com 
a soberania de seu poder. O bom governo é a situação na qual se constata a obediência civil: permitir 
homens abdicarem de seus direitos naturais em nome do Leviatã; afinal, se uma monarquia cumpre o 
contrato para assegurar a paz, é possível afirmar se tratar de um bom governo.
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Aqui ganha destaque uma base moral em seus escritos, o que se revela na finalidade dos atos 
estatais. Nesse sentido, Hobbes se aproxima de Maquiavel, pois, para ambos, o monarca e o príncipe 
devem ser virtuosos, capazes de compreender as peculiaridades da história e agir.
Na visão hobbesiana, o Estado precisa ser racional e trabalhar com um parâmetro de moralidade, 
capaz de assegurar a sociabilidade tal como expresso por um cálculo matemático.
3.3 John Locke (1632‑1704)
Outra importante contribuição para a teoria do contrato social foi a obra do filósofo britânico 
John Locke. Originariamente médico em Oxford, Locke contribuiu com o conhecimento não apenas na 
Filosofia Política, mas também em outras áreas, desenvolvendo, por exemplo, importantes trabalhos 
sobre a ciência e a teoria do conhecimento, abrindo espaço para a corrente do empirismo científico.
Locke nasceu em 29 de agosto de 1632, em Wrington, na Inglaterra. Sua infância é descrita como 
dolorosa, já que perdeu a mãe quando criança e foi criado por seu pai, um advogado da cidade de 
Pensford que era adepto ao puritanismo e capitão na cavalaria dos parlamentares à época da Guerra 
Civil. Diante da situação de guerra, Locke recebeu seus estudos em casa. Aos 14 anos, entrou na Escola 
de Westminster, uma escola com prestígio onde, permanecendo por seis anos, recebeu estudos, por 
exemplo, de Latim, Grego, Hebraico, Árabe, Matemática e Geografia.
Em 1652, Locke entra na Universidade de Oxford, na sede da corte de Carlos I. A universidade tinha 
como foco os estudos de Aristóteles, em especial a lógica, não se atendo muito a novas ideias sobre a 
natureza e as origens do conhecimento que haviam sido desenvolvidas por filósofos modernos, como 
Bacon e Descartes.
Locke formou‑se em Medicina e cuidou de importantes figuras da época, como o lorde Ashley, conde 
de Shaftesbury, futuro lorde chanceler da Inglaterra. Aliás, foi por meio desse tratamento que o autor 
construiu uma grande amizade com o conde, pessoa que muito o influenciou na sua aproximação aos 
assuntos políticos.
No período que permaneceu na França, 1675 a 1679, Locke fez muitos amigos na comunidade 
protestante, incluindo alguns intelectuais importantes, além de ficar impressionado com a pobreza da 
população local e com as vastas quantias que o rei francês Luís XIV gastava no Palácio de Versalhes.
De volta à Inglaterra, em um contexto de crise, ele escreve seu trabalho principal em Filosofia Política, 
Dois Tratados sobre o Governo, uma espécie de resposta à situação política inglesa. Em seu prefácio, o 
filósofo explica os argumentos dos dois tratados, os quais são uma justificativa da Revolução Gloriosa, 
que levou os protestantes Guilherme III e Maria II ao trono após a fuga de Jaime II para a França.
Nos anos de 1683 a 1689, Locke foge para a Holanda, acompanhando o exilado lorde Ashley. 
Sua boa condição na nova pátria permite escrever outros livros, muitos deles publicados após o 
autor ter mais de 50 anos.
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Em 1688, após a Revolução Gloriosa, Locke retornou à Inglaterra e depois serviu como comissário 
de comércio até 1700. Ele passou sua aposentadoria em Oates, em Essex, e morreu lá no dia 28 de 
outubro de 1704.
Figura 4 – Retrato de John Locke
É importante lembrar que no empirismo defende‑se a ideia de que as fontes de todo o conhecimento 
são a experiência sensível. As principais características dessa corrente são:
• o ponto de partida para o conhecimento são as coisas, tal como elas se encontram no 
mundo (objetos);
• a representação que fazemos do real depende dos objetos;
• o conhecimento se estabelece como adequação do intelecto em relação aos objetos observados 
(por exemplo, nossos conceitos e ideias se adéquam às coisas);
• o mundo é tal como o vemos e percebemos, enfatizando‑se a importância dos sentimentos no 
processo de conhecimento.
 Observação
Para a corrente empírica, o conhecimento não é inato nem o poder 
político poderia ser inato. Dessa forma, Locke elabora uma sofisticada 
crítica ao absolutismo. Há a defesa da razão para evitar o abuso do poder 
da autoridade via nepotismo ou via fundamento divino.
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No plano político, Locke é considerado fundador do movimento liberal, que pretendia defender os 
direitos e as liberdades individuais, em especial a propriedade privada. Sobre essa posição, a professora 
Marilena Chaui destaca três características da teoria liberal inaugurada por Locke.
• O Estado deve garantir o direito natural de propriedade sem interferir na vida econômica, o que 
inclui a liberdade profissional e a livre‑iniciativa.
• O Estado tem apenas a função de garantidor e de árbitro dos conflitos entre particulares.
• O Estado possui uma série de restrições para legislar e interferir na vida particular – proteção das 
liberdades civis, como a liberdade de consciência, a liberdade de pensamento e a liberdade de 
circulação, entre outras.
Esse filósofo escreveu duas importantes obras políticas justificando a Revolução Gloriosa, que 
marcou a substituição do monarca Jaime II por Guilherme III dos Países Baixos. Tal substituição 
assinalou o fim da monarquia católica e limitou os poderes do rei com a Bill of Rights, aprovada em 
1689. Nessa ocasião, o poder real precisava respeitar o controle feito pelo Parlamento, que estabelecia 
uma série de regras. Como toda lei precisa ser sancionada pelo Parlamento, o rei não pode criar leis 
sem autorização do Parlamento.
No Primeiro Tratado sobre o Governo, Locke refutou os argumentos de Robert Filmer que justificavam 
o poder absoluto e divino dos monarcas. Aliás, o filósofo defendeu a separação entre Igreja e Estado – 
contribuindo para o debate da laicização do poder.
No Segundo Tratado sobre o Governo, sua principal obra, Locke propõe descobrir o papel do governo 
legítimo, permitindo distinguir a natureza do governo ilegítimo. Para tanto, recorrendo ao modelo 
empírico, examina como seria a vida social na ausência de governo civil para, então, constatar qual é o 
papel que o governo deve desempenhar.
Esse filósofo recorre ao exame da condição natural dos homens, que é uma situação de igualdade, 
sendo a razão capaz de ordenar e preservar a vida individual.
Um estado, também, de igualdade, onde a reciprocidade determina 
todo o poder e toda a competência, ninguém tendo mais que os outros; 
evidentemente, seres criados da mesma espécie e da mesma condição, 
que, desde seu nascimento, desfrutam juntos de todas as vantagens 
comuns da natureza e do uso das mesmas faculdades, devem ainda ser 
iguais entre si, sem subordinação ou sujeição, a menos que seu senhor e 
amo de todos, por alguma declaração manifesta de sua vontade, tivesse 
destacado um acima dos outros e lhe houvesse conferido sem equívoco, 
por uma designação evidente e clara, os direitos de um amo e de um 
soberano (LOCKE, 2002, p. 36).
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Diferentemente de Hobbes, na perspectiva de Locke, o estado de natureza não é um estado de guerra, 
desregrado e de licenciosidade. Esse filósofo descreve tal momento como uma situação de igualdade 
política, em que flui a obrigação de amor mútuo e de deveres particulares entre si.
Sobre esse ponto, comenta José Reinaldo de Lima Lopes:
O estado de natureza é o seu ponto de entrada no sistema racional. O estado 
de natureza é aquele em que todos podem fazer cumprir a lei natural e esta 
impõe que cada um cuide da sobrevivência do seu semelhante, enquanto 
não afetar sua própria sobrevivência. O estado de natureza é também um 
estado de necessidade e de carências: a abundância ou riqueza vem com a 
sociedade civil. O direito natural não existe nas coisas, mas no espírito (é uma 
razão), ou, como definirá Reiman, o contrato social para Locke deixa de ser 
externo para ser interno. A razão para a obediência a uma lei na sociedade 
civil consiste em confiar na razão dos seus semelhantes. Este exercício 
de racionalidade e razoabilidade transfere o contrato político para o foro 
interno. Dessa forma, não é a autoridade da coação, mas do convencimento 
que impõe o respeito recíproco. O que nos obriga ao direito? Não é o temor 
da pena, mas a reta razão (LOPES, 2008, p. 184).
Para explicar a situação de desequilíbrio no estado de natureza, Locke vai recorrer aos riscos que o direito 
natural de propriedade pode possuir. Na sua perspectiva, a propriedade não é uma mera soma dos bens 
materiais e produtos auferidos, mas resultado da própria liberdade de escolha que cada indivíduo possui e 
que, por meio do trabalho, pode tomar como seu. Há uma sequência lógica subentendida na argumentação de 
Locke, o trabalho atribui valor às coisas da natureza que, modificadas em algo novo, justificam a propriedade.
Ainda que a terra e todas as criaturas inferiores pertençam em comum a todos 
os homens, cada um guarda a propriedade de sua própria pessoa; sobre esta 
ninguém tem qualquer direito, exceto ela. Podemos dizer que o trabalho de 
seu corpo e a obra produzida por suas mãos são propriedade sua. Sempre que 
ele tira um objeto do estado em que a natureza o colocou e deixou, mistura 
nisso o seu trabalho e a isso acrescenta algo que lhe pertence, por isso o 
tornando sua propriedade. Ao remover este objeto do estado comum em que 
a natureza o colocou, através do seu trabalho adiciona‑lhe algo que excluiu 
o direito comum dos outros homens. Sendo este trabalho uma propriedade 
inquestionável do trabalhador, nenhum homem, exceto ele, pode ter o direito 
ao que o trabalho lhe acrescentou, pelo menos quando o que resta é suficiente 
aos outros, em quantidade e em qualidade (LOCKE, 2002 p. 42).
No estado de natureza há um limite para a acumulação da propriedade, o homem só pode 
acumular o que for capaz de consumir. Trata‑se de um limite fixado pelo próprio uso humano. 
Assim, acumular mais que o necessário é causar escassez para o resto da humanidade – o que vai 
contra a lei da natureza. Nesse sentido, é possível perceber a importância da invenção do dinheiro, 
já que deixam de existir limites naturais para o acúmulo de propriedade.
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“Assim foi estabelecido o uso do dinheiro – alguma coisa duradoura que o homem podia guardar 
sem que se deteriorasse e que, por consentimento mútuo, os homens utilizariam na troca por coisas 
necessárias à vida, realmente úteis, mas perecíveis” (LOCKE, 2002, p. 48).
É nesse contexto que a conservação da propriedade no estado de natureza se torna cada vez 
mais frágil e justifica a instituição de um contrato social, capaz de estabelecer uma lei fixa e 
conhecida que regule as controvérsias, além de um juiz imparcial e um poder capaz de executar as 
sentenças. Logo, diferentemente de Hobbes, a instituição do contrato se justifica para assegurar a 
propriedade com base em um consentimento dos indivíduos – e não a partir de uma abdicação de 
direito em prol de outro.
O que move uma comunidade é sempre o consentimento dos indivíduos que 
a compõem, e como todo objeto que forma um único corpo deve se mover 
em uma única direção, este deve se mover na direção em que o puxa a força 
maior, ou seja, o consentimento da maioria; do contrário, é impossível ele atuar 
ou subsistir como um corpo, como uma comunidade, como assim decidiu o 
consentimento individual de cada um; por isso cada um é obrigado a se 
submeter às decisões da maioria. E por isso, naquelas assembleias cujo poder 
é extraído de leis positivas, em que a lei positiva que os habilita a agir não fixa 
o número estabelecido, vemos que a escolha da maioria passa por aquela do 
conjunto, e importa na decisão sem contestação, porque tem atrás de si o poder 
do conjunto, em virtude da lei da natureza e da razão (LOCKE, 2002, p. 61).
O governo legítimo é, então, instituído pelo consentimento explícito dos governados. Aqueles que 
fazem esse acordo transferem para o governo seu direito de executar a lei da natureza e julgar seu 
próprio caso. Esses são os poderes que eles dão ao governo central, e é isso que faz do sistema de 
justiça dos governos uma função legítima. O objetivo de um governo legítimo é preservar, na medida 
do possível, os direitos à vida, à liberdade, à saúde e à propriedade de seus cidadãos, além de processar 
e punir aqueles que violarem os direitos de outros.
Ainda vale pontuar que um governo civil ilegítimo sistematicamente viola os direitos naturais de 
seus cidadãos, o que caracteriza uma retomada do estado de guerra. Em tais circunstâncias de negação 
sistemática dos direitos individuais, Locke defende um direito de resistência capaz de proteger as garantias 
básicas e restituir o pacto. Os poderes, pela razão que foram formados, não podem ser exercidos de 
forma arbitrária e contrária, pois haveria uma tirania – novamente, esse filósofo faz sucessivas críticas 
aos regimes absolutistas.
3.4 Samuel Pufendorf (1632‑1694)
Samuel Pufendorf, nascido na Saxônia, foi percursor da escola prussiana. Lecionou na cátedra de 
Direito Natural na Universidade de Heidelberg, em 1661, e posteriormente na Universidade de Lund, 
Suécia. Suas posições marcam uma transição do contratualismo, ao defender que a lei é um limite à 
liberdade individual e não depende apenas do direito natural.
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Na visão desse pensador, o homem é ao mesmo tempo egoísta e sociável, cabendo ao Direito 
equilibrar esses instintos. Seu modelo se aproxima da visão de Hobbes, pois o dever é a ação 
conformada às determinações legais. Todavia, a lei não é uma derivação imediata da razão, mas 
um ato pelo qual um superior obriga um sujeito a se conformar aos mandamentos. Somente 
as autoridades possuem capacidade de produzir as leis, já que têm razão para conhecê‑las e 
vontade para segui‑las.
Para José Reinaldo de Lima Lopes, Pufendorf já antecipa traços do Direito moderno:
Em Pufendorf, já encontramos duas características do Direito que 
triunfará no século XIX: o voluntarismo (a lei como expressão da 
vontade do legislador ou do soberano) e o individualismo (o indivíduo 
como prius da sociedade, em que o todo equivale à soma – posterior 
– de partes que preexistem). A ação humana, segundo ele, depende 
da vontade, mas as vontades individuais são muitas e nem sempre 
concordes (LOPES, 2008, p. 190).
Na visão de Pufendorf, é possível distinguir deveres naturais, fundamentos dos direitos naturais. 
O primeiro consiste em não causar dano a ninguém, pois é possível conviver com quem não se 
concorde (daí se sustentar o direito natural da proibição do furto). O segundo, desdobramento da 
reciprocidade, consiste no dever de cada um tratar o outro como um igual. O terceiro dever é a 
promoção do bem do outro, base da fraternidade entreos homens.
Em poucas palavras, o método de Pufendorf deixa entrever o que virá 
a ser mais tarde tão típico do Direito burguês e liberal, individualismo e 
voluntarismo nominalista dos ingleses da Baixa Idade Média por meio de 
Hobbes e Descartes. Será influente na teoria geral do direito justamente por 
desenvolver uma ética profana e laica, e por dar acentuado destaque ao 
contrato, como meio capaz de organizar as liberdades e egoísmos, centro do 
novo Direito (LOPES, 2008, p. 192).
 Saiba mais
Os livros indicados a seguir aprofundam o estudo da teoria do 
contrato social.
HOBBES, T. Leviatã. São Paulo: Martins Fontes, 2008.
LOCKE, J. Segundo Tratado sobre o Governo. São Paulo: Martin 
Claret, 2002.
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4 DIREITOS CIVIS
Um último ponto que deve ser registrado como base da definição do campo da política moderna é 
a constituição e o fundamento dos direitos civis como garantia para o exercício da atividade política.
Em uma visão moderna, Direito e Política são dois campos distintos de atuação, mas simultaneamente 
dependentes na medida em que o Direito assegura as possibilidades de atuação política e a Política 
determina o conteúdo dos direitos.
Tal fato, que marca o Direito moderno, é caracterizado pelo regime do Estado de Direito (rule of law), 
ninguém está acima da lei. Em outras palavras, o direito é produzido pela e para a sociedade política e 
a forma de produção do direito é pela política. Certamente a Filosofia Política de Rousseau contribuiu 
com tal formulação, em especial ao mobilizar e defender o conceito de soberania popular e de vontade 
geral, como será visto na sequência.
 Lembrete
Não existe uma definição única do conceito de Estado de Direito ou de 
império da lei (rule of law). No entanto, há uma compreensão comum que 
admite que esse conceito corresponde à ideia de todos estarem submetidos 
à lei, expressão que é também reconhecida por todos.
Pelo exposto, apenas haverá direitos em uma sociedade política quando houver a possibilidade de 
fazer valer o direito em face de outros, ou seja, quando existir uma faculdade ou pretensão de afirmar 
e realizar um direito específico. Caso contrário, não será possível exigir o simples cumprimento de 
qualquer direito perante um órgão jurisdicional (seja na jurisdição nacional, seja na internacional) e até 
mesmo se defender contra os abusos praticados eventualmente por autoridades.
Dessa forma, direitos não se reduzem apenas à compreensão jusnaturalista, quando o direito do 
homem nasce vinculado ao fundamento teológico, tido como universal, irrefutável, incontestável – isto 
é, como uma verdade eterna revelada por Deus. Nesse sentido, sustenta o filósofo britânico Thomas 
Paine: “[s]eu dever para com Deus, que deve ser sentido por todo homem, e o respeito por seu próximo, 
de tratar os outros como esperaria ser tratado” (PAINE, 2005, p. 54).
Ora, a Filosofia Política moderna justamente indica a necessidade da existência de uma condição 
anterior e específica, fruto de um ato de vontade, que assegura a proteção dos direitos, isto é, o 
reconhecimento da condição de pessoa de direito – requisito único para a titularidade de direitos, 
considerando o ser humano um ser dotado de características intrínsecas de suas condições.
Nesta compreensão, os direitos humanos são subjetivos, e, portanto, é imprescindível para a sua 
realização o indivíduo pertencer e participar de um ordenamento jurídico determinado, reconhecido 
como sujeito de direito.
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Nessa relação entre Direito e Política, é possível estabelecer quatro situações distintas da atuação 
da atividade do Estado: atuação política legal, abuso de poder, desvio de finalidade e arbitrariedade.
Quadro 1 – Relações entre Direito e Política de acordo com a atuação do Estado
Atuação estatal Descrição
Legal A força política pode se manifestar de maneira autorizada para resultados desejáveis para a sociedade e, portanto, será válida e legítima.
Abuso de poder A força política pode se manifestar de maneira não autorizada para resultados desejáveis para a sociedade e, portanto, será inválida e legítima.
Desvio de finalidade A força política pode se manifestar de maneira autorizada para resultados não desejáveis para a sociedade e, portanto, será válida e ilegítima.
Arbitrariedade A força política pode se manifestar de maneira não autorizada para resultados não desejáveis pela sociedade e, portanto, será inválida e ilegítima.
No Estado de Direito só se admite a primeira manifestação da força política, limitada e controlada pelo 
direito, em razão da validade, e pelos valores da sociedade, em razão da legitimidade.
Percebe‑se, ademais, a importância da formalização e da associação por meio de um pacto 
social, que assegura esse vínculo entre um indivíduo e o Estado civil, tradicionalmente conhecido 
como nacionalidade, e possibilita o exercício de diferentes direitos que conformam a atuação 
política. No limite, todos os contratualistas defendem a instituição de uma série de direitos civis 
que permitem a manutenção do Estado e sua orientação para a paz.
 Resumo
A compreensão da filosofia de Rousseau depende da contextualização 
do surgimento da reflexão política moderna com Maquiavel e das teses de 
alguns pensadores contratualistas.
Maquiavel foi responsável por sustentar que a única preocupação real 
do governante é a aquisição e manutenção do poder. Tal reflexão marcou a 
autonomia do pensamento político, que pressupõe a operação por meio de 
regras e modelos próprios.
A teoria contratualista é, por sua vez, uma corrente da Filosofia 
Política moderna que discute a fundamentação do Estado civil por meio 
da formulação de um pacto social. Para tanto, os principais teóricos 
recorreram a certo modelo lógico que retrata a situação antes e depois do 
acordo. Como uma organização das posições de Hobbes e Locke, obtém‑se 
o quadro comparativo a seguir.
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ROUSSEAU E O CONTRATO SOCIAL
Quadro 2 – Comparação entre Hobbes e Locke
Filósofos contratualistas Thomas Hobbes John Locke
Origem Influência inglesa Influência inglesa
Período 1588‑1679 1632‑1704
Obra Leviatã Segundo Tratado sobre o Governo
Estado de natureza
O estado de natureza é um estado de guerra. 
Não existe moralidade. Todo mundo vive 
em constante medo. Por causa desse medo, 
ninguém é realmente livre, mas, uma vez que 
mesmo o “mais fraco” poderia matar o “mais 
forte”, os homens são iguais.
Homens são livres. O estado de natureza não é 
necessariamente bom ou ruim, é caótico. Portanto, 
é preferível constituir um acordo para assegurar as 
liberdades individuais.
Propósito do acordo Para impor a lei e a ordem, para evitar o estado de guerra.
Para garantir os direitos naturais, ou seja, os 
direitos de propriedade do homem e da liberdade.
Representação
Os governos são projetados para controlar, 
não necessariamente representam interesses. 
É uma alienação absoluta.
Representação é uma salvaguarda contra a 
opressão. Nesse sentido, se o poder sair da órbita 
do direito, todos têm o direito de usar a força 
(autorização da guerra civil e direito à resistência). 
É uma relação de confiança.
Liberdade A liberdade é cedida ao poder soberano Liberdade é um direito natural
Propriedade privada
O poder soberano é responsável por tudo 
que existe, móvel ou imóvel, podendo ainda 
legislar sobre a vida e a morte
Propriedade privada é um direito natural e inviolável
Elemento‑chave Soberania Liberdade
Configuração do Estado 
(avaliação) Estado absolutista Estado liberal
 Exercícios
Questão 1. Considere a tirinha e as afirmativas a seguir.
Disponível em: <http://www.portaldovestibulando.com/2016/12/filosofia‑ 
politica‑contrato‑social.html>. Acesso em: 3 dez. 2018.
I – De acordo com a perspectiva

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